Finalizada em ou Última atualização: 27/05/2021

Uivo

Cahir, século XVII

No frio do outono à meia-noite, a única coisa que se ouvia nas colinas de Cahir, ao sul da Irlanda, era o uivo de lobos ferozes. Correndo em meio às altas árvores, estava uma jovem garota cujo rosto era escondido pelo capuz de sua capa vermelha. Aos olhos inocentes, ela parecia fugir dos predadores que a caçavam, entretanto não era exatamente isso que lhe parecia. 

Os moradores do pequeno vilarejo próximo sabiam que em plena lua cheia era suicídio sair de suas casas. As feras dos bosques estariam atentos para atacar quem quer que seja. Mas não se importava com isso, ela sabia muito bem o que estava fazendo. Atraindo os sons da meia-noite para ela.

— Olha só… — sussurrou ao se colocar ao centro da clareira — Finalmente tenho companhias.

Ela manteve sua atenção nos lobos que a rodeavam, três para ser exata. Ambos achando que sua presa estava encurralada. Entretanto, não imaginavam que era eles a caça da noite. retirou suas adagas de pratas que estavam presas nas costas do corpete e sorriu de canto. Seus próximos movimentos definiriam se a noite seria ganha ou perda para ela.

Ao uivo do alfa para que o ataque se iniciasse. Ela ergueu as adagas e se posicionou em ataque. Sua melhor defesa, seria atacar o inimigo com mais fúria ainda.

--

Doze horas antes…

já estava cansada de ficar balançando naquela carroça. Dimitri sempre dizia que tinha tudo sobre controle, mas no fundo como de costume, ele sempre errava o caminho. Agora, a rota dos irmãos estava com um dia de atraso, o que fez ela bufar de leve.

— Finalmente chegamos a essa cidade esquecida por Deus. — comentou ele, ao parar a carroça.
— Se não fosse sua teimosia, já tínhamos chegado. — a garota desceu da carroça sacudindo a poeira de sua capa vermelha, e retirando o capuz da cabeça logo em seguida — Vamos logo antes que me canse e não te deixe guiar da próxima vez.
— Que mulher mais resmungona. — ele desceu logo atrás fazendo careta para ela, que lhe olhou atravessado — Só porque é a mais velha acha mesmo que pode mandar assim, ?
— Eu tenho certeza, Dimitri. — ela riu alto de sua cara e seguiu em frente.

Um vilarejo pacato. Enfim, poderia ser classificado assim. Cahir não era muito diferente de alguns outros lugares em que os irmãos estiveram realizando suas caçadas. Logo, a sutil lembrança da primeira vez que e seu irmão ficaram cara a cara com uma alcateia, lhe veio à mente, deixando-a um tanto empolgada. Não eram quaisquer criaturas, nem lobos comuns. Eram na verdade, homens à luz do dia que por algum motivo oculto, se transformavam em lobos ferozes e matadores à noite. Bastou alguns passos por entre as construções do lugar, que a atenção das pessoas se voltaram aos dois. Até que alguns homens com foices em suas mãos pararam em sua frente, bloqueando o caminho.

— Forasteiros não são bem vindos aqui. — disse um dos homens erguendo o objeto em sua mão — Ainda mais vocês.

olhou para o lado e avistou na parede de uma casa, dois papéis pendurados com desenhos dos rostos deles, citando seus nomes abaixo e com um aviso de pessoas perigosas. Isso fez com que ela risse de leve, ao voltar seu olhar para Dimitri. Que sorriu de canto.

— Irmão, parece que somos famosos aqui também. — comentou ela.
— É, parece que sim. — ele riu baixo.
— Queremos falar com o responsável pelo lugar. — ela se pronunciou novamente.
— Não falará com ninguém. — disse outro homem magrelo, que a olhava torto e sutilmente com desejo.
— Vai ser mais difícil do que eu pensei. — sussurrou Dimitri.
— O que está acontecendo aqui?! — uma voz rouca soou entre as pessoas.

Aos poucos, uma a uma foram se afastando para dar passagem a um senhor de cabelos brancos. Suas roupas eram visivelmente melhores que as dos outros. Logo ele se colocou diante dos irmãos, olhando-os de baixo para cima, analisando cada detalhe.

— O que os irmãos Grimm fazem em nosso vilarejo? — perguntou o senhor.
— Ouvimos rumores sobre estarem com problemas. — respondeu prontamente.
— Não estou sabendo disso e eu sempre sei o que acontece neste lugar. — retrucou ele com segurança.

