A primeira vez que me aproximei dela, foi no dia em que a encontrei ao fundo da biblioteca da Universidade de Yosen, sentada no chão com vários livros ao seu redor. Já havia cruzado com ela algumas vezes entre os corredores, sempre com os fones e sua atenção voltada para o livro que estava em sua mão. Naquele dia ela parecia um pouco mais perdida e distraída em sua leitura sobre termodinâmica, o que me fez ficar curioso sobre aquela garota.

— O que faz uma aluna de design ler um livro de física? Too Late perguntei curioso ao me aproximar dela.
— O que faz um aluno de medicina ser tão curioso?! — retrucou ela fechando o livro e me olhando — Não deveria andar pelo campus de jaleco.
— Que garota mais observadora. — retruquei segurando o riso — Mas não me respondeu.
— Nem você.

Ok, eu já havia entendido que o quanto ela era reservada e de personalidade forte.

— Como sabe que sou aluna de design? — perguntou intrigada.
— A bibliotecária me contou. — respondi me sentando ao seu lado.

Ela me lançou um olhar atravessado, como se eu tivesse invadido seu espaço.

— Não tem outro lugar para ir? — perguntou.
— Me desculpe… É que estou mesmo curioso para entender. — insisti, já havia constatado que ela era diferente de todas as garotas que conhecida, além de estrangeira de alguma forma intrigante conseguia atrair a minha atenção sem muito esforço.
— E desde quando minhas pesquisas são do interesse de um desconhecido? — ela cruzou os braços.
— Não seja por isso. — sorri um pouco — Me chamo , me desculpe por ser tão curioso.
— Me deixe adivinhar, curioso é seu sobrenome? — ela riu baixo depois voltou a ficar séria.
— Pode ser que sim. — admiti.

Ela juntou os livros e se levantando, ajeitou a mochila nas costas.

— Espera. — eu peguei três dos livros que ela havia deixado no chão — Não vai dizer seu nome também?
— Não. — ela riu e pegou os livros da minha mão — Pergunte a bibliotecária.

Ela saiu tranquilamente me deixando ainda mais fascinado e curioso, ela possuía um brilho no olhar e uma ponta de carisma, mesmo quando estava séria.

O tempo foi passando e eu sempre arquitetava uma estratégia de esbarrar nela entre os horários vagos nos corredores dos prédios, mesmo que eu não estudasse nos mesmos que ela, mas ainda tinha a biblioteca como ponto de encontro casual. Até que finalmente chegou uma tarde que ao sair da biblioteca ela me entregou um bilhete com seu nome e me convidou para tomar um café.

— Yang ... — sussurrei ao ler no bilhete — Então se nome é .
— Satisfeito?! — ela cruzou os braços — Agora pare de me chamar de garota da biblioteca.
— Desculpa, eu tinha que chamar sua atenção de alguma forma.
— Hum... — ela descruzou os braços — Aceita tomar um café?!
— O que? — aquilo me deixou ainda mais surpresa.
— Estou te convidando para um café. — repetiu ela segurando o riso — Ficou este tempo todo atrás de mim, agora que consegue um convite não acredita?!
— Bem, sei que milagres acontecem, só não esperara vários de uma vez só. — brinquei — Onde quer me levar?
— Em um lugar tranquilo e especial para mim. — respondeu ela seguindo na frente.
— Irei com o maior prazer.

Consenti a seguindo sem hesitar!

- x -

Seria louco afirmar que em pouco tempo de convivência nosso grau de amizade havia se elevado e fortalecido, depois que a conheci mais profundamente pude perceber que era ainda mais especial.

— Acho que você pode ser meu amigo. — disse ela ao guardar seu livro de ergonomia na mochila.
— Posso?! — ri de leve, afinal já era seu amigo mesmo ela ainda não aceitando.
— Só não se apaixone por mim. — advertiu com um olhar sério, porém formando um sorriso suave e doce na face.

Ok! Uma garota tão maravilhosa como ela, como eu não me apaixonaria? Ainda mais com aquele sorriso que fazia meu coração acelerar de forma involuntária.

— Para dizer essas palavras, você está com medo de se apaixonar por mim? — retruquei.
— Não seja convencido. — seu olhar continuou tranquilo — Só não quero que você sofra.

Como eu poderia sofrer, ao me apaixonar por ela?

Não entendia esta frase no início, pois tudo parecia bem e ela sempre demonstrava que minha presença era boa para ela e alegrava seu dia, tanto que até mesmo um artigo científico sobre a relação do design com a medicina ela fez questão de escrever, o que me rendeu muitas horas e dias de estudos com ela na biblioteca.

