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Última atualização: 25/06/2023

Prólogo

Balancei entre um prédio e outro, sentindo o ar correndo por meu corpo de maneira fluida. Cliquei o botão em meu punho, soltando mais um risco de teia, que cortou o céu naquele dia nublado - meu tipo de dia favorito e que me fazia querer balançar pela cidade apenas para sentir o vento doce com o cheiro daquela cidade preenchendo minhas narinas: cheiro de pizza, fritura, esgoto e escapamento de carro, como eu amava!
Soltei uma última teia antes de pousar sobre o terraço do Empire State Building, sentei-me com as pernas balançando sobre a beirada e mordisquei o cachorro-quente que havia pego na barraca de Duke e trouxe comigo para poder apreciar aquela vista que eu tanto amava. Suspirei contente.
Meu nome é Gwendolyn Stacy, tenho 27 anos e eu sou a Mulher-Aranha.
Apesar de minha carreira pouco badalada de modelo, mas com frutos o suficiente para me manter financeiramente estável sem que eu dependesse exclusivamente do dinheiro da minha família, minha vida era pouco normal. Eu tinha pouco tempo livre quando era Stacy e acabava sempre tendo que fugir para conseguir conciliar minha vida como Mulher-Aranha. Eu sei, péssimo nome! Mas não fui eu que escolhi, estava na boca do povo quando apareci pela primeira vez ao lado do Quarteto Fantástico, os ajudando contra vilões absolutamente inimagináveis. Reed Richards foi o meu mentor desde o dia da picada, onde eu, literalmente, fui bater na sua porta pedindo ajuda, pois o Quarteto Fantástico já era figura conhecida no quesito “Heróis”. Dr. Richards ficou impressionado com a minha noção e habilidade com genética, respostas estas que foram dadas devido ao meu estágio na Oscorp. Estudamos meu sangue, meu DNA e toda a composição química reagente em meu corpo. Eu estava fadada a ser Mulher-Aranha desde que aquela miserável me picou e logo depois morreu. Pude levar a aranha morta para o estudo de caso e notamos muitas variações genéticas significantes em sua hemocianina.
Dr. Richards, além de me ajudar a aceitar quem eu era, também me ajudou com o meu traje e me deu muitas dicas de como me portar como uma Super-heroína. Tento carregar todo o seu conhecimento comigo, assim como sua sabedoria e amizade. Ele foi a minha figura paterna depois que meu pai faleceu, e os demais membros do Quarteto Fantástico acabam sendo minha segunda família, a família amável e unida que nunca tive.
Reed sendo o pai; Sue, a mãe; Ben, o tio divertido e Johnny, o irmão mais velho, eu os amava e sabia que o sentimento era recíproco.

Terminei meu cachorro-quente quando senti o arrepio atrás da orelha. Levantei meus olhos, alerta, sentindo meus pelos se levantarem em meus braços mesmo por baixo do traje e o leve tinido em meu ouvido, que me fazia lembrar uma nota aguda de violino. Algo estava prestes a acontecer. Olhei por cima dos ombros e abaixo de meus pés, atenta o suficiente para que não fosse pega de surpresa.
Senti uma força incomum e perturbadora puxando meu umbigo para dentro, levantei meus braços e notei que um brilho os fazia ficar reluzentes. Logo notei que meu corpo inteiro estava desse jeito. E assim, com meus ouvidos zumbindo e meus membros desaparecendo, percebi que estava sendo sugada para outro lugar.


