Time after Time
— Por favor, não morre. — sussurrei de forma desesperada, enquanto fazia continuamente a massagem cardíaca naquele desconhecido.
Bem ao longe, o barulho da ambulância surgia de forma gradativa. Em minha rotina diária, eu era uma médica excepcional e dedicada aos meus pacientes, então me recusava a desistir daquela vida mais uma vez. Continuava insistindo ali, mesmo cansada e esgotada por ter percorrido quilômetros até o local, ajoelhada ao asfalto esburacado da velha estrada desativada, persistindo em cumprir minha missão.
— Resista… Resista… — sussurrei novamente, respirando fundo.
Em minutos a ambulância estacionou próximo de nós, e logo os paramédicos correram para me ajudar. Um estrondo veio na direção de onde o carro do homem desconhecido estava capotado, seguido de uma pequena explosão causando um breve susto a todos. Era estranho estar acontecendo naquele momento, já que das outras cinco vezes, o carro explodiu mais rápido, como da segunda e terceira vez que não consegui chegar a tempo e o desconhecido morreu carbonizado.
— Qual o estado? — perguntou a paramédica.
— Ele já estava desacordado quando cheguei, sofreu uma parada cardíaca assim que o retirei do carro, felizmente consegui reanimá-lo. — disse checando novamente seu pulso, então me afastei para que eles o colocassem na prancha de resgate — Mas os batimentos estão fracos.
— Vamos levá-lo o mais rápido possível, se houver alguma hemorragia interna, deve ser controlada. — concluiu a mulher.
— Sim. — concordei os observando fazer os procedimentos.
Daquele momento em diante, não poderia me desesperar ou tomar a frente, já havia passado por aquela situação antes e na quarta vez por culpa minha a ambulância em que estávamos também sofreu uma colisão. Em um piscar de olhos, assim que o acomodaram na maca da ambulância, o desconhecido voltou a sofrer outra parada cardíaca.
— Não… — sussurrei me aproximando.
Eu queria fazer algo, era a minha função salvá-lo, mas das vezes que tentei sozinha falhei. A primeira vez que havia o encontrado naquele mesmo ponto da velha estrada, foi poucas horas depois de receber uma mensagem em meu celular com as coordenadas pedindo por socorro. Foi aí que meu ciclo vicioso de voltar no tempo para salvar a vida daquele homem desconhecido se iniciou, e após todas as falhas até agora, o mesmo dia se iniciava em minha vida com uma nova tentativa de salvá-lo.
— Afasta! — exclamou a paramédica, ao usar o desfibrilador.
O barulho do equipamento me chamou a realidade, me deixando ainda mais apreensiva, porém no final novamente eu havia falhado. Meu coração se partiu, no momento em que o dele parou de bater de vez.
- x -
Sábado, 11 da manhã…
O barulho do alarme soou mais uma vez ao lado da cama, senti minhas pálpebras ainda mais pesadas ao me lembrar que enfrentaria o mesmo dia na luta de salvar aquela vida. Abri os olhos e ergui meu corpo, olhei para o lado e lá estava meu gato se espreguiçando na almofada que ficava no peitoril da janela, mais um dia de preguiça para ele. Me espreguicei um pouco e olhei para meu celular, eu já sabia que a mensagem só chegaria às 14hrs da tarde. Fechei meus olhos novamente e apertei, tentando me lembrar dos detalhes de todos os outros dias, das ruas pela qual dirigi com meu carro até chegar aquela velha estrada.
Era frustrante tentar me lembrar e não conseguir até certo momento do dia, era como se o próprio tempo estivesse contra mim, para que eu falhasse mais uma vez. Abri meus olhos e voltei minha atenção para o celular enrolado em meu jaleco, aquele deveria ser um relaxante dia de folga depois de 72 horas de plantão, mas lá estava eu acordando pela sétima vez no mesmo dia 7 para salvar uma vida desconhecida.
