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Última atualização: 07/04/2024

 

 

Prólogo

Hogwarts – 02 de maio de 1998 – Momentos antes da batalha.

viu os cabelos flamejantes dos seus dois melhores amigos e aproximou-se incerta, já que não queria atrapalhar um momento íntimo dos dois. Por sorte, Fred a viu, e seu sorriso denunciou que ela poderia ir até eles.
A garota não conseguiu conter um sorriso, nunca conseguia quando estava perto deles, era como se a aura daqueles dois transmitissem uma alegria que contagiava seu peito.
- Como estão as coisas lá dentro? – A voz de George ressonou quando ela estava próxima o bastante, e era nítido em sua voz que ele estava nervoso. Todos naquele ambiente estavam.
havia sido designada pela Profª McGonagall a ajudar os demais professores com os alunos mais novos que haviam ficado. Fred e George foram designados para cuidar das entradas não oficiais do castelo, entradas estas que conheciam melhor do que ninguém.
- Agitadas. Tive que sair um pouco, e no caminho pensei: Que tal uma cerveja amanteigada quando tudo acabar? – perguntou a garota, unindo as mãos atrás das costas e mordendo o lábio inferior. Os gêmeos deram uma risada nasalada sincronizada.
- Só se você pagar, baixinha – George disse, aproximando-se dela, e a abraçou. A garota com certeza foi pega de surpresa, mas retribuiu o abraço com entusiasmo.
- Por favor, se cuida, Forge – ela disse, usando o apelido que havia inventado, e ele a apertou com mais força quando o ouviu. – Não queremos você sem as duas orelhas, vai ficar mais feio do que nunca!
- Há há há! – George respondeu irônico, soltando-a do abraço e apertando o nariz da garota com os dedos dobrados. – Mesmo sem a orelha continuo sendo o gêmeo mais bonito.
- Você bem que queria – Fred defendeu-se, rindo. Descruzou os braços sob o peito e empurrou o irmão, para que ele entendesse que agora era o momento dele com a sua namorada.
- Tá bom, se cuida, . Vou cobrar aquela cerveja amanteigada depois. – Piscou para a amiga e se afastou para dar privacidade ao casal.
- Hey – Fred disse com um meio sorriso, pousou suas mãos na cintura da garota, que deslizou suas mãos até seus ombros.
- Como você está? – perguntou ela, olhando nos olhos do homem que fazia as borboletas do seu estômago revirarem. Fred amava os olhos de , eram sua parte preferida do corpo dela, ele podia mergulhar naquele oceano castanho durante horas e, quando via as ramificações de suas írises, aquela cor lhe lembrava do chocolate quente que sua mãe fazia, doce, aconchegante e delicioso, os olhos dela eram um lar.
- Estou bem nervoso, na verdade. Não vou mentir. Estou nervoso de saber que minha família inteira está aqui, que você está aqui, e que não estaremos todos juntos para nos proteger. – Fred nunca havia sido tão honesto, e não havia motivos para mentir para ela.
- Ei, vai ficar tudo bem. Você vai ver, logo estaremos todos juntos n’A Toca, comendo tortinhas de abóbora e comemorando a morte de Você-Sabe-Quem.
Fred sorriu, incerto com a fala da garota.
- Ou você está sabendo de algo que eu não sei? – emendou ela, unindo as sobrancelhas enquanto Fred deslizava suas mãos da cintura dela para as costas, puxando-a para um abraço que logo foi retribuído.
- Gred? – A voz da garota chegou baixa em seu ouvido, ele afundou o nariz em seu pescoço, sentindo o aroma doce de baunilha que sempre exalava dela, aroma este que ele sempre sentia quando estava produzindo poções do amor para a sua loja de artigos e logros. – Aconteceu alguma coisa?
- Não, eu só estou com um pressentimento ruim... – Suspirou. – Profª Trelawney passou por mim agora pouco e me deu um abraço esquisito. Muito longo e muito esquisito. Desde então não consigo tirar da cabeça que talvez ela tenha visto algo. Algo de verdade, para variar – ele admitiu, afastando o rosto para olhá-la nos olhos mais uma vez.
A garota riu, uma risada gostosa que o fez sorrir junto.
- Passou pela sua cabeça que ela pode ter te abraçado apenas porque é meio doida? Ou porque fazia tempo que não te via?
- É, você está certa. Estou ficando maluco – suspirou ele, ligeiramente aliviado. – Ah, quero te dar algo.
soltou-se do abraço para olhar para ele com curiosidade, as sobrancelhas arqueadas em tom de dúvida. Ela conhecia o namorado o suficiente para saber que, às vezes, os presentes dele explodiam, gritavam ou soltavam fumaças estranhas. Ao invés disso, Fred levou a mão até o pescoço e retirou uma corrente de prata muito fina, com um pingente na frente e outro atrás, como um escapulário. Os pingentes eram redondos, e em um deles tinha a letra F e no outro a letra G.
- Mãe nos deu isso faz alguns anos. Não gosto muito, mas uso por baixo da roupa quase sempre – disse o ruivo, passando a corrente por cima da cabeça da garota, deixando a letra F virada para frente. O ato fez com que ela segurasse o queixo dele com uma mão e colasse suas bocas.
O garoto não perdeu tempo em puxar o corpo dela mais para perto, as mãos na altura das costelas dela, enquanto a garota corria os dedos por seus cabelos. O beijo não durou muito, o momento não era propício e Fred ainda tinha mais uma coisa para falar com ela.
- Eu preciso te pedir uma coisa. – A voz dele saiu rouca e ligeiramente ofegante, quase inaudível.
- Claro.
- Caso algo aconteça hoje, me promete que vai cuidar do George?
- Gred, não fala isso. – A garota uniu as sobrancelhas novamente, algo recorrente quando se tratava de Fred Weasley.
- Eu estou falando sério, ele não vai aguentar sozinho, ele é o mais mole de nós dois. Me promete? Promete que vai cuidar dele? – perguntou ele, pondo as mãos nos ombros dela, e abaixando um pouco para que seus olhos ficassem na mesma altura.
- Tá, tá, eu prometo, seu chato. – A garota deu a língua para ele, que sorriu aliviado. – Vou te dar um presente também. Não quero que se sinta sozinho. – Ela retirou um anel dourado do seu dedão, o anel era aberto, de modo que era regulável, e tinha o desenho de uma lua e um sol em cada ponta. O ruivo riu com o ato, e entregou seu dedo mindinho para que ela o colocasse.
- Obrigado, te devolvo quando estivermos tomando as cervejas amanteigadas que você prometeu – ele disse, esticando a mão para ver o anel de longe, e ela riu. Ela sempre ria, era outra coisa que ele amava nela.
- Tá bem. Vou voltar lá para dentro, ou a McGonagall vai vir me buscar pela orelha pessoalmente – brincou a garota, abraçando-o mais uma vez. Fred tinha um cheiro amadeirado que ela adorava, mas junto sempre vinha, bem ao fundo, um cheiro de fumaça, de tantas explosões e fogos de artifício que ele e o irmão sempre soltavam. Era o cheiro que ela mais gostava.
Selaram os lábios mais uma vez.
- Eu te amo, – ele sussurrou ao ouvido dela, fazendo todos os pelos do corpo dela se arrepiarem.
- Também te amo, Gred – ela disse sorrindo. – Até mais.


Capítulo 1

Condado de Cornwall – 09 de maio de 1998 – Residência dos .

Ponto de vista:

Uma semana da minha última conversa com Fred.
O sentimento em meu peito dizia que poderia ter acontecido ontem, ou há dois anos, é impossível conseguir quantificar exatamente o que era real e o que não era. Ainda parecia mentira, eu ainda sentia o seu cheiro em minhas roupas e ainda ouvia sua risada em minha cabeça com tanta clareza que era realmente impossível dizer que já havia passado uma semana.
Perdi a noção do tempo encarando a foto ao lado da minha cama que tiramos em Hogwarts três anos antes: Lee carregava Angelina nas costas, fingindo que a deixaria cair, e Fred e George me seguravam no colo, cada um agarrado em uma perna minha, eu dava uma risada genuína levando a cabeça para trás enquanto fazia chifrinho na cabeça dos dois. Aquele momento brotou em minha cabeça, apenas cinco estudantes se divertindo antes de sair para um passeio em Hogsmeade, ir ao povoado com os gêmeos e Lee era tão difícil quanto uma prova de Transfiguração, absolutamente tudo virava uma arma em suas mãos, qualquer piar de um passarinho era motivo para eles darem sustos em nós e qualquer olhar torto era motivo para mais piadas e brincadeiras. Angelina e eu sempre voltávamos com a barriga doendo de tanto rir.

Agora eu estava ali, havia uma semana, deitada em minha cama. O rosto inchado e o corpo dolorido, exausto e sem forças para fazer qualquer coisa.
Minha avó não entendia a gravidade da situação, afinal, eu não quis preocupá-la com a realidade: Como eu iria dizer a uma senhora de oitenta anos que meu namorado havia morrido na maior batalha entre bruxos já vista na humanidade? Como eu diria a ela que ele faleceu defendendo uma causa nobre que era questão de vida ou morte? Como eu diria que também estava lá?
Apenas a poupei de detalhes mais sórdidos e disse que nós terminamos o namoro.
Vez ou outra ela entrava em meu quarto, me trazia sopa, acariciava meu cabelo e me trazia cartas que alguma coruja deixava na entrada do correio em sua porta da frente.
As cartas estavam empilhadas ao lado da nossa foto, que mexia-se calorosamente, minha risada ecoando pela eternidade.
- Querida, você precisa sair desta cama em algum momento... – ela disse certa vez, acariciando meu pé que estava para fora da coberta. – A vida tem que seguir.
E se eu não quisesse?
- Você vai ficar bem, meu amor, tem pessoas que estão preocupadas com você – ela disse, abanando mais uma carta, e a colocou sob a pilha que já estava na cômoda.
- Talvez você pudesse pelo menos responder seus colegas? – insistiu.

A morte já era uma velha conhecida minha, quando eu havia recém feito dois anos, meus pais foram assassinados por dois homens de capa preta que nunca foram identificados pela polícia, porém, um andarilho, a única testemunha ocular presente no momento, deu seu testemunho, dizendo que os dois homens estavam com gravetos nas mãos e um raio verde saiu de um deles depois de algumas palavras irreconhecíveis serem ditas. Na época o homem foi dado como louco, porém minha avó nunca esqueceu desta história, e depois que recebemos minha carta para Hogwarts, recebemos também uma visita do próprio Dumbledore, que explicou tudo à minha avó. Conseguimos finalmente entender o que realmente havia acontecido e qual o motivo de meus pais terem sido assassinados. Estavam no lugar errado e na hora errada, Comensais da Morte acharam que seria divertido tirar a vida de dois nascidos trouxas, e eu acabei sendo criada por minha avó paterna.
Depois que minha avó saiu do quarto, sentei-me na cama, sentindo minha cabeça pesar uma tonelada, e comecei a ver as cartas que havia recebido.

“Querida ,

Faz tempo que não recebo notícias suas, estou preocupado com você. Se quiser me fazer uma visita para conversar um pouco, estou na casa de minha avó, como sempre.
Não me arrisco a ir até você pois você sabe que reprovei na prova prática de aparatar.


Estou com saudades,
Neville Longbottom”


,

Não tive notícias suas e muito menos de George, estou realmente preocupado. Se você não me responder até sábado, irei aparecer aí.

Lee Jordan”


,

Por favor, me responde. É a terceira carta que eu te mando. George também não me responde e não sei mais o que fazer! Lee está muito preocupado também.

Com carinho,
Angelina Johnson"


“Prezada Srta. ,

Gostaria muito de conversar com você pessoalmente sobre uma possível oferta de emprego na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Sei que os momentos são difíceis, e que muita coisa aconteceu, então me mande uma coruja quando sentir que está mais disposta.

Estarei aguardando.

Cordialmente,
Minerva McGonagall”

Quando estava prestes a abrir a próxima carta, ouvi batidas leves em minha porta.
- , querida. Um amigo seu está aqui – minha avó disse sem abrir a porta. Já era sábado?
- Tudo bem, vó, pode deixar ele entrar.
Lee era íntimo o suficiente para me ver naquela situação deplorável.
- É a primeira vez que ouço a voz dela em uma semana – ouvi minha avó dizer a ele antes de ele abrir a porta.
- Oi – ele disse apenas, quando estava na minha frente. Eu encarava as cartas abertas em meu colo. Abaixou-se de modo que seu rosto entrasse em meu campo de visão. – , eu sinto muito.
E me abraçou, fazendo as malditas lágrimas brotarem de novo em meus olhos. Agarrei suas vestes com força e soltei todos os soluços que estavam presos em minha garganta, enquanto ele alisava minhas costas tentando me dar algum tipo de suporte. Chorei alto, sem conseguir segurar tudo o que meu peito sentia, e chorei sabendo que ele também sentia aquilo, por mais que conseguisse segurar as lágrimas, ou pelo menos os soluços. Senti seu pulso se mexer um pouco atrás de mim e ouvi a porta do meu quarto fechar lentamente.
Ficamos abraçados até eu conseguir controlar o meu corpo.
- Não estou sentindo minhas pernas. – Ele quebrou o silêncio, fazendo-me soltá-lo do abraço dando uma risadinha sem graça entre as lágrimas, só agora notei que ele ainda estava de cócoras.
Ele sentou-se ao meu lado na cama e segurou minhas mãos.
- , eu sei que está difícil. Acredite, eu sei. Também perdi meu melhor amigo – disse ele, olhando em meus olhos. – Mas você não pode deixar que isto leve a sua vida junto.
- Eu não consigo, Lee.
- Consegue, sim. Eu te ajudo. – Apertou minhas mãos com mais força. - Espera aqui um pouquinho.
Ele se levantou e rodeou meu quarto, como se fosse íntimo daquele lugar, abriu a porta do banheiro e entrou lá. Meio segundo depois ouvi o barulho de água e Lee voltou até mim, puxando-me pelos braços. Levantei sentindo minhas costas clamarem por misericórdia.
- Vem, coloquei um energizante na água. Toma um banho e eu te espero aqui – ele disse com um sorriso doce.
Lee era uma das pessoas mais alegres e empolgadas que eu conhecia, vê-lo tão calmo e compreensivo comigo era tão estranho quanto ver um centauro que não gostasse de astrologia.
Fiz o que ele pediu, tomei um banho que realmente parecia ter ativos que me deixaram com um sentimento melhor dentro do meu peito. Saí do banheiro e o encontrei com a foto que eu encarava poucos minutos atrás nas mãos.
Ele levantou os olhos até onde eu estava e secou a lágrima que escorregou por sua bochecha rapidamente com a mão, apontando para o seu lado na cama.
- , eu preciso conversar com você.
Sentei-me ao seu lado, virada de frente para ele.
- George precisa da sua ajuda – ele simplesmente disse, como se eu fosse a resposta de todos os seus problemas. É claro que George precisava da minha ajuda, Fred havia me informado aquilo antes da sua morte, e eu fui egoísta o suficiente para não conseguir cumprir a promessa que havia feito. Aquilo me atingiu com uma força que eu não esperava. Meus olhos encheram-se de lágrimas novamente.
- Eu sei – disse com a voz embargada. – Me desculpe, Lee, eu não quis me fechar desse jeito, eu só... Não tive forças. É o Fred, o meu Fred.
- Não precisa se desculpar, . Cada pessoa tem um processo de cura com o luto. É normal. – Ele novamente segurou em minhas mãos, atencioso como um melhor amigo deveria ser. Atencioso como eu deveria estar sendo com George.
Ficamos em silêncio por um instante.
- Ele não quer sair do quarto, não deixa ninguém entrar. Nem a Sra. Weasley, nem eu, nem Angelina... Todos estão preocupa-
- Eu vou tentar falar com ele – interrompi, ouvindo a voz de Fred em minha cabeça.
Promete que vai cuidar dele?

***

Aparatei no terreno d’A Toca sozinha, caminhei por alguns metros dentro de um mato alto antes de encontrar a clareira em que a casa se encontrava. Respirei fundo, encarando a casa alta e torta que só podia estar em pé por causa de magia, e senti meu coração apertar quando bati os nós de meus dedos na porta grossa de carvalho.
Aquele lugar representava tantas coisas, foram tantas as vezes em que passei minhas férias ali, aprendi a jogar quadribol, ajudei a Sra. Weasley a retirar gnomos do seu jardim, ensinei o Sr. Weasley a usar vários artefatos trouxas em sua garagem, ajudei Percy a escrever cartas românticas à Penélope (só para depois contar à Fred e George aos risos) e convenci Rony a colocar uma gota da versão de testes do “baba de trasgo” no suco de abóbora de Harry, que ficou pingando uma saliva espessa durante a tarde inteira, e compartilhei segredos com Gina.
A Sra. Weasley abriu a porta.

- ! - ela soltou, animada, e me agarrou pelo pescoço, puxando-me para um abraço aconchegante que apenas uma mãe poderia dar. Me aninhei em seu colo, sentindo o amor que ela transmitia aquecer meu corpo como um bom gole de whisky de fogo.
Novamente senti meus olhos arderem.
- Entre, meu bem. Vou fazer um chá para você. - Entrei pela porta, vendo a casa estranhamente vazia. Aquilo fez meu peito doer novamente. A Toca nunca esteve tão silenciosa. - Como você está? Sente, sente.
Eu sabia que Molly estava destruída por dentro, que ela estava tão devastada e quebrada quanto qualquer outro naquela casa, mas sua casca era dura e resistente como a de uma mãe de sete filhos deveria ser.
- Eu… Estou bem - menti, não queria que ela se preocupasse comigo, já tinha tantas preocupações, tantos desafios a serem enfrentados, a última coisa que eu queria era que perdesse um espacinho que fosse pensando em como eu estava ou deveria estar.
- Não precisa mentir para mim, querida. - Seu sexto sentido materno de sempre funcionou muito bem comigo. Mesmo assim, decidi ficar em silêncio enquanto ela acendia o fogão com sua varinha.
- Onde estão todos? - perguntei, mudando de assunto.
- Ah, Arthur e Percy estão no Ministério, Ron, Hermione, Gina e Harry estão em Hogwarts, ajudando com os reparos do castelo. E George… - Ela suspirou, olhando para o nada. - George está no quarto. Ele não sai mais de lá.
A Sra. Weasley sentou-se na cadeira em frente à minha, o semblante exausto denunciava as noites mal dormidas.
- Sra. Weasley, eu quero que você me desculpe.
- Pelo quê, minha filha?
- Por eu não ter vindo antes, eu… Eu também estava em um lugar horrível e precisei de um empurrãozinho para conseguir sair. Me desculpe por largar vocês aqui assim. É só que… Eu amava demais o seu filho, acho que ainda não consegui entender muito bem como é que vai ser a minha vida a partir de agora - admiti, insegura, olhando minhas mãos sobre a mesa ao invés de encará-la.
- , você não precisa se desculpar por nada! Eu sou grata em saber que meu Fred se foi sendo amado pela pessoa que ele também amava. - Ela foi a segunda pessoa que segurou em minhas mãos hoje. - Você é da família, querida, você sempre foi.
- Eu… - E lá estavam as lágrimas traiçoeiras novamente. - Obrigada, Sra. Weasley, isso significa muito para mim.
Molly acariciou meu rosto e secou a lágrima teimosa que insistiu em descer. Levantou-se com calma quando a chaleira começou a chiar e preparou duas xícaras de chá fumegante para nós.
- Você acha que George vai querer falar comigo? - perguntei incerta, bebendo o chá delicioso que ela havia preparado.
- Eu espero que sim, querida. Você é minha última esperança, Angelina esteve aqui duas vezes e ele não quis desbloquear a porta. Lee também tentou, mas sem sucesso. - A Sra. Weasley suspirou, fechando os olhos. - Não sei mais o que fazer…
- Eu vou dar um jeito nisso, eu prometo.

Se eu soubesse que sair de casa e falar com a Sra. Weasley iria me fazer tão bem, teria vindo antes. Tudo naquela casa me lembrava Fred. Eu nunca tinha ido ali sem que ele estivesse junto, e saber que George estava lá também, e provavelmente em uma situação pior do que a que eu estava, era de partir o coração. Nesse momento me lembrei de Lee me falando que cada um tem um processo de cura do luto diferente, e, sendo filha única, eu nunca entenderia o que é perder um irmão. Nunca.
Não é porque a Sra. Weasley está sendo simpática e doce comigo que ela não está sentindo a dor da perda de um filho. Eu perdi um melhor amigo e um namorado. George perdeu o melhor amigo e um irmão. Nada nunca iria suprir aquela perda.
Terminei meu chá e olhei cúmplice a ela enquanto me encaminhava para a escada que dava aos quartos. Subi os degraus lentamente, sentindo meu coração pulsar em minha garganta e náuseas que enchiam minha boca de saliva e deixavam minhas mãos suando frio. O nervosismo era gritante. Tinha medo que George também não quisesse falar comigo, e principalmente, tinha medo de falhar na única promessa que fiz à Fred.

Cheguei na porta do quarto dos gêmeos com o coração na mão. Eu tinha que estar preparada psicologicamente para muitas coisas, a primeira e mais importante era de saber lidar com George, acolher e amparar qualquer uma de suas angústias, a segunda era conseguir entrar no quarto de Fred sem deixar aquilo me abalar de forma que eu não conseguisse dar a devida atenção a George e a terceira era que eu não estava preparada psicologicamente para nenhuma dessas opções. E mesmo assim bati na porta.
- Forge? - falei para a porta ainda fechada. - É a . Posso entrar?
O silêncio ensurdecedor manteve minhas pernas firmes onde estavam. Bati mais uma vez.
Nada.
Peguei minha varinha contrariada. Eu não queria usar magia para entrar no quarto, era uma falta de ética tremenda, pela invasão de privacidade, pela completa falta de noção e pelo fato de que outras pessoas provavelmente já haviam tentado fazer aquilo e falharam. George provavelmente trancou a porta com um feitiço mais poderoso do que um simples:
- Alohomora - sussurrei para a porta, que destravou com um clique.
Empurrei a porta devagar até o final. George encontrava-se deitado na cama de Fred, encolhido como um filhotinho, os joelhos apertados contra o peito e as mãos abraçando as pernas.
Senti meu corpo fraquejar por um segundo, vendo-o daquele jeito. Em meu peito uma sensação triste de traição, por não conseguir ter ido antes até ele, dar o apoio que ele precisava.
Ao contrário do que eu imaginei, o quarto estava com as janelas abertas e bem arejado, o cheiro de fumaça era forte ali dentro, e um misto do cheiro de Fred e George me abraçou como o cheiro de torta recém-assada. Minhas pernas amoleceram e me vi obrigada a me apoiar no batente da porta antes de entrar completamente no quarto. Tranquei a porta.

- Hey, grandão. – Me agachei em sua frente e pude finalmente ver seu rosto contra a luz do sol que entrava pela janela.
George estava péssimo. Os olhos fundos rodeados de olheiras arroxeadas, as bochechas antes bonitas e coradas agora tinham sulcos abaixo das maçãs do rosto, seus cabelos estavam opacos e sem o brilho vermelho habitual, seu olhar era vazio, como se nem percebesse que eu estava realmente ali.
- Georgie. – Minha voz saiu afetada pelo nó que se fechava em minha garganta; enquanto as lágrimas brotavam em meus olhos vendo a situação em que eu deixei meu melhor amigo chegar.
- Georgie, eu estou aqui e não vou à lugar algum.
Dei a volta na cama, enfiando-me entre ele e a parede, e o abracei por trás, encaixei meu braço por baixo do seu, enlacei sua cintura com minha perna, beijei o topo de sua cabeça e apenas fiquei ali, ouvindo sua respiração, sentindo a pulsação do seu coração e tentando sugar, de qualquer maneira, um pouco da sua dor para mim.
Perdi a noção de quanto tempo fiquei assim, até que George se desse por vencido e se movesse na cama, virando-se de frente para mim. Ele não disse nada e muito menos eu, ao invés disso, passou os braços em volta do meu tronco, puxando-me mais para perto, agarrou a malha da minha blusa como se sua vida dependesse daquilo, enterrou seu rosto em meu pescoço e chorou.
Chorou do mesmo jeito que eu havia chorado com Lee, um choro alto e descontrolado, com soluços que o deixavam sem ar por alguns segundos até ele conseguir respirar.
Acariciei seus cabelos, enquanto deixava as lágrimas lavarem meu rosto novamente. Não sei como era possível que meu corpo ainda tivesse a capacidade de criar novas lágrimas, mas ali estavam elas.
Fiquei ali até ele parar de chorar e pegar no sono, já era escuro lá fora quando isso aconteceu, mas eu não fazia ideia de que horas eram. Fechei a janela do quarto, peguei uma manta dentro do guarda-roupas e coloquei por cima dele, dei um beijinho em sua têmpora e saí do quarto.

A família Weasley estava reunida na mesa de jantar, Hermione e Harry estavam também. Todos me olharam com expectativa quando desci o último degrau da escada, e Gina correu para me abraçar quando me viu. Respirei fundo para não chorar mais uma vez.
- Ele está bem – falei por fim, um suspiro cansado acompanhava a minha voz.
Todos respiraram aliviados, Gina me puxou para sentar ao seu lado na cadeira, que normalmente era minha quando eu ia passar as férias lá.
- E você, como está? – Hermione perguntou, acariciando meu antebraço. O olhar de todos recaiu sobre mim mais uma vez.
- Eu estou... – Eu iria mentir novamente, não precisava berrar aos sete cantos que estava despedaçada por dentro, todos ali sabiam disso e todos ali sentiam-se do mesmo modo. Seria redundante ficar repetindo esses passos toda vez. Antes de eu conseguir terminar minha frase, vi o olhar de Molly para mim, sua cabeça balançou negativamente como se dissesse “Não precisa mentir para a sua família”. – Na verdade, não sei como eu estou.
- Coma um pouco, meu bem – A Sra. Weasley disse do outro lado da mesa.
O clima da mesa era denso, silencioso e preocupado. Ninguém se atrevia a falar mais do que uma frase, e, depois do jantar, pedi ao Sr. Weasley para usar o seu telefone (pouquíssimo utilizado naquela residência) para eu avisar à minha avó que passaria alguns dias ali.
Pedi à Molly que fizesse uma sopa e que deixasse sob o fogão, que mais tarde eu tentaria convencer George a descer e comer um pouco. Ela me agradeceu com o olhar, e eu não precisava de nada mais do que aquilo.