Capítulo Um

Notei meu corpo voltando ao que era menos de um segundo depois. Eu estava no mesmo lugar, o terraço do Empire State Building, e logo abaixo de mim estava NYC. Mas não era a minha cidade, aquela que cheirava a fritura e esgoto. Aquela ali era uma New York diferente, os pelinhos do meu braço não baixavam por nada, e coloquei minha máscara para ficar protegida de qualquer coisa que pudesse acontecer naquele momento. Meu coração estava a mil.
Atenta, senti cheiro de algodão doce, fumaça, folhas secas e flores silvestres. Dei a volta no terraço com calma, ainda com o coração na boca. O que estava acontecendo? Onde eu estava?
Balancei por alguns prédios ao redor, tudo parecia estar no mesmo lugar, mas o tinido em meu ouvido me dizia que aquela não era a minha cidade.
Eu não estava com minhas roupas reserva e não tinha como me misturar na multidão vestida de Mulher-Aranha. Continuei balançando por alguns prédios, subindo pelas paredes de outros, até o momento em que encontrei um telão na lateral de um edifício muito alto, o qual eu não sabia o nome, e lá estava aquele rosto que eu já conhecia e tanto detestava: J. J. Jamerson brandindo palavras chulas em um programa de TV. A imagem estava sem som, mas eu conseguia entender do que ele falava, pois havia um letreiro logo abaixo da sua fala dando o chamado: HOMEM-ARANHA, AKA PETER PARKER É VISTO PRÓXIMO DAS INSTALAÇÕES USINA ELÉTRICA.
Meu coração deu um baque surdo.
Senti as lágrimas encherem meus olhos e perdi a selagem em meus dedos, escorregando até o chão.
O rosto de Peter preencheu a tela, uma foto de anuário de escola, um sorriso alegre como os quais o meu Peter me dava quando estávamos nos divertindo em nosso mundo particular.
Como era possível?
Meu cérebro raciocinava em linhas entrelaçadas, um verdadeiro buraco de minhoca se instalou em minha cabeça: Peter era o Homem-Aranha desse universo! Merda. Eu estava em outro universo, como aquilo havia acontecido? Eu estava sonhando, certo?
Cambaleei pelo beco em que eu me encontrava, recostei-me atrás de uma lata de lixo, retirei minha máscara e chorei. Perdi as contas de quantos minutos fiquei naquele local, abraçando meus joelhos, soluçando todo o sentimento que ver uma foto do Peter me causou. Meu peito parecia esmigalhado de completa impotência.
Respirei fundo algumas vezes tentando me acalmar.
Vamos lá, , um, dois, três. Um, dois, três.
Levantei-me, limpando as lágrimas com as costas de minha mão, o traje ficando em um tom ligeiramente mais escuro onde molhou. Coloquei a máscara no rosto e soltei um fio de teia que me puxou com velocidade para o alto. Cheguei ao terraço de um edifício baixo, dei alguns passos sem pressa, não sabendo exatamente para onde ir.
Eu precisava encontrar Peter! Sentia em meu coração que ele precisava da minha ajuda e, principalmente, precisava da ajuda dele para voltar ao meu verdadeiro lar. Se ele era um Homem-Aranha e se ele se parecesse minimamente com o meu Peter, tenho certeza de que ele me ajudará a voltar para casa.
A noite tomou conta do ambiente rapidamente e cogitei a ideia de ir até a usina elétrica, porém meu sentido aranha me dizia que era o certo ficar ali. Balancei por alguns minutos por mais alguns prédios na região, ciente de que encontraria algo que me ajudasse a encontrar Peter e, quem sabe, conseguir ajudá-lo, e vice-versa. Ele parecia precisar de ajuda também - levando em conta que sua identidade secreta estava em um jornal apresentado por J. J. Jamerson, ele estava, com certeza, precisando de ajuda.
Um tinido estalou em minha nuca, era um tinido diferente dos que eu havia sentido até o momento.
Virei-me ciente de o que vinha, estava vindo de trás, disparei uma teia certeira e vi meu oponente desviar com a mesma agilidade que eu desviei do que ele atirou em mim. Ele era um homem de meia idade, com o olhar cansado e sobrancelhas erguidas, usava uma roupa comum. Senti minha espinha arrepiar-se em uma similaridade nítida em meus pensamentos: ele era igual a mim!
Notei em seu olhar que ele me reconheceu também.
- Deixe-me adivinhar: Peter Parker? – Perguntei, ainda em minha pose de ataque, uma de minhas mãos em sua direção, o dedo pressionando meu lança teias, um terço da força que necessitava para disparar.
Ele não era o meu Peter, o mesmo Peter dos telões, ele era um Peter mais maduro, um Peter que já havia passado por maus bocados.
- Sim – Ele disse, baixando ligeiramente a guarda. – Você é igual a mim... Mas não é um Peter – Disse mais para ele do que para mim.
- Eu sou amiga de um Peter Parker – Tentei explicar, meu coração ainda batia excepcionalmente forte.
- Ok. Podemos conversar civilizadamente? Estou tão perdido quanto você nisso – Admitiu ele, baixando a mão que apontava prontamente para mim. Fiz o mesmo.
Demos passos em nossa direção, um tão atento quanto o outro. Os olhos dele correram pelo meu traje por um momento de olhos em cada detalhe enquanto eu notava sua postura ligeiramente curvada, sua pegada levemente mais fraca do lado direito, o que passariam despercebidos por um olho desatento, mas não por mim. Era provavelmente proveniente do rompimento de algum ligamento, podia ser um alvo fácil caso eu precisasse lutar com ele.
Ele estendeu a mão até mim quando estávamos próximos o suficiente, seus olhos eram de um azul doce, claros como um céu ensolarado. Ele devia ter seus 40 e poucos.
- Acho que a minha identidade secreta foi pelo ralo com você, certo? – Um meio sorrisinho surgiu em seus lábios e, não sei explicar como, mas eu sentia que podia confiar naquele Peter Parker. Chamem de loucura ou de instinto, mas eu tinha uma sensação muito forte sobre isso.
- Sim, Parker, não sei explicar como. Mas eu simplesmente sei que você é um deles – Expliquei puxando minha máscara do topo para baixo, deixando meus cabelos curtos caírem pelo meu rosto por um momento. Ele me olhou atentamente, como se soubesse que iria me reconhecer.
Seus olhos ainda eram pura curiosidade.
Apertei sua mão.
- Stacy – Falei, fazendo seus olhos brilharem de modo estranho.
- Stacy? Filha do Capitão Stacy? – Perguntou ele, como se tentasse lembrar alguma familiaridade em meu rosto.
- Exatamente – Era estranho saber que uma pessoa completamente estranha pudesse simplesmente conhecer algo da sua história, levando em consideração que ele nem era do mesmo universo que o meu.
- Ok. Consigo lidar com isso – Brincou, soltando minha mão. – Mas a filha do Capitão Stacy que eu conheci se chamava Gwen – Ele disse, e notei uma certa coloração rosada em suas bochechas como se algo já tivesse acontecido entre os dois.
- Meu primeiro nome é Gwe – Expliquei e ele ergueu as sobrancelhas. – Resolvi me apresentar com o nome do meio depois que tudo aconteceu.
Ele pareceu respeitar o tudo do qual me referi, sem mais questionamentos. Se ele era mesmo um Homem-Aranha, tenho certeza de que sabia o que significava, as perdas, as amizades, os amores e a responsabilidade.
- E o que você acha que estamos fazendo aqui? – Perguntei tentando analisar suas feições para saber se ele podia estar tentando esconder algo de mim.
- Eu realmente não faço ideia. Você também foi sugada para este lugar? Não é daqui? – Perguntou, confuso. Ele parecia mais perdido do que eu. Bom, no meu universo não tínhamos nenhuma comprovação de que havia um multiverso funcional. Porém, Dr. Richards sempre foi muito assíduo desta ideia e defendia teses completas sobre buracos de minhoca, teoria das cordas e universos compartilhados. Então aquilo não era muito difícil de aceitar, coisa que meu colega Parker ali não parecia muito a favor da ideia...
- Não sou. Porém, o Peter Parker que eu conheço é exatamente o mesmo deste universo. Vi o seu rosto em um telão aqui perto – Expliquei, sentindo meu coração apertar-se novamente.
- Eu também vi o telão – Disse ele. – Ele não se parece muito comigo, mas você... Você se parece o suficiente com a Gwen que eu me lembro. Talvez uma versão um pouco mais nova, com um corte de cabelo mais ousado.
- Eu tinha o cabelo comprido, costumava usar franja... Mas com o traje... Cabelo comprido não dava certo, eu precisava de praticidade.
- É, consigo te imaginar com franja. – Disse com um sorriso doce.
Eu sorri com ele. Ele tinha o mesmo semblante agradável do meu Peter, como se fosse fácil simplesmente gostar dele.
- Você também teve a estranha sensação de que ele precisa de nós? – Perguntou ele depois que o silêncio tomou nosso ambiente.
- Tive. Não sei explicar, só...
- Sentir. Eu também sinto – Confirmou ele. – Precisamos encontrá-lo.
- Sim, mas onde? – Perguntei coçando atrás da orelha. Os tinidos com ele cessaram, era estranhamente reconfortante.
- Não sei. A notícia dizia que ele estava na usina elétrica, quer começar por lá? – Perguntou meio duvidoso.
- É uma opção. – Eu disse vagamente. Talvez primeiro dar uma olhada de longe já nos responderia algo... – Me segue.
Subi na beirada do prédio e mergulhei, sentindo novamente o vento em meu rosto. Coloquei rapidamente a máscara durante a queda, que parecia em câmera lenta, e soltei uma teia no prédio mais próximo, seguindo naquela direção. O lançamento de teias era tão instintivo que até me esqueci por um momento que estava acompanhada. Balançamos por mais algumas milhas na direção da usina elétrica, mas ainda estávamos bem longe.
Parei em um edifício de uns oito andares. Peter 2 pousou graciosamente ao meu lado; meio segundo depois, seguindo até a beirada, já sabendo qual era a minha ideia.
Nos abaixamos de cócoras da mesma maneira e soltei uma risada nasal pela coincidência, observamos a usina há algumas boas milhas de distância, mas suficientemente perto para que pudéssemos ver se havia algo acontecendo por lá: nada. Tudo apagado como deveria estar, as luzes mais próximas estavam acesas em estado de normalidade e realmente não senti que lá era o lugar certo a se estar.
- Alguma sensação de que devemos ir para lá? – Perguntei com a voz abafada por conta da máscara.
- Não. – Eu sentia a decepção em sua voz.
E então uma explosão.
Seus olhos azuis me encararam mais uma vez, arregalados e atentos.
Fomos na direção oposta do terraço, de onde o som veio, olhamos lá de cima e não vimos nada, a explosão veio de mais longe. Porém, antes de irmos atrás do som, vi um círculo de faíscas do tamanho de uma moeda atrás de Peter.
Ele sentiu também e virou-se de frente para o círculo que foi aumentando sem muita velocidade; eu me afastei, não querendo ficar de frente para aquilo.
- Peter... – Falei desconfiada, afastando-me. O círculo cresceu mais, ficando com um metro de diâmetro. E do lado de dentro pude ver dois adolescentes: uma garota e um garoto, parecia um disco com outra dimensão dentro. Como um portal.
- Vai encontrar o Peter, ele precisa de nós. Eu vou entrar aqui. – Sussurrou para mim.
- Você tem certeza? – Os pelinhos da minha nuca estavam de pé novamente, e eu sabia que ele sentia o mesmo.
- Sim. Tenho um sentimento de que tenho que entrar aqui. – o círculo ficou de um tamanho que era o suficiente para ele passar dentro. E ele simplesmente o fez. Meu coração disparado o suficiente para que meus olhos não acreditassem do que eu estava vendo.
O círculo se fechou atrás dele e me vi sozinha mais uma vez. Dei novamente atenção à explosão e mergulhei mais uma vez do prédio, seguindo o fluxo de sons até encontrar o local. Vários carros de polícia estavam em volta do incidente. Havia escombros por todo lado e a fumaça preta subia densa. Peter não estava ali.
O tinido verberou mais uma vez, o som agudo adentrando minha mente. Segui caminho para onde o tinido me levava, cada vez mais alto como um jogo de pique-esconde. Escalei a parede de um prédio não muito alto e consegui ouvir alguém chorando silenciosamente.
Sozinho.
Eu encontrei Peter sozinho.
Subi com cautela, vendo seu rosto manchado de sangue e lágrimas se virar para mim com rapidez.
Meu coração se partiu em mil pedaços vendo-o daquele jeito, respirei fundo antes de me aproximar com as mãos levantadas. Peter não se importou com a minha aproximação, como se tudo que ele tivesse vivido naquele dia fosse o suficiente para explicar minha presença naquele lugar.
Ele continuava sentado no chão, abraçado nas pernas cruzadas em frente ao seu corpo.
- Peter? – Chamei-o, fazendo seus olhos marejados seguirem até meu rosto. Retirei minha máscara, ainda me aproximando com cautela. – Meu nome é .
Ele piscou algumas vezes, desacreditado no que via, provavelmente não notou que eu era uma mulher até eu tirar a máscara.
- Eu estou aqui para ajudar. – Eu estava a menos de dois metros dele, ainda me aproximando com leveza e cautela.
- A May... Ela... – Sua voz era igual a voz que eu me lembrava, e meus olhos se encheram de lágrimas. O meu Peter já havia perdido o seu Tio Ben, mas May estava viva até hoje. Um amor de pessoa. – Ela morreu.
Cheguei próximo o bastante para encostar minha mão em seu ombro, apertei-o com cuidado e ele desabou a chorar. Agachei-me ao seu lado e o abracei, suas mãos urgentes em meu pescoço como se fôssemos velhos amigos. Seu soluçar alto fazia meus olhos encherem de lágrimas, em meu peito havia uma confusão persistente que dizia em alto e bom som “este não é o seu Peter, este não é o seu Peter”. Ele era mais novo do que o meu Peter, mas era exatamente o mesmo, o mesmo rosto, o mesmo corte de cabelo e até os mesmos fios arrepiados da sobrancelha.
Meu coração bateu descompassado quando o cheiro do seu shampoo adentrou minhas narinas.
- Peter, a vida é um quebra-cabeças. Às vezes as peças que a gente precisa não estão onde a gente espera. – Repeti uma frase que Sue me disse uma vez.
- Ela era minha única família. – Ele disse com a voz esganiçada, seu rosto contra meu ombro, fazendo meu peito arfar de tristeza.
- Eu duvido disso. – Respondi ouvindo passos em nossa direção.
Vi duas pessoas subindo uma escotilha de acesso, por trás de Peter e notei que ele não se preocupou em virar, provavelmente já familiarizado com o som dos passos. Eram os dois adolescentes que vi do outro lado do portal de faíscas.
Me afastei dele, dando o espaço que aqueles dois precisavam ter com o amigo. Notei com o meu tinido que o segundo Peter, de olhos azuis, e outra pessoa se aproximavam pelo lado leste da torre que havia naquele terraço. Permaneci onde estava, um pouco afastada nas sombras e recoloquei minha máscara por costume.
O abraço deles me fez chorar mais uma vez, eles me lembravam meus amigos, Peter e Harry, que sempre se mantiveram ao meu lado nos primeiros momentos em que fui Mulher-Aranha. Infelizmente Harry acabou seguindo com caminho diferente depois que seu pai morreu, e ele teve que assumir a empresa, o uso de drogas e entorpecentes fez parte do seu dia a dia e quando ele descobriu que foi a Mulher-Aranha que causou a morte de seu pai, as coisas não se desenrolaram muito bem para a nossa amizade.
O choro daquele Peter à minha frente era agonizado e verdadeiro, a mais pura tristeza que um ser humano pode sentir: a culpa.
- Eu sinto muito. – A garota disse, ainda agarrada em seu pescoço enquanto o garoto o abraçava pela outra lateral.
Peter pareceu finalmente entender que não estávamos sozinhos, levantando o rosto desconfiado. Seus olhos percorreram os meus, investigando se não era eu a causadora de seu próprio tinido.
- Peter, tem... Tem umas pessoas aqui. – Ela disse, soltando-o do abraço.
- O quê? – Perguntou ele confuso, os olhos ainda pousados em mim, provavelmente pensando “mas ela já não é loucura o suficiente?”.
- Vem. – A garota disse, o ajudando a levantar.
Ele pareceu perceber que algo não estava certo e pulou de onde estava com mais agilidade, vendo os dois vultos no alto da torre.
Os dois desceram com a graciosidade que apenas Homens-Aranha teriam.
- Ei, ei, ei. – Peter 1, o original de seu universo, exclamou assustado.
E notei que além de Peter 2, havia outro Peter. Um Peter mais maduro do que Peter 1, mas mais novo do que o que conheci antes. Tinha olhos castanhos e um cabelo armado. Era bonito e usava o seu traje de Homem-Aranha, estava com as mãos erguidas em rendição, mostrando que não veio para fazer mal.
- Sinto muito. – Peter 2 disse. – Pela May.
- É, lamento. – Peter 3 verberou, mais um número e eu provavelmente ficaria louca. – Eu até entendo o que você está sentindo.
- Não, não, não vem dizer que entende o que eu estou sentindo. – Peter 1 disse, magoado por eles estarem querendo amenizar seu luto.
- Tá. – Peter 3 disse, cabisbaixo.
- Ela se foi. – Peter 1 disse, a voz nitidamente magoada. – E é culpa minha. Ela morreu por nada.
Peter 3 manteve seus olhos no chão, tão triste quanto o próprio Peter deste universo.
- Eu vou fazer o que eu devia ter feito desde o começo. – Sua voz era amarga, ele esticou a mão para um objeto que estava nas mãos da garota e ela o afastou levemente.
- Peter. – Chamei baixinho, me aproximando. Assustando os dois amigos que estavam mais próximos de mim, e nem faziam ideia da minha presença.
- Por favor não. – Peter 1 disse. – O lugar de vocês não é aqui, de nenhum de vocês.
Notei os olhos de Peter 3 em mim, de maneira intensa, ele notou que eu era igual a eles, e por eu estar de máscara, pode apenas notar que eu era uma mulher. Ele estava completamente estagnado e notei que de alguma forma, ele parecia me conhecer.
- Eu vou mandar vocês para casa. – Peter 1 continuou a frase.
Peter 3 pareceu destravar e soltar o ar pela boca, ainda abatido com a minha presença. O amigo de Peter também me encarava de cima a baixo, boquiaberto.
- Os outros caras são do seu mundo, né? Vocês que se resolvam com eles. Se morrerem, se matarem eles, aí é com vocês. Não é problema meu. Eu não estou nem aí. Eu cansei. – Peter 1 estava derrotado, cansado, abatido e completamente sem forças.
Outros caras? Será que além dos Homens-Aranha, haviam vindo os vilões também? Puta merda.
Minha cabeça entrou novamente em parafuso tentando assimilar tudo que havia acontecido e como.
- Me desculpem por trazer vocês para esta história. – Continuou seu monólogo, então ele havia feito aquilo! – Mas está na hora de irem para casa. Boa sorte. – Ele esticou a mão até a garota e ela novamente afastou o objeto, negando com a cabeça. Gostei dela.
- O meu tio Ben morreu. – Peter 2 disse, os olhos brilhando com lágrimas que não desceram. – Foi culpa minha.
Senti que estava no lugar errado, e com uma jogada simples de parkour, subi no mesmo andar em que os dois Homens-Aranha que não eram daquele mundo estavam. Alisei o ombro do Peter 2 e ele sorriu para mim sem mostrar os dentes.
- Eu perdi o meu Peter Parker. – Minha voz saiu em um fiapo, enquanto eu retirava minha máscara, mas sei que todos ouviram. Meus olhos estavam recheados de lágrimas novamente. – Ele morreu em meus braços e eu simplesmente não pude salvá-lo.
Peter 3 congelou ao meu lado, seu rosto empalideceu como se ele tivesse visto um fantasma e seus olhos encheram-se de lágrimas brilhantes que não tardaram a descer por seu rosto.
- Eu perdi... Eu perdi a Gwen. – Ele disse, a voz tremendo como se ainda não acreditasse em minha pessoa ali ao seu lado. – A minha... Ela era a minha MJ. – Explicou-se, sua atitude assustada finalmente fazendo sentido para mim. Eu era o motivo da sua fraqueza. – Não consegui salvar ela, e eu nunca vou me perdoar por isso. Mas eu segui a vida, eu tentei seguir, tentei continuar sendo o amigo da vizinhança, o Homem-Aranha, porque eu sei que é o que ela iria querer. Mas em algum momento eu parei de segurar a força... Fiquei raivoso, fiquei amargo e eu não quero que você acabe que nem eu. – Ele disse com as lágrimas correndo por seu rosto, em nenhum momento ele desviou o olhar para mim. Imagino que esteja sendo difícil para ele como estava sendo para mim, ter que ver o meu Peter, logo ali na frente, sem poder fazer nada a respeito.
- Na noite em que o Ben morreu, eu cacei o homem que eu achei que fosse o assassino. Eu quis matá-lo. E eu consegui o que eu queria... Só que não melhorou nada. Eu levei muito tempo para aprender a superar esta escuridão. – Peter 2 disse, a voz embargada mostrava o quanto aquilo ainda afetava ele.
- Peter foi o meu melhor amigo e meu noivo. – Falei fungando, as lágrimas ainda marcando minhas bochechas. – Demorou muito tempo para eu entender que aquele seria o seu destino de qualquer maneira. Não importa quanto eu quisesse vingança ou quantas pessoas eu pudesse culpar, nada iria o trazer de volta e ele não morreu em vão. Nada é em vão na nossa vida, Peter...

