Capítulo Unico
O temor aumenta gradativamente como as ondas
Não confie no que você vê
Olhe dentro de mim
E você verá o meu eu escondido
Enigmático
― ! ― o grito de fez com que aquela que estava sendo chamada desse um pulinho na poltrona, desviando os olhos do celular para procurar a direção da voz da amiga, que subia os dois degraus do deque da casa para entrar nela.
― O-Oi?! ― falou de volta quando a viu abrindo a porta do local e entrando como um furacão, ainda com os olhos arregalados de susto.
― Por que você ainda não foi encontrar a gente? Nós estávamos te esperando que nem idiotas pra comer, você falou que só ia levar cinco minutos. ― revirou os olhos ao encontrá-la simplesmente sentada na poltrona da sala, com o maldito aparelho nas mãos e uma expressão de quem não sabia o que estava fazendo de errado, mesmo que soubesse exatamente o que estava fazendo de errado. Nem pra ela estar dormindo, pelo menos a desculpa seria mais plausível, mas não…
― Desculpa, eu acabei me distraindo. ― sorriu amarelo ao perceber que estava ali há meia hora, quando inicialmente iria só mandar uma mensagem para avisar pra sua mãe que estava bem. Magicamente, a aba do grupo da faculdade apareceu em sua tela, e ela estava conversando sobre os prazos para os relatórios que precisavam fazer totalmente sem saber como tinha ido parar ali…
― Não vai adiantar nada você viajar pra se distrair e não sair dessa droga. ― a mais velha revirou os olhos, balançando a cabeça negativamente e parando de frente para , que ainda estava sentada de forma preguiçosa.
Haviam aproveitado o feriado prolongado para ir até a casa da família de , trocando com a mãe dela que sempre ia para capital aproveitar alguns dias de compras no apartamento que as duas dividiam lá. A ideia partira de também, porque sabia que a amiga de infância ficava extremamente estressada conforme a época de prova se aproximava, e sabia que distraí-la era a melhor opção para manter tudo controlado. Além disso, era uma boa desculpa para passar um tempo com o seu novo namorado e apresentar a ele o lugar que haviam crescido.
Tanto quanto passaram boa parte das suas vidas naquela praia, crescendo correndo pela orla e sonhando quando iriam desbravar o mundo juntas. Estavam certas, e realmente conseguiram alcançar o primeiro objetivo de muitos quando passaram em uma faculdade na metrópole, mas a casa delas sempre seria ali, naquela cidade litorânea, onde estavam emocionalmente conectadas, por mais que não fossem muito apegadas a essas coisas.
Era um local meio místico segundo as pessoas da capital, com lendas que beiravam o ridículo para as duas. Elas não acreditavam em nenhuma delas, e passaram toda a infância zombando e fazendo paródias das histórias, não acreditando que barcos não passavam ali porque era amaldiçoado e que todos que navegavam naquelas águas, afundavam. dizia que era porque o porto da cidade não era lucrativo, e, , que não entendia nada daquilo, sorria e concordava. Para ela, tudo era mais simples: maldições, monstros e lendas não existem. São simplesmente mitos criados para chamar a atenção das pessoas para um determinado lugar, e parecera dar certo, já que a economia da cidade estava indo tão bem por conta dos turistas…
― Me desculpa, você pode confiscar a partir de agora se quiser, é só avisar minha mãe de hora em hora que eu ainda estou viva. ― levantou após algum esforço mental, erguendo a mão com o celular para que o pegasse. Sua mãe também haviam se mudado para a capital porque não aguentava ficar longe da filha, e era por isso que a casa da melhor amiga era o único local que podia voltar quando iam para lá. Quer dizer, um dos únicos dois lugares.
― Viva em qual sentido? Por que com essa sua cara… ― provocou, pegando mesmo o aparelho e já dando as costas para começar a andar para fora, fugindo da possível agressão física que viria. Sabia que a mãe de nem devia estar assim tão preocupada, visto que estavam juntas e que não era a primeira vez que viajavam daquela forma. De duas em duas horas tava bom.
― Me respeita. ― Victoria grunhiu revoltada, fazendo uma expressão ofendida e respirando o ar cheio de maresia quando saíram da casa. Amava aquele cheiro, aquele ar e aquele clima litorâneo, mas não amava festas. ― Já tem muita gente lá? ― questionou, desanimada pela resposta. Detestava muita gente nos lugares, e isso não era novidade.
Aqueles luais que costumavam fazer quando iam para a casa de eram para ser simples: as duas, e só, o trio maravilha que aterrorizou os professores em exatamente todos os anos no Colégio. Mas da última vez tudo deu errado e acabou praticamente se tornando uma festa com trazendo a namorada, que trouxe um amigo e assim indo, para traumatizar ainda mais a já tão sociável garota.
― Dessa vez não, não precisa se preocupar em ter ciúmes. Vamos ser eu, você, o e o , como nos velhos tempos. ― cutucou a melhor amiga com o ombro, a provocando e fazendo-a revirar os olhos.
― Eu não tenho ciúmes. ― respondeu emburrada, mas seus passos ficaram magicamente mais rápidos ao descobrir que não havia mais ninguém lá além dos dois garotos, sendo prontamente ignorada pela melhor amiga que nem se preocupou em contestar, sabendo que ela nunca iria admitir.
nunca precisou dizer que nas férias de verão, quando foram até a cidade e passaram o ano novo juntos, estava com ciúmes da menina que havia levado ao luau, principalmente porque ela parecia ser extremamente popular e trouxera mais boas trinta pessoas com ela. Ele nunca chegou a apresentá-la como namorada, mas algo colocado na cabeça de era impossível ser tirado, e nem se dava ao trabalho de tentar mais.
― Finalmenteeee!
O grito de foi ouvido mesmo que ainda estivessem parcialmente longe da fogueira, e sua voz veio tremulando enquanto ele corria e segurava a última sílaba dramaticamente. tentou controlar o sorriso que tremeu no canto do lábio, convencendo a si mesma que ainda estava irritada com ele, e que havia ido embora da outra vez sem que houvessem se resolvido, então ainda tinha que estar com raiva dele. E teve que fazer um bico para não vacilar na expressão quando sentiu o corpo do melhor amigo se chocando contra o seu, e ele lhe apertando tanto, com tanta saudade e carinho, que quase faltou o ar em seus pulmões.
― Eu achei que não fosse conseguir ver você dessa vez, ou que fosse ter que ir te buscar eu mesmo! ― ele reclamou, erguendo alguns centímetros do chão em um ímpeto de força e a fazendo gritar, acabando completamente com a pose que ela tentava manter.
― !!! ― ela bronqueou, tentando se soltar dos braços do rapaz para agredi-lo, mas não sabia dizer quando foi que ele ficou tão forte… E, aparentemente, mais musculoso também, com os ombros um tanto mais largos.
― Cada ano que passa, ela fica mais antissocial. ― não resistiu em provocar, dando de ombros desinteressada ao passar entre os dois e continuar o caminho até , sentado em um tronco com uma expressão perdida de quem não estava nem nessa galáxia.
― Isso é tudo convivência com você. ― deixou um sorriso satisfeito sair pelos lábios com aquela constatação, deixando também se desvencilhar dos seus braços depois de fechar os olhos e aproveitar o cheiro tão agradável dos cabelos da mais nova. ― E saudades de mim, a única pessoa realmente sociável nesse lugar.
― Não que alguém realmente esteja querendo esse título… ― comentou calmamente, concentrado em assar o seu marshmallow na fogueira e nem mesmo vendo a namorada sentando ao seu lado no banco feito de um tronco de árvore.
― Ela não parece estar com muitas saudades, olha bem pra expressão dela!
apontou para a cara de e a olhou depois de entrelaçar seus dedos para guiá-la pela areia até o pequeno refúgio que seria dos quatro naquela noite. Ele não havia percebido antes, mas ela estava olhando para o mar, como se estivesse muito concentrada em manter aquela feição indiferente à conversa que se desenrolava, sem contar que nem mesmo apertava sua mão de volta, apenas deixava que a segurasse.
― , NÃO ME REJEITA ASSIM! ― desfez o contato entre eles para cruzar os braços à frente do peitoral de forma dramática, com um bico se formando nos lábios cheios, evidenciando ainda mais o formato de coração que eles tinham e fazendo a garota respirar fundo. ― Não joga todos os nossos anos de amor e amizade fora desse jeito!
― ! ― ela gritou antes que ele continuasse com o drama para que ele parasse, sabendo que ela não ia aguentar em começar a dar risada se ele fosse muito mais longe que aquilo.
― O que eu fiz pra merecer isso?! ― ele questionou quando finalmente chegaram a fogueira, voltando a segurar as mãos da garota antes que ela se sentasse, a obrigando a olhar em seus olhos ao virá-la para sua frente.
― estava com ciúmes. ― dedurou quando percebeu que a amiga continuaria com aquele teatro por muito mais tempo se deixasse, e, sinceramente, não havia sido para aguentá-la fazendo drama para cima de que viajara por quatro horas e meia naquele ônibus infernal.
