Enviada em: 06/01/2020

Capítulo Único

Sebastian saiu do banho e a primeira coisa que ouviu foi o choro agudo da filha. Ele se secou de qualquer jeito e vestiu uma cueca. Saiu de seu quarto – quer dizer, o de visitas, já que era nele que estava dormindo desde que tudo acontecera – enquanto colocava uma bermuda.
A cena que viu lhe partiu o coração.
estava em pé em frente a porta do quarto em que a mãe estava, com as uma das mãozinhas na boca enquanto chorava alto. Seu rostinho estava todo vermelho de desespero por conta de tanto chorar, e ela olhou para o pai e estendeu os bracinhos para ele na mesma hora.
– Meu Deus. – Exclamou baixo e pegou a filha a aconchegando contra o seu peito.
– Mamai... – disse entre o choro, escondendo o rosto no pescoço do pai.
Seb sentiu seu peito ferver.
Não soube dizer exatamente qual era o sentimento predominante.
Tristeza, decepção, preocupação... Esses ele já estava acostumado, infelizmente.
Mas tinha um novo.
A raiva.
Raiva por estar agindo daquela maneira com a própria filha.
– Shhh – Ele fez carinho na cabeça da pequena enquanto tentava abrir a porta do quarto. – , abre essa porta – pediu bem próximo a porta para que ela ouvisse – Abre essa porta agora!
Dentro do quarto, nem se mexeu na cama, envolvida por várias cobertas e adormecida devido ao cansaço já que não dormia há alguns dias. Ela tinha tomado dois ou três medicamentos para insônia, apenas para apagar e se desligar do mundo ao seu redor.
! – Sebastian levantou a voz, se irritando ao não receber resposta alguma. se encolheu no colo dele, se assustando, e ele suspirou alto. – Desculpa, desculpa. – Beijou a cabeça dela e desistiu de abrir a porta, entrando no quarto da filha rapidamente para pegar a bolsa dela.
– Mamai tete! – pediu, voltando a chorar alto.
Sebastian sentiu seu interior ferver mais ainda de raiva. Precisava resolver essa situação logo.
Desceu as escadas falando palavras para tentar acalmar a filha.
– Eu sei, bonitinha, eu sei. Sinto muito por você estar passando por isso – Ele sentiu seus olhos marejarem enquanto falava. – Sei que tá com fome. Espera só um pouquinho – Saiu de casa rapidamente, olhando para os lados antes de atravessar a rua até a casa dos Evans.
Além da raiva, estava preocupado com a esposa, já que ela sequer tinha dado sinal de vida naquele dia.
ainda chorava, e Sebastian também derrubou algumas lágrimas ao ouvi-la chorar desesperada daquela maneira.
Bateu na campainha várias vezes até que alguém abrisse, desesperado para voltar para casa. Demorou alguns segundos, mas Evans finalmente apareceu.
– Mas... Mas o que aconteceu? – Perguntou alarmado, arregalando os olhos, se aproximando de Seb, acariciando as costas da pequena com cuidado.
Sebastian estendeu para Evans e colocou a bolsa de qualquer jeito no chão, balançando a cabeça em negação, completamente fora si. O rosto estava vermelho e ele nem percebeu que estava chorando.
– Só... Fica com ela – Ele pediu antes de virar as costas. – Por favor, eu preciso... Resolver isso. Por favor – Repetiu enquanto corria até em casa novamente.
No colo do padrinho, ainda chorava, vendo seu pai se afastar, estendendo a mãozinha em direção a ele. Ela escondeu o rosto na camisa de Evans enquanto soluçava.
Sebastian bateu a porta de casa quando entrou e subiu as escadas pulando os degraus. Chegou em frente ao quarto que estava trancada, dando várias batidas.
, abre essa porta – Pediu novamente, ainda sem receber resposta. Deu dois murros fortes na porta, e só então ouviu. – Se você não abrir essa porta, eu juro que vou chutar isso aqui. Você passou de TODOS os limites! – Ele gritou, e a ruiva se sentou atordoada na cama, sem entender nada, sentindo sua cabeça doer.
Sebastian chorava de tanta raiva. Ele não faria nada, nunca encostaria um dedo em ou qualquer outra mulher, mas nunca se imaginou sentindo aquele sentimento por sua esposa, muito menos devido àquele motivo.
Ele seguiu sem resposta, e então resolveu chutar a porta. Demorou, mas conseguiu abrir, encontrando ainda na cama, atordoada. Foi diretamente até ela.
– VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUE FEZ? TEM NOÇÃO DE QUE SUA FILHA TAVA SE ESGOELANDO DE TANTO CHORAR HÁ SÓ DEUS SABE QUANTO TEMPO ENQUANTO VOCÊ TAVA TRANCADA AQUI DENTRO, ?!
olhou assustada para Sebastian, ajeitando seu corpo na cama. Nunca tinha visto o marido daquela maneira.
Ela permaneceu em silêncio.
Sebastian balançou a cabeça em negação e bufou alto.
– Pelo amor de Deus – Ele arfou incrédulo enquanto passava as mãos pelo rosto, machucado, andando de um lado para o outro sem sair de perto dela. observava em silêncio, sentindo algo estranho dentro de si. – Você realmente... – Ele parou em frente a ela. – Fala alguma coisa, . Fala. REAGE DE ALGUMA MANEIRA, CARALHO! – Gritou de repente, e levou as duas mãos até os braços dela, segurando-os, enquanto a sacudia levemente.
mordeu o lábio e desviou o olhar, encarando qualquer lugar que não os olhos extremamente machucados do marido.
Ela realmente tinha feito aquilo com ? Não era possível. Não parecia real, ela estava dormindo. Completamente fora do ar, fora de si.
Sebastian encarava a esposa enquanto algumas lágrimas rolavam livremente por seu rosto.
– Olha pra mim, – Stan voltou a falar depois de um tempo em silêncio. – Olha pra mim. Eu tô machucado pra caralho. Eu também perdi seus pais, eu também perdi nossa filha – Segurou agora o rosto dela, fazendo com que ela o encarasse. – Você me ouviu? Seus pais morreram. Nossa filha morreu. . Caso você se importe, por favor, reage. . – A encarou desesperado – Seus. pais. morreram. – Ele repetiu pausadamente.
novamente sentiu algo estranho dentro de si, quase como... dor.
Mordeu seu lábio com mais força, enquanto lutava para continuar encarando Sebastian.
Estava sendo mais difícil do que ela pensava.
Ele bufou irritado, a soltando. Ela caiu sentada na cama, enquanto observava o marido andar de um lado para o outro, enquanto puxava seus cabelos devido a raiva.
– Eu não aguento mais isso! Não dá, não dá, eu... – Ele soluçou – Eu não aguento ver você desse jeito, eu não aguento ver a maneira com que você tá tratando a ! Sua filha, SUA CENOURINHA! – Gritou o apelido com que chamava a menina. – Eu não aguento mais v... – Sebastian parou ao perceber o que ia falar.
esboçou, pela primeira vez, alguma reação. Ela se levantou e parou na frente dele. Sebastian desviou o olhar, balançando a cabeça em negação, completamente machucado e acabado.
– Fala. Continua. – pediu, encarando o marido de maneira dolorosa.
Ele ergueu o rosto para ela, enxergando algo parecido como um lampejo de dor nos olhos dela.
Seria possível que ela realmente estava sentindo algo debaixo de toda aquela carcaça?
– Você. Eu não aguento mais você desse jeito. – Finalmente ele disse, adicionando o final a frase.
então sorriu de maneira triste, porém irônica.
– É fácil de resolver isso. Se você não aguenta mais, é só...
– Só o quê? Sair de casa? Te deixar? – Ele riu incrédulo. – Eu não sou cretino a esse ponto – Cuspiu as palavras, e se encolheu levemente.
– Se afastar – Ela completou como se ele não tivesse dito nada, indo até a porta. Mesmo sentindo um pouquinho de dor, não estava de volta. Pelo contrário, ela ainda queria apenas dormir e apagar absolutamente tudo. Mesmo que isso significasse se afastar de . – Sai. – Ordenou.
Sebastian a encarou extremamente esgotado e machucado.
É, ele havia se iludido. Ela não estava sentindo nada.
O romeno deu alguns passos em direção a ela e parou na frente de . Chegou a levantar a mão para tocar o rosto dela, mas se virou. Ele suspirou triste, algumas lágrimas escorrendo por seu rosto, antes de finalmente sair do quarto. Mal tinha pisado no corredor quando sentiu e ouviu a porta bater atrás de si.
E então ele desabou, enquanto apenas voltou para a cama, se cobrindo novamente e fechando os olhos, querendo que tudo aquilo fosse embora com seu sono.
Sebastian desceu as escadas atordoado, se apoiando no corrimão enquanto o choro saía sem parar por sua boca e olhos. Ele soluçava, e não achava que pararia tão cedo. Então fez a primeira coisa que veio à sua mente.
Pegou a chave do carro e saiu de casa. Andou rapidamente até a porta do motorista, seus olhos ainda turvos e marejados. Ligou o carro e deu partida, cantando pneu, enquanto acelerava o máximo que podia, querendo sair daquele lugar tão doloroso.