- Eu quero matá-lo – Peter 1 disse amargurado. – Eu quero acabar com ele. Ainda dá para ouvir a voz dele na minha cabeça. – Segurou o choro por um segundo. – Até depois de machucada, ela fez a coisa certa. Ela falou que com grandes poderes...
“Vem grandes responsabilidades” pude ouvir a voz de meu Peter recitando estas palavras para mim, com a boca cheia de sangue e os olhos vermelhos de coágulos. Seu Tio Ben havia o dito isto antes de morrer, e por algum motivo, a sua mente lembrou daquilo no momento da própria morte.
- Vem grandes responsabilidades. – Eu e Peter 2 recitamos ao mesmo tempo, e nos entreolhamos. O Peter 3 também deu um leve aceno com a cabeça.
- Peraí, como vocês sabem disso? – Peter 1 disse, unindo as sobrancelhas.
- O Tio Ben disse isso. – Peter 3 disse.
- No dia em que morreu. – Peter 2 continuou.
- E Peter me disse isso quando morreu, por que o seu Tio Ben havia lhe dito. – Concluí.
O Peter mais novo ficou sem palavras, apenas sua respiração alta e descompassada era o que eu ouvia. Tamanha era a minha vontade de descer para abraçá-lo mais uma vez.
- Talvez ela não tenha morrido por nada, Peter... – Peter 2 disse.
Eu e Peter 3 concordamos com a cabeça.
Descemos de onde estávamos e nos aproximamos dele para um abraço em grupo, parecia a coisa certa a ser feita e ele não relutou. Meus ombros foram tomados pelos braços de Peter 2 e Peter 3 e fechamos um círculo estranho, porém necessário.
- Ok, eu preciso dizer que... Eu me sinto um pouco estranha sendo a única mulher. – Quebrei o silêncio, fazendo os outros rirem. – Isto quer dizer que eu sou uma variante?
Nos afastamos do abraço. E eu fiquei mais próxima de Peter 2, já que me sentia mais confortável ao seu lado.
- Eu ainda estou formulando o fato de que o Multiverso é real. – Ele disse, soltando uma risada nasal.
- Multiverso, teoria das cordas... Isso é insano! – Peter 3 disse, fazendo um sinal ao lado da cabeça como se uma bomba estivesse explodindo. Sua risada morreu quando ele olhou para mim. – Você é Gwen, certo? – Engoliu seco, respirando fundo.
- Meu primeiro nome é Gwen, mas prefiro que me chamem de . – Expliquei, levando minha mão até ele.
Peter mais novo foi até seus amigos checarem como estavam.
- É um prazer , me desculpe se eu fiquei te encarando por tempo demais... É que... você é igual... – Seus olhos brilharam de novo, embaçados pelas lágrimas. – É igual a minha Gwen.
- Está tudo bem. Eu sei exatamente o que você está sentindo. – Falei dando uma olhadela para Peter que abraçava sua suposta namorada enquanto ela acariciava sua nuca.
- Posso te dar um abraço? – Perguntou ele sem graça. Concordei com a cabeça, sorrindo com os olhos. Ele deu um passo desesperado em minha direção e me abraçou com força. Enlacei meus dedos nos cabelos da sua nuca, e o outro braço em torno do seu tronco. Peter 3 levantou-me do chão como se eu não pesasse nada. A sua respiração era descompassada e urgente, e num passe de mágicas, ele estava soluçando. Dei um tempo a ele, Peter 2 se juntou aos demais para nos dar um tempo a nós.
- Hm, Peter? – Perguntei ainda abraçada nele.
- Oi. Desculpa. – Falou me colocando no chão, soltando-me do abraço e limpando as lágrimas rapidamente.
Peter 3 era tão quebrado quanto eu, me identifiquei em sua dor e notei que talvez fôssemos os dois com mais problemas psicológicos ali. Não era uma competição, eu apenas podia ver aquilo em seus olhos tristes, um quebrado sempre identifica o outro. Ainda mais com o tinido.
- Faz muito tempo que aconteceu? – Perguntei genuinamente curiosa.
- Faz oito anos. – Respondeu ele fungando, o nariz vermelho denunciava seu estado.
- Sinto muito. – Falei acariciando seu ombro. Ele apenas sorriu, sem muita graça.
- Você perdeu o seu Peter? – Perguntou coçando a nuca. Eu conseguia ver o que ele havia falado, que tentava continuar sendo o amigo da vizinhança, podia ver em seus olhos que ele estava tentando, o dever sempre fala mais alto do que a dor.
- Sim, faz cinco anos. – Suspirei aliviada de poder conversar com alguém sobre isso. – Ele era fisicamente igual o Peter 1. – Expliquei, deixando meu modo de identificá-los escapar.
- Eu sinto muito. – Disse ele, educadamente. E parou por um segundo. – Peter 1?
- Ah, sim. Quando percebi que havia mais de um Peter aqui, precisei identificá-los em minha cabeça.
Isso fez ele dar uma risada gostosa.
- Isso faz de mim o Peter 3? – Levantou uma sobrancelha sugestivamente.
- Exato. – Respondi e ele sorriu novamente.
- Peter, o que você quer fazer? – Ouvi a garota perguntar ao que supus ser o Peter 1.
- Quero mandar todos embora, mas... – Ele disse, a voz ainda suficientemente chateada.
- Nós não somos assim. – Peter 2 continuou, completando a frase do garoto.
- É. – Ele suspirou.
- Então vamos curá-los. – Peter 3 disse atrás de mim.
- Espera, eu estou um pouco por fora desse assunto. – Admiti, entrando no semi-círculo que eles haviam formado. – Oi, eu sou . – Estiquei a mão para a garota, e depois seguindo para o garoto.
- MJ. – A garota disse, dando um sorrisinho tímido.
- Mary-Jane? – Perguntei, lembrando-me do crush que meu Peter tinha nela na época do ensino médio.
- Michelle Jones. – Ela corrigiu, ela realmente não se parecia nada com a MJ que eu conhecia, mas não custava perguntar.
- Uau! Isso é incrível. – Admiti encantada e ela acabou sorrindo um pouco mais.
- N-Ned. – O garoto gaguejou, olhando-me admirado.
- Ok, Ned, MJ e Peter 1, vocês podem me colocar por dentro do assunto?
- Bom, para resumir, Peter queria fazer com que todos esquecessem que ele era o Homem-Aranha, e ele pediu para o Dr. Estranho, um feiticeiro, que fizesse um feitiço que todos esquecessem que ele é o Homem-Aranha. – Ned explicou, entusiasmado.
- Um feiticeiro? – Perguntei cética, segurando um sorrisinho.
- Sim, na verdade ele é um mago supremo. – Ned voltou a explicar. – Mas, continuando, o feitiço deu errado, e algumas pessoas que conhecem um Peter Parker acabaram vindo para o nosso mundo.
- Entendi, então além de outros Peter’s, acabaram vindo alguns vilões para ajudar na Teoria do Caos. – Afirmei e todos concordaram.
- E você. – Peter 3 disse, apontando para mim. – Que não é um Peter Parker, nem uma vilã.
- Acho que a sua ligação com Peter era tão forte e genuína que você está conectada a ele. – Peter 2 afirmou, apertando meu ombro.
- Faz sentido, então agora vamos focar em curá-los antes de mandá-los embora? – Perguntei por fim e os três Peter’s concordaram com a cabeça.
- É basicamente isso. – Peter 2 concordou, um sorrisinho surgindo em seus lábios.
- Temos que ir ao laboratório. – Peter 1 finalmente disse. – Vamos dar um fim nisso.


Capítulo Dois

- Toma – Peter 1 me entrega um jaleco, de modo que eu fique mais confortável sem ficar desfilando com meu traje para cima e para baixo. Meu traje, como pude notar, era parecido com os demais, porém ainda assim bem diferente, era vermelho e preto, como o de Peter 1, mas o tecido era diferente, mais grosso e à prova de balas. Eu tinha também um cinto de utilidades na cintura, que era nada mais do que alguns utensílios que poderiam me ajudar caso ficasse sem fluido de teia no meio de uma batalha. Sem contar alguns estojos de fluido extra e bandagens ultra finas que me ajudavam muito quando eu tinha um corte. Meu traje tinha um capuz, que ajudava a esconder meus cabelos que, por mais curtos que eu cortasse, às vezes gostavam de escapar por baixo de minha máscara. Em meu peito, assim como os demais, havia o símbolo de uma aranha; no meu caso, era na cor branca. Tudo cortesia dos meus astronautas preferidos.
- Obrigada – vesti o jaleco em um único movimento e fechei os botões da frente, todos os meus movimentos eram seguidos pelos olhos atentos e a boca aberta de Ned. Ele era um fofo, não era esquisito de maneira alguma, apenas divertido já que era algo que me deixaria boquiaberta também.
- Ok, por onde a gente começa? – Peter 2 disse, seus olhos azuis rodando pela sala inteira, fazendo uma varredura do local.
- Talvez seja interessante começarmos falando dos vilões. Eu nem sei o que estamos enfrentando – falei ajeitando a gola do jaleco, colocando o capuz para fora da gola para que não ficasse embolado em meu pescoço e observando Peter 3 que também vestia um, já que também estava só com o traje de Homem-Aranha.
- A lista é simples, porém assustadora – MJ diz, aproximando-se devagar, encabulada por estar se intrometendo na conversa “dos adultos”. – Temos um lagarto, o Homem elétrico, o Homem com garras de polvo, o Homem areia, o Homem vampiro e o senhor simpático, que acabou sendo o pior de todos.
- Norman Osborn – Peter 2 explicou.
- Puta merda, o Duende Verde está aqui? – perguntei assustada. Norman era um sádico, foi ele que matou o meu Peter e fez com que seu filho, Harry, ficasse contra mim.
- Você o conhece? – Peter 2 perguntou curioso, seus olhos denunciam uma preocupação que só quem já enfrentou aquele homem poderia ter nos olhos.
- Sim, foi ele que... ele que matou o meu Peter – falei, conseguindo, pelo menos uma vez, segurar as lágrimas ao falar dele.
- Não dá pra dizer se é o Norman do meu universo ou do seu – Peter 2 diz, coçando o queixo.
- Verdade. E você falou algo sobre um Homem Vampiro? – Perguntei à MJ, ela concordou com a cabeça. – É o Morbius. Algum de vocês já enfrentou ele?
Os três negaram com a cabeça.
- Ok. Já consegui vencê-lo antes, acho que consigo de novo.
- Ele é realmente um vampiro? – Ned perguntou, a voz mais entusiasmada do que era para ele realmente estar.
- Sim, mas ele não foi mordido ou algo do tipo, foi um experimento científico. Fez alguns tentes com morcegos – expliquei sem querer me aprofundar muito.
- É, o Connors foi a mesma coisa – Peter 3 disse.
- Beleza – Peter 1 disse, trazendo consigo uma eco-bag, virando todos os dispositivos quebrados que ele já havia iniciado. – Connors, Marko, Dillon... Olha, acho que dá para consertar os dispositivos do Dillon e do Marko... Mas os outros...
- Eu fico com o Connors, já curei-o uma vez, é tranquilo – Peter 3 soou mais presunçoso do que queria, o que roubou de mim um sorrisinho e um olhar torto de Peter 2. – O quê? É tranquilo – deu de ombros. Ele realmente nunca havia trabalhado em equipe antes.
- Beleza – Peter 2 disse, rindo.
- É, beleza – Peter 1 concordou e Peter 3 pegou o dispositivo na mesa para começar a trabalhar.
- Você pode ficar com o tal Morbius, ? – Peter 2 perguntou.
- Claro – afirmei sem nem pensar. Na verdade, eu nunca havia feito, já que Morbius morreu sem um antídoto. Mas é claro que eu podia pensar em algo.
- Eu acho que consigo fazer o anti-soro do Dr. Osborn, pensei nisso por muito tempo – Peter 2 disse, e vi Peter 1 ficando tenso. – Temos que curar todos, não é? – Reafirmou, e o garoto pareceu sair do seu transe.
- É – apenas disse, o olhar cansado denunciava que ele não estava tão a fim assim de fazer isso. E eu o entendia perfeitamente.
- A gente é assim – Peter 2 afirmou, encorajando o novo amigo.
Cada um foi para um canto no laboratório, pegando béqueres, pipetas, frascos, chapas de aquecimento e dosadores.
Coloquei um par de luvas nitrílicas azuis e fui atrás dos ingredientes que eu imaginava que podiam me ajudar naquele momento. Vi Peter 1 conversando com MJ e notei o quanto ele precisava daquele momento com ela, que ainda não tinha tido. Chamei Ned para nos ajudar e deixá-lo um pouco a sós com sua namorada. Ned veio extremamente feliz.
- Eu preciso de duas amostras de sangue diferentes sem adicional de aranha radioativa – falei depois de fazer alguns experimentos com meu próprio sangue vendo que o experimento não funcionada do jeito que eu queria. – Vocês conseguem me ajudar? – Perguntei olhando MJ e Ned, que engoliram seco mas concordaram com a cabeça.
Ambos sentaram-se em cadeiras confortáveis, e Peter 1 se ofereceu para ajudar.
- Você já fez isso antes? – MJ perguntou incerta, vendo-me aproximar com a agulha intravenosa em mãos. Ela não estava com medo, estava desconfiada da minha capacidade. Eu respeitava aquilo.
- Mais vezes do que eu gostaria – Respondi em um tom divertido, para deixá-la mais relaxada. – Desculpa estar fazendo isso. Mas meu sangue não funciona no anti-soro. Posso acabar deixando ele mais forte ou com mais sede de sangue do que curado.
- Ela é durona – Peter 1 disse, fazendo carinho em seu cabelo.
- Eu já percebi isso. Daria uma ótima Mulher-Aranha – pisquei para ela que sorriu levemente.
Retirei um tubinho de 50 ml dela e colei um adesivo na dobra de seu cotovelo para fazer o sangue estancar. Entreguei o tubo a Peter 1, indicando que era para mover o frasco para o sangue não coagular. Ele entendeu.
Segui para Ned que já me aguardava com o braço apoiado sobre a mesa sorrindo.
- E você? Daria um bom Homem-Aranha? – Perguntei para quebrar o gelo, enquanto jogava a agulha de MJ fora e pegava outra nova.
- Provavelmente não. Eu sou o amigo da cadeira – ele disse orgulhoso.
- Sério? E o que o amigo da cadeira faz? – Perguntei limpando seu braço.
- Ah, você sabe. Fico com a parte de softwares, abrindo portas, localizando pessoas, vendo como está o transito, a parte nerd – explicou ele enquanto eu espetava sua pele.
- Entendi. Eu adoraria ter um Ned no meu universo. Ia me ajudar bastante. Às vezes a única coisa que tenho é o tinido – disse, colando o adesivo na dobra do seu braço também. Fiz um carinho em seu cabelo, bagunçando-o, e ele sorriu.
Peter 1 me entregou o frasco com o sangue de MJ e voltei ao meu trabalho.