— Meu celular irá tocar daqui dois minutos. — sussurrei ao começar a me lembrar vagamente das coisas que certamente aconteceriam pela manhã — Meu irmão irá tentar me convencer novamente a jantar com ele e sua noiva, vai dizer que levará um amigo para me apresentar… Eu vou recusar, ele vai insistir…
Logo o celular começou a tocar. Voltei meu olhar novamente para o aparelho novamente sentindo uma breve tontura, era como se minha mente estivesse fazendo download de vários arquivos ao mesmo tempo. Comecei a pensar, e se eu fizesse o contrário de tudo que eu vinha repetindo nas últimas seis vezes? Será que algo mudaria? Me levantei da cama e peguei o celular, fixei meu olhar no nome do meu irmão que aparecia na tela e finalmente atendi.
— . — disse ele assim que atendi — Finalmente, achei que estivesse dormindo.
— Eu vou. — respondi antes que ele pudesse perguntar.
— Vai?! — seu tom confuso parecia tentar entender.
— Ao jantar. — expliquei — Pode vir me buscar às sete.
— Você decidiu ir? Assim? Se que eu te suborne? — ele riu do outro lado.
— Nem se você me subornar com chocolates. — ri junto.
A primeira decisão contrária estava concluída. Agora eu precisava me lembrar exatamente como chegar a velha estrada e quem sabe, impedir o acidente daquele homem, ao invés de socorrê-lo. Assim que desliguei o celular, corri até o armário e rapidamente troquei minhas roupas, precisava ganhar tempo, já que o mesmo estava sempre contra mim. Eu tinha apenas 3 horas para chegar até ele, impedir sua morte pela sétima vez e talvez obter sucesso nessa tentativa.
— Dra. Miller. — disse o senhor Han, zelador do prédio onde morava — Não sabia que estava de folga hoje.
— Sim estou, mas vou dar uma saída agora. — assenti ao ajeitar meu kit de primeiros socorros em minha bolsa transversal — Se alguém procurar por mim, diga que volto mais tarde.
— A senhora me parece aflita, aconteceu alguma coisa? — ele me olhou preocupado.
— Não, mas vai…
— Eu posso ajudar em algo? — perguntou.
— Não… — eu parei por um momento e pensei nas outras vezes que neguei a ajuda dele — Para ser honesta, sim, eu aceitarei sua ajuda.
— Se tiver ao meu alcance.
— Senhor Han… Por acaso sabe como chegar a uma velha estrada? Ou onde teria alguma velha estrada nas saídas da cidade?
— Existem muitas estradas velhas em nossa região, principalmente pelas redondezas do bosque. — respondeu ele — Não teria nenhuma característica específica do lugar?
— Não, não consigo me lembrar. — o olhei tentando manter a calma, para conseguir pensar em uma nova estratégia.
— Hum… — ele se virou e caminhou até o balcão onde guardava suas coisas, então pegou um velho mapa e trouxe até mim — Aqui está, este mapa era do meu pai, quando eu era criança uma vez coloquei em minha cabeça que seria escoteiro e acabei mapeando todas as estradas desativadas da região, sabendo exatamente quais são seja mais fácil de encontrar a certa.
— Obrigado senhor Han. — peguei o mapa de sua mão e me afastei dele — Ah, posso pegar a moto do seu filho emprestada?
— Claro Dra. — ele pegou o capacete que estava na cadeira e as chaves em seu bolso me entregando — Ele acabou de chegar do trabalho e nem conseguiu estacionar direito, estava tão cansado, meu garoto.
Agradeci novamente e saí correndo. Coloquei o capacete e liguei a moto, eu tinha cinco direções e não sabia a certa. Pelo menos desta vez poderia dizer que as circunstâncias estavam contribuindo para meu sucesso. Estava a menos de duas horas e meia para o fatídico acidente, então teria que ser rápida e precisa. Percorri longos quilômetros de uma estrada a outra, a cada direção errada meu coração se apertava ainda mais, além da agonia de imaginar que poderia viver aquele dia novamente por uma oitava vez. Não! Não queria isso, e lutaria até o fim para que aquela vida fosse salva finalmente.
