Última atualização: 04/01/2021

Castellato

Outono de 2016
- Sorrento, Itália

Vê-la caminhar pelo longo corredor do colégio interno Mirai del Sorrento, fez o coração do recém chegado Magnus acelerar. Aquela poderia ser considerada a caminhada mais elegante e atraente de Castelatto, na presença de todos os alunos pertencentes às famílias de elite italianas. A não ser por um detalhe sutil. A jovem de 16 anos estava sendo escoltada por dois policiais, um de lado e ainda algemada para que todos vissem.

Claro que o detetive Ortiz não deixaria esta afronta passar, já que sua família era rival antiga da família Castelatto. E mesmo que fosse proibido algemar um menor de idade, ele não ligava para estes detalhes técnicos de sua profissão. Entretanto, o sorriso singelo no canto do rosto e olhar superior de , o deixava mais raivoso ainda.

— CONFESSE! — Ortiz bateu sua mão direita na mesa da sala de interrogatório — Confesse que matou Juan Lorenzo.
— Estou admirada com sua falta de controle detetive. — ela ergueu os pulsos ainda algemados — Tratar uma adolescente como eu assim? Será que a Draconis concorda com seus métodos?
— Não me importo com essa sua sociedade de merda, confesse logo Castelatto. — ele gritou mais uma vez, avançando um pouco seu corpo na direção da garota, que se manteve imóvel — Ele era seu namorado.
— Ex-namorado. — corrigiu ela.
— A culpa está nos seus olhos. — insistiu Ortiz.

O olhar de deboche para o detetive a deixava ainda mais curiosa sobre o que viria a seguir. 

— Você realmente tem uma forte obsessão por mim, não é? — ela arqueou a sobrancelha direita.
— Eu não vou repetir. — a fúria em seus olhos era intensa.
— Acho melhor se afastar detetive. — disse uma voz mais forte vindo da porta.

O advogado da família estava ali para livrá-la do mal.

— Ah, querida. — a mãe de adentrou na sala, já indo abraçar a filha — Mamãe vai te tirar daqui, este cavalheiro não a machucará.
— Eu estou bem mamãe. — sorriu para ela e voltou o olhar para o detetive

Mesmo relutante, Ortiz se viu obrigado a liberar . Que por ser a principal suspeita do assassinato de Juan Lorenzo, não poderia sair da cidade. Logo na recepção da delegacia, já havia curiosos e algumas pessoas que o detetive convocou para interrogar. O aluno Magnus era um deles, que mentalmente já ensaiava todas as palavras que iria dizer. Ao passar pelo garoto, o olhar discreto e instigante de se cruzou com o dele, deixando um singelo sinal de aprovação da garota.

Sim. O jovem Magnus era o álibi de , que deixaria Ortiz com os nervos à flor da pele. Em uma história passada mais de vinte vezes por ambos, para que nenhum fio solto fosse encontrado pelo detetive. afirma que estivera com a suspeita durante toda a madrugada, em que o crime foi cometido. E mais pessoas poderiam confirmar suas palavras, pois havia o visto com uma garota na recepção que a família dava.

— Olhando para você, não consigo acreditar em suas palavras. — Ortiz cuspiu sua indignação para , que assim como a suspeita, se mantinha calmo e sereno.
— Me desculpe detetive, mas não mentirei para agradá-lo, Castelatto estava comigo. — continuou afirmando o garoto — Sei que meu pescoço está em risco, já que meus pais não gostam da família dela…

O garoto olhou para o vidro na parede ao lado, sabendo que seus pais e sua irmã gêmea estariam ali, ouvindo-o dizer tais palavras. Então, voltou seu olhar para o homem à sua frente.

— Mas esta é a verdade, eu e sempre fomos próximos, porém seguimos escondendo nossa amizade de nossas famílias. — comentou a sua história ensaiada — Quando me mudei para Grécia, continuei a manter contato com ela, e nosso amor um pelo outro só aumentou. Castelatto somente começou a namorar o Lorenzo para distrair minha irmã que a odeia e era apaixonada pela vítima.
— Está me dizendo que manteve um relacionamento com a suspeita, enquanto ela namorava a vítima? — Ortiz começou a distorcer as coisas para desacreditá-lo — Devo considerá-lo um cúmplice agora?
— Bem, se tiver um modo de uma pessoa estar em dois lugares ao mesmo tempo, pode me considerar um cúmplice. — a voz de soou ainda mais firme e segura — Me considere o cúmplice de Castelatto.

Ortiz não tinha pistas boas. Não tinha um flagrante. Apenas havia sido um ridículo por algemar uma adolescente que tinha um álibi forte a ponto de não temer afirmar que estava com a filha do inimigo. Agora, o detetive passando noites em claro à base de cafeína e energéticos, mantinha seus olhos no quadro de evidências tentando considerar todos os detalhes e entender onde tinha errado. Com uma ordem judicial e a presença do advogado Han, ele finalmente pode interrogar novamente a jovem suspeita.