Voltei às escadas e subi até o último quarto antes de voltar ao quarto dos gêmeos. Cumprimentei cada um devidamente, os quatro estavam sentados no chão, Rony e Mione estavam abraçados, Harry e Gina também, não havia muita conversa envolvida no momento, eles estavam apenas curtindo a presença um do outro, e dando o suporte necessário, afinal, Rony e Gina também haviam perdido o irmão. Todos nós perdemos muitas pessoas, amigos, colegas, parentes, professores... Conversamos coisas banais, perguntei como estava em Hogwarts e eles me contaram em poucas palavras.
Quando saí do quarto de Rony para deixá-los mais à vontade, ouvi a voz dele me chamar.
- Obrigado por estar fazendo isso.
- Isso o quê?
- Cuidando de George, você sabe.
- Não estou fazendo nada que nenhum de vocês não fariam um pelo outro. – Falei apontando para cada um.
Voltei ao quarto dos gêmeos, a porta agora estava destrancada, e tenho certeza de que a Sra. e o Sr. Weasley vieram espiar o filho antes de irem ao seu quarto. Roubei um par de meias grossas no guarda-roupas e deitei-me junto com George mais uma vez. Seus braços me envolveram quase que imediatamente, e peguei no sono ouvindo sua respiração regular e calma de quem estava em um sono profundo.

O sono foi leve, e a cada vez que George se mexia eu abria os olhos para me certificar de que ele estava bem. Me peguei fazendo carinho em seu cabelo vez ou outra, como eu fazia em Fred quando sentávamos na beira do lago para conversar sobre qualquer coisa. Levantei, mesmo estando exausta, para tomar um copo de água e respirar um pouco.
Sentei na cadeira que normalmente Fred usava, ao lado da minha, e perdi a noção de quanto tempo fiquei ali com meu copo de água nas mãos, intocado.
Era impossível não me pegar pensando nele.
Seu cheiro agora estava impregnado em minha roupa, e por um segundo me senti abraçada novamente. Respirei fundo, tentando controlar as emoções em meu coração. O vazio que eu sentia dentro de meu peito parecia que nunca mais seria preenchido, era a dor mais íntegra que jamais pensei em um dia sentir. Me peguei chorando, silenciosa, quando ouvi passos descendo as escadas.

- ? - Era a voz de Potter.
- Ah, oi, Harry. - Minha voz saiu mais chorosa do que eu esperava.
Ele veio até mim e sentou-se ao meu lado.
- Não está sendo fácil, não é? - perguntou ele, sem realmente esperar uma resposta. Ele também havia perdido algumas pessoas, e sabia exatamente pelo que eu estava passando, sabia também que a amizade era indispensável nesse momento. Ele estava ali por Gina e Rony.
- Não. Não achei que fosse ser tão difícil - admiti suspirando. Eu sempre tive uma intimidade com Harry que nunca tive com Rony e Hermione. Gosto de pensar que o fato de sermos órfãos ajudou nesse processo de aproximação, mas é claro que termos melhores amigos da mesma família ajudou também.
- Você vai conseguir, tá bem? Vai passar, eu te prometo. Às vezes demora mais do que a gente quer. Mas passa. - Ele acariciou meu antebraço. Pus minha mão sobre a dele.
- Obrigada, Harry, sei que não está sendo fácil para você também. - Suspirei.
- Não está, é verdade. Mas vou te admitir algo que está preso dentro de mim e não tive coragem de falar para ninguém: estou tão aliviado que tudo isso finalmente acabou que não consegui digerir as perdas ainda. Estou com a mente tão ocupada lá na escola que não tive tempo de parar e chorar, sabe? Isso é muita insensibilidade?
- Cada um lida com a perda de um jeito - parafraseei Lee. - Não se martirize por isto, Potter, se você não chorou ou não perdeu o apetite, não quer dizer que você é uma má pessoa. Você é só humano. - Tentei ser o mais sensata que pude, e o garoto se abalou um pouco.
- Eu só não consigo tirar da cabeça que todas essas pessoas morreram por minha causa. - Sua voz saiu esganiçada, presa por uma angústia palpável.
- Não. Não foi por sua causa, todos que estavam lá queriam lutar contra Você-sabe-quem. Todos sabiam das consequências, todos decidiram ir. Harry, você tem que parar de se culpar pelas coisas que ele fez, só porque você era o Escolhido.
- Eu entendo o que você diz. Só não consigo visualizar dessa maneira.
- É a maneira certa. Logo você vai conseguir compreender isso. Não foi culpa sua, nada disso. Nada teria sido diferente se outra pessoa fosse a escolhida. Teríamos lutado do mesmo jeito. - Continuei defendendo-o de seus próprios demônios. - Com certeza ser seu amigo ajudou muito nesse processo, mas não considere como culpa. Porque não é.
- É, você está certa.
- É claro que estou - brinquei, e ele sorriu fraco.
- Eu sinto muito pelo Fred - Harry disse depois de alguns minutos de silêncio.
Apenas suspirei, finalmente tomando um gole da minha água.
- Dói muito, sabia? Eu não perdi um namorado, eu sinto que perdi minha família. E eu sei que tu és um dos poucos que entende esse sentimento.
- Sim, eu sei exatamente o tipo de dor que você está sentindo. – Harry aproximou sua cadeira da minha e me abraçou de lado, deitando sua cabeça em meu ombro. – Mas vai passar, estamos todos aqui para isso, para curarmos uns aos outros.
Ficamos abraçados por alguns minutos, em silêncio.
- Estou preocupada com George.
- Ele vai sair dessa, mas ele precisa de você, . – Harry soltou nosso abraço. – Ele tem uma conexão contigo, que não tem com Lee e nem com a Angelina. É você. Estamos a semana inteira tentando abrir a porta do seu quarto. Ele pôs algum feitiço que nem mesmo Hermione soube dizer qual era, só você conseguiu abrir.
- Acho que sei o que pode ter sido – falei, levando minhas mãos até meu pescoço e retirando a correntinha prateada que Fred me deu antes da batalha de dentro de minha blusa. – Fred me deu no dia da batalha.
- Brilhante! – Harry exclamou, costume que pegou de Rony. – Ele devia te amar bastante, para te confiar essa tarefa.
- Eu só tenho medo que eu não esteja preparada para essa tarefa.
- Está sim, George confia em você. E Fred também confiava, senão ele não te daria isto. – Indicou a corrente, que provavelmente tinha algum tipo de magia que abriu a porta do quarto deles, e guardei-a por dentro da blusa.
- Você tem razão.
- É claro que tenho – ele brincou, e empurrei seu ombro antes de me levantar.
Ele me acompanhou até a porta do quarto dos gêmeos e me abraçou mais uma vez antes de seguir ao quarto de Rony.
Entrei no quarto e me aconcheguei ao lado de George, segurei minha correntinha na mão antes de pegar no sono, confiante de que se Fred havia me pedido para ajudar George, era porque ele depositava em mim uma confiança extraordinária.

Flashback – 01 de setembro de 1989 – Estação King’s Cross.

- Com licença. – Minha avó abordou um homem de pele negra que estava com o filho, que parecia ter a minha idade. O homem parou e nos deu atenção, e segurou a mão do garoto que guiava um carrinho com uma bagagem um tanto excêntrica, assim como a minha. Não havia dúvidas de que eles eram bruxos a caminho de Hogwarts, assim como eu. – O senhor também está indo até o Expresso de Hogwarts? – Vovó sussurrou a última parte, olhando para os lados com medo que o homem a achasse uma lunática. Segurei um risinho enquanto notava os olhos do garoto em mim, ele tinha os cabelos despojados com dread locks curtos, usava vestes compridas que eu só tinha visto iguais quando fomos comprar meu material escolar no Beco Diagonal.
Eu usava roupas comuns, calças jeans e um suéter fino azul-claro que minha avó me obrigou a usar com medo que eu passasse frio durante a viagem.
- Ah, sim, estou. Você nunca foi até lá? Deixe-me adivinhar, são trouxas? – perguntou o homem em um tom divertido. Minha avó suspirou aliviada por ter encontrado de primeira alguém que fosse capaz de nos ajudar.
- Sim, eu sou, mas minha neta, , não. E é por isso que estou um pouco perdida com essa passagem de trem - falou ela, abanando a passagem no ar.
- É bem confuso para os principiantes mesmo. Mas se vocês quiserem me acompanhar, eu mostro como funciona.
- Seria de grande ajuda! Obrigada – ela disse, e acompanhamos o homem e o garoto.
- Bom, sou Eddard Jordan. – O homem esticou a mão até minha avó, que a apertou com simpatia. – E este é meu filho, Lee.
- É um prazer, sou Lucille . E esta é minha neta .
Estiquei minha mão com certa cordialidade desnecessária até o garoto, que apertou meio sem-graça.
Seguimos até a parede de tijolos que compunha o arco entre as plataformas nove e dez, e Eddard explicou como funcionava a entrada. Ainda com um pouco de receio, nós duas fizemos o que o homem explicou, logo atrás deles.
Ainda era difícil de acreditar que tudo aquilo ali era real, a passagem pela parede de tijolos, o trem gigantesco que nos aguardava já ligado, ou a quantidade de pessoas andando para um lado e para o outro, crianças e adultos se misturando em grande quantidade, tudo parecia realmente mágico. Me despedi de minha avó quando vi que Lee estava abraçando seu pai, entregamos nossas bagagens juntos em um vagão específico para isso e seguimos para dentro do trem à vapor.
Por mais que fosse um bruxo nascido em uma família de linhagem bruxa, Lee mostrava bastante nervosismo em deixar o pai e subir no trem. Fingi não notar como ele ficou abalado quando entrou, e o acompanhei pelo corredor, tentando o distrair, comentei:
- É melhor quando tem alguém junto, não acha? É menos assustador.
Andamos alguns vagões cheios de alunos mais velhos, até encontrarmos uma cabine vaga, e corremos para a janela para darmos um último adeus à nossa família. Minha avó acenou docemente, enxugando uma lágrima que desceu por sua bochecha. Eu sorri, tentando deixar ela mais calma.

- Você acha que é muito longe? – Lee perguntou ansioso, olhando pela janela que agora mostravam um lindo campo verde, o dia era ensolarado e fresco.
- Não faço ideia! Eu sou a nascida trouxa aqui. – Dei uma risada, e ele riu junto, dando um tapa na testa.
- Verdade, esqueci de fazer esse tipo de pergunta ao meu pai – ele refletiu. – Você acha que vamos ser selecionados para a mesma casa?
- Casa? Do que você está falando?
- Ah, por Merlin, esqueço que você não sabe nada sobre Hogwarts!
Lee entrou em uma conversa animada sobre as casas da escola, explicou as características de cada uma e disse que seu pai era da Corvinal e sua mãe da Lufa-lufa.
Enquanto a gente conversava animados sobre nosso futuro na escola, dois garotos entraram na cabine: Ambos tinham cabelos ruivos e eram idênticos.
- Estamos fazendo um teste – o ruivo da esquerda disse, ele era pouca coisa mais alto do que o seu gêmeo.
- Um teste oficial da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts – o outro completou animado, e uni as sobrancelhas em desconfiança enquanto eles ficavam mais à vontade na cabine.
- Que tipo de teste? – Lee perguntou, olhando de soslaio para mim, sua expressão era tão desconfiada quanto a minha.
- É bem simples – o ruivo da esquerda falou, enquanto pegava em suas vestes um pacote de tirinhas de jujubas já aberto.
- Cada um de vocês têm que pegar uma jujuba e comer. O sabor da jujuba dirá se vocês estarão aptos a fazer o teste das casas quando chegarem a Hogwarts – o ruivo da direita disse, sentando-se ao meu lado como se me conhecesse há bastante tempo, enquanto o outro fazia o mesmo se sentando ao lado de Lee.
- Isso não me parece nem um pouco verdadeiro – deixei escapar, unindo as sobrancelhas, encarando o pacote aberto de jujubas e depois olhando para o gêmeo que estava ao lado de Lee.
- Não precisa acreditar, apenas lembre-se de mais tarde ir falar com o Diretor Dumbledore sobre como você se negou a fazer um simples teste de triagem para a seleção das casas – o gêmeo ao meu lado disse, dando de ombros.
Pensei por um segundo. Tinha certeza de que era uma pegadinha, não existia a menor chance daqueles dois garotos tão jovens quanto eu terem sido encarregados de algo tão importante. Mesmo assim, poderia ser divertido fazer algumas amizades a mais do que Lee. Afinal, e se não fossemos para a mesma casa? E o que poderia ter de tão ruim naquela jujuba?
Sem falar nada, arranquei uma jujuba do pacote, e, no exato instante em que meus dentes deram a primeira mordida, a jujuba explodiu com um estalo seco, sumindo de minha mão e da minha boca, deixando um gosto de fumaça no lugar. Quando abri os olhos ainda pude ver a fumaça se dissipando. Engoli em seco por conta do susto, e a cabine ficou em silêncio por um segundo, todos esperando a minha reação. Decidi que não ficaria brava, afinal, quem pegou a jujuba fui eu, e sem mais nem menos, dei uma gargalhada alta, desatando a rir descontroladamente e vendo o rosto dos garotos, que ainda estavam em choque pela minha reação. Poucos segundos depois, os três meninos caíram na gargalhada.
- Eu amei! Quero fazer com alguém – eu disse ainda entre risos. – Já fizeram em alguma outra cabine?
- Não, vocês foram os primeiros – o gêmeo ao meu lado disse, enxugando a lágrima que escorria por seus olhos de tanto rir.
- Por quê? – Lee perguntou curioso, o sorriso ainda estampado no rosto.
- Era a cabine mais vaga, queríamos lugares para sentar durante a viagem.
- Queriam lugar para sentar e fizeram isso?! – perguntei indignada, porém de maneira leve.
- Ah, era para quebrar o gelo. – O gêmeo ao meu lado esbarrou o ombro no meu, sorrindo ladino.
- Tudo bem, vocês conseguiram. – Me dei por vencida, ainda dando risos escassos que fugiam de minha boca sem controle.
- Sou Fred. E esse é o George – o gêmeo ao lado de Lee disse.
Nos cumprimentamos de verdade dessa vez, e os três me ajudaram a limpar o rosto esfumaçado para colocarmos o plano de enganar mais cabines com as jujubas em ação.

Durante a viagem quase inteira nós quatro ficamos enganando outros alunos nas cabines, sempre variando a dupla para que ninguém desconfiasse. As jujubas-surpresa que os gêmeos levaram variavam entre explodir, gritar, soltar fumaças com cheiro de pum, entre outros. Não demorou muito para ficarmos conhecidos dentro do vagão.
E demorou menos tempo ainda para percebermos que aquela amizade seria duradoura.

Fim do Flashback



Capítulo 2

A Toca - 06 de junho de 1998

Ponto de vista: George

Um mês havia se passado desde a morte de Fred.
Um mês sem a porra da minha alma gêmea.
Um mês que estou sem sair de casa ou receber visitas.
Um mês que está dormindo comigo.
Um mês que não falo com Angelina ou Lee.

Meu peito ainda ardia, ferido e completamente vazio, meus dias se limitavam em ficar no quarto e ir até a cozinha comer com a minha família. Ninguém dirigia muitas palavras a mim, depois de algumas semanas trancado no quarto isolado, eles perceberam que eu não queria conversa. Aos poucos fui soltando a linha imaginária que me prendia, abracei minha mãe, pisquei para meu pai, acariciei o braço de Gina alguns dias atrás e joguei uma partida de xadrez de bruxo silenciosa com Rony, nenhum deles fazia movimentos bruscos quando eu fazia algo assim, como se eu fosse um gato maltratado na rua que estava devagarinho se habituando ao novo lar.
Harry tentou trocar algumas palavras comigo ontem, mas o dispensei tentando ser o menos rude possível. se encarregava de explicar a situação a todos.
Eu só conseguia falar com ela.
Talvez fosse o fato de Fred simplesmente confiar a sua vida a ela, se fosse possível, ou o fato de eu conhecê-la tão bem... Eu apenas sentia que podia falar qualquer coisa e que ela entenderia. me entendia, porque ela também perdeu a alma gêmea naquele dia.

- Você está bem? – Ouvi minha voz dizer antes mesmo que eu percebesse, estava amanhecendo lá fora, e entrava no quarto sorrateira, assustando-se com minha voz.
- Estou sim, só precisava de um ar – ela disse, sentando em minha cama. – E você?
- O mesmo de sempre. – Dei de ombros debaixo das cobertas e ela sorriu com a boca fechada, mas os olhos eram tristes.
- Vem – ela disse, esticando o braço para mim, fazendo um sinal de “vem” com os dedos. Eu confiava nela o suficiente para apenas esticar minha mão até ela e deixar que me guiasse.
- Segura a coberta – avisou, e fechei minha mão livre na manta de retalhos que minha mãe havia feito há alguns anos, antes de sentir meu umbigo ser puxado para dentro, como se um gancho estivesse em meu intestino, meu corpo ficou fluido e viajei para onde quer que estivesse me levando. Aparatamos.
Senti meu corpo rígido quando meus pés pousaram no telhado da garagem de papai.
O nascer do sol estava lindo.
O céu tinha tons rosa forte e laranja misturando-se em uma harmonia perfeita, não havia nuvens e não fazia frio, mas uma brisa gelada batia em nossas costas, deixando o verão mais gostoso do que de costume, o tempo estava úmido como se tivesse chovido algumas horas antes e o sol surgia à nossa frente, o campo de mato amarelado cobria toda a nossa vista, até as colinas que agora estavam se iluminando com os raios solares. À nossa esquerda havia um lago coberto de vitórias-régias e alguns pomares e hortas que minha mãe cultivava, à nossa direita estava A Toca, a residência fixa dos Weasley’s, a casa mais desengonçada já vista no mundo bruxo, porém, o lar mais aconchegante que qualquer um poderia conhecer.
cobriu nossas costas com a manta, mesmo que o calor já estivesse querendo dar as caras e ali ficamos, observando o sol subir com uma lentidão gostosa de acompanhar, abraçados às nossas pernas, curtindo a presença um do outro.
- Quando você pretende falar com Angelina, Georgie? – Ela quebrou o silêncio depois de algum tempo.
Angelina e eu estávamos engatados em um relacionamento desde que saí de Hogwarts. Eu gosto dela, gosto de sua companhia, e, por fim, gosto de como nosso relacionamento estava. O problema ali era eu, eu que não estava em um momento em que me via em um relacionamento sério e que fosse saudável ao mesmo tempo. Esse mês foi prova disso, não troquei uma só carta com ela e sempre que ela ia me visitar, eu preferia ficar trancado no quarto ao invés de ter sua presença. Não consigo pensar em um motivo definido, mas eu não conseguia mais pensar em Angelina como minha namorada. Eu precisava dizer isso a ela, mas não sabia como. Eu precisava do meu tempo e do meu espaço para me recuperar. Não podia ficar pensando em relacionamentos agora, não podia e não queria.
- Eu realmente preciso falar com ela?
- Bom, ela é sua namorada. Eu gostaria que você tivesse a decência de conversar com ela – explicou , a voz ligeiramente incisiva, do jeito que ela falava conosco quando queria nos dar uma bronca. Fred adorava quando ela fazia aquilo, eu particularmente achava irritante, principalmente quando era para me dar uma bronca.
- Não sei se estou pronto para ter esse tipo de conversa com ela – respondi com sinceridade.
- Eu sei que não é fácil, mas ela precisa saber como você está, o que você sente em relação a ela e se vocês estão realmente namorando, afinal, faz um mês que você não fala com ela.
- Eu sei, eu sei.
- O que você sente em relação a ela, George? Você precisa colocar estes sentimentos em ordem.
- Eu acho que não estou pronto para um relacionamento agora. – Suspirei, arrancando os fiapinhos soltos da colcha de retalhos, distraído.
- Então você precisa dizer isto a ela. Ela merece – disse, acariciando meu ombro como se aquilo fosse me acalentar de alguma maneira.
- O que eu digo?
- Diz a verdade. Ela é, acima de tudo, sua amiga. Ela vai entender. – Ela parou de acariciar meu ombro e enganchou o braço no meu, deitando a cabeça em meu ombro olhando para frente.
- Você acha que ela vai entender? Eu fui um péssimo namorado nas últimas semanas.
- Eu tenho mantido ela e Lee bem informados, é claro que ela vai entender. Georgie, eles também perderam um amigo.
- Eu sei, mas... Não é a mesma coisa. Você sabe. – Olhei sua cabeleira castanha sob meu ombro.
- Não devemos desmerecer alguém por conta disso. - Sua voz era calma e lenta, como se não quisesse me ofender de alguma maneira.
- Você está certa.
- É claro que estou, e continuo achando que Angelina merece muito mais do que isso. Não estou querendo dizer que você está sendo ruim para ela, mas ela precisa de atenção. Qualquer relacionamento precisa de suporte e cuidado. - sempre tinha as palavras certas. Sempre. Às vezes era surpreendentemente irritante, pois a deixava convencida, mas a convencida acabava sendo tão amável quanto qualquer outra versão dela. E eu adorava todas as suas versões, inclusive a versão que esteve até agora comigo, sofrendo este luto terrível que nos consome de maneira inexplicável. E o pior de tudo: ela estava novamente certa.
- Vou falar com ela. Prometo. Só preciso pensar em como fazer isso.
- Eu posso ir contigo, se você se sentir mais confortável.
- Não precisa. Posso fazer isso. – Respirei fundo. Seria a primeira vez que sairia realmente de casa.
- Tudo bem. Mas se você precisar de algo, estarei aqui. - aconchegou-se mais, agarrada em meu braço.
- Na verdade, eu preciso – falei fechando os olhos, sabendo que ela iria me encarar com aqueles olhos castanhos preocupados, a ruguinha de preocupação no meio das sobrancelhas.
Conforme previ, senti ela soltar meu braço, e quando abri os olhos a garota me olhava atentamente.
- Eu gostaria de trocar a cor dos meus cabelos – falei nervoso, enquanto olhava o céu ficar mais claro e menos rosado a cada minuto que se passava.
- Como assim?
- Ah, . Não me faça ter que explicar isso – respondi encabulado. – Eu só não quero mais ter que me olhar no espelho e ver... ele. É doloroso demais.
Os olhos dela se arregalaram, como se tudo fizesse sentido. Ela provavelmente estava tendo uma epifania de todos os momentos em que eu entrava no banheiro e acabava chorando sem motivos aparentes, ou de todas as vezes em que ela entrou no banheiro e viu o espelho tampado com uma toalha.
- Georgie... – Seus olhos agora brilhavam de uma maneira que eu, infelizmente, conhecia bem. – Você tem certeza?
- Tenho. Você acha que um castanho como o seu ficaria bom? Não gosto de loiro. - respondi, tentando distraí-la. Seus cabelos eram castanhos, do mesmo tom dos sapos de chocolate que comíamos no Expresso de Hogwarts todo dia 1º de setembro.
Ela fungou, tentando se recompor.
- Acho que pode ser um pouco mais escuro. Se for muito claro, pode ficar avermelhado.
Ela ainda me olhava desacreditada, como se eu estivesse brincando com ela ou algo do tipo, mas estávamos em um patamar onde eu nem conseguia brincar direito ainda.
- Entendi. E você sabe alguma poção que faça isso? Ou um feitiço? – perguntei novamente, caçando fiapinhos na manta e tentando não manter contato visual com ela naquele momento. Eu já sentia minha garganta embolada apenas de ver seus olhos marejados.
não merecia aquilo.
- Não sei – fungou. – Mas sei pintar o cabelo no estilo trouxa. Minha avó pedia para que eu pintasse seu cabelo em todas as minhas férias e feriados que eu passava com ela.
- Você acha que funciona?
- Claro! Só tem que retocar uma vez a cada um mês ou dois, depende do crescimento do seu cabelo.
- Isso parece cansativo – exclamei espiando-a, e notei que ela fazia trancinhas na franja da manta.
- Posso falar com a Hermione, tenho certeza de que ela sabe algum feitiço que...
- Não, vamos fazer no método trouxa. Do que precisamos?
- Precisamos ir a uma farmácia, ou a um supermercado, e comprar um kit para pintura de cabelo.
- Entendi. – Fingi que sabia o que eram estas coisas, não queria ficar importunando. – E você tem dinheiro de trouxa?
- Claro. Sou nascida trouxa, G.
Eu sabia daquela informação, mas gostava de compartilhá-la sempre que possível, ela tinha um entusiasmo intrínseco de mostrar suas origens e como conhecia tão bem os dois mundos. Eu entendo perfeitamente, pois adorava enganá-la quando era mais novo, inventando qualquer coisa sobre o mundo bruxo apenas para que ela achasse que era verdade e acabasse passando por algum aperto. Fred costumava fazer isto com mais frequência do que eu e sempre caía como uma patinha e sempre levava na esportiva. Era o que a gente mais gostava nela: sua inocência trouxa, sua curiosidade acima da média e sua risada frouxa quando descobria que havia sido enganada por nós. Às vezes eu desconfiava de que ela sabia que seria alguma pegadinha, mas fazia do mesmo jeito para conseguir nos conhecer melhor, e ela conheceu. Conheceu ao ponto de conseguir prever nossas ações antes de fazermos, era uma das garotas mais brilhantes que já conheci.

Ficou combinado que eu iria na casa de Angelina sozinho, teria aquela conversa com ela e depois eu voltaria para irmos até a tal farmácia comprar o produto que tingiria meus cabelos permanentemente.
- Você está bem? – A voz de me despertou de um nervosismo acima da média. Respirei fundo.
- Não.
- Você não precisa fazer isso agora, Weasley. – Eu não gostava quando ela me chamava assim. Não era íntimo o suficiente.
- Eu sei. Mas tenho que fazer. Preciso sair da minha concha, encarar a realidade um pouco.
Seus olhos estavam marejados novamente, mas dessa vez era de uma felicidade genuinamente orgulhosa.
- Tem certeza? – perguntou, tentando esconder um sorrisinho, falhou.
- Sim, , eu sei que você está orgulhosa de mim. Pode sorrir – falei, virando os olhos para cima e segurando suas mãos, que estavam esticadas na minha direção para que eu me levantasse da cama. Enquanto eu fazia isso, ela sorria feito uma bobalhona.
- Estou orgulhosa de você.
- Eu sei, mãe.
Eu gostava de como minha personalidade estava voltando aos poucos ao meu corpo, como se eu tivesse tomado um banho quente e revigorante, removendo um pouco da sujeira que me mantinha recluso.