— Não… — sussurrei ao retirar o capacete — Não pode ser…
E mais uma vez o tempo se opunha contra mim. Por que a estrada correta seria logo minha última opção? Respirei fundo, tentando me manter focada e não me desesperar, então coloquei o capacete novamente, liguei a moto e finalmente segui para a última e correta direção. Faltava menos de trinta minutos para o acidente e eu não sabia ao certo em que trecho da velha estrada aconteceria, mas o que importava era eu chegar antes dele, a tempo de impedir a tragédia.
Em um momento inesperado, veio uma pontada forte em minha mente, fazendo-me lembrar do local exato, em segundos ouvi meu celular tocar, certamente a mensagem de socorro que pontualmente chegava na mesma hora. Isso significava que eu tinha somente quinze minutos. Minha fixação e foco me deixaram desligada do que acontecia ao meu redor, até que senti o impacto de algo batendo em mim e na moto em que estava.
— AHHHHHHH!!! — tudo começou a girar ao meu redor.
Uma forte dor surgiu em cada um dos músculos do meu corpo por alguns instantes, ainda zonza tentava detectar meus sinais vitais, mesmo com as dores, apertei meus olhos para conseguir ouvir meus batimentos. Aparentemente eu estava bem, conseguia sentir a ponta dos dedos dos meus pés, o que significava nenhuma fratura na coluna, mas o sangue que escorria pela minha face era um mal sinal. Certamente tinha batido minha cabeça ao cair, mesmo com o capacete estava ferida. Em instantes, fui sentindo minha respiração cada vez mais fraca.
— Moça… — disse uma voz grossa, masculina — Moça você está bem?
Tentei abrir os olhos, mas pareciam ainda mais pesados do que pela manhã quando acordei.
— Alô, emergência, aconteceu um acidente na velha estrada de Golden Hill, próximo a entrada oeste do bosque. — ouvi ao longe sua voz, certamente ao celular — Meu carro bateu em uma moça que vinha de moto, foi um acidente, por favor, venham rápido.
Forcei um pouco mais para abrir meus olhos, precisava dizer ao homem que haveria outro acidente pior. Assim que minha visão se focou em seu rosto, um frio passou por meu corpo congelando-me por dentro, aquele homem era o mesmo cujo a vida eu deveria salvar.
— Você… — sussurrei forçando um pouco.
— Se mantenha acordada por favor, eu chamei a emergência, ficarei aqui ao seu lado. — disse ele ao segurar uma de minhas mãos com cuidado — Eles estão chegando.
— Qual o seu nome? — perguntei, precisava saber quem era o homem que eu estava a dias tentando salvar — Por favor, diga seu nome.
— Lewis. — respondeu ele.
— … — repeti.
Eu não me lembrava ao certo, mas algo me dizia que já havia ouvido aquele nome antes. Logo pensei em todos os meus passos naquele dia, todas as mudanças de decisões que me levaram aquele fim. Para salvá-lo eu teria que arriscar minha vida? Talvez.
— Consegue me dizer o seu nome? — perguntou ele.
— . — sussurrei — Miller.
— Miller. — ele repetiu também — Dra. Miller do…
Antes mesmo que ele pudesse terminar a frase, minhas vistas escureceram e perdi a consciência. Acordei novamente ouvindo o reconhecível barulho do monitor de sinais vitais, remexi minhas pálpebras forçando abrir meus olhos sem sucesso, então me concentrei em mexer minhas mãos ou pés.
— Então dr. Smith, alguma previsão para a dra. Miller acordar? — perguntou uma voz feminina, reconheci que era da enfermeira Abigail.
— Sinais vitais ok, mesmo com a perda de sangue seu corpo está reagindo bem a transfusão e se estabilizando. — dr. Smith parecia confiante em suas palavras, o que me deixava tranquila quanto a minha vida.
De repente, a imagem de surgiu em minha mente, se eu havia me acidentado em seu lugar e salvado sua vida, significa que estava livre daquele ciclo de voltar no tempo e viver o dia 7 novamente. Mas, o que será que havia acontecido com ele? Continuei me esforçando para abrir meus olhos, passei um tempo persistindo até que finalmente consegui.