Porém a resposta veio após alguns meses, quando começou a ter mal estar de forma constante e em dias alternados, como se a imunidade do seu corpo estivesse sempre baixa, cheguei a me oferecer para examiná-la, pois já estava nos últimos meses da minha graduação e tinha conseguido minha carteira de residente em clínico geral. Mas sua resposta era sempre uma afirmação de que estava tudo bem, o que não aquietava minhas suspeitas de que algo muito errado estava acontecendo.

— Eu ainda não entendo o motivo dessa nossa caminhada hoje. — reclamou ela novamente — Quem em sã consciência sai para um passeio no meio do inverno?
— Nós. — ri de leve pegando em sua mão, mesmo ela não gostando muito — Faz bem para a saúde um relaxante passeio pela manhã.
— No meio da neve? — ela soltou minha mão e cruzou os braços.
— Um mero detalhe. — a fiz descruzar os braços e peguei em sua mão novamente — Deixe de reclamar.
— Estou começando a imaginar que este passeio tem segundas intenções. — ela parou e me olhou séria.
— Bem que eu queria… — dei mais um passo a frente e me virei para ela — Mas você não quer se apaixonar por mim.
— E se eu já estiver apaixonada?! — ela sorriu com doçura e se aproximando mais de mim, me deu um leve selinho nos lábios, me deixando estático.

Não consegui nem mesmo raciocinar o que estava acontecendo, só me coração que acelerava sem se importar se afetaria meu lado racional. Quando ela se afastou passando alguns instantes nos olhando, até que algo começou a lhe acontecer me deixando ainda mais estático.

— … Está tudo bem? — perguntou ela ao ver meu olhar estranho.
— Seu…
— Oh…

Nem mesmo precisei terminar, ela logo retirou do bolso um lenço para colocar em seu nariz de onde escorria sangue, logo um choque de realidade veio sobre mim e segurando mais firme em sua mão me virei para levá-la ao hospital onde fazia residência.

— espera… Para onde está me levando?!
— Para onde mais? O hospital claro.
— Não precisa. — ela fez força para recuar me fazendo parar.
— Como não? Seu nariz começou a sangrar do nada.
— Está tudo bem.
— Pare de dizer que está tudo bem, não está nada bem.
— Eu já sei o que eu tenho.
— Mas eu não. — alterei minha voz já ainda mais preocupado, porém respirei fundo tentando me acalmar.
— Eu… Tenho leucemia crônica, descobri a dois anos. — respondeu ela num tom baixo — Eu não queria te falar, porque achava que estava tudo bem e controlado, mas…
— Por que não me disse…

Eu a puxei para mais perto e a abracei apertado.

— Me deixe ficar ao seu lado… — sussurrei.

Nessa altura meu coração já estava rasgado e em pedaços, mas seria forte para que ela pudesse ter um ponto de apoio em mim.

O tempo foi passando comigo agora a acompanhando nas consultas ao médico especializado, o que me levou a finalmente conhecer sua família e descobrir que ela era adotada. Sua mãe era dona de uma floricultura que ficava próximo a universidade, onde sempre passava ao final da aula para visitá-la, isso explicava seus sumiços repentinos na universidade. Enquanto seu pai era um dos pastores da J-US Worship, isso explicava as várias vezes que a vi lendo a Bíblia com tanta atenção.

— Mais uma vez agradeço o convite pelo jantar. — disse a senhora Chang.
— Para nós foi um prazer conhecer o rapaz que arranca sorrisos de nossa . — ela se curvou de leve.
— Obrigado pela confiança senhor Chang. — me curvei em respeito.
— Conseguiu conquistar minha confiança. — disse o pai dela — Além de minha bênção para estar ao seu lado.

Não era novidade minhas intenções, mas já sabia que seus pais aprovariam nosso romance.

— Está feliz por hoje? — perguntei ao sairmos da casa de seus pais para dar uma volta pela rua.
— Estou feliz por não precisar mais esconder as coisas de você. — ela sorriu de leve, mas seu olhar parecia triste.
— Está tudo bem?! Se quiser posso ir embora, parece cansada.
— Não… Não vá… — ela segurou em minha mão, algo raro de fazer — Meu corpo está dolorido, mas isso é normal devido aos medicamentos.
— Acha mesmo que pode caminhar?! — perguntei preocupado.
— Com você me amparando sim. — ela sorriu

Seguimos alguns metros a frente até que um carro parou perto de nós, o homem que estava no volante ficou olhando para nós, ou melhor, para . Ele tomou impulso para sair do carro, mas um outro homem no banco do carona o impediu, achei estranho até que segurou forte em minha mão e me fez segui-la de volta para sua casa. Não era impressão minha, ela realmente conhecia aquele homem, o que me deixou um pouco enciumado.

Ela me contou que ele foi seu primeiro namorado, porém terminaram o relacionamento por algum motivo que ela não quis me contar, resolvi pela primeira vez não insistir já que em seu olhar havia serenidade e nenhum tipo de rancor ao falar sobre o passado.