Bati na porta da casa de Angelina. Aguardei ser atendido com as mãos atrás do corpo, olhando distraidamente o jardim da casa, com uma grama muito verde e bem cuidada, uma árvore bonita e aparada no centro, as folhas formando um desenho redondo perfeito.
- George? – A voz de Angelina me retirou do transe, e, antes mesmo de eu virar de frente para ela, a garota agarrou meu pescoço.
Envolvi seu corpo com meus braços compridos, e ficamos assim por um tempo, apenas sentindo um ao outro.
Ela fazia eu me sentir menos babaca, mesmo quando eu estava sendo um babaca com ela. Que tipo de namorado ficava sem dar notícias por um mês? Eu sei que tinha um motivo, que até poderia ser considerado plausível por alguns, mas depois de alguns dias pensando, não era de maneira alguma aceitável, ainda mais quando a sua namorada era uma amiga de longa data que conseguiria entender o que você está passando.
Por algum motivo desconhecido por mim, o seu abraço não me despertou aquela vontade repentina de chorar, mesmo quando ouvi seu fungar tristonho ao pé de meu ouvido.
- Como você está? – Ela perguntou quando nosso abraço se desfez e ela limpou as lágrimas com a mão.
Ela me chamou para sentar em um banco branco que havia na varanda.
- Estou bem – menti, era mais fácil assim. – E você?
- Estava preocupada com você. Meu Deus, George, você tem noção de como nós ficamos?
- Na verdade não. Me desculpe por isso Angel, eu só... Não consegui pensar em nada.
- Você não precisa se desculpar, George – ela disse, acariciando minhas mãos, um sorriso doce nos lábios.
- Eu preciso sim. Me desculpe por ter sido tão... babaca. Não consigo pensar em outra palavra que descreva isso. Fui um babaca contigo – respondi, correspondendo seu carinho.
- Você realmente não preci-
- Angel, eu acho que vai ser melhor para nós dois se terminarmos. – Não consegui deixá-la terminar, não quando aquilo estava entalado na minha garganta.
- O que? – Era nítido que ela foi pega completamente de surpresa, isso era o que mais me doía, pois se ela estivesse brava por meu afastamento, esse término seria mais fácil.
- Eu não estou em um momento muito bom da minha vida – tentei explicar, entretanto não saiu exatamente do jeito que eu havia planejado. – Sinto que preciso de um momento para conseguir recuperar completamente o rumo da minha vida.
- George, eu estou aqui. Sou a Angelina, lembra? Posso te ajudar a passar por isso.
- Eu sei que você pode, sei que você é tão maravilhosa a esse ponto, Angel – respondi olhando em seus olhos, que voltavam a ficar marejados. Por Merlin, quantos olhos marejados eu iria encarar esta semana? – Mas eu não posso mais fazer isso contigo, você não merece. Você é especial demais para isso, e no momento eu não sou o cara que vai conseguir te fazer sentir especial, não do jeito que você deve se sentir.
- Você está sendo imaturo. Eu entendo tudo o que você está passando e estou disposta a encarar isso, juntos. – Vê-la daquele jeito me partia o coração. Logo eu, o cara que estava com o coração despedaçado.
- Desculpe, Angel. Mas eu já me decidi, e penso que nesse momento é a melhor escolha. Não quero te afundar nesse poço de miséria em que minha vida está agora.
- George, por favor, pensa bem. – Seus olhos agora escorriam lágrimas livremente, mas seu semblante não era triste ou bravo, era um rosto decepcionado que eu via me encarando.
- Eu já pensei, não posso mais fazer isso.
- Você tem razão – ela disse, me encarando com o rosto franzido, tentando segurar o choro. – Você é um babaca.
Aquilo me doeu mais do que eu esperava.
- Angel, eu espero do fundo do meu coração que você entenda que isso vai ser o melhor para nós dois. Eu não posso ser a âncora que te arrasta para o fundo do poço.
- Tudo bem, George. Se você não quer ser ajudado, não tenho como mudar a sua cabeça – ela disse irritada, nunca havíamos brigado depois do início do namoro e eu tinha medo da Angelina brava.
- Eu espero que nossa amizade não acabe aqui. – Ainda tive a cara de pau de dizer, fazendo-a me fuzilar com os olhos ainda molhados. Ela levantou, indo em direção à porta.
- Não vai acabar, sabe por quê? Porque eu sou uma ótima amiga. Mas não me procure quando se arrepender disso. Nós nunca mais vamos namorar, espero que você entenda isso.
- Eu entendo, Angel – falei, me levantando também.
- Tenha uma ótima vida, George – ela disse abrindo a porta.
- Me desculpe por isso – respondi imediatamente, antes que ela fechasse a porta na minha cara.

***

pediu para eu trocar de roupa para ir com ela ao “mundo trouxa”, alegando que meu blazer alaranjado não seria bem visto lá. Coloquei uma gola polo listrada colorida (todas as minhas roupas são coloridas demais) e ela me olhou de cima abaixo, aprovando meio contrariada.
Aparatamos em um beco sem saída úmido e com cheiro de mofo, saímos de lá e pegamos a avenida principal, onde as pessoas andavam apressadas pela calçada.
- Estamos onde?
- Condado de Cornwall, minha avó mora aqui.
Ela me guiou até uma loja grande de esquina, branca e clara demais em minha opinião. Entramos e ela seguiu até um corredor, como se conhecesse o local com bastante maestria.
O ambiente tinha tantos itens nas prateleiras que fiquei confuso, e ela tinha razão em não me deixar usar minhas roupas usuais, eu já chamava atenção o suficiente por estar com a cara abatida de quem acabou de dar um beijo em um dementador, não ter uma orelha bem definida e ter quase dois metros de altura. Não precisava de roupas coloridas espalhafatosas para completar o look de esquisitão do mundo trouxa.
, por outro lado, se misturava como um deles usando uma calça jeans e uma blusa preta básica, tinha a altura de uma mulher normal, e por mais que tivesse o rosto abatido, não era nada comparado ao meu.
Ela selecionou algumas caixas em suas mãos, havia uma mulher em cada caixa, cada uma delas com uma cor diferente nos cabelos, todas eram castanhas em suas mãos, na prateleira ainda haviam algumas cores diferentes, preto, louro e até vermelho.
- Qual dessas? – Me mostrou as opções que segurava. A diferença era mínima, eu não saberia dizer qual seria a melhor opção.
- É tudo marrom – eu disse, arqueando as sobrancelhas.
- Eu sei. – Ela deu uma risadinha pelo nariz. Analisou a caixa, colocou ao lado do meu rosto. Pensou. E por fim escolheu uma.
- Qual o veredito? – perguntei.
- Essa – disse, me mostrando a caixa do meio. – Não é muito escuro. Seu cabelo é claro, a cor pode pigmentar demais e ficar parecendo preto.
- Não tenho problemas com preto.
- Eu sei que não. Mas você tem olhos bonitos, o preto pode escurecer demais o seu contraste – ela explicou séria, e eu a olhei em tom de dúvida. – Seus olhos podem mudar de cor, e não quero que isso aconteça.
- Entendi. – Eu ainda não tinha conseguido ler o suficiente para saber se ela estava feliz com minha decisão de mudança ou não, por um lado penso que faria sentido ela gostar, pois com certeza ela via Fred em mim também. Por outro lado, tenho medo de que ela perca sua lembrança de Fred, porque eu estou sendo egoísta em mudar meu visual apenas para não ver meu irmão morto no espelho.
- Essa é muito clara – ela continuou. – Tenho medo que depois de pegar um pouco de sol, volte a ficar ruivo. – Devolveu as duas caixas na prateleira.
- Então sobra essa – falei, pegando a caixa da sua mão. – Castanho médio.
- Acho que vai servir – ela disse por fim, esperando minha reação. Fiz um formato de sorriso nos lábios e concordei com a cabeça.
Ela pegou mais alguns itens enquanto passávamos pelos corredores e seguíamos para a fila do caixa.
- ! – o moço do caixa disse, empolgado o suficiente para se engasgar com a própria saliva. Ele devia ter a nossa idade e usava um jaleco branco, como se já não houvesse branco o suficiente naquela loja.
- Oi, Pete – disse, não tão entusiasmada, mas ele não pareceu se abalar.
- Nunca mais te vi por aqui. Voltou ao internato? – perguntou ele, enquanto separava os itens que ela havia colocado sobre o balcão.
- Não, na verdade estou aqui com um amigo - ela disse, segurando a manga da minha camisa. Ele me olhou de cima a baixo, analisando minhas feições cansadas antes de continuar:
- Amigo, é? Sua avó comentou que você terminou o namoro faz um mês. Ela esteve aqui ontem.
Aquilo era ciúmes que eu via em Pete? nunca havia mencionado algum Pete para mim antes, tenho certeza de que se ele fosse realmente importante, eu reconheceria o nome.
A inconveniência de Pete me deu nos nervos, mesmo que tivesse realmente terminado o namoro ou não, o que importava para ele? O respeito passou voando pela janela em uma porra de Firebolt.
- Sim, George é um grande amigo meu, e está me ajudando com toda essa coisa chata de término. - continuava com a mão agarrada na manga da minha camisa, como se aquela conversa fosse completamente inconveniente para ela também. É claro que era, tenho certeza que até quem estava atrás de nós na fila também estava sentindo a situação esquisita em que Pete nos colocou.
- George, huh? Vejo que superou o término com facilidade - disse Pete, e eu estiquei a mão até ele, que apertou sem vontade alguma.
- É um prazer te conhecer, Pete - falei falsamente simpático. - Escuta só, de onde você vem é comum ficar se intrometendo em assuntos pessoais dos seus clientes?
A garota atrás de mim na fila segurou uma risada. O único som além desse era o apito que a máquina em sua frente fazia a cada vez que ele colocava um produto sobre um feixe de luz vermelho. Pete desviou o olhar de nós sem graça, terminou de embalar os produtos em uma sacola de papel e esticou para que pegasse, mas o fiz antes que ela apenas para irritá-lo.

Quando estávamos na calçada, ouvimos passos apressados e Pete veio até nós.
- Olha só, , me desculpa. Não quis ser indelicado com toda essa situação chata. Você está a fim de tomar um café comigo qualquer dia desses?
- Eu fico lisonjeada pelo convite, Pete, mas vou ter que recusar. - foi direta.
- Por quê? - Não havia nada no mundo que pudesse abalar a autoestima desse garoto, não era possível.
- Porque não tenho cabeça para isso agora - ela disse sem cerimônias.
- Ah, sim... Entendi. – Pete levantou o olhar para mim. – Já está namorando com ele, não é?
- Pete. Eu literalmente acabei de perder alguém importante na minha vida e não estou com cabeça para sair com ninguém. Eu só quero ir para o meu quarto e chorar a noite inteira, entende? – ela disse, cada uma de suas palavras carregava um traço nítido de exaustão. – E George não é meu namorado, e se ele fosse, o que isso iria impactar na sua vida?
Minha amiga sabia se defender sozinha, tanto de praticantes de bullying, quanto de inimigos mortais e a prova disso foi ela ter sobrevivido a batalha de Hogwarts e ainda proteger vários alunos menores de idade, mas o principal era que sabia escolher as palavras certas a qualquer momento, inclusive quando queria se livrar de um cara escroto.
Vi o semblante de Pete murchar diante de meus olhos, me olhou de cima a baixo novamente, ele era consideravelmente mais baixo do que eu, e se deu por vencido dizendo:
- Tudo bem, deixa para a próxima. – Não haveria próxima, tenho certeza disso. Seguimos para o beco com cheiro de mofo novamente e aparatamos de volta à Toca.

- Então, tem algo que eu precise saber desse Pete? – perguntei, sentado em uma cadeira velha que trouxemos ao meu quarto, enquanto ela arrumava tudo para iniciar o processo de tingimento do meu cabelo.
pegou um pente de madeira com dentes muito largos e passou por meus cabelos, fazendo-me fechar os olhos relaxado, o pente era seu, já havia visto ela pentear os cabelos molhados com ele.
- Fiquei com ele em um verão – admitiu. – Foram só uns beijinhos bobos, eu devia ter uns 15 anos na época.
- Aaaaah, está explicado! Você enfeitiçou o pobre garoto. – Dei uma risadinha marota e ela deu um tapinha no meu ombro.
- Não foi nada demais para mim, mas depois daquilo ele não pode me ver que age assim, como se tivesse algum tipo de propriedade sobre mim. Como se eu tivesse que me explicar cada vez que estou namorando alguém.
- Fred chegou a conhecê-lo? – perguntei, ainda de olhos fechados, com a cabeça apoiada no encosto da cadeira. Fred havia ido conhecer a avó de , durante nosso primeiro ano da inauguração da loja, e imaginei que talvez ele pudesse ter tido a péssima experiência de ter conhecido Pete. Na verdade, já conhecíamos a avó de , nos encontramos algumas vezes na Estação King’s Cross e nas vezes em que vínhamos buscá-la com papai para passar as férias conosco, mas nessa ocasião ele a “conheceu” como um namorado, e não como um amigo pentelho.
- Não. Ainda bem, provavelmente ele tiraria sarro de mim pelo ano seguinte inteiro – ela disse, dando uma risadinha. – G, se ajeite na cadeira, vou começar.
Abri os olhos, sentei ereto e ela passou um plástico em volta do meu pescoço, que parecia ser para proteger minha roupa de possíveis respingos. Abaixou-se levemente em minha frente.
- Tem certeza disso, George? Depois que eu começar, não tem volta.
- Tenho – respondi e logo continuei nosso assunto sobre Pete: - Bom, não dá para negar que ele gosta de você, afinal ele deve ter perguntado de ti para sua avó.
- Ah, ainda estamos falando dele? – perguntou ela divertida.
- É claro, como vou poder zoar você mais tarde?
Ela iniciou o processo de colocar a tinta com uma bisnaga em meu cabelo e espalhou com um pincel, a tinta tinha um odor terrível de alguma poção que deu muito errado, mas como ela não fez observações, eu apenas confiei em seu processo.
Ficamos em silêncio a maior parte do tempo, apenas o barulho do pincel molhando meu cabelo e da luva de plástico em sua mão participando da nossa trilha sonora.
- Se importa se eu ligar o rádio? – ela perguntou em certo ponto do nosso silêncio, e eu dei de ombros. Ela foi até o rádio que tínhamos no quarto, para ouvir os anúncios dados em códigos durante a guerra silenciosa. Ela obviamente colocou em uma estação trouxa, sempre preferiu as músicas trouxas, que falavam sobre amor, desilusão, sexo e drogas, dizia que lembravam o seu pai, por mais que não tivesse memórias vívidas dele.
Uma música baixinha adentrou o ambiente e eu notei seu semblante mudar quando voltou até mim, ela começou a cantarolar baixinho junto com a mulher que cantava a música que eu não conhecia:
- And so I cry sometimes, when I'm lying in bed just to get it all out, what's in my head. And I, I am feeling, a little peculiar. (E eu choro algumas vezes, quando estou deitada na cama apenas para tirar tudo que está em minha cabeça. E eu, eu estou me sentindo um pouco peculiar).
Aquilo me pegou desprevenido, não esperava aquelas palavras saindo de uma música que estava ali com a sua única função de distrair nossas mentes enquanto ela colocava um produto fedorento em meus cabelos vermelhos. Me vi imediatamente caindo em um poço sem um fundo aparente: eu sabia que estava triste com a morte de Fred, sabia que ela o amava e que eles estavam em um estágio feliz do relacionamento deles. Fred nunca mencionou um possível casamento (eu era um grande entusiasta desta ideia), até porque estávamos em um momento muito importante de nossas carreiras profissionais, e eu não falava apenas de mim ou dele, e sim de também. Ela havia comentado conosco um interesse particular de Professora McGonagall em querer contratá-la como professora de poções quando Slughorn se aposentasse. Lembro que achamos aquilo incrível quando ela nos contou pela primeira vez, sabíamos da sua capacidade em reproduzir poções com maestria na escola, onde, mesmo com um professor altamente duvidoso como Snape, e principalmente o fato dela ser da Grifinória e ser nossa amiga e cúmplice, Snape odiava todas estas opções, ela sempre se saía bem nas aulas, e foi ela quem fez a nossa primeira leva de Amortencia para nossa loja, até então portátil.
seria uma ótima professora. Eu tinha uma certeza absoluta sobre aquilo. Porém para que isso acontecesse, ela precisava desgarrar-se de mim, eu sabia que estávamos ambos em um momento em que precisávamos um do outro, sei que não teria conseguido fazer nada do que fiz hoje sem sua ajuda durante este mês inteiro... Mas vê-la aqui, desperdiçando o início dos seus 20 anos comigo trancada em um quarto me machucava mais do que eu queria admitir.
- And so I wake in the morning and I step outside and I take deep breath, and I get real high and I scream from the top of my lungs: What's going on? (E então eu acordo pela manhã e vou lá para fora e eu respiro fundo e eu fico muito chapada, e grito o mais alto possível: O que está acontecendo?) – cantarolou ela, me retirando do transe. - Prontinho, Georgie.
Ela veio para a minha frente com um paninho molhado e retirou o excesso de tinta que havia escorrido em minha testa e em minha orelha debilitada, seus olhos correram pelo meu rosto e ela riu abertamente.
- O que foi?
- Vamos ter que pintar suas sobrancelhas, vai ficar muito esquisito se suas sobrancelhas continuarem ruivas – ela disse, dando outra risada gostosa. Acabei rindo junto, era a primeira vez que eu ria de verdade e sem motivo aparente, a música embalando nossa esquisitice enquanto ela passava o restinho de tinta em minhas sobrancelhas. tinha o costume estranho de simplesmente olhar em nossa cara e dar risada, era como se fôssemos cômicos aos seus olhos a todo momento, não posso contar nos dedos quantas vezes ela fez isso comigo: me encarar por minutos consecutivos e no fim dar uma risada gostosa e frouxa. E foi apenas uma vez que perguntei o motivo dela fazer isso e a resposta foi: “Você e seu irmão têm uma áurea engraçada, é um timing cômico perfeito”, lembro que no dia respondi: “E você tem certeza que não acha a nossa cara engraçada?”, e ela respondeu ainda com uma risadinha nos lábios: “Não, a cara de vocês é bonita”.
Nunca vou esquecer esse diálogo, já que foi a primeira vez que uma garota disse que eu era bonito, eu tinha 14 anos e ainda não tinha experimentado a minha popularidade como um cara bonito, apenas sendo o “cara engraçado”, e aquilo foi importante em minha cabeça de pré-adolescente. E, tão importante quanto isso, foi saber que confiava em mim o suficiente para falar aquilo, e ter certeza absoluta de que eu não usaria contra ela em nenhum momento, eu nunca usei simplesmente porque gostei de saber que ela me achava bonito, e aquilo se concretizou quando ela e Fred iniciaram um relacionamento, afinal se ela me achava bonito ela tinha que automaticamente achá-lo também.

30 minutos depois, saí do banho e me olhei pela primeira vez no espelho.
Meu coração deu um baque descompassado e meus olhos encheram-se de lágrimas, não eram lágrimas de arrependimento, pois um cara completamente diferente me olhava pelo reflexo. Não era meu irmão gêmeo morto.
Suspirei aliviado, notando que havia sido incrível com sua habilidade em pintar cabelos no método trouxa e, novamente, estava certa quanto à cor dos meus olhos, que antes tinham um tom verde no centro próximo das írises que iam aos poucos ramificando para um castanho muito claro, agora estavam completamente castanhos, o verde sendo extinguido pelo meu semblante mais escuro. Toquei meus cabelos, uma, duas, três vezes, ainda desacreditado que havia demorado tanto tempo para pedir aquilo a ela. Sentia-me aliviado, como se um peso absurdamente doloroso tivesse saído de meus ombros, um ponto de autoestima subiu dentro de mim e eu sabia que iria querer continuar com aquele cabelo por um bom tempo.
Uma página havia sido virada.

Esgueirei-me pelos corredores até meu quarto, não queria que ninguém me visse daquele jeito, não sem junto para me dar o suporte que eu precisava.
- Então, o que achou? – perguntei, abrindo os braços em expectativa. Vi os seus olhos brilharem molhados novamente, e em seguida o seu sorriso abriu-se com uma alegria contagiante.
- Nossa, ficou ótimo! – Ela correu em minha direção e me abraçou com força, foi nesse momento que eu percebi que ela estava aliviada de não ter que ver Fred em mim também.
- Eu percebi esse tom de surpresa. Tinha alguma porcentagem de você que não acreditava que ficaria bom? – Retribuí seu abraço.
- Ah, só uns setenta e cinco por cento. – Ela soltou uma de suas risadas divertidas. - Mas os vinte e cinco por cento restantes estavam bem confiantes!
- Você não vale nada. – Não consegui resistir e dei uma risada também.
Retribuí seu abraço sabendo que aquela garota em meus braços, com seu sorriso contagiante e seu cheiro particular de baunilha, era a melhor coisa que já havia acontecido em minha vida e na do meu irmão também.

- Vai ser uma situação delicada. Minha família tem cabelos ruivos há tantas gerações que não sei como vão reagir – eu disse, incerto sobre descermos para o jantar.
- Eles vão entender – disse com calma, ela finalizava uma carta em nossa escrivaninha, sua coruja com o rosto em formato de coração a aguardava sob o batente da janela.
- Eu sei que vão entender, são a minha família, mas isso não me deixa menos nervoso.
- George, você é maior de idade, pode raspar os cabelos, fazer tatuagens ou pintar os cabelos sem levar um cascudo de sua mãe. Deixa de ser bobo.
- Eu sei, eu sei.
- E outra coisa, cabelos ruivos há gerações? – ela repetiu. – Nenhum Weasley casou com alguém com outra cor de cabelo?
- Bom, sim, mas o gene ruivo deve ser bem forte. Não sei explicar, acho que é o caso da Gina com o Harry, ele tem cabelo escuro, mas se não me engano a sua mãe era ruiva... Se eles tiverem um filho, tem muita chance de vir alguns ruivinhos.
- Isso é bizarro – ela disse em um tom divertido. – Será que se eu tivesse um filho com Fred, ou você com Angelina, o gene seria tão forte assim?
Ela se referia ao fato das duas serem negras.
Eu nunca havia nem pensado nesse assunto, nunca me importou a cor da pele ou de cabelo de nenhuma delas, Angelina era linda, alta, uma ótima atacante no quadribol e uma pessoa incrível, acho que foi por isso que me apaixonei por ela, nunca me preocupei com os genes ruivos dos Weasley, era até um absurdo pensar naquilo. E , bom, ela era a , eu não precisava explicar os motivos dela ser minha melhor amiga, ela simplesmente era, e não era a cor dos seus cabelos ou da sua pele que faziam aquilo acontecer. E por um momento aquilo me acendeu uma luz de alerta por dentro:
- ... – chamei sua atenção, e ela tirou os olhos de sua carta para me olhar. – Tem algum motivo para você estar preocupada com os genes dos Weasley’s?
O silêncio se instalou entre nós por um segundo que pareceu uma eternidade.
- . Olha pra mim. – pedi quando a vi desviar os olhos, e seus olhos voltaram a me encarar, brilhando marejados. Me aproximei dela, sentindo meu coração apertar e minha garganta embolar novamente. – Porra, , você ia esconder isso de mim?
- Eu não tenho certeza nenhuma, não queria te preocupar com isso também – ela disse, voltando toda a sua atenção para a pena em suas mãos. – Comprei um teste na farmácia, pensei em fazer de madrugada.
- Você só pode estar de brincadeira comigo! – respondi, tão exasperado que o nó em minha garganta pareceu se apertar. – , você não precisa passar por isso sozinha. Por Merlin, não depois de tudo o que você fez por mim.
- Eu sei que não, eu só não queria que você se incomodasse com algo que não é certo.
- E desde quando algo que você faça é um incômodo para mim? Geralmente é ao contrário e eu nunca vi você reclamar!
Eu estava agachado em sua frente. Retirei a pena de suas mãos antes que a tinta fizesse sujeira e as apertei, do mesmo jeito que ela havia feito comigo tantas vezes.
- Eu estou aqui e não vou a lugar algum.
Ela sorriu, suas bochechas apertaram seus olhos e as lágrimas correram por elas.
- Eu estou aqui, igual um idiota, reclamando do que meus pais vão achar da merda do meu cabelo e você tá tendo uma crise existencial por uma possível gravidez do meu falecido irmão! Se isso não é egoísmo, eu não sei o que é.
- Nós dois estamos fodidos, Georgie, um não anula o outro – ela disse fungando.
- Eu sei que não, mas não faça mais isso comigo. Estamos na mesma merda de barco. Você não precisa velejar sozinha – eu disse, e ela me encarou durante alguns segundos e caiu na risada.
- Que bosta de metáfora! – exclamou ela sem ar, ainda dando risadas altas.
- Você é uma idiota – respondi, me juntando a ela nas risadas.

Durante o jantar, ninguém ousou falar uma palavra, mas eu sentia os olhares queimando sobre mim, posso jurar que até ouvi um soluço assustado de minha mãe quando ela me viu pela primeira vez, e os pratos só não caíram no chão porque Harry foi rápido o suficiente com sua varinha.

Todos jantaram incomodados, e eu até senti a mão de acariciando minhas costas em um certo momento, enquanto eu terminava meu prato e ela já havia terminado o seu.
- Ficou bom, George – ouvi a voz de Gina dizer, tão incerta e trêmula que achei que ela nem iria conseguir dizer meu nome inteiro.
Eu a encarei por um segundo, com o garfo no meio do caminho até a boca.
- Obrigado – falei, e enfiei a comida em minha boca. Senti apertar minhas costelas, como quem dizia “fala mais alguma coisa”. Terminei de mastigar e engoli o bolo de comida com dificuldade. – Eu... precisava fazer isso.
- Ficou lindo, meu amor – minha mãe disse, dando-me um sorriso que era difícil ela dar a nós. Normalmente eram caras zangadas, e com razão.
- Obrigado, mãe. – Era perceptível que aquela era a conversa mais longa que eu havia tido com todos eles depois do incidente, todos estavam orgulhosos. Não havia nenhum olhar de julgamento, apenas olhares caridosos de uma compaixão que eu achava um pouco irritante, mas que não queria demonstrar. A mão de continuava em minhas costas, me aquecendo mesmo que ela não percebesse.
- Estava me incomodando um pouco o fato de eu me olhar no espelho e... – Não precisei terminar a frase. Todo mundo automaticamente ficou inquieto e eu percebi que não tinha a necessidade de falar aquilo. Então finalizei com: - Não se preocupe, Ron, você continua sendo o irmão mais feio.
As risadas quebraram o gelo, e Rony ficou com as orelhas vermelhas, mesmo que estivesse sorrindo.
- Estamos felizes por você, Georgie. – finalizou aquele assunto, piscando para mim e bagunçando meus cabelos. Todos concordaram com a cabeça.