Logo um grito de choro e desespero surgiu ao leste. Atraindo a atenção de todos, gerando uma movimentação imediata. O olhar de seguiu para seu irmão que já estava com a sobrancelha arqueada e uma ponta de curiosidade. Ambos seguiram a multidão até o local do grito. A jovem ficou estática ao ver uma pobre senhora ajoelhada ao chão com o corpo sem vida de uma criança em seus braços. Seus gritos de dor pela perda misturados às lágrimas eram chocantes e comoventes. 

Dimitri afastou-se da irmã e seguiu até a senhora, agachando tocou o rosto da criança e depois verificou seu pulso. Pela expressão facial do irmão, confirmou o óbvio, estava mesmo morta. Então ele analisou as marcas no corpo. Ela ao se aproximar deles, observou os olhares curiosos de todos. Com certeza era a deixa para continuar a oferta de serviço.

— Meu filho… — a mulher continuava a se lamentar em lágrimas desesperadas.
— Ao que vejo senhor, seu vilarejo tem sim problemas. — Dimitri se levantou, mantendo a seriedade na face — Dos quais não conseguem lidar.
— Podem aceitar nossa ajuda, ou ver mais uma cena desta ao amanhecer. — completou com um tom ameaçador — Vocês são quem escolhem.
— Muito bem, venham comigo. — disse o velho senhor.

Os irmãos Grimm seguiram o velho homem de nome Hilte, até sua casa. E logo ao chegar, foram recebidos por sua bondosa esposa que se preocupou em lhes oferecer comida e água. Ela tinha um gentil olhar que espontaneamente fez com que se lembrasse da mãe, no tempo em que ainda tinha a inocência em meus olhos. E não era exposta aos perigos do mundo real.

— E acham que podem matar esses monstros? — perguntou o senhor Hilte, seus olhos tinham um misto de medo e preocupação — Confesso que tem sido dias de tristeza e medo.
— Sim, este é o nosso trabalho. — assentiu ela, ao tomar o último gole do vinho que lhe foi servido.
— Essas feras somente se transformam na lua cheia, após isso, voltam a ser pessoas comuns e podem se misturar no meio de gente de bem. Apesar da maioria viver escondida nas montanhas e grutas com suas alcateias. — continuou Dimitri, explicando ao homem — Para sua sorte, hoje é a última noite de lua cheia e estamos aqui para te ajudar.
— Sei que nada nesse mundo vem de graça. — disse o senhor, certo de suas palavras — Quanto querem, para nos ajudar?
— Não queremos que pense que somos mercenários, senhor Hilte, mas há de convir comigo que expomos nossas vidas e corremos riscos, para proteger as vilas por onde passamos. — argumentou com bons fundamentos — Por isso, eu e meu irmãos pedimos alguns pesos em prata.
— Tudo bem. — ele caminhou até um pequeno baú e retirou de dentro um saquitel com moedas — Acho que isto é o suficiente para cobrir os custos.
— Fique tranquilo. — Dimitri pegou o saquitel de sua mão e balançou, ouvindo o barulho das moedas se baterem — Hoje à noite, seus problemas serão resolvidos.

--

Manhã seguinte…

Ao amanhecer os curiosos do vilarejo só tinham uma coisa em mente. Saber o que aconteceu com os irmãos Grimm e se realmente conseguiram resolver o problema que tinham com os lobos ferozes. Saindo de suas casas, aos poucos foram se reunindo em frente à entrada do bosque. Após olharem entre si, adentraram o lugar curiosos.

— Oh. — alguns cochichos foram surgindo entre eles assim que encontraram os irmãos.

estava de pé ao centro da clareira com suas adagas nas mãos e com seu capuz vermelho jogado mais à frente em pedaços. Já Dimitri, estava sentado em uma tora de árvore com um olhar debochado e afiando sua faca em um pedaço de pedra.

— Senhor Hilte, aí estão as feras que aterrorizavam vocês. — disse Dimitri ao homem — Nosso trabalho está feito.
— Mas não são lobos e sim homens. — disse o homem magrelo que os enfrentou no dia anterior.
— Sim. — concordou Dimitri — Esses tipos de lobos voltam a forma humana após serem mortos, são conhecidos em algumas regiões como feras da noite.
— Agora sabem o motivo de nos chamarem se assassinos nos cartazes. — completou a fala do irmão, mantendo o olhar sereno, mesmo diante de sua face recheada de respingos de sangue.