― Ciúmes?! ― o próprio não entendeu nem um pouco o que aquilo queria dizer, tentando puxar em sua memória um por quê e de quem ela teria ciúmes.
― É claro que eu não estou com ciúmes, que ridículo! A gente não se vê há quase seis meses, por que eu estaria com ciúmes?! ― infantilmente bateu com os pés no chão, movendo o pescoço para o lado para encarar com um olhar nada feliz e não encarar o melhor amigo que estava em uma crise existencial, passando em sua mente todos os momentos aos quais poderiam ter despertado aquele sentimento na garota.
E podiam ser muitos e também bem aleatórios e ridículos. não era conhecida por ser desapegada.
― Porque você é ciumenta e rancorosa. Então se você sentiu ciúmes, provavelmente o guardou também.
― Você sabe que vai voltar comigo naquela porra de ônibus, não sabe?! ― resmungou entre dentes, aproveitando o espaço de tempo que o amigo estava distraído para ameaçá-la. Naquele momento, se não fosse por segurando suas mãos, provavelmente tinha usado-as para as rodear no pescoço da amiga.
― Eu vou voltar com ele. ― apontou para com um sorriso satisfeito, enquanto ele estava distraído o suficiente com os doces para nem mesmo estar observando a conversa mais.
― Ai, me dá um tempo, sinceramente. ― bufou irritada, puxando suas mãos de volta e se desvencilhando de que “acordou”, arregalando os olhos. Até tentou segurar sua mão e não deixá-la ir, mas ela já estava longe quando o fez, deixando que apenas agarrasse o vento.
― O que foi que eu fiz?! ― virou para perguntar para , completamente chocado com o que havia acontecido ali.
― Você arrumou uma namorada e não contou pra ela, no ano novo. ― a forma mais fácil para que eles se resolvessem rápido era saber de tudo logo. Assim, ele bolaria um plano mirabolante em sua cabeça que acabaria com o mal humor de e eles podiam passar uma noite agradável a qual ela e ririam incansavelmente das palhaçadas que eles fariam. ― Cai naquela coisa lá que ela acha que isso foi falta de consideração, você sabe, ela gosta de saber de tudo.
― A-ai, droga… ― sim, conhecia bem a amiga para saber que aquilo a deixaria profundamente magoada. A única coisa era que não havia arrumado uma namorada, ou com certeza ela seria a primeira a saber. Até porque, ele queria que ela que fosse a sua namorada. ― Ela achou que a Minah era minha namorada? ― suspirou frustrado, olhando da amiga para o nada como se questionasse os céus porque uma coisa daquelas havia acontecido.
― AAAAH, era esse o nome da menina?! ― teatralmente abriu a boca, como se tivesse feito a descoberta do século. Isso seria muito útil se tivesse lembrado enquanto ainda estavam na viagem de ano novo… ― Mas sim, ela achou. Ficou falando lá na capital que você nem deu atenção pra ela direito, só ficou com essa menina, que ela viaja mais pra te ver do que pra outra coisa e você faz isso, que ela não ia querer te ver quando a gente viesse de novo e blábláblá, você já conhece a peça, eu nem preciso falar. Pra mim, é ciume. E eu sinto raiva porque fiquei seis meses aguentando ela falando disso, então, faz favor e resolve.
― Tá… ― respondeu só isso, ainda chocado com tantas informações sendo esfregadas na sua cara e nunca imaginando que era assim que se sentia, virando as costas e indo na direção a qual a melhor amiga foi há alguns segundos.
― … ― chamou quando viu-o sumir entre as luzes da praia, e a namorada desviou o olhar do marshmallow para ele, o incentivando a continuar. ― Ela realmente te falou tudo aquilo?
Inicialmente, havia conhecido porque os dois tinham aulas de filosofia juntos, e acabaram como uma dupla quando um dos professores escolheu os grupos da sala. Eles posteriormente acabaram se tornando amigos, o que ocasionava que ele conhecesse-a bem para saber que ela não falaria aquilo, nem morta. E seu namoro com começou quando ela os viu estudando na sala da casa que elas moravam juntas pela primeira vez, quando teve uma crush instantânea pelo rapaz que era bonito demais para ser ignorado, e não demorou para que aparecesse lá bem mais vezes para buscá-la do que para estudar.
― Ela não disse… ― sorriu amarelo, deixando os olhos correrem outra vez até o fogo que estalava nos gravetos. ― Mas eu sei que ela pensou. ― e então balançou os ombros no ar como se não fizesse diferença entre uma e outra. ― E não é a primeira vez. Você não tem noção do quanto isso acontecia no ensino médio, era insuportável!
― Ah, então isso é comum entre os dois? ― havia acabado de conhecer , mas também já se identificava. Aparentemente, ele era lerdo o suficiente para perceber os ciúmes de e por isso as discussões se desencadearam.
― Mais do que você pode imaginar. Eu já falei que eles se amam, mas infelizmente, os dois trouxas não acreditam em mim. Vamos ver até quando isso vai durar…
― Inferno… ― chutou a areia sem enxergar bem onde é que estava chutando, enterrando a rasteirinha entre os grãos sem querer e praguejando outra vez.
Após conseguir recuperá-la, simplesmente desistiu de continuar e sentou na orla, respirando fundo e revirando os olhos. Havia sido dedurada na cara dura e agora não sabia bem qual desculpa iria usar para desacreditar que estava com ciúmes dele. Fazia qualquer coisa, menos admitir. tinha que adicionar orgulhosa na sua lista de defeitos.
― Por que uma mulher tão bonita estaria tão irritada essa hora da noite? ― o coração de deu um pulo quando ela ouviu uma voz masculina vindo do seu lado, e o seu corpo também quase caiu lateralmente na areia antes dela virar o rosto para encarar quem é que estava falando consigo.
― Ai, meu Deus… ― ela colocou uma das mãos no coração, respirando fundo algumas vezes para acalmar os batimentos e se recuperar do susto que tinha passado.
― Desculpe, eu não queria te assustar.
A voz do desconhecido tinha um timbre tão aveludado que fez todos os pêlos do corpo de se arrepiarem. Era como se ele cantasse exatamente cada sílaba que pronunciava, de forma sussurrada em seu ouvido, como uma sinfonia inteira para que apreciasse e esquecesse completamente que nunca o havia visto e nem que não devia falar com estranhos, porque naquela hora, tudo o que queria fazer, era falar com ele.
― Tudo bem, já foi. ― ela forçou um sorriso sem graça, retirando seus cabelos do caminho de suas pálpebras para poder olhá-lo melhor, e, apesar da falta de iluminação adequada lhe impedir de encontrar detalhes, soube que o conjunto da obra era lindo.
Os olhos do homem pareciam brilhar de uma forma especial, mais que a lua cheia que estava estampando o céu, e o relance do seu sorriso… Aquele sorriso tirou-a completamente de órbita.
― Eu me chamo . ― ele se apresentou, buscando a mão da garota que ainda estava à frente dos seios dela para erguê-la e beijar os nós de seus dedos.
― Meu nome é .
― Tão lindo quanto a dona. ― ele alargou ainda mais o sorriso, e ela piscou algumas vezes pausadas, abobalhada. ― O que você veio fazer aqui, ? ― questionou, deixando a mão dela se afastar de seus lábios e jogando o corpo um pouco para trás, fazendo que a luz dourada do poste que estava na parte cimentada da orla banhasse metade de seu rosto, e encontrasse uma pinta próxima ao seu olho. Um detalhe extremamente convidativo, que encheu-a de vontade de tocá-lo.
― E-eu… Estava só dando uma volta para espairecer… ― repreendeu a si mesma por aquele tipo de pensamento, mas não por muito tempo. A verdade era que toda sua mente parecia ficar branca perto do desconhecido e ela nem mesmo recordava porque tinha pudores.
― Então… Por que você não vem comigo?
Aquele convite soou muito mais certo e tentador do que ele realmente era. Em uma situação normal, não pensaria duas vezes em como ia respondê-lo e mandá-lo para o inferno, mas aquela definitivamente, não era uma situação normal. Havia algo naquele homem, alguma coisa que a impedia de pensar com clareza. Alguma coisa que fazia a única resposta plausível para aquela pergunta ser “sim”.
― !
Ouvir a voz de foi como acordar de um sonho, e, em um piscar de olhos, tudo pareceu ruir na sua mente e ela arrastou o corpo para trás assustada, se afastando do desconhecido que agora tinha uma expressão séria tomando as belas feições.
― , eu quase não consigo te alcançar! Desde quando você corre tão rápido?! ― ah, ele sabia exatamente a resposta para aquela pergunta. Desde quando ela achou que por estar no ensino médio, tinha que ser como as outras garotas e decidiu fazer dieta e tentar ser líder de torcida, aprendendo a correr muito rápido no processo, mesmo que ninguém soubesse exatamente o porquê tinha que correr bem para ser uma boa líder de torcida…
Enfim, detestava aquela história por diversos motivos diferentes, sendo o primeiro que detestava lembrar do quão a amiga era insegura com sua própria aparência na época. O segundo era que as pessoas foram muito cruéis com ela até que atingisse o padrão que queriam, e isso a fez pensar por muito tempo que só seria aceita na sociedade se mantivesse aquela aparência, e que isso era a coisa mais importante a se fazer.