Mais tarde naquela noite, enquanto eu e esperávamos minutos infinitos pelo seu teste de gravidez mostrar a resposta definitiva, eu a abraçava pelos ombros sobre a minha cama enquanto ela encarava o teste com as pernas cruzadas.
- Foi por isso que o seu ex ficou me encarando estranho! – exclamei do nada, enquanto minha cabeça voava para o momento em que estávamos na loja comprando os utensílios necessários para pintar meu cabelo. – Você simplesmente jogou um teste de gravidez trouxa na cara dele!
- Sim – ela riu, sem muita graça. – Ele não é meu ex – replicou irritada.
- É claro que é – tentei brincar, tentando de alguma maneira tirar todo aquele peso de seus ombros. Eu nem conseguia digerir de verdade o fato de que podia estar realmente grávida de Fred, aquilo não entrava em minha cabeça, não agora que ele não estava aqui conosco, sem que eu pudesse tirar sarro do fato dele virar pai. Pai! Porra, aquele era o pior momento do mundo para tentar fazer piada. Me arrependi imediatamente de ter insistido naquela brincadeira sem graça sobre Pete, porém senti o cotovelo dela batendo em minhas costelas, e uma risada nasalada vindo logo em seguida.
- Eu nunca devia ter te contado sobre isso. – Ela suspirou divertida, e percebi que minha piadinha infame havia tido o efeito que eu queria que tivesse.
- Não mesmo – falei, ao mesmo tempo em que o despertador tocou em minha mão. Eu o segurava com tanta força que os nós dos meus dedos haviam perdido a cor. Apertei o botão entre os dois sinos, e a garota ao meu lado suspirou audivelmente antes de virar o rosto para mim.
- Eu tô aqui – falei, apertando seus ombros em meu braço com força.
Ela virou o teste, de modo que o lado com o resultado fosse visto por ambos. Eu não fazia ideia de como se lia o resultado, então esperei por sua reação. Na verdade, eu não sabia se queria aquela gravidez, como uma pequena lembrança permanente de meu irmão, ou se ela não queria aquilo por conta da sua idade, a falta de um pai ou de simplesmente não desejar uma gravidez. Eu não a conhecia como ela me conhecia, e aquilo me doía um pouco, eu não conseguia prever suas reações do mesmo jeito que ela conseguia prever a maioria das minhas.
- Deu negativo – ela disse sem emoção. Seu rosto virou-se para mim e não consegui ler sua expressão. – Deu negativo – repetiu, e dessa vez eu senti a pontada de tristeza em sua voz.
queria a gravidez.
Porra, aquilo me machucou demais.
Tirei o teste de suas mãos e joguei em algum canto, e puxei-a para meu colo. Dessa vez eu tinha que ser o elo forte da nossa amizade, ela contornou seus braços em meu pescoço e chorou.
Eu sentia seu peito tremer sobre o meu com a força de seus soluços, meus braços estavam em volta do seu tronco e minha mão estava pousada na parte de trás da sua cabeça. Eu tentava com todas as minhas forças não chorar com ela, e me concentrava em manter minha respiração calma para que ela se acalmasse junto. A sensação de impotência era tão grande que eu não conseguia pensar em mais nada a não ser: Ela está triste porque queria ter o filho de um pai morto apenas para conseguir se sentir conectada ao Fred de alguma maneira, ela agarrou-se com tanta força nesse fio invisível de esperança que, quando o fio foi cortado, havia despencado em um abismo de tristeza que eu não fazia ideia de como tirá-la agora, pensei durante vários minutos, tentando encontrar as palavras certas para dizer naquele momento. Para ela era tão fácil juntar um monte de palavras que resultavam em algo bom para mim que, quando eu tinha que fazer o mesmo, me sentia uma bola gigante de bosta.
- … – falei, pigarreando. – Eu sei que não parece, mas... Essa foi a melhor opção.
Senti seu peito parar de tremer por um segundo, e ela fungou.
- Você sempre vai estar conectada ao Fred. Sempre. Não importa quanto tempo passe – continuei, acariciei suas costas com minha mão livre.
- Eu... Só queria... Não sei, pensei que... – Ela não sabia como explicar aquilo, mas eu sabia exatamente o que ela sentia.
- Não precisa se explicar para mim. Eu sei.
provavelmente estava pensando naquilo havia pelo menos uma semana. Sua cabeça provavelmente havia dado voltas e mais voltas diante daquela situação, era óbvio que ela havia imaginado mil e um cenários e tinha se agarrado com mais força no cenário em que tinha um bebê dele. Sua decepção era aceitável e completamente compreensível, eu, em seu lugar, teria me agarrado na mesma opção, mesmo que aquilo dificultasse minha vida em maneiras inimagináveis.
E foi assim que terminamos aquele dia, agarrados um no outro, com tantos sentimentos misturados e tantas lágrimas derramadas que era fácil dizer que estávamos realmente quebrados.
Tantas coisas aconteceram naquele mesmo dia que o meu término com Angelina parecia, pelo menos, há uma semana de distância, e aparentava ser tão pequeno e insignificante enquanto eu abraçava aquela criatura chorosa em meu colo que nada no mundo me faria largá-la.

Fim do ponto de vista

Flashback – 05 de março de 1990 – Sala Comunal da Grifinória

- O que vocês dois estão mexendo aí com tanto segredo? – Me aproximei de Fred e George, que estavam em um canto realmente afastado, debatendo com um velho pergaminho em mãos. Mal terminei a pergunta e vi Fred retirar o pergaminho das mãos do irmão e esconder sob as vestes.
- Infelizmente não é da sua conta, – ele retrucou, grosseiro como sempre. Por sorte eu já sabia como eles eram e apenas dei de ombros, virando os olhos para cima.
- Vê se cresce, Weasley – respondi, sentando na frente deles e deixando bem claro que não ia me afastar por conta de uma grosseria do ruivo. A essa altura eles já deviam ter entendido que eu não largaria do pé deles.
George suspirou e olhou para o irmão, levantando as sobrancelhas, e os dois conversaram com os olhos por alguns segundos, cogitando se iriam me incluir no assunto ou não, enquanto eu os observava, pensando no quão estranho era o fato deles se entenderem sem ao menos abrirem a boca.
- Ok – Fred suspirou vencido. – Encontramos este pergaminho na sala do Filtch.
- Ainda não temos certeza do que é, mas definitivamente é algo interessante. Estava bem guardado e identificado como “Confiscado e altamente perigoso” – George concluiu, e esticou a mão ao irmão para lhe entregar o pergaminho.
Interceptei o pergaminho no meio do caminho entre as mãos dos dois.
- E vocês não sabem o que faz, é isso? – perguntei analisando o papel surrado com as dobras finas de tanto ser aberto e fechado.
- É – os dois falaram juntos, e explodi em risadas pela tamanha burrice dos dois.
- O que, em nome de Merlin, vocês estão fazendo com um pedaço de pergaminho sujo e surrado nas mãos se nem sabem o que faz? E ainda estavam de segredinhos para mim! – Eu ria alto, trazendo um pouco de atenção a nós, e eles pediram para que eu fizesse menos barulho. Virei os olhos novamente, teimosa. Retirei a varinha de corniso de minhas vestes e apontei para o pergaminho, sussurrando:
- Revele-me seus segredos. – Me lembrava de ler algo na biblioteca sobre pergaminhos encantados, eu passava mais tempo na biblioteca do que gostaria de admitir, era apavorante ser uma nascida trouxa no meio de tantos bruxos e bruxas puro-sangues, e ir à biblioteca fazia parte do meu dever semanal, de minha meta mental, para me manter atualizada sobre assuntos bruxos que havia perdido durante seus onze anos de vida como uma nascida trouxa. Também para evitar de cair em qualquer pegadinha infame que os gêmeos ou Lee gostavam de pregar em mim, por ser tão ingênua e não conhecer o suficiente sobre o mundo deles.
O pergaminho em minha mão mostrou uma frase que li em voz baixa.
- O Sr. Aluado pede para que pessoas que não tenham habilidade para tamanho esplendor não tentem fuxicar onde não são chamadas.
- O quê?! – George exclamou e pulou para o meu lado, e continuei lendo:
- O Sr. Pontas gostaria de acrescentar que este pergaminho não deve ser lido por pessoas de boa índole.
Minha cabeça girou por um momento, tentando lembrar de tudo que já tinha lido sobre o assunto, e lembrei de um livro bem específico chamado “Pequenos objetos e encantamentos”, levantei em um salto, assustando os gêmeos, que me seguiram. Pus a varinha e o pergaminho entre as vestes e corri até a porta do retrato da Mulher-Gorda. Eu tinha certeza que li algo parecido com aquilo, lembrava até a sessão onde o livro se encontrava.
- Ei, onde você está indo? – um dos gêmeos perguntou, eu não soube distinguir qual, ainda não tinha convivência o suficiente com eles para diferenciá-los sem olhar, mas era outra meta que já tinha colocado em minha cabeça.
- Biblioteca, acho que li algo sobre isso semana passada enquanto estudava.
Já na biblioteca, recuperando o fôlego, cada um de nós procurava em um andar na seção de livros que indiquei. George encontrou o livro correto e folheei por alguns minutos.
- Aqui! – falei, mais alto do que devia, e recebi um olhar de Madame Pince, e cada um dos gêmeos pôs a cabeça ao lado da minha, lendo o parágrafo que eu apontava. – Pergaminhos, penas e livros encantados: Comumente utilizado por adolescentes como forma de pregar peças, um pergaminho pode ser enfeitiçado para que apenas pessoas com as palavras secretas possam ler, as palavras podem ser das mais variadas e usualmente utiliza-se um juramento solene sendo que ao ser quebrado, o objeto enfeitiçado possa ser novamente apagado impossibilitando o bruxo de continuar a ler.
- Um juramento? – Fred perguntou confuso.
Continuei lendo concentrada, enquanto Fred e George murmuravam mais afastados coisas que só eles entendiam.
- Só temos que descobrir como mostrar o que ele esconde... – George murmurou.
- Depois talvez os próprios criadores consigam responder como apagar, talvez dê para perguntar... – Fred pensou alto.
Enquanto eles debatiam, tirei o pergaminho das vestes e olhei as respostas que os Srs. Aluado, Pontas, Rabicho e Almofadinhas haviam me dado quando pedi que revelassem seus segredos. Talvez cada resposta que eles dessem fosse um insulto e uma dica. Era divertido, quase como se eu estivesse tentando desvendar alguma brincadeira idiota dos gêmeos e Lee.
- Eu juro solenemente que não vou mostrar a ninguém – sussurrei ao pergaminho, tocando levemente a ponta da varinha nele, que devolveu mais respostas de seus criadores. As ofensas eram divertidas a ponto de me fazer segurar a risada.
- Eu juro solenemente que não pretendo ajudar ninguém – disse novamente. esperançosa, e isso chamou a atenção dos gêmeos, que se aproximaram.
- Eu juro solenemente que tenho más intenções – tentei novamente, lembrando que o Sr. Pontas disse que o pergaminho não devia ser lido por pessoas de boa índole. As respostas continuavam me divertindo, era quase como um livrinho de piadas que minha avó tinha guardado na gaveta da mesinha de cabeceira.
- Eu juro solenemente que não vou fazer nada de bom. – Senti minha varinha praticamente dar o toque sozinha no pergaminho, que começou a se colorir sozinho, formando desenhos de corredores e paredes com lentidão.
Lembrei imediatamente do Sr. Olivaras, dizendo que uma varinha de corniso é excêntrica e travessa, adora brincadeiras e gosta de parceiros que procurem diversão. Aquilo me abraçou por inteiro, pois eu sabia que se aquela varinha com núcleo de pelo de unicórnio havia me escolhido, estava aí o motivo, ela queria diversão e eu sabia que podia proporcionar aquilo.
- Por Merlin, ! Você conseguiu! – Fred disse, abrindo um sorriso sincero, os olhos arregalados enquanto o pergaminho mostrava a frase:

“Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas,
fornecedores de recursos para feiticeiros malfeitores, têm a honra de apresentar:
O MAPA DO MAROTO”

Nós comemoramos tanto, mas tanto, que nós três recebemos detenção e menos cinco pontos (cada) para a Grifinória pela bagunça que fizemos na biblioteca.
Voltamos para a Sala Comunal analisando o mapa, olhando cada dobra e abrindo cada espacinho para entender como ele funcionava. Em menos de cinco minutos, descobrimos como o apagava, que era com a frase “Malfeito, feito”, e depois desse dia, percebi que nada naquela amizade podia separar o que havíamos construído. Exploramos cada saída não oficial do castelo, descobrimos o que cada professor fazia após o horário das aulas, e nem mesmo o Diretor Dumbledore podia escapar de tamanha façanha, já que sabíamos que ele ficava quase o dia inteiro andando de um lado para o outro em seu escritório.
Não era exagero dizer que eu, Fred e George nos tornamos inigualáveis após nos apoderarmos do Mapa do Maroto, e, durante todas as vezes em que saímos juntos para explorar o castelo, mais certeza eu tinha de que aquela amizade duraria mais do que apenas na escola.



Capítulo 3

Hogwarts - 16 de outubro de 1998

Ponto de vista:

Após alguns meses da batalha mais sangrenta que Hogwarts já viu, as coisas estavam finalmente andando para frente. Professora McGonagall virara oficialmente a Diretora da escola, tivemos uma conversa muito franca sobre meu futuro lá dentro: neste primeiro ano letivo eu seria assistente do Professor Slughorn, o ajudaria com o planejamento das aulas, com a correção das atividades escritas e conferências de poções durante provas práticas. E, se tudo ocorresse dentro do planejamento, no fim do ano letivo, Slughorn estaria se aposentando e o cargo de Professora de Poções seria meu, definitivamente.
McGonagall depositou uma fé cega em mim, que me fazia tremer na base com medo de não alcançar suas expectativas, mas eu tinha certeza de que ela me ajudaria no que fosse preciso. Outra professora que estava com a sua aposentadoria em andamento era Sra. Sprout de Herbologia. Confesso que Herbologia sempre foi o meu forte, sempre foi algo do qual me identifiquei de primeira e gostava de fato assim que pus meus pés em Hogwarts, o primeiro motivo era que a matéria me lembrava meus pais, e tenho certeza de que herdei essa boa convivência com plantas deles, minha mãe era florista e tinha uma floricultura no Centro do condado onde morávamos e meu pai era botânico, trabalhava em um pátio de agricultura experimental, fazendo cruzamento de plantas e estudando novas espécies. A Herbologia estava no meu sangue, e minha boa inclinação com Poções também estava relacionada isto.
Quem ficaria este ano ajudando Professora Sprout era Neville Longbottom, por este motivo, não fiquei com a vaga de Herbologia, Diretora McGonagall sabia que eu tinha noção, experiência e competência para dar aulas de Poções e Herbologia, porém Longbotton só tinha experiência com a segunda opção.
Neville e eu viramos grandes amigos durante nossos anos como alunos em Hogwarts, eu me sentia responsável por aquele garoto desastrado e esquecido que vivia levando bronca de qualquer pessoa que fosse um pouco mais ligeira do que ele, e por isso, acabei tendo uma reação fraternal por ele, um ímpeto de irmã mais velha gritando dentro de mim a todo instante. Eu o protegia sempre que podia, fosse de uma bomba de bosta de Fred e George ou de um xingamento de Draco Malfoy, Nev sempre teve um lugarzinho especial dentro de meu coração. Creio que o fato de termos a criação por parte de nossas avós possa ter feito com que eu me apegasse mais a ele do que eu realmente gostaria de admitir.
Eu gostava de trabalhar em Hogwarts, todo canto me fazia lembrar de alguma situação boa, de início, achei que seria como visitar um cemitério, com uma áurea pesada e densa de memórias póstumas mas me enganei redondamente, eu vivia rodeada de alunos divertidos e barulhentos que me desligavam completamente de minha memória traiçoeira que queria me derrubar a todo custo, eu via ex-companheiros de Casa como Gina, Colin e até Hermione (que volta e meia estava lá para finalizar seus estudos), conversava com Professores que eram sempre muito atenciosos comigo, visitava a cabana de Hagrid com frequência e continuava importunando Argo Filtch, que por incrível que pareça, agora adorava me ver pelos corredores como uma assistente ao invés de aluna, mesmo que ele tenha perdido a conta de quantas vezes teve que arrastar seu carrinho de limpeza para arrumar alguma bagunça que eu e meus amigos fazíamos.
Após uma semana cansativa de provas, Professor Slughorn me liberou mais cedo no fim de semana, como eu ainda era apenas uma assistente, não precisava dormir nos fins de semana em Hogwarts, então saí das imediações do castelo para conseguir aparatar, nunca gostei da sensação de sujeira que o Pó de Flu proporcionava, só usava em momentos de extrema necessidade.
Visitei minha avó, conferindo tudo que ela precisasse e ela me espantou dali.
“Vá logo visitar seus amigos, sei que estão loucos para te ver”.
Eu estava igualmente louca para vê-los.

Aparatei n’A Toca ao entardecer de sexta-feira, havia virado um ritual passar o fim de semana ali, eu, Hermione e Harry sempre estávamos lá. Molly adorava nossa presença, sempre dizia que casa cheia era sinônimo de felicidade, e eu não podia concordar mais. Aquela ali era a minha família, não importa quantos anos passassem, eu sempre me sentiria como uma filha adotada dos Weasley’s, mesmo que um dos motivos de eu ter entrado para aquela família não estivesse mais ali. Avistei a casa que eu tanto amava, e suspirei fundo engolindo um nó que sempre se formava quando eu me aproximava daquele lar.
Encontrei Sr. Weasley na garagem, mexendo em uma televisão.
- Boa tarde, Sr. Weasley. – Falei calma para não o assustar, mesmo assim ele acabou dando um pulo.
- , boa tarde, que bom que você veio... – Ele me abraçou de lado rapidamente e beijou o topo de minha cabeça. – Estou precisando de uma ajudinha sua.
Eu sorri amigável, me aproximando da TV.
- Você sabe o que é isto?
- Sim, é uma televisão. – Falei observando a mesma, era preta, tinha a tela de vidro arredondada e muito parecida com o modelo que minha avó tinha em casa, porém Sr. Weasley já tinha retirado a parte preta de plástico que cobria a parte de trás da mesma.
- Para que serve exatamente?
- Para assistir programas, filmes, novelas, jornais...
- Então esta tela reproduz imagens? Fascinante! – Perguntou ele interessado, esticando seu pescoço para olhar a parte de trás.
- Isso mesmo. É como um rádio, só que com imagens. É muito bom para passar o tempo, só tem que tomar cuidado para não perder tempo demais na sua frente.
- Entendo. E como eu faço para funcionar?
- Bom, no mundo trouxa nós temos a eletricidade, lembra que já te expliquei como funciona? E a TV é ligada nessa eletricidade, e assim ela funciona. Precisa também de uma antena para captar o sinal.
- TV?
- Isso, é um apelido carinhoso para televisão. – Eu sorri.
- É muito engenhoso, esses trouxas... Sempre me surpreendendo! – Ele riu sozinho, entusiasmado. – E você sabe o que é isso aqui?
Ele me entregou um novíssimo modelo de PlayStation com dois controles remotos com os fios enrolados em si.
- Uau, Sr. Weasley, esse sim é um espécime interessante. – Falei animada. Mesmo estando fora do mundo trouxa quase que completamente, eu conhecia o videogame pois minha avó tinha outros netos além de mim, e todas as vezes que eles a visitavam em suas férias, eles levavam o brinquedo para brincar lá.
Os olhos de Sr. Weasley brilharam quando viu meu entusiasmo.
- Isto é um videogame. É um aparelho que a gente conecta na TV e consegue jogar jogos de todos os tipos.
- Jogos?!
- Isso, tem jogos de luta, de corrida, com história e você controla o personagem com isso. – Falei indicando os controles.
- Isso sim é muito interessante... – Comentou ele, desenrolando o fio do controle para olhar melhor.
- Sim, cada botão desse faz o seu personagem fazer algo, como pular, correr, dar um soco... É bem divertido. – Expliquei e ele ficou eufórico. – Mas para isso, precisamos comprar um jogo, ou talvez... – Apertei o botão “Open” do videogame e notei que tinha um CD dentro intitulado “CTR – Crash Team Racing”. – Sr. Weasley, você está com sorte.
Ele deu um pulo animado.
Expliquei como o CD funcionava e todo o processo que ele precisava ter para fazer o jogo funcionar, eu disse que o ajudaria amanhã e ele prometeu procurar todos os cabos, fontes, baterias e antenas que ele tinha guardado na garagem para tentarmos fazer tudo aquilo funcionar.
Segui para a casa, deixando um Sr. Weasley muito animado para trás. Bati na porta e fui atendida por Rony.
- ! – Ele exclamou dando um sorriso sincero e já abrindo espaço para eu entrar. - Entra, entra, eu, Mione e Harry estamos investigando algumas coisas na sala, se quiser ir lá nos ajudar!
O abracei quando entrei na casa.
- Já vou lá, Rony. – O informei e ele voltou para sala apressado.
- , minha querida. – Molly veio até mim de braços abertos, ela cheirava a noz-moscada.
- Oi Sra. Weasley. – A abracei com força. Seus abraços deviam estar em alguma instituição de reabilitação, eu sempre me sentia mil vezes melhor com seus braços em volta de mim. Me sentia bem-vinda. – Como estão as coisas por aqui?
- Estão bem, minha filha, caminhando... Você está tão linda. – Ela disse quando partiu o abraço e olhou meu rosto, alisou minha bochecha e apertou meu queixo antes de me puxar mais para dentro de casa. – Está com fome? O jantar sai daqui a pouco, as crianças estão na sala. George está no quarto dele. GEORGE! – Ela gritou o nome dele me dando um susto. Eu ri, as coisas estavam indo aos poucos ao seu lugar. Nunca seria o mesmo. Mas eu gostava de sentir a família voltando ao seu eixo, barulho, bagunça, os berros de Sra. Weasley, vapor saindo das panelas e um calor amistoso que nos abraçava por completo, era aconchegante demais.
George aparatou a poucos centímetros da mãe, lhe dando um susto, e eu sorri vendo-a sair reclamando em direção à cozinha.
- Achei que você só vinha amanhã. – George disse, envolvendo-me com seus braços.
- É bom te ver também, grandão. – Falei correspondendo seu abraço. De início, achei que George fosse enjoar de minha presença em sua casa, pensei que em algum momento ele fosse me chamar em um canto e dizer “, acho que é hora de você me deixar um pouco em paz”, mas essa conversa nunca veio, estávamos criando um laço mais forte do que nunca, era um laço de dependência emocional, não era a melhor opção, não era saudável para nenhum de nós, porém eu sentia que haviam dias em que eu só pensava “Puxa, faltam apenas dois dias para eu ver ele”, e eu podia sentir que com ele era a mesma coisa, talvez até um pouco pior, já que George ainda não estava saindo de casa. Vim este fim de semana decidida a tirá-lo daqui.
Quando Fred e George decidiram largar o nosso último ano em Hogwarts, pouco antes da formatura, para irem abrir sua loja de Gemialidades, eles haviam alugado um apartamento acima da loja, para morarem juntos e finalmente se desgarrarem d’A Toca. Eu vivia indo para lá depois da formatura, Diretora Minerva, até então Professora, já havia me feito a proposta para ser substituta de Slughorn e eu tirei aquele ano para estudar todos os tipos de Poções, graças ao seguro de vida de meus pais, eu conseguia me manter e ajudar minha avó sem precisar trabalhar, então fiz toda a minha preparação naquele ano, para no ano seguinte ingressar na escola como assistente de Poções. Com todo o acontecido, os ataques agressivos aos nascidos trouxas e perseguições de comensais da morte, a Ordem da Fênix achou melhor eu me esconder n’A Toca, onde podiam me proteger até tudo passar, e foi o que eu fiz. Pouco tempo depois disso, Fred e George também fecharam a loja e vieram se acolher n’A Toca.
Então bem antes da Batalha de Hogwarts, eu já estava habituada a ficar lá com eles, não era seguro eu ficar indo até a casa de minha avó, então apenas enviei uma carta a ela dizendo que eu estava bem e ficaria um tempo sem dar notícias.
- Slughorn fez vista grossa? – Perguntou ele me guiando para a sala, onde encontrei Rony, Harry e Mione sentados no chão em volta da mesinha de centro que estava cheia de papéis e recortes de jornais.
- Uhum, ele está exausto, não sei se vai aguentar até o final do ano letivo. Oi, pessoal. – Falei acenando, Mione e Harry acenaram de volta, concentrados demais para me dar atenção.
Harry, Rony e Hermione estavam trabalhando como Aurores no Ministério da Magia, com o fim da batalha, muitos Comensais acabaram fugindo e agora eram procurados, uma passagem só de ida para Azkaban os aguardava, e meus amigos estavam focados nisso nesse momento.
Hermione já havia me dito em uma conversa particular que não queria ser Auror por muito tempo, tinha outro cargo em vista, mas no momento era o que ela queria fazer, até como forma de ajudar outros nascidos trouxa que ainda podiam estar em perigo.
- Não cheguei a ter aulas com ele, mas pelo que ouvi, até que não era um professor tão ruim. – George comentou sentando-se no braço da poltrona que havia ali.
- Não precisava de muito para ser melhor do que Snape... – Comentei dando de ombros, jogando-me na poltrona que George havia se apoiado, apenas mencionar o nome dele fez Harry, Mione e Rony me olharem de sobrancelhas franzidas. – Me desculpem, sei que ele foi muito importante para a nossa vitória, mas não vamos esquecer de como ele nos tratou durante sete anos.
Rony maneou a cabeça concordando, e Mione também cedeu.
- Qual é, Harry. O cara tratava a gente igual um monte de bosta. – George tentou me ajudar.
- Eu sei, eu sei, é só que... Perdi algumas noites de sono pensando nisso. – Harry disse suspirando.
- Estou realmente grata por tudo que ele fez. Tenho certeza de que ele tinha seus motivos, mas perdoar não é esquecer. – Continuei e vi Rony e Mione concordando comigo. – Ah, Harry, Gina te mandou isso. – Falei abrindo a lateral da bolsa que estava com a alça ainda cruzada em meu peito, e lhe entregando uma carta dobrada de sua amada.
- Ah, o amor jovial. – George suspirou.
Harry pegou a carta encabulado e se afastou para ler.
- , será que você pode me ajudar com uma coisinha? – Mione aproveitou que Harry havia saído, para me chamar, tocando meu joelho.
- Precisa de alguma coisa?! – Rony endireitou-se preocupado e ela sorriu envergonhada para ele, suas bochechas ganhando a cor avermelhada rapidamente.
- É coisa de menina, Ron. Obrigada. – A garota disse, levantando-se e eu fiz o mesmo, deixamos os irmãos nos olhando desconfiados enquanto subíamos as escadas em direção ao quarto de Rony.