Assim que se levantou do banco, Sebastian quase caiu novamente, se segurando no balcão do bar. Um dos atendentes veio até ele, o segurando.
– Tudo bem, chefe?
Ele balançou a cabeça em negação e deitou a cabeça no balcão.
– Tentei ligar pro Will e ele não tá cidade, disse pra ligarmos pra e passou o número, mas ela não atende – outro atendente chegou e tirou o copo de whisky da mão de Sebastian, recebendo um xingão como resposta. – Sinto muito, Sebastian.
– Você nem sabe de nada. – Ele falou todo embolado – Quero mais um. Eu sou o dono daqui, você devia fazer o que eu mando.
O atendente riu, sabendo que Stan nunca falaria aquilo sóbrio.
– Seja lá o que aconteceu, foi algo sério. Ele nunca fez isso. – O outro disse, suspirando. – Sebastian, você precisa ir pra casa, cara. Não tá legal...
– Eu não quero ir pra casa. – Ele respondeu imediatamente, se levantando mais uma vez e quase caindo, tendo que se apoiar no balcão. – .
– É pra ligar pra ? Quem diabos é ?
– É a esposa do Hemsworth, cara, por Deus, você precisa ser mais ligado. – Um deles revirou os olhos. – Vou pedir o telefone pro Will.
Enquanto isso, Sebastian fazia o possível para tentar parar sentado no banco, a todo momento se desequilibrando.
– Consegui. Will tá preocupado e pediu pra darmos notícias.
– Vou ligar. – O outro disse, já pegando o celular e discando o número de . – ? – O atendente perguntou. – Ahm, eu trabalho no Toro, bar do Sebastian... Ele tá aqui, muito bêbado, e muito mal. – Fez uma pausa, e um barulho de algo caindo pode ser ouvido. – Cara, ajuda ali! – Ele disse ao outro atendente, que correu até Seb para segurá-lo e colocá-lo sentado em uma cadeira, entregando um copo de água para o romeno. – Eu não sabia pra quem ligar, o Will tá fora da cidade, ele disse pra ligar pra mas não consegui falar com ela... Então o Stan disse seu nome, e eu tô ligando por isso. Acho bom vir buscar ele...
Sebastian estava sentado de qualquer maneira em uma cadeira, o olhar perdido em algum lugar enquanto sentia sua cabeça girar. Quando ouviu a voz de , ele abriu um sorriso abobado.
– Coisiiiiiinha! – Ele gritou estendendo a mão para ela, tocando o rosto da amiga um pouco descuidado.
– Oi, Seb. – respondeu tentando manter o tom de voz calmo, afastando a mão dele de seu rosto.
– Ele bebeu demais. – O atendente disse ao se aproximar, olhando para o romeno preocupado.
Stan tossiu algumas vezes, tentando se levantar, caindo em seguida.
– Eu só quero beber mais uma dose antes de ir embora. – Pediu ao garçom. – Ou vou te demitir!
– Claro que vai. – O homem riu revirando os olhos e passou o braço pelo corpo de Seb, o levantando. – Sem mais bebidas pra você hoje, romeno.
, diz pra ele que eu posso beber! – Sebastian choramingou – Eu preciso beber pra esquecer, por favor... – Olhou para ela com os olhos brilhando.
– Não, você não pode beber, estamos de saída, e acredito que você não tá em condições de me contrariar. – Respirou fundo, triste com a situação toda. – Seb, eu sei que você precisa esquecer... – O abraçou em pé enquanto ele estava sentado, fazendo carinho no cabelo dele. – Mas beber não adianta nada, muito pelo contrário, ficar bêbado a esse ponto te deixa.... Olha – balançou a cabeça resolvendo mudar o rumo – vamos pra casa, por favor, e lá a gente conversa e eu cuido de você. – Explicou como se estivesse falando com uma criança. – Tudo bem?
Sebastian balançou a cabeça em confirmação.
– Ótimo. Seus funcionários vão te ajudar a ir até o carro, ok?
– Mas eu não quero ir pra casa! – Ele disse um pouco desesperado, se alterando. – Por favor, não me leva pra casa, eu não quero ver a... Eu não quero, . – Suplicou extremamente machucado.
O funcionário olhou surpreso para o romeno, percebendo que ele se referia a . Seguiu em silêncio enquanto guiava Sebastian para fora junto com o outro atendente, apenas ouvindo a conversa entre eles.
– A gente vai pra minha casa, Sebastian. – explicou.
Chegando próximo ao carro, quando abriu a porta, eles colocaram Sebastian sentado no banco do carona, sob os protestos do romeno.
– Espero que fique tudo bem... – Um deles disse, olhando preocupado para o chefe.
– Eu também. Obrigada pela ajuda e por ligarem. – Sorriu para os dois funcionários – Agradeço a discrição, não quero nem imaginar se... – Olhou para Sebastian dentro do carro e suspirou. – Melhor eu ir, obrigada. – Agradeceu uma última vez antes de se virar para entrar no carro.
– Além de estarmos só fazendo nosso trabalho, é o mínimo que podemos fazer por ele – Um deles disse.
– De nada, se puder nos dar notícias depois ou algo assim... – O outro falou. – Fica bem, chefe. – Se despediu de Sebastian, recebendo apenas um resmungo como resposta.
deu partida no carro, e olhou para o amigo tentando não transparecer o quão brava estava.
– O que passou na sua cabeça, uhm? – Perguntou baixo achando que ele não ouviria.
O romeno se esparramou no banco e encostou a testa no vidro da janela, observando o caminho enquanto seguia em silêncio.
– Eu só quero esquecer... – Ele respondeu baixo, fazendo uma careta. – Vai mais devagar. – Pediu, abrindo o vidro para vir vento em seu rosto.
suspirou tristemente.
Ela sabia que bebida não funcionava, e tinha plena convicção de que seu amigo sabia disso também.
Pensou em falar alguma coisa, mas resolveu se manter quieta, enquanto ouvia o amigo fungar, provavelmente chorando.
Sentiu seu coração doer. , além de tudo, era sua melhor amiga. Saber que ela era a causadora de tudo aquilo a machucava também.
Focou na direção, decidida a chegar logo em casa para que ela e Hemsworth pudessem cuidar de Sebastian. E foi isso que fizeram.
Cerca de uma hora depois, Hemsworth e Sebastian estavam sentados na sala da casa do australiano, com Seb segurando um balde na mão caso voltasse a vomitar. Ele já estava mais sóbrio, mas nunca se sabe.
– Eu não sei se ela vai voltar... – Seb quebrou o silêncio. – Não é mais a minha ... Eu arrombei a porta do quarto. – Ergueu o olhar para ele. – E disse que se eu tô cansado, é pra eu me afastar. – Os olhos dele se encheram de lágrimas e ele soluçou, sentindo o próprio hálito de álcool. – Eu tô estragando tudo, não consigo mais aguentar ela desse jeito, deixei sozinha hoje... – Escondeu o rosto nas mãos.
– Cara... – Hemsworth suspirou, sem saber muito o que falar. Era uma situação extremamente complicada. – A tá perdida agora, mas vai se encontrar de novo, eu sei que vai. Você realmente vacilou com a hoje, mas que isso sirva de lição pra não se repetir. – Sentou ao lado de Sebastian e o abraçou pelo ombro. – Ninguém carrega o mundo nas costas sozinho, sabe disso.
– Eu sempre carrego. – Seb respondeu a Hems, fungando – Eu sempre consigo, eu... Eu to falhando. – Balançou os ombros sem conseguir parar de chorar.
– Você sempre carrega, mas isso é errado, Seb. E olha quanta gente pra dividir contigo. – O loiro disse. – E mesmo que não tivesse mais ninguém, ainda teria a mim.
– Eu tô com medo, cara. Eu tô com muito medo – Olhou para Hemsworth com os olhos vermelhos e inchados, seu hálito batendo no rosto do amigo. – Olha pra mim e me diz, nos meus olhos, se você realmente acredita que a vai voltar ao normal. Porque eu acreditava nisso e agora... – Suspirou tristemente – Agora eu acho que mesmo que ela volte, eu vou perder a mulher que eu amo.
– É normal ter medo, mas eu realmente acho que ela vai voltar. É a , ela nunca desistiria de nenhum de nós. Não vamos desistir dela também. – Hemsworth garantiu. – Só que ao mesmo tempo, você é humano, não vai aguentar ficar ouvindo aquelas coisas e assistindo sua esposa se afastar de todo mundo... Então é compreensível.
O romeno suspirou balançando a cabeça culpado.
– Quando for assim, Seb, sai com a , faz um passeio com ela e distrai a mente. Mas não deixa ela de qualquer jeito no Evans pra ir pro bar encher a cara...
– Eu fui um bosta. – Ele repetiu, esfregando o rosto, deitando a cabeça no ombro de Hems. – Eu nunca pensei que fosse passar por isso. Que a fosse passar por isso, ou que... Que fossemos perder outra filha. – Fungou mais uma vez, agora quase não sentindo tontura devido o efeito do remédio. – Eu não vou mais fazer isso, cara, eu não posso mais fazer isso. Mas tá realmente muito difícil, eu... Eu acho que vou fazer o que a falou. – Disse com certa tristeza – Me afastar, pra ver se ajuda, quem sabe... Quem sabe dando espaço a ela as coisas melhorem um pouco, e... – Parou e falar quando viu se aproximar.
O australiano ia falar mais alguma coisa, mas quando viu o olhar que lhe lançou, soube que aquela seria uma conversa que continuaria entre os dois amigos e ele deveria se afastar. Sorriu para Seb, apertando o ombro dele, e então se retirou, dando um selinho na esposa antes de sair da sala.
– Menos bêbado? – Perguntou séria para Sebastian, se aproximando dele.
– Sim... To quase sóbrio – sorriu envergonhado.
continuou em pé encarando Sebastian com a expressão neutra, sem falar nada, apenas pensando. Desviou o olhar pro chão por alguns segundos e andou ate a poltrona próxima ao sofá, se sentando ali.
– Sabe, quando você fez isso da outra vez, eu te disse que não é certo beber nesses momentos, que isso pode virar uma coisa séria. E agora na fase mais fodida da sua vida você resolve largar a e ir encher a cara?! – Parou de falar fechando os olhos ao ver que já estava subindo um pouco o tom de voz. – Sebastian, a situação que você tá passando é foda, inimaginável, não vou te culpar por querer espairecer. Agora, fazer o que você fez hoje... – Balançou a cabeça em negação sentindo os olhos arderem com o pensamento que veio em mente. – Perdi meus pais de coração, minha afilhada, e minha melhor amiga, mesmo que, espero eu, temporariamente. E eu sei que você também os perdeu, mas... Co-como você acha que eu ficaria se perdesse você também? E a ? – escondeu o rosto por alguns segundos – Eu não posso perder você também, Sebastian. Sei que você deve estar me achando uma chata agora, mas eu não posso e não vou deixar isso virar um hábito seu.
Ele ficou em silêncio apenas ouvindo o que a amiga falava. Nada, absolutamente nada do que ele dissesse podia contra argumentar as palavras dela. estava completamente certa.
Seb suspirou alto, sentindo seu coração apertar ao ver a amiga daquele jeito por causa dele.
Tudo o que ele não queria era preocupar as pessoas, causar mais dor do que todos já estavam sentindo.
– Eu não tenho o que dizer. Você tá certa – Ele desviou o olhar envergonhado. – Eu agi de maneira bem irresponsável... Eu só... – Fez uma pausa tentando pensar. – Não tô tentando justificar, tá? – Explicou antes mesmo de começar. – Eu perdi completamente a cabeça. Você não sabe o que eu senti quando vi a daquela maneira. A briga com a foi a pior de todas. Eu falei coisas horríveis, e o único sentimento que me dominou no momento foi a raiva. – Seb sentiu seus olhos arderem, e se levantou indo até a amiga, parando em frente a ela abaixando, tocando os joelhos dela. – Me desculpa. Por favor. Não vai virar hábito. Eu juro que não.
– A daquela maneira? – Franziu o cenho confusa. – Como assim, Seb? O que tem minha sobrinha?
E então, entre lágrimas, ele dividiu com o que aconteceu, contando tudo, desde que encontrou chorando em frente ao quarto, e exatamente tudo o que tinha dito a .
E ouviu a história em silêncio, engolindo em seco tentando não deixar a raiva consumir seu peito, mas era quase inevitável.
nunca, nunca, nunca desistiria de independente do mal que a amiga causasse para ela.
Agora fazer mal para a própria filha...
sentiu nojo da amiga ao imaginar a cena descrita por Sebastian.
Uma voz dizia em sua mente pra entender. Usar a psicologia e compreender o acontecido, tentando achar uma saída.
Mas não conseguia.
Ela entendia o amigo.
Porque, querendo ou não, estava sentindo o mesmo.
Em nenhuma das brigas sentiu raiva -, não da amiga, pelo menos.
Ver esse sentimento crescer de pouquinho em pouquinho em seu peito doía. Mas não tinha como ficar bem vendo o estado em que todos estavam.
E ao perceber aquilo, ela abaixou sua guarda e abraçou o amigo, o consolando enquanto ele chorava, praticamente até dormir. Só o acordou quando decidiu o levar para casa, porque, apesar de tudo, era preocupante deixar sozinha em casa.


– Papai tinha pensado em fazer panquecas pra você, mas já que seu tio fez, vou ter que pensar em outra coisa pra jantar. – Ele disse conversando com ela enquanto andava para a cozinha.
– Massinha, papi! – pediu, olhando para ele.
Abriu o armário, procurando macarrão. Revirou os olhos ao ver que não tinha.
– Escolhe outra coisa, bonitinha. – Pediu a ela, enquanto já abria a geladeira.
– Iche! – Ela pediu, sorridente.
Seb bufou ao constatar que também não tinha pão. Olhou ao redor, coçando a cabeça.
– O que acha de pizza?
deu de ombros.
– Vai ser pizza, então. Quem sabe sua mãe não coma também, né? – A colocou sentadinha na bancada, já pegando seu celular para encomendar. Depois, subiu as escadas com no colo. Passou pelo quarto que seria de e suspirou triste, pensando que precisava se livrar de tudo aquilo logo. Foi até o quarto de , e abriu a porta com certa dificuldade, já que desde o episódio, a esposa estava a mantendo fechada com a poltrona do quarto. – Oi.
olhou para ele e voltou o olhar para a frente. encarou os dois curiosa.
– Vou pedir pizza, e queria sua ajuda pra fazer uma coisa... – Ele disse. Sabia que as chances seriam baixas, mas não custava tentar. – Ahm... Me ajuda a organizar as coisas da ?
– Claro – ela olhou meio cínica para ele – que não.
Stan suspirou revirando os olhos.
– Não sei por que ainda tento.
– Não precisa tentar. Você já saiu do quarto, é só não falar comigo. Fica mais fácil pra você se for desse jeito. – disse simplesmente, voltando a se afundar nas cobertas.
Seb sentiu seu coração doer, e permaneceu encarando aquela que costumava ser . Sentiu a mãozinha de tocar em seu rosto, virando-o para a filha, beijando. Mesmo que tentasse, Seb não conseguia não se afetar. Desceu as escadas rapidamente.
– Vamos pedir pizza – Disse a . – O que acha de convidar seu dindo e dinda Evans para virem jantar?
E assim eles fizeram. Cerca de uma hora e meia depois, eles já tinham jantado e agora Stan e Evans estavam dentro do quarto de , prontos para começar a desmontar tudo o que tinha sido montado durante os seis meses de gravidez de .
Sebastian estava em um momento complicado, e Evans soube que ele precisava de um abraço assim que ouviu o soluço do melhor amigo.
– Eu sinto muito. – Disse pausadamente, enquanto acariciava a nuca do romeno. – Muito mesmo...
Sebastian se virou e ficou de frente para Evans, encostando a cabeça no ombro dele enquanto chorava, os braços soltos ao lado do corpo, soluçando. Demorou um tempo, mas ele se acalmou, e quando o fez, olhou nos olhos de Evans e apertou o ombro do amigo em agradecimento, fungando devido ao choro.
– Pode chorar o quanto quiser, cara. – Evans o olhando nos olhos, sentindo os seus marejarem por ver o amigo assim e pela empatia que expressava. – Comigo você não precisa ser forte ou se conter.
O romeno sorriu sem jeito, entre as lágrimas, balançando a cabeça ao quebrar o abraço.
– Quando... Quando eu tenho esses momentos, eu entendo um pouco a . – Confessou, já indo até o canto do quarto para pegar algumas caixas. – A dor é tão forte, e com os pais dela, eu... Não sei. Não justifica, mas eu entendo. Momentaneamente. – Sorriu triste. – Depois passa... E... Eu sinto um pouco de raiva. – Desabafou com Evans. – Não tenho orgulho disso. – Continuou a falar se mantendo distraído enquanto guardava várias roupinhas em uma caixa e brinquedinhos em outro.
– Eu, de verdade, entendo a ... Discordo de algumas coisas, como o jeito com a , mas eu entendo. – Suspirou. – E Seb, é normal você sentir raiva... Tudo isso acaba virando uma montanha russa de sentimentos... Não te julgo também, pois não sei como estaria no teu lugar. – Comentou, indo o ajudar, fazendo o mesmo que ele.
– Eu sei disso... Só que é triste. Você já se imaginou sentindo raiva da ? – Perguntou retoricamente. – É complicado, dói bastante. – Suspirou quando terminou de guardar tudo que estava no armarinho e nas gavetas.
– Não consigo imaginar. – Evans disse sincero.
– Pois é. – Sebastian sorriu triste. – Ah, eu comecei terapia hoje...
– Sério? E como foi? – O loiro questionou genuinamente interessado.
– Foi bom. Ele que disse que seria bom eu fazer isso aqui – Se referiu a desmontar o quarto e doar tudo – O berço vou doar, eu... Não sei. Acho melhor. Era da , mas depois disso tudo...
No quarto, saiu do banheiro depois de tomar um banho longo e demorado, a água extremamente gelada, como sempre. Foi direto comer a pizza que havia visto antes, provavelmente deixada em seu quarto por Sebastian, e a devorou rapidamente. Ouviu algumas vozes próximas e reconheceu a de Evans e Seb.
Precisava urgentemente de uma bebida.
Pegou a garrafa de vodka que havia enchido antes, a encontrando vazia, só então percebendo que estava com dor de cabeça. Engraçado como em poucos dias voltando a beber já tinha criado um pouco de resistência.
Decidida a descer pegar mais, saiu do quarto em silêncio.
Paralisou na porta do quarto que era para ser de , sentindo uma pontada bastante forte em seu coração. Ficou em silêncio enquanto observava e ouvia o marido e o amigo guardarem tudo, desejando silenciosamente que aquilo não fosse necessário. Mordeu o lábio, como se estive se repreendendo. Aproveitou que ninguém a viu e desceu rapidamente, ouvindo a TV da sala ligada. Passou como um vulto para que não fosse vista e foi diretamente até o bar. Pegou uma garrafa de vodka ainda lacrada, a abrindo, bebendo um longo gole ali mesmo, sentindo a garganta arder, querendo tirar de si aquela dor que estava começando a sentir.
Não queria sentir.
Não sentir era bom.
Significava uma vida livre de sofrimentos.
Mas eles estavam começando a aparecer. E não queria lidar com aquilo.
Então, antes de voltar, bebeu mais um gole, sentindo sua cabeça girar, e o efeito do álcool começar a aparecer.
Tão rápido quando tinha vindo, fez o caminho de volta. Passou pelo corredor rapidamente, achando que não tinha sido vista, e entrou no quarto, empurrando a enorme poltrona com um pouco de dificuldade. Se sentou no chão ao lado da cama, em baixo da janela, encostada na parede, enquanto seus pensamentos voavam para o que estava sentindo.
Mas tinha sido vista. Evans a viu voltar, e pensou ter visto uma garrafa de bebida, mas não queria acreditar nisso. Suspirou pesadamente e preferiu guardar a informação pra si.
Seguiu ajudando Seb, mas a todo momento voltava a imagem na sua cabeça... Não era possível que estivesse bebendo. Ou era?
No quarto, ainda tentava lidar com as novas dores que estava sentindo, mesmo não sendo algo extremamente forte, era algo. E ela estava há o que, quase um mês sem sentir absolutamente nada? Não sabia. Não tinha ideia e, sinceramente, no momento, não se importava. Realmente só queria esquecer.
Mas por que então o fato de o marido e amigo estarem no quarto ao lado arrumando as coisas de a estava incomodando?
Não. Não. Não.
Ela não queria aquilo.
Talvez se ela seguisse mostrando a todos que não se importava, a dor fosse embora novamente.
– Merda. – Xingou baixo, se levantando, deixando a garrafa no chão. Se apoiou novamente na parede e antes que percebesse, já estava arrastando a poltrona para sair do quarto. Foi direto para o quarto de , apoiando o corpo no batente da porta. – Por que vocês estão perdendo tempo arrumando as coisas de um bebê que morreu? – Foi necessário mais coragem do que ela imaginou para que aquela frase saísse de sua boca.
Sebastian olhou estático para , chocado, por dois motivos. Por ela ter saído do quarto e estar interagindo, e pela frase extremamente dolorosa e absurda que ela falou. Não teve coragem de abrir a boca, extremamente magoado.
– Mas o que... – Chris se sobressaltou ao ouvir a voz de se virando imediatamente na direção dela. – Porque isso é necessário, . – Respondeu se aproximando dela, vendo-a rir de maneira nasalada.
E então ele percebeu que ela estava alterada e um cheiro de vodka vinha dela.
– Você... – Ia dizer algo, mas a frase morreu na sua boca.
Ele não falaria aquilo agora, teria que confirmar, a pegar no ato.
– Não sei porque é necessário. Eu hein, vocês parecem que gostam de sofrer. – Respondeu simplesmente, enquanto sentia uma pontada em seu coração, se desequilibrando quase imperceptivelmente.
Seb não notou, mas Evans sim.
O romeno seguiu calado, sem saber o que pensar, sem forças para responder qualquer coisa. olhou para ele por cima do ombro de Evans e deu de ombros.
– Bom, escolha de vocês. – Fingiu uma cara de decepção antes de se virar e sair, voltando para o próprio quarto com o coração pior que antes.
Novamente com dificuldade, fechou a porta com a poltrona e voltou para a bebida, se sentindo pior que antes. Se sentou no chão de qualquer maneira, ficando escondida pela cama, e deu um longo gole na vodka.
– Por favor, para de doer. – Apoiou uma das mãos na cabeça enquanto o cotovelo estava apoiado no joelho.
No quarto, Sebastian olhou para Evans magoado e sem entender nada.
– Eu... Não dá. Como não sentir raiva? Não dá. – Fechou com um pouco de força a última caixa com as roupinhas, sentindo as lágrimas voltarem a molhar seu rosto.