— Estamos nós aqui de novo. — disse ela, dando um sorriso presunçoso — No terceiro encontro vai me pedir em casamento, detetive?
— Enquanto você brinca, eu continuo empenhado a provar que é a culpada. — disse ele convicto de suas habilidades de investigação.
— Boa sorte então. — ela manteve o sorriso no rosto — Por onde começamos meu depoimento?
— Onde estava na noite do assassinato? — perguntou ele.
— Eu estava primeiro na casa da minha prima Juliette Solar, pode perguntar para ela. — iniciou ela, voltando o olhar para o escrivão que começava a digitar — Como estávamos em recesso escolar, fiz ela pedir aos meus pais para dormir em sua casa, pois era a única forma de escapar no meio da noite e me encontrar com Magnus.
— E você saiu da casa de sua prima que horas? — perguntou ele.
— Às dez da noite, foi o horário que marquei com para seguirmos para sua casa. — respondeu com firmeza — Ele estava de volta a cidade e mesmo estudando juntos, não conseguia me aproximar dele por causa da sua irmã, que não parava de seguí-lo.
— E seus pais sabem dessa proximidade de ambos? — Ortiz mantinha o olhar fixo nela, em todas as expressões e palavras.
— Não. — ela olhou para o mesmo espelho, sabendo que sua mãe estaria vendo, já que o pai seguia em viagem para Londres — Como sabe, meus pais e a família Magnus são rivais há anos na Draconis, assim como nos negócios, então sempre fui proibida de me aproximar deles.
— Mas não seguiu a regra.
— Não. — ela voltou o olhar para o detetive — Eu e Magnus nos apaixonamos, mantivemos nosso relacionamento em segredo, mas ele teve que ir embora para Grécia e decidimos ficar somente como amigos. Foi assim que comecei a namorar Lorenzo, já que eu não podia ter o irmão de Hale Magnus, ela não teria o garoto popular da escola que sempre quis ter.
— Uma pequena vingança. — concluiu ele.
— Tenho 16 anos e já assisti Mean Girls mais de dez vezes. — brincou ela, rindo baixo.
— Se você se encontrou com , e de fato várias pessoas o viram entrar em casa com uma garota, o que estavam fazendo na hora em que a vítima morreu? — Ortiz foi mais específico.
— E foi exatamente em que hora? — perguntou ela.
— Meia noite e meia. — respondeu Ortiz.

respirou fundo, pensando se responderia essa pergunta ou deixaria para seu álibi. Engolindo seco, ela abaixou o olhar se fazendo de inocente.

— É uma pergunta muito íntima detetive, não sei se tenho coragem de respondê-la, não perto da minha mãe. — a jovem levantou o olhar novamente — O que faria se sua filha dissesse que não é mais virgem?

Do outro lado da sala, a mãe de desfaleceu pelas fortes emoções causadas pela filha. Castelatto suspirou fraco, deixando o assunto no ar, de forma subjetiva. Forçando Ortiz a novamente interrogar Magnus com a presença de seus pais e sua irmã, assistindo a conversa. já havia enfrentado algumas discussões com os pais pelas revelações iniciais. Sua irmã não olhara em sua cara há dias com raiva de sua amizade com o inimigo.

— Eu acabei descobrindo algo interessante com a senhorita Castelatto. — começou Ortiz assim que sentou de frente para o rapaz — Ela me contou o que fizeram na hora do assassinato de Lorenzo.
— Ele teve essa coragem? — se viu surpreso.
— Agora quero que você me conte a sua versão. — instigou Ortiz — Ou está com medo dos seus pais? Eles estão na sala ao lado ouvindo tudo.
— Não tenho medo deles, não mais. — a segurança de estava em seu olhar.
— Então diga.
— Chegamos em minha casa às dez e meia, antes me pediu para comprar chocolate, pois queria fazer uma maratona de Chicago Fire comigo, ela gosta muito dessa série. — começou ele.
— E onde compraram o chocolate? — indagou.
— Em uma loja de conveniência que estava aberta, paguei com o cartão de crédito, se te ajuda a conferir. — o jovem sorriu de canto — Então seguimos para minha casa, eu tirei a blusa de frio e dei para que colocasse o capuz, assim ninguém a veria. Quando chegamos no meu quarto, liguei o notebook e começamos a assistir a série.
— Interessante, ela não detalhou esta parte… — Ortiz fez um comentário para buscar alguma reação de instabilidade e incoerência nele.
— Ela deve ter ficado com vergonha de admitir que eu não a deixei ver, estava mais preocupado em matar a saudade da garota que amo, do que ver uma simples série. — ele riu, imaginando ser alguma estratégia do detetive para deixá-lo confuso — Mas com certeza ela deve ter dito que… Quando foi mesmo que Lorenzo morreu?
— Meia noite e meia. — respondeu Ortiz segurando a irritação.
— Não me lembro de ficar olhando no relógio quando estou dando prazer a uma garota, mas acho que nesta hora, estávamos na nossa terceira vez… Ou seria segunda. — ele riu — Mas posso te dizer que às uma da manhã minha irmã veio até meu quarto, estava no banheiro tomando banho e eu procurando sua calcinha debaixo da cama, pode perguntar a Hale.