O senhor Hilte os agradeceu e ofereceu sua casa para que se recomporem e partir o mais breve possível. No ensejo ele pediu para que alguns homens cuidassem dos corpos já que não haviam reconhecido nenhum deles. Após os irmãos Grimm ajeitarem suas coisas e lavar seu rosto devidamente, seguiram para a carroça. Mais um vilarejo estava em sua rota e a garota tinha pressa para chegar o mais rápido possível. O trabalho que ambos estavam fazendo a um ano de caçar estes seres especiais, não era simplesmente pela bondade de salvar a vida de inocentes. Mas ocultamente estava mandando um recado de que se aproximavam do alvo deles. 

Seguiram por dias pelas estradas de terra com direção ao norte, quando finalmente chegaram ao condado de Donegal, na vila Gweedore. Aquele sim era o objetivo final dos irmãos Grimm. Dimitri desceu da carroça e continuou puxando o cavalo para que o seguisse, enquanto sua irmã se manteve sentada onde estava, apenas observando os olhares curiosos das pessoas. Algo que eles já estavam mais do que acostumados.

— Me soltem. — disse uma mulher mais a frente, sendo arrastada por dois homens.

Um grupo de pessoas que os seguiam, falavam entre si comentando o que estava acontecendo. Dimitri soltou as rédeas do cavalo e deu o primeiro passo para se aproximar da confusão.

— Não acredito que vai se meter nisso, não temos tempo para distrações. — reclamou sendo totalmente ignorada por ele.

Enquanto ela continuou onde estava, apenas observando seu irmão se aproximar dos homens e socá-los sem o menor esforço. Outros se aproximaram para lutar com Dimitri, o que fez descer da carroça para se aproximar. 

— Ninguém vai tocar nela. — disse Dimitri mantendo seu tom firme, ao arrancar da bainha sua faca de prata.

Em um piscar, um homem gritou e todos se afastaram. que já estava a alguns passos do irmão, logo avistou um homem que aparentava ter a idade deles. Notando que pelos olhares do povo, parecia ser temido ou respeitado naquele lugar.

— O que está havendo aqui? — perguntou o homem.
— Este assassino que chegou em nossa vila, e nos impede de fazer justiça. — disse um homem careca e corcunda.
— Isso… — concordou um barbudo — Primo, esta mulher é acusada de ser um feroz da noite, ela deve morrer na fogueira.
— Não, por favor. — suplicou a mulher, ainda caída ao chão, tentando se manter coberta, pois suas vestes estavam rasgadas.
— Já disse, não deixarei que toquem nela. — Dimitri se manteve firme.

Este era um lado dele, que admirava em alguns momentos e se irritava em outros. Quando o irmão se via com a razão, ninguém o fazia mudar de ideia.

— Não precisamos dos irmãos Grimm em nossa vila. — disse o homem misterioso, mantendo seu olhar fixo em desde o início.
— Não se preocupe senhor, só estamos de passagem. — manteve o confronto de olhares.

Ela retirou sua outra capa vermelha que estava no corpo, cobriu a moça e a ajudou a se levantar. 

— Se acham mesmo que ela é… Do que chamam mesmo? Feroz da noite? — ela riu com deboche — O nome correto é fera da noite e eles só se transformam em noites de lua cheia
— O que sabem sobre isso? — indagou o homem misterioso.
— Somos caçadores e não assassinos. — respondeu ela — Se querem tanto provar que esta mulher é um… Feroz... Daqui dois dias haverá lua cheia, amarrem-na no centro da vila e deixem que se transforme, se acontecer nós a matamos.

A mulher engoliu seco, se encolhendo atrás de .

— Mas eu lhes garanto que ela não é um feroz na noite. — completou com um tom irônico.
— Como pode afirmar que ela não é? — retrucou o homem, interessado em suas palavras.
— Acredite, eu reconheço um quando vejo, mesmo quando está em sua forma humana. — intensificou mais seu olhar nele, convicta de suas palavras.

As pessoas começaram a cochichar entre si. Então o homem que parecia ser o líder do lugar, refletiu por alguns instantes sobre a proposta dela.