Hermione fechou a porta do quarto do namorado, sussurrou “Abaffiato” e andou de um lado para o outro nervosa, a unha do indicador na boca.
- Mione? – Perguntei apreensiva. – Você está me deixando preocupada.
- Desculpa, é que estou um pouco nervosa de te perguntar isso... Mas não tenho com quem falar, Harry é menino, George então, nem se fala, e Gina... Gina é irmã dele. – Ela falou suspirando. Sentei-me na cama, tirando a bolsa de meu ombro para ficar mais à vontade.
Tinha alguma coisa a ver com Rony, engoli seco, estaria Hermione me pedindo conselhos amorosos? Era a única coisa que ela não conseguiria em livros. Talvez em algumas revistas de fofoca adolescente, mas ela não fazia o tipo que consumia esse conteúdo.
Ela parou de caminhar e me encarou com seus olhos castanhos preocupados.
- , me desculpa te fazer passar por isso... – Suspirou novamente. – Mas, como é fazer sexo com seu melhor amigo?
Aquela pergunta me pegou desprevenida, finalmente entendi sua angústia. Não era apenas pela vergonha de querer perguntar algo tão íntimo para mim, já havíamos conversado sobre coisas de menina antes, era também o fato de não querer me fazer pensar em Fred. Ela estava com medo da minha reação, porém, pensando no seu bem-estar, eu sorri. Um sorriso confiante que a fez relaxar, e não um sorriso que a fizesse se arrepender de perguntar.
- É algo natural, Mione. Se não for natural, não está certo. – Respondi com sinceridade.
- Como assim? – Eu adorava sua inocência para coisas tão simples, Hermione era recheada de conteúdo, lembrava-se de todos os ensinamentos que podia aprender com seus estudos, mas não estava preparada para algo tão simplório quanto um relacionamento, creio que ter crescido no meio de dois meninos possa ter a afetado nesse sentido.
- Você não pode se sentir pressionada, tudo tem que ocorrer com naturalidade e simplicidade, você vai saber quando tudo estiver indo na direção certa, sabe? Você está se sentindo pressionada? Ou sente que se acontecesse, sei lá, hoje, você estaria bem com isso?
- Acho que está indo tudo bem, ele não está me pressionando a nada, mas...
- Está vendo? Se tem um “mas”, significa que talvez ainda não esteja na hora. Olha, vocês são feitos um para o outro, vão ter todo o tempo do mundo para isso.
Ela sentou-se do meu lado, ainda nervosa.
- Tá bom, você tem razão. E não foi estranho? Você não sentiu como se estivesse algo errado?
- Não. – Não consegui segurar um sorriso, ela sorriu junto. – Eu sentia que era certo, que era exatamente aquilo que eu devia estar fazendo naquele momento. Você sente, sabe? Eu fiquei na mesma posição que você está agora por um bom tempo, pensando “E se estragar a amizade? Um beijo dá pra relevar, mas será que vai dar para relevar isso?”.
- É exatamente isso que está me incomodando. – Ela afirmou com a cabeça, mordendo o lábio inferior.
- Então para de se incomodar, para de pensar com isso. – Toquei meu dedo indicador em sua têmpora. – E começa a pensar com isso. – Toquei o tecido de sua camisa em seu peito, indicando seu coração. – Vocês dois formam um casal incrível, são completamente apaixonados um pelo outro, não tem o que dar errado nessa fórmula. Tá bom? Fica tranquila, não vai ser estranho nem estragar a amizade, a não ser que você esteja pensando que esse relacionamento não vai ser duradouro... Você pretende terminar com ele ou algo assim?
- Não! É claro que não. – Ela disse estufando o peito, ligeiramente ofendida.
- Então, Mione, deixa acontecer com naturalidade. É a dica que eu te dou. Não fica pensando muito nisso, nem planejando nada, e tu vai ver que vai haver um dia em que vai acontecer e vai ser incrível.
- Mas... Não devia ser especial?
- Vai ser. O primeiro beijo de vocês foi planejado?
- Não. – Ela disse sem graça, entendendo o que eu quis dizer com aquilo.
- E você não acha que foi único? Que talvez, se você tivesse se preparado para aquilo, não teria sido tão bom?
Ela ponderou por um momento e por fim concordou.
- É, acho que foi perfeito do jeito que foi. – Seus olhos não mentiam, um brilho invejável tomou conta deles e eu sorri novamente.
- É isso. A primeira vez de vocês também vai ser assim, essa é a vantagem de namorar o seu melhor amigo. Vai ser incrível e especial, Mione. Não se preocupa, tá bom?
- Você tem certeza? Como você conseguiu olhar na cara dele depois que aconteceu?
- Bom, você conheceu o Fred... Ele era palhaço, brincalhão, mas ele sabia se portar como uma pessoa normal em determinados momentos. Ele era um doce comigo, exatamente o mesmo tipo de doçura que Rony tem com você, talvez seja algo no sangue dos Weasley.
Ela riu pelo nariz, um sorriso bobo tomou conta de seus lábios.
- Levando em consideração o jeito como o Sr. e a Sra. Weasley são, acho que pode ser sim algo genético. – Ela disse rindo, o semblante muito mais tranquilo.
- Verdade. – Eu sorri junto com ela. – Amiga, relaxa, só leva com naturalidade, e se você ver que tem algo te pressionando, chama ele para uma conversa, afinal, vocês são amigos acima de tudo.
- É, mas acho que não vou precisar chegar nesse nível. Ele está sendo um fofo comigo, eu só estou nervosa mesmo, não tenho com quem conversar.
- Ei! Assim você me ofende! – Brinquei e ela sorriu. – Olha, nós nunca fomos as pessoas mais próximas do mundo, mas ainda temos chance de fazer isso acontecer. E convenhamos que tem alguns assuntos que vai ser difícil você ter com quem conversar, Gina é maravilhosa, mas vai ser difícil ter esse tipo de conversa com ela, eu tinha Angelina. E você tem a mim, ok? Não fica com vergonha de me chamar.
- Obrigada, , eu estava precisando colocar isso para fora. – Seu sorriso foi sincero e me senti grata por poder ajudar aqueles dois cabeças-duras.

Após o jantar, ajudamos a Sra. Weasley a arrumar as coisas, e acompanhei George até seu quarto. Ele ainda não tinha perdido o costume de ficar lá trancado, se sentia confortável lá e eu não tinha o direito de tentar roubar esse costume dele.
Conforme o tempo passava, eu tinha a impressão de que o quarto estava perdendo as características de Fred, o seu cheiro, antes impregnado em cada centímetro, agora era só uma lembrança rasa em minha mente, a sua bagunça característica agora era limitada à sua cama feita e seus pertences guardados no guarda-roupas, com exceção de uma foto nossa em pé no criado mudo. Era uma foto minha e dele, assim como antes havia uma foto de George e Angelina do mesmo dia que foi guardada por ele em algum lugar. Ambas foram tiradas no dia da inauguração da loja, onde nós dois sorríamos para a câmera, e eu virava meu rosto para dar um beijo em sua bochecha. Era uma foto adorável que George tinha pena de guardar, eu imagino que por minha causa.
- Como foi sua semana? – Perguntei colocando minha bolsa em um cantinho que eu já considerava “meu” no quarto.
- Foi mais produtiva do que eu esperava, acabei tendo umas ideias legais para a loja, depois te mostro. – George disse, jogando-se na cama.
- Georgie. – O chamei, sentando-me na beirada de sua cama. – Você não acha que está na hora de voltar?
Aquela pergunta havia rondado minha cabeça a semana inteira, pensei em mil formas de o abordar sem parecer rude ou insensível, mas percebi depois de um tempo que George e eu tínhamos uma intimidade onde nenhum podia ficar ofendido com o outro sem uma explicação realmente plausível.
Ele suspirou alto, entrelaçando as mãos sobre a barriga esticado em sua cama que quase era pequena demais para sua altura.
- Não sei, ... Você acha que eu estou pronto?
Ponderei por um segundo.
- Acho que podíamos dar um pulinho lá esse fim de semana, o que acha? Ver como estão as coisas, ajeitar a loja... Só se você quiser, não quero te forçar a nada.
- Acho que podemos tentar sim. – Ele disse olhando para o teto. Era perceptível que ele estava desconfortável.
- Você sabe que não precisa fazer nada que esteja te incomodando, não é? – Perguntei levando minha mão até sua perna.
- Sei sim, você está certa. Eu preciso voltar para a minha vida normal, não posso ficar me escondendo embaixo da asa dos meus pais para o resto da minha vida.
- Só que não precisa ser agora. Tudo tem o seu tempo.
- Já se passaram quatro meses, ...
- Eu sei disso, G. – Suspirei, puxando minhas pernas para cima da cama, onde ele começou a mexer em meus dedinhos do pé distraído. – Mas isso não justifica o teu tempo de cura.
- Eu nunca vou me curar, você sabe disso. Sempre vai ter uma ferida aberta em meu peito.
Aquilo me atingiu com mais força do que eu achei que aquela conversa pudesse me atingir. Saber que George nunca mais seria o mesmo me machucava muito, eu sentia falta do seu sorriso espontâneo e fácil, da sua aura leve e do seu humor ácido, mas precisava entender que talvez ele nunca mais fosse ser aquela pessoa novamente e acima de tudo, eu precisava aceitar aquele novo George do mesmo jeito que eu aceitava o outro. Não era uma tarefa difícil, eu o amava independente de qualquer circunstância.
- Essa ferida pode não se curar, mas com certeza não vai doer tanto.
- É... – Ele ficou em silêncio por alguns segundos, ainda distraído com meu pé. – Acho que vou chamar o Lee, o que acha?
- Acho uma ótima ideia.
Fazia tempo que eu não falava com Lee, trocávamos correspondências semanais, mas apenas conversas banais para não perder completamente o contato. Seria bom tê-lo junto.

No dia seguinte, fiquei a manhã inteira empenhada com o Sr. Weasley, a televisão e o videogame, George trabalhou conosco como se fosse um ajudante de mecânico, procurando os utensílios necessários que Arthur havia separado na noite passada.
Perto do meio dia conseguimos ligar a televisão e o PlayStation, utilizando magia atrelada à uma bateria de carro antiga, eu conectei os cabos do videogame na TV e comemoramos animados antes de Sra. Weasley nos chamar para almoçar.
De tarde todos fomos até a garagem para ver se o jogo funcionaria e deu certo. Praticamente perdemos a tarde inteira jogando o jogo de corrida de Crash, onde eu e Harry acabamos ganhando quase todas as partidas por termos um conhecimento prévio de como lidar com um videogame, Harry disse que quando seu primo ganhou um, ficou dois anos sem poder jogar, apenas observando-o jogar durante as férias de verão. Rony, Hermione e George jogaram bastante conosco, sempre alternávamos as duplas e fiquei feliz de ver algumas risadas fugindo do semblante sério de George, ele adorava ganhar de Rony que por sua vez, era extremamente competitivo.
À noite, Rony, Harry e Hermione nos mostraram como estava a sua investigação à procura dos Comensais que fugiram durante a queda de Você-Sabe-Quem. Conversamos sobre o assunto, Hermione tomando nota de tudo que sugeríamos como uma possibilidade a ser estudada. George escreveu uma carta para Lee, o convidando para nos acompanhar amanhã em nossa primeira ida à Gemialidades Weasley e continuamos fazendo companhia ao trio de ouro até a hora em que minhas pálpebras não conseguiam mais se manter abertas.

Estávamos parados em frente à loja Nº 93 do Beco Diagonal, a loja era uma grande sala de esquina, a fachada ainda estava impecável tirando a poeira que vinha da rua.
George deu um passo na direção da porta de entrada e eu encarei Lee por um segundo, ele me dando de ombros, como se dissesse “Ele consegue”.
Entramos na loja, tudo parecia estar em seu devido lugar, uma poeira fina característica de algo que estava fechado a muito tempo estava em cima de todas as prateleiras e itens distribuídos sobre os estandes. Peguei um frasquinho rosa sobre uma bancada, o vidro em forma de coração me fez sorrir, me lembrando do dia em que fiz minha primeira leva da Poção do Amor.
Lee soltou um espirro ao meu lado e devolvi o frasco ao lugar, fui com ele até George e segurei a mão de meu melhor amigo, tentando ler o que se passava em seu peito.
- Está exatamente do jeito que deixamos. – Ele disse, com a voz fraca.
- Isso é bom, não é? – Perguntou Lee, pondo a mão em seu ombro.
George não respondeu, pegou sua varinha gasta e com um aceno na direção do balcão de pagamento, a loja inteira tomou vida: as luzes se acenderam, brinquedos começaram a se mexer, contas coloridas voavam por nossas cabeças, prateleiras giravam e aquilo aqueceu meu coração por um momento. Peguei minha varinha e sussurrei “Tergeo”, fazendo um pequeno redemoinho varrer a loja com sutileza, retirando o pó de todas as superfícies e seguindo para a porta em que entramos.
George andou pela loja distraído, eu e Lee nos entreolhávamos a todo momento, com medo do que ele podia vir a fazer, mas ele apenas encarava as coisas com o olhar triste, sem reação aparente, com seus ombros caídos de maneira melancólica.
Eu gostaria de poder sugar toda aquela tristeza para mim como um Dementador inverso, deixando-o novinho em folha, com uma autoestima acima da média, como ele sempre teve e uma malandragem digna de um prêmio importante.
Eu também olhava a loja de maneira distraída, memórias me abraçando como uma brisa quente, porém ao contrário de me fazer ficar triste, aquelas memórias me aqueciam, me peguei sorrindo algumas vezes, lembrando de como alguns produtos foram testados e de como aquilo deixava meus amigos felizes. Espiei Lee algumas vezes e percebi que ele tinha a mesma reação que eu, olhava alguns frascos e sorria, sua memória o confortando da maneira que podia.
- Ei, está tudo bem? – Perguntei em certo momento, vendo George olhar fixamente para os Cristais do Cupido.
- Está sim. – Ele sorriu fraco para mim. – É só que são tantas memórias.
- São mesmo, não é? Mas são uma coisa boa. – Falei alisando suas costas, tentando de alguma forma demonstrar conforto.
- As memórias são a melhor parte. – Lee afirmou se aproximando de nós. – G, ele está eternizado aqui. Essa é a marca que ele vai deixar para o mundo.
- Sim, que a alegria sempre vai prevalecer, mesmo nos momentos mais sombrios. – Eu disse, apoiando.
George deixou um sorrisinho escapar por seus lábios novamente, e nesse momento ouvimos o sino da porta tocar. Duas crianças por volta dos seus dez anos entraram na loja.
- A loja está aberta? – A menina perguntou, os olhos brilhando de animação.
- Ainda não. – Lee respondeu. Era nítido o desapontamento que as crianças ficaram.
- Ah, que pena! Sempre viemos aqui e ficamos querendo entrar! – O garotinho respondeu cabisbaixo.
- Logo reabrirá. – Ouvi a voz de George dizer e o olhei, não conseguindo segurar um sorriso. – Estamos organizando as coisas para que isso aconteça o mais breve possível, está bem?
As crianças concordaram com a cabeça, ainda desanimadas por não poder comprar nada, mas esperançosas para logo poder voltar. Saíram de lá correndo para contar a novidade aos pais. George soltou o ar quando as crianças deixaram o estabelecimento.
- Vou precisar de ajuda. – Ele admitiu incerto.
- Eu te ajudo agora no começo, tenho certeza de que o Ministério pode esperar. – Lee disse sorrindo abertamente, foi só quando eu vi seu sorriso que notei quanto tempo fazia que eu não o via com um sorriso daqueles no rosto.
- Eu venho todos os fins de semana. – Me ofereci também. – Podemos começar dando uma olhada nos estoques hoje. Assim você consegue ir produzindo o que estiver com baixa durante a semana, o que acha?
George concordou, seu semblante ligeiramente mais confiante e fiquei extremamente feliz por isso.
Passamos o dia inteiro conferindo tudo ao som do pequeno rádio que ressonava em vários reprodutores de som espalhados pela loja, olhamos cada prateleira, cada embalagem, e cada sickle deixado na caixa registradora. Ao final do dia, eu tinha um rolo grande de pergaminho flutuando ao meu lado que já estava encostando no chão com uma pena de repetição rápida anotando tudo o que eu ia dizendo, George e Lee estavam dentro do estoque me informando tudo o que tinha lá.

Quando já anoitecia, Lee se despediu de nós indo para sua casa. Ficou combinado que George ficaria responsável por produzir o que estava com o estoque mais baixo e informaria Lee quando estivesse terminando para que eles, juntos, combinassem o melhor dia para reabrir a loja. George o agradeceu tanto que Lee foi embora dizendo que se ele agradecesse mais uma vez, ele iria desistir da ideia pois não aguentava mais ouvir aquela palavra.
Ficamos sozinhos na loja, George jogou-se na cadeira que estava atrás do caixa tão exausto quanto eu.
- . – Me chamou depois de um tempo, eu estava olhando os produtos distraída, com as mãos no bolso de trás da minha calça.
- Sim? – Perguntei me aproximando do balcão do caixa.
- Obrigado por fazer isso. – Seus olhos estavam cansados, mas um sorriso sincero estava em seus lábios.
- Você não precisa me agradecer.
- Preciso sim. Se não fosse você, eu não sei o que seria de mim.
- Se não fosse eu, você seria um panaca desde o primeiro ano em Hogwarts. Você tinha que vir me agradecendo desde lá. – Brinquei, e ele riu fraco, cruzando os braços sob o peito.
- Você só entrou para o time de Quadribol por nossa causa. – Ergueu as sobrancelhas me desafiando.
- E vocês nunca teriam descoberto como ler o Mapa do Maroto.
- E você nunca teria dado uma vomitilha ao Malfoy.
- E vocês não teriam Poções do Amor decentes para vender nessa loja.
Por fim estávamos rindo, um pegando no pé do outro como fazíamos antigamente, aquela era uma cena que eu teria que guardar dentro do meu peito para sempre: George sorrindo abertamente depois de tudo.
Ouvi algumas notas de violão tocarem no reprodutor de som, que ainda estava conectado ao rádio, e pulei de onde eu estava, fui até ele e estendi as mãos. Ele entendeu a deixa e segurou minhas mãos, contrariado. (Ouça aqui)
O puxei para o centro da loja, olhei em seus olhos tristes antes de passar meus braços por suas costas e nos embalamos lentamente, ao som daquela música que eu conhecia tão bem.

So, so you think you can tell
(Então, então você acha que consegue distinguir)
Heaven from hell?
(O paraíso do inferno?)
Blue skies from pain?
(Céus azuis da dor?)
Can you tell a green field
(Você consegue distinguir um campo verde)
From a cold steel rail?
(De um trilho de aço frio?)
A smile from a veil?
(Um sorriso de uma máscara?)
Do you think you can tell?
(Você acha que consegue distinguir?)

Aquela letra se encaixava em tantas maneiras conosco que eu o abracei mais forte, deitando minha cabeça em seu peito e ouvindo seu coração bater alto junto com o meu, um tanto disparado, deixando a melodia me inundar por completo. George tinha seus dois braços em volta do meu corpo, me guiando para um lado e para o outro com uma calma surpreendente, ao contrário do que imaginei, ele estava confortável ali comigo.

Did they get you to trade
(Eles conseguiram que você trocasse)
Your heroes for ghosts?
(Os seus heróis por fantasmas?)
Hot ashes for trees?
(Cinzas quentes por árvores?)
Hot air for a cool breeze?
(O ar quente por uma brisa fresca?)
Cold comfort for change?
(O bom conforto por mudanças?)
Did you exchange
(Será que você trocou)
A walk-on part in the war
(Um papel de figurante na guerra)
For a lead role in a cage?
(Por um papel principal numa cela?)

Tenho certeza absoluta de que George se identificou, pois senti seu peito tremer sobre minha cabeça, e ouvi ele fungar. Nós havíamos trocado heróis por fantasmas, o conforto por mudanças e um papel de figurante na guerra pelo papel principal em uma cela em nossas próprias mentes. O abracei ainda mais forte, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, ele acariciou minhas costas, ainda me embalando devagar, e continuamos ouvindo aquela música que tinha tantos significados que doía em minha alma.

How I wish
(Como eu queria)
How I wish you were here
(Como eu queria que você estivesse aqui)
We're just two lost souls
(Nós somos apenas duas almas perdidas)
Swimming in a fish bowl year after year
(Nadando em um aquário ano após ano)
Running over the same old ground
(Correndo sobre o mesmo velho chão)
What have we found?
(O que nós descobrimos?)
The same old fears
(Os mesmos velhos medos)
Wish you were here
(Queria que você estivesse aqui)
Eu já não continha mais minhas lágrimas, deixando que elas lavassem meu rosto depois de um dia tão produtivo como aquele. George não estava diferente de mim, choramos juntos ainda nos embalando no ritmo final da música. Sua mão estava atrás da minha cabeça, acariciando meus cabelos e me senti uma idiota por tê-lo feito ouvir aquela música mas junto disso, eu me sentia feliz.
Talvez fosse o momento, talvez fosse a boa vibração que eu sentia dentro de George, e talvez fosse Fred nos acompanhando naquele momento tão difícil, só sei que quando a música parou e nos separamos, olhei nos olhos de meu melhor amigo, limpei meu rosto com as costas da mão e sorri, agradecendo mentalmente por ter uma pessoa tão incrível para me acompanhar naquela maratona de turbulências que parecia não ter mais fim.
E ele correspondeu o sorriso, me puxando de volta para um abraço junto de um beijo no topo de minha cabeça.
- Eu queria que ele estivesse aqui. – Disse ele suspirando, citando a música.
- Eu também, Forge. Eu também.

Flashback – 30 de setembro de 1990 – Campo de Quadribol

Corri até a arquibancada da Grifinória e sentei ao lado de Lee que também veio ver os testes.
Vejo o pequeno tumulto lá embaixo, avisto os cabelos flamejantes de Fred e George e consigo distinguir os cabelos negros de Angelina, o olhar dela sobe até mim e abano com a mão sorrindo. Ela corresponde.
Os três fariam o teste para entrar para o time de Quadribol, Angelina queria ser atacante e os gêmeos batedores, enquanto todos voavam e mostravam o seu melhor, eu e Lee conversávamos rindo dos desastres de alguns e da habilidade de outros.
- Acho que a Angelina consegue entrar para o time, ela é ótima! – Falei animada para Lee e ele concordou fervorosamente.
Angelina havia acertado todos os gols que foram designados a ela, e os gêmeos eram outro show espetacular de ver, era como se as vassouras fizessem parte do corpo deles, assim como os bastões. Eles voavam tão entrelaçados que pareciam ler as próprias mentes (coisa que eu ainda desconfiava que realmente acontecia), faziam manobras arriscadas e derrubavam todo e qualquer obstáculo que colocavam em sua frente.
Eu e Lee comemorávamos na arquibancada junto com outros companheiros de outros anos que vieram prestigiar os colegas.
- Vocês estavam ótimos, vou falar com os outros integrantes, mas acho que é bem provável que a vaga seja de vocês. – Ouvi Oliver Wood dizer para os gêmeos quando nos aproximamos. Abracei Angelina a levantando um pouco do chão, dando risada.
- Você foi incrível! – Falei quase gritando de animação, eu realmente estava eufórica com tudo aquilo. – Não errou nenhuma vez, foi emocionante de ver!
- Eu nem sei explicar como foi! – Ela disse rindo, ainda desacreditada que havia se saído tão bem nos testes.
- Você foi ótima, Angelina. – Lee disse a abraçando também, e aproveitei o momento para abraçar cada um dos gêmeos.
- Vocês também foram demais! Parece que estavam lendo a mente um do outro. – Falei fazendo movimentos com a mão, simulando os dois voando. Os dois riram da minha animação.
- A gente treinou durante as férias, Charlie ajudou bastante. – George disse, ainda suspirando alto pela empolgação. Eles já haviam mencionado seu irmão mais velho algumas vezes, eu já começava a sentir que Charlie era o irmão mais chegado neles.
- É, bem, nosso irmão ajudou, mas o mérito é nosso pelo incrível poder de ler mentes. – Fred brincou sorrindo e Oliver virou os olhos para cima rindo junto.
- E você, ? Não quis fazer o teste? – Oliver perguntou simpático, eu o achava um gato e senti minhas bochechas queimarem por um segundo. – Estamos realmente precisando de um apanhador decente. – Sussurrou a segunda parte, com medo que o atual apanhador o ouvisse.
- Ah, eu sou péssima com a vassoura. – Falei sem graça, aquele era um assunto que me incomodava um pouco, mas eu nunca tive coragem de admitir para ninguém.
- E por que os dois aqui não te ajudam com isso? – Oliver era um pouco mais alto do que os gêmeos, eu sorri sem graça sem saber o que dizer, estava nervosa demais com a sua proximidade.
- Porque ela nunca pediu! – Fred se defendeu e recebeu um cutucão de cotovelo de George.
- Você quer que eu te ajude a praticar? Posso pensar em algum momento vago entre os estudos e os treinos do time para te ajudar...
- Wood, está tudo bem. – Falei sem graça, não queria que ele achasse que meus amigos estavam fazendo pouco caso sobre aquilo, sendo que eu nunca havia admitido que gostaria de aprender a voar bem de vassoura para assim ter alguma possibilidade de fazer testes para entrar no time de Quadribol.
- Porque você não vai lá em casa durante as férias? – Fred perguntou rápido, como se quisesse cortar o assunto de Oliver.
- Ah, não... Não quero incomodar. – Falei imediatamente, mesmo que em meu interior, meu coração batesse rápido demais, apenas com a possibilidade de poder fazer coisas de bruxo durante as férias e não simplesmente fingir ser quem eu não sou na casa de minha avó.
- Deixa de ser besta, , é uma ótima ideia. – George disse, com um sorriso sincero no rosto.
- A gente te ensina a voar definitivamente e ano que vem você faz um teste para o time. – Fred diz empolgado e eu suspiro, enquanto todos me olham apreensivos.
- É, acho que pode ser.
Continuamos conversando sobre como eles foram bem, os resultados oficiais sairiam na próxima semana, mas a fofoca na sala comunal já era certa de que Angelina e os gêmeos seriam os escolhidos para entrar no time. Lee sempre mostrou uma indisposição saudável com esportes, então sempre fazia parte do comitê de narração, e eu o acompanhei neste ano enquanto não aprendia muito bem a voar. Comecei a me dedicar mais nas aulas de Madame Hook para não ser uma completa perda de tempo quando os gêmeos fossem me ensinar durante as férias.