ouviu quando o amigo entrou no quarto, e permaneceu na mesma posição, olhando para o teto enquanto sentia o ambiente girar levemente ao seu redor. Quando Evans apareceu em sua frente, ela revirou os olhos, se sentando e apoiando o corpo na parede, ainda segurando a garrafa.
Evans arrancou a garrafa das mãos dela e virou todo o líquido na pia, ouvindo protestos altos e bêbados de enquanto o fazia.
E depois ele desatou a falar, para o descontentamento dela.
o ouviu falar sobre como não deveria beber, sobre como estava machucando Sebastian e .
Sobre como os pais dela não gostariam daquilo.
Mas nada a atingiu.
Ela notou a decepção nos olhos dele, e aquilo também não mexeu com ela, até ele falar em .
.
Engraçado que agora ela conseguia pensar no nome da filha.
Ela não era mais apenas a bebê que morreu.
Mas ninguém precisava saber disso.
Ele tinha razão sobre tudo, e sabia daquilo. Estava machucando a todos de uma maneira que nunca pensou que faria. Mas simplesmente não conseguia. Era tudo doloroso demais.

Franziu o próprio cenho ao perceber mais uma vez que estava sentindo algo.
Seus pais.
Anne e John deviam estar decepcionados.
Não que ela se importasse.
Ou será que se importava?
Sua cabeça doeu. Sua barriga doeu. E principalmente, seu coração.
Ao constatar o que estava sentindo, sentiu tontura.
E não conseguiu abrir a boca.
Ela ficou em silêncio novamente, perdida em pensamentos, enquanto Evans se afastava para sair do quarto.
Não falou absolutamente nada. Apenas foi até a porta e esperou ele sair para fechá-la, puxando a poltrona com certa pressa para trancar, e então correu para o banheiro, se sentando em frente ao vaso, colocando tudo para fora enquanto apoiava os braços na cerâmica.
Lágrimas saíam de seus olhos, e talvez, apenas talvez, não fosse apenas pelo esforço devido ao vômito.
Na posição que ela estava após terminar de vomitar, ela ficou, sua cabeça a mil, coração batendo forte, e um nó enorme em seu estômago.
estava sentindo.
E mesmo assim, a única coisa que ela queria, era esquecer.
Levou um tempo, mas ela se levantou, se arrastou para o chuveiro e dessa vez ligou a água no quente.
Quem sabe a dor física ultrapasse a emocional.
Claro que só piorou.
Foi para a cama com a pele avermelhada e extremamente quente, a cabeça explodindo, e o coração doendo.
Pela primeira vez desde que tudo tinha acontecido.
Mas ninguém precisava saber disso.


Alguns dias se passaram, e por algum motivo, para Sebastian, aquele dia estava sendo muito mais difícil que os outros. Seus amigos estavam lá em baixo, mas faltava . E aquilo o estava machucando muito. Subiu as escadas e foi direto para o quarto em que estava dormindo, mal tinha entrado no cômodo e caiu no choro.
Sebastian cruzou os braços, passando as mãos pelos próprios braços, tentando se confortar, enquanto chorava, sentindo o ar fugir de seus pulmões. Ele não estava mais aguentando. E vinha evitando falar com , pois cada vez, era mais doloroso. Ver a filha sofrendo daquele maneira por conta da ausência e indiferença da mãe... Saber que estava, talvez, sentindo alguma coisa já que estava recorrendo a bebida, e mesmo assim continuava da mesma maneira... Era quase como se ela mesma tivesse desistido de si. Ele não sabia mais o que fazer. E o medo que tinha de as coisas continuarem assim, ou como tinha dito, se ficasse assim por um ano ou mais... O que fazia ele ainda ter esperança era o fato de que se tivesse realmente desistido, talvez ela tivesse tentado... Não sei, outros meios... Talvez ela não estivesse mais ali com eles. Mas não. Ela não tinha tentado nada, graças a Deus. E isso o fazia pensar que talvez ela ainda estivesse ali, só... Estava passando por uma fase.
– Seb... Eu to aqui, posso entrar? – Evans perguntou com a voz tranquila.
Ele soluçou, ao ouvir a voz do amigo. Esfregou o rosto e respirou fundo antes de abrir a porta, se virando rapidamente para que Evans não visse o rosto dele.
– Vim pegar um negócio. – Tentou disfarçar indo até o armário – Tô guardando as coisas da aqui nesse quarto. – Mentiu, não querendo que o amigo soubesse que ele tinha saído do quarto dele e de .
Pegou o primeiro brinquedo de que viu.
– Hm... – Chris resmungou não acreditando muito na fala do amigo, ainda mais por estar com o tom de voz estranho. – Seb... – Se aproximou do melhor amigo, tocando o ombro dele delicadamente. – Bom... Eu sei que tá difícil... Muito difícil e que, talvez, você esteja chegando ao teu limite. – Pontuou falando com a voz calma, tentando se controlar para passar segurança ao amigo. – Mas comigo... Comigo você não precisa disfarçar, não precisa conter lágrimas ou fingir que tá bem. – Concluiu dando um aperto mais forte no ombro do romeno como se o incentivasse a virar pra ele.
Seb respirou fundo ao sentir o toque de Evans em seu ombro, mordendo o lábio, sentindo seus olhos marejarem de novo.
que deu esse pra ela, só quis vir buscar. – Inventou uma desculpa qualquer, demorando para se virar, querendo mudar de assunto. – Cara, eu não... Não tenho o que falar mais... – desconversou – Vamos descer... – Se virou, forçando um sorriso antes de passar por ele para sair do quarto. Parou no corredor, olhando para o quarto de . – Evans... – Chamou por ele. – Eu não tô chegando no meu limite. Eu tô no meu limite. – Confessou.
Dentro do quarto, estava saindo do banheiro quando ouviu a fala de Sebastian. Ela paralisou no lugar.
O que ele queria dizer com aquilo?
– Eu disse a ela que não aguentava mais aquele dia, mas foi da boca pra fora. Se eu falasse hoje, eu muito provavelmente não estaria mentindo. – Ele continuou, e então olhou para o amigo com o olhar completamente despedaçado quando duas lagrimas escorrerem por seu rosto. – O que ela faz com ela mesma, tudo bem, eu posso conviver, ainda. Não sei por quanto tempo mais. – Forçou um sorriso. – Mas o que ela faz com a , não.
encostou o ouvido na porta, sentindo seu coração doer de uma maneira extremamente forte.
Sebastian estava realmente pensando em desistir?
Bom, ela não podia julgar. E mesmo que uma voz em sua cabeça dissesse para não se importar, seu coração dizia o contrário.
Sentiu seus olhos arderem, como se quisesse chorar. Mas mesmo assim, o choro não vinha. Era como se não tivessem lágrimas. Ela sentia, mas seu consciente dizia: não, você não vai sentir. Não vai chorar. E isso a colocava em uma luta interna.
Não havia visto a filha o dia inteiro. não merecia aquilo.
E ali naquele momento ela fez a promessa de que tentaria ser melhor pelo menos com a ruivinha.


