Finalizada em ou Última atualização: 03/07/2021

Atraídos?

Tudo começou quando Lola me convenceu a ir na festa da empresa. Eu já tinha toda a minha programação de sábado à noite pronta. Pipoca, chocolate quente e uma maratona de Brooklyn 99, afinal, nada como um seriado de comédia para espantar o mau-humor que meu trabalho me causava.

E a causa? Tinha nome, sobrenome e andar definido. 

Hilt era o mulherengo mais cobiçado daquela empresa e a cada dia parecia ter um encontro com uma funcionária diferente. Não conseguia entender o que elas viam nele. Ok, eu admito que aqueles olhar profundo era atraente, combinado ao sorriso safado e sua ousadia em piscar com toda malícia que possuía, mas fora a parte física que causava inveja dos outros homens… Era totalmente inútil tentar encontrar alguma compatibilidade entre nós que pudesse me despertar interesse. 

Outro fator, sua obsessão por ser o melhor, seu lado competitivo era irritante, pois despertava o meu lado competitivo. Claro que quem lucrava com nossa disputa de melhores ideias nas reuniões gerais era o senhor Finn, dono da empresa que comandava uma rede de lojas de departamentos do país. Não era fácil ser a diretora do setor comercial e ter que trabalhar em conjunto com o diretor do setor de marketing para criar campanhas que aumentassem as vendas. Não tinha sido fácil para eu conquistar o cargo que agora ocupava, e claro que meu foco no trabalho sem diversão contribuiu para minha imagem na empresa ser definida como uma mulher fria e sozinha.

Enfim… Voltando ao meu fatídico sábado, Lola me arrastou para a tal festa de celebração ao cumprimento da meta de vendas das lojas franqueadas. Assim que chegamos no terraço do prédio, me admirei com a decoração planejada pela Rose do recursos humanos e seu grupinho de amigas, elas sempre se encarregavam de organizar as festas e comemorações da empresa. Não deu nem dois minutos e minha amiga já me deixou de lado e se enroscou com o Will do T.I, ambos estavam em uma espécie de amizade colorida com muito glitter e alguns amassos pelos corredores da empresa.

— Olha só quem finalmente apareceu em uma festa da empresa. — a voz de soou atrás de mim, me fazendo bufar de leve — Miller.
— Eu só vim pela comida. — continuei voltada para a mesa de petiscos e pegando um joguei na boca.
— Hum… Pelo visto alguém aqui anda lendo A Seleção. — continuou ele, em suas insinuações rotineiras.

Parecia mesmo que seu esporte favorito era me irritar e tentar puxar minha ficha criminal completa.

— Eu não leio esse tipo de livro, então pare de insinuar essas coisas. — retruquei mantendo a atenção na mesa, escolhendo minha próxima vítima — Em momento algum usei America Singer de referência.
— Se sabe até o sobrenome da personagem é porque a conhece. — ele segurou o riso com o tom de deboche.

Voltei meu olhar atravessado para ele, que manteve seu rosto suave. Meu sangue ferveu, mas tentei ignorar sua presença e me movimentei para pegar um pratinho e enchê-lo de petiscos.

— Você sabe que me ignorar não é a solução não é? — continuou ele.
— O que você quer, ?! — coloquei a mão direita na cintura com seriedade no olhar — Já não basta todos os dias me infernizar, porque não esquece que estou aqui e vai procurar outra companhia, tenho certeza que metade dessa festa quer finalizar a noite na sua cama.

Ele riu baixo e olhou em volta. Acompanhei seu olhar e vi que a atenção de todos estava em nós dois de forma disfarçada. Não era novidade suas investidas em mim, afinal, eu era a única “solteira” naquela empresa que não tinha se rendido ao seu charme e acordado em sua cama. Claro que a emoção de um desafio o deixava ainda mais empolgado a não desistir de me dobrar. O pior de tudo, é que Lola havia me contado sobre boatos de uma aposta rolando a nosso respeito, e até o senhor Finn resolveu participar. Foi a gota que faltava para a minha irritação.