***

13 de julho de 1991 – Residência dos
Convenci minha avó a limpar a lareira naquele dia, ela fez questão de fazer um bolo de chocolate para recepcionar meus amigos e seu pai que viriam me buscar para passar algumas semanas em sua casa.
Na cabeça de minha avó, parecia uma completa loucura que eu fosse passar algumas semanas na casa de estranhos, ela era uma grande entusiasta do “não”, mas consegui a convencer de pelo menos aceitar uma ligação por telefone de Sra. Weasley, que se mostrou uma mulher muito simpática que conseguiu convencer minha avó, mesmo aos berros do outro lado da linha.
- Vó, calma. Está parecendo até que vamos participar de uma entrevista na televisão. A casa está ótima, você também. – Falei soltando uma risada, vendo-a arrumar o vaso de petúnias em cima do piano de meu pai três vezes seguidas.
- Só estou nervosa com seus amigos bruxos, e se o pai dele nos achar antiquadas? E se ele achar que você não deve ir para lá? – Assim que ela se entendeu com a Sra. Weasley, o jogo virou e ela queria impressionar o máximo que pudesse.
- Tenho certeza de que o Sr. Weasley não vai achar isso... – Falei, e ouvimos algumas vozes vindo da lareira. Logo depois das vozes, uma pequena nuvem de fumaça de fuligem adentrou a sala, como se alguém tivesse dado um pulo lá dentro.
Um homem adulto, alto com roupas manchadas de fuligem e cabelos vermelhos ligeiramente grisalhos saiu de dentro da lareira com certa dificuldade.
- Uau, que lareira apertada, Sra. ! – Ele disse de maneira divertida. Minha avó estava aturdida demais para falar qualquer coisa. – Me chamo Arthur Weasley.
- Vovó. – Sussurrei para ela, tentando acordá-la do susto de ver um homem daquele tamanho sair de sua lareira.
Ela apertou sua mão de supetão, ainda meio assustada. Apertei sua mão também, dando meu melhor sorriso.
Ouvi mais vozes vindo da lareira e logo depois Fred saiu de lá, com muito mais facilidade do que seu pai, seguido de George e depois ainda surgiu um garotinho que eu não conhecia, mas que tinha cabelos tão vermelhos quanto os três que saíram de lá antes dele.
Fui abraçar meus amigos sem conseguir segurar um sorriso no rosto, eles corresponderam.
- E então, está pronta para usar Pó de Flu? – Perguntou George, puxando levemente a ponta de minha trança, penteado que minha avó fez para fingir que sou uma pessoa certinha e comportada para os pais dos gêmeos.
- Dói bastante, mas como você pode ver, com o tempo você se acostuma. A primeira vez é sempre a pior. – Fred disse, indicando o pequeno atrás deles, que estava encantado demais com a decoração da casa para dar ouvidos para o que eles falavam. Eu estava fielmente desconfiada de que aquilo era mentira, mas gostava da cara de cumplicidade que eles faziam quando eu acreditava em qualquer coisa que eles falassem.
Minha avó e o Sr. Weasley entraram em uma conversa profunda sobre cuidados com filhos, enquanto eu mostrava a casa para os meninos.
- E você, quem é? – Perguntei ao pequenino que nos acompanhava.
- Rony. – Ele respondeu, suas orelhas imediatamente ficando vermelhas.
- E então, Rony, como é ter esses dois idiotas como irmãos mais velhos? – Perguntei, dando uma risada alta e vendo os dois amarrarem a cara para mim.
- É bem difícil. – O menino bufou alto, não querendo falar muito para não se comprometer mais tarde.
- Meninos, ajudem com as malas. – Ouvimos a voz de Sr. Weasley dizer da sala, e indiquei meu quarto com a cabeça.
- Eu imagino, Rony. Passo por isso o ano letivo inteiro. – Falei, bagunçando seus cabelos lisos, e ele sorriu cúmplice para mim.
- Você não vive sem a gente, . – Fred disse convencido.
Entramos em meu quarto, os três com olhos atentos a qualquer detalhe que pudesse virar um alvo de piadas ou ser usado contra mim em algum momento. Meu quarto tinha as paredes amarelas com móveis de madeira envernizada, nada muito especial. Minha cama estava arrumada e em cima da cama meu patinho de pelúcia, que combinava com a cor das paredes, repousava sobre o travesseiro.
George jogou-se na cama e agarrou o pato enquanto Fred olhava minhas coisas minuciosamente sobre a escrivaninha com espelho, abria minhas caixinhas de joias e olhava atentamente cada fotografia. Rony observava tudo com as mãos atrás do corpo, como se estivesse com medo e vergonha de estar ali. Fui até a janela, e abri a gaiola de Judith, minha coruja.
- Judith, estou indo para a casa deles. – Apontei para Fred e George. – É A Toca, você consegue encontrar?
Ela piou carinhosamente e eu sabia que conseguiria, bebeu um pouco de água e saiu voando pela janela, Rony se debruçou para vê-la voar na rua.
Ficamos falando sobre qualquer besteira, enquanto eles me perguntavam sobre meu telefone de hambúrguer, minhas revistas de adolescentes e minha coleção de mini brinquedos da Kinder.
Minha avó nos chamou para comer bolo antes de irmos, e descemos com minhas malas.
Rony e os gêmeos adoraram o bolo de chocolate de minha avó, só não comeram tudo pois o Sr. Weasley pigarreou alto quando Rony foi pegar o terceiro pedaço. Sr. Weasley finalizou o chá que minha avó havia oferecido e nos guiou novamente até a sala.
Me explicou como funcionava o Pó de Flu e em nenhum momento comentou que doía, mesmo assim fiz questão de perguntar, apenas para ver o sorriso bobo no rosto de meus amigos.
- É claro que não dói, faz muita sujeira, isso faz, mas não se preocupe! – O Sr. Weasley garantiu, e confirmei minhas suspeitas, vendo-os dar risadinhas bobas tapando as bocas com a mão. Até Rony fez parte do coro de chacota às minhas custas. Traidor.

Vi minha avó por trás das chamas verdes que lamberam meu corpo inteiro, me transporei por um caminho de poeira e cheiro de lenha molhada até sentir meus pés firmes e meus amigos, empoeirados, me puxarem para fora da lareira, batendo suas mãos em meu ombro e cabelo, tentando me “limpar”.
- Oh, querida, seja bem-vinda! – Uma senhora baixinha, gordinha, de cabelos ruivos e com o rosto mais doce do mundo me puxou para um abraço forte e aconchegante.
- Muito obrigada por me receber, Sra. Weasley. – Fiz questão de recitar a frase que minha avó insistiu em me fazer decorar.
- Não seja boba, é um prazer receber uma garota aqui para variar! – Ela disse me soltando do abraço. Passou a mão pelo meu rosto, analisando melhor as minhas feições. – Tenho que dizer, que de todos os meus filhos, Fred e George eram os últimos da lista que eu diria que trariam uma garota para cá.
- Tudo bem! – Fred disse me puxando pelo ombro, guiando-me para fora da sala.
- Deixe a garota respirar, mulher! – George exclamou, fazendo a mulher soltar uma bufada indignada.
- Foi um prazer te conhecer, Sra. Weasley! – Consegui dizer, espichando a cabeça para dentro da casa enquanto os garotos me empurravam para fora. A mulher soltou uma risada por fim.

Passamos quase todo o período em que fiquei lá, em cima de vassouras. Eu usava qualquer uma que estivesse vaga no momento, de Charlie, de Rony, de Percy... Os gêmeos me ensinaram as regras do jogo e Rony sempre nos acompanhava nos treinos. Gina era a irmã mais nova deles e ainda não tinha permissão para voar, então ficava sentada no banco de madeira que ficava do lado de fora da casa, com as perninhas balançando rindo quando fazíamos alguma besteira para lhe alegrar.
Acabei pegando a prática no terceiro dia de treino, os gêmeos disseram que eu deveria treinar para ser a apanhadora do time, mas em apenas uma visita em um fim de semana, Charlie bateu os olhos em mim em um treino e disse que eu tinha a agilidade e agressividade de uma artilheira.
Desde este dia, mudamos a estratégia e treinamos minha pontaria para acertar os aros, fiquei boa a ponto de Rony não conseguir me defender mais, e chamamos Percy para ajudar. Percy não gostava de se misturar conosco, mas fazia o favor pois a Sra. Weasley o obrigava, no ano seguinte ele seria monitor e estava “especialmente bobalhão e pomposo”, como os gêmeos gostavam de lembrar.
Foram as melhores férias de verão da minha vida. Eu finalmente podia ser quem eu era sem precisar me esconder, e aquela foi a primeira de muitas férias que eu passaria lá, todos os anos seguintes eu marquei presença nas férias de verão na casa dos Weasley’s, não demorou muito para eu ser convidada a passar os feriados lá também, e aquele ano foi o primeiro em que ganhei um suéter de lã amarelo queimado, com minha inicial no meio, da Sra. Weasley no natal. Nunca, em toda a minha vida, me senti tão em casa quanto eu me sentia naquele lugar, com meus melhores amigos.

Fim do flashback



Capítulo 4

Beco Diagonal – 05 de dezembro de 1998 – Loja das Gemialidades Weasley

Ponto de vista: George

Respirei fundo, sabendo que aquele era o momento, me olhei no espelho jogando água no rosto e fechei os olhos, tentando colocar minha mente no lugar.
- G, você está bem? – Ouvi a voz de Lee do outro lado da porta.
- Estou, só um minuto. – Menti secando o rosto e dando uma última olhada no reflexo no espelho, vendo as olheiras ainda visíveis abaixo de meus olhos.
Não havia energizante no mundo que me transformasse em uma pessoa normal de novo.
- Cadê a ? – Perguntei assim que saí do banheiro, vendo Lee levantar os ombros em dúvida. – Ela disse que viria, não é?
- É claro que disse, G. Logo ela está aqui, tenha calma.
O nervosismo e o arrependimento tomavam conta de mim, subindo em meu peito e trancando minha garganta. Eu não estava pronto para a inauguração da loja, e a falta que fazia só piorava as coisas.
Com o fim de ano chegando perto, ela estava mais ocupada em Hogwarts por conta do feriado de inverno e mal conseguia me enviar cartas durante a semana, mas tinha me prometido que viria me ajudar na inauguração e nos fins de semana, minha cabeça havia se acostumado tanto com a ideia de tê-la por perto, que agora que ela não estava ali, eu estava entrando em colapso.
Afrouxei o nó da minha gravata roxa e retirei meu paletó marrom de camurça sentindo-me sufocado com toda aquela situação angustiante, tudo na loja estava pronto, o estoque estava cheio, as prateleiras organizadas, o caixa tinha bastante troco e Lee estava lá para me ajudar, usando um avental azul marinho que minha mãe havia bordado o nome da loja e o nome de Lee em letras alaranjadas. Então porque eu tinha essa sensação de estar apressando as coisas? Uma sensação de incompetência misturada com desgosto, como se nada ali dentro fizesse sentido sem ele.
Lee segurou meus ombros, imagino que a vontade dele era de me dar um tapa no rosto para me fazer voltar à realidade.
- Cara, calma. Está tudo certo, tudo organizado e tudo dentro da programação. já deve estar chegando, ela nunca iria te deixar num momento como esse, então só respira fundo e relaxa. Ainda falta meia hora para abrirmos. – Lee disse com a voz agitada que ele sempre teve.
Respirei fundo novamente, estava hiperventilando.
Olhei na direção da porta, vendo as pessoas encasacadas pelo vidro da vitrine e mesmo com o frio de dezembro eu suava feito um grande trasgo.
Andei de um lado para o outro, tentando esquecer um pouco o fato de que eu parecia estar traindo meu falecido irmão, tentei de várias formas me distrair, abri a caixa registradora três vezes seguidas troquei utensílios de lugar nas prateleiras. Por fim, eu estava dentro do estoque olhando tudo sem saber realmente o que fazer, as mãos na cintura, pensando em tudo.
- Georgie? – Ouvi a voz de atrás de mim. Me virei de supetão e senti seus braços envolvendo meu pescoço. – Como você está, grandão?
- Estou bem. – Tentei disfarçar, engolindo seco enquanto retribuía seu abraço.
- Por que você ainda se dá ao trabalho de tentar me enganar?
Porque eu gosto de tentar te enganar.
Dei uma risadinha fraca com minha tentativa de brincadeira e ela retribuiu.
- Olha só, eu sei que você deve estar pirando. – Ela disse, soltando os braços de meu pescoço e encostando no batente da porta. – Mas está tudo bem, Georgie.
Lee provavelmente havia avisado que eu estava endoidando.
- Não está tudo bem, . – Passei a mão pelo meu cabelo, ainda nervoso.
- Você sabe que é o que ele ia querer. – Eu sempre era pego desprevenido, não pensei que ela fosse tocar nesse assunto tão diretamente. - Você não está traindo a memória dele, está homenageando, está trazendo de volta tudo que ele sempre quis.
- Eu queria que fosse assim fácil.
- Não estou dizendo que é fácil, G. – Sua mão acariciou meu braço. – Eu só quero você entenda que está fazendo a coisa certa, essa loja aqui é tudo pelo que vocês trabalharam. Vocês criaram isso juntos, é aqui que ele queria estar, é aqui que ele quer que você esteja.
Ela deslizou a mão do meu braço para o meu peito, acima do meu coração, e eu senti lágrimas brotando em meus olhos quando vi os seus brilharem de maneira diferente.
- É tão doloroso, . – Admiti por fim, vendo-a vir me abraçar de novo, dessa vez sua mão foi parar em minha nuca e ela afagou meus cabelos.
- Eu sei, mas vai passar, tá bem? Eu prometo. – Disse ela, enterrei meu rosto em seu pescoço e respirei fundo pela milésima vez naquele dia. Seu cheiro me lembrava infância e fazia eu me sentir em casa.
- Eu só queria que essa angústia passasse. Só isso.
- Quando você menos esperar, vai perceber que já passou. Olha só, eu ouvi Fred falar sobre essa loja durante anos, diariamente, incansavelmente e incessantemente. Era o sonho dele, é tudo que vocês batalharam... Não existe motivo plausível para você não reabrir essa loja, Georgie.
Ela ainda acariciava minha nuca quando Lee interrompeu nosso momento:
- Gente, está na hora.
- Você consegue. – Ela sussurrou para mim dando uma piscadela, apertou minha gravata, arrumou a gola de minha camisa e virou-se para Lee. – Eu ganho um avental maneiro assim?
- Sim, vem comigo. – Lee chamou-a indicando com a cabeça o caminho e eu respirei fundo criando coragem para sair dali.

A loja encheu com facilidade, a maioria dos clientes eram crianças e adolescentes. O Kit Mata-Aula foi o grande sucesso da vez, todo mundo se preparando para burlar as provas de final de semestre.
Durante o processo de responder perguntas, atender clientes, ajudar no caixa, arrumar objetos fora do lugar, retirar produtos do estoque para reabastecer as prateleiras, responder mais perguntas e ser simpático, percebi que não pensei em Fred quase o dia inteiro... Não da maneira melancólica que a perda me fez vê-lo, mas sim de maneira saudosa, lembrei da nossa primeira inauguração, de como andávamos juntos em todos os lugares e respondíamos perguntas juntos de maneira tão espontânea que era razoável o boato de que líamos a mente um do outro.
Me peguei sorrindo de verdade lembrando de alguns momentos, e também sorri de verdade vendo Lee e tão animados com o caos em que a loja se encontrava.
O local não ficou vazio em absolutamente nenhum momento.
passava por mim como um furacão, repondo objetos do estoque utilizando sua varinha para trazer vários frascos e caixas de uma só vez. Me mostrava a língua cada vez que me via.
Lee estava cuidando mais do caixa, me chamava quando algum cliente pedia descontos por estar levando mais de três itens ou quando algum reclamava do preço das coisas.
Alguns rostos conhecidos passaram por lá, meus pais vieram para dar um olá, e me desejar boa sorte, minha mãe ficou conversando alguns bons minutos com .
Hermione apareceu com Neville Longbottom, explicou que Ron e Harry estavam em Roma fazendo algumas pesquisas e não poderiam vir, mas que mandaram lembranças.
Neville comprou um par de Orelhas Extensíveis, e ficou longe do Creme de Canário alegando que ainda lembrava do sabor das penas em sua garganta, aquilo arrancou risadas de mim e de .
- Me desculpe por aquilo, Nev! – disse ainda rindo, pondo sua mão no ombro do garoto, fazendo-o dar de ombros rindo também. – Foi um mal necessário, e quero deixar bem claro que eu fui contra! Não fui, Georgie?
- Foi sim, foi tão contra que está se desculpando até hoje, mais de três anos depois. – Denunciei ainda rindo, percebendo que a mão dela ainda estava sobre o braço dele, sutil, leve e despretensiosa.
- Não dê ouvidos a ele Nev, eu sempre te defendi das trambicagens dos três malfeitores. – Os três malfeitores era como Angelina e ela se dirigiam a mim, Fred e Lee durante os nossos tempos de escola.
- Isso é verdade. Não posso negar que as vezes seu nome surgia como sugestão na hora de testarmos algum produto novo. – Falei sem graça, coçando a nuca e ele sorriu.
- Está tudo bem, eu sei que não era o aluno mais atento da Grifinória mesmo... – Ele disse e sorriu.
- Não seja bobo, Nev. Finnigan vivia explodindo tudo que via pela frente... – o defendeu.
- É verdade, não sei como McGonagall nunca tirou pontos dele por isso. – Hermione interviu dando risadinhas também.
- Enfim, vou voltar ao trabalho antes que meu chefe brigue comigo. – disse, olhando de lado para mim, como se estivesse tentando disfarçar que falava sobre mim, nos arrancando algumas risadas. – Foi bom ver vocês dois.
Ela abraçou Hermione e Neville, indicando um “até segunda-feira” para ele.
Vários outros ex-alunos de Hogwarts deram as caras na loja, todos sempre muito simpáticos comigo. No fim da tarde, quando estávamos lentamente começando a colocar as coisas em ordem pois o movimento havia caído drasticamente -o ápice foi depois do almoço-, mais uma pessoa entrou na loja, tive um pequeno descompasso quando a vi, mas mantive a compostura.
foi cumprimentá-la primeiro.
- Angel! – a abraçou com vontade, levantando-a do chão como costumava fazer na escola.
Era a primeira vez que eu via Angelina depois do término. Eu não sabia exatamente como reagir, e nem como ela reagiria.
Aproveitei que a distraía e fui até Lee.
- Angelina está aqui. – Indiquei a entrada da loja com a cabeça, e Lee disfarçou olhando as duas conversando animadamente.
- E agora? – Sussurrou ele para mim. E eu ergui os ombros em dúvida. – Espera para ver se ela vem conversar contigo, ela sabe que a loja é sua.
Ver Angelina ali aqueceu meu coração por saber que se ela havia reservado um tempinho do seu dia para ir até lá, talvez ela não estivesse tão brava comigo afinal. Eu não queria ter um relacionamento com ela, mas não significava que eu não queria tê-la por perto. Ela era uma amiga incrível.
Eu não conseguia ouvir o que as duas cochichavam entre elas por conta de minha orelha, e nem precisei, pois em menos de um minuto, senti dedos cutucando meu ombro enquanto Lee fingia que contava todas as possíveis moedinhas do caixa.
Virei-me meio contrariado e vi sorrindo abertamente, com o peito estufado, o orgulho de sua melhor amiga brotando em toda a sua aura.
- Oi, Weasley. – Angelina disse ligeiramente sem graça, pondo uma de suas mechas para trás da orelha.
- Angelina, nossa, que legal te ver por aqui! – Eu estava tão atrapalhado que não sabia se a abraçava, apertava sua mão ou beijava seu rosto.
Por sorte ela foi menos estúpida e rodeou meu pescoço com seus braços e beijou meu rosto no meio do processo.
- Como você está? – Perguntou ela, dando uma risadinha sem graça.
- Hum, Lee? – Ouvi o chamar. – Vamos lá... No estoque... Preciso te mostrar...
- Vamos, vem. – Ele disse tão ligeiro que nem vi a sua silhueta sumir atrás do caixa.
- Eu estou bem, eu acho... – Falei enquanto a soltava do abraço, que acabou não sendo esquisito como eu esperei que fosse. – E você?
- Eu estou arrependida. – Ela disse suspirando. – G, eu fui bem insensível com você na última vez que nos vimos. Me desculpa, tá bem?
- Não, Angel, eu fui bem imaturo também. Eu podia ter conversado melhor com você antes de soltar uma bomba como aquela.
- Você está em um momento completamente vulnerável e avassalador da sua vida, eu não tinha o direito de ser tão dura com você, como eu fui naquele dia. – Ela disse com a voz sufocada, como se tivesse treinado aquela conversa algumas vezes antes de vir.
- Eu não fui um bom namorado para você. Você também perdeu o Fred, e eu não tinha direito de te tratar daquele jeito. – Eu, por outro lado, estava falando o que me vinha na cabeça, sem direito a filtros pré-definidos.
- Você foi um namorado ótimo. Só que aquele não era o momento. Eu entendo. Demorou um pouco para entrar em minha cabeça, mas eu finalmente entendi que foi o melhor para nós dois, Weasley. Vamos nos perdoar? – Perguntou ela, unindo as mãos e erguendo os olhos, seu sorriso era lindo e seus olhos amigáveis.
- Vamos. Me desculpe, Angelina.
- Amigos? – Perguntou ela, erguendo o dedo mindinho e eu enrosquei meu dedo no dela, puxando-a para mais um abraço.
- Amigos.

Angelina ficou conosco até a hora de fechar a loja.
Arrumamos tudo, colocando cada frasco em seu devido lugar, retirando cada resquício de poeira e seguimos até o Caldeirão Furado para conversarmos um pouco como um grupo de amigos que não se via há muito tempo devia fazer.
Pedi uma cerveja amanteigada, Angelina me acompanhou, pediu uma taça de vinho de nabos e Lee pediu uma dose de hidromel.
Conversamos durante muito tempo, Angelina pediu à um relatório extenso de como estavam as coisas em Hogwarts, Lee contou sobre a vaga do ministério que seu pai havia conseguido para ele, e Angelina ajudava seus pais com o negócio da família, algo sobre ajudar na parte burocrática de terrenos e áreas trouxas e bruxas, sendo uma empresa que oscilava entre os dois mundos.
Algumas garrafas depois, já estávamos falando alto e lembrando dos nossos tempos de adolescentes em Hogwarts, como eu sentia falta de rir com meus amigos e falar bobagens da época em que nossa única preocupação era tirar notas razoáveis, não levar sermão da Professora McGonagall e não perder tantos pontos assim para a Grifinória.
O nome de Fred era citado em quase todas as recordações e, surpreendentemente, meu peito não ardia quando me lembrava dele, assim como a sensação que tive durante o movimento da inauguração, meu peito aquecia de maneira agradável, contente em saber que meu irmão curtiu tudo o que pode durante nossos anos na escola.
- E aquela vez em que colocamos a bomba de bosta na porta da masmorra da Sonserina? – Lee perguntou rindo animado e nós todos demos uma risada sincronizada.
- Fred tropeçou nas vestes e... – Não consegui terminar pois meus olhos encham-se de lágrimas de tantas risadas.
- Caiu três lances da escada! – continuou, rindo tanto quanto nós.
Angelina não estava conosco nesse evento, não, Angelina era certinha demais e tinha o time de Quadribol para se preocupar, mas ela sempre sabia das histórias já que sempre a mantinha por dentro das fofocas.
- Foi muito engraçado, quando conseguimos chegar até ele, o nariz estava sangrando... – Lee contou para Angelina como se ela não soubesse da história. – E a única coisa que ele perguntou foi...
- E a bosta, bosteou?! – Eu e dissemos juntos e explodimos em risadas de novo.
Continuamos relembrando de algumas pérolas, como da vez em que transformou o nariz de Lee em uma tromba de elefante na aula de transfiguração, da vez em que Fred perdeu o Mapa do Maroto para o gato de Hermione, e até da vez em que eu enfeiticei a escarradeira para cuspir de volta em quem cuspisse nela. Neste último, achamos que Filch teria um ataque do coração quando o primeiro cuspe voou em sua testa.
O sentimento de conversar com meus amigos de volta era inexplicavelmente aconchegante, Angelina estava tão tranquila e normal, que nem parecia que tivemos algum relacionamento que acabou há pouco tempo. Eu sentia falta da risada de cada um deles, cada uma delas de abraçando de um jeito diferente, até o momento em que o silêncio predominou, cada um perdido em suas próprias memórias.