Um álibi perfeito demais para Ortiz acreditar e engolir.

Quanto mais o cúmplice e a suspeita davam suas versões do fato. Mais Ortiz se pegava em uma teia de aranha da qual não conseguia escapar. Se a versão do casal era verdadeira, como seria possível ele ter encontrado um pedaço da unha de grudada na jaqueta de Lorenzo?

A investigação seguiu por mais algumas semanas com o detetive fazendo as mesmas perguntas para todas as pessoas que interrogou. Até que por ordens superiores, Ortiz foi obrigado a arquivar o caso por falta de evidências. Castelatto foi inocentado por falta de provas e graças a ajuda de seu brilhante álibi.

Mas será que existe um crime sem culpado?

- Minutos antes do assassinato

— O que você quer? — disse ao se aproximar de Lorenzo que a esperava debaixo da cerejeira do colégio onde estudavam.
— Quanta agressividade. — disse ele.
— Eu estava em um lugar maravilhoso até você mandar suas ameaças para o meu celular. — ela alterou a sua voz — Quem você pensa que é?! 
— Eu sou o garoto que você fez de otário, achando que eu iria deixar barato. — disse ele ao pegar no seu braço de forma agressiva — Achou mesmo que iria terminar comigo para ficar com seu namoradinho escondido? Achou que eu não iria descobrir sobre você e o Magnus?
— Me solta. — disse ela assustada com a agressividade dele, tentando empurrá-lo com a outra mão — Está me machucando.
— Eu só vou te soltar quando tiver o que me negou todo esse tempo. — ele tentou beijá-la à força.

Porém, relutou ainda mais para tirá-lo de perto, sem sucesso, pois ele era bem mais forte que ela. Em plena agonia, de tê-lo tentando arrancar suas roupas e rasgá-las por completo, ela começou a pedir socorro. Mas quem a ouviria ali naquele lugar completamente vazio. Uma luz no fim do túnel veio, quando Lorenzo a jogou no chão e se lançou em cima dela para forçá-la a beijá-lo novamente. Então, uma mão o pegou pela jaqueta e tirando-o de cima dele, socou seu rosto.

soltou um grito de susto, porém aliviada internamente.

— Nunca mais toque nela. — o rosto de foi iluminado pela luz da lua.
— Olha só… O namoradinho. — Lorenzo sorriu, e podia-se ver o sangue em sua boca — Vou acabar com você e depois conferir se essa vadia é realmente virgem.

Ele se levantou e, fechando os punhos, ergueu o braço para devolver o soco que recebera. foi mais rápido que ele em se defender, e se lembrando do treinamento militar que o tio lhe deu quando criança, foi desviando das investidas do rapaz e lhe socando mais e mais. Até que Lorenzo retirou um canivete do bolso para obter vantagem. Em um piscar de olhos que chutou sua mão, mandando o canivete para longe, Lorenzo aproveitou uma pequena distração pegando uma pedra para acertar

Contudo, algo parou repentinamente sua ação. Fazendo-o cair no chão, deixando a pedra rolar. O olhar se Magnus se levantou, vendo estática com a mão ensanguentada e o olhar assustado. O jovem se levantou e a abraçou.

— Eu… … — sussurrou ela, ao sentir seu abraço seguro — Eu só queria afastá-lo de você.
— Está tudo bem. — sussurrou ele de volta — Vai ficar tudo bem, você não tem culpa.
— O que faremos agora? — ela moveu seu olhar com suavidade para a árvore de cerejeira.
— Vamos dar um jeito nisso, apenas faça o que eu disser. — assegurou ele, deixando-a tranquilizada.

Debaixo da cerejeira
Venha um pouco mais perto, não quer ficar mais perto de mim?
Você é meu milagre
No seu coração negro, é onde você vai me encontrar
Cortando através das rachaduras do concreto
No seu coração negro, é onde você vai me encontrar
- Black Heart / Carly Rae Jepsen

 

Draconis: A estrela que mais brilha, é também aquela que queima mais rápido.” - by: Pâms



FIM.





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