— Hum… — ele voltou o olhar para mim e sorriu de canto, presunçoso e atraente — Acreditaria se eu dissesse que é a única que eu quero nesta noite?!
— Esse sorriso não vai funcionar. — me virei de costas e dei o primeiro passo para me afastar dele.

Entretanto, fui barrada por sua mão que segurou a minha direita.

, não estou pedindo para se casar comigo, só para me dar uma chance. — insistiu ele — Que tal esquecermos nossa rivalidade profissional e sermos amigos.
, nós dois sabemos que a única coisa que você quer é me levar para sua casa, porque sou a única que não conseguiu conquistar. — mantive o olhar sério para ele — E pode apostar, ou melhor, já tem uma aposta rolando não é, quero entrar nela e ter a certeza que vou ganhar o dinheiro de todos os babacas que estão participando, porque não há nenhuma chance sequer de você tocar em mim.

Me virei e me afastei dele. Cheia de revolta e irritação. Me sentei numa mesa vazia e próxima ao guarda-corpo que dava vista para a rua e comecei a degustar tudo que tinha colocado no prato. Tentei ignorar os olhares fixos de para mim enquanto ele mantinha uma conversa animada com o senhor Finn e o James do financeiro.

— Posso me sentar aqui?! — perguntou John, nosso mais antigo funcionário e coordenador das lojas regionais do estado de Illinois.
— Claro John, você pode. — disse sorrindo de leve para ele.

Uma pessoa extremamente carismática que me apoiou e ajudou bastante desde o primeiro dia em que comecei a trabalhar na N Storie. Me dando dicas de como me portar profissionalmente e torcendo pelo meu sucesso nas inúmeras tentativas de promoção.

— Chicago está bem fria hoje não acha? — perguntou ele, sentando na cadeira de frente para mim.
— Um pouco, mas o céu está lindo. — olhei para o alto, contemplando as estrelas por alguns instantes — Mas nunca tinha visto esse azulado no céu.
— Sim… Não é tão comum nesta parte do país, mas minha avó sempre me dizia que quando o céu ficava azul à noite, é porque alguma coisa mágica aconteceria. — contou ele, com um tom saudoso.
— Sua avó viveu no mesmo mundo que a gente? — brinquei de leve — Porque nos dias de hoje, a única mágica que vejo acontecer é meu salário se multiplicar para pagar as contas.

Nós começamos a rir daquilo.

— Não viva tão presa a realidade triste deste mundo, minha querida, se permita ver as coisas com o olhar diferente. — ele voltou sua atenção para o lado — Não acha que ele possa estar sendo sincero com você?
— Ai John, eu te amo como um pai, por favor, não comece, daqui a pouco vou achar que até você está na aposta do ano. — cruzei os braços com o olhar desconfiado.
— Ah por favor, como pode pensar isso de mim, você me conhece muito bem para saber que não gosto dessas brincadeiras sem graça. — argumentou ele, com o olhar ofendido.
— Me desculpa. — abaixei o olhar me sentindo culpada por insinuar aquilo de alguém que tanto me apoiou.
— Sabe, eu andei conversando com o rapaz que tanto te olha. — continuou John com seu tom suave de pai compreensivo — Acho que deveria conhecer melhor o homem que despreza tanto…
— Porque está sendo tão bonzinho com ele? — perguntei curiosa.
— Porque consigo ver nos seus olhos que está interessada, mas não vai dar o braço a torcer pelo histórico do garoto. — ele riu um pouco de suas palavras.
— Você me conhece, não é?! — eu ri junto — Confesso que estou atraída sim, mas não vou ser mais uma para a lista de conquistas.
— Não quer dizer que não possam ser amigos. — sugeriu John, com um olhar analítico para mim.

Eu voltei meu olhar para a direção de , pensativa. Conforme a festa ia rolando, observei as pessoas se divertindo, bebendo e dançando na pista improvisada pela Lola. Eu já estava mais do que entediada, uma saída estratégica pela escada de incêndio, desci os degraus até chegar no estacionamento. Ao chegar em frente ao meu carro, me lembrei vagamente que tinha voltado para casa no dia anterior de Uber por ter quebrado as chaves na ignição quando tentei dar a partida. Eu tinha chegado na festa de táxi com a Lola.