Ned se aproximou de Peter 2, com um óculo de segurança que eu havia lhe dado. Peter 3 e eu que estávamos mais próximos um do outro, ficamos ouvindo a conversa deles.
- Então, você tem um melhor amigo também? – Perguntou Ned a Peter 2.
- Eu tinha – Respondeu vagamente, para meio entendedor, aquelas palavras bastavam. Mas Ned não era a pessoa mais ligada do universo, e voltou a perguntar:
- Ué, tinha?
- Morreu em meus braços depois que tentou me matar – Peter 2 continuava pesando sua mistura para o anti-soro. – Uma tristeza.
- Nossa... – Ned não soube o que dizer, mas notei que ficou impressionado. Peter 3 me olhou segurando um risinho, como quem dizia “tem gente que não sabe o que é ser um super-herói” e eu compartilhei esse risinho secreto com ele.
Ned ficou visivelmente abalado e levantou-se da cadeira perdido em pensamentos.
- Isso foi maldade, Peter 2 – Sussurrei, fazendo-o olhar divertido para mim.
- Mas é a verdade! – Defendeu-se ele em um tom cômico.
- Eu sei que é, mas ele é uma criança, sabe? Ele ainda tem os amigos, não é um sofredor eterno como nós. – Falei dando uma risadinha e Peter 3 também riu comigo.
- Se formos colocar na ponta do lápis quantas pessoas nós já perdemos, dá para preencher um obituário da grossura desse livro. – Peter 3 disse, indicando um livro aberto que havia a sua frente com pelo menos umas 600 páginas. Nós três rimos. A desgraça era nossa melhor amiga, tínhamos que abraçar a melancolia, ou iríamos definhar com ela.
- Sim, é triste, mas é verdade. Tenho saudade da época em que eu tinha a idade do Peter 1, meus melhores amigos estavam comigo ainda. Espero que não aconteça com ele o que aconteceu conosco – admiti unindo as sobrancelhas, vendo os três conversarem. Peter 2 e 3 concordaram comigo.
Não precisávamos fazer uma competição de quem havia sofrido mais, todos tínhamos vidas diferentes e perdas diferentes, observamos juntos Ned deixando Peter e MJ sozinhos por um momento. A garota sentou-se à frente dele e acariciou seu rosto. Eles encostaram as testas e conversavam baixinho.
Notei o olhar de Peter 3 baixar, e Peter 2 provavelmente também notou, pois logo soltou:
- Você tem alguém?
Ele corou e negou com a cabeça de modo divertido.
- Não... – Suspirou. – Eu não tenho muito tempo para a vida de Peter Parker, sabe? E você?
- Ah... É bem complicado. – Disse Peter 2.
Peter 3 e eu soltamos uma risadinha.
- Eu entendo, vai ver isso não é pra gente mesmo. – Peter 3 respondeu.
- Ah, não tem que desistir... Demorou, mas a gente fez dar certo.
- Sério? – Perguntei genuinamente feliz, e ele sorriu para mim.
- Sim, eu e a MJ – Peter 2 disse e o mais novo ergueu as sobrancelhas surpreso. – A minha MJ, Mary Jane, fica meio confuso.
- Você está com a Mary Jane? – Perguntei sobressaltada, e ele riu.
- Sim, é complicado, mas funciona. – Explicou ele, sorrindo.
- Isso é demais! – Admiti. – O... meu Peter era completamente apaixonado por ela no ensino médio. Na época éramos apenas amigos, então eu acompanhei toda a trajetória dele como o nerd que queria ficar com a garota mais popular do colégio. Bons tempos.
- É, a minha trajetória foi meio assim também. Demorou um pouco, mas finalmente aconteceu. – Ele disse, segurando um sorrisinho apaixonado. Peter 3 deu uns tapinhas nas suas costas.
- Fico feliz por você, Peter. – Eu disse apertando sua mão com carinho.
- Mas e você? – Perguntou ele, fazendo-me morder o lábio inferior.
- Confesso que eu ainda estou em fase de aceitar que o melhor é eu não ter ninguém. – Falei, coçando o nariz com a parte de cima da mão.
- Por que diz isso? – Peter 3 pergunta, os olhos castanhos bondosos me encarando, parecendo me devorar. Estremeci.
- Porque a gente sabe, no fundo, que é verdade. Para quê eu vou me envolver com alguém, sendo que existe a possibilidade de um vilão ir atrás dele apenas para me atingir? – Perguntei soando mais infeliz do que realmente queria.
- Você está certa. – Peter 3 concordou, seguindo seus olhos até a sua mão. – Se for parar para pensar, é até um pouco de egoísmo colocar a vida dos outros em perigo desse jeito.
- Sim, mas vocês não podem se fechar para qualquer oportunidade de amor só porque vocês são super-heróis. Todo mundo tem o direito de amar – Peter 2 respondeu indignado.
- Eu sei, mas prefiro viver sozinha, revivendo apenas os momentos bons que tive no passado do que colocar outra vida em risco. – Respondi no mesmo tom que ele, unindo as sobrancelhas.
- Talvez você devesse pensar na possibilidade de namorar um super também. Assim ele pode se defender sozinho – Disse ele, com um sorriso bobo no rosto e fazendo um sinal com a sobrancelha para Peter 3 que tinha o olhar baixo em seu livro.
Dei uma risada alta com a audácia daquele homem, Peter 3 levantou a cabeça assustado com o rumo que a conversa tomou, olhando-nos confuso.
- Apenas ignore, Peter 3. O Peter 2 está ficando completamente fora de si.
- Peter! – Ouvi Ned chamar, e os três ergueram as cabeças na sua direção.
- Oi? – Os três perguntaram, levantando-se.
- Peter, Peter! – Ned insistiu naquilo, fazendo-me dar risada.
- Somos todos... – Ouvi Peter 3 dizer.
- Peter Parker – Ned disse, arrancando-me mais uma risada gostosa, MJ o olhava com as sobrancelhas unidas como se não acreditasse que ele estava fazendo mesmo aquilo.
- De novo, somos todos Peter Parker – Um deles disse.
- O computador! – Ned disse apenas, indicando que era com o Peter 1 que estava falando. Peter 1 foi observar o computador e Peter 3 retirou o dispositivo que havia feito para Connors e foi até ele.
- Opa, tá pronto – Peter 1 disse, digitando algo no computador.
- Aqui também – Peter 3 disse.
- – Peter 2 me chamou. – Não estou conseguindo chegar no equilíbrio aqui.
Analisei a fórmula que ele escreveu em uma agenda e logo encontrei o erro.
- Aqui. Balanceia com óxido de cromo – expliquei e ele assentiu, como se eu tivesse acendido uma lanterna em sua cabeça.
- Claro – Pesou rapidamente o material e adicionou ao seu Erlenmeyer, o líquido dentro logo tornou-se verde e ele sorriu satisfeito. Demos um high-five.
Passei o meu anti-soro cor de ferrugem para várias ampolas metálicas com a ponta retrátil, Morbius era muito rápido, eu precisaria de várias tentativas.
Nos unimos aos demais alguns minutos depois.

- Ok, agora a gente só precisa reunir esses caras e tentar curar eles enquanto eles tentam... Matar a gente, e depois mandar para casa. – Peter 3 disse, como se fosse uma tarefa fácil.
- Usando a caixa mágica – Peter 2 se referiu à caixa que MJ estava responsável.
- É, essa é a ideia. – Peter 1 disse, reunindo todos os nossos dispositivos sobre a mesa.
- Vem cá, você vai pra batalha usando essa roupinha de pastor ou você tem um uniforme? – Peter 3 perguntou ao Peter 2, me arrancando uma risada. Peter 2 apenas afastou sua gola do pescoço, mostrando seu uniforme por baixo da sua roupa casual.
- Boa – Respondeu Peter 3, abrindo os botões do jaleco.
Fiz o mesmo, retirando as luvas e jogando num lixeiro próximo.
- Ok, e como vamos nos comunicar? – Perguntei, eu tinha um comunicador no traje e conseguia me comunicar com todos da Equipe Fantástica, mas eu nem sabia se ele funcionava naquele universo.
- Acho que tenho aqui – Peter 1 disse, procurando em algumas caixas de papelão que estavam no chão. Tirou de lá quatro minúsculos dispositivos que provavelmente eram de colocar no ouvido. Ligou os dispositivos e apertou um botão, deixando todos na mesma estação. Colocou um sob a mão de cada.
Cada um colocou o dispositivo no ouvido sem precisar de explicação. Ned, que até então estava mais afastado, trouxe um frasco pequeno e entregou à Peter 1.
- Seus cartuchos de teia – Disse enquanto entregava, e decididamente eu precisava de um Ned para mim!
- Valeu Ned. – Peter 1 disse, imediatamente colocando-os em seu pulso, assim como eu fazia com os meus.
- Pra que que é isso? – Peter 2 perguntou visivelmente confuso.
- É o meu fluido de teia, para atirar teias – Peter 1 disse, o que para mim já estava bastante óbvio até o momento. – Por quê?
Peter 2 ergueu o braço e lançou uma teia com seu pulso absolutamente limpo, a teia fixou-se nas pernas de um banco que estava ali erguido. Todos ficaram boquiabertos e algum dos garotos, não pude identificar quem inclusive soltou um “Wow”.
- ISSO SAIU DE VOCÊ? – Ouvi minha voz dizendo, minha boca aberta.
- É – Peter 2 disse com naturalidade. – Vocês não fazem isso?
- Não! – Respondi ainda embasbacada.
- Como é que isso é possível? – Peter 3 se aproximou de Peter 2, observando seus pulsos com curiosidade.
- Enfim! A gente está se distraindo – Peter 1 disse, seguindo sua atenção ao computador novamente. – Olha só, vamos fazer tudo aqui, tá? É isolado e ninguém deve se machucar. Vamos atrai-los com a caixa, todos eles estão atrás dela. A gente só precisa pensar em um jeito de chegar lá. – Peter 1 ia dizendo e fomos acompanhando o seu raciocínio.
- Eu posso abrir um portal. Eu sou um mago agora. – Ned disse, então me veio o estalo do portal com faíscas por onde Peter 2 havia passado antes, foi Ned quem fez.
- Boa! Verdade, dá pra abrir – MJ confirmou o ato e Peter 1 parecia encantado, os olhinhos brilhando e tudo mais. Eu, Peter 2 e 3 confirmamos.
- Peraí, é sério? – Peter 1 perguntou orgulhoso.
- Eu ‘to com a magia do Doutor Estranho.
- Mentira! – Peter 1 era realmente um grande amigo, feliz com a conquista do Ned como se fosse sua.
- E eu prometo que não vou virar um super-vilão e tentar matar você. – Ned disse, retirando o óculo de proteção do rosto, fazendo-me soltar uma risada contida, Peter 2 notou e me cutucou com o cotovelo. Peter 3 apertou o ombro de Ned, piscando um olho enquanto Peter 1 e MJ não entendiam nada.
- Tá bom... Obrigado. – Peter 1 disse desconfiado.
O silêncio constrangedor ficou no ar por um segundo.
- Beleza. Vamos arriscar – Peter 1 estava visivelmente nervoso. – Como é que você sempre diz? – Perguntou direcionado à MJ. – Se você já espera a decepção...
- Não, não, não... – MJ o corrige. – Vamos quebrar a cara deles.
- É isso aí! – Dei um high-five com ela, me identificando imediatamente com a personalidade forte de MJ.
- Curar a cara deles – Peter 2 corrige, fazendo-me virar os olhos de modo que apenas MJ visse. Ela deu uma risadinha cúmplice.
- Curar a cara deles – Ned disse encorajador.
Refizemos o plano mais uma vez, já que tinha tantos pontos fracos e possibilidades de erro, que era bom ter tudo bem combinado.