- Vocês acham que eu ainda consigo realizar um Patrono? – Perguntei depois de alguns minutos em silêncio, pensando em todos aqueles sorrisos a minha volta.
- É claro que sim, G. Olha a quantidade de memórias felizes que nós temos. – Lee respondeu sem pestanejar. Angelina concordava com a cabeça. desviou o olhar por um segundo, eu sabia o que ela pensava e era exatamente a mesma coisa que eu: Será que apenas uma memória é forte o suficiente para me fazer esquecer que a tristeza da perda ainda é real?
- Concordo com Lee, Weasley, acho que você consegue. Não acha, ? – Angelina foi gentil, ela sempre era.
- É... Eu acho que... Sim. – não era o tipo de pessoa que tinha dúvidas, do tipo indecisa, pelo menos não era assim que eu via ela. Porém, nesse momento percebi que era algo que estava incomodando ela.
- ? – Angelina pescou a incerteza da amiga antes de Lee.
- Ah, vocês sabem, não tenho como ter certeza de algo assim. Foi um evento... Intenso. – Ela amenizou o uso da palavra traumático.
- Porque não tentamos?! – Lee disse animado levantando-se de supetão, Angelina sorriu e levantou-se também, esticando as mãos, uma para mim e a outra para . Eu e ela seguramos e nos levantamos meio contrariados. Olhei de soslaio para minha melhor amiga, seus olhos cruzaram os meus de modo furtivo, com uma pequena mexida de sobrancelha, entendi o que ela quis dizer: Nós vamos mesmo nos humilhar na frente dos nossos amigos soltando fiapos prateados miseráveis do que um dia foi um bichinho fofo?
Ergui minhas sobrancelhas de modo dramático querendo dizer: É, pelo que parece sim. Ela entendeu, maneando a cabeça de maneira negativa e sorrindo meio sem graça.
Pagamos a conta e seguimos para fora do estabelecimento, demos as mãos e Angelina nos guiou, aparatamos em um campo aberto e escuro que parecia ser os fundos da sua casa, mas eu não conseguia confirmar com certeza.
Fazia frio e uma fumaça densa saía de nossas bocas, todos estavam vestidos para o frio que fazia, mas os corpos ainda estavam acostumados com o calor aconchegante que fazia dentro do Caldeirão Furado.
Angelina conjurou uma pequena fogueira, banquinhos e cobertores, ela e Lee dividiram um e eu e dividimos o outro.
- G, você quer tentar primeiro? – Perguntou ela demonstrando um certo encorajamento na voz.
- Por que Lee não vai primeiro, já que isto foi ideia dele? – perguntou de maneira leve, para não soar rude. Era nítido que ela não queria aquele tipo de pressão, assim como eu, mas não era algo do qual precisasse causar um desentendimento bobo.
- Tudo bem. – Ele disse levantando-se. Endireitou a postura e fechou os olhos por alguns segundos.
- Expecto Patronum. – Sua voz soou mais grave do que o normal, como se ele tivesse ciência da seriedade e da dificuldade do feitiço. De início, apenas uma fumaça prateada leve e flutuante saiu da ponta de sua varinha, depois de alguns segundos, da fumaça que havia se acumulado em sua frente surgiu a ponta da nadadeira de uma tartaruga, que foi cada vez mais saindo da pequena névoa nadando lentamente no ar em volta de Lee, era um Patrono majestoso e grande como uma tartaruga verdadeira deveria ser. e Angelina comemoraram e eu bati palmas para acompanhá-las.
Angelina levantou-se quando Lee parou de se concentrar e sua tartaruga se dissipou com a névoa do seu feitiço, ela já havia percebido que aquele era um assunto delicado quando a mim e e se prontificou a ir primeiro para dar o nosso tempo.
Eu lembrava do Patrono de Angelina das nossas aulas da Armada de Dumbledore: Uma coruja. Na época, eu disse que combinava com ela, já que era um animal inteligente, bonito e assustador. Lembro também que ela riu e empurrou meu ombro flertando.
Ela empunhou a varinha com imponência e ditou com clareza:
- Expecto Patronum. – Ela nem precisou se concentrar muito para a coruja brotar em sua frente, voando em sua volta como a tartaruga de Lee. Era um Patrono bonito que me deixava com um pouco de medo, do mesmo jeito que a verdadeira Angelina me deixava durante o ano em que foi capitã do Time de Quadribol.
Aplaudimos e comemoramos a coruja de Angelina e ela voltou ao seu banquinho saltitante e sorrindo, aquilo me deixou inexplicavelmente feliz. Saber que Angel estava bem depois do que eu havia feito com ela, me deixava realmente satisfeito.
levantou-se sem falar nada e foi para o mesmo lugar onde Lee e Angel haviam ido para tentar conjurar o feitiço. Ela estava determinada a não me deixar fazer aquilo se eu não estivesse pronto, o problema é que eu não queria que ela fizesse aquilo também, se ela achasse que não estava pronta. Mas eu sabia que era teimosa o suficiente para não admitir aquilo.
O Patrono de era um pinguim, também lembrava dele durante nossos treinos da Armada de Dumbledore. Lembro que eu e Fred caímos na gargalhada pois o seu pinguim não “nadava” no ar como a maioria dos Patronos que eram nadadores ou voadores, ele andava em pé no chão, olhando ao redor com um tom de dúvida, e isso me refletia uma característica de : a sua curiosidade. Não era um animal imponente ou majestoso, era um pinguim desajeitado e divertido, a imagem dela rindo abertamente quando viu o seu Patrono Corpóreo pela primeira vez vagou em minha mente, enquanto eu a via segurar sua varinha com força.
- Expecto Patronum. – A voz dela não saiu com a certeza ou a alegria que devia sair e, como consequência, nem fiapo, nem névoa, nem qualquer outra coisa apareceu.
- Está tudo bem, . Esquece isso. – Falei imediatamente, erguendo meu braço com o cobertor, indicando que ela devia voltar para o espaço vazio ao meu lado.
- Não, eu não... Me concentrei direito. – Respondeu ela, fechando os olhos e inspirando uma quantidade grande de ar, soltando-o depois com calma.
Empunhou a varinha novamente.
- Expecto Patronum. – Dessa vez, sua voz saiu com mais energia e a ponta de sua varinha acendeu-se tão fraquinha que só dava para perceber porque era de noite. Não era o Patrono Corpóreo que estávamos aguardando, significava que a sua lembrança não estava sendo feliz o suficiente.
- ... – Angelina interviu. – Isso foi uma péssima ideia, está tudo bem.
- Eu consigo. – era orgulhosa demais para admitir que não conseguia. – Só preciso escolher a lembrança melhor...
Fechou os olhos novamente, o semblante frustrado tomando conta do seu rosto, ficou durante alguns minutos escolhendo a lembrança perfeita.
Eu conseguia entendê-la melhor do que ninguém.
Não era fácil olhar para trás e simplesmente escolher uma lembrança feliz. Tivemos sim vários momentos felizes ao ponto de mijar na calça de tanto rir, porém aquela lembrança podia se tornar um memorial de funeral em meio segundo em nossa cabeça. Lembrar de Fred podia ser feliz e triste ao mesmo tempo, não tinha meio termo em nosso peito. Lee e Angelina lembravam-se dele como o cara divertido, o cara das folias, o cara que fazia todos rirem, por isso era fácil lembrar de um momento feliz e se encher de alegria. Para mim e , lembrar de algum desses momentos, era lembrar que ele não estava mais ali, lembrar que nunca mais daríamos uma risada tão genuína quanto demos ao seu lado, nunca mais nos divertiríamos tanto, e nunca mais amaríamos alguém como o amamos.
E mesmo assim, ouvi a sua voz mais uma vez:
- Expecto Patronum!
Algumas fagulhas brilhantes saíram da ponta de sua varinha, e o seu Patrono começou a se formar no ar, e não no chão, como eu esperava.
Num primeiro momento, achei que fosse ver seu pinguim nadando à sua volta, como um triunfo feliz da sua conquista, mas ao invés disso, vimos um pássaro com peito branco brilhante voando em volta dela. Um patrono igual ao meu. Uma pega. O mesmo patrono de Fred.
deu um gritinho assustado, isso fez com que ela se desconcentrasse e o patrono sumiu. Ela tapou a boca com as mãos e olhou diretamente para nós.
- Vocês viram isso?!
- Por Merlin, amiga, o seu Patrono tomou a forma do Patrono do Fred. – Angelina parecia tão estarrecida quanto todos nós.
- Puxa vida, eu já tinha ouvido falar disso, mas nunca tinha visto pessoalmente. – Lee disse.
Minha cabeça girava, eu sabia o quando aquela garota amava meu irmão, mas nada te prepara para o fato de que ela foi tão marcada por ele, fosse por sua vida ou por sua morte, a ponto de seu Patrono mudar de forma...
ainda estava aturdida quando me levantei e a abracei, enrolando nossos corpos com o cobertor, a garota desabou quando seus braços enrolaram minha cintura. Risos e choros saíam juntos, ela fungava e gargalhava, o peito cheio de emoções tanto quanto o meu.
- Você é muito esquisita, sabia? – Sussurrei para ela, fazendo-a rir mais ainda.
- Você que é, quem é que tem a porcaria de um pássaro como patrono? – Perguntou ela fungando e deitando a cabeça em meu peito.
- Bom, aparentemente, você tem.
Caímos na gargalhada juntos e logo depois sentimos os braços de Lee e Angelina se juntando a nós em um abraço em grupo.
- Vocês são dois esquisitões. – Lee disse, sua voz era divertida.
- Mas nós amamos vocês mesmo assim. – Angelina completou, e a nossa noite terminou assim. Ninguém tocou no assunto de que eu devia tentar produzir o meu Patrono, apenas ficamos ali, colecionando lembranças, enrolados em cobertores, curtindo a companhia um do outro.

Fim do ponto de vista de George.

Flashback – Estufa de Herbologia – 01 de outubro de 1991.

- e Diggory, por favor fiquem um pouco. Quero conversar com vocês. - Professora Sprout disse assim que todos os alunos se levantaram para sair da sala de aula. Angelina me olhou de sobrancelhas erguidas e dei de ombro sem entender muito bem. 
- Podem ir indo, alcanço vocês lá. - Sussurrei para meus amigos que me esperavam. Peguei meu livro de Herbologia e o abracei sob o peito enquanto via Fred saindo por último na porta, e dando uma espiadinha de volta por cima do ombro.  
Teríamos o nosso primeiro treino de Quadribol com o time completo e Oliver estava animado com a vinda de Harry Potter como o mais novo apanhador do século. Eu era oficialmente uma artilheira do time, junto com Angelina e Alicia.
O lufano Cedric Diggory me olhou de cima à baixo quando nos aproximamos da mesa da professora, suas bochechas rosadas ficando mais vermelhas do que o habitual. 
- Escutem, eu preciso de ajuda para manter a estufa em ordem. De tempos em tempos eu seleciono alguns alunos que se destacam na matéria para me ajudarem aqui com envasamentos, replantio… Meus pupilos do ano passado se formaram e agora preciso de novos. – Sra. Sprout disse simpática. Seu chapéu era surrado e manchado de terra escura, ela tinha um semblante tranquilo nos olhos. Senti uma animação tomar conta de meu peito quando entendi o que ela estava dizendo. Continuou:
- E gostaria de saber se vocês dois estão dispostos a me ajudar com as plantas que temos aqui, estou falando de rega, poda, troca de vasos e até alguns cuidados extras com as plantas mais perigosas. Preciso de dois alunos sérios e comprometidos, não posso me dar ao luxo de perder algumas plantas daqui, são bem importantes e Madame Pomfrey precisa delas para dar aos estudantes que vão para a enfermaria. 
Engoli em seco, sabendo que aquela era uma grande responsabilidade, mas estava realmente animada em receber certo crédito por minha boa conduta nas aulas. Eu nunca tinha dado muita atenção ao Cedric (era meio difícil quando se tem George e Fred falando besteiras ao seu lado durante a aula inteira), não sabia dizer se ele era realmente um bom aluno assim como eu, mas se Sra. Sprout estava nos recrutando... Imagino que ele tenha algum diferencial. 
- O que vocês acham? - Ela terminou seu discurso e eu respirei fundo antes de responder, dando a chance para que o lufano falasse algo. Ele não o fez. 
- Professora, estou lisonjeada! Sempre tive muita ligação com plantas por conta dos meus pais trouxas e fico muito feliz de ter herdado essa aptidão. Com certeza aceito o desafio, só gostaria de saber se isso ficaria de alguma maneira em meu currículo? Seria ótimo para o meu futuro! - Soei mais séria do que eu queria, mas Sra. Sprout pareceu gostar, Cedric já não tenho tanta certeza. 
- Mas é claro, querida. Será como um estudo complementar. E você, Diggory, o que acha?
  - É claro, Professora, acho muito interessante. 
- Ótimo! Acho bom vocês se conhecerem melhor, pois irão passar bastante tempo livre juntos a partir de agora. Conversaremos melhor na próxima aula. Está bem? 
- Sim, senhora.

- Uau, dá para acreditar? – Perguntei assim que saímos da estufa, não conseguindo conter minha animação.
- Isso foi bem inesperado. – Respondeu Cedric, ele usava seu cachecol apenas pendurado em seu pescoço, sem dar realmente uma volta. – Ainda mais para uma Grifinória.
- O que você quer insinuar com isso? – Perguntei unindo as sobrancelhas, em uma falsa irritação.
- Ah, desculpe. – Suas bochechas coraram. – Eu não quis soar dessa maneira. É que a Sra. Sprout sempre dá preferência para alunos lufanos, já que ela é diretora da casa, entende? Eu não quis...
- Relaxa, Diggory, só estou zoando com você. – Falei rindo, empurrando seu ombro com o meu. – Você é sério demais.
- Não sou sério demais.
- Ah, não? Eu nunca vi você dando um sorriso. – Joguei um verde, afinal, não tinha como eu vê-lo sorrindo sendo que nem notava sua presença na sala de aula, mas queria saber o que ele diria sobre aquilo.
- E como veria? Você só tem olhos para o “gêmeos Weasley”. – Ele disse ligeiramente convencido, erguendo os ombros.
- O “gêmeos Weasley”? No singular? – Perguntei unindo as sobrancelhas, engolindo em seco. Será que ele havia notado algo que eu nunca havia notado antes?
- Não, eu me refiro aos dois, mas falo desse jeito porque não sei diferenciá-los, eles são a mesma pessoa para mim. Acabou virando uma piadinha entre meus amigos. – Ele disse, unindo as sobrancelhas mostrando um semblante realmente confuso.
Dei uma risada alta. Para mim era tão fácil diferenciá-los que eu conseguia saber quem estava falando apenas pela entonação da voz.
- Adorei esse apelido, acho que vai pegar. – Falei de um jeito que pareceu meio irônico, de modo que ele uniu a sobrancelha tentando decifrar se eu falava a verdade ou não, mas rapidamente voltei ao assunto, para deixa-lo ainda mais confuso: - É claro que só tenho olhos para eles, são meus amigos! E como você sabe que eu só tenho olhos para eles? Por acaso você está me espionando, Diggory?
Eu dava passadas largas, quase correndo, não queria me atrasar para o treino, ele acompanhava meu ritmo. Cedric gaguejou antes de prosseguir.
- Não tem como não nota-los, são espalhafatosos e barulhentos. Automaticamente noto você também, já que está sempre com eles. - Ele conseguiu dizer depois de respirar visivelmente nervoso.
- Vou fingir que acredito nisso. – Respondi sem delongas sorrindo, enquanto via suas bochechas corarem de novo.
- Porque você está correndo? – Perguntou ele, ainda lutando para me acompanhar.
- Tenho treino de quadribol.
- Por Merlin, você está no time de quadribol também? – Sua voz já saía ofegante por acompanhar meu ritmo frenético por entre os corredores do castelo.
- Como assim, também? – Perguntei unindo as sobrancelhas.
- Eu sou apanhador. – Ele conseguiu encher um pouco o peito enquanto dizia aquilo.
- Céus, você vai me perseguir em todas as aulas e ainda vai conseguir me incomodar no campeonato de quadribol?
- Parece que finalmente encontrei uma concorrente à altura. – Brincou ele sorrindo.
- Olha só, você sabe sorrir!
- Esse é o efeito . – Ele disse e parou de me acompanhar, virando em uma esquina seguindo para outro caminho enquanto minha mente martelava o que ele havia acabado de dizer. Efeito ? O que ele queria dizer com aquilo? Que eu tinha algum tipo de efeito sobre ele?
- Até que enfim, ! Achei que teria que ir resgatá-la da boca de alguma planta carnívora. – Oliver disse em um tom tenso, não em um tom engraçado.
- Desculpe. – Apenas me limitei a dizer, e ele ergueu as sobrancelhas, surpreso, pois geralmente recebe um “não enche” em troca.
- O que a professora queria? – Angelina sussurrou para mim.
Fui explicando devagar, na medida que a conversa não sobressaísse à voz de Wood, que estava nos apresentando Harry e em como ele ajudaria no time.

Eu já estava sobre minha Shooting Star, treinando alguns movimentos que Wood havia direcionado, quando ouvi a voz de Fred atrás de mim:
- Então quer dizer que agora você é uma puxa-saco lufana? – Perguntou ele, com seu sorrisinho sacana.
- Eu sempre te achei meio doidinha mesmo... – George complementou, se aproximando pelo outro lado.
- Eu devo ser bem doidinha mesmo para ser amiga de vocês. – Respondi rindo, e Fred deu a volta por cima de mim com a vassoura.
- Você não vai aceitar essa oferta, não é?
- Você vai perder muito tempo de qualidade, sendo que nós estaremos com o Mapa do Maroto explorando o castelo... – George listou, tentando me deixar dividida.
- Qual é, meninos, vocês estão mesmo com ciúmes disso? – Perguntei, sorrindo marota.
- Ciúmes não, só estamos preocupados que você seja uma lufana enrustida que possa entregar nosso jogo ao bonitinho Diggory. – Fred retrucou ligeiro.
- Pode ficar tranquilo, Fred, não vou trocar vocês por ele, tá bom? – Pisquei, mostrando a língua.
Ele rolou os olhos e George riu.
- Balaço. – Avisei e saí de perto, deixando os dois resmungando alguma coisa enquanto me aproximava de Potter.
- Como estão as coisas por aqui, Potter?
- Estão tudo... Sei lá, ainda estou tentando entender as regras.
- ! – Ouvi a voz de Alicia me chamar e agarrei a goles que voava em minha direção.
- Fica de olho no pomo que vai dar tudo certo. – Falei sorrindo para ele, tentando tranquilizar aquele garotinho que parecia tão perdido quanto eu no meu primeiro dia de treino n’A Toca.
O treino foi bom para entrosar o time. Analisando do ponto de vista de quem só havia assistido jogos até então, Harry era um bom apanhador e tinha potencial para ser excelente com o treino e a motivação certa. Eu, Angelina e Alicia tínhamos uma química incrível, e Wood estava realmente empolgado com o desempenho do time e citou várias vezes que finalmente tínhamos um time que podia concorrer de verdade no campeonato este ano.
Fred e George fingiram estar incomodados com minha “troca de casa”, e ficaram me chamando de puxa-saco lufana durante a semana inteira.
Cedric e eu viramos oficialmente os monitores da estufa de Sra. Sprout, vivíamos lá em horários vagos, cuidando das plantas, colhendo adubos, podando folhas, entregando algumas para professor Snape e outras para Madame Pomfrey. Eu sempre pedia para Ced fazer a entrega ao Snape, pois não gostava do jeito que ele tratava os grifinórios.
Nós viramos amigos com facilidade e ele era do jeito que eu desconfiava: quieto, envergonhado e metido a sabichão, em contrapartida, ele tentava se acostumar com meu jeito desbocado e ligeiro. Fizemos uma boa dupla. Angelina vivia insistindo que ele era a fim de mim, mas eu não me deixava levar, já que não queria que ela soubesse que eu também tinha uma quedinha por ele.

Fim do flashback.



Capítulo 5

25 de dezembro de 1998 – A Toca

Ponto de vista:


Estacionei o carro em frente à garagem do Sr. Weasley, e, assim que tirei a chave da ignição, pude ver Molly sair pela porta, sorrindo de braços abertos. Minha avó, que estava no banco do carona, ainda estava de boca aberta olhando a altura da casa pelo para-brisa. Lucille foi convidada para o jantar de natal dos Weasley’s. Tudo começou quando, em um determinado fim de semana, pedi a ajuda de Sra. Weasley para contar a verdade à minha avó. Ela merecia saber de tudo, e eu tinha medo que se contasse sozinha, talvez ela não fosse realmente acreditar, ou talvez eu não fosse capaz de me fazer entender para ela. Então Molly fez a sugestão de que ela, Arthur e George fôssemos juntos. Foi um momento extremamente delicado, um assunto difícil de tocar, a ferida aberta ainda era muito dolorida e fiquei muito agradecida por ter esse apoio. Acontece que minha avó também conhecia a morte de perto, ela também teve um filho assassinado por Comensais da Morte e soube lidar muito bem com a situação, de modo que ela não só aceitou o que aconteceu, mas também nos recebeu de braços abertos e ainda nos disse verdades duras de serem ouvidas que pareciam ter saído da boca do próprio Dumbledore, como: A morte, quando vinda sem espera, é o maior teste de força que uma pessoa pode receber.
E como era verdade! O elo que mantinha eu e George juntos nunca foi tão forte quanto agora, assim como o meu elo com a família Weasley inteira. Eu passava os dias pensando em como ele estava conseguindo lidar com tudo sozinho, ficava orgulhosa a cada passo que ele dava, e me sentia cada vez mais confortável em sua presença.
- Ah, Sra. ! – Molly exclamou sorridente.
Arthur saiu logo atrás, seguido de Bill, Fleur e George. Descemos do carro, e, enquanto cruzávamos o jardim, mais e mais cabeleiras ruivas apareciam à porta. Percy, Charlie, Ron, Ginny, depois Hermione e Harry, que segurava um bebê gorducho no colo. Nós cumprimentamos todos, apresentei minha avó e os meninos ofereceram ajuda com tudo o que estava no carro. Minha avó trouxe tantos presentes que fiquei com medo que tivesse que usar um feitiço indetectável de extensão no porta-malas.
- Me chamem de Lucille, por favor. – Minha avó foi simpática, ainda meio duvidosa quanto à casa meio torta, ela se aproximou de todos dando um beijo no rosto de cada um.
- Venham, venham! Montamos uma mesa festiva lá atrás. – Arthur disse e seguimos caminho.
Eu ainda estava cumprimentando todos quando seguimos viagem em torno da casa para chegarmos lá.
- Esse bebê lindinho é de vocês? – Minha avó puxou assunto indicando Harry e Gina, segurando a mãozinha do bebê.
- Ah, não. – Harry disse, ligeiramente nervoso. – É meu afilhado.
- É o filho da Tonks e do Lupin. – Gina explicou para mim, já que minha avó não fazia ideia de quem eram.
Aquela informação gelou minha alma, fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, e meus olhos imediatamente marejaram, lembrando-me da alegria contagiante de Tonks e da calmaria sábia de Lupin.
- Posso pegá-lo um pouco? – Perguntei com a voz embargada, tentando disfarçar um pouco dando um sorriso.
- É claro. – Harry disse, entregando-me o bebê, que imediatamente agarrou meus cabelos com suas mãozinhas ligeiras. Segurei-o pelo tronco, de modo que pudesse ver bem o seu rostinho. Era um bebê lindo, com olhos castanhos muito claros, os cabelos eram cor de palha como os de Lupin, mas o rosto inteiro me lembrava Tonks.
- Hey, Theodore.
Assim que ouviu seu nome, ele abriu um sorriso que revelava alguns dentinhos, eu sorri de volta o movimento em meu rosto fez algumas lágrimas escaparem. O abracei e ele deitou a cabecinha em meu ombro.
- Ele é lindo. – Falei para Harry e Gina, e eles concordaram com a cabeça.
- Sim, e ele é como Tonks. Às vezes muda a cor do cabelo sem querer, ainda não sabe fazer mais do que isso. – Gina disse.
Minha avó conversava com Molly e Arthur. George voltava de dentro da casa com Bill e Charlie, eles haviam levado as coisas de minha avó para dentro. Hermione, Rony e Percy conversavam um pouco mais afastados.
- E como vocês estão? – Perguntei a eles, ainda segurando Ted no colo, embalando-o de um lado para o outro lentamente.
- Estamos bem, está tudo bem por aqui. – Harry respondeu, acariciando meu braço. – Fazia tempo que eu não te via, .
- É verdade, como está o curso de Auror? - Perguntei. Harry já era um Auror de qualquer maneira, mas para que tudo ficasse correto nos papéis, ele precisava fazer um curso e depois passar em uma prova, Rony estava fazendo o curso também.
- Está indo, é bem puxado, mas...
- Nada que o nosso Escolhido não consiga fazer. – George brincou, bagunçando os cabelos de Harry e o abraçando pelo pescoço.
Conversamos um pouco, Bill, Fleur e Charlie nos acompanharam, e durante todo esse tempo o pequeno Ted ficou em meu colo.