O terceiro, era que ela teve que esconder e abdicar de tudo o que realmente gostava de fazer para se adaptar aquele novo grupo de pessoas: jogar, animes, escrever, manter as notas altas e literatura. Quarto, mas que ele não admitia nem para si mesmo que o incomodava, os rumores de que ela só fez isso tudo para chamar a atenção de alguém do clube de dança que ele mesmo era presidente, coisa que ela também negava veementemente para si, mas até mesmo dizia que era verdade.
E quinto, mas não menos importante, o fato de hoje em dia apenas costumar correr para fugir de seus abraços. E realmente gostava de abraçá-la.
― Espera… Quem… ― a mente de deu um nó quando ele percebeu a presença masculina ali ao lado dela, e seu peito ardeu em um sentimento já bastante citado.
― Não sabia que você estava acompanhada. É uma pena. ― a expressão de decepção de outra vez atingiu a sanidade de , deixando-a sem resposta. ― Então, eu vou deixá-los à sós.
Tanto ele quanto a garota se levantaram e, por mais assustada que ela estivesse, novamente havia algo naquele homem que não a deixou desviar o olhar da silhueta que desaparecia na paisagem escura. A forma que olhava-o… mordeu o lábio, reprimindo sua chateação. Queria que ela olhasse com aquela admiração para si também.
― … Quem era? ― questionou com uma sobrancelha arqueada, em uma tentativa de despertá-la daquele devaneio, ao perceber que ela provavelmente não sairia dele sozinha.
― Eu não sei… ― ela sussurrou, ainda perdida no horizonte, sem saber como pensar outra vez pelo impacto da presença de , mas se esforçou para disfarçá-lo quando se viu ali sozinha com o melhor amigo, não querendo que percebesse e ignorando totalmente o fato de ser óbvio. ― O que você veio fazer atrás de mim?
― Ué, não é óbvio? ― ele resolveu se esforçar para camuflar o seu ciúme, sorrindo para deixar aquela cena para trás. ― Eu vim te buscar. Era pra nós estarmos nos divertindo, ! ― reclamou com os lábios já se juntando outra vez em manha.
― Não estou no clima, . ― quando ele começou a falar, a mente da garota viajou outra vez para refrescar a sua memória do porque estava tão irritada assim com .
E, quando ele questionou exatamente isso, “por que?”, ela teve que parar e respirar muito, muito fundo.
Aquele ano novo não seria um ano novo qualquer.
Esse era o pensamento de quando terminava de passar a sombra com glitter no canto de seu olho, e se olhava no espelho pela última vez antes de sair do banheiro do quarto de para terminar de se arrumar no closet. Não conseguia se segurar e queria ir logo encontrá-la, sabendo que ela já estava com . Eles provavelmente já estavam acendendo a fogueira, e ela já sentia as mãos suando em resposta ao nervosismo que eletrizava sua mente.
Mesmo que houvesse chegado de manhã, não havia visto ainda, porque ele disse que estava tendo que recepcionar algumas visitas em casa. Controlou as saudades e a ansiedade, sabendo que se encontrariam logo, e dedicou a sua tarde inteira em arrumar a decoração da tenda e posteriormente seus cabelos, fazer suas unhas, passar aquela maquiagem que provavelmente lhe daria um trabalho do cão para tirar depois, e agora, colocava o vestido novo que tinha escolhido na semana passada. Era vermelho, com a parte superior com um decote coração coberto de renda que seguia em mangas três quartos sem fundo, e a saia de tecido leve seguia com o vento, dando um efeito bonito.
Vermelho porque sabia bem o que queria naquele ano e, principalmente, como queria começá-lo. Havia criado coragem e finalmente decidira que ia se declarar para , e céus, como não queria levar uma bota bem na virada do ano… Tomou um copo d’água antes de sair e então começou a seguir o caminho que conhecia tão bem, e que lhe trazia tantos sentimentos e lembranças. Pensar que ele estava no fim daquele caminho a deixava praticamente eufórica.
Mas foi quando chegou lá que percebeu que as coisas não seriam como havia planejado. E, por mais que tivesse gente demais debaixo da tenda com teto e decorações de pano branco que sempre se matava para fazer com no ano novo, a primeira pessoa que ela viu fora , acompanhado por uma garota que nunca havia visto antes, mas que sorria de uma forma que fazia todo seu esforço em ficar bonita ser o mesmo que nada.
― Finalmente! ― agarrou seu pulso assim que a viu paralisada que nem imbecil um pouco longe da aglomeração, tentando afastá-la da cena o mais rápido possível.
― ! ― mas falhando miseravelmente, porque ele as viu antes que fugissem.
E, se houvesse prestado atenção, saberia naquele momento que o tremor na voz de não era de frio, e sim era porque ela estava prestes a chorar. E também saberia que toda a noite que ela ficou encolhida tomando refrigerante na frente da fogueira não era cansaço pela viagem desconfortável, mas sim tristeza em reviver e remoer a cena dele apresentando-a para a tal de Minah trezentas vezes em sua mente.
, minha melhor amiga.
Porque era isso que era, afinal. E não entendeu de onde havia tirado a ideia de que podia mudar tal coisa.
― Já cansou de sentir pena de si mesma? ― sentou ao seu lado, com um copo de algo que com certeza não era água de passarinho. Mas não fazia diferença, porque ela demorava o suficiente até ficar bêbada para que simplesmente já estivesse dormindo até lá.
― Eu não estou…
― São cinco pra meia noite, e ele está sozinho.
lhe interrompeu para apontar para um perdido de frente para uma das mesas que usaram para colocar garrafas e comidas aleatórias.
― Ele está procurando ela.
― Não, ele está procurando você.
― Ele não me procurou a noite toda…
Eram quatro pra meia noite quando seus olhos a encontraram e ele abriu um sorriso que fez suas bochechas redondinhas levantarem, e se gabar de estar certa.
― Vai logo até lá. ― incentivou, apenas para lembrar que era com que estava lidando e ela era tão cheia de doce como uma confeitaria.
― Pra fazer o que? ― havia planejado e decorado uma declaração maravilhosa, mas era enorme e não conseguiria recitá-la em três minutos. ― Ele está acompanhado, eu não posso fazer isso.
― Ele não está, eles são só amigos! Vai logo.
Aquele olhar significava que era isso ou agressão, e , apesar de depressiva, reconhecia que estava bonita demais para apanhar, então se levantou e respirou fundo. sorria para si com expectativa, como se soubesse que algo iria acontecer, e ela demorou um minuto e meio para criar coragem e começar a andar até ele.
Faltavam poucos passos, estava quase chegando quando os primeiros fogos cortaram o céu e Minah apareceu de algum lugar, passando a sua frente e beijando , cortando também seu coração.
Era isso. Meia noite. Feliz Ano Novo.
Ouvir falando durante seis meses que havia sido apenas um beijo na bochecha não estava adiantando, principalmente porque no ângulo que havia visto, não parecia mesmo um beijo na bochecha. Tinha certeza que eles estavam juntos e por isso, passou o resto da viagem inteira dentro de casa, o evitando, e um mês ignorando as mensagens de , além de ter ficado todo aquele tempo sem visitar a cidade - enquanto era a primeira vez que ia até lá no ano, já tinha ido seis. Tudo isso porque queria evitar vê-lo ao máximo.
― …? ― ele chamou quando ela simplesmente não respondeu, olhando para o nada como se estivesse pensando muito consigo mesma, e ele não aguentava esperar, antecipando a resposta tão nervosamente que mordia a parte interna de sua bochecha.
― Por nada, . Vamos, vamos voltar.
E então, simplesmente começou a andar de volta para a fogueira.
Preferia passar uma noite fingindo estar feliz do que justificar sua loucura pra .
― Olha só quem voltooooou! ― , para melhorar a situação, estava uma bola de felicidade e empolgação, fazendo questão de gritar ao vê-los chegando. Muito provavelmente, aquilo era culpa do sono. ― Já se acertaram, meus pombinhos?!
― Vocês não sabem o que a estava me contando! ― praticamente gritou, sentindo a necessidade de falar mais alto que ela para disfarçar suas palavras, já que parecia pronta para voar em seu pescoço e matá-la.
― O que? ― deu corda, já se sentando do outro lado da fogueira e pegando um espeto, sedento para acabar com aquele clima desconfortável que estava entre ele e .
― Que existem sereias aqui! É sério? ― ele riu de nervoso com a pergunta absurda que fazia, claramente só usando aquilo para mudar de assunto. Claro que não era sério.
― Aaah, é a lenda mais famosa da cidade. ― sorriu empolgado, espetando o marshmallow e o esticando para perto do fogo. ― Ouvimos isso desde que éramos crianças, que não se pode nadar longe da beira, nem pescar, e barcos aqui sempre afundam. Existem vários homens que dizem ter se encontrado com uma. Tinha até um enigma sobre isso, como era mesmo…?