— Muito bem, esta mulher ficará presa sob a vigilância da guarda de Gweedore, e quando chegar à lua cheia, tiramos a prova, então se ela se transforma, eu mesmo a matarei. — anunciou ele, devolvendo a intensidade de seu olhar para ela.
— Se não se importa, mas gostaríamos de desfrutar da estadia em sua vila até lá. — disse Dimitri, num tom de aviso e não pedido de permissão.
— Fiquem à vontade, podem se hospedar na estalagem. — ele deu as costas e se retirou sendo seguido pelo homem barbudo que lhe questionava inconformado pela decisão.
— Obrigado meu senhor. — disse a mulher ao olhar para o homem que a salvou — Pode me chamar de Rose.
— Não me agradeça ainda, apenas não se transforme na lua cheia. — disse Dimitri com frieza e asperidade na voz.
— Ela não vai. — assegurou a irmã dele — Não é um deles, só não sei o motivo de terem te pegado para ovelha negra.
— O primo do nosso líder, aquele barbudo que me acusou, Ciaran, tentou me forçar a ser sua mulher, eu o reneguei e agora começou a espalhar que sou uma feroz da noite. — explicou ela, se envolvendo mais no capuz vermelho.
— Agora está explicado. — disse Dimitri, num tom baixo e rindo com sarcasmo — Belo jeito de se vingar após ser rejeitado.
— E quem é ele? O homem que dá as ordens? — perguntou ao olhar a mulher, percebendo a aproximação de alguns homens vestidos de cinza.

Era todos componentes da guarda que ficaria responsável por vigiar a mulher.

. — respondeu Rose — Ele é o nosso líder atual depois que nossa vila sofreu quase um massacre dos ferozes da noite. Foi há dois invernos atrás, em que ele conseguiu matar os lobos e manter nossa segurança.
— Rose. — um guarda se aproximou deles — Preciso levá-la.
— Podemos ir junto? — perguntou .

O homem tomou impulso para recusar, mas pensou melhor e assentiu. Pelo caminho Rose continuou contando sobre como defendeu todos os ataques constantes, e formou a guarda de Gweedore para garantir a segurança de todos. A breve aula de história deixou os irmãos impressionados com tamanha eficiência do homem de olhar intenso e intimidador.

— Eu não gostei dele. — afirmou Dimitri, assim que se retiraram da prisão da guarda.
— Ele tem algo no olhar que me intriga. — comentou , voltando o olhar para o céu já mostrando os traços do final da tarde.
— Não vai se apaixonar. — alertou ele.
— Ha… Ha… Ha… Não sou eu que conquistei uma fã. — retrucou a irmã — Os olhos dela brilharam tanto por você, que só faltou se agarrar no seu pescoço e pedi-lo em casamento.
— Deixe de piadas. — ele se manteve sério — Temos que voltar a carroça, a deixamos sozinha.
— Droga. — disse ela se irritando — Viu o que sua imprudência nos custa.
— Sua coisas já foram levadas a estalagem. — a voz de soou atrás deles, deixando a garota em estado de alerta.

Os irmãos se viraram para ele, mantendo a seriedade e frieza no olhar. olhou em sua volta para as casas e depois para eles, permanecendo em . Parecia escolher as próximas palavras.

— Espero que esteja tudo exatamente como deixamos. — disse Dimitri, não contendo o tom de ameaça.
— Não somos ladrões se é isso que pensam. — assegurou o homem — Ao contrário de ambos, que não possuem uma fama muito boa.
— Se já matou realmente um feroz da noite, sabe que não somos de fato assassinos como espalharam por aí. — retrucou .
— O que realmente fazem em Gweedore? — perguntou ele, mantendo o olhar mais sereno agora.
— O que vamos ganhar se contarmos? — retrucou , como uma provocação.

Seu irmão a olhou discretamente. Estranhando um pouco o olhar fixo da irmã para o homem, e do homem para ela.

— Minha ajuda talvez, se este lugar estiver em risco novamente, acho que tenho o direito em saber. — argumentou ele.
— Estou curiosa para saber como conseguiu lidar com uma alcateia feroz dois anos atrás. — cruzou os braços.

Logo a brisa do vento passou por ela, fazendo com que o capuz vermelho que ela pegara de volta, deslizasse por seus cabelos deixando seu rosto mais aparente. Os olhos de se fixaram ainda mais nela.