— Problemas com o carro? — a voz de soou atrás de mim — Ou só está checando a maquiagem no retrovisor.

Soltei um suspiro fraco pela sua brincadeira.

— Cansou da festa? — voltei o olhar para ele.
— Digamos que a vista do terraço não é tão bonita sem você. — ele sorriu de canto.
— Ata. — retirei o celular da bolsa e abri o aplicativo.
— Posso te dar uma carona se quiser. — ofereceu ele, mantendo a postura relaxada com as mãos nos bolsos da calça.
— Não obrigada. — me virei de costas para ele, com a atenção no aparelho em minha mão.

Eu não sei se era falta de sorte a minha, mas naquele exato momento a bateria do meu celular apitou em quinze por cento, foi um piscar de olhos para que a tela escurecesse e ele desligasse. Em segundos, senti a aproximação de atrás de mim, ficando a milímetros de distância. Consegui sentir seu perfume com mais precisão.

— Eu até poderia oferecer meu celular, mas você diria não. — sua voz suavizou ficando mais envolvente — Só me pergunto como vai chegar em casa agora, pela hora não tem mais ônibus e o metrô é a duas quadras daqui.
— Ok, eu aceito sua carona. — disse ao respirar fundo e olhá-lo.

Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto, fazendo-me estremecer um pouco.

— Tire esse sorriso da cara é somente uma carona. — me mantive séria externamente.
— Como quiser. — ele voltou para seu carro que curiosamente estava ao lado do meu.

Outra ironia? Nossas vagas no estacionamento da empresa eram lado a lado. Assim que entramos, minha barriga deu sinais estranhos de fome, o que arrancou um riso baixo dele.

— Acho que não comeu o tanto que desejava. — brincou ele — Sua conversa com o John parecia animada.
— Olha só quem estava me espionando. — o olhei pelo retrovisor da frente.
— Não estava te espionando, só foi surpreendente te ver em um momento de descontração, você é sempre tão séria e focada no trabalho. — ele ligou o carro e seguimos para a saída.
— John é uma pessoa muito agradável para se conversar. — expliquei a ele — E quando estou no trabalho, gosto de manter o foco.
— Por isso se irrita tanto comigo? — ele riu um pouco, mantendo o olhar em frente — Por que gosto de me divertir trabalhando?
— Prefiro não comentar. — desviei o olhar para o lado, olhando a rua.

Algo me deixou intrigada por um momento, ao olhar novamente o céu azulado.

— Você não me perguntou onde moro. — me voltei para ele — Como sabe meu endereço?
— E porque acha que eu sei? — ele continuou seguindo pela lateral da rua.
— Pelo fato de não me perguntar. — respondi.
— Estamos a vinte minutos dando voltas no quarteirão e você não percebeu. — ele riu — Porque vou te perguntar se posso aproveitar a deixa e passar mais tempo com você bem próximo?

Ele parou o carro e me olhou com mais intensidade. Senti meu coração pulsar mais forte e tentei desviar. Mas era como um ímã que me atraía de uma forma louca.

— Posso te levar a um lugar? — perguntou ele.
— Não sendo sua cama. — respondi.
— Que garota mais obsessiva e maliciosa, daqui a pouco eu é que vou achar que você tem pensamentos pecaminosos comigo. — ele sorriu de canto, me arrasando mais um pouco.

Bufei um pouco, arrancando uma gargalhada boba dele.

— Vou fingir que confio em você. — disse assentindo ao convite.
— Você vai gostar. — ele deu a partida novamente.

me levou a um bar mexicano bastante animado e cheio de pessoas descontraídas se divertindo por todo o lugar. Logo uma senhora se aproximou de nós sorridente nos dando boas-vindas e nos arrastando para o centro, onde tinha outras pessoas dançando. Me senti envergonhada e desafiada por que pareceu mais do que familiarizado com a recepção dela. Tentando não me intimidar com a desenvoltura dele, concedi a um senhor cavalheiro a primeira dança e fui surpreendida por suas habilidades na pista.