Capítulo Três

Peter 1 ficou encarregado de fazer uma ligação ao Clarim Diário enquanto eu, Peter 2 e Peter 3 distribuíamos os dispositivos em lugares diferentes do ambiente para que ficasse ao acesso de todos.
Prendi várias das minhas seringas em lugares aleatórios e fiquei com duas em meu cinto.
Ned e MJ estavam no laboratório, esperando os vilões caírem na isca. Entregaríamos a caixa que todos estão atrás para eles e Ned fecharia o portal. Ficariam a salvo por um tempo, pelo menos o suficiente para que curássemos todos. Este era o plano.
Daria certo?
Pela experiência que tenho como super-heroína: não, não daria. Mas já passamos por perrengues piores e havia apenas um de nós. Em quatro, acho que damos conta do recado.
Quando tudo estava pronto, nos unimos em um andar para aguardar. Peter 1 ficou em uma plataforma mais alta para ter uma visão periférica melhor do local. Nossas máscaras estavam enfileiradas em uma barra metálica do andaime, e cada um olhava distraidamente para uma direção.
Comecei a me alongar, tocando as palmas da mão no chão com as pernas esticadas. Levantei cada braço com a palma para cima de uma vez, puxando meus dedos para baixo com a outra mão e flexionei os joelhos, segurando meus pés junto de minha nádega.
Notei que Peter 2 e 3 começaram a me imitar, cada um do seu jeito, e segurei um sorrisinho.
- O Max era o cara mais gente boa possível – Peter 3 disse distraído, esticando os braços sobre a estrutura metálica vertical do andaime. – Até que caiu naquele tanque de enguias elétricas.
Fiz uma nota mental para lembrar de que Max era o Homem Elétrico.
- Acontece... – Peter 2 disse de costas para nós.
- Tem tanta coisa que eu gostaria de ter feito diferente – Peter 3 admitiu com o olhar denso.
- Agora nós temos uma segunda chance – Peter 2 disse e Peter 3 olhou diretamente para mim, os olhos brilhando com uma leva de emoção que me fez perceber que ele não estava falando de Max ou dos vilões; ele falava da sua Gwen. Dei um sorriso amigável a ele. Um sorriso que dizia “eu também teria feito muita coisa diferente”.
Peter 2 escorou-se sob uma barra, tentando esticar as costas.
- Você vai acabar de machucando assim – Avisei-o, rindo, e ele se explicou.
- São as minhas costas, estão travadas de tanto balançar – disse gemendo.
- Ah, eu sei como é! Tenho as costas travadas também – Peter 3 concordou com ele. E eu uni as sobrancelhas, indignada.
- Vem cá, vocês não sabem o que é pilates e ioga? – Perguntei aproximando-me deles, indignada.
- , sem ofensas, mas você é muito nova, não sentiu o peso dos balanços nas suas costas – Peter 2 brincou dando uma piscadinha para mim.
Me senti ofendida.
- A culpa não é da minha idade, se vocês são um bando de vovozinhos – Brinquei fazendo-os gargalhar.
- Mil perdões se te ofendi, senhorita Coluna perfeita – Peter 2 mostrou a língua para mim e Peter 3 se aproximou dele.
- É sério, quer que eu estale suas costas? – Perguntou Peter 3 gentilmente, o sorriso ainda no rosto.
- Quero, seria ótimo – Disse Peter 2 cruzando os braços sobre o peito, enquanto Peter 3 o abraçava por trás.
Ergui uma sobrancelha em dúvida, analisando aquela cena que nunca, em toda a minha vida, imaginei presenciar: Peter 3 abraçando Peter 2 por trás de dando pequenos pulinhos até suas costas estalarem.
- Gente... – Chamei-os ainda boquiaberta. – O que eu acabei de presenciar?
- Brotheragem. A mais pura e genuína forma de amizade – Peter 3 respondeu erguendo os braços em sua própria defesa e Peter 2 apenas riu alto.
Depois de todos devidamente alongados, cada um se pôs confortável em um canto, de modo que cada um ficasse responsável por vigiar um quadrante, e a conversa fluiu.
Cada um contou um pouco sobre a sua vida.
Peter 1 nunca teve um “Tio Ben”, apenas sua Tia May e nunca conheceu nenhuma Gwen Stacy ou Stacy.
Peter 2 teve uma Tia May também, porém ela já faleceu de velhice, pois desde que ele virou Homem-Aranha, ela era uma senhora idosa. Ele conhece uma MJ e uma Gwen Stacy, e confessou que já beijou Gwen uma vez em um comunicado público por pura pressão da plateia.
Peter 3 também perdeu o Tio Ben e ainda tem uma tia May, nunca conheceu uma MJ, mas conheceu uma Gwen Stacy.
Eu contei a eles sobre meu Peter, que tinha um tio Ben e uma Tia May, que é viva até hoje. Perguntei se eles conheciam o Quarteto Fantástico e expliquei quem eram, todos ficaram empolgados em saber que haviam outros “super”, principalmente Peter 1, que já havia conhecido bastante deles.
Peter 2 e Peter 3 sempre trabalharam sozinhos, e isso me preocupava bastante, com o plano que havíamos ensaiado, precisaríamos de mentes que pensavam em grupo... A falta de experiência deles me deixava triplamente alerta.
- Cara, isso é tão maneiro – Peter 3 não conseguia conter um sorriso em seus lábios.
- O quê? – Perguntei, um sorriso surgindo em meus lábios contagiados pelo seu semblante feliz.
- Eu sempre quis irmãos, nunca achei que seria tão legal. A gente devia fazer mais isso, sairmos juntos e tal – Ele disse, ainda com seu sorriso sonhador.
- Eu gostei da ideia, mas acho que temos que nos concentrar em... – Peter 2 respondeu, procurando a palavra certa.
- Em não morrer hoje – Completei dando uma risadinha.
- Isso – Ele concordou.
- É, vocês têm razão... Eu pego o número de vocês no fim da batalha – Disse mais para si mesmo do que para nós.
Eu estava me afeiçoando a Peter 3, ele era leve e divertido como um bom Peter Parker deveria ser. Peter 2 era muito maduro e certinho, e Peter 1, bom, ele com certeza não estava nos mostrando um lado tão amável dele, não nesse período entendível de luto e culpa.
- Então... – Peter 3 continuou. Ele era, definitivamente, o tagarela do grupo. – Você faz seu próprio fluído de teia no seu corpo.
O momento chegou: a curiosidade mútua de todos nós, Pessoas-Aranha restantes naquele ambiente, seria finalmente encerrada.
- Eu prefiro não falar sobre isso – Peter 2 sabia que estávamos curiosos demais com aquele fato.
- Não, não, eu não queria... – Peter 3 levantou as mãos em rendição.
- Ele não está te zoando, não! – Peter 1 interferiu lá de cima.
- Isso, é só que a gente não faz isso e estamos curiosos – Tentei ajudar na situação, o que parece que fez efeito.
- Se for algum assunto pessoal... Não queremos nos meter – Peter 3 terminou.
- Eu gostaria de conseguir explicar, mas não consigo. Eu não penso nisso, é como respirar, eu só respiro.
- Nossa! – Exclamei, gostando da sua comparação.
- É, e, quando eu solto, ela sai suavemente.
- Posso perguntar uma coisa? – Peter 3 novamente interrompeu. – Você pensa e a teia sai? É que comigo, e imagino que com os outros também, é todo um mecanismo que tem que acontecer em milésimos de segundo.
- Sim. Nossa, seria muito bom criar uma inteligência artificial que soubesse a hora em que eu preciso de uma teia sem que eu precisasse acionar algo – Expliquei e Peter 2 entendeu a deixa.
- É mais ou menos por aí, hoje em dia eu nem preciso pensar mais, é algo muito instintivo do meu corpo. Faz parte de mim.
- Isso é muito legal.
- E ela só sai do seu pulso ou... De algum outro lugar? – Peter 1 perguntou, fazendo-me dar uma gargalhada genuína.
- Só do meu pulso – Peter 2 deu uma risadinha sem graça, olhando-me como quem diz “é sério que estou tendo essa conversa? Não estou muito velho para isso?”
- E você já teve algum bloqueio de teia? É que as minhas, tenho que fazer em um laboratório, e é bem exaustivo às vezes – Perguntei e Peter 3 concordou com a cabeça, olhando interessado para Peter 2.
- Deve dar um trabalhão mesmo – Peter 2 concordou sorrindo, agradecendo-me com os olhos por fazê-lo escapar da pergunta infame de Peter 1. – E, para falar a verdade, eu já tive um bloqueio de teia uma vez.
- Uau, por quê? – Perguntou Peter 3.
- Uma crise existencial, nem sei o que dizer, ou como aconteceu. Na verdade, não tenho muito o que explicar sobre a minha produção natural de teias, é algo que não consigo.
- É muito legal, cara. Eu quero ver os buraquinhos – Peter 3 diz, e novamente, não consigo segurar uma gargalhada.
- Gente, sério, o que há de errado com vocês? Um pergunta se sai teia de algum outro lugar e o outro quer ver os buraquinhos! – Falei indignada, ainda rindo entre as palavras. Todos riram.
- É que são tantas perguntas que eu queria fazer para vocês! Sinto que estou estragando esse momento e quando voltar para casa, vou me lembrar de mil perguntas que devia ter feito e não vou conseguir mais! – Peter 3 admitiu falando rápido, sorrindo feito um bobão.
- Ok, então, quais foram os vilões mais bizarros que vocês já enfrentaram? – Peter 1 finalmente estava se enturmando na conversa.
- Você conheceu alguns deles – Peter 2 respondeu sorrindo.
- Boa pergunta! – Exclamei.
- Eu já lutei com um alien feito de uma gosma preta uma vez – Peter 2 disse e lembrei-me imediatamente de Venom. Nossa, eu odiava aquela coisa! Era gosmento, gelado e vivia escorrendo baba quando chegava perto de mim, olhando-me sempre como se eu fosse um pedaço de frango frito.
- Eu também! Ele era nojento – Falei e Peter 2 concordou. Peter 3 arqueou as sobrancelhas admirado.
- Mentira! Eu lutei com um alien também, na Terra e no espaço – Peter 1 exclamou animado e eu sorri feliz por vê-lo interagir um pouco conosco. – Só que ele era roxo e não era gosmento.
- Eu nunca lutei no espaço – Afirmei. - Mas seria legal, já pedi algumas vezes para o Quarteto, mas eles não deixam.
- Ah, eu queria lutar com um alien! – Peter 3 disse cabisbaixo.
- Acredite, você não está perdendo nada – Respondi-o, tentando o animar. – É um vilão idiota como qualquer outro.
- Eu ainda estou chocado que você lutou com um alien no espaço – Peter 2 disse, direcionado a Peter 1. Depois voltou-se para Peter 3. - Eu estou aqui todo esse tempo muito assustado com a natureza fantástica nessas coisas, e você está tipo...
- Como se fosse uma segunda-feira qualquer – Completei a frase e Peter 3 deu de ombros, ainda meio triste.
- É que eu sou chato, comparado a vocês – Respondeu ele, cruzando os braços sobre o peito. Um nítido quê de inferioridade surgindo em seu semblante e eu uni as sobrancelhas, horrorizada. – Eu até já lutei com um cara russo uma vez, meio máquina, meio rinoceronte.
- Isso é maneiro. – Peter 2 afirmou e eu concordei com a cabeça.
- Ah, não é não.
- Acho que você pode parar aí um pouquinho – Eu interrompi. – Peter, você é legal. Tão legal quanto qualquer um de nós. Eu tive um vilão, que era o mais sem graça de todos, mas que era um pé no saco porque ele sempre estava nos momentos mais errados da minha vida. O nome dele era Caçador, ele era só um cara comum que tinha uma coleção de caça de animais silvestres em extinção e ele queria me colocar na sua coleção. Existe algo mais lastimável do que isso? Mas foi um dos meus piores vilões, pois ele sabia a minha identidade secreta e fez da minha vida um verdadeiro inferno. Tá vendo? Não era um alien, nem um rinoceronte. Era um homem com uma espingarda que não fazia mal a nenhum humano.
Ele deu um meio sorriso, como se estivéssemos conseguindo convencê-lo.
- Tá legal, eu sei que eu não sou tão chato – Peter 3 concordou.
- É tudo questão de autoestima – Peter 2 disse. – Você é espetacular. Aceita um elogio, vai. Você é espetacular.
- Tá bem, tá bem. Eu precisava ouvir isso – Ele sorriu e todos nós três rimos.
- E você, mocinha, também é espetacular. Não é por que seu vilão é uma pessoa qualquer que você tem que se menosprezar – Peter 2 disse apontando para mim. Eu sentia uma vibe de irmão mais velho vindo dele, que seria difícil de retirar de mim depois disso.

- Galera, vocês estão sentindo? – Peter 1 perguntou enquanto eu sentia os pelinhos da minha nuca se arrepiarem.
- Sim – Respondi imediatamente, ouvindo Peter 2 e 3 falarem logo depois de mim.
O clima ficou tenso sem nenhuma necessidade de alguém falar mais alguma coisa. Ouvimos um trovão ao lado leste e algumas nuvens se aproximando do local.
- Oi, Peter – Um homem apareceu à minha direita, a eletricidade estática fazendo seu corpo flutuar fora dos andaimes de onde estávamos. Seu “olá” era direcionado a Peter 1. – Gostou do meu novo look?
Corri até a minha máscara e coloquei-a, puxando o capuz para cima para cobrir minha cabeça.
- Olha, me dá isso aí. Eu vou destruir a caixa – Disse ele, e pude ouvir os dedos de Peter 1 apertando o metal da caixa com mais força. Ele ainda estava sem máscara. – Mas te deixo viver, não me obrigue a virar assassino Peter.
Quando ele terminou a frase, Peter 1 correu até a ponta da tiara da estátua da liberdade, onde estava até então, e pulou em queda livre, como estávamos acostumados a fazer. Quando ele baixou a sua máscara, falou:
- Se liga, galera, está na hora – E eu ouvi sua voz pelo ponto que estava em meu ouvido. Peter 2 correu para a esquerda, Peter 3 para a direita e eu corri para trás, cada um cobrindo a sua área combinada.
Um ponto importante a ser destacado em momentos como este de trabalho em equipe é que nem sempre é possível acompanhar tudo o que acontece ao mesmo tempo, então a partir do momento em que pulássemos sozinhos, cada um no seu quadrante demarcado, estaríamos propensos a não acompanhar tudo o que estivesse rolando. Por isto, manter as atualizações nos comunicadores era importante.