— Estamos à procura de uma alcateia em específico. — disse Dimitri, cortando todo o clima de tensão que havia se formado — Nós os rastreamos por um longo tempo até chegar aqui.
— Não houve nenhum rumor pela região de ataques de lobos desde a primavera. — relatou o homem — Estamos no final do outono agora.
— Nunca é demais manter a vigilância. — aconselhou Dimitri.
— Aconselho que descansem, devem ter feito uma cansativa viagem até chegar aqui. — apontou para a direção da estalagem e se virou para ir embora.
— Eu realmente não gosto dele. — sussurrou Dimitri, novamente.

Os dias passaram e na noite de lua cheia, todo o povo de Gweedore se reuniu ao centro da vila, próximo a igreja para conferir se realmente Rose iria se transformar diante deles. Um dos homens da guarda amarrou o tornozelo direito da mulher e seus pulsos, no gradil de ferro da mureta da igreja. Todos com suas tochas acesas, permaneceram por um longo tempo no local, esperando pelo momento do ápice da lua.

— Você tem certeza que ela não é um lobo? — perguntou Dimitri, num tom baixo para sua irmã, que estava ao seu lado, virando o corpo e ficando de frente para ela.
— Tenho. — moveu somente o rosto e o olhou — Eu senti que havia um, mas não é ela.
— Então temos um lobisomem no meio do povo que vai se transformar a qualquer minuto. — disse o irmão, analisando os fatos atuais.
— Sim. — assentiu ela.

Foi o soltar do suspiro de Dimitri que as poucas nuvens se moveram, dando espaço para o brilho da lua. Rose olhou para o céu admirando um pouco sua beleza e voltou o olhar para seu acusador, Ciaran. Em um piscar de olhos, um homem começou a passar mal entre as pessoas. Inicialmente tossindo muito e se contorcendo um pouco, até que seus gritos de dor ficaram mais nítidos. Em poucos segundos seu corpo se transformou no de um lobo feroz, que ao primeiro uivo, instalou o caos.

— Dimitri, tire ela daqui. — disse , ao retirar de seu corpete as adagas de prata.

Pessoas correndo em todas as direções possíveis com o lobo avançando sobre algumas delas, conseguindo atacar as mais vulneráveis. Os guardas que estavam no lugar se agruparam para auxiliar as pessoas a se retirarem, mas o caos fora tão inesperado que eles foram praticamente arrastados por algumas pessoas em pânico. Assim que Dimitri soltou Rose e a mesma se machucou de leve, ao passar o braço da lâmina da faca dele por acidente, o olhar do lobo se voltou para ela, marcando-a como alvo.

— Ei. — disse ao retirar de sua bainha uma espada de prata — Eu estou aqui.

O lobo o ignorou e voltou-se para a direção de Rose. Dimitri pegou a mulher pela mão e a puxou com ele para correrem. Dando um pulo alto no telhado de uma das casas, o lobo começou a sua caçada atrás de seu alvo da noite.

— Ele já tem o seu alvo. — gritou partindo na direção do seu irmão, encaixando suas adagas no corpete novamente.

tomou impulso e a seguiu sem entender o que estava acontecendo. Mas impressionado pela boa forma física dela. Mais a frente Dimitri estava entrando pelos labirintos que as casas formavam na imensa vila. Sem saber a direção certa a seguir e nenhum plano de escape em sua mente. Foi quando o uivo forte do lobo soou atrás deles, fazendo Rose se assustar e tropeçar em algo que a fez cair.

— Ai! — gritou ela, sentindo pontadas de dores no tornozelo.
— Você consegue se levantar? — perguntou Dimitri, deixando que ela se apoiasse nele.

Ela assentiu inutilmente, pois ao tentar, falhou sentindo seu corpo ir ao chão novamente. Dimitri bufou já ficando nervoso pela situação de azar e a pegou no colo. Olhando para os lados decidiu seguir pela esquerda e entrou por mais alguns becos. Neste momento, o lobo saltou do telhado em que estava os rastreando, exatamente no caminho que o homem havia escolhido.

Outro uivo forte do lobo soou, como uma ordem para que ele soltasse sua presa. Então o animal bateu uma das patas dianteiras no solo.

— O que ele está fazendo? — sussurrou Rose, sentindo o pavor tomar conta dela.
— Avisando para eu te soltar e me afastar, você é a presa dele. — respondeu Dimitri, ao sentir a aproximação de uma terceira pessoa.