Quando finalmente nos aproximamos do balcão do bar, me sentei na banqueta sentindo meus pés ardendo de tanto dançar. O olhar admirado de era nítido em mim, com certas curiosidades também.

— Estou impressionado, a garota séria sabe dançar. — comentou ele, se sentando na banqueta ao meu lado.
— A muitas coisas sobre mim que não sabe e ficaria mais impressionado ainda. — assegurei a ele.
— Hum… Isso desperta ainda mais meu interesse, sabia. — disse ele.
— O problema é seu. — ri da sua cara e olhei para o barman.
— O que o casal vai pedir hoje? — perguntou o homem.
— Não somos um casal. — disse o corrigindo.
— Mas eu pensei que… — ele olhou para , nitidamente o conhecia.
— Ainda não… — ouvi o sussurro do homem ao meu lado.
— E não seremos no futuro. — reafirmei olhando para .

Ele riu.

— Juan, vamos querer a bebida da casa, minha amiga aqui precisa ter uma noite mais relaxada. — disse ele.
— Não vai achando que vai me embebedar para depois se aproveitar de mim. — alertei ele — Tenho spray de pimenta na bolsa.

soltou uma gargalhada alta.

— Está mais fácil você se aproveitar de mim. — ele piscou de leve e sorriu malicioso.
— Aposto que você deve ter trago todas as outras meninas da empresa aqui e dizer a mesma coisa para cada uma delas. — supus.
— É a primeira vez que ele vem acompanhado aqui. — disse Juan, entrando em nossa conversa.
— Você é a única que eu queria trazer aqui. — confessou ele, com um pouco mais de sinceridade no olhar.
— Hum… — me fiz a pensativa — Então, pode nos trazer o tal drink especial, Juan.
— As damas que mandam. — brincou ele, já pegando as coisas para o preparo da bebida.

Eu fiquei impressionada com tamanha agilidade e habilidade do homem, que em poucos minutos posicionou duas taças em nossa frente e despejou o líquido.

— Aproveitem e saboreiem. — disse Juan, ao nos servir.
— Bebam com moderação, crianças. — a gentil senhora da entrada que nos  arrastou para a pista, se aproximando de nós — Em noites de céu azulado é comum este drink instigar algumas travessuras…
— Senhora Margarita, somos adultos, não fazemos mais travessuras. — disse em nossa defesa.
— Ah sim, como se eu não conseguisse notar o olhar atraente de um para o outro. — ela soltou uma gargalhada e me olhou — Cuidado chica, consigo ver as faíscas entre vocês dois.

Ela se afastou de nós aos risos, movendo seu corpo ao ritmo da música que tocava. Voltei meu olhar para , que rindo junto já bebericava seu drink.

— Devo ficar com medo disso? — perguntei apontando para o copo.
— Apenas se for fraca com bebidas. — ele piscou mais uma vez e tomou um gole.

Me senti intimidada, porém curiosa também. O que aquele drink tinha de tão importante assim, para ser tão perigoso? Ao tomar o primeiro gole, senti minha garganta queimar.

— O que tem aqui?! — perguntei, quase sem ar.
— Uma mistura de extrato de agave, chili, ervas do deserto, coentro e gelo. — respondeu ele, com tranquilidade.
— Extrato de agave? — meu olhar ficou tão confuso quanto eu.
— Tequila. — esclareceu ele.
— Eu sinto que vou morrer. — tossi um pouco e empurrei o copo.
— Bem se não quer… — pegou meu copo para beber o restante.
— NÃO! — ouvimos Juan dizer, ao tentar impedi-lo, porém já era tarde demais.
— O que foi Juan? — o olhou assustado — É só um drink, ela não quis, tomei em seu lugar.
— É que… Não deveria ter tomado o dela… — Juan parecia um tanto aflito e sem saber como reagir.

O que me assustava mais ainda.

— Ok Juan, esquece isso, já que ele tomou o meu. — peguei o copo de e tomei o restante que ainda tinha.
— NÃO! — Juan gritou novamente — Vocês estão loucos? Nunca se deve tomar do copo do outro, não esta bebida.
— Não se preocupe Juan, não há a mínima possibilidade de eu me apaixonar por ele, caso haja alguma lenda urbana por trás disso. — eu ri um pouco, e me acompanhou.