— Vamos… — ela demonstrou traços de tontura — Ai.
— O que está sentindo?! — a amparei em meus braços.
— Eu… — seu corpo desfaleceu em meus braços.

A peguei no colo e sem demoras gritei por socorro, como estávamos próximo a casa dos seus pais, o pastor saiu ao ver meus gritos e nos levou de imediato para o hospital em seu carro. Estava tão desesperado que não conseguia raciocinar direito o relatório médico, aparentemente seu corpo não estava reagindo bem ao tratamento e ela teria que ficar internada a partir daquele dia.

Foi então que minha busca para fazê-la ainda mais feliz começou, a cada dia que ela teria que passar no hospital seria convertido em sorrisos que jamais deixaria faltar em sua vida.

— Bom dia paciente. — disse dando dois toques na porta.
— Bom dia doutor. — brincou ela respirando lentamente.
— Como está hoje?
— Feliz porque poderei vê-lo todos os dias. — ela sorriu — Está com uma cara de pensativo, o que andas tramando?
— Mais uma surpresa para te ver sorrir. — confessei.
— Você já me faz sorrir… Agradeço a Deus por tê-lo em minha vida.

Eu também estava grato por tê-la em minha vida, mas temendo que fosse por pouco tempo. Os dias iam se passando comigo em minha busca, até que a senhora Chang me emprestou em segredo um pequeno diário que pertencia e ela escrevia todos os seus sonhos e planos para o futuro. Aceitei a ajuda e vi que havia um sonho que minha doce paciente desejava desde criança, era este sonho que realizaria antes de qualquer outro.

— O que você está querendo dizer?! Como assim minha mãe…
— Não importa, agora eu tenho o seu diário e fiquei muito feliz por dedicar sete páginas deles a mim. — comentei dando um sorriso de canto — Além do mais, tem outra coisa nele que me chamou atenção.
— O que? — perguntou ela.

Não conseguia dizer mais nada a partir daquele momento, um nó na minha garganta se fez e meu coração acelerou, tomei coragem pois aquela decisão seria a mais importante da nossa vida e queria que fosse algo especial para ela. Retirei uma caixinha do bolso e coloquei em suas mãos.

— , o que é isso?
— Minha declaração de amor… Você sempre disse que não aceitaria nenhuma carta de amor minha, se um dia escrevesse, mas agora eu quero muito mais que uma simples carta.
— … — ela sussurrou ao abrir a caixa e ver o anel — Não deveria…
— No momento que disse para eu não me apaixonar por você, eu já estava apaixonado… — a interrompi — Jurei a mim mesmo que sufocaria esse sentimento por que foi um pedido seu, mas eu te amo não importa o que acontecer daqui pra frente, não vou sair do seu lado.

Ela sorriu de leve e erguendo um pouco mais seu corpo, me abraçou sem nenhum receio pelos aparelhos ligados a ela, algo lá no fundo me dizia que a resposta era um sim.

- x -

— O que o doutor disse? Vou poder fazer o transplante?! — perguntou — Acharam um doador compatível?
— Seu organismo está muito frágil… — não consegui terminar a frase e saí do quarto a deixando com sua mãe que estava de acompanhante.

Ouvi sua voz do corredor me chamando, mas não tinha coragem de dizer mais nada, subi até o terraço onde assim que cheguei a primeira lágrima caiu, ao longe ouvi um barulho de trovão, estava tão submerso no hospital que não prestava nem mais atenção no tempo.

Após o inesperado e rápido casamento, eu consegui que a universidade concedesse a seu diploma do curso de design, como ela sempre foi a melhor aluna da turma sua reputação já era suficiente para avançar todo o restante do curso e se graduar. Nossa lua de mel foi na ala leste do hospital onde tinha um jardim terapêutico para os pacientes e uma bela vista para o rio Han.

A primeira gota de chuva caiu em minha face e rolou junto com as outras lágrimas que não conseguiam mais se manter no canto dos meus olhos, só sentir uma dor imensa que não desaparecia, talvez este fosse o real sentido da frase de . Ela não queria que eu me apaixonasse para não sofrer por causa da sua doença, porém não iria me importar com a dor só queria ficar com ela.

Passei um longo tempo no terraço até me recompor, troquei de roupa pois estava molhado e voltei para o quarto, ela estava adormecida então disse a senhora Chang para ir descansar um pouco no refeitório, minha sogra precisava relaxar depois de horas acompanhando no quarto. Adentrei um pouco mais o quarto e fechei a porta, voltei meu olhar para a mesa ao lado da máquina de aparelhos e lá estava a Bíblia de capa xadrez que sempre carregava na bolsa.