colocou um moletom grande que tinha, uma calça jeans e um tênis. Se olhou no espelho e mal se reconheceu, mas não se importou. Saiu do quarto e ia direto descer as escadas quando resolveu parar em frente ao quarto que era de . Encarou a porta fechada, ponderando se deveria ou não entrar, se perguntando também por que estava fazendo aquilo. Por fim, resolveu abrir a porta. Não encontrou nada ali dentro além dos móveis. Mordeu o lábio, um aperto imenso aparecendo em seu peito. Ao sentir isso, virou as costas e saiu, descendo as escadas rapidamente. Pegou suas chaves e saiu de casa, com certa pressa. Entrou no carro de qualquer maneira, e deu partida em direção ao primeiro bar que visse pelo caminho.
E foi o que fez.
Não demorou a chegar, estacionando o carro de qualquer maneira. Antes de descer, porém, colocou a toca do moletom que usava, e finalmente entrou no bar, se dirigindo até o balcão e se sentando.
Não demorou para que viessem a atender, e logo já estava bebendo doses e doses de vodka em busca do esquecimento.
Tudo girava.
Absolutamente tudo.
E o mais importante: ela não se lembrava das preocupações. Dos sentimentos. Das dores.
estava leve.
E muito, muito bêbada.
Em algum momento da noite, ela tirou o capuz do moletom que vestia. Ainda sentada no mesmo lugar, apoiou o braço na bancada e deitou a cabeça ali, fazendo um sinal com a mão para o garçom.
– Mais uma – Pediu, e o homem prontamente assentiu.
Ela nem sabia onde estava, mas não se importava. Tinha ido embora do primeiro bar por algum motivo que agora não lhe fazia mais importância como antes. Saiu andando a pé mesmo. Não saberia dizer por quanto tempo andou, e certamente nem sabia se estava ainda no mesmo bairro. Só sabia que aquele bar era melhor, a bebida era boa, a estavam servindo com rapidez, e não ficavam tentando conversar.
Virou outra dose de vodka, sentindo sua garganta e estômago queimarem. Fazia tempo que não comia.
Não que se importasse.
Sentiu uma luz em sua direção. Certamente em outro momento se importaria, mas naquele, estava pouco se fodendo. Estava prestes a pedir mais uma bebida quando foi apoiar o pé no banco do bar e se desequilibrou, quase caindo. Precisou se segurar no balcão, e ao retomar o equilíbrio – se é que aquilo era possível – saiu andando cambaleante em direção ao banheiro.
Novamente, tudo girava. A música já nem parecia música. Apesar da tontura, se sentia como se estivesse flutuando, em paz.
Mas era só uma questão de tempo, ela sabia.
Entrou no banheiro quase escancarando a porta, recebendo olhares estranhos de algumas mulheres que estavam ali. Uma delas ainda ofereceu ajuda, mas a dispensou com a mão, indo rapidamente fazer xixi. Sentiu tudo girar ao se sentar, e quando se levantou, foi a mesma coisa. Seguiu até a pia e jogou uma água no rosto e na nuca, se molhando bastante, tentando aliviar um pouco o que sentia. Estava pronta para sair do banheiro quando escorregou em algo molhado e caiu no chão, soltando um gemido alto antes de cair na risada, levando as mãos a cabeça, querendo fazer com que tudo parasse de girar.
– Tudo bem? – Uma mulher se aproximou e estendeu a mão para que ela se levantasse, e aceitou de bom grado. – Acho melhor chamarmos um taxi pra você, não acha? Você tá soz... – Fez uma cara estranha – Eu te conheço – Ela disse, apoiando o corpo de no seu, sem parar de olhar para ela. fez uma careta. – Certo. – A mulher pareceu entender e ficou quieta. – Posso ligar pra alguém vir te buscar? Você sabe o número?
– Eu não quero ir pra casa – disse simplesmente, a voz saindo bastante embargada. – Valeu pela ajuda, mas não – Negou prontamente – Não, não, não – repetiu várias vezes a palavra, tentando se desvencilhar dela, e conseguiu.
A mulher suspirou ao observar, mas não falou mais nada, e nem teve tempo, já que a ruiva deu um jeito de sair correndo dali. Passou no bar, e ia se sentar, mas esbarrou em alguém, e recebeu vários insultos, que fizeram sua cabeça doer.
Porra, pensou.
Só precisava de mais uma bebida. Só mais uma.
E outra.
E outra, e é claro, mais uma.
Se apoiou no balcão e pediu mais uma dose ao garçom, que novamente atendeu. O álcool desceu como água. Ela então pegou uma nota em um valor bem mais elevado que o que precisaria pagar e entregou ao garçom antes de sair do bar.
O vento gelado bateu em seu rosto instantaneamente, causando um certo alívio, mas logo percebeu que não tinha para onde ir ou o que beber. Se apoiou na parede, e em menos de trinta segundos já estava voltando para dentro do bar novamente.
Se moveu com pressa no meio das pessoas, se sentindo cada vez pior. Voltou a se sentar em um dos bancos, e antes que percebesse, alguém se sentou ao seu lado.
– Me lembrei de onde te conheço – Ouviu e olhou para o lado.
Encontrou novamente a mesma mulher de antes, que a olhou compadecida.
– Que bom pra você – respondeu irônica, fazendo sinal para que trouxessem mais uma dose para ela.
– Eu posso te ajudar – Ela voltou a falar e riu, sentindo seu interior se revirar.
– Ninguém pode – Novamente ela foi grosseira. – Só isso aqui – Se referiu a bebida que recém tinha recebido.
A mulher suspirou, a olhando preocupada. E realmente não entendia porque uma desconhecida se importava com ela.
– Olha, eu... Eu sei o que aconteceu.
– Cala a boca – disse entredentes.
– E sei o quanto dói e...
– CALA A BOCA! – A ruiva disse extremamente alto, se levantando do banco.
Porém, caiu no chão no momento seguinte. Um dos garçons se aproximou e ajudou a mulher a levantar , que sentia tudo distante. E um embrulho imenso em seu estômago, coração...
– Você a conhece? – O garçom perguntou e a mulher assentiu.
– Quer dizer, não, eu só sei quem ela é – Explicou, enquanto levava para os fundos do bar junto com o garçom. – Só não sei como ajudar, ela é casada com... Com... Sebastian Stan.
O garçom arregalou os olhos ao ouvir e os dois colocaram sentada em uma cadeira. A ruiva se esparramou, fechando os olhos, enquanto sentia seu estômago se revirar e doer. O homem olhou surpreso para .
– E como vamos fazer pra levar ela para casa? Não sei exatamente como entrar em contato com Sebastian stan – O garçom disse e arregalou os olhos.
– Não! NÃO! Vocês não vão ligar para o meu marido – Ela berrou, estendendo a mão, dando alguns tapas fracos na mulher. – Chris Evans – disse baixinho.
– Como é? – O garçom riu nervoso.
– Tenho quase certeza que ela disse Chris Evans.
– E como diabos vamos conseguir falar com Chris Evans?
Não tinha seu celular consigo, aliás, nem sabia onde o aparelho estava. Mas sabia o número de Chris de cor.
Só que não se lembrava.
Sabia também o de e o do marido. Desses ela se lembrava de cor, mesmo muito bêbada.
Mas, fora de cogitação.
– 349 – disse baixo, fazendo esforço para se lembrar – 523 – continuou – 354 – finalizou. – Não, é 345 o final – se confundiu. – Eu não sei – se afundou na cadeira.
– Anotou? – A mulher perguntou e o garçom disse que sim, entregando o celular para ela. – O que? Eu vou ligar?
– Claro que sim, Capitão América é meu herói favorito, eu vou vomitar se falar com Chris Evans ainda mais em uma situação dessas – Ele contou nervoso, e olhou para a cadeira onde estava, encontrando-a vazia. Se virou e viu que ela, apesar de extremamente bêbada, de alguma maneira conseguiu se levantar e estava andando em direção a um armário cheio de bebidas. – Ei, ei – ele foi até ela, que se apoiou no armário.
– Me deixa – Ela pediu, ja estendendo a mão para uma garrafa de vodka – Eu preciso esquecer.
– Você já bebeu muito hoje – O homem disse, levantando a levando para longe. – Vou pegar uma água pra você – A colocou sentada novamente na cadeira, entregando uma garrafa de água, que a ruiva jogou longe. Ele suspirou, revirando os olhos.
O que quer que tivesse acontecendo para ela beber dessa maneira, era sério.
Diferente da mulher, ele não tinha nem ideia.
se esparramou na cadeira, deixando a cabeça cair para o lado, se apoiando de mal jeito.
– Alo? É Chris Evans? – a mulher disse no telefone, bastante ansiosa. – Ah, desculpa, liguei errado – Suspirou frustrada, torcendo para que o outro final do telefone fosse o certo. Discou rapidamente. Um toque, dois toques, três toques. – Oi, ahm, eu tô falando com Chris Evans? Não! Espera, não desliga, é... – tentou se lembrar do nome da ruiva, esposa de Sebastian. – ! É sobre a .
A mulher se afastou de para falar ao telefone, deixando-a com o garçom.
– Eu encontrei ela em um bar. Ela me passou seu número... – Explicou tentando focar em ajudar e não no fato de estar falando com Chris Evans. – Ela não tá bem e não deixou ligar pro marido dela, pediu por você. Será que tem como vir buscar ela?
seguiu jogada na cadeira, sem forças pra levantar, enquanto o garçom ainda tentava fazer ela beber água.
– Tudo bem – A mulher suspirou preocupada. – Te mando a localização por mensagem. – Disse antes de finalizar a ligação, voltando até onde estava com o garçom. – Chris Evans Ta vindo – fez questão de falar o nome dele, ainda sem acreditar.
– Toma um pouco – o garçom tentou oferecer água novamente, e dessa vez aceitou um gole, sentindo sua cabeça extremamente pesada. – Ele vai realmente vir até o bar?
– Pelo que parece sim. Ficou extremamente preocupado quando eu falei – Ela suspirou cruzando os braços. – Agora precisamos esperar...


acordou com sua cabeça girando tanto, mas tanto, que poderia jurar que alguém estava fazendo aquilo com ela.
Porra.
Se sentou na cama, olhando ao redor, reconhecendo seu quarto.
Como tinha voltado para lá?
Se lembrou então de que Evans tinha ido buscá-la no bar. Lembrou também que tinha ido até ali, e Sebastian.
Sebastian.
Ah, não...

Flashback

Sebastian entrou em casa extremamente puto. tinha passado de absolutamente todos os limites. Ir beber fora de casa e ainda ser flagrada por paparazzis quando a mídia já estava especulando e muito sobre os dois desde a tragédia tinha sido muito irresponsável. Ele bateu a porta e subiu as escadas com pressa, chegando na porta do quarto.
– Você tem merda na cabeça? – Ele perguntou ao entrar, sem se importar com absolutamente nada. Se aproximou da cama e encarou . – Eu tô falando sério, qual a porra do seu problema?
encolheu o corpo, se assustando com a maneira com que Sebastian falou com ela. Não respondeu, tentando manter o contato visual.
Evans estava pronto para levá-la ao banheiro imediatamente quando ela disse que não estava bem, mas nem teve tempo de agir pois em seguida Sebastian entrou ensandecido no quarto.
Se sobressaltou arregalando os olhos na direção de Sebastian, nunca tinha visto o melhor amigo assim.
– Cara... – Se pôs de pé indo até ele. – Você... – Não sabia muito o que dizer, pois sabia que naquele momento, Seb estava no limite, estava exausto, estava explodindo em todos os sentidos.
– Sai daqui, Evans – Sebastian afastou o amigo, e depois voltou a atenção para . – Você tem noção de que poderia ter acontecido? VOCÊ TEM NOÇÃO, ? – Ele continuou a falar, ignorando os dois amigos. – Tem foto tua bebendo por toda a internet! – Ele passou as mãos pelo cabelo nervoso, se afastando, dando alguns passos em círculos. – Na boa, não foi com você que eu me casei. Eu não te reconheço mais. E eu cansei. – Ele cuspiu as palavras. – Aquele dia eu falei da boca pra fora. Mas hoje, hoje não – Ele apontou o dedo no rosto dela, e sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mordendo os lábios com força. Sebastian estava tão fora de si que nem notou. – Você deixou de ir no aniversário dos seus afilhados. SEUS AFILHADOS! Filhos dos seus melhores amigos, pra sair beber. Puta que pariu – Continuou a esbravejar. – Sinceramente... Pra mim já deu. Você pode fazer o que for, foder sua vida da maneira que quiser, mas vai fazer isso longe de mim e da . – Cuspiu as últimas palavras antes de sair do quarto sem olhar para ninguém.
ficou em choque, completamente estática. Sua cabeça girava, o peito doía, e ela não conseguia focar o olhar em e Evans, pelo contrário, se fizesse isso, desabaria. As palavras de Sebastian a atingiram como facas. Então ela apenas... Não reagiu.
e Evans nunca tinha visto Sebastian daquele jeito, e agora ele estava destruído.
E quem havia destruído pedacinho por pedacinho.


Sebastian permaneceu em silêncio quando saiu do quarto, seu coração batendo forte, os olhos extremamente vermelhos, ardendo devido ao esforço para não derrubar nenhuma lágrima.
Ele estava completamente quebrado, destruído, e realmente tinha atingido o seu limite.
Não aguentava mais.
E era extremamente triste se dar conta disso.
Entrou no quarto de visitas que agora era dele, com certa pressa, tentando tirar a aliança de seu dedo, mas não conseguia, devido ao nervosismo.
E então as lágrimas saíram, antes que ele se desse conta.
Sebastian ainda estava sob o efeito do surto que teve anteriormente, e demorou um pouco a se acalmar ao sentir os braços de ao redor de si, mas quando o fez, ele relaxou.
E chorou.
Chorou igual criança.
As lágrimas rolaram livremente por seu rosto, assim como os soluços, e seu peito doía insuportavelmente.
Ele nem tentou retribuir o abraço, pois não tinha forças.
Tinha chego ao seu limite e não era só em relação a , era a ele mesmo.
Estava esgotado.
Total e completamente quebrado.
E precisava reagir, não só por ele, mas também por . Se não ia seguir eles, ele sentia muito. Apesar da dor, precisava priorizar a si e sua filha. E era isso o que faria.



