FFOBS - 04. Connected, por Pâms

Conexão

Verão de 1930, Portugal

A vida é muito curta para se prender à distância. Era o que minha mãe sempre dizia, quando me contava sobre a história de amor dela e do meu pai. Ambos se conheceram desde pequenos, e por um infortúnio do destino tiveram que se separar devido à Primeira Guerra Mundial. Entretanto, mantiveram contato através de cartas de amor. E todo este sacrifício resultou agora no aniversário de 22 anos de casamento. Eles eram um exemplo de