— Hum… — murmurei ao elevar meu dedo indicador — Smith?!
Pensei que meu colega de trabalho ainda estivesse no quarto, porém tive uma outra surpresa, estava sentado na poltrona para acompanhantes, com esta um pouco reclinada. Dormindo. Mesmo com minha visão ainda precária, conseguia distinguir seu rosto suave e sereno, diferente das seis vezes que tentei lhe salvar sem sucesso.
— . — sussurrei.
— Hum?! — ele despertou se remexendo na poltrona e olhou em minha direção — Dra. Miller.
— Me chame de . — pedi ainda com dificuldade em falar.
Ele se levantou.
— Eu vou chamar o dr. Smith. — disse se voltando para a porta.
— Não. — sussurrei novamente — Em que dia estamos?
— Por que a pergunta? — ele me olhou confuso.
— Por favor, me diga.
— Quarta-feira. — respondeu — Você estava há quatro dias em coma.
— Quarta. — sorri de leve.
Nunca gostei tanto da quarta-feira como agora.
— O que faz aqui?! — perguntei.
— Acho melhor você descansar, não quer que eu chame o médico? — seu olhar preocupado era nítido.
— Eu estou bem, já estou fora de perigo. — respondi — Então, me responda.
— Eu praticamente atropelei você, eu juro que não queria, fiquei preocupado com você, foi um defeito no motor do meu carro que não me deixou frear a tempo. — explicou ele.
Certamente parte da causa do acidente que ele havia sofrido.
— Mas, o mais louco é que não estou aqui somente pelo acidente. — continuou.
— Hum?! — senti uma leve tontura.
— , eu sou amigo do seu irmão, era comigo que você iria jantar no sábado à noite. — explicou ele.
Por aquilo eu não esperava.
— E meu irmão?! Soube do meu acidente?
— Sim. — respondeu — Eu o mandei para casa, para descansar e jurei que não sairia do seu lado até ele voltar.
— Obrigado. — sorri de leve.
— Não, eu que devo te agradecer. — ele parecia tentar entender algo que pensava — Não sei explicar, mas de alguma forma você salvou minha vida, apesar da sua ter ficado em risco.
— Hum?! — eu já sabia como, mas queria entender mais.
— Como disse havia um defeito no motor do carro, ao frear para tentar não bater em você, eu pude evitar um acidente maior só comigo. — explicou ele — Uma das peças estava superaquecida e provocaria algum tipo de capotamento assim que eu tentasse parar o carro. — ele abaixou o olhar — Eu me sinto mal por ter te causado isso, mas grato por não ter acontecido nada pior.
— Estou feliz então, por ter conseguido. — sorri novamente o olhando com leveza.
Este tempo todo eu estava tentando salvar a vida do homem que meu irmão queria me apresentar.
Se era destino eu não sabia, mas estava curiosa para saber o propósito de tudo isso ter acontecido. Se o tempo havia finalmente parado com aquele ciclo vicioso, para que eu vivesse novamente e o dia seguinte seria quinta-feira, também não tinha total certeza.
No fim, estava grata a Deus por ter conseguido salvá-lo.
This time we're not givin up,
Let's make it last forever,
Screaming... Hallelujah,
We'll make it last forever.
- Hallelujah / Paramore
“Destino: Quando dois caminho estão destinados a se cruzar, não importa a circunstância, até mesmo o tempo pode se dobrar para que aconteça, basta apenas ser um propósito de Deus.” - by: Pâms
The End?!
E aos quarenta e cinco do segundo tempo, olha eu adotando uma fic abandonada sem saber o que escrever kkkkkk.. mas finalmente saiu, pra glória de Deus!!! Foi curtinha, mas já estava afimd e escrever uma fic de volta no tempo a bastante tempo, estou feliz por ter feito agora, espero que tenham gostado!!! Até a próxima fic.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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