― Debaixo d’água dorme um grande monstro. O temor aumenta gradativamente como as ondas. Não confie no que você vê, olhe dentro de mim e você verá o meu eu escondido, mais uma vez, você verá algo completamente novo. Enigmático.
❥❥❥❥❥
― Bom dia, flor do dia.
Claro, o tom sarcástico de era tudo que queria e precisava para começar o seu dia bem. Maravilhoso. Quer dizer, não que houvesse acabado de acordar, porque não era isso, era apenas a primeira coisa que estava ouvindo no seu dia. Tinha fingido que estava dormindo até que ela e saíssem para a praia e levantou depois. Além de querer dar um tempo para o casal ficar sozinho, não queria correr o risco de encontrar com logo tão cedo assim, além disso, ela mesma estava feliz de estar consigo mesma um pouco.
― Bom dia… ― o tom foi tão simpático quanto esperava que seria, ou seja, nem um pouco, e se espreguiçou no sofá, estralando o pescoço antes de deitar de novo.
― Você não pretende ficar o dia inteiro deitada no sofá, não é? ― questionou, arqueando uma das sobrancelhas com um mal humor assustador apenas de pensar que era exatamente o que planejava.
― Cadê o ? ― tentou mudar de assunto, pelo menos antes que as ofensas chegassem logo cedo. Havia acordado sensível após toda aquela situação da noite anterior, não queria ser xingada.
― Não sei. ― deu de ombros, como se também não se importasse muito não, e se não os conhecesse bem, estranharia, mas aquele era apenas o normal do casal. ― disse que ia te esperar pra dar um mergulho com ele.
― Ah… Tudo bem… ― engoliu em seco ao ouvir isso, mas resolveu concordar, porque se não já imaginava lhe olhando daquela forma que lhe fazia questionar sua própria capacidade mental, e, de novo, estava sensível demais para aguentar uma dessas, então fingiu um sorriso de canto.
Não era como se realmente estivesse disposta a ignorar tudo o que estava rodando a sua mente naqueles meses por causa de uma noite ao qual passaram juntos e por estar indo dar um mergulho com ele. Mas também não queria largá-lo lá lhe esperando, então respirou fundo, e assentiu com a cabeça, terminando de virar a xícara de café e subindo para o outro andar para se arrumar. Não demorou para estar estendendo a canga na areia e deixando a bolsa de palha em cima do pano fino para que ele não voasse.
Esticou o pescoço, procurando na imensidão azul que se estendia a sua frente, sabendo que ele não devia estar tão longe assim, afinal, ele sabia que apesar de ter nascido e sido criada na praia, nunca aprendeu a nadar. Não era como se não houvesse tentado, porque passara anos na piscininha repetindo tudo o que lhe diziam, mas costumava dizer que era uma disfunção do seu corpo que não obedecia a sua mente e a tornava incapaz. Talvez um trauma pelo fato de que sua mãe sempre ter sido superprotetora e nunca ter lhe deixado chegar com a água nem mesmo no quadril.
Ficou na ponta dos pés e se aproximou da água, tentando encontrar o melhor amigo, mas ele parecia ter sumido nas ondas… Até que o viu, como um ponto no horizonte que se aproximava aos poucos e batia os braços descoordenadamente, tossindo sempre que sua cabeça emergia da água. arregalou os olhos e não pensou duas vezes antes de começar a correr em direção a , entrando no mar e em pânico assim que viu que não conseguiria alcançá-lo sem saber nadar.
― ! ― ela mesma já estava começando a se afogar, e o medo se tornou ainda mais forte quando viu que uma onda que começava a se formar cobriria sua cabeça facilmente e ela provavelmente perderia o equilíbrio.
Estava prestes a começar a chorar quando a onda lhe cobriu, fazendo com que se obrigasse a fechar os olhos e tapar o nariz, e quando seus pés flutuaram acima da areia e perdeu o pouco equilíbrio que tinha dentro da água, sentiu duas mãos pegando sua cintura com força debaixo da onda antes que se desesperasse.
A água passou, e ela arregalou os olhos quando surgiu bem na sua frente, olhando por cima do ombro dele para o ponto onde ele estava e agora, para o rosto dele perigosamente próximo do seu.
Meu Deus. Ia esganá-lo.
― VOCÊ FINGIU? ― gritou, segurando nos ombros dele pelo reflexo do que havia feito quando estavam embaixo d’água.
― O que…? ― ele arqueou uma das sobrancelhas, não entendendo o que ela queria dizer. Nem mesmo estava dentro da água, e apenas entrou porque a viu indo longe demais no mar.
― Eu acabei de te ver no mar se afogando! ― agora já começava a deixar todo o desespero que sentira sair em seus olhos, mas ela não queria chorar na frente dele, por isso ostentou apenas a carranca infeliz e brava.
― , eu sei nadar! ― apontou o fato confuso, a ajudando a chegar mais perto da beira para conseguir se mover sozinha.
― Pessoas que sabem nadar também se afogam! ― e, assim que ela conseguiu andar com as próprias pernas, se afastou dele, revoltada e não muito conformada com a sua resposta, saindo da água e correndo para pegar sua bolsa.
ia atrás dela, mas assim que deu o primeiro passo no fundo do mar formado de areia, algo agarrou seu tornozelo. Ele tentou se soltar, achando que era uma alga que balançara com o movimento da água, mas assim que levantou seu pé para tentar continuar seu caminho, foi puxado para trás, deixando apenas bolhas subindo após a onda que encobriu seu sumiço.
― ? ― arqueou uma das sobrancelhas quando viu a amiga passando correndo e molhada pela orla para voltar para a casa, sendo que não faziam nem dez minutos que ela havia saído, começando a se preocupar com o que havia acontecido para a amiga estar com aquela cara de choro, e ter lhe ignorado e passado reto, mas a mão de agarrando seu pulso com força fez que ignorasse isso no momento.
― ! O , ele sumiu no mar!
Quando começou a abrir os olhos, tudo o que via a sua frente era o mais puro azul escuro do céu da noite com os pontos brancos pintando as estrelas, mas sua pele queimava e ardia de forma dolorosa como se estivesse exposto a uma fornalha. não fazia a mínima ideia de onde estava, e mal conseguia raciocinar para saber se estava mesmo vivo ou aquilo era o purgatório, porque pela dor que sentia as chances de ser essa segunda opção eram altas. Ergueu o corpo de forma lenta e vagarosa, a dor fazendo com que um gemido de desconforto escapasse por seus lábios.
― Olha só, ele acordou! ― uma voz suave e feminina soprou próxima, e ergueu os olhos para procurar a dona.
Mas havia outra coisa que o chamou mais a atenção no momento, e deixou-o ainda mais chocado. Ele estava no meio de uma pedra enorme, cercada pelo mar e pelas ondas que lambiam suas extremidades no ritmo marítimo revolto da noite.
― O que é isso… ― ele tentou questionar ao virar de costas para falar com quem quer que fosse que estava por ali, mas assim que o fez, seu pescoço foi puxado na direção da mulher que juntou os lábios em um beijo.
E então, tudo ficou preto outra vez.
Foram as sereias.
Era isso que haviam dito quando ouviram o que havia contado. As sereias haviam o pego, por isso tinha sido tão repentino. E não havia nada o que fazer além de esperar e rezar. Talvez elas fossem bondosas e o devolvessem vivo… Haviam diversas pessoas ao pé do monte sagrado, pedindo misericórdia, inclusive os pais de , enquanto …
chorou durante o dia inteiro no colo de , que agora, as quatro e quarenta e três da manhã, já havia caído no sono enquanto a mais nova nem mesmo piscara durante aquela noite. Não acreditava em sereias, então, apenas a restava uma opção, a qual também não queria acreditar. Preferia crer que seres místicos existiam do que acreditar que ele havia partido, e da janela do quarto observava a praia que não estava assim tão distante. A culpa era sua… Se tivesse ficado com ele, talvez isso não teria acontecido. Se não tivesse sido tão idiota e ficado irritada por uma besteira…
Sentia o cansaço mental começar a pesar, mas não planejava cessar sua vigília ali tão cedo. Seus cílios pesaram e bateram contra as bochechas por alguns segundos mais longos do que das outras vezes, mas logo seus olhos se abriram outra vez, a tempo de ver um homem saindo da água. Arregalou os olhos, o sono indo embora no mesmo momento e dando lugar a euforia.
― … ― arregalou os olhos ao ver a figura masculina começando a andar pela praia, rapidamente já iniciando uma corrida para o lado de fora da casa, sem se importar se estava apenas de camisola e que ela era curta o suficiente para não ser seguro simplesmente sair por aí correndo com ela.
não pareceu acordar mesmo que houvesse atropelado a porta no caminho, e com a corrida em um piscar de olhos ela já estava na orla, procurando na direção que o havia visto indo. Não que soubesse que era ele, mas quem mais seria? Será que estava tão preocupada e tão desesperada que estava tendo alucinações? Seu olhar começou a perder o foco no meio do horizonte, e estava prestes a começar a chorar outra vez, quando sentiu um sopro no seu pescoço e deu um pequeno pulinho, pelo susto.