Pouco depois de relembrar os acontecimentos da noite anterior, se levantou para ir ao banheiro, mas antes mesmo que chegasse lá, entrou ensandecida no quarto.
E então o pesadelo começou.
jogou pesado, e merecia.
Todos tinham chego ao limite, pelo que parecia. Sebastian não tinha sido o único.
"Você conseguiu ser pior que a minha mãe."
não ouviu quase nada que a amiga falou depois daquela frase.
Quase.
Porque ela ouviu também tudo o que falou sobre os sentimentos de .
E foi aquilo que a quebrou.
“Se tem alguém que não tem culpa de nada, é ela. E vai crescer se perguntando o que fez pra não merecer ter uma boa mãe. Vai pensar que o problema é ela. Sendo que não é.”
Talvez... Talvez ela pudesse viver sabendo que foi ela que estragou o relacionamento com Sebastian.
Aceitaria que ela mesma fodeu sua relação de irmã que tinha com .
E até cairia na real de que não teria mais Evans, já que até ele ela tinha conseguido afastar.
Mas ? Não.
não teria forças para viver sabendo que fez o que fez a filha. E se continuasse da maneira que estava, as coisas ficariam piores.
Agora ela sabia disso.
E tinha desistido. Assim como Sebastian.
encarou a porta do quarto quando a morena finalmente a deixou sozinha, completamente em choque, quebrada e sem reação. Seus olhos ardiam, marejados, e ela beliscava os próprios braços com tanta força que nem tinha percebido.
Não sabia o que falar.
Não tinha o que falar.
Quando se viu sozinha, ainda demorou a reagir.
Ela ficou completamente estática, as palavras de ainda rondando sua cabeça.
''Porque você é... era minha irmã."
Era.
"Você lidando com isso ou não, eles morreram." Ela tinha razão. tinha razão.
"...Não tem uma, UMA, mísera pessoa que você não tenha machucado com isso tudo.Você fodeu com o emocional do Evans, você fodeu com o Sebastian, mas o que mais me dói é você ter fodido a minha pessoa favorita no mundo. O que mais me dói é você ter fodido você mesma."
tinha machucado a todos. Absolutamente todos. E se perdido enquanto fazia isso.
"E eu acho que nunca vou conseguir te perdoar."
Porra. Porra, porra, PORRA.
"Eu queria tanto, tanto, simplesmente não te amar."
era sua melhor amiga, sua irmã. Nunca pensou que ouviria aquela frase um dia.
Quando finalmente tudo a atingiu, ela não conseguia respirar.
O ar faltou de seus pulmões, as respirações não pareciam suficientes. O ambiente se tornou pesado, quente, frio, sufocante. Era como se tudo estivesse se fechando ao seu redor.
Mas ela sabia.
Sabia que tudo era consequência de sentimentos dentro de si mesma.
E eles a atingiram.
soluçou extremamente alto e se apoiou na primeira parede que viu, caindo de qualquer maneira no chão.
Quase não reconheceu o choro que saía por sua garganta.
Esgoelado. Desesperado. Completamente quebrado e machucado.
E ela chorou, finalmente.
Desabou.
Pela primeira vez, em meses.
tinha perdido muito mais que seus pais e sua filha.
Ela tinha perdido Sebastian, seu marido, que sempre fora tão bom, tão apaixonado, tão maravilhoso. Ele mesmo havia sofrido perdas também, e ela ignorou por completo tudo isso, piorando ainda mais a situação. Os dois tinham perdido uma filha, não só ela.
Soluçou ao pensar naquilo, sentindo seus olhos arderem de tanto chorar.
Também tinha perdido , sua melhor amiga, sua irmã. Sua irmã. A amiga também perdera os pais. Pela segunda vez.
Meu Deus.
O barulho que saiu de sua garganta a teria assustado se ela tivesse se vendo de fora.
Talvez tenha perdido até Evans. As coisas que falou a ele, a maneira com que agiu, com que o machucou por vontade própria...
Ela não tinha força nem para esconder o próprio rosto, completamente destruída no chão.
Tinha afastado sua própria filha. achava que a mãe era ruim, má. a comparou com a própria mãe.
Na verdade, não tinha sido apenas uma comparação.
"Você conseguiu ser pior que a minha mãe.”
A frase voltou a sua cabeça.
Meu. Deus. No que ela tinha se transformado?
A pior dor de todas veio depois.
Quando ela percebeu que tinha perdido a si mesma.
E então veio a culpa.
À aquela altura, seu corpo estava esticado no canto do quarto, enquanto chorava alto, sem se importar com mais nada.
Ela finalmente estava sentindo.
Nunca mais veria seus pais. Não os abraçaria. Não diria o quanto os ama. Ela sequer estava presente no funeral, porque apesar de ter ido, não estava lá.
.
Ela não segurou sua filha.
Ela mal olhou para o rostinho dela.
Se encolheu no chão, ficando em posição fetal, abraçando as próprias pernas, enquanto ainda chorava.
Cada vez mais.
Muitas lágrimas, muitos soluços.
As lágrimas desciam por seu rosto e doíam.
Doía chorar. Doía sentir.
Nunca pensou que fosse possível chorar daquela maneira.
Ela não conseguia respirar.
Tinha deixado todos de lado.
E agora estava sozinha.


acordou cedo na outra manhã, também pudera, além de tomar o remédio que – esposa de Evans e sua médica – lhe deu, tinha ido dormir super cedo.
Ontem, por sorte, depois de ouvir contar sobre tudo o que tinha dito a , ele decidiu ir até lá, e logo que entrou em casa já ouviu ao gritos desesperados da amiga. Para ele, foi extremamente difícil vê-la naquele estado, mas também sentiu alívio. estava tão desesperada que ele precisou chamar para ajudar a fazer a amiga apagar para parar de chorar.
Foi só por isso que ela tinha conseguido desligar.
A ruiva se sentou na cama, e logo a realidade a atingiu de novo. Ela respirou fundo e contou até dez para não começar a chorar imediatamente. Colocou as pernas para fora da cama e estava prestes a se levantar quando viu sua aliança no criado mudo. A pegou e, sem pensar duas vezes, colocou em seu dedo. Suspirou alto, piscando algumas vezes e olhando para o teto para não chorar.
Sentiu seu estômago roncar, se dando conta de que precisava comer algo.
O que significava sair do quarto e encarar Sebastian.
Mas também ver , algo que queria muito, muito fazer.
Então se levantou, primeiro de tudo, procurando por seu celular. O encontrou jogado no meio de algumas roupas, e o colocou para carregar. Enquanto esperava pela carga inicial, foi até o banheiro, fez sua higiene matinal e vestiu a primeira roupa decente que viu em sua frente. Voltou para onde o celular estava e o desbloqueou, encontrando infinitas notificações em suas redes sociais. Não visualizou nenhuma. Não queria lidar com aquilo naquele momento, e nem tão breve. Apenas abriu o telefone e discou os números do cartão que havia jogado em cima da cama no dia anterior.
Tuuu. Tuuu. Tuuu.
– Bom dia, ahm... Eu gostaria de marcar um horário com a Dra. Alice. – Ela pediu, fazendo uma careta em seguida ao ouvir que ela só tinha disponibilidade de horário para dali a três meses. não podia esperar aquilo de jeito nenhum. – Eu fui indicada por uma... a... amiga. – Falar a palavra foi mais difícil do que ela achava. – Hemsworth. Isso, sim! Essa . Eu mesma. Ah! – Suspirou extremamente aliviada. – Muito, muito obrigada. Estarei aí. Até depois.
Desligou o aparelho completamente ansiosa e aliviada. Havia conseguido um horário para aquela tarde. Precisava contar para Evans. Queria contar para . E dividir com Sebastian.
Sentiu um aperto no peito ao se dar conta de que, apesar de a amiga e o marido muito provavelmente gostarem de saber da notícia, as coisas não se resolveriam assim.
Suspirou alto, sentindo os olhos marejarem.
Não agora, , pensou. Ela precisava fingir que estava bem pelo menos na frente da filha.
Respirou fundo, e abriu novamente o celular, enviando uma mensagem para Evans.
"Tenho terapia hoje as 14h. Achei que gostaria de saber..."
Enviou e bloqueou o aparelho, deixando-o carregar. E depois finalmente saiu do quarto.
Ela andou devagar pelo corredor, encontrando todas as outras portas já abertas, o que significava que Sebastian estava com no andar de baixo. Enquanto descia, um filme passou por sua cabeça. Ela sentiu suas mãos suarem, seu coração bater mais forte, e seus olhos se encherem de lágrimas, por nenhum motivo específico, pelo menos não naquele momento. Chegou no primeiro andar e escutou a voz do marido.
– Come sua panqueca sem fazer bagunça, bonitinha – Ele disse.
– Gotoso – A ruivinha respondeu, e não conseguiu deixar de esboçar um sorriso.
Logo em seguida ela entrou na cozinha, ainda sem chamar a atenção do marido. , porém, viu a mãe.
– Mamai – Ela falou, sem mostrar vontade de ir no colo dela ou qualquer coisa do tipo.
– Filha, sua mãe tá dodói, ja falamos disso, e d...
– Oi – cortou a fala de Sebastian e ele paralisou no lugar.
Demorou dois ou três segundos para se virar e olhá-la, mas para , esses poucos segundos foram como uma eternidade. Stan a encarou de cima a baixo, os olhos brilhando um pouco devido ao alívio de ver ela finalmente de pé e fora do quarto por livre e espontânea vontade. sustentou o olhar com o marido, mas quem quebrou foi ele. Sebastian se levantou e foi até a pia, colocando o prato e a xícara que tinha usado para comer na máquina de lavar. A ruiva suspirou e foi até a filha, se esforçando para abrir um sorriso.
– Oi cenourinha – Ela disse. – Tá gostosa essa panqueca?
Stan parou com as mãos na bancada, de costas, prestando atenção nas falas dela. Queria se virar para observar a reação de , mas simplesmente não conseguia.
encarou a mãe como se analisasse, e por fim mexeu os ombrinhos dizendo que tanto fazia, voltando a comer as panquecas. mordeu o lábio, contendo a súbita vontade de chorar.
– Não tá com saudade da mamãe? – Ela tentou mais uma vez, tocando a cabecinha da filha, fazendo um carinho leve.
fez um bico e jogou os pedacinhos de panqueca longe, dando um tapinha estalado na mesinha de sua cadeirinha, chamando a atenção de Sebastian.
... – Ele repreendeu a filha, juntando a bagunça que ela tinha feito.
– Mamai má – Lissa disse e sentiu seu coração se despedaçar.
– Filha, não ass... – Ela ia falar, mas foi interrompida.
– Sai! – gritou, voltando a bater as mãozinhas, o beiço aumentando e os olhinhos se enchendo de lágrimas.
, eu acho melhor voc... – Stan ia falar, mas a ruiva já tinha saído do ambiente.
Ela se encostou na primeira parede que viu, abraçando o próprio corpo enquanto chorava baixinho.
sabia que não ia ser fácil. Todos tinham jogado isso na cara dela – e com razão – mas ela não imaginou que seria tão doloroso.
– Bonitinha, eu sei que ficar sem a mamãe foi ruim, mas ela ainda é sua mãe – ouviu Sebastian dizer.
– Mamai má – repetiu, e novamente sentiu seu coração se quebrar.
– Ela não é má, só tá dodói. E ela te ama muito, muito – Seb disse. – Tenta, pelo papai, ser boazinha com ela, tá bom?
não viu, mas balançou a cabecinha em confirmação, enquanto fazia um beiço enorme.
– Não quer mais panqueca? – Ele perguntou a ela, e a menina negou. – Vai brincar, então – Ele soltou a filha no chão.
ainda tentava normalizar sua respiração quando uma gatinha preta parou em sua frente e a encarou curiosa, dando um miado alto. Ela franziu o cenho. Eles tinham um gato novo e ela não sabia?
– Queca! – apareceu gritando pela gatinha, que se jogou no chão ao ver a menininha, ficando de barriga para cima.
A ruiva limpou o rosto e respirou fundo, sorrindo para a cena da filha brincando com a gata. Ela olhou para o lado e encontrou Sebastian a observando. O romeno suspirou e deu a volta, voltando para a cozinha. foi atrás.
– Seb, eu... – Ela começou, sem saber o que falar.
– Não precisamos conversar – Ele a cortou, organizando a cozinha. Sabia o que tinha acontecido porque Evans contou, mas não conseguia. – Sobrou panqueca e tem suco na geladeira. Vou pro escritório. – Seb estava a ponto de sair da cozinha quando tentou novamente.
– Eu tenho terapia hoje as 14h. – Ela contou de uma vez, e ele parou no lugar, bastante surpreso.
Sabia que ela estava pronta para procurar ajuda, só não achou que fosse ser tão cedo. Mas que bom. Ficava feliz por isso.
– Fico feliz – Ele disse simplesmente, sem se virar para ela. – Se precisar de algo, só me chamar – Avisou e finalmente saiu, subindo as escadas.
ficou parada estática no lugar, sentindo seu coração se despedaçar pela terceira vez no dia.
E ainda eram 10h da manhã.
Era naquilo que tinha conseguido transformar seu relacionamento com Sebastian? "Se precisar algo, só me chamar?" Meu Deus.
Apoiou o antebraço na bancada e se sentou em um dos bancos, apoiando a cabeça na mão livre enquanto lágrimas rolavam livremente por seu rosto.
Se ela achava que estava ruim sofrer pela morte de seus pais, pela morte de , ela não tinha nem ideia de como seria lidar com as consequências de ter afastado e magoado sua filha, marido, e melhor amiga. Com Evans ela esperava que fosse mais fácil, porque ele estava ali, mesmo magoado. Mas os outros três não. E isso acabava com ela.
Ouviu um gritinho vindo da filha e se levantou imediatamente, correndo na direção do barulho. Encontrou no chão da sala, provavelmente tinha caído.
– Filha! – disse, se aproximando dela e a pegando no colo.
Piorou a situação, porque a menina começou a chorar mais ainda, e se debateu nos braços da mãe, tentando ir para o chão. mordeu o lábio ao vê-la daquele jeito, tentando acalmar a menina.
– Calma, mamãe tá aqui. Machucou? – Perguntou a , apenas para ter alguns tapinhas dados em seu rosto pela filha.
– Sai! – Ela gritou, querendo ir para o chão.
finalmente a soltou e a menina saiu correndo da sala no mesmo momento, a gatinha a seguindo por onde ela.
A ruiva deixou seu corpo cair no sofá, e desatou a chorar.
Mais uma vez.
Ao que parece seria o que ela mais faria nos próximos dias.
Ou meses.
Quando entrou em seu escritório, Sebastian foi direto até a mesa e se sentou em sua cadeira. Não esperava que retornasse assim, já querendo interagir. Na verdade, ele achou que ela nem sairia do quarto hoje, de novo. Achou que as coisas andariam de maneira mais lenta... Ele viu a dor nos olhos dela de manhã. Viu a maneira como ela ficou e reagiu quando a afastou. Sebastian sabia que ela estava extremamente machucada, e não conseguia, de maneira alguma, ignorar a própria dor para amenizar um pouco a que ela estava sentindo. Ele gostaria, mas não conseguia. E se sentia péssimo por aquilo, mas, era necessário. havia se perdido e afastado a todos no caminho, mas o que ele podia fazer? Era algo que precisava acontecer. Ela precisava passar por aquilo. E ele estaria ali, só não... Como sempre esteve. Se manteria próximo, mas afastado. Se é que isso fazia algum sentido.
Ele ouviu a voz de chamar pelo pai e se levantou, saindo do escritório, encontrando a filha subindo as escadas com dificuldade.
– Ei, ei – Ele desceu e a pegou nos braços, secando as lágrimas dela. – Você não pode subir a escada assim, papai deixou o portãozinho aberto? – Suspirou ao se dar conta de que provavelmente tinha sido ele devido a pressa com que subiu antes. – O que aconteceu, filha?
– Caiu – Ela contou se referindo ao fato de ter caído – Mamai pegou eu, mamai ma – Ela disse chorando, escondendo o rostinho no ombro do pai.
Stan suspirou e fez carinho nas costas da filha, bastante triste. As coisas com seriam muito mais difíceis do que ele imaginava.
Voltou a se sentar em sua cadeira com ela no colo, sem parar de fazer carinho. Pegou seu celular e enviou uma mensagem para .
apareceu na cozinha por livre e espontânea vontade. Tentou interagir com a e foi péssimo. Tem terapia as 14h. Acho que as coisas vão ser bem mais difíceis do que eu imaginei, e eu não to me referindo só a ela..."
Bloqueou o aparelho e o deixou de lado, voltando sua atenção para .
– Seb a chamou, e a filha olhou para ele. – Mamãe tá muito machucada. Eu sei que você tá tristinha com ela, mas tenta ser legal, tudo bem? – pediu a filha, vendo ela fazer um biquinho. – Por favor. Sabe quando eu e ela damos beijinho em você pra sarar? Mamãe precisa disso. O machucado dela não é igual o seu, que é só por um bandaid... – Explicou de um modo que ela entendesse. – Demora mais pra passar. Então ela precisa de muitos beijinhos. – Ele sorriu para ela. – Mas não precisa ser agora. Quando você quiser, tá? – A menina balançou a cabeça em confirmação, e então desceu do colo do pai.
– Bincá! – Ela disse, se sentando no chão.
– Papai precisa trabalhar um pouco, mas vou buscar alguns brinquedos e você pode ficar aqui comigo, tudo bem? – Ele disse se levantando para ir até o quarto dela.
Voltou rapidamente e os colocou no chão, vendo a filha abrir um sorriso e começar a brincar na mesma hora. Seb sorriu para a cena e, antes de voltar a se sentar, viu algo pela janela.
estava sentada no gramado de casa, abraçada em suas pernas, com a cabeça deitada em seus joelhos. Ele suspirou ao vê-la daquela maneira.
Mas sabia que fazia parte do processo.
Então precisou ser forte, pensar em si mesmo e na filha ao se virar e voltar a se sentar em frente ao computador para trabalhar.
E o dia se passou dessa maneira.
Apenas o primeiro de muitos que se seguiriam do mesmo jeito.