- Fala, Max! Que saudade irmão – Ouvi a voz de Peter 3 em meu ouvido, brincando com Electro.
Soltei uma teia quando estava pulando, guiando-me para o lado contrário de onde Electro estava e Peter 2 passou por cima de mim, indo na direção contrária da minha.
- Aqui MJ, pensa rápido! – Ouvi a voz de Peter 1 dizer, e vi com o canto dos olhos ele jogar a caixa para ela, que estava do lado de dentro de um portal, lá no laboratório onde havíamos feito os antídotos.
- Peguei – Ouvi a voz dela bem mais baixa, mas ainda com clareza. – Fecha logo – Disse ela, indicando o portal que era para Ned fechar.
De onde eu estava, lançando teias rodeando o local, pude ver a água se mexendo em um ponto específico e vi o Homem-Lagarto sair de lá.
- Pessoal, temos companhia. O lagarto está chegando – Falei para que ninguém fosse pego de surpresa.
- Ned, não está fechando – Ouvi a voz de MJ tremer, e meu coração já deu uma palpitação descompassada. – Fecha logo, você nunca fechou antes? – A voz dela era rude em um desespero gritante. Pude sentir o nervosismo do garoto de onde eu estava. Dei meia volta, querendo ficar mais perto deles para protegê-los.
- Max, Max, Max, vamos conversar um segundinho, só você e eu – A voz de Peter 3 surgiu em meu ouvido, mas eu conseguia o ouvir fora do ponto também. Não estava longe.
- Olha quem apareceu, é o meu velho amigo, Homem-Aranha. – Max o reconheceu do seu mundo.
- Eu quero te salvar, Max.
- Você não quer me salvar. Você nem é o melhor agora – Max disse, sua voz era grave e eu mal conseguia ouvi-lo com os barulhos de raios que percorriam o ambiente.
- Ahhh – Peter 3 disse derrotado, a autoestima despencando depois de tudo o que conversamos.
- Não se preocupa comigo, eu vou me salvar – Ouvi a voz de Max dizer, e logo depois uma pequena explosão, como se ele tivesse jogado uma quantidade alta de eletricidade em Peter 3.
Pousei no andar em que MJ e Ned estavam, os dois brigando como duas crianças.
- Gente, gente, o que houve? Por que esse portal ainda está aberto? – Perguntei alerta.
- Eu nunca fechei um portal antes! – Ned disse assustado.
- Ok, e como os portais se fecharam antes? – Perguntei com a voz calma, tentando passar um semblante de tranquilidade para eles.
- Não sei, fecharam sozinhos, não precisei fazer nada.
- Galera, o vampiro chegou. Só para avisar! – Peter 2 disse pelo comunicador, gemendo, como se estivesse tentando se livrar de algo. – Comunicação, preciso de comunicação!
- Tá bem! – Peter 1 respondeu.
- Mas eles só fecharam depois que alguém passou por eles! – MJ disse como se fosse óbvio, me chamando para a realidade.
- Ok. Meninos, vou entrar no portal para ver se conseguimos fechar. Segurem as pontas – Alertei os demais e recebi “Ok’s” em concordância.
- Pessoal, eu preciso da cura do Max! – Ouvi Peter 3 gritar no ponto de escuta.
Passei pelo portal com faíscas e nada aconteceu, dei uma volta pelo laboratório com certa urgência, para ver se o portal fechava se eu me afastasse e nada aconteceu.
- Ok, preciso voltar para lá – Alertei eles. – Não fiquem de frente para o portal, assim vocês vão chamar a atenção deles. Fiquem do lado, como se estivessem se escondendo da entrada de uma porta. E gritem se precisarem de ajuda. Temos quatro de nós por algum motivo. – Passei pelo portal, para voltar à estátua da liberdade. – Ned, continua tentando fechar, confiamos em você, você é o nerd da cadeira! – Falei antes de soltar uma teia e sair voando.
- Eu pego a cura do Max! – Alertei no ponto ao meu ouvido e lancei uma teia para subir.
- Peter 1, eu preciso da cura do lagarto! – Ouvi Peter 2 berrar.
- Ok! – Ele respondeu, mas consegui ver logo abaixo de mim uma mão gigante de areia agarrar Peter 1, que estava com um traje com tons de dourado que chamava minha atenção.
Consegui agarrar a cura do Homem Lagarto, e joguei na direção de Peter 2 que estendeu a mão para pegar, mas Peter 3 passou bem na hora e derrubou a cura em algum andar do andaime.
- Foi mal, gente!
Lancei uma teia para ir atrás da cura, e um raio de Max acertou a mesma fazendo-me levar um choque e cair de onde eu estava. Os raios de Max fizeram com que o braço hidráulico de um enorme caminhão, que ajudava na construção da nova estátua da liberdade, caísse sobre os andaimes que rodeavam a obra e tudo virou um caos. Uma poeira se dissolveu pelo local que agora parecia um terreno deserto com uma tempestade de areia.
Os três cabeça de teia se reuniram no mesmo andar em que eu estava, a areia nos cegando por uns instantes mas precisamos tiras as máscaras para conversarmos melhor.
- O que está acontecendo, gente? – Peter 3 exclamou assustado. – Eu estou chamando você! Peter 2, Peter 2, Peter 2!
- Eu achei que você fosse o Peter 2!
- Peter 1, Peter 2 e Peter 3 – Apontei para cada um, irritada.
- Ok. Vamos parar de discutir, está na cara que não somos bons nisso – Peter 1 disse.
- Eu sei! A gente está um lixo! Eu não sei trabalhar em equipe! – Peter 3 exclamou.
- Nem eu! – Peter 2 concordou.
- Eu sim, mas nunca trabalhei com pessoas que fazem exatamente a mesma coisa do que eu! – Admiti assustada. Eu estava acostumada com a força descomunal de Ben, com o poder de fogo de Johnny, mas não com pessoas que pensam como eu e agem como eu agiria.
- Eu já trabalhei em equipe, sem querer me gabar, mas me gabando, eu já fui dos Vingadores! – Peter 1 disse e eu uni as sobrancelhas.
- Vingadores? – Perguntei sem entender. Provavelmente era algum grupo de Super, do mesmo jeito que O Quarteto Fantástico também era.
- Dos Vingadores? Que legal, parabéns. – Peter 2 disse. – O que é isso?
- É uma banda? Você está em uma banda? – Peter 3 pergunta.
- Não, não é uma banda, os Vingadores são...
- Isso ajuda em quê?! – Peter 2 gritou irritado, não tínhamos tempo para debater quem eram os Vingadores. Precisávamos nos comunicar melhor e não atrapalhar um ao outro.
- Não importa. A gente só precisa se concentrar, confiar no tinido e coordenar os ataques – Peter 1 disse como um verdadeiro líder.
- Ok, tá legal – Peter 2 disse, dessa vez mais calmo. – Vamos escolher um alvo.
- Tirar de jogo um de cada vez – Peter 3 disse alegre.
- E nos comunicar melhor. Vão comunicando tudo que está acontecendo, como se estivessem falando sozinhos. – Completei, sabendo como aquilo era realmente importante.
- Perfeito – Peter 1 afirmou.
Peguei minha máscara, levando-a na direção do rosto e todos nós seguimos para o mesmo lado voltando ao fogo cruzado.
- Espera, espera! – Peter 3 nos chamou, e paramos para olhá-lo. – Eu amo vocês!
Eu sabia que rir era completamente errado, então minha primeira reação foi arregalar os olhos e morder os lábios internamente.
- Obrigada – Deixei escapar e Peter 1 e 2 disseram o mesmo. Um sorrisinho sem graça saiu de meus lábios e Peter 1 quebrou o gelo:
- Beleza, vamos nessa. – Seguimos correndo para a mesma direção, colocando as máscaras.

Se aquele momento fosse um filme, tenho certeza de que naquela hora haveria uma música épica de trilha sonora. Pulamos do andaime praticamente juntos, o tinido verberando em meus ouvidos como uma música clássica, as teias se cruzavam sem acertar umas nas outras e nossos corpos pareciam uma sinfonia belíssima, mergulhando no ar como se fôssemos um só. Demos a volta na construção, em meus ouvidos eu ouvia os gritos felizes dos outros Homens-
Aranha e eu conseguia apenas sorrir.
Pousamos na cabeça da estátua da liberdade, cada um com sua pose de herói.
Os quatro vilões estavam de frente para nós, alinhados como nós também estávamos, um segundo de silêncio se instalou quando nos encarávamos: era a primeira vez que eu via todos eles, e pude checar a aparência de cada um: Homem-Areia, Homem-Lagarto, Morbius e Electro.
O único que tinha aparência humana era Electro, o Homem-Areia estava gigantesco e seu rosto era desenhado por montes de areia espalhados pelo ar, o Homem-Lagarto tinha uns dois metros e meio de altura, e era um Lagarto com características humanoides, e Morbius estava com os cabelos escorridos e o rosto detestavelmente enrugado, os olhos vermelhos e as presas à mostra.
A deixa foi dada e atacamos, cada um pulando em um dos vilões, lancei duas teias na boca de Morbius, tentando manter seus dentes afiados longe de meus mais novos amigos e cada um dos cabeça de teia foi para um lado, com um vilão ao seu encalce. Morbius me atacou, trazendo seus longos dedos com unhas afiadas em minha garganta.
- Pessoal, primeiro o Homem-Areia – Ouvi Peter 1 dizer, enquanto me defendia das mãos de Morbius em meu pescoço e lançava uma teia para longe, fazendo com que ele viesse atrás de mim. Eu estava com um antídoto no meu cinto. Seria tão fácil deixá-lo me alcançar e só aplicar... Não. Não seria assim fácil, e havíamos combinado de atacar um por vez. Foco, . Trabalho em equipe.
- Eu atraio ele para a estátua! – Reconheci a voz de Peter 2 dizer, e senti a mão do cabelo seboso agarrar meu tornozelo.
- Encontro vocês no topo – Peter 3 disse, e ao fundo pude ouvir a voz do Doutor Connors o chamando.
- Olha só, Morbius, agora... eu preciso... ajudar... meus amigos – A voz saia pausada, e em cada pausa eu deferia um chute em seu rosto.
- Eu só quero matar a saudade, - Ele soltou meu tornozelo sorrindo e eu alcancei um andar da construção, ele me seguiu e, irritada pela perseguição lancei uma série de teias rápidas que o prenderam, porém ele se transformou naquela fumaça esquisita que nem a física mais avançada podia explicar e eu acabei lembrando de uma cápsula de energia que eu tinha em meu cinto. Retirei-a, apertei o botão e joguei em sua direção quando seu corpo voltou a forma física e ele endureceu e caiu no chão com um baque surdo, esticado e tendo tremeliques. Aquela capsula não duraria um minuto inteiro, era apenas uma distração para que eu pudesse fugir dele enquanto tentava ajudar os outros.
- Gente, como estamos? – Perguntei quando saltei novamente para longe de Morbius.
- Eu cheguei no topo, preciso da cura – A voz de Peter 2 ressoou em meu ouvido, a urgência na sua voz dizia que ele precisava de ajuda.
- Já vai, já vai, já vai! – Peter 1 berrou.
- ! – Ouvi a voz de Peter 3 pelo ponto em meu ouvido e por fora. O tinido fez minha mão se levantar e agarrar o dispositivo sem eu precisar olhar em sua direção.
- Estou chegando Peter 2 – Avisei-o. Assim que cheguei ao topo, vi Peter 1 saltando exatamente na direção da mão de Peter 2, apenas lancei o dispositivo confiando que ele pegaria, e foi o que ele fez. Meio segundo depois, o dispositivo estava brilhando na mão de Peter 2 que já estava completamente soterrado de areia.
- Está tudo bem Flint. A gente vai te mandar para casa, é só esperar aqui – Ouvi Peter 2 dizer e comemorei com um “Woohoo”, fazendo os demais rirem.