Ele sorriu de canto e virando-se tomou impulso para correr com ela em seu colo. O lobo fez o mesmo e seguiu em direção de ambos para atacá-los. Então passou pelo seu irmão retirando o capuz vermelho e jogando-o sobre o lobo, inibindo sua visão. O animal derrapou ao trombar com a parede de uma das casas e ao se virar para finalizar o serviço, foi pega de surpresa com a ação de . O líder sagaz passou sua espada pelo animal, assim que o mesmo rasgou o capuz vermelho e se colocou de pé no impulso.

Em meio ao calor do momento, a lâmina da espada de passou de raspão, discretamente pela cintura de . Ela não esboçou nenhuma reação no momento para não chamar a atenção do homem. Mas internamente sentiu a ardência da dor.

— Lá se vai outro capuz. — sussurrou , ao retomar seu fôlego voltando o olhar para o tecido rasgado no chão, agindo com naturalidade.
— Acabou. — disse ao olhar para o corpo do animal que já se transformava novamente em homem.
— Não, é só o começo. — disse Dimitri — Se ele conseguiu se misturar às pessoas daqui, outros da sua espécie também conseguirão.
— Espécie?! — os olhos mais surpreso ainda, por saberem tanto sobre aquele assunto.
— O que seria isso? — Rose ainda no colo de Dimitri, o olhou confusa.
— Existem três classes de ferozes da noite. — iniciou sua explicação — Os betas que é o tipo deste homem, quando se transformam destroem tudo que veem pela frente sem uma presa específica, a única forma de encontrar é através do sangue. O seu corte o fez a demarcar como uma presa. — continuou ela, segurando suas expressões de dor — Os ômegas são mais racionais, após se transformarem eles atacam as presas mais isoladas e com baixa imobilidade, ou seja, crianças e velhos, além de não dependerem do sangue para escolher. E por último…
— Os alphas. — interrompeu , mostrando também saber o assunto.
— Sim, os alphas são o topo da cadeia alimentar, podem se transformar quando quiser e não dependem da lua cheia para isso. — concluiu — São muito bons em se camuflar entre as pessoas normais.

Os irmãos ficaram em silêncio por um momento. Até que Dimitri percebeu algo estranho com a irmã. Agora que estava tudo revelado e Rose era inocente, ela pediu aos irmãos para ficar com eles, por medo de novas represálias de Ciaran. Enquanto tinha a responsabilidade e o foco de restabelecer a ordem na vila, que teve parte destruída por um incêndio causado pelas tochas no meio do caos. Os três seguiram para a estalagem.

— Essa dor de cabeça é sua, se vira e resolva sozinho. — disse , ao olhar para a direção do banheiro onde Rose se banhava.
— Ah! — Dimitri jogou seu corpo em uma das camas e fechou os olhos — Não acredito no que aconteceu essa noite, quase fomos pegos.
— Pelo menos descobrimos que nossa pista era falsa e o lobo não era um alpha. — comentou , então sentiu uma pontada — Ai.

Somente naquele momento ela percebeu que não dava mais para segurar. Ao retirar o corpete do corpo, olhou para a mancha roxa que se formou em volta do pequeno corte. Seu irmão ergueu o corpo, ao percebê-la gemer de dor.

— O que… Oh não. — Dimitri olhou para a cintura da irmã com preocupação.
— Teremos que adiar a nossa partida até isso ficar melhor. — disse a irmã, prendendo outro grito de dor.
— AH! — Rose tapou sua boca com as mãos ao entrar no quarto e dar de cara com a cena.
— Nem uma palavra sobre isso. — Dimitri lançou um olhar ameaçador para a mulher — Ou vai desejar que eu não tivesse lhe salvado, por duas vezes.

Ela assentiu de imediato e se aproximando mais de .

— O que aconteceu?! — perguntou ela.
— Parece que me machuquei e vamos ter que ficar mais alguns dias. — explicou de forma direta, mas omitindo partes primordiais.
— Eu posso fazer algo para ajudar? — Rose se ofereceu — Vocês me salvaram.
— Eu a defendi por saber que não era você. — disse a não lhe dando muita importância inicialmente — Mas você pode ser útil, não vou poder sair daqui e vou precisar de algumas ervas. Conhece disso?
— Minha mãe tinha alguns conhecimentos e me ensinou um pouco. — contou a mulher.
— Viu, não foi tão ruim salvá-la. — alegou o Dimitri, com um olhar provocativo para a irmã.

Claro que para ele não seria. Pois no decorrer daquela mesma madrugada, enquanto se contorcia de dor em seu quarto. Foi obrigada a ouvir os sussurros ávidos de prazer que vinha do quarto ao lado, sendo soados por seu irmão e a mulher, que tanto queria demonstrar sua gratidão.