― Oi. ― a voz de pareceu ser muito mais aveludada do que se lembrava naquele momento, mas ela não percebeu, ou se percebeu ignorou isso completamente.
― … ― virou de olhos arregalados, já com o rosto começando a ficar vermelho e os olhos inundados. Tudo o que fez foi abraçá-lo, envolvendo suas mãos ao redor do pescoço do rapaz e se apertando contra ele com urgência, não se importando se ele estava ou não com as roupas pretas completamente molhadas, o que a deixaria encharcada também.
sorriu de canto satisfeito para si mesmo ao sentir o corpo da mulher contra o seu, a retribuindo com um aperto protetor na cintura e dando a ela o tempo que precisava para se reacostumar a sua presença, e que para a surpresa em vê-lo passasse.
― O que aconteceu com você, como você está vivo?! Por que você está com essas roupas…? ― ela soltou tudo muito rápido, mas ainda com o rosto bem escondido em seu peitoral, abafando o som.
― … ― ele soprou o apelido, erguendo uma das mãos e a levando até o queixo da garota para levantar seu rosto e fazê-la encará-lo.
Ela deixou com que a guiasse, e logo se perdeu nas orbes escuras de , que reverberavam de uma forma diferente, com o tom oscilando entre escuro e claro, magicamente piscando um brilho desconhecido. Havia algo novo ali que nunca havia visto antes, uma intensidade, um magnetismo, um feitiço que a impedia de desviar os olhos, a hipnotizava e fazia com que esquecesse todas as outras coisas. Inclusive o que havia acontecido mais cedo, ou como tinha ido parar ali.
Sentiu a mão do rapaz deslizar pela lateral de sua cintura até chegar no quadril, então na barra da camisola que usava e por fim agarrar a sua coxa desnuda por baixo do tecido, a erguendo para que encaixasse-a na própria cintura dele. Mas não importava para ela. Estava completamente à mercê daquele olhar fixo no seu, como se houvesse se tornado uma criatura sedutora e irresistível.
― Eu vou te mostrar como se você estivesse sonhando. ― ele sorriu, e deixou seu olhar cair naquele curvar de lábios, se questionando quando o sorriso dele havia se tornado tão estruturadamente obsceno. ― Segure firmemente a sua mente.
― Amiga… ― sussurrou após descer as escadas, sentindo todo o seu corpo dolorido de uma forma estranha, muito provavelmente pelo cansaço. ― Eu tive um sonho tão estranho noite passada…
Um sonho. Aquilo havia sido um delírio da sua mente. Inclusive, queria acreditar que todo aquele dia havia sido um sonho, desde a primeira hora que acordou até o momento na praia. Aquele não era o garoto que conhecia, só uma loucura da sua cabeça. Sempre teve uma mente criativa para sonhos, não era uma novidade que às vezes alguns eram muito realistas.
― Não foi um sonho. ― respondeu, olhando no relógio apenas para ver que eram meio-dia e quatorze. ― O sumiu, …
O maior medo da garota se tornou realidade, a única parte que tinha sido um sonho fora aquela cena… Arregalou seus olhos que nem mesmo tinham mais lágrimas para soltar àquelas horas.
― Mas ele voltou! ― gritou rápido da sala, antes que começasse a chorar de novo e sinceramente, era a última coisa que queria ouvir.
― Ele voltou?! ― ela arregalou os olhos com a notícia, virando para o amigo que estava na cozinha para pedir alguma explicação plausível.
― Nós tentamos te acordar para avisar, mas não conseguimos de jeito nenhum, acho que nem se o mundo caísse você levantava. Encontraram ele na praia, um pouco longe daqui…
não deixou que continuasse falando, simplesmente abriu a porta e saiu correndo para a casa de . Era na mesma rua, porém três casas depois, e ela bateu desesperadamente na porta que abriu assim que sua mão encostou nela. Estranhou, mas não reclamou e entrou de uma vez, não era uma desconhecida e não seria a primeira vez que entrava lá daquela forma, o único porém era que já fazia alguns anos desde a última. Subiu até o segundo andar e então girou a maçaneta da terceira porta do corredor, sabendo que era ali o quarto dele.
dormia, com o peitoral subindo e descendo tranquilamente e a feição serena de quem estava descansando. começou a chorar silenciosamente assim que o viu, encostando a porta atrás de si e se aproximando com passos tímidos, para não correr o risco de acordá-lo. Seu rosto tinha outra vez aquela aparência pura e jovial que era tão característica dele, diferente do que havia visto em sua mente na noite anterior, e ela não resistiu em tocá-lo delicadamente, sentando na ponta da cama para incomodá-lo o mínimo possível.
― Me desculpa… ― sussurrou, mesmo se não soubesse bem pelo o quê se desculpava, se era pelos meses de raiva e ciúmes remoídos ou por tê-lo tratado mal durante aquele tempo que estava na cidade, arrastando o dedo calmamente pela bochecha gordinha que sempre gostara de apertar.
Estava tão absorta em observar aquele rosto que apenas percebeu que ele estava se mexendo quando segurou sua mão e entrelaçou seus dedos, abrindo os olhos e um sorriso gentil quando a primeira coisa que viu foi .
― Não foi culpa sua. ― ele levou a mão da garota até próximo aos seus lábios, depositando beijos carinhosos nos seus dedos. ― Está tudo bem agora, não precisa chorar, eu estou me sentindo bem.
― O que aconteceu, ? ― nem mesmo se importou se estava chorando na frente dele ou se o rapaz estava acordado quando entrou naquele momento, se consolando no carinho que ele fazia em si e no fato do quão agradecida estava de poder vê-lo outra vez.
― Eu não me lembro. ― ele crispou os lábios em nervosismo, como se já houvesse tentado lembrar algumas vezes o que havia acontecido. ― Eu só lembro de que eu fiquei com o pé preso, naquela hora, e então tudo ficou preto e eu acordei depois na praia, hoje de manhã quando me encontraram e me trouxeram pra cá. O médico ficou aqui por algumas me observando enquanto disseram que estavam indo avisar meus pais que as sereias haviam me devolvido…
Aquilo ainda soava ridículo na mente de , mas preferiu não externar seu ceticismo no momento, discretamente limpando o rosto molhado com a mão livre.
― Nem as sereias conseguiram te aguentar, devolveram em menos de um dia! ― soltou a piadinha que provavelmente também faria mais tarde, recebendo o olhar ofendido de que soltou sua mão no mesmo momento, com o ego ferido.
― Hey! Se eu soubesse que seria recepcionado assim, teria dado um jeito de ficar lá com elas! ― fechou a expressão, e, naquele momento, sentiu-se ridícula de ter ciúmes de seres que nem mesmo acreditava na existência.
― Vou te jogar no mar de novo então pra ver se elas te pegam, será que você sobrevive uma segunda vez?! ― provocou, puxando sua mão para cruzar os braços em frente ao seios, manhosa.
― Provavelmente, será que você sobrevive a uma segunda vez?! ― questionou de volta, arqueando uma das sobrancelhas na direção da melhor amiga apenas para lembrá-la que ela havia gastado metade do líquido do seu corpo chorando.
― Pelo visto as sereias também te ensinaram a ser humilde. ― ela ironizou, torcendo o nariz e girando as íris nos globos oculares.
― E muitas outras coisas, se quer saber…
Um barulho vindo do andar debaixo os fez parar com o assunto. Os pais de haviam chego, e achou melhor ir embora e deixá-los com o filho, além de que, ele também precisava descansar depois do susto. e lhe esperavam com um balde de pipocas, um lugar no sofá e algum filme de comédia trash para a distrair de tudo o que havia acontecido de ruim naqueles dias, e foram exatamente dessa forma que passaram o dia inteiro, até que o casal fosse para o outro andar e caísse no sono no próprio móvel.
Batidas na porta no meio da noite foram o que a acordou e fez com que percebesse que a sua coluna doía exageradamente por estar dormindo fora da cama. rapidamente levantou para atender quem quer que fosse, antes que o barulho acordasse os dois amigos, sem nem pensar que estava de madrugada. Olhou pelo olho mágico da porta e arregalou os olhos ao ver , abrindo a porta rapidamente apenas para começar o discurso.
― O que você está fazendo aqui, ?! ― questionou preocupada, sentindo o vento gélido batendo contra seus braços expostos. ― Você devia estar descansan---
Suas palavras foram interrompidas por um beijo. Nada delicado ou gentil, deu um passo em frente para entrar na casa e pressionou seus lábios com força, fechando a porta atrás de si logo depois com cuidado para não batê-la e fazer muito barulho. foi pega de surpresa, mas quando sentiu o toque quente em suas costas, seu corpo pareceu derreter e sua mente se tornou branca outra vez, preocupando-se apenas em apreciar como era a sensação de ter as suas línguas se entrelaçando, e as suas mãos passeando pelos ombros largos dele.
a conduziu de volta para o sofá com uma habilidade que ela não imaginava que ele tinha, sem esbarrar em lugar algum mesmo que não estivessem prestando atenção alguma no caminho, com os olhos fechados para aproveitar melhor a carícia. Se deitou assim que sentiu as pernas encostando no móvel, e as mãos dele se ocuparam entrando por baixo de sua camiseta larga para apertar possessivamente sua cintura e subir dedilhando suas costas, até encontrar o fecho do sutiã ainda coberto. Ele afastou os lábios, arrastando-os até a orelha de e soltando a sua respiração quente ali.