Não sei o que deu em mim, não era a primeira vez que estava fazendo aquilo, pois minha mãe era cristã e quando mais novo sempre me levava a igreja, porém não praticava muito minha fé na vida adulta, não até agora. Me ajoelhei na beirada da cama e comecei orar por ela de forma descoordenada e um pouco revoltada, não entendia porque uma garota que tinha tanta fé estava passando por uma dor tão grande.

— Foi bonito. — sussurrou ela ao despertar.
— O que?! — me levantei e sentei na beirada da cama — O que foi bonito?!
— Sua oração. — ela abriu seus olhos lentamente — Nunca imaginei que faria isso.
— Preciso te contar mais coisas sobre mim. — sorri de leve — Como está se sentindo?!
— Feliz por estar aqui. — respondeu prontamente — O médico contou sobre eu não poder fazer a cirurgia ainda, mas pense pelo lado bom, acharam um doador compatível.
— Estou com medo de não resistir a cirurgia.
— Tenha fé, nossa vida é cheia de propósitos. — segurou em minha mão — Deus está no controle de tudo.

Seu olhar sereno me acalmou por dentro, não pensaria mais no que poderia acontecer de pior, iria somente aproveitar cada segundo ao lado da mulher que havia conquistado meu coração sem o menor esforço.

- x -

Até hoje eu não sei qual foi o propósito de Deus para me unir a , mas sei que havia aprendido muito com ela, a guardaria para sempre no meu coração e jamais quebraria a promessa de ser feliz. Não seria fácil, viver somente com suas lembranças, mas já estava grato a Deus por ter vivido o mais sublime, singelo e ao mesmo tempo intenso amor, ao final seu último desejo foi que eu escrevesse uma carta de amor para ela. Algo já estava me dizendo que aquele pedido era a única coisa que ainda a mantinha por perto, então por mais difícil que fosse tentei expressar meu amor em poucas e significativas palavras.

Agora estava parado a poucos metros de onde seu funeral estava sendo feito, não conseguia sequer chegar perto e nem queria, queria me lembrar da minha esposa de como ela era, alegre e feliz sempre ao me ver. A partir daquele ponto minha vida continuaria sem ela, seria um excelente médico em sua memória e acharia uma nova esposa já que ela não admitiu a ideia de eu ser viúvo para sempre. Era lindo como se preocupava comigo.

Virei para trás e vi ao longe aquele ex-namorado de , senti que ainda faltava uma última coisa a fazer pela memória da minha esposa falecida, então me aproximei dele parando ao seu lado.

— Eu… — ele tentou explicar inutilmente sua presença ali.
— Ela pediu para te entregar isso, acho que já sabia que viria. — retirei uma carta do bolso e o entreguei — Apesar do passado, você ainda era especial para ela.

Respirei fundo após ele pegar a carta e segui meu caminho, estava na hora de descobrir o novo propósito de minha vida.

 

“Oh my girl
I cry cry
You're my all
Say goodbye bye
Oh my love
Don't lie lie
You're my heart
Say goodbye”
- Haru Haru / Big Bang

 

Relacionamento: "Deus não une pessoas, Ele une propósitos" - by: Pâms

Nota da autora:
Mais uma fic, espero que tenham gostado!!! Haru Haru foi o mv que me fez gostar de Big Bang e eu acho tanto o mv como a música muito significativa e de mensagem forte. Mesmo sendo triste gostei de escrever essa história e fiz algumas associações e referências a Um Amor para Recordar que gosto muito!! *-*
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!



Outras Fanfics:
MVs
| MV: Black Suit | MV: Cool | MV: Emotion | MV: Haru Haru | MV: Goodbye (Annyeong) | MV: Marry U | MV: Miracles in December |
SAGA Continuum
| Bellorum | Cold Night | Continuum | Darko | Dominos | Fallin | Sollary Hospital | Sollarium |
Fundadores
| The Sollarium - Aurora | The Sollarium - Branca de Neve | The Sollarium - Cinderela | The Sollarium - Jasmine | The Sollarium - Mulan | The Sollarium - Rapunzel | The Sollarium - Tiana | The Sollarium - Tinker Bell |
PRINCIPAIS
| Amor é você | Beauty and the Beast | Beauty and the Beast II | Coffee House | Crazy Angel | Destiny's | Finally Th | First Sensibility | Genie | Gotham | Hillsong Girl | I Need You... Girl | Invisible Touch | Lady Lewis | Love Shot | Midnight Blue | Moonlight | My Little Thief | Nigthwish | Noona Is So Pretty (Replay) | Photobook | Princess of GOD | Red Light | Smooth Criminal |
*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!

CAIXINHA DE COMENTÁRIOS
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Para deixar seu comentário, é só clicar AQUI. A autora agradece!