- , acho que ele dormiu. – Gina disse em certo momento, e eu realmente tinha percebido que as mãozinhas dele haviam parado de mexer em meu cabelo. Harry o tomou de meus braços e o levou para dentro de casa, onde provavelmente o acomodou em alguma cama.
George aproveitou que eu estava “livre” e me puxou um pouco, nos afastando de todos. O clima de festa era aconchegante, vozes diversas se sobressaíam sobre os mais diversos assuntos, e de longe observei minha avó muito bem acompanhada de Sr. e Sra. Weasley, que lhe serviam uma taça de alguma bebida que eu não sabia dizer o que era.
- Como você está, baixinha? – Ele usava uma touca de lã na cabeça, um suéter Weasley com um G no peito e calça marrom, seus cabelos estavam crescendo um pouco e a pontinha deles aparecia por baixo da touca.
- Estou bem, G. E você? – Perguntei, enlaçando meus braços em seu tronco, finalmente o abraçando de verdade desde que cheguei. O abraço era nosso cumprimento oficial agora, era algo que nos dava força para continuar, nosso calor se misturava emanando uma onda de calmaria por nós.
- É, estou indo. – A gente não precisava mais conversar sobre Fred sempre que surgia uma oportunidade, nós dois sabíamos que era algo que pairava entre nós, mas que não precisava ser mencionado a todo instante. Aquele fantasma perambulava entre nós, entre nossas conversas e entre nossos momentos, sabíamos que estava ali presente e que nunca iria nos abandonar, tocar no assunto só faria nosso coração murchar de saudades e de dor.
Soltamos do abraço e ele tocou meu nariz com o dedo, sorrindo.
- Que bom, eu... Eu queria te dar meu presente de natal antes, se não se importar.
- Nossa, isso é uma ótima ideia. – Falei, pensando no presente que havia trazido para ele, que estava no bolso interno do meu sobretudo. Meu presente era simples, mas nunca se sabe.
Fui até minha avó informar que estava indo lá dentro e já estava voltando, ela concordou tranquilamente, já que agora ouvia histórias divertidas dos anos em Hogwarts, conhecendo minha avó como eu conhecia, ela com certeza estava perguntando a todos os casais como eles se conheceram. Quem estava falando quando me aproximei era Rony, com Hermione argumentando a cada frase que ele dizia, fazendo todos rirem da dinâmica do casal.
Fomos até o quarto de George, o quarto agora tinha um ar vazio, já que não havia mais a presença dele ali com tanta frequência. Parecia mais um quarto de hóspedes do que um quarto de um dos gêmeos.
Em cima da cama havia um embrulho feito de papel, com um cordão de algodão cruzado fechando o laço.
- Desculpa não te dar algo melhor, eu só quis... Ah, você sabe. – Ele disse, pegando o embrulho e me entregando. Peguei o pacote e puxei o cordão, retirando o papel, e o que tinha dentro fez meu coração palpitar irregular, olhei do presente para George.
- Georgie, você não precisa... – Minha voz já estava falha. Abri o suéter de lã igual ao que George vestia, só que com um F na frente, e levei até o rosto, cheirando-o com vontade, o cheiro de Fred me inundou como um abraço quentinho, um cheiro amadeirado, levemente cítrico com aquele fundinho de fumaça que eu amava. Que saudade, meu Deus.
Senti lágrimas descerem pelas minhas bochechas sem ao menos perceber que meus olhos estavam marejados.
- Eu não posso aceitar. – Falei, a voz tão embargada que mal deu para entender.
- É claro que pode, . É seu, sempre foi. – Ele disse se mantendo firme, seus olhos apenas brilhavam sem lágrimas. George havia se preparado para aquele momento, enquanto eu parecia uma criança chorona.
Olhei o suéter, sentindo a textura dos fios em meus dedos, e fui automaticamente transportada para o pátio em frente ao lago em Hogwarts, a neve de janeiro ainda não havia caído e Fred estava sentado ao meu lado, com a manga do suéter levantada até os cotovelos, rindo de qualquer besteira que conversávamos enquanto jogávamos grama no cabelo de George, que estava deitado à nossa frente com as pernas cruzadas e os braços dobrados atrás da cabeça. Os gêmeos estavam com o cabelo comprido, então presumo que fosse uma lembrança do nosso quinto ano.
- Você tem certeza? – Finalmente cedi, lembrando também das vezes em que eles trocavam de suéter para confundir as pessoas.
- Sim.
- Puxa, obrigada, George. Isso é incrível, eu amei! – Falei, sentindo uma ou duas lágrimas escorrerem por minha bochecha. Ele sorriu, um sorriso genuíno de felicidade, daqueles que era realmente difícil ver ele dar nos dias atuais. – Eu prometo que vou guardar com todo o meu coração para quando você tiver um filho.
Ele soltou uma risada afetada que se transformou lentamente em um rosto triste, percebi que toquei em um ponto sensível e me arrependi imediatamente. Ele puxou meu sobretudo, me abraçando com urgência; fui pega de surpresa quando o ouvi chorando. Os soluços esganiçados vieram logo depois, junto de um farfalhar angustiante de quem havia segurado a respiração por muito tempo.
Contornei meus braços em seu pescoço, ficando na ponta dos pés para esse feito, eu ainda segurava o suéter em uma das mãos e a outra mantive em sua nuca. George chorou descontrolado por alguns segundos e depois respirou fundo, tentando voltar ao normal.
- Merda, . O que vai ser de mim? – Perguntou ele quando conseguiu manter a voz firme.
Era a minha vez de segurar as pontas, a nossa gangorra de emoções sempre tinha que estar estável, quando um quebrava o outro segurava, e assim a gente ia se balançando, sem deixar o outro cair.
- Você vai ser o cara incrível que eu conheço. Vai ter uma vida maravilhosa, porque é isso que ele iria querer. Vai ter um casamento lindo, com uma mulher perfeita e vai ter um filho que vai se chamar Fred Weasley, e vai me chamar para ser a madrinha dele. E eu vou dar esse suéter para ele quando ele tiver idade para saber quem foi o verdadeiro Fred Weasley.
Soltei nosso abraço e segurei seu queixo, fazendo-o olhar para mim.
- George, você é o cara mais incrível que eu conheço, você é a merda do meu porto seguro, e você está indo bem. Nós dois estamos, está bem?
Ele concordou com a cabeça, fungando e limpando as lágrimas com as costas da mão. Soltei seu rosto.
- Eu tentei me preparar para esse momento. – Ele se referiu à entrega do presente.
- Eu percebi, fiquei muito orgulhosa.
- Mas aí você vem mencionar a porcaria de um filho, ? – Ele soltou uma risada ainda meio chorosa.
- Não fiz por mal, achei que seria um momento bonitinho entre nós. – Falei, acompanhando sua risada.
- Foi bonitinho. – Ele fez uma careta, me fazendo rir novamente. – Nessa sua previsão, como você fica?
Seu sorriso denunciou que ele havia gostado do que eu disse sobre sua vida.
- Ah, eu vou estar muito bem casada também! Talvez um primo francês da Fleur? – Perguntei rindo. – Vou ter uma filha, Roxanne, e ela será o porto seguro de Fred Weasley assim como o pai dele foi para mim. – Falei, espiando seu rosto, e vi suas bochechas corarem por um instante.
- Roxanne, huh? – Perguntou ele, pigarreando. – Roxanne Delacour. – Pronunciou com um sotaque carregado francês, me fazendo cair na risada.
- Bem charmoso, não acha? – Brinquei, e ele sorriu.
- Charmoso demais, não vou deixar ninguém chegar perto dessa pirralha, como padrinho, vou tomar as devidas providências.
- Combinado então.
Soltamos uma risada sincronizada e lembrei-me do meu presente.
- Ah, quase me esqueci. – Falei, retirando um saquinho de veludo do bolso. – Feliz natal, Forge.
Ele abriu o pacotinho, incerto, e puxou o fio dourado.
- Uau, é bonito! O que é?
- É um relógio de bolso. Você precisa ter um agora que é um homem de negócios.
Fui ao seu lado para ensiná-lo a manusear, era um relógio com desenhos ornamentais de proteção, feito à mão, com o seu nome gravado na parte de trás. Abri-o, na parte de dentro tinha um relógio trouxa comum e mais um botão extra que fazia o relógio se transformar em um relógio bruxo como o que havia na cozinha. Na parte interna da tampa, eu havia colocado uma pequena foto dos dois juntos, onde eles faziam pose na frente da loja, primeiro ficavam de costas um para o outro de braços cruzados e depois viravam de frente e caíam na risada. A foto só aparecia quando ele clicava no botão que transformava em um relógio mágico. Quando ele estava no método tradicional, não havia foto.
- Nessa parte interna da frente, é bem comum colocar uma foto de algum ente querido. Pensei em colocar algo, mas achei melhor você mesmo decidir a foto que quer colocar, ou deixar o espaço reservado para algo futuro. – Expliquei, e ele concordou com a cabeça.
Mesmo explicando o espaço vazio na tampa, George ficou encarando a versão mágica, onde a pequena foto dos dois ficava se repetindo pela eternidade. Ele não chorava, apenas olhava com certo saudosismo.
- Obrigado, , é perfeito! Com certeza vai ser bem útil. – Ele disse, passando o braço pelo meu pescoço e beijando o topo de minha cabeça, não perdi tempo em enlaçar sua cintura novamente.
Nesse momento, ouvimos a porta abrir e Charlie pôs a cabeça para dentro.
- Mamãe pediu para chamar vocês, vamos abrir os presentes.

- Estamos indo. – George disse, prendendo o fio do relógio no cós da calça e colocando o relógio no bolso como eu havia lhe explicado.
Estavam todos reunidos na sala que parecia estranhamente maior do que de costume, tenho certeza de que algum feitiço foi lançado ali, havia uma árvore enorme ao lado da lareira e no canto oposto havia um chiqueirinho onde Ted dormia tranquilo.
A família estava espalhada pelo ambiente, alguns sentados, outros em pé, vovó estava sentada na poltrona ao lado da árvore. Fui até ela e perguntei se estava tudo bem, ela apenas concordou com a cabeça sorrindo.
Alguns já trocavam presentes, vi Gina entregando um presente a Harry e Bill passando uma corrente dourada pelo pescoço de Fleur, Rony abria uma caixa entusiasmado enquanto Mione o observava com um sorriso no rosto, e Sra. Weasley vinha na minha direção, me entregando um pacote de papel pardo como o presente que George me deu. Era um par de meias grossas feitas por ela mesma, ela sabia que eu adorava suas meias quentinhas para dormir.
Iniciei minha distribuição de lembrancinhas, tudo ali era muito simples e de coração, dei jujubas azedinhas para Rony e Hermione (Ron ia abrir na hora para comer e Molly brigou com ele para comer apenas depois do jantar), dei snap’s explosivos para Gina e Harry, penas novas para Percy, e assim por diante. Depois que todos estavam devidamente presenteados, minha avó se levantou:
- Bom, eu nunca havia participado de um natal bruxo antes, então vim meio despreparada... – Ela tentou fingir que ninguém havia visto a sua pilha de presentes que eu insisti que não precisava comprar.
- Vovó, a senhora literalmente trouxe presentes para todo mundo. – Falei baixinho, fazendo todos soltarem risadas.
- Eu sei, mas não são presentes bruxos, são presentes trouxas! – Ela respondeu, argumentando com as mãos.
- Está tudo bem, tenho certeza que todos vão adorar. – Respondi, fazendo carinho em seu ombro. Ela fez sinal para que eu pegasse o primeiro presente.
Todas as suas caixas estavam embaladas com um papel de presente bonito com desenhos de flores e varinhas de alcaçuz, todos eles tinham etiquetas com a sua letra cursiva elegante, identificando de quem era o presente.
- Sr. Weasley. – Ela recitou quando leu o primeiro presente que eu lhe entreguei. Arthur se levantou comovido, um sorriso enorme no rosto. Pegou a caixa, abraçou minha avó e abriu o presente empolgado.
- Sra. , realmente não precisava... – Era nítido que ele estava empolgado para saber o que era, principalmente sabendo que era algum item trouxa. Eram canetas esferográficas e post-it’s coloridos. Hermione explicou o que era quando ele voltou ao seu lugar. Ele adorou.
Para Sra. Weasley, minha avó deu sabonetes glicerinados caseiros que ela mesma havia feito.
Para Harry um isqueiro, pois podia ser útil como auror.
Para Gina um cronômetro, para ela treinar seus ataques e tempos nas partidas de quadribol.
Para Bill e Fleur uma calculadora para cada, já que eles trabalhavam no banco.
Para Charlie uma bússola, caso ele se perdesse em alguma expedição cuidando de dragões.
Para Percy um grampeador, para usar com as papeladas no ministério.
Para Ron um cantil, pois poderia ser útil como auror também.
Para Hermione um livro de receitas caseiras, que ensinavam a fazer pomadas, remédios, produtos de limpeza, e etc.
E para George ela deu sua máquina Polaroid antiga, para registrar todos os seus momentos felizes.
Absolutamente todos ficaram contentes com seus presentes, pude notar em cada um que minha avó havia tocado alguma parte dentro deles, e fiquei secretamente feliz por ela ter ouvido todas as minhas dicas e explicações sobre cada membro da família.
Cada um olhava seu presente com orgulho quando Bill se pronunciou:
- Muito obrigado, Sra. Aplebby, acho que digo por todos que foi muito atencioso da sua parte.
- Sim, ficamos realmente encantados com tanta delicadeza em escolher um por um. – Molly disse, encantada com os sabonetes, cheirando um deles.
- Já dá para saber de onde a herdou tanto carisma. – Charlie brincou, e minha avó sorriu contente.
- Eu adoraria ter dado algo melhor, mas era muita gente para lembrar! Já estou feliz de não ter esquecido de ninguém. – Ela sorriu, olhando para todos, e por fim olhou para mim: - E não, eu não esqueci de você, patinha.
Minha avó retirou um embrulho da bolsa que ela sempre carregava e me entregou, era uma caixinha de jóias de veludo, abri com entusiasmo e dentro havia um colar bonito, que combinava com o anel que eu entreguei a Fred no dia da batalha. O pingente de ouro tinha o desenho de uma lua e um sol.
- É lindo, vovó, muito obrigada!
- Era da sua mãe.
Aquilo me tocou, acariciei o pingente sorrindo e o tirei da caixinha. George prontamente estendeu a mão, oferecendo-se para colocá-lo em mim. Ergui meus cabelos e ele se pôs atrás de mim para engatar a corrente. Todos nos olhavam com sorrisos nos olhos.
- Ficou lindo, querida. – Minha avó disse quando ele terminou, e eu sorri agradecida, a abraçando.
- . – Ouvi a voz de George e o olhei, senti o flash da câmera em meu rosto e dei um tapinha em seu ombro por ter me pego desprevenida. A câmera soou alta e cuspiu a foto logo depois.

- Não mexe? – Ouvi Ron sussurrar para Mione, e ela negou, segurando um sorrisinho.
Depois da troca de presentes, fomos para a mesa jantar. A mesa estava farta, Fleur havia trazido cassoulet, um prato francês, Sra. Weasley havia feito lombo de cordeiro com molho de figos, e minha avó tinha levado torta de frango com amendoins e um salmão assado, havia também farofa, molhos e saladas. Tudo estava perfeito, o pequeno Ted nos acompanhou, comemos com calma, conversando e rindo, nos divertindo na medida certa. Vovó estava muito confortável com todos, Charlie estava sentado ao lado dela e vivia fazendo piadas e brincadeira fazendo-a dar boas gargalhadas.
De noite, depois da sobremesa e de Molly e Arthur mostrarem toda a casa por dentro e também os pomares, a horta e conversarem bastante com minha avó enquanto eu curtia um tempo com os membros Weasley que não tinha tanto contato, chamei minha avó para irmos embora.
- Gente... obrigada pela... noite, foi... tudo incrível. – Falei, enquanto me despedia de cada um.
Eu e minha avó estávamos com os braços cheios de presentes e lembrancinhas.
- Eu nem sei por onde começar, obrigada a todos pela hospitalidade, mas acho que tenho muito mais a agradecer... – Minha avó iniciou. – Quando entrou em Hogwarts, eu tive muito medo de que ela pudesse não se encaixar, por ser... vocês sabem, nascida trouxa. Eu não sabia como era nada disso, a escola, o mundo bruxo, e até receber a primeira coruja com uma carta de quase dois metros explicando tudo, fiquei muito preocupada. E nunca, em toda a minha vida, eu achei que ela fosse encontrar uma família naquele lugar! tem a sua família de sangue, tem primos, tios e tias, mas nada, absolutamente nada se compara ao amor que eu sinto que vocês têm por ela aqui neste lugar, e eu sei que ela também sente. Muito obrigada, pessoal, por tratarem e cuidarem tão bem da minha neta, ela é tudo para mim e significa muito saber que ela é tão amada. É reconfortante saber que ela terá um lar quando eu me for...
Senti minhas bochechas queimarem, mas de modo algum tentei vetar minha avó, ela estava falando com o coração e eu tinha orgulho de quando ela fazia isso.
O falatório começou todo junto. George veio até minha avó de braços abertos e a abraçou com força, enquanto Charlie vinha até mim e me dava um cascudo, arranhando os nós dos dedos em minha cabeça. Gina agarrou meu pescoço e beijou meu rosto. E tudo que eu ouvia era “nós amamos essa pentelha”, “ é da família”, “só ela para aturar Fred e George”, “a garota é uma Weasley”, “ela salvou nossa vida”.

E, depois de mais uma onda de abraços e risadas, fomos embora. Minha avó estava muito feliz e satisfeita de finalmente ter conhecido minha segunda família, minha família de verdade, e nos afastamos de carro pela trilha recém-feita para que eu conseguisse chegar ao local de maneira segura com uma idosa de 80 anos. Fomos o caminho inteiro conversando sobre como foi a nossa noite, e o caminho nem pareceu tão longo.

Fim do ponto de vista.

Flashback – 7 de novembro de 1992 – Cozinha de Hogwarts.

Ponto de Vista: Fred.

Estávamos na cozinha, roubando comida após passarmos boa parte da noite analisando algumas saídas que ainda não havíamos usado no Mapa do Maroto. enchia a boca com tortinhas de limão e George escolhia os muffins mais bonitos para enfiar nos bolsos das vestes, e eu quebrava cookies pela metade para comer.
- Muito obrigada, Mitsy! - quebrou nosso silêncio, agradecendo à elfa doméstica que lhe entregou um cálice grande de ouro extremamente polido e reluzente. - Quer um pouco?
- Não, minha senhora. Srta. tem coração bom. - Mitsy respondeu, baixando a cabeça em uma pequena reverência, e sorriu para ela, fez um carinho em sua cabeça agradecendo novamente e se virou para nós:
- Já vou indo, tenho que inventar algumas predições de morte para a aula de adivinhação de segunda-feira. Vocês já fizeram?
- Já. - Eu e George respondemos juntos.
- Quando? – Uniu as sobrancelhas, provavelmente se perguntando se era verdade.
- Você subestima a nossa inteligência, . - Respondi, dando uma piscadela a ela.
- Quantas vezes vamos ter que te dizer que temos nosso método? É impossível nos acompanhar. - George disse, sorrindo com um falso desdém.
A garota virou os olhos para cima dramaticamente, me fazendo sorrir.
- Por que você não faz amanhã? Vai ter o dia inteiro. – Perguntou George de boca cheia, ele estava se referindo ao fato de amanhã ser domingo.
- Não, amanhã Angie e eu vamos a Hogsmeade. – Explicou ela, bebendo o suco da taça que voltou a se encher sozinha.
- Aproveita e traz umas bombas de bosta para nós. – Falei, colocando a outra metade do cookie na boca.
- E por que você mesmo não vai lá comprar? – Perguntou ela me desafiando, ela sabia o porquê. Filch sempre revistava George e eu. Sempre.
- Aproveite a presença de Angelina, Filch nunca desconfia dela. – Apenas falei, dando de ombros.
Ela pareceu ponderar o assunto.
- Deixa eu ver o mapa para ver se a barra está limpa. - Estendeu a mão para mim, colocando o cálice de suco sobre o balcão.
Entreguei o mapa, fingindo-me de contrariado, e ela arrancou da minha mão impaciente.
- Harry precisa parar de ficar perambulando pelos corredores esta hora da noite, o Filch vai acabar pegando ele logo, logo. - Resmungou ela, dando de ombros e me devolvendo o mapa. - Até mais, otários.
Ela pegou seu suco e saiu, abanando a mão livre aos elfos que se despediram dela felizes.
Dei uma olhadinha no mapa aberto em minha mão e vi o pontinho escrito avançar pelo corredor vazio, ela tinha razão: Harry estava no corredor um pouco mais à frente, e eles iriam cruzar caminho em algum ponto perto do banheiro da Murta se continuassem na mesma velocidade.
- Você não fez o dever de adivinhação, não é? - George me perguntou, rindo.
- Não. - Eu respondi cúmplice, e desatamos a rir, terminando de comer e a encher os bolsos de besteiras. Quando nos demos por satisfeitos, agradecemos aos elfos e saímos sorrateiros, enquanto eu espiava o mapa para ver se nosso caminho estava livre.
Harry estava junto de , mas estavam parados no lugar.
- Aconteceu alguma coisa. - Segurei o braço de George e ele parou, levando os olhos ao mapa imediatamente. Iniciamos uma corrida silenciosa, eu olhava o mapa a todo instante, o pontinho de Harry ia de um lado para o outro, mas ele não saía do corredor.
Chegamos neles em menos de cinco minutos.
- Potter, o que houve? – Perguntou George baixinho.
Meus olhos foram até e pararam. Meus pés travaram no chão quando entendi o que havia acontecido.
- Eu encontrei ela assim! Não sei o que fazer. – Harry disse, a voz estava trêmula de nervosismo.
estava petrificada, uma mão estava travada na altura do seu peito com o cálice reluzente, a outra mão estava a caminho do seu bolso direito, lugar onde ela guardava sua varinha. Seu rosto estava com os olhos fortemente fechados. Sua pele parecia ser feita de cerâmica, fria e opaca. Com o coração saindo pela boca e um pouco de suor surgindo em minha testa, levei minha mão até seu cabelo, que sempre cheirava a algo doce, e engoli em seco quando percebi que estava tão duro quanto o resto do seu corpo. Merda. Merda. Merda.
- Fred? – George veio até mim. – O que faremos?
Olhei meu irmão e notei que seus olhos estavam molhados. Eu tinha que tomar as rédeas da situação. Respirei fundo.
- Harry, vá chamar Dumbledore ou a McGonagall. Ficaremos aqui. – Harry assentiu e começou a correr em direção à sala de Dumbledore. – Na verdade qualquer professor serve, menos o Snape ou aquele paspalho do Lockhart. – Falei mais alto para que ele ouvisse.
Menos de dois minutos depois McGonagall chegava ao nosso encontro, os cabelos soltos, enrolada em um roupão.
Ela avaliou a situação lentamente. Depois seus olhos correram até George e eu.
- O que vocês faziam fora da cama nesse horário?! Quanta irresponsabilidade!
Não dava para mentir sobre a cozinha. estava segurando o cálice de suco, e se fossem nos revistar achariam cookies e muffins em nossos bolsos que não tive a ideia de me livrar enquanto estávamos sozinhos. Estava embasbacado demais vendo daquele jeito, e George pirando não me ajudou em nada.
- Estávamos fazendo um lanche, Sra. McGonagall, ficamos até tarde fazendo os deveres de adivinhação porque queria ir a Hogsmeade amanhã.
- E vocês simplesmente acharam que seria seguro perambular tarde da noite pelos corredores apenas para comer um lanchinho?
- Não pensamos que fosse trazer tantos problemas... – George disse com a voz falha. Ele realmente estava abatido, e acho que foi isso que fez McGonagall amolecer um pouco.
- Menos dez pontos cada pela tamanha falta de senso, vão para os seus dormitórios, sem paradas extras desta vez!
- Ela vai ficar bem? – Perguntei, dando uma última olhada para , ainda descrente de que em menos de 20 minutos ela estava conosco na cozinha gargalhando sobre qualquer besteira que eu ou George houvéssemos dito.

- Sim, só precisamos que as mandrágoras estejam maduras para que Sra. Sprout providencie o tônico. – Ela disse, e virou-se para Harry. – Potter, vou ter que chamar o diretor, não é a primeira vez que o vejo nesta situação.
No dia seguinte, eu, George, Lee e Angelina fomos para a enfermaria, logo depois de tomar café da manhã. Na ala dos petrificados havia três pacientes: Colin Creevey, Justin Fletchley e . Quando chegamos lá, notei que já havia alguém ao lado dela, era o engomadinho do Diggory.
Bufei irritado quando nos aproximamos, Angelina começou a chorar quando viu a amiga naquele estado e Lee cumprimentou Diggory.
Passei a noite inteira em claro, pensando em como deixamos ela sair sozinha sendo que já haviam tido dois ataques. George contrapôs dizendo que não havia nada no mapa que pudesse nos dar alguma dica de que ela corria perigo, mesmo assim não consegui descansar sabendo que podia ter sido evitado. Aquilo estava me corroendo por dentro.
Outra coisa que me corroía por dentro era a presença de Cedric ali. Eu sabia que ele e eram amigos, por causa daquela baboseira de Cheiradores de Estrume da Sra. Sprout (como eu e George costumávamos chamar), mas não sabia que eram tão íntimos a ponto de ele vir visitá-la antes de qualquer um em um domingo. O cara nem tomou café da manhã?!
- Oi, Ced. – Angelina disse, dando nele um abraço forte. Ced? Que intimidade era essa? Olhei para George, franzindo as sobrancelhas, e ele ergueu os ombros querendo dizer “estou entendendo tanto quanto você”. George não ficou tão incomodado com Diggory, apertou sua mão rapidamente e sentou-se ao lado de , analisando suas feições com tristeza.
Apertei a mão que o bonitinho Diggory esticou para mim com certo desdém. Não me orgulho disso.
- Desculpe soar tão rude, mas... Por que você está aqui, Diggory? – Perguntei sem delongas, Lee arqueou as sobrancelhas e segurou uma risada, e Angelina abriu a boca horrorizada.
- Por Merlin, Fred! – Ela disse, se colocando ao lado do garoto cabisbaixo.
- Ué! Eu só estou perguntando.
- Eu só vim visitar minha amiga. Passamos bastante tempo juntos, sei que não sou tão amigo quanto vocês, mas, ainda assim, é importante para mim. – Cedric respondeu ligeiramente impaciente, dava para ver em seus olhos que ele havia chorado.
Angelina virou os olhos para cima, irritada com minha inconveniência.
- Entendi... Tudo bem, só quis saber. – Falei, erguendo as mãos em sinal de paz.
- Vocês estavam com ela quando aconteceu? – Ele perguntou, e eu respirei fundo para não falar alguma merda. Antes que eu abrisse a boca, George respondeu:
- Sim... Na verdade, não, ela saiu antes.
- E vocês deixaram ela sair sozinha no meio da noite pelos corredores? Mesmo sabendo que os ataques estão acontecendo aos nascidos-trouxa? – Ele cutucou novamente.
- Está querendo dizer alguma coisa, Diggory? – Arrumei a postura, ficando claramente mais alto do que ele. – Porque se estiver, acho bom falar logo.
- Fred... – Angelina tentou apaziguar.
- Estou querendo dizer que vocês se dizem tão amigos dela, mas não estavam lá quando ela precisou.
- E onde é que você estava, Príncipe Encantado? Quem você pensa que é para estar com o peito tão estufado assim? – Minha língua sempre foi maior do que a boca, era o que minha mãe dizia.
- Fred! – Angelina mudou o tom, me chamando. Desviei o olhar de Cedric e olhei para ela. – Cedric é o namorado de . Ele tem todo o direito de saber o que aconteceu.
Namorado? Como assim namorado? Desde quando namorava? Não podíamos estar falando da mesma pessoa, vivia conosco!
E então lembrei de todos os momentos em que ela fugia dizendo que tinha alguma tarefa para fazer, buscar livros na biblioteca, ou ir à estufa checar as plantas. Ela era inteligente o suficiente para sempre usar desculpas envolvendo estudos, assim eu e George nunca queríamos acompanhá-la.
Respirei fundo, engolindo tudo o que eu queria falar ou jogar na cara daquele engomadinho idiota, e apenas respondi, indo na direção da saída:
- Ele pode saber tudo o que aconteceu, só não precisa ficar insinuando coisas, principalmente quando ele sabia muito bem que estava indo ao encontro dele.
Dei uma última olhada para trás, só para ver seu sorrisinho idiota se desmanchando, e saí.

Fim do flashback.




Continua...



Nota da autora: Esse capítulo me deu um quentinho gostoso dentro do coração, o natal dos Weasley, o pequeno Ted, o presente de George, o discurso da avó, é tudo muito fofo! Espero que tenham gostado do capítulo, e, principalmente, do Flashback que foi finalmente narrado pelo gêmeo preferido das fanfiqueiras.
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