— Droga. — sussurrou , ao erguer seu corpo e umedecer novamente o pano que utilizava para pressionar sobre o corte.

Ela já estava se sentindo cansada por ter que aguentar a dor em silêncio. Ao tocar sua testa, percebeu estar meio febril e jogando o corpo para trás novamente, desmaiou. Na manhã seguinte, como pedido, Rose se encarregou de encontrar as ervas que minuciosamente detalhou para ela. Enquanto isso, Dimitri recebia os olhares de repreensão da irmã para ele.

— Você sabe o que isso vai nos custar?! — disse ela, o lembrando da história dos seus pais — Não deveria ter se envolvido fisicamente com ela.
— Pare de ser tão pessimista, não vai acontecer nada demais. — disse ele, ao se afastar da janela e puxar uma cadeira para sentar.
— Ah, não?! E você sabe como surgem os bebês? — ela manteve o olhar de fuzilamento para ele — Imagina uma prole sua com ela.
— Esta a me repreender, mas olhe para si mesma. — retrucou ele — A um passo do desejo de colocar o liderzinho contra parede. 
— Como você é nojento e asqueroso. — ela fez uma careta, voltando o olhar para seu ferimento — Eu não estou atraída por ele, sua mente que é poluída demais para entender as coisas.
— Jura?! — ele deixou o deboche transparecer no olhar — Qual a nossa idade mesmo? Você já é uma mulher formada com anseios, irmã.
— Eu disse que sinto algo intrigante naquele . — corrigiu ela as palavras do irmão — E não que estava atraída… Ele tem um olhar diferente, pela primeira vez me senti intimidada por alguém.
— Isso você não me contou. — Dimitri se ajeitou na cadeira avaliando o que ela disse.
— Se você ligasse menos para seus instintos primitivos de homem predador, teria reparado nisso. — ela limpou seu ferimento novamente e tapou com o pano umedecido — Será que ela vai demorar? Não aguento mais essa dor.
— Não sei, mas espero que tenha conseguido tudo o que pediu neste fim de mundo. — Dimitri voltou seu olhar para a janela — Já percorremos por todo esse país e só encontramos ômegas e betas, estou começando a ficar cansado, não acha que é hora de nos fixarmos em algum lugar?
— O que? Quer desistir? — ela o olhou — Além do mais, todas as vilas parecem saber sobre nós e nos querer longe.
— Vamos montar a nossa. — sugeriu ele, de forma despreocupada — Tem sido perca de tempo procurarmos pelos alphas.
— Ah sim, uma vila de duas pessoas. — ela soltou um suspiro fraco, pela ideia do irmão.
— Hum… Na verdade três. — corrigiu ele.
— Não! — disse ela.
— Desculpe irmã, mas não vou deixar Rose para trás. — anunciou ele, mesmo sabendo ser perigoso demais para a mulher — Ela virá conosco.
— Você tem ideia do que está dizendo? — indagou ela.
— Nunca estive tão certo de minhas palavras. — garantiu ele.

via aquilo como mais uma dor de cabeça. 

Assim que Rose chegou com as ervas, Dimitri tomou a frente e preparou as mistura para colocar no ferimento da irmã. sentiu um alívio imediato assim que as ervas tocaram sua pele, então ele continuou passando e enfaixou a cintura dela. Mais dias se passaram e curiosamente Rose com sua persuasão feminina, convenceu Dimitri que era uma boa ideia viverem em Gweedore. A irmã não conseguia ver um lado positivo naquilo, mas estava fraca demais para discutir com o casal.

No último dia do outono ao pôr-do-sol, Rose levou Dimitri para conhecer um lago próximo a vila. O irmão desejava conhecer todo o perímetro do lugar para possivelmente traçar pontos estratégicos de vigilância futuramente. continuou em seu quarto na estalagem, se recuperando. Foi quando uma visita inesperada a pegou desprevenida.

?! — disse ela, ao abrir a porta do quarto se assustar-se ao vê-lo.
. — sua voz estava seca e o olhar frio — Posso entrar?!

Ela não conseguiu pensar em um argumento rápido para enxotá-lo, pois o homem fora entrando sem esperar a permissão. O que a deixou estática.

