Finalizada em ou Última atualização: 07/07/2024

Seu amor

Derbyshire, primavera de 1847


O despertar do aroma das flores do campo na primavera, era minha parte favorita da estação mais colorida e romântica do ano. Desde de pequena ficava imaginando como seria morar nas pequenas cidades do país, com grandes plantações de lavanda, minhas favoritas. E nunca imaginei que teria o prazer de sentir aquela brisa fresca adentrar pelas cortinas da janela, fazendo-me criar fortes expectativas para aquele dia. Na cidade é sempre tudo tão cinza e poluído pelas fumaças das fábricas, que até mesmo o Hyde Park precisou se manter forte para não perder o resplendor das suas árvores e arbustos.

De fato, havia sido uma mudança inesperada em minha vida, quando fui desposada pelo senhor Baker, um jovem burguês que criou fortuna após herdar uma falida fábrica de tecidos do avô. Conhecido pela nobreza londrina por ser muito perspicaz nos negócios e um exímio jogador de polo equestre, e um dos poucos da burguesia que tinha o privilégio de participar de torneios entre os aristocratas. Um cavalheiro que posso qualificar como uma caixinha de surpresas, em que diariamente me pego sendo surpreendida por suas demonstrações de afeto.

— Senhora Baker?! — a voz de Constance, a líder das criadas, soou do lado de fora.

Me remexi na cama, ainda com os olhos abertos. A noite havia sido um tanto quanto calorosa, após o retorno de meu marido, que havia passado duas semanas no porto de Liverpool, cuidando de assuntos de sua frota de navios mercantes. Em completos um ano de casada, fora minha primeira dormindo sozinha naquela enorme cama macia. Meu primeiro choque cultural, os casais de burgueses compartilhavam o mesmo quarto e cama, algo que me estremeceu por completo em nossa noite de núpcias, quando a firme voz de soou em meu ouvido, dizendo que não me deixaria dormir sozinha.

— Querido, nem sempre promete o que cumpre. — brinquei ao sussurrar, enrolando-me mais pelos lençóis, com um sorriso formando em meu rosto.

Um choque de timidez e vergonha tomou conta de mim, ao manter as imagens daquela noite em minha mente. Pareciam tão vívidas que conseguia sentir a onda de calor invadindo meu corpo mais uma vez. Trezentos e sessenta e cinco dias depois, ele continuava sendo suave e intenso como na primeira noite, conquistando-me dia após dia, demonstrando seu amor de forma sublime.

Minha família não tinha muitas posses, meu pai não pertencia a nobreza, apesar de ser filho de um militar, o estimado coronel Brandon, a única coisa que herdamos do vovô fora seu modesto chalé ao norte de Hastings, localizada em uma pequena propriedade que nos permitia viver confortavelmente. Entretanto, meu dote não despertava nenhum interesse nos cavalheiros de nosso círculo social.

E como tive a graça de casar-me com um dos homens mais ricos do país?

Dou graças a Deus, por ter sido contemplada com um convite extraviado para um baile de máscaras no famoso Castelo da Colina, em Cahir, na Irlanda. Certo que meu endereço não era o destino final daquela carta, com letras douradas e selada com o brasão da família Baker. Contudo, foi a oportunidade que ganhamos para finalmente participar de um evento importante e me apresentar a sociedade, a filha única de um casal desconhecido, neta de um coronel condecorado, porém, esquecido pela realeza.

— Senhora Baker? — a voz de Constance, soou novamente, despertando-me de meus devaneios — Acordaste?!
— Sim, Constance, podes entrar. — assenti a ela, erguendo levemente o corpo na cama, com os olhos entreabertos.
— Bom dia, senhora. — ela adentrou o quarto, e após o cumprimento, caminhou até a janela para abrir as cortinas — O dia está estimulante hoje, desejas que sirvo seu desjejum no jardim como sempre?

Demorou um pouco para que me acostumasse aos seus cuidados. No chalé, contava apenas com Judith, que além de nossa cozinheira, por muitas vezes, precisei ajudá-la nos afazeres domésticos. Até mesmo uma vez cheguei a imaginar tornando-me uma criada dos nobres, pelas circunstâncias da vida.

— Sim, por favor. — respondi a sua pergunta, observando-a se locomover pelo quarto — Sabes onde se encontra o senhor Baker?

Com tanta energia que gastamos pela longa madrugada, não esperava sua ausência tão cedo naquela manhã. Afinal, seus sussurros me indicaram que até mesmo nosso despertar seria recheado de beijos e carícias.

— No escritório, senhora. — ela voltou seu olhar atento para mim — Desejas ajuda para se vestir?
— Oh, não, agradeço Constance, mas pode se retirar. — pedi a ela, com um sorriso meigo no rosto.

Soltei um suspiro desanimado e voltei meu olhar para o lado. Lá estava uma rosa vermelha, com um bilhete embaixo, logo um sorriso surgiu em meu rosto que corou levemente.

— Gostas mesmo de me surpreender. — sussurrei ao pegar o bilhete, em seguida senti o perfume da rosa.

Então, comecei a ler:

“Grato estou a Deus, por seu amor…”

O sorriso manteve-se em minha face por um longo tempo, até que o barulho da porta se abrindo despertou-me. Voltei meu olhar para a direção e senti meu corpo arrepiar com aquele olhar profundo que seguia em minha direção. fechou a porta com cuidado, passando uma volta da chave.

— Dormiste bem?! — indagou ele, com um sorriso de canto.