Mais um dia péssimo para a família Stan. Estavam na sala, e tentava a todo o custo fazer pelo menos sorrir para ela, mas sem sucesso. O pior momento foi quando a pequena jogou um brinquedo na mãe, o que a fez sair do cômodo para chorar. O romeno suspirou ao ver aquilo, e foi atrás dela, resolvendo fazer um convite para tentar animá-la.
... – Ele chamou, e a ruiva se virou com os olhos marejados, tentando disfarçar, forçando um sorriso que piorou a situação. Seb coçou a cabeça sem jeito. – Eu sinto muito por isso. – Disse finalmente.
– Eu também. – Ela disse baixo, se virando para olhar para ele. – Eu não queria que isso tudo tivesse acontecido...
– Sei que não... Mas aconteceu. Infelizmente. E as coisas não vão melhorar de uma hora pra outra. Nada vai.
Nada vai.
não respondeu mais nada. Aquela duas últimas palavras desencadeando um turbilhão de sentimentos dentro de si, principalmente a culpa.
Ela não estava conseguindo lidar com aquilo.
Seb, ao ver que não responderia mais, resolveu finalmente fazer o convite.
– Nós vamos jantar no Evans, não quer ir?
– Pra que, Sebastian? – Perguntou balançando a cabeça em negação. – Não tenho forças pra isso. Não... Não consigo. – Ela fungou baixo. – Não quero ter que fingir na frente de todo mundo, você mesmo disse que não precisamos conversar. Não tem clima, além de tudo.
Ele sentiu o peito doer. Realmente tinha dito aquilo. Ficou em silêncio, enquanto a esposa o encarava. Era bizarro estar naquela situação com ela, e extremamente doloroso também.
Ao perceber que ele não responderia nada, continuou.
– Não se preocupa comigo. – Finalizou, voltando a subir as escadas.
Seb só se deu conta de que ainda estava parado quando ouviu o barulho da porta do quarto se fechando – que aliás, ele tinha arrumado no mesmo dia mais cedo. Suspirou, passando as mãos pelo cabelo de maneira nervosa e frustrada.
As coisas entre eles iam realmente demorar a voltar ao normal.
Um pouco mais tarde, quando se viu sozinha em casa, decidiu fazer algo.
E agora não sabia há quanto tempo estava parada no meio do corredor.
Os pés travados no chão, o coração batendo rápido e o estômago se revirando.
Pensou e repensou se deveria fazer o que estava pensando.
Se estava pronta para aquilo.
Mas ela precisava. A terapeuta disse: quando se sentir pronta.
Ela não tinha certeza se estava pronta. Não. Mas sabia que precisava. E queria.
Então, finalmente, deu um passo a frente e tocou na maçaneta, girando-a e empurrando a porta para frente em seguida. E tudo a atingiu.
entrou no quarto, olhando ao redor. Não estava do jeito que se lembrava. Todas as coisas que pertenceriam a foram retiradas, e isso não tornava as coisas menos doloridas, pelo contrário... Tornava tudo mais real ainda. Havia só o berço que antes era de , e alguns móveis. Ela andou pelo cômodo, sentindo seu coração se apertar e o ar faltar de seus pulmões.
. A dor era insuportável.
Mas, pior ainda, ficou quando veio a culpa e o arrependimento.
Ela teve a chance de segurar a filha nos braços por um momento, de olhar o rostinho dela, de a amar, mesmo que por alguns segundos.
E não aproveitou.
Um soluço escapou por seus lábios e ela precisou apoiar a mão na parede enquanto chorava, sentindo seu corpo doer com a intensidade do sentimento.
Enquanto chorava, percebeu no canto do quarto uma caixa. Respirou fundo e foi até lá, se abaixando. Se sentou no chão e a abriu, encontrando algumas roupinhas que não tinham sido doadas. Ela abriu um sorriso mínimo, que logo se transformou em um choro alto. Tirou tudo da caixa, se abraçando em um pequeno vestidinho de moranguinho e em um moranguinho de pelúcia. Encostou o corpo na parede, e mal percebeu quando escorregou e se deitou no chão, tão envolvida pelo choro e sofrimento, abraçando as duas lembranças que tinha da filha, encolhendo o corpo.
Chorou, chorou e chorou.
E acabou caindo no sono.
Sebastian entrou com nos braços em casa, a menina já adormecida. Como esperava, encontrou o andar de baixo todo escuro. Subiu as escadas, vendo a última porta do corredor aberta. Estranhou, já que ficava sempre de porta fechada. Estava passando para levar para o quarto dela quando viu a porta do quarto de aberta. Devido a tudo estar escuro, ele quase não enxergou. Então foi rapidamente até o quarto de Lissa e a colocou na cama, a cobrindo e beijando a testa dela antes de voltar até o quarto de , se abaixando onde estava, suspirando alto.
Ela provavelmente tinha caído no sono de tanto chorar, abraçada nas coisinhas da filha.
Não pensou duas vezes em pegar ela no colo e levá-la até o quarto.
não acordou nem quando Sebastian a deitou na cama, a cobrindo em seguida. Ele encarou a esposa adormecida, suspirando tristemente.
Ficou algum tempo em silêncio observando, tentando colocar seus sentimentos em ordem.
Sebastian se perguntou quando tinha sido a última vez que ele beijou os lábios de .
Não se lembrava.
Acabou por apenas se abaixar e depositar um beijo na testa dela, murmurando um “sinto muito”, antes de sair do quarto e encostar a porta.
Duas palavras que significavam muito.
Sinto muito pelas perdas.
Sinto muito pelas dores.
Sinto muito por tudo.
E ele realmente sentia.


estava parada na porta do quarto de , observando o marido ajeitar ela para dormir. Não sabia exatamente o que queria ali, ela só... Bom, ela sabia. Mas não falaria naquele momento, então permaneceu quieta, até que dormisse. Quando Sebastian beijou a testa da filha e se afastou, ele se virou e viu parada ali. Saiu do quarto, encostando a porta, e olhou para a esposa.
– Oi – Ela disse, se arrependendo em seguida. Eles eram marido e mulher, por Deus!
– Oi – Seb respondeu contendo um sorriso. – Como passou o dia hoje? – Ele perguntou, andando um pouco para longe do quarto de , se apoiando na parede do corredor.
– Ahm, eu... – respondeu sem saber bem o que falar, mordendo o lábio. – Sebastian... Eu queria pedir uma coisa. Eu sei que eu não to em posição, eu só... – Ela sentiu os olhos marejarem. Droga. Não podia ser tão fraca. Quer dizer, já estava sendo ao pedir aquilo...
– Pode falar – Ele cruzou os braços, encarando-a com atenção, tentando acalmar seu coração.
Era bizarro estar naquela situação com .
– Eu... Eu... – gaguejou, tentando conter o choro. O dia tinha sido extremamente difícil e ela só precisava de uma coisa. – E-eu... – Seb a encarou preocupado. – Eu preciso de um abraço. – Ela finalmente disse.
Stan arqueou as sobrancelhas, se sentindo péssimo no momento seguinte. Sem pensar duas vezes, ele abriu os braços e envolveu o corpo da ruiva, a puxando para perto, abraçando-a de maneira apertada e confortável.
Uma vez nos braços dele, desabou. As lágrimas saíram de seus olhos no mesmo momento, e ela sabia que estava encharcando a camisa que ele vestia. Sebastian fazia um carinho gostoso nas costas dela, enquanto também se sentia triste. Apesar de ser apenas um abraço, e fazia muito tempo que os dois não faziam isso, era gostoso, mesmo um pouco estranho. E não deveria ser assim. Um abraço, principalmente entre eles, deveria ser simples.
Mas não era.
fungou, tentando tirar de sua mente tudo o que tinha acontecido durante o dia, focando apenas no momento com o marido. A terapia tinha sido extremamente difícil e dolorosa. Ela tinha encontrado . Teve um momento estranho com Evans...
Os dois perderam a noção do tempo, ficando ali no meio do corredor até que parasse de chorar, se acalmando para poder dormir tranquilamente. Eles quebraram o abraço, e estava prestes a agradecer, quando notou algo faltando na mão de Sebastian.
Sentiu seu coração doer, os olhos marejando novamente.
– Obrigada – Ela agradeceu bastante sem jeito, o olhar fixo na mão dele.
Seb sorriu, e então seguiu o olhar de , percebendo o que ela olhava. Suspirou alto, escondendo a mão.
– Eu... ... N...
– Não precisa explicar – A ruiva o cortou, se sentindo extremamente triste. – Eu também tirei, mas... – Ergueu a própria mão, mostrando a sua aliança, sorrindo para Sebastian de maneira triste enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. Limpou-a rapidamente. – Tá tudo bem, sério... Eu não posso cobrar isso.
Sebastian a encarou, sem saber o que falar ou fazer. , ao perceber que ele não falaria nada, se virou, pronta para ir para o seu quarto.
– Eu... Isso não... Não significa que acabou – Seb finalmente quebrou o silêncio, e ela parou na porta, sem olhar para ele, enquanto lágrimas escorriam sem parar por seu rosto. – Eu só... É complicado, muito dif...
– Difícil. Eu sei – Ela virou o rosto para ele, sorrindo melancolicamente. – Tudo bem, Sebastian. Como você disse... As coisas não vão melhorar de uma hora pra outra. Nada vai. – Repetiu as exatas palavras que ele disse e lançou um último olhar triste para ele antes de entrar no quarto e fechar a porta.
Sebastian só percebeu que estava chorando quando um soluço quis sair por sua boca, mas ele conteve. Se virou de frente para a parede e encostou a testa ali, espalmando a mão ao lado da cabeça, balançando-a sem saber o que fazer.
Essa situação entre eles precisava se resolver... Ele não sabia o que faria caso não se resolvesse.
E temia que se perdesse de vez.
Mas Seb não conseguia. Era como se a esposa fosse outra pessoa. Levaria um tempo para que ele voltasse a vê-la como sempre viu. O amor ainda estava ali, ele só precisava encontrar o caminho de volta para o sentimento.
E sabia que demoraria, que teriam momentos muito difíceis, que ambos sofreriam... Mas não estava disposto a desistir. E sabia que também não.
Via isso nos olhos dela, que apesar de estarem carregados de culpa, medo, tristeza e dor, ainda eram os mesmos por quais ele tinha se apaixonado.
Isso não mudaria.
Nunca.


estava sentada no chão da sala com , brincando com as bonecas da menina. Sebastian, ao se aproximar, viu a cena e sorriu, feliz pela filha estar finalmente voltando a aceitar a mãe.
– Fiz panqueca de carne pro jantar – Ele avisou e, enquanto Lissa bateu palminhas animada com a comida, fez uma careta. – E você vai comer.
– Seb, eu... – Ela se levantou, ajeitando a roupa que vestia.
– Não começa, – Sebastian disse sério, cortando-a, a encarando de maneira séria. – Nós já falamos sobre isso.
– Na verdade, você falou e eu... – Ela tentou argumentar, vendo correr para a cozinha.
– Ele a cortou mais uma vez – Eu tô falando sério. Eu não quero brigar.
– Nem eu, Seb, mas eu realmente não to com fome! – argumentou, enquanto ele a encarava incrédulo. – Tudo tá melhorando, sério, isso também vai melhorar...
– As coisas estão melhorando aos poucos. Pra você. Pra mim não. – Seb disse e franziu a sobrancelha. – Vou comer. Se não quiser, problema é seu. Mas pensa nisso pela sua filha. – Foi extremamente direto e deu as costas, seguindo para a cozinha.
ficou paralisada e suspirou alto, sentindo os olhos arderem. Estava errada, e sabia. Não custava nada fazer um esforço para comer, mesmo sem fome, até porque ela precisava do alimento para ficar em pé. Pensando nisso, meio a contragosto, ela foi em direção a cozinha, passando antes no banheiro para lavar as mãos.
Os três comeram em meio a palavrinhas e conversas animadas guiadas por .
O casal, por sua vez, nem se olhou nos olhos direito, os dois bastante envolvidos ainda pela conversa anterior.