Estávamos todos reunidos no topo da estátua, e Electro, uniu toda eletricidade que conseguia, provavelmente para nos atacar.
- Como a gente vai vencê-lo? Eu nunca o vi tão forte – Peter 3 disse, a preocupação em sua voz era perceptível.
- É o Reator Arc. A gente tem que tirar dele – Peter 1 afirmou.
- Não vão tirar nada de mim – Max sorriu maliciosamente.
Lancei uma teia no reator tentando pegá-lo no quesito surpresa, mas ele retirou a teia antes que eu conseguisse fazê-lo.
- Não vai funcionar – Dessa vez ele lançou o sorriso para mim, antes de lançar um forte pico de energia que nos atingiu, criando uma explosão.
- A gente tem que chegar até ele – Peter 1 disse. – Peter 2 direita, Peter 3 esquerda e por baixo.
Fizemos o que ele sugeriu, cada um lançando uma teia de modo que ele ficasse com os braços e as pernas trancados, porém quando Peter 1 se aproximou para alcançar o reator, Max lançou um raio por seu peito que o atingiu em cheio. Peter 2 tentou se aproximar em seguida e também foi atingido. Peter 3 foi o próximo, e Max, ao invés de lançá-lo como fez com os outros, o segurou, fazendo-o levar um choque longo e forte. Aproveitei a deixa dele estar distraído e pulei por trás, porém ele se transportou para outro local e atingiu um raio em meu peito como fez com os outros. Fui lançada para longe, e aterrissei em uma tela fina de proteção.
De onde eu estava, tive uma vista nítida de Morbius se livrando de meu dispositivo de choque e seguindo para as vozes que ainda não se calaram de Ned e MJ dentro do portal. Oh merda. O portal ainda estava aberto!
Levantei-me, sentindo meu corpo reclamar da dor muscular, porém não me deixei abalar por isso. Corri na direção de Morbius tentando alcança-lo antes que ele chegasse ao portal, mas fracassei.
Ele passou pelo buraco, e logo ouvi MJ dizer:
- Ned, corre!
Entrei no portal logo em seguida, lançando teias para atrasar Morbius, dando uma vantagem para os dois civis.
- Gente, saiam daqui! – Berrei sentindo o baque do corpo de Morbius no meu. Vi pela minha visão periférica MJ e Ned indo na direção do portal. – Não saiam pelo portal, saiam pela porta normal!
Meu berro foi inútil, pois eles já estavam nos andaimes. Pelo menos estavam seguros, por hora.
- Eu quero o seu sangue , imagina o poder que ele deve ter! – A voz rouca e nojenta de Morbius ressoou. Sua mão segurava as minhas acima de meu corpo, seu hálito ferroso batia em meu rosto coberto pela máscara. Diferente dos demais vilões ali presentes, Morbius não pensava tanto na caixa, seu instinto primitivo de predador gritava mais alto do que a sua própria lucidez de saber que sem a caixa, ele teoricamente “morreria” caso voltasse ao seu lugar de origem sem ser curado, ele estava travado por sua essência animalesca a querer se alimentar antes de querer se salvar.
- Sempre querendo ter o que não pode, não é Doutor? – Perguntei irônica, e aproveitei sua força que prendia minhas mãos, para levantar minhas duas pernas e empurrá-lo com força pela barriga. Seu corpo voou longe por conta da minha capacidade sobre-humana, e passei pelo buraco do portal procurando por MJ e Ned.
- Doutor Octavius, não! – Ouvi a voz de Peter 2 dizer em meu ouvido. E praticamente ao mesmo tempo, pude ouvir Peter 1 gritando o meu nome.
Segui meu tinido e durante o percurso peguei o anti-soro do Dr. Connors. Assim que avistei o traje de Homem-Aranha, joguei o dispositivo em sua direção, crente de que ele pegaria sem que eu precisasse me preocupar. E foi exatamente o que Peter 1 fez.
- Connors está curado – Falei apenas para informar os outros, vi Ned e MJ do lado oposto de onde eu estava e Ned abria um novo portal, provavelmente para que eles saíssem, dessa vez com maior efetividade, vendo isso, virei-me e saltei novamente, atrás de Peter 2 e 3 para ver se precisavam de ajuda.
- Max também está – Peter 3 nos avisou e suspirei aliviada. – Dr. Octopus nos ajudou.
- Ok, agora preciso de ajuda com o Morbius – Falei, voltando ao portal ainda aberto de Ned que dava ao laboratório, onde eu havia o visto pela última vez.
- Não precisa procurar muito, ele já está atrás de mim – Peter 3 disse, e pude ouvir em sua voz um esforço de quem está se movimentando muito.
- Tem anti-soros espalhados pelos andares! – Falei para minha escuta, e corri na direção que meu tinido mandava.
- Estou chegando também – Peter 2 avisou.
Não demorou muito para eu ver a fumaça densa de Morbius atrás de Peter 3.
- Hey, Morbius! Já está me trocando? Assim eu fico triste! – Berrei para chamar a sua atenção, enquanto sentia em minha nuca, Peter 2 se aproximar do outro lado.
- Ah, , nesse mundo não é só o seu sangue que é especial, gosto disso. – Sua voz grossa verberou, e enquanto falava, seu corpo assumia a forma humana de novo.
Peguei o antídoto em meu cinto, enquanto pousava na plataforma que ele estava.
- Outch – Brinquei, fingindo-me de ofendida. O que aconteceu em seguida foi muito rápido: Peter 2 lançou teias ao redor de Morbius, pegando-o desprevenido e deu a volta nele, prendendo-o com as próprias teias, os braços colados ao lado do corpo, e antes que ele virasse fumaça novamente, Peter 3 pulou nele exatamente ao mesmo tempo que eu, vi o tempo correr em câmera lenta enquanto nós dois caíamos ao encontro de Morbius, cada um com uma ampola de anti-soro nas mãos.
O baque no chão foi inevitável, e eu soltei um gemido quando vi a ampola vazia conectada na coxa esquerda de Morbius, enquanto Peter 3 colocou a sua ampola no ombro. O soro correu pelas veias de Morbius e segundo após segundo, seu corpo ia diminuindo até virar completamente humano. Peter 3 estava no chão respirando alto assim como eu, e Peter 2 nos deu a mão para pegarmos impulso para levantar.
- É isso? – Morbius perguntou, sua voz de humano sendo muito mais agradável aos ouvidos.
Ele era bonito, tinha olhos claros e um cabelo comprido sedoso.
- É isso – Falei tirando minha máscara para conversar com ele.
- Como você fez essa cura? Pesquisei durante anos – Ele disse desacreditado, seus olhos brilhantes correndo pelo meu rosto.
- Tive uma ajudinha – Pisquei para ele e olhei para os dois Peter’s que me olhavam com carinho. – Mas olha só, tome cuidado e fique bem. Logo estaremos te mandando para casa.

Fomos ao encontro de Peter 1 que estava falando com um homem que até então eu não conhecia, mas pelas suas roupas, consegui concluir que ele era o “mago supremo” do qual Ned havia mencionado. Ele parecia estar dando uma bronca das boas no garoto.
- Eu fiquei pendurado no Grand Canyon por doze horas! – O homem que se auto intitulava “Mago Supremo” exclamou zangado, e seu semblante mudou para espantado quando nos viu.
- Você estava no Grand Canyon?! – Peter 2 exclamou, tirando satisfação com o homem que acabamos de conhecer.
- A gente precisava de ajuda aqui, sabe... – Peter 3 concluiu a ideia de pensamento.
- É, afinal a bagunça toda foi culpa sua – Me meti na conversa, defendendo meus amigos.
- Culpa minha?! – O homem engoliu seco, irritado com minhas palavras.
- Quem aqui é o feiticeiro que fez um feitiço errado? – Perguntei dando um passo à frente.
- Gente, por favor... – Peter 1 tentou amenizar a situação.
- Garota, não fale das coisas das quais não entende.
- Eu com certeza não entendo de magia, mas entendo que este é um garoto de dezesseis anos que teve a vida arruinada por conta de um dos seus feitiços que deu errado – Debulhei aquela irritante situação em seu colo. Peter com certeza havia feito merda, mas nada disso teria acontecido se este “mago supremo” não tivesse feito um feitiço dar errado, que tipo de mago que se auto intitula supremo faz uma coisa dessas?
O mago ficou furioso, suas narinas inflaram e seus lábios crisparam para mim, ele provavelmente sabia que um dos gênios mais fortes de todos os cabeça de teia envolvidos era a teimosia, e fiz questão de não baixar a guarda para ele, ponto que sempre fui muito ensinada por Ben.
“Não baixe a cabeça para ninguém garota, o mundo não é fácil, especialmente com garotas doces como você”.
Uni minhas sobrancelhas encarando os olhos azuis do mago à minha frente e Peter 1 tentou quebrar o gelo de novo.
- Ok, ok, ok. Eles são meus novos amigos – Peter 1 passou na minha frente, quebrando o contato visual que eu fazia com o mago. – Ele é Peter Parker, ele é Peter Parker e ela é Stacy. Homem-Aranha, Homem-Aranha e Mulher-Aranha, são eu de outro universo.
- Não, não, não. – O mago disse fechando os olhos.
- Ele é aquele bruxo que eu falei para vocês... – Peter 1 explicou a nós.
- Olha, eu estou muito impressionado que conseguiu dar uma segunda chance para todos eles rapaz, mas isso tem que acabar agora.
E então, meus os pelos do meu braço se arrepiaram como nunca naquele dia, senti o tinido em minha nuca e virei-me assim como todos os Peter’s ao meu redor. E uma voz, já conhecida por mim, soou como um alto-falante grave que fez meu coração tremer:
- O Homem-Aranha pode sair para brincar?!


Capítulo Quatro

O que aconteceu em seguida deve ter durado no máximo trinta segundos, mas foram tantas coisas ao mesmo tempo que não tivemos a reação rápida que o momento solicitava.
Duende Verde se aproximou em seu planador voador e lançou projéteis com lâminas giratórias, que eram sua marca registrada. Só tivemos o ímpeto de desviar enquanto ele se aproximava e roubava o cubo das mãos do mago. O Homem com garras de polvo protegeu o mago dos projéteis e ainda conseguiu segurar o planador do Duende, que logo revidou cortando um de seus tentáculos; porém, foi tempo o suficiente para que o mago lançasse um laço e trouxesse o cubo de volta.
- Não! – Consegui gritar na direção do mago, com olhos arregalados, mas foi tarde demais: havia um explosivo no cubo.
- Strange! – Peter 1 gritou junto comigo, porém a explosão aconteceu antes de qualquer um fazer alguma coisa. Tudo tremeu.
O cubo não aguentou a força da bomba e lançou o feitiço em um largo anel que rodeou a cidade inteira, o céu tremeu e começou a trincar, como se fosse de vidro.
O escudo gigante que a Estátua da Liberdade segurava caiu, derrubando consigo todos os andaimes que rodeavam a estátua. A estrutura foi se desfazendo aos poucos, bamba e instável.
Mesmo com o estrondo absurdo e tudo acontecendo ao mesmo tempo, consegui ouvir a voz de Ned distante, berrando o nome de MJ, e meu coração deu outro baque, enquanto meus olhos perdidos com toda aquela confusão procuravam um vestígio de onde eles poderiam estar.
Consegui ver Peter 1 dando um mergulho no ar e corri atrás dele, durante o mergulho eu vi Peter 1 ser levado por Duende Verde quando estava prestes a segurar MJ, e preparei minha teia quando vi Peter 3 mergulhar logo depois e alcançá-la com facilidade. Ele a abraçou, e se segurou com uma teia lançada para cima, seus pés pousaram suavemente no chão e eu aterrissei meio segundo após eles, a um metro de distância.
A garota estava ofegante, os olhos esbugalhados, e eu podia ouvir sua pulsação completamente alterada.
- Você está bem? – A voz de Peter 3 parecia calma, mas pude sentir um nó em sua garganta.
A garota concordou com a cabeça, ainda instável com a situação.
- Tô, eu estou bem. – Ela conseguiu concordar, ainda sem fôlego.
E então eu vi.
Os olhos de Peter 3 estavam marejados, um sorriso de boca fechada surgiu em seu rosto, e ele apenas engoliu o choro enquanto a garota o encarava preocupada.
- E você está bem? – ela perguntou a ele, que apenas concordou com a cabeça, os olhos escorrendo lágrimas teimosas que rolavam por seu rosto e pingavam de seu queixo.
Eu entendi o que aconteceu ali: Peter 3 perdeu a sua Gwen daquela maneira, ele não havia conseguido salvá-la.
Ele pôs MJ no chão e a garota se afastou, incerta de deixá-lo daquele modo. Ela olhou para mim, e eu pisquei para ela em um aviso simples: “deixa comigo”.
Sem qualquer tipo de aviso, me aproximei dele de onde eu estava e o abracei, meus braços circundando seu corpo, meu rosto encostado em seu ombro. Ele precisava daquilo, eu sabia disso. Enquanto nossas respirações se sincronizavam, Peter levantou o braço preso por mim e passou por volta da minha cabeça, me apertando do jeito que dava, e, assim, sentindo-se mais seguro, desabou a chorar. Os soluços preenchiam meus ouvidos enquanto ele baixava o rosto até meu pescoço, encaixando melhor nosso abraço.
Algo aconteceu ali enquanto estávamos abraçados, não sei dizer se era o momento, seu corpo colado no meu, seu choro ou apenas minha cabeça, mas me senti completamente absorta nele, como se tivéssemos conectados em algum tipo de fio invisível.
- Tenho certeza de que ela está orgulhosa de você, Parker.
Ele não disse nada, apenas ficou abraçado até os soluços passarem. Em minha cabeça o ato inteiro durou uma eternidade, e não pareceu de maneira alguma constrangedor. Mas tenho certeza de que em tempo normal não deve ter sido mais do que dois minutos.
Quebramos o abraço sentindo o tinido, eu tinha certeza de que ele também sentia, e simplesmente lançamos teias, cada um para um lado, e ajudamos os demais civis – que antes eram vilões -, colocando-os todos no chão em segurança. Peter 2 e o Homem com tentáculos de metal também ajudavam. Não consegui localizar Peter 1 naquela confusão. Vi o mago na ponta da Estátua da Liberdade tentando manter os cacos do céu, que se abriam, fechados. Parecia que a nossa realidade iria se esfarelar e ele tentava manter tudo firme.
Quando todos os civis estavam em segurança no chão, os andaimes pareciam firmes e mais nenhum pedaço cairia, fomos atrás de Peter 1.