― Esses meses que você ficou fora… Eu senti tanto a sua falta que poderia morrer. ― sussurrou, encostando os lábios contra a pele da lateral do rosto dela e trazendo as mãos para frente de seu corpo após conseguir desatar o fecho da peça íntima, às subindo até os braços para alcançar as alças e puxá-las para baixo. ― Quando você parou de me responder, eu senti que ia enlouquecer. Tudo o que eu queria era isso, era sentir seu corpo contra o meu desse jeito.
― … ― emaranhou seus dedos finos nos cabelos de , os puxando prazerosamente para trás, enquanto sua outra mão descia arranhando suas costas por cima do tecido da camiseta. E, acreditando que estava sonhando outra vez, deixou tudo o que tinha para falar escapar entre seus lábios. ― Eu tive tanto medo de te perder, fiquei desesperada. Eu não sei o que faria sem você aqui.
― Pare de pensar tanto nisso… ― outra vez desceu os lábios, juntando-os em um selinho ao pronunciar essas palavras e jogar o sutiã da garota em algum lugar. ― Eu estou aqui com você, e você vai me sentir como nunca sentiu antes.
― Então… A gente acredita em sereias agora? ― perguntou enquanto os quatro estavam preguiçosamente deitados na areia, embaixo da tenda que conheciam tão bem, tentando puxar algum assunto para acabar com o silêncio desconfortável que recaia entre eles.
parecia não aguentar olhar sem ficar vermelha até as orelhas, e ele estava particularmente lerdo aquele dia, e sempre que ela ficava vermelha, ele não entendia e questionava o porquê, não entendendo que era ele mesmo o motivo e engolindo a desculpa que era culpa do sol, mesmo que já fosse pôr do sol.
― Bom, é isso ou o nosso amigo é um humano com pulmão de ouro e não se afoga passando quase vinte e quatro horas na água até o mar devolver. ― constatou, mesmo que fosse a última ali que fosse acreditar naquelas baboseiras.
― Eu achava que oferenda ruim o mar matasse antes de cuspir fora. ― não resistiu a provocação que saiu praticamente inconscientemente, deixando óbvio que nem com a quase morte ela e perdoavam trocadilhos ruins.
― Não sei, quer que a gente jogue você pra testar? ― questionou em um tom brincalhão e uma expressão inocente, e apesar da cara feia que fez, os outros dois acabaram rindo.
― Só se eu puder testar o seu pulmão antes pra ver se você aguenta se eu segurar sua cabeça embaixo d'água uns dez minutos…
― Ah, o carinho no ar, tão agradável. ― balançou a cabeça em negação com aquela pequena discussão acontecendo, respirando fundo como se conseguisse sentir o aroma.
― Nós os deixamos se matar ou ficamos aqui vigiando? ― questionou o amigo, abrindo a própria bolsa para procurar alguma coisa lá dentro.
― Você nem vem, também está nisso, dona , se a gente for se matar você vai junto. ― revirou os olhos, fazendo com que a citada arregalasse os olhos, em choque.
― Eu?! Mas o que eu fiz?! ― ela questionou, esquecendo da vergonha por alguns segundos e olhando para com o cenho franzido em dúvida, enquanto e sussurraram entre si que estava na hora de deixá-los à sós e se levantaram discretamente.
― Você se esqueceu que foi a primeira que disse que as sereias não me suportaram? ― ele cruzou os braços, com um bico manhoso nos lábios e cerrando os olhos ao vê-la pegando uma garrafa d'água e a levando até os lábios. ― Queria ver o que você faria para que os tritões quisessem que você passasse a noite lá.
Ela praticamente engasgou quando ouviu a pérola que ele havia soltado, deixando um pouco de água escorrer pelo canto de sua boca e descer pelo queixo até a linha entre seus seios, parcialmente escondida pelo vestido de seda branca transparente que usava por cima do biquíni floral rosa desde que começou a anoitecer. Não que planejasse entrar na água depois daquele trauma, mas até mais cedo estava tomando sol com e não queria ficar com marcas de bronzeado no meio do braço.
― , olha lá o que você fala! ― bronqueou quando tirou a garrafa dos lábios, a fechando e colocando na bolsa de novo.
Os olhos de pareceram brilhar de uma forma esquisita quando ele viu a água molhando a pele da garota, e ela sentiu todo o seu rosto esquentando, provavelmente ficando vermelha como um pimentão.
― , … ― ele sorriu de canto, um sorriso malicioso que em nada combinava com todos os sorrisos que havia o visto oferecendo durante todo aquele dia. ― Às vezes o problema está na mente de quem escuta, e não na de quem fala. ― e então ele calmamente se levantou, para sentar na frente da garota, levando o polegar até o canto do lábio dela e o descendo até chegar perto do decote… Tão perto que ela prendeu a respiração. ― Olha só essas suas bochechas, mais vermelhas que um tomate. ― e então subiu outra vez seu dedo até as maçãs do rosto da mais nova.
― Eu… Eu devo ter pegado uma ensolação… ― se desesperou com o que estava acontecendo. Não tinha como achar que era um sonho agora, porque tinha certeza que estava bem acordada. Não tinha como pensar que aquilo não era realidade, a não ser que estivesse alucinando.
― Será, bebê? ― ele questionou, e apesar do apelido ser fofo, a sua expressão passava bem longe disso. ― Vamos ver então se eu consigo te ajudar.
sabia que era uma mulher precavida, daquelas que usava até o que não precisava para não correr o risco de algo dar errado, como por exemplo, pegar uma ensolação. E ele também sabia que ela costumava carregar um pote de creme hidratante em sua bolsa, foi por isso que se esticou até pegá-la e a abriu, encontrando o que queria rapidamente. Ela lhe observava como se estivesse ficando louco, sem entender o que queria com aquilo, e então ele engatinhou três passos até ficar ajoelhado na frente dela, o pano estendido na areia impedindo que queimasse seus joelhos.
― O que você vai fazer…? ― ela perguntou quando ele não pediu permissão, deixando o pote em cima do tecido e então levando as mãos até a barra do vestido que ela usava, o puxando para cima, e, inconscientemente ergueu os braços, o deixando tirar a peça de roupa e observar todo o corpo da garota, coberto pelo traje de banho.
― Confia em mim. ― ele pediu com um sorriso, e ela sentiu-se enfeitiçada outra vez, como em todas as vezes que ele roubava seus sonhos daquela forma tão errada.
pegou um pouco do creme em suas mãos, e começou com uma massagem leve e prazerosa no rosto vermelho de , que parecia piorar sempre que ele sem querer esbarrava em seus lábios. Depois disso, ele passou para os ombros macios, que já estavam bronzeados e levemente avermelhados depois dela ter passado tantos dias exposta ao sol, e então emendou com os braços, descendo até a barriga e chegando em suas coxas.
puxou pelos calcanhares, fazendo-a deixar uma perna a cada lado de seu corpo para que pudesse massagear bem aquela parte de seu corpo. Ele colocou um pouco mais de creme do que o necessário na mão e começou na parte próxima ao joelho, cuidadosamente espalhando o produto por ali, e então, quando se deu por satisfeito, outra vez a puxou pelos calcanhares, fazendo-a abrir mais as pernas e começar a subir em cima de seu colo, consequentemente se aproximando mais dele, que agora lentamente pressionava a parte externa das suas coxas, brincando de chegar até a interna e esbarrar acidentalmente no tecido do traje de banho.
Então, quando terminou e estava pronta para levantar, agradecer sem nem saber bem porquê e sair correndo, ele agarrou suas coxas a ponto de deixar as marcas dos dedos e a puxou mais uma vez contra seu próprio corpo, a fazendo sentar em cima de seu colo de uma vez e sem querer roçar em algo que a fez arregalar os olhos ao sentir.
E, novamente, não tinha como dizer que estava sonhando.
― … ― chamou, com um fio de esperança de que se fizesse isso, ele também recuperaria a sanidade e eles poderiam parar por ali, como se nada disso houvesse acontecido. ― O que… O que você está fazendo? ― arriscou perguntar, apenas para senti-lo aproximar o rosto de seu pescoço, respirando fundo ali para sentir seu cheiro.
― Por quê? Você não quer? ― ele parou ao ouvi-la, soltando suas pernas e então afastando um pouco os rostos para olhar a expressão facial da garota.
Era um misto de decepção e susto, como se ela quisesse que ele continuasse a tocando, mas não estivesse preparada. Ela olhou para os lados, e então balançou a cabeça negativamente, se levantando sem nem se preocupar com as suas coisas que havia largado no lugar. Na realidade, não era tão corajosa quanto nos seus sonhos.
― Tem algo errado… Tem algo errado acontecendo aqui. ― resmungava baixinho para si mesma, andando de um lado para o outro na biblioteca para tentar descarregar a onda de ansiedade que tomava conta de seu ser naquele momento.