Aquele sorriso, fora a primeira coisa que me encantou nele.

Lembro-me daquele baile de máscaras, meu pai envergonhado pedindo desculpas ao senhor Baker, pela nossa presença e prometendo um presente de compensação. Quanto a mim, estava tão tímida e chateada após descobrir que o convite havia sido para outra família, que nem mesmo havia percebido o olhar curioso do anfitrião em minha direção. Sua declaração sobre aquele dia, era sempre que eu havia adentrado sua vida como um anjo para lhe trazer felicidade e esperança.

— Sim, meu senhor. — disse em sussurro.
— Estamos à sós, podes ser menos formal com vosso marido?! — pediu ele, pela milionésima vez, fazendo-me encolher um pouco sobre a cama — .

Por mais que diante dos nobres e cavalheiros, precisasse demonstrar rigidez e frieza, sua forma de tratamento para comigo era sempre sutil e doce. Seu olhar profundo e sua voz grossa dava o contraste que fazia meu corpo arrepiar. Algo que me impressionava, ainda mais por saber o quão solitária sua vida havia sido desde a infância. Porém, de acordo com vossas palavras, me conhecer havia lhe mostrado que sua vida realmente não estava completa.

— Em um ano, ainda não me acostumei, perdoe-me. — pedi a ele, ao me descobrir e me levantar da cama, dizendo seu nome em seguida — .

Ele manteve o sorriso de canto, dando alguns passos até mim.

— O que desejas para o dia de hoje? — indagou ele, com o olhar curioso.
— Terei a presença do meu marido em casa pelo dia inteiro?! — retruquei a pergunta, admirada com sua indagação.
— É o que desejas a minha esposa?! — devolveu ele, sempre tentando deixar-me com as respostas.
— Desejo muitas coisas. — eu ri de leve, e erguendo o bilhete em minha mão, o olhei com suavidade — Deixaste vossa frase em aberto com estes três pontinhos.
— Queres saber o restante da frase? — perguntou ele.
— Sabes que sim, sempre quero saber mais sobre os vossos pensamentos. — respondi prontamente.
— Estou grato a Deus, por tê-la em minha vida. — ele pegou em minha mão e com a outra, acariciou meu rosto — Vosso amor é como um rio tranquilo e profundo, que acalma os tormentos do meu ser…

Ele deu um passou para mais perto, inclinando-se para beijar com suavidade o meu pescoço, algo que fez-me arrepiar.

— Quando olho nos seus olhos, sei que o que sentimos um pelo outro é verdadeiro… — continuou ele, agora sussurrando em meu ouvido — Deus certamente deve ter gastado um tempinho a mais em você.

Nem mesmo tive tempo para reagir a sua declaração, quando seus lábios tocaram os meus com doçura e malícia, me indicando que nosso dia seria ainda mais longo que a madrugada.

--

Um ano antes…
Castelo da Colina, Irlanda

Baker:

Eu havia passado a noite em claro, pensando em diversos assuntos, para fugir de apenas um, a senhorita Brandon. Neta do famoso coronel Brandon, ex-militar condecorado, a havia visto algumas vezes passeando pelas ruas do centro comercial de Hastings, em minhas visitas comerciais pela cidade. Ela não pertencia a nenhuma família de nobres, e mesmo sendo respeitado, seu avô não tinha muitas posses, apenas um pequeno terreno em que se encontrava o chalé no qual viviam.

Um olhar meigo e um sorriso delicado.

Sentado em minha cadeira, mantive a atenção nos documentos diante de mim na mesa de trabalho. Tudo estava caminhando conforme o planejado, e esta temporada seria a última em que o herdeiro Baker se encontraria solteiro. Como prometido ao meu pai, não seguiria a minha vida sozinho e teria minha própria família.

— Senhor Baker?! — a voz de Charles soou da porta — Bom dia.
— Bom dia, Charles. — fechei o livro de registros e voltei o olhar para ele. — Aconteceu conforme o ordenado?
— Sim, senhor. — assentiu ele, permanecendo parado em frente a porta — O convite chegou ao seu destino, entregue pessoalmente em mãos do senhor Brandon.
— Se certifique que pareça ter sido extraviado, não quero que pensem que o convite foi proposital. — ordenei a ele, pensativo em meu plano.
— Não se preocupe senhor, assim que chegarem ao castelo para o baile, a família Brandon será informada do suposto erro.
— Assim espero. — disse assentindo.
— Senhor, posso te fazer uma pergunta? — indagou ele.
— O que seria? — mantive meu olhar sério nele.
— Por que a família Brandon não pode saber sobre o interesse do senhor pela senhorita?! — continuou ele, com seu olhar curioso.
— É uma longa história. — disse a ele, dando um sorriso de canto disfarçado.

Your love is like a river
Peaceful and deep
Your soul is like a secret that I never could keep
When I look into your eyes, I know that it's true
God must have spent a little more time on you.
- (God Must Have Spent) a Little More Time On You / N'SYNC


Vida: Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor.” [ I Coríntios 13:1 ] - Pâms



FIM.



Nota da autora: Hello gente, mais um ficstape, espero que tenham gostado. Final em aberto, com gostinho que quero saber os segredos do senhor Baker.



Outras Fanfics:

- Spin-offs Continuum em Ficstapes
| 03. Roulette | 04. No Digas Nada | 05. Natural Born Killer | 06. Sunshine | 06. Who Waits for Love | 10. Finally Free | 14. Black Heart |
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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!