O encontramos no escudo caído da Estátua, com sua pose de herói, pronto para atacar aquele que matou a sua tia.
- Temos que impedir isso – Peter 2 disse exasperado.
- Ele não pode se tornar um assassino – Peter 3 concordou.
- Concordo com vocês, mas... Deixem ele liberar um pouco dessa raiva.
Os dois viraram o rosto para mim, as sobrancelhas erguidas em tom de dúvida.
- É sério, ele nunca vai se perdoar por isso. Deixem o garoto dar umas porradas no cara, ele merece – falei, dando de ombros e sorrindo amarelo.
Peter 2 me olhava indignado.
Peter 3 me olhava admirado.
- Você definitivamente não é um Peter Parker, você é malvada – Peter 2 disse finalmente.
- Você é incrível, isso sim! – Peter 3 exclamou, dando uma risada.
E então começou. Peter 1 avançou no Duende Verde e uma das lutas mais brutais e secas que eu já havia visto entre herói e vilão aconteceu. Eu estava acostumada com campos de força, chão tremendo e chamas. Mas eu nunca havia visto tantos socos e golpes fortes com tanta raiva reprimida antes; eu estava certa. Peter 1 precisava daquilo.
- Tá bom, já chega – Peter 2 disse e pulou da plataforma em que estávamos para interferir na briga. O seguimos, mas mantivemos certa distância.
Peter 1 pegou o planador de Duende, a raiva em seus olhos o consumindo por inteiro, e seguiu até o vilão que estava no chão.
- Peter, não! – berrei de onde eu estava, sabendo que ele se arrependeria imediatamente do ato após fazê-lo, porém a sua raiva era maior do que tudo naquele momento, eu entendia muito bem como aquela raiva era e nunca iria julgá-lo por isso.
Peter 2 chegou nele no exato momento em que ele ia fincar o planador no homem jogado ao chão, Peter 1 insistiu colocando força em cima do nosso amigo, mas Peter 2 foi perseverante e conseguiu fazê-lo desistir. Eu estava prestes a comemorar quando vi o Duende Verde fincar uma lâmina nas costas de Peter 2. Corri até ele sem pensar duas vezes.
- Pete, você está bem? – perguntei assustada, vendo seus grandes olhos azuis cristalinos procurarem os meus, ele apenas acenou com a cabeça.
- Peter! – Ouvi a voz de Peter 3 chamar, e ele jogou o antissoro para o garoto, que pegou sem pestanejar e aplicou com força no pescoço de, agora, Norman Osborn.
Peter 2 sorriu aliviado.
Norman olhou em volta, confuso. Dava para ver em seus olhos o arrependimento conjunto de sua expressão corporal.
- O que eu fiz?
Todos se reuniram em volta de Peter 2, que estava caído no chão, ignorando o momento de Norman para primeiro checarmos como estava nosso irmão mais velho, enquanto meus braços o ajudavam com o conforto de seu pescoço.
- Você está bem? – Peter 3 perguntou.
- Ah, sim, já fui esfaqueado antes – disse ele de maneira leve, fazendo-nos rir sem muita graça.
- Que bom, que bom – Peter 3 disse aliviado. – Ei, boa pegada – falou para Peter 1, que sorriu.
- Você arremessou bem.
O céu estava cada vez mais rachado e aberto, um fundo roxo brilhante aparecia ao fundo, fazia um barulho alto de explosões contínuas.
- Isto está acontecendo mesmo ou eu estou morrendo? – Peter 2 observava o céu de olhos extremamente arregalados.
- Está acontecendo, bobão – brinquei, fazendo-o sorrir um pouco.
- Eu tenho que ir – Peter 1 disse, também observando o céu e depois vendo o mago que ainda estava no alto da estátua da liberdade.
- Claro, vai lá!

Logo depois, o mago desceu do céu lentamente, após lançar seu feitiço dourado, que explodiu e espalhou-se pelo céu, sumindo aos poucos. O braço de Peter 2 repousava em meus ombros, e meu braço roçava o braço de Peter 3, cruzado nas costas de Peter 2, de modo que o mantínhamos em pé, cada um servindo de apoio ao seu lado.
- Vem, vamos sentá-lo. Tenho alguns curativos aqui – falei para Peter 3, indicando uma barra grossa de ferro onde podíamos sentá-lo com cuidado. Peter 2 gemeu durante o ato.
Abri meu cinto e retirei curativos feitos de uma pele sintética transparente que Dr. Richards havia inventado. Peter 3 abriu o rasgo no uniforme de Peter 2 quando me inclinei para colar o curativo.
- Tem células-tronco, vai curar com bastante facilidade. Não precisa retirar, seu organismo vai absorver aos poucos. – Expliquei exatamente como Reed havia me contado na primeira vez em que precisei usar.
- Nossa, muito obrigado – ele respondeu, a gratidão expressa em seus olhos. O ajudamos a se levantar, sem sabermos exatamente o que fazer.
Peter 1 saltou até nós com a ajuda de uma teia lançada e nos uniu em um único abraço com seus braços fortes, Peter 2 ficou no meio, enquanto eu e Peter 3 o abraçávamos pela lateral e os braços deles nos uniam como um só. Eu ouvia todas as respirações, e já podia diferenciar cada uma, assim como os batimentos cardíacos.
Meu tinido nunca esteve tão desligado na vida, eu simplesmente confiava naqueles caras.
- Obrigado, pessoal, por tudo – Peter 1 iniciou.
- Nem precisa falar nada, Pete – falei, minha voz saindo abafada no meio dos três.
- É, nós sabemos – Peter 3 disse.
- Podemos pensar em alguma outra maneira de nos comunicarmos? – perguntou Peter 1. – Talvez um portal interdimensional... Tenho certeza de que nós temos cérebro para isso.
- Nós temos, mas será que eu tenho cérebro para aturar mais Peter’s? – brinquei e fiz todos rirem. Soltamos o abraço. Peter 1 tinha os olhos marejados.
- Vou sentir falta de vocês, os irmãos que nunca tive.
- Nós também vamos. Agora vai lá com seus amigos, vamos ficar bem.
Observamos Peter 1 se afastar, incerto, dando algumas olhadelas para trás, para ter certeza de que não éramos apenas uma lembrança esquisita em sua mente.
- Então... – Peter 3 começou. – O que fazemos?
- Acho bom nos despedirmos também – Peter 2 disse, seu semblante estava visivelmente cansado.
Ele mal terminou a frase e eu o abracei, envolvendo-o em meus braços com cuidado o suficiente para não o machucar em seu curativo recém-feito.
- Até mais, Peter 2. Espero vê-lo novamente. – Senti seus braços me envolverem lentamente também.
- Estou ansioso para isso, e inclusive acho que, entre nós, você é a pessoa que mais tem capacidade para isto.
- Também acho que sou mais inteligente do que vocês – brinquei, sentindo seu peito tremer em uma risada fraca.
- Agora, cá entre nós. – Ele se deu ao trabalho de sussurrar em meu ouvido, mesmo sabendo que Peter 3 estava perto o suficiente para ouvir o que ele diria. – Você pode achar o amor de novo, . E acho que não precisa procurar muito. Talvez só esteja vendo da maneira errada.
Meus ombros arquejaram por um momento, a insegurança e a dúvida me assombrando.
- Você merece ser amada.
- Eu sei disso, só não acho que seja justo e você sabe – sussurrei de volta.
- Eu já te dei a solução, agora você só precisa descobrir como criar um portal interdimensional – brincou ele, soltando-me do abraço e fazendo-me rir.
Ele acariciou meu rosto e beijou minha testa.
Fingi olhar o horizonte enquanto eles se despediam, enxuguei uma lágrima teimosa que insistiu em descer por minha bochecha e desliguei minha mente por um minuto, para dar uma certa privacidade aos dois sem ficar ouvindo suas conversas.
Senti a presença de Peter 3 ao meu lado depois de alguns minutos e virei para trás, me deparando com Peter 2 sentado no metal que havíamos o colocado há alguns minutos para fazer seu curativo.
- Então, – começou Peter 3, sorrindo de lado. – Me desculpe se fui esquisito com você em algum momento desse dia que já foi esquisito o suficiente, mas... Ah, você sabe.
- Sei sim, e está tudo bem. Acho que nós dois tivemos alguns momentos esquisitos por aqui – falei, ficando de frente para ele. Peter 3 estava com o cabelo armado e bagunçado, seus olhos castanhos amendoados brilhavam com uma expectativa que eu não sabia do que podia ser.
- Tivemos, não é? Mas no fim deu tudo certo – concordou ele, abrindo ainda mais seu sorriso.
- Acho que Peter 2 pode discordar um pouco – falei, virando o rosto na direção de Peter 2, que descansava as costas de olhos fechados.
- Verdade, mas ele vai ficar bem.
- Vai sim, ele é duro na queda. Já viu muita coisa – falei, ainda olhando distraída para Peter 2.
- É, mas nós também já vimos – ele disse, baixando o olhar, e, novamente, eu entendia o que ele queria dizer.
- Ei, Pete, você vai encontrar a sua MJ, dê tempo ao tempo – falei, acariciando seu braço.
- E se eu não quiser uma MJ? E se eu quiser uma Gwen? – Seus olhos de chocolate subiram até os meus, e por um nanossegundo meu coração palpitou de forma errada e tenho certeza absoluta de que ele ouviu.
- Acho que um portal interdimensional pode te ajudar nisso – respondi, não conseguindo segurar um sorriso besta que surgiu em meu rosto.
- , eu... Eu não sei como explicar isso – Peter disse, sua voz saindo em um fio baixo e lento.
- Você não precisa explicar nada, Pete. – Mal terminei de falar e senti seus braços ao redor de mim, fortes e densos. Aquele não era um simples abraço de despedida, ele representava muito mais do que aquilo, e, pela primeira vez em muito tempo, me senti completa. Senti meus olhos marejarem e deitei minha cabeça em seu ombro, envolvendo seu corpo com meus braços.
Mergulhei em sua respiração forte, nossos corpos colados em um misto de sentimentos que nunca pensei sentir novamente, não com Peter Parker, seja ele de qual mundo fosse.
Tenho plena convicção de que seu peito estava tão confuso quanto o meu.
- Obrigado por me compreender tão bem – ouvi sua voz sussurrar enquanto ele me soltava do abraço. Eu sabia que ele não daria aquele passo. Então tomei a iniciativa.
Uni nossas bocas antes que fosse tarde demais, e, como se uma chave virasse em seu cérebro, Peter apertou minha cintura, puxando meu corpo para si novamente. Seus lábios eram macios e doces, sua língua tinha gosto de saudade e era ágil como um Homem-Aranha deveria ser. Mesclei meus dedos entre seus cabelos, e esse ato fez o beijo tomar um impulso a mais, Peter pareceu acordar de uma dormência que existia em seu peito e mordeu meu lábio inferior, buscando ar antes de colar nossas bocas novamente. Ambos sabíamos que aquele não era o local nem o momento para fazer aquele tipo de demonstração pública de afeto, mas a noção de que logo seríamos afastados para uma possibilidade de nunca mais nos encontrarmos fazia toda aquela experiência valer a pena.
Separamos nossas bocas buscando por fôlego, as testas encostadas e um sorriso no rosto de cada um.
- Eu, com certeza, preciso descobrir como fazer esse portal interdimensional. – Ele suspirou, com um sorriso enorme no rosto.
- Acho que damos conta disso – falei baixinho, também sorrindo.
E aconteceu, senti novamente a força invisível me puxando dentro do umbigo e meus membros começaram a desaparecer.
- Até logo, – ouvi Peter 3 dizer, com seus membros também desaparecendo.
- Até logo, Pete – consegui responder antes de aparecer repentinamente no topo do Empire State Building, onde eu estava ontem no momento em que tudo aconteceu.

Minha primeira reação foi olhar para o céu, azul e limpo, sem quaisquer vestígios de um possível feitiço.
Respirei fundo, sentindo o cheiro da minha cidade. Olhei meus membros inteiros, olhei o horizonte e suspirei desapontada. Tudo parecia ter sido um sonho confuso, mas eu tinha certeza de que era tudo verdade. Não tive a consciência de trazer algum item que pudesse me lembrar deles, uma foto, um pedacinho de teia, apenas os hematomas que apareceriam amanhã.
Uma luz acendeu-se em minha mente e retirei o pequeno comunicador de meu ouvido.
Era isso!
Soltei uma teia e segui para o laboratório de Dr. Richards.
Uma risada alta saiu por minha garganta enquanto eu balançava entre os prédios.
Eu faria esse portal interdimensional nem que fosse a última coisa que eu fizesse na vida, eu precisava ver meus novos amigos de novo.




Fim.



Nota da autora: Essa fic foi um surto que tive quando assisti a versão estendida de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, o sentimento que me preencheu foi o mesmo de quando assisti o filme pela primeira vez, aquele gostinho de nostalgia que enche o peito... Sei que ainda tenho muito o que crescer na minha escrita e fico muito feliz de saber que mesmo assim, tem gente que lê minhas loucuras.
Se você acompanhou até aqui, quero te agradecer pessoalmente pelo carinho e atenção, e agradecer principalmente pela paciência de ter que esperar os capítulos que sei que nem sempre foram escritos na maior velocidade do mundo hahahahah
Espero que tenha sido do jeito que você esperava e que você possa me deixar um comentário dizendo o que achou!
Obrigada <3






Outras Fanfics:
Maguire (Originais – Atores)
No self-control (Originais - Shortfic)
the weasley twins (Harry Potter)


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