Sua mente estava prestes a explodir. Aquilo que estava acontecendo… não era aquela pessoa. Aquele olhar não era dele, ele não faria aquilo, faria? Mordiscou seus lábios a ponto de fazê-los sangrar, se ela não visse algo diferente nele mesmo depois daquilo, então seria cega. Num impulso de insanidade e na busca de justificar aquela mudança brusca na personalidade do melhor amigo, ela fez algo que nunca esperaria que faria. Seus dedos se enrolaram na capa dourada de um livro, e ela respirou fundo ao ver o desenho de concha demarcado em lilás.
Conhecia bem aquele exemplar. Ele era como um guia para quem queria morar naquela cidade, explicando exatamente todos pontos das lendas sobre as sereias que circulavam no local, e também com depoimentos de supostos sobreviventes.
Abriu o livro em uma página qualquer, ignorando completamente o sumário. Mesmo que tivesse escutado aquela lenda trezentas mil vezes na sua infância, ainda não sabia de tudo o que ela englobava. E, com um título enorme e chamativo em tom de laranja, ela se sentiu extremamente estranha ao ler “O Beijo da Sereia” como sendo o tema daquele capítulo. passou o olhar pela página, mas o que leu foi tão rídiculo que jogou o livro longe, fazendo-o bater e derrubar outro que abriu na foto de uma sereia de costas, com uma tatuagem característica de um tridente no cóccix, próximo ao início da cauda
― Inferno! ― a palavra descontente rasgou a sua garganta em sinal de revolta, e desistiu de qualquer coisa que havia fazer ali para correr daquele lugar.
Não adiantava nada pesquisar tão a fundo em uma coisa se não acreditava que aquilo podia ser real. Talvez estivesse apenas sofrendo com o estresse após uma situação tão peculiar, seria uma boa alternativa oferecer de levá-lo a um psicólogo? Provavelmente sim, se não tivesse certeza de que ele declinaria a proposta. Ele recusou até mesmo ir até o médico para constatar se estava fisicamente bem, apenas fora porque a mãe dele o obrigou…
chegou na orla da praia para iniciar o seu caminho até a casa de e sentiu seu estômago revirar com a maresia. Já havia estado de frente para o mar depois do acidente, mas naquele dia parecia que tudo estava tomando proporções catastróficas… Engoliu o desconforto e ergueu a cabeça para olhar para frente e encontrar um homem de costas para si, sem camisa, e com a exata tatuagem de tridente no canto inferior de suas costas.
A mulher arregalou os olhos, e, como se ele soubesse que ela estava o observando, assim que a tatuagem foi analisada e a expressão de se contorceu em choque, seu corpo bem moldado se virou na sua direção, exibindo a parte frontal que seria uma ótima vista se ela não houvesse encontrado primeiramente o rosto do rapaz.
Não era um desconhecido qualquer. Era . Ela ainda lembrava-se dos olhos dele, da sua beleza descomunal e do charme daquela pinta próxima ao olho direito.
― A sua tatuagem… ― era como se pudesse sentir a sua pressão caindo aos poucos, e pudesse ver a sua pele se tornando mais pálida e mais pálida. Aquilo não era possível, era só uma coincidência.
― Ah, ! ― a forma a qual ele pronunciava seu nome era errada. Algum nuance em seu timbre fazia ser pecaminosa, quase como se a voz dele fosse moldada para soar assim. E então ele abriu um sorriso de canto que piorou muito mais a situação. ― Você gostou?
― E-Eu… ― algo em seu ser gritava para responder que sim, mesmo que seu cérebro gritasse que não. se aproximou mais um passo de si, os olhos que refletiam o dourado do sol batendo na areia focados em seus lábios. E foi ao pensar nos lábios dele que deu um passo para trás, mas o segurou pelo pulso, com medo de que assim que proferisse aquelas palavras, a criatura simplesmente sumisse no ar. Se ele fosse sumir, não seria aquilo que iria pará-lo, mas a dava uma falsa sensação de estar com ele preso em sua vontade. ― O que você sabe sobre o beijo da sereia?
― Achei que você não acreditasse nessas coisas, . ― ela tentou manter-se firme depois daquela frase, mas estava sendo cada vez mais difícil não vacilar seu tom de voz, ou continuar com o olhar acima dos lábios dele.
― Só porque eu não acredito, não quer dizer que não exista. ― aquela frase não fazia exatamente sentido, mas o que fazia sentido a essa altura da situação, afinal? Seus pensamentos estavam tão bagunçados que estava de frente para um homem, tendo certeza de que ele era um ser místico dos mares. O que mais poderia dizer que era irreal?
usou da vantagem de força que naturalmente tinha para puxar seu pulso para si, e, consequentemente, o corpo frágil de veio junto. Corpo esse que ele fez questão de a enlaçar pela cintura com a outra mão, e, ao estar próximo o suficiente, abaixou-se e aproximou o seu rosto da curva do pescoço da garota para inspirar lentamente, fechando os olhos para aproveitar ao máximo o aroma floral que ela lhe apresentava. Soltou outra vez o ar, e teve o prazer de observar de perto os pêlos da nuca de se eriçarem contra o tecido do vestido leve.
― Por que te explicar… Se eu posso te mostrar?
O hálito quente do homem se chocando contra a sua pele era quase como um calmante, capaz de deixar todos os músculos do seu corpo amolecidos. Quando deu por si, sua mão não mais apertava o pulso dele, mas sim derrapava até que seus dedos se entrelaçassem um por um e os lábios fartos de roçassem levemente contra os seus, em um movimento tão tímido que mal parecia ter existido. Então, tudo na mente da garota se escureceu como a mais fria noite do ano, e seu corpo desfaleceu nos braços do rapaz.
Quando abriu os olhos de uma vez pela euforia das lembranças com , tudo o que viu a sua frente foi o mais puro azul do céu celeste, que a desesperou ainda mais. O seu corpo estava pousado em cima de um tecido ao qual desconhecia, maa doía e ardia como se estivesse exposta àquele sol há horas… E então ela se levantou de uma vez ao perceber que estava em cima de uma minúscula ilha no meio do mar, olhando para os lados para procurar qualquer indício da praia, mas encontrando apenas dormindo ao seu lado.
― ?! ― questionou completamente em dúvida. Não entendeu nada, exatamente nada do que estava acontecendo. Será que ainda estava dormindo e aquele era um daqueles sonhos reais demais para perceber que era um sonho? ― ! ― chamou de novo e ele timidamente se remexeu, preguiçosamente acordando para perceber o que estava acontecendo.
― Bom dia. ― o tritão cumprimentou, exibindo parte de sua perfeita dentição em um bom humor misturado a uma beleza matinal inacreditável, que a fez perder o rumo por alguns segundos.
― O que aconteceu comigo? ― sussurrou confusa assim que conseguiu voltar a pensar por si mesma, e o homem ao seu lado se levantou, revelando todo o abdômen definido ao qual se lembrava do dia anterior.
― Eu te trouxe para mostrar o que aconteceu com o seu amigo, você não lembra? ― se espreguiçou, aproveitando a luz do sol que refletia na sua pele bronzeada e parecia fazê-la brilhar, lhe dando uma aparência celestial.
― Mas eu não lembro de nada… ― sussurrou muito mais para si mesma do que para ele, deslizando uma das mãos até a testa. Tudo da noite anterior não era nada mais do que um borrão negro na sua memória. Como havia ido parar no meio do mar? O que tinha feito consigo…?
― Minha pequena e inocente flor… ― o sorriso enigmático que tomou conta dos lábios dele fez com que tivesse vontade de chorar, sinceramente. Só queria ir embora e nunca mais pisar o pé naquela cidade, mas não sabia nem se iria sobreviver para sair dali. ― foi enfeitiçado pelo beijo da sereia. A sereia, especificamente, foi uma que eu conheço melhor do que gostaria. Ela queria, na verdade, se vingar de você porque eu acabei a deixando com ciúmes quando nos encontramos pela primeira vez na praia…
― Se vingar de mim…?
― Sim, Yao não sabe lidar com o fato de que não somos um casal e sempre que eu me envolvo com uma humana, ela não consegue segurar os ciúmes. ― ele revirou os olhos com a história que não aguentava mais viver. ― Foi por isso que eu te trouxe aqui, porque a culpa é parcialmente minha de seu amigo estar nessa situação.
― Então… Você vai me ajudar? ― um fio de esperança passou pela cabeça da garota, que o observou assentindo com a cabeça levemente.
― Esse é o jeito. ― ele mexeu na pequena bolsinha que estava pendurada no seu quadril, presa na calça de tecido leve azul escura. Depois de algum tempo procurando ele encontrou um pequeno frasco, e então respirou fundo quando o abriu, e, por fim, mordeu seu próprio polegar com força o suficiente para fazer uma bolha de sangue se acumular ali e cair para dentro daquela… Poção? ― Eu vou te mostrar o que fazer. O feitiço de uma sereia… Só pode ser quebrado por um tritão.