Era um fato que a cultura mexicana era repleta de superstições e lendas, então certamente deveria ter alguma sobre o drink. Entretanto, eu não estava me importando tanto com isso e minha atenção permanecia mais nas pessoas dançando.

— Que tal mais uma dança antes de irmos? — sugeriu — Ainda temos uma reunião de diretoria amanhã.

Lembrou ele de algo que havia fugido da minha memória.

— Ah, é mesmo… Porque o senhor Finn teve que marcar uma reunião logo no domingo depois da festa da empresa. — bufei de leve — Vamos então à última rodada, vou te mostrar que sou melhor que você em tudo, inclusive na dança.

Ele soltou uma gargalhada e segurando em minha mão, me puxou para o centro do lugar. Foram mais duas ou três canções até que seguimos para o carro. Foi imprudente de sua parte dirigir, mas até que ele tinha traços de estar mais sóbrio que eu, que graças ao drink maluco ainda sentia minha garganta arder.

— Aqui estamos. — disse ele, assim que parou o carro em frente ao meu prédio.
— Não acredito que deixei você saber onde eu moro. — ri de mim mesma ao retirar o cinto de segurança.
— Valeu a pena esperar. — ele sorriu de canto.
— A culpa é do seu drink mexicano, me embebedou para isso. — reclamei.
— Deixe de ser fraca, só tomamos uma dose, não consigo entender o motivo de estar assim. — retrucou ele.
— Acho que estou mal pela mistura do chili com o que mais mesmo? — não estava mesmo muito bem naquele momento.
— Eu te ajudo a sair. — disse ele, retirando seu cinto e saindo primeiro do carro.
— Eu vou morrer… — murmurei do lado de dentro.
— Não vai não. — ele riu ao me ajudar.

Assim que senti sua mão me apoiando, segurando em minhas costas, meu corpo se arrepiou um pouco. Foi naquele curto espaço de tempo que abri a guarda com aquele olhar atraente e sereno para mim. Não foi preciso um movimento a mais dele, eu tomei a partida e o beijei. ficou em choque a primeiro momento, porém depois começou a retribuir com mais intensidade. Lá no fundo eu já imaginava que a noite não terminaria ali.

--

Acordei sentindo dores latejantes em minhas costas. Não acreditava que tinha dormido de mal jeito. Foi quando percebi que não estava em minha cama, mas sim no sofá da sala. Achei estranho, já que me lembrava vagamente de ter me deitado na cama na noite anterior. Os efeitos do drink mexicano não havia afetado tanto a minha memória, e foi somente uma dose. Me levantei espreguiçando de leve e segui para o banheiro, quase tropeçando nos móveis. Foi ao me posicionar diante do espelho e lavar meu rosto na pia que o choque veio.

— AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH! — soltei um grito de susto e pavor.

A imagem que eu via no espelho não condizia com o que eu deveria ver. O que me deixou ainda mais apavorada.

— O que aconteceu?! O que… — olhei para minhas mãos, controlando o pânico e tentando entender, quando senti a presença de alguém na porta do banheiro.
. — eu reconhecia aquela voz, era a minha voz.

Voltei meu olhar lentamente e vi meu corpo parado de pé na porta com o mesmo olhar assustado que eu fazia. Era surreal o que estava acontecendo, mas realmente estava acontecendo. Eu estava no corpo de e ele no meu.

— AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH! — nós gritamos juntos e depois tentamos nos acalmar.

Mas não tinha o que acalmar. Tinha acontecido o inimaginável conosco, uma troca de corpos que não era explicada pela ciência.

— Calma . — disse ele, me deixando ainda mais apavorada de ouvir minha voz saindo dele.
— Como eu posso me acalmar… — soltei outro grito e respirei fundo.

Então voltei a olhar para o corpo dele, que propositalmente estava sem camisa. Então olhei para ele no meu, que estava com um pijama de short curto.