— A que se deve a visita? — perguntou ela fechando a porta — Ainda devemos alguma coisa?
— Para ser honesto, sim. — ele a olhou.
— E o que seria?! — perguntou ela, puxando mais a camisa do irmão que estava em seu corpo, escondendo a faixa em sua cintura.
— Há alguns dias atrás, curiosamente, eu vi sua protegida procurar em toda vila por algumas ervas específicas. — comentou ele a contar sua história — Então eu segui seus passos para saber o que era e fiquei intrigado…
— Com o que?! — ela colocou o braço na frente de sua cintura, disfarçando uma leve sensação de dor, pois não deveria estar de pé.
— Existem alguns tipos de ervas que servem como cicatrizantes para ferozes da noite em ferimentos causados por lâminas de prata. — ele começou a dar passos se aproximando dela.
— E?! — tentou se manter firme, mas seu corpo foi se movendo para trás involuntariamente.
— E são as mesmas ervas que Rose adquiriu… — disse em sua conclusão inicial.

Ele continuou avançando mais. E ela recuando, até que sentiu suas costas tocarem a parede. engoliu seco, com seus olhos fixos nos dele, sentindo toda aquela intensidade entre ambos voltar ainda mais forte que da primeira vez.

— Então comecei a pensar o motivo para isso, até me lembrar do momento em que matei aquela fera e você estava próxima o suficiente para ser atingida por minha lâmina, que é de prata. — tomando um rápido impulso, tocou na cintura dela apertando de leve, bem na região do ferimento — Seria aqui que foi atingida?! — e sussurrando em seu ouvido — Você é uma alpha, não é?!

fechou os olhos, sentindo a dor causada pelo toque dele. estava certo em seu palpite e passara todos aqueles dias juntando as peças daquele misterioso quebra cabeças chamado, irmãos Grimm. Como poderia somente duas pessoas conseguirem matar tantos ferozes na noite, sem nenhum tipo de reforço. Por dentro a garota mantinha seu alto controle, já entendendo o motivo dela ter se sentido intrigada por ele. 

E não era somente pelo seu olhar dele, que a intimidou.

— Sim. — ela abriu seus olhos, sentindo uma sutil mudança nos mesmo, deixando sua visão mais limpa e avulsada — Assim como você também é um alpha.

Somente um lobo conseguia sentir e detectar outro. 

Por isso que tinha certeza sobre Rose. Por isso ela não queria seu irmão envolvido com a estranha que salvaram. Exatamente como ela, Dimitri também era um alpha. Algo herdado por eles através do sangue do pai que descendia de uma linhagem pura de alphas. 

E ali estava ela, frente a frente com outro de sua mesma espécie. A explicação para tudo que ela sentia ao estar próxima a ele. 

Estando intrigada ou não inicialmente, toda a intensidade que emanava entre eles era resultado de uma forte atração que proporcionalmente os envolvia. 

A sombra escura desperta em mim
Fogos de artifício explodem em meus olhos
Todo mundo se afasta do seu lado
Porque eu estou ficando um pouco mais feroz.
- Growl / EXO

Alpha: Me jogue aos lobos e eu voltarei liderando a alcateia.” - by: Pâms




FIM?!



Nota da autora:
Que venha a meia-noite, nessa junção de João e Marie com Chapeuzinho Vermelho. Espero que tenham gostado!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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SAGA Continuum
| Bellorum | Cold Night | Continuum | Darko | Dominos | Fallin | Invisible Touch | Sollary Hospital |
- Spin-offs em Ficstapes
| 03. Roulette | 04. No Digas Nada | 06. Who Waits for Love | 14. Black Heart |
ESPECIAL PRINCESAS
| Midnight Sounds | New Generation | Nightwish | Ohana | Red Light | The Beast | Sollarium | The Sollarium: Aurora | The Sollarium: Branca de Neve | The Sollarium: Cinderela | The Sollarium: Jasmine | The Sollarium: Mulan | The Sollarium: Rapunzel | The Sollarium: Tiana | The Sollarium: Tinker Bel |
PRINCIPAIS
| Amor é você | Beauty and the Beast | Beauty and the Beast II | Coffee House | Crazy Angel | Destiny's | Finally Th | First Sensibility | Genie | Gotham | Hillsong Girl | I Need You... Girl | Lady Lewis | Love Shot | Midnight Blue | Moonlight | My Little Thief | Noona Is So Pretty (Replay) | Photobook | Princess of GOD | School 2018 | School 2019 | School 2020 | School 2021 | Smooth Criminal |
*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!

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