Quando o dia começou a dar seus primeiros raios que evidenciavam o amanhecer, acordou no sofá da casa de . Seu coração estava acelerado e a sua cabeça doía tanto que parecia que estava prestes a explodir. Tinha tanta coisa acontecendo naqueles dias que estava difícil de conseguir se manter fisicamente bem quando seu psicológico estava tão abalado.
Ela não entendeu como foi parar ali também, e muito menos porque suas roupas e seus estavam molhadas, além de não se lembrar de estar usando preto na noite anterior… A porta abriu de uma forma nada gentil, e logo ela conseguiu ver que a tinha empurrado com força para correr até o sofá e se ajoelhar ao seu lado, pegando na sua mão.
― … ― sussurrou quando sentiu a mão quente dele apertando a sua com uma força maior do que a necessária que ele com certeza não estava sabendo calcular bem pelo desespero.
― , você… Você quase me matou do coração! ― respondeu, segurando as lágrimas e travando o choro de preocupação na garganta de vê-la tão pálida e naquele estado tão deplorável, mas ainda mais pela emoção de vê-la ali, viva.
― … ― lentamente ergueu a outra mão até as bochechas cheias do melhor amigo, olhando no fundo dos seus olhos enquanto o fazia abaixar levemente, pressionando a mão contra seu rosto para trazê-lo para mais perto. ― Eu vi o que você viu e passei pelo o que você passou.
― , a gente pode conversar sobre isso depois, não é o momento certo, você precisa des-
ignorou completamente as palavras do rapaz, para conseguir erguer levemente o corpo para alcançar os lábios de com os seus.
Aquele beijo leve foi completamente diferente dos que haviam dado antes. Parecia mágico, puro, parecia que era realmente o primeiro… Os dois não puderam ver, estavam muito ocupados com a sensação do toque delicado dos lábios juntos, mas um místico brilho de energia lilás surgia do toque deles tanto do beijo quanto das mãos, subindo e descendo em ramos de árvores até seus corações.
O corpo de caiu no sofá desacordado após alguns segundos, e a porta se abriu de novo, dando passagem para e que entraram correndo com um médico. teve que puxar o amigo para trás para dar espaço ao médico, porque estava completamente desnorteado o suficiente para não entender o que queria dizer “com licença”.
Ele via o homem examinando , o casal falava consigo, mas o tempo parecia ter parado na sua cabeça. Nada parecia quebrar a sensação daquele beijo, e o formigamento que ele causou por horas na sua pele.
― , VOCÊ ESTÁ ATRASADA! Sai desse celular!
gritou do andar debaixo da casa, e podia ver que ela estava batendo os pezinhos no chão e bufando impaciente, mesmo que a amiga não estivesse na sua linha de visão. Sorriu satisfeita, terminando de ajeitar o vestido verde que usava e descendo as escadas.
― Já estou aqui! ― anunciou quando desceu o último degrau, passando os dedos entre os seus cabelos para ter certeza que estavam perfeitos antes de sair de casa.
Só teve tempo de sentir o abraço da amiga quando chegou no primeiro andar, e mal conseguiu retribuir por dois motivos. O primeiro era que não gostava de abraços, então ela lhe dar um sem nenhuma chantagem emocional envolvida lhe deixara extremamente confusa. E segundo, era porque ela também apertava os seus braços dentro dos dela, lhe deixando incapacitada de se mover.
― Eu tô tão feliz que você está bem… ― a amiga desabafou, com o ar saindo pesadamente dos seus pulmões como se um peso enorme saísse de suas costas.
não resistiu em soltar uma risada feliz, agoniada por não poder abraçá-la ainda mais forte.
― Eu também amo você…
― Quem disse isso?! Eu tô feliz de não precisar falar com a sua mãe. ― a mais baixa corrigiu, a soltando assim que ouviu-a dizendo isso e arrancando uma expressão ultrajada de que até perdeu o equilíbrio.
― Palhaça… Vamos logo antes que alguém caia no mar de novo. ― a mais nova falou, passando pela amiga e batendo levemente com o seu ombro contra o dela de brincadeira antes de chegar até a porta aberta.
― Nem brinca com isso, pelo amor de Deus… ― revirou os olhos com a brincadeira da amiga. Não queria nem imaginar, sua sorte é que era ajuizado o suficiente para nem mesmo lhe dar preocupações em relação aquilo. Depois de tudo o que acontecera, tinha certeza que o namorado nem chegaria perto do mar pelo resto da sua vida.
― Ou é você ou é o …
― Cala a boca e anda, vai, . ― começou a rir do desespero dela ao começar a imaginar a situação, sendo encarada de soslaio de uma forma nada simpática.
Desde o começo da trilha podia ver e sentados na frente da fogueira já acesa, e isso lhe fez sorrir tão largo que o músculo da sua bochecha doeu. Estava tão feliz e tão aliviada dos quatro terem a oportunidade de se reunir outra vez… De estarem todos vivos. Mas ainda estava nervosa em ver , porque eles ainda não haviam conversado sobre aquele beijo, ou sobre todos os outros…
Mesmo que ele tivesse lhe visitado todos os dias após o seu “retorno”, aquele dia tinha uma carga maior, porque era o dia anterior ao qual ela e voltariam para a rotina da cidade grande, e estava com medo de que ele escolhesse aquele momento para colocar os pingos nos i’s. Mal conseguia acreditar que tudo aquilo acontecera em um espaço de tempo tão apertado como o de uma semana, e a viagem que era pra descansar estava deixando seus ombros tensos…
Uma respiração pesada deixou seus lábios um passo antes de entrar debaixo da tenda, e foi bem mais alta do que achou que seria, fazendo os olhos de rapidamente se desviarem de e se guiarem até si. As bochechas dele subiram automaticamente conforme o sorriso preencheu seus lábios e ela sentiu seu coração acelerar tanto que todo o ar do universo pareceu sumir.
desviou o olhar para o mar após aquilo, tentando disfarçar o quão sem graça apenas vê-lo lhe deixava e também recuperar seu ar, mas um arrepio percorreu sua espinha quando viu o dois olhos faiscando na sua direção. O rosto feminino estava submerso do nariz para baixo, e os cabelos pretos estavam molhados moldando perfeitamente os limites de sua face. Ela nunca precisou ter visto aquela mulher antes para saber que era aquela que chamava de Yao.
Um medo enorme tomou conta do seu corpo, o suficiente para lhe fazer começar a tremer. Apenas o olhar dela era fascinante, mas ao mesmo tempo, também lhe aterrorizava, e ficou petrificada até ver alguém submergindo atrás dela. A mão masculina tocou o ombro de Yao, e então ela virou para trás para encontrar a figura de ao mesmo tempo que o rosto de foi a única coisa no seu campo de visão e ele colocava a mão no seu próprio ombro.
― O que foi? Você tá com frio? ― os olhinhos brilhantes estavam arregalados em preocupação, e não conseguiu não sorrir com a perfeição em pé bem na sua frente. Só queria apertar as bochechas de até suas mãos não aguentarem mais, mas, por experiência própria, sabia que ele detestava isso.
Balançou a cabeça negativamente para a pergunta, mas sem pensar duas vezes, se lançou contra os braços do melhor amigo que lhe recebeu como se tivessem ensaiado, a apertando com todo o carinho que tinha. Os olhos da garota se voltaram para o mar, apenas para encontrá-lo vazio, e um suspiro de alívio surgiu de seus pulmões.
― Então… Você vai esperar até o ano novo pra ter coragem de se declarar pra mim de novo? ― sussurrou no pé do seu ouvido depois de alguns minutos naquele abraço caloroso.
tentou até mesmo se mexer e olhar para a cara dele, completamente indignada, mas para prevenir que ela não conseguisse, enterrou seu rosto na curva do pescoço de e a apertou ainda mais, segurando a risada.
― Estava esperando pra ver se dessa vez você não queria fazer as honras… ― murmurou, com um sorriso orgulhoso de ter pensado em uma resposta a altura rápido o suficiente para que não começasse a gaguejar.
A risada alta e gostosa que ouviu logo depois fez com que derretesse nos braços de , e tivesse raiva do quão apaixonada estava por ele, o suficiente para nem mesmo conseguir ficar brava. Então ele afrouxou o abraço, deixando seus rostos frente a frente para o que viria depois que finalmente acabasse com aquele espaço que separava os seus lábios dos de .
― Eu achei que já fosse óbvio.
Fim.
Nota da autora: E CHEGAMOS AO FIM DE MAIS UM DOS MEUS TREZENTOS FICSTAPES SAHUSAHUSAHUSHA
Ai, mas Who tem um espacinho especial no meu kokoro! Foi a primeira música que eu peguei, que me iniciou na vida dos ficstapes, e eu não podia ter começado melhor, né? Dos donos da minha vida e ainda esse hino. Pior que foi faz mais de um ano, e eu só terminei de escrever ela agora POJSAPJDASPOJDS Juro que fiquei empacada mais de seis meses a partir da parte da biblioteca, não sabia o que fazer, mas torço pra que tenha ficado decente! Muito obrigada por ter lido, e espero a sua opinião aqui embaixo!
Beijo ♥
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