andava para lá e para cá dentro de seu quarto, inquieta e indecisa.
Ela não sabia o que fazer.
Quer dizer, ela sabia.
Só não tinha certeza se era uma boa ideia. Desde o jantar, ela e Sebastian não tinham trocado uma palavra.
sabia que ele estava chateado, e com razão. Ela sabia que tinha errado.
Mas não era só por isso que estava na dúvida sobre o que fazer.
Não.
queria conversar. Queria pedir desculpas. Queria se abrir com o marido. Sentia falta dele, e precisava disso...
Suspirou alto, encarando o próprio reflexo no espelho do closet, vendo logo ao lado uma foto dos dois.
E então ela decidiu.
Saiu do quarto, andando apressada pelo corredor até a porta do quarto que ele estava dormindo. Deu duas batidinhas na porta, esperando que ele abrisse, o que não demorou a acontecer.
– Aconteceu alguma coisa? – Seb perguntou ao abrir.
– Não, eu... – mordeu o lábio. – Eu queria conversar.
Sebastian a analisou e suspirou, abrindo a porta completo, dando espaço a ela. entrou sorrindo meio sem jeito e passou a mão pelos cabelos, nervosa. Seb se sentou na cama, esperando pelo momento em que ela começaria a falar.
não sabia por onde começar, então preferiu iniciar pelo mais óbvio e sincero.
– Desculpa. – Ela pediu baixinho, e Seb ergueu o olhar, franzindo o cenho. – Por tudo.
Ele seguiu em silêncio.
– Eu me perdi, e eu... Bom. – Riu baixinho de maneira nervosa. – Perdi meus pais, a ... E acabei me perdendo junto. – Encarou o marido, que ainda a olhava sem reagir de maneira alguma. – Tô indo na terapia, como você sabe... E eu sei que ainda tenho muitos pontos a melhorar, principalmente em relação a comida... Mas eu tô melhorando cada dia mais. – Os olhos dela marejaram. – Seb, eu queria conversar com você, nós não... Não conversamos nenhuma vez. Por favor... Eu preciso do meu marido, preciso poder conversar com ele... Com você.
– Estamos conversando agora – Ele disse simplesmente. – Na verdade, eu tô falando e você tá ouvindo... – Ela argumentou, mas ele permaneceu do mesmo jeito. – Ahm... – mordeu o lábio, engolindo a vontade de chorar. – As coisas com estão melhores, com o Evans... Aos poucos tudo vai se ajeitar, Seb, e eu preciso... – Fez uma pausa, respirando fundo, uma lágrima escorrendo pelo rosto dela. – Você não me olha, não conversa comigo, Seb, você não me toca, eu precisei te pedir um abraço esses dias... É como se fôssemos dois estranhos... Eu preciso... Por favor. Eu preciso de você. – Ela finalizou em súplica.
Seb então reagiu pela primeira vez, abrindo um sorriso meio irônico, que não passou despercebido por .
– O que foi? – Ela quis saber.
– Eu precisei de você, – Ele soltou, se levantando da cama, a encarando com os olhos extremamente marejados de repente. – Eu precisei. Eu também perdi uma filha. Eu também perdi seus pais. E perdi você.
ficou estática no lugar, seu coração doendo de maneira insuportável. A culpa voltando de maneira intensa, forte, e dolorosa.
– Seb, eu tô bem... – Ela disse, dando um passo em direção a ele, mas Seb nem se mexeu.
– Você não tá bem, – Ele a cortou.
– Foi modo de dizer, eu... Eu tô de volta. Eu tô me esforçando, você sabe que sim... – respirou fundo para não começar a chorar.
– Você pode estar, . Mas eu não tô. – Ele disse, algumas lágrimas escorrendo pelo significado daquelas palavras ditas em voz alta pela primeira vez. – Eu fiquei sozinho, enquanto tudo se desfazia. Tudo. – Seb fez uma pausa, gesticulando com as mãos em frente a enquanto a encarava intensamente. – Você se desfez. Esses dois meses foram insuportáveis, me levaram ao meu limite. Eu senti por você coisas que nunca pensei sentir, não pela mulher que eu amo. – Ele contou, e permanecia estática, sem reação. – Eu não tô bem. – Sebastian repetiu pausadamente. – E sinceramente, eu fico feliz por você estar melhor, mas eu não tô. Então não espere que em pouco tempo, , você vai conseguir refazer tudo o que destruiu, seja comigo, com sua filha ou com seus amigos, porque não vai. – Sebastian fungou, virando de costas para ela, indicando que a conversa estava terminada. – Sinto muito. – Finalizou.
ainda estava sem reação, enquanto as lágrimas desciam sem controle por seu rosto. Ela não conseguia parar de chorar. Seu coração doía de maneira insuportável.
Não era possível que ela perderia Sebastian também. Em vida, como os amigos diziam que ela mesma tinha se perdido.
Arriscou dar um passo na direção dele para tocar os ombros do marido, mas ele se encolheu ao sentir a presença dela. fungou baixo, engolindo o choro, e então dei meia volta, parando na porta do quarto. Se encostou no batente, pensando se falava algo enquanto chorava.
– Eu... – Ela começou baixinho, mas balançou a cabeça em negação, desistindo. – Me desculpa. Do fundo do meu coração, me desculpa. Se eu pudesse mudar tudo, Seb, eu mudaria, e...
– Mas não pode – Novamente Sebastian a cortou e sentiu como se tivesse levado um murro. – Você fodeu com tudo, .
abraçou o próprio corpo.
De todas as dores, aquela chegava muito próxima a ser a pior de todas.
Com certeza.
– É, eu... Eu fodi. – Concordou baixinho, esquecendo completamente o discurso que iria fazer.
Então deu as costas e saiu dali, fechando a porta atrás de si e se encostando na parede.
Nem que quisesse conseguiria se defender. Não tinha forças para aquilo. Talvez Sebastian estivesse sendo muito rude. Talvez estivesse sendo radical demais, já que ela tinha entrado em um quadro depressivo profundo. Ou talvez ele simplesmente estivesse cansado e de saco cheio.
E ela não o julgava.
havia sido péssima. E havia machucado a todos, não só a ele.
Mas Sebastian foi, diretamente, o mais atingido.
E ela não tinha ideia de como melhorar aquilo.
Não quando ele estava tão na defensiva, a tratando daquela maneira.
A ruiva apoiou as mãos na parede e foi até o próprio quarto em meio a lágrimas. Só teve tempo de se jogar na cama e se encolher em posição fetal, chorando alto e dolorosamente, sem se importar que Sebastian estivesse ouvindo.
Ela não sabia como melhorar as coisas.
Mas fingiria que estava tudo bem, em relação a tudo. Ela e Sebastian, ela e , ela mesma... Tudo bem, obrigada. Não incomodaria ninguém. Não causaria mais dor. Não se mostraria fraca, não demonstraria sua dor.
Não.
já tinha causado problemas demais. Dor demais. Sofrimento demais.
E agora ela precisava ser forte, e se esforçaria para isso. Nem que precisasse fingir sorrisos, e mais sorrisos.
Talvez essa fosse uma situação que exigisse paciência, persistência e tempo.
Não dizem que tempo é o remédio para tudo? Então.
Ela teria que esperar.
Por mais doloroso que fosse.


– Sebastian, eu... Queria conversar – pediu, na porta da sala, ao mesmo tempo que ele se levantou.
– Agora não, , estamos saindo – Ele pegou a filha no colo e seguiu passando por , indo direto até a porta, enquanto sorria alheia no copo do pai.
– No caminho? – insistiu, saindo de casa em seguida, e a trancando.
– Não to com cabeça pra... isso – Ele respondeu e sentiu uma pontada no peito, começando a andar ao lado dele, com os braços cruzados, sem saber o que fazer.
– Isso? Eu sou isso agora? – Ela perguntou baixinho, sentindo os olhos arderem.
... – Seb a repreendeu. – Você entendeu.
– Eu entendi, claro que entendi. – Balançou a cabeça em confirmação. – Tá tudo tudo mais do que claro pra mim. – Falou a última parte mais baixo.
Seb ignorou a fala dela, e assim que os dois chegaram em frente a casa dos Hems, apertaram a campainha. foi colocada no chão, e segurou a mão da mãe. Já Stan pegou a mão de .
Mas aquilo não a confortava mais.
Ela sabia que o marido só estava mantendo as aparências na frente dos amigos.
Mordeu o lábio internamente, tentando conter as lágrimas que nem tinha percebido que tinham se formado em seus olhos, esperando pela abertura da porta.
E assim que entraram, o teatro começou. Mas, dessa vez, eles não conseguiram manter as aparências, não tão bem quanto as outras vezes.
Sebastian havia sido extremamente grosseiro com durante o jantar – tão grosseiro que a mulher se levantou e foi chorar no banheiro, para disfarçar e não querer demonstrar na frente dos amigos.
Mas foi ineficaz, porque todos perceberam, principalmente , que foi a primeira a levantar e ir atrás de . Deixando tudo de lado, momentaneamente, a amiga consolou a ruiva, e era por isso que no momento elas conversavam como há muito tempo não faziam.
– Eu tenho que aceitar, , porque eu machuquei muito ele e a e se eu não fingir, ele não vai... Ele não vai querer ficar comigo de novo. – Dividiu seu medo, soluçando mais uma vez e escondendo o rosto nas mãos. – Ele nem dorme mais comigo, nem conversa... Eu... Eu choro sozinha toda noite porque não tenho meu marido comigo. – Ela contou, sem nem se dar conta de que estava falando tudo aquilo para , as lágrimas escorrendo enquanto falava. – Desculpa, eu... Desculpa. – Pediu se virando de costas, aquela palavra carregando muito mais peso.
A morena ficou estática ouvindo desabafar, tentando organizar todos os pensamentos antes de falar alguma coisa.
, Sebastian é meu melhor amigo e eu o amo muito, mas... Mas se ele for ficar contigo, não tem que ser por aparência, ou por você fingir algo. – Disse séria virando a amiga, tocando à mão da ruiva pra que ela não escondesse o rosto. – As coisas entre a gente não estão bem, não vou mentir... Mas isso é algo que pode ser resolvido depois. – Encolheu os ombros. – Deixa eu te ajudar agora? Deixa eu cuidar de ti? – segurou a mão da amiga. – Depois a gente se resolve, depois a gente se entende... se você quiser, claro! – Se apressou em acrescentar. – Mas agora eu acho que a gente precisa conversar, acho que você precisa de colo, e se me permite dizer, acho que precisa do meu. E apesar de tudo... Meu colo sempre vai ter lugar pra você.
– Você realmente acha que podemos resolver nos resolver? Eu fiz coisas horríveis, eu... – encarou , balançando a cabeça em negação. – Eu não consigo... Eu não consigo... – Ela fungou, já desviando o olhar. Sentia mais dor do que parecia. – Eu tenho tanta coisa pra falar pra você, tanta desculpa pra pedir, eu não consigo lidar. – Passou as mãos pelos cabelos, embrenhando os dedos na raiz, puxando-os em frustração, olhando para o chão. – Eu preciso de colo sim, mas eu... – Fungou, as lágrimas ainda escorrendo. – Eu não quero que o Sebastian saiba. Por favor, não conta pra ele. Ele não pode saber que eu tô assim. – pediu meio desesperada, segurando as mãos de .
– A morena segurou na mão dela. – Lidamos com nós duas outro dia. Agora precisamos lidar com você e Sebastian. Vem...
As duas foram em silêncio – a não ser pelos soluços de – até o quarto de . Se sentaram na cama lado a lado, um pouco afastadas, as duas ainda sem jeito uma com a outra.
– Olha, eu não vou falar nada pra ele, mesmo achando que você não deve esconder o quanto isso tudo tá te machucando...
– Ele sabe... Eu já falei, eu já tentei... Ele sabe que dói. – disse baixinho, escondendo o rosto nas mãos de novo, chorando mais ainda. Demorou um tempo e então ergueu o olhar para . – Mas eu mereço – ela disse encarando a morena – Eu sei que mereço.
suspirou pesadamente. estava tão convencida de que merecia passar por tudo aquilo que lhe doía ver o estado em que a amiga se encontrava.
... – Suspirou se aproximando. – Além de você não merecer isso, ele não merece a culpa que vai sentir quando perceber que agiu feito um idiota. Ele tem direito de ficar chateado? Claro que sim! Agora esse papel que ele tá fazendo e te obrigando a passar? – Balançou a cabeça em negação. – Isso não.
– Ele... Ele não tá me obrigando a fingir que tô bem, eu que tô fazendo isso. – fungou, limpando o rosto – Eu tô fazendo porque não quero pedir ajuda, pra não aumentar mais ainda a raiva que ele tá sentindo de mim... – Soluçou, voltando a esconder o rosto nas mãos.
– Ele não pode querer que você finja estar bem, brincar com você de "somos um casal", segurar sua mão na nossa frente e depois agir como se você não fosse nada.
... Ele nem consegue olhar nos meus olhos... Acho que tenta fazer isso de fingir pra... eu não sei... E a culpa que ele vai sentir não vai ser nada perto de como eu me sinto. Não só em relação a ele... – Falou baixinho a última frase.
– Seja qual for a circunstância, fingir não é uma boa saída. – Respondeu pensativa. – Só vai machucar mais... não tem jeito, , a única saída é um diálogo sincero... E se vocês não tiverem prontos pra ter, tudo bem, tomem o tempo de vocês, mas sair de mão dada, fingir que estão bem... Isso só vai fazer doer mais, e aposto que já tá bem doloroso.
– Isso é uma escolha dele, por mim eu não fingiria nada. – disse, limpando o rosto, olhando para . – E eu faço o que? A gente dá... A gente dá um tempo? – Mordeu o lábio sentindo seu peito doer com a ideia. – O que você acha?
– Um tempo é algo muito... Perigoso. – Opinou. – Mas talvez seja isso o que vocês precisem para que não se desgastem mais ainda... – Mordeu o lábio preocupada com a possibilidade.
concordou balançando a cabeça, e deitou-a no ombro de , em silêncio. Ia pensar naquilo. Talvez fosse a solução.
– Obrigada por deixar tudo de lado pra me ajudar agora. – Agradeceu, espalmando a mão sobre a perna de em um sinal claro de que queria segurar a mão dela, mas não sabia se podia.
– Não precisa agradecer... Você é... – Segurou a mão dela, para a surpresa de , e encarou as mãos juntas, vendo o contraste das peles, admirando o contato das duas depois de tanto tempo. – Você é minha irmã... E vocês vão ficar bem... E a gente também. – disse baixo.
apertou a mão dela e forçou um sorriso, concordando.
– Eu espero que sim. Porque não sei o que vou fazer se não ficarmos.