— Nem ouse tocar no meu corpo. — o alertei.
— É sério, vai mesmo se preocupar com isso agora? — ele cruzou os braços me olhando indignado.

Foi então que entendi o quanto eu ficava detestável quando fazia aquela pose. 

— O que aconteceu com a gente na noite passada? O que você faz aqui na minha casa? — perguntei.
— Você não se lembra? — um sorriso de canto apareceu em meio a malícia em sua voz.
— Não vai me dizer que… — eu me abracei de leve como se tentasse cobrir o corpo que não era meu — Seu aproveitador, oportunista.

Ele respirou fundo, revirando os olhos.

— Vou fingir que não ouvi isso, já que foi você que iniciou o primeiro beijo. — manteve a seriedade — E não, não aconteceu nada, eu não fico com nenhuma mulher sem que ela esteja cem por cento sóbria e você estava passando mal ontem.
— E o que você estava fazendo dormindo no meu sofá?! — indaguei.
— Você vomitou na minha camisa depois do beijo. — respondeu ele, fazendo uma careta — Me pediu desculpas e me ofereceu seu sofá como compensação.

Era louco como eu não me lembrava daquele pedaço da noite, mas a camisa estava mesmo na máquina da área de serviços ainda suja e com o mal cheiro do vômito.

— Ok, mas isso não explica o que aconteceu com a gente. — disse, voltando ao foco do nosso problema.

Ele se mostrou pensativo, o que me fez ver o quão bonita eu ficava quando estava séria. Será que foi um dos motivos dele se interessar por mim? Não… Deveria parar de pensar nisso e resolver nosso problema. Foi então que…

— O drink mexicano. — disse ele, como se tivesse certeza — Juan disse que a gente não podia ter trocado as bebidas.

Ah não! Eu não queria acreditar que um drink que me fez passar mal, havia feito aquilo conosco. 

— Não brinca. — suspirei fraco.
— Só há uma maneira de saber. — disse ele.
— Qual?
— Voltando lá.

Tínhamos pouco menos de uma hora até a reunião na empresa. Então nossa corrida contra o tempo para desfazer tudo aquilo era insana. As suspeitas de se confirmaram quando chegamos no bar e a senhora Margarita já percebeu a troca antes mesmo de começarmos a falar. Ela nos contou a histórias de como sua tataravó descobriu a receita do drink com uma tia, e sobre a lenda do céu azulado que permitia a troca de corpos. 

Uma loucura ouvir e mais louco ainda era viver.

— Eu sempre achei que fosse apenas uma lenda que contamos para os clientes do bar, é a primeira vez que vemos acontecer de verdade. — disse Margarita.
— E como vamos desfazer isso? — perguntei a ela, num tom meio aflito.
— Sinto muito chica, mas nunca nos disseram como reverter isso. — seu olhar ficou mais sereno.

Consegui perceber sua tristeza por não poder nos ajudar mais. Saímos do bar perplexos com tudo aquilo e desnorteados.

— O que faremos agora? — perguntei ao aproximarmos de seu carro.
— Bem, eu serei você por um dia. — ele sorriu de canto — E vai ser divertido nossa reunião hoje.
— Pare com isso, estou falando sério. — fechei a cara — Você vê graça em tudo.
. — ele segurou em minha mão e me puxou para mais perto — Vamos conseguir voltar ao normal, ainda não sei como, mas prometo que vamos…

Pela primeira vez eu senti confiança em seu olhar, e um pouco de segurança também. Loucura estar em seu corpo, loucura ele estar no meu, mas meus sentidos continuavam comigo assim como a atração continuava entre nós dois.

E mais um beijo partiu de mim, deixando que ele se encarregasse da intensidade que só ele sabia transmitir.

Naquele período muito curto, eu
Pela primeira vez senti essa faísca. Oh! Oh! É você!
Uma forte ligação me atrai mais do que qualquer palavra
Eu fui atraído, continuo sendo atraído. 
- Runaway / Super Junior

Pessoas: Como um ímã, toda atração produz faíscas que causam explosão.” - by: Pâms




FIM?!





comments powered by Disqus