Já era tarde da noite. estava na cozinha, encarando o copo de água em suas mãos, sem saber o que fazer.
Quer dizer, ela sabia.
A conversa que teve com não saía de sua cabeça.
Talvez um tempo fosse o melhor a se fazer. Talvez se ela realmente se afastasse de Sebastian e desse a ele o tempo necessário para se recuperar... um espaço.... Talvez até se ela saísse de casa, ou... Meu deus.
A ideia de ser aquela a única solução fazia seu peito doer.
Uma coisa era certa: não dava para continuar do jeito que você estava. estava se esforçando, muito. Ela ia aos jantares, encontrava os amigos, se esforçava, realmente, para parecer bem. E estava mesmo melhorando. As terapias iam bem, ela já conseguia lidar melhor com seus sentimentos e com a dor. Mas Sebastian insistia em ser grosso, em tratá-la de maneira hostil. E o pior era que ele estava fazendo aquilo já de maneira automática. Quase como se não conseguisse a tratar como antes. Ela realmente estava tentando. Mas Sebastian não. suspirou e encarou os comprimidos em sua mão, levando-os a boca, bebendo um longo gole de água para engolir os dois.
– Tá tomando remédio pra quê? – Sebastian perguntou quando entrou na cozinha, e deu um pulo, derrubando a água no chão.
Ela se virou, bebendo mais um gole de água, escondendo as caixinhas de remédio atrás de si.
– Dor de cabeça – Mentiu, forçando um sorriso.
Seb permaneceu irredutível e se aproximou, pegando uma banana para comer.
– Só isso? Tem certeza, ? – Perguntou, encostando o corpo na bancada, enquanto ela o olhava, suspirando.
– Eu... Por que você não me chama de ? – Ela quis saber, mudando de assunto.
– Repetiu, se aproximando dela. – Quando você tá com dor de cabeça, não toma remédio. Fica deitada no escuro até a dor passar. – Ele disse, parando em frente a ela, com o olhar e o tom de voz duros. – Então não mente.
suspirou de novo, desviando o olhar. Pegou as caixinhas e mostrou a ele. Seb franziu o cenho confuso ao ler os nomes dos medicamentos, vendo que os dois eram de tarja preta.
– Quem te passou isso?
– O médico, Seb, eu... – O médico que você nem me disse que tava indo – A cortou, cruzando os braços e bufando um pouco impaciente. – , eu juro que eu to tent...
– Não! Nem vem com isso – Ela se exaltou pela primeira vez e ele arqueou as sobrancelhas surpreso. – Eu tô cansada disso, Sebastian! Não finge que você se importa, ou que se interessa! Ou que tá tentando de alguma maneira – Os olhos dela se encheram de lágrimas. – Hoje foi a gota d'água! – Gesticulou com os braços, bastante cansada. – Você viu o jeito que me tratou hoje, Sebastian? – Sentiu seu coração doer ao se lembrar. – Na frente de todo mundo, dos nossos amigos... – balançou a cabeça em negação, seu olhar machucado. Desviou por alguns segundos antes de voltar a olhar para ele, os olhos brilhando devido ao choro que segurava. – Você mal olha na minha cara, a não ser pra me repreender por algo. – começou a enumerar nos dedos – Não fala comigo, não me abraça, eu preciso pedir pro meu marido me abraçar. Não... – balançou a cabeça enquanto algumas lágrimas desciam por seu rosto – Não me beija. Eu, na verdade, não consigo lembrar da última vez que nos beijamos – Sorriu tristemente, limpando o rosto. – Não dorme no nosso quarto... Não usa nossa aliança – Mostrou a própria mão que continha a sua. – Então me desculpa, Sebastian, se eu achei que você não se importasse ou que não fizesse diferença alguma te contar sobre isso, já que não posso contar com você nem pra me levar na terapia.
Seb ficou estático, seu próprio coração doendo ao ouvir tudo aquilo.
tinha razão, ele realmente estava agindo daquela maneira, mas ele se importava.
É claro que ele se importava.
– É claro que eu me importo – Ele disse finalmente, e balançou a cabeça em negação, descrente.
– Claro que sim, Seb. – Pegou os remédios e cruzou os braços, fungando baixo. – Então você tá fazendo um péssimo trabalho em demonstrar isso.
, eu já te expliquei, eu... É difícil pra mim...
– Sei que é – Ela o cortou, encolhendo os ombros, ainda chorando. Realmente sabia. – Tá tudo bem. Você não consegue me ver como antes. Ok. Pra você eu não sou mais a mesma , não sou mais sua doll, eu sou só... A mulher que você ama e que se transformou em outra, que você sentiu raiva... – Sorriu triste enquanto fungava.
, não é bem assim... – ele tentou falar, os próprios olhos marejados por vê-la daquele jeito.
– Não, Seb – Ela negou, pegando seu copo e indo até a porta da cozinha. – Tudo isso é culpa minha, sei disso também, e preciso lidar com essa situação – Balançou a cabeça devagar. – Mas nem por isso deixa de ser doloroso, e isso torna tudo mais difícil – limpou uma lágrima, forçando um sorriso novamente. – Mas tudo bem. Eu não te julgo, de verdade, eu... Tô melhorando aos poucos. Espero que quando eu melhorar de vez, você consiga me ver como antes, Seb... – Fungou baixinho antes de sorrir novamente para o homem que amava. – E talvez... Talvez tenha razão. – fez uma pausa, pensando mais uma vez que aquela era a última opção, mas talvez fosse a solução para salvar o relacionamento dos dois. – Talvez precisemos de um tempo.
Sebastian a encarou com a boca aberta.
– Um tempo? – Franziu a sobrancelha. – Se-separados, você diz?
A ruiva balançou a cabeça em negação.
– Sebastian, você... Você não vai conseguir olhar pra mim enquanto não lidar com isso que tá sentindo, e eu por perto torna tudo pior... Não quero ter que fingir que estamos bem quando claramente não estamos. – Ela disse tristemente, a decisão a machucando muito, mas sabia que era o melhor. Ele permaneceu sem reação. – Eu fico uns dias nos Evans, dou o espaço que você precisa e talvez... – balançou a cabeça limpando as lágrimas. – Eu realmente acho que isso vai ser bom. Pra gente.
Seb ainda estava em silêncio. Será que aquela era a única solução?
... Vamos conversar antes...
Ela balançou a cabeça mais uma vez, se aproximando dele para tocar o rosto dele. – Seb, eu ja tentei conversar e você não tá pronto pra me ouvir – suspirou enquanto olhava nos olhos dele, tentando manter o contato que ele constantemente quebrava. – Tá tudo bem. Eu entendo, eu virei outra pessoa e você não consegue se recuperar de tudo – Forçou um sorriso. – Fico muito triste por saber que eu causei tudo isso, mas esse é o melhor jeito. – Ela deixou as mãos caírem ao lado de seu corpo. – Amanhã de manhã eu vou pra casa deles e você pode ter o tempo que quiser. Não vou levar a , fica tranquilo, eu venho buscar ela e ver ela todo os dias. Se você quiser, peço pro Evans ou pra buscarem ela pra você não precisar me ver.
Algumas lágrimas escorreram do rosto de Seb, e ele não falou nada. Por mais que doesse, algo dentro de si afirmava que aquela era a melhor decisão.
– Eu vou subir agora. Me desculpa. Por tudo – ficou na ponta dos pés e beijou a bochecha dele, saindo da cozinha em seguida.
Subiu as escadas o mais rápido que pôde, e assim que chegou no quarto, desabou na cama, chorando como há alguns dias não fazia.
Sebastian ficou na cozinha, soltando o copo que segurava com força na bancada, por pouco não o quebrando. Ele só percebeu que estava chorando quando sentiu algumas lágrimas escorrerem.
Mas que porra.
Aquilo havia chego em um nível absurdo.
Doía.
Como doía.
Mas ele sabia que tinha razão.
Ele precisava de um tempo, e não conseguiria colocar a cabeça no lugar com ela em casa, com essa situação e esse clima entre os dois.
Se continuassem assim, ele temia que não conseguissem voltar a ser como eram antes.
Sebastian precisava voltar ao normal com . Estar ali para a esposa, ajudá-la, ser um apoio... E não agir da maneira que estava agindo.
Tratar ela mal na frente dos amigos? Não. Era inaceitável. Aquele não era ele, Seb sabia disso...
Mas, por mais que tentasse, não conseguia. Já estava tratando isso na terapia, mas o avanço estava sendo lento. Não sabia como lidar com o fato de ter sentido tudo aquilo por ela.
Ele também sofreu. Perdeu os sogros. Também perdeu uma filha. E perdeu a esposa, mesmo que momentaneamente.
E era difícil voltar ao normal depois de tudo isso.
Assim como ela tinha a culpa para lidar, ele tinha aquilo.
Mas Seb estava disposto a se esforçar ainda mais, para que esse tempo entre os dois não virasse algo permanente e fosse possível salvar o relacionamento tão bonito que construíram.


terminou de arrumar sua mala entre as lágrimas que desciam sem parar. Colocou várias roupas, seus itens pessoais, alguns sapatos e outras coisas básicas, para passar esse tempo na casa de seu melhor amigo.
Aliás, gostaria de poder ir para a casa de .
Ou de seus pais.
Mas não podia...
Seu coração doeu ao pensar neles.
Respirou fundo e saiu do quarto, decidindo não se despedir de Sebastian, já tinha falado com ele o suficiente na noite anterior, além de que a porta do quarto dele já estava fechada. Passou apenas no quarto de para se despedir da filha, que ainda dormia, e saiu de casa, enquanto lágrimas rolavam por seu rosto.
Por mais triste que aquilo fosse, sabia que Sebastian nunca conseguiria olhar para ela e a tratar normalmente se ela estiver em cada canto da casa.
Era triste chegar àquela conclusão, e extremamente doloroso, mas ela sabia que era necessário e seria a única maneira de tentar retomar o relacionamento ao que era antes.


FIM



Nota da autora: Ok, não me xinguem. Por favor. De onde veio isso, tem muito, muito mais. Isso faz parte de algo MUITO maior, aqui tem só 40 páginas de mais de 400. É um projeto escrito coletivamente e tem uma trama maravilhosa. Sério. Então, se vocês quiserem muito, eu posso pensar em postar em formato de longfic, com muitos mais detalhes, com muitos capítulos e muuuuito, muito mais drama que isso que vocês acabaram de ler.
Ah! A continuação dessa história, o desfecho do casal fazendo as pazes, pode ser lida aqui! É só acessar e ser feliz.
Aguardo o feedback de vocês, coisas lindas!
Ahh, antes que eu me esqueça, 02. Payphone, desse mesmo ficstape, não tem nada a ver com a trama desse casal, tá? Apesar de ter sido inspirado neles, é uma realidade diferente.
E obrigada, sempre! Principalmente a Mariana, minha melhor amiga mais linda do mundo todo. Um beijo, gente!

 

   

Outras fanfics:
Finalizadas:
Above It All [Atores - Finalizadas - Chris Evans]
A Place to Call Home [Restritas - Originais]
Em andamento:
Against All Odds [Atores – Em Andamento]
All We Can Become [Restritas - Atores - Em Andamento]
Dear Roommate [Restritas - Originais - Em Andamento]
Outer Space [Restritas - Originais - Em Andamento]
Shorfics:
Sixth Sense [Originais – Finalizada]
9/11 [Originais – Shortfic]
Ficstapes:
01. On The Loose [Ficstape Niall Horan - Flicker - Restrita]
02. Halo [Ficstape Beyonce - I Am… Sasha Fierce]
02. Payphone [Ficstape Maroon 5 - Overexposed]
02. Revenge [Ficstape Pink - Beautiful Trauma]
02. Tell Me You Love Me [Ficstape Demi Lovato - Tell Me You Love Me]
05. Stereo Soldier [Ficstape Little Mix - DNA - Restrita - Trilogia: Parte III de III]
06. Feel It [Ficstape Magic Mike XXL]
07. Don’t Throw It Away [Ficstape Jonas Brothers - Hapiness Begins]
07. Hot as Ice [Ficstape Britney Spears - The Essential - Restrita - Trilogia: Parte I de III]
08. Love Her [Ficstape Jonas Brothers - Hapiness Begins]
08. Stay [Ficstape Miley Cyrus - Can’t Be Tamed]
10. Almost Is Never Enough [Ficstape Ariana Grande - Yours Truly]
12. Better Left Unsaid [Ficstape Ariana Grande - Yours Truly]
12. Keep Holding On [Ficstape Avril Lavigne - The Best Damn Thing]
12. Only The Strong Survive [Ficstape McFLY - Radio:ACTIVE]
15. Outrageous [Ficstape Britney Spears - The Essential - Restrita - Trilogia: Parte II de III]
Especiais:
After All These Years [Especial 10 anos FFOBS - Equipe]
Belong To You [Especial Spin-Offs - Spin-off de A Place to Call Home]
Endlessly [Especial Dia dos Namorados - Equipe]  
 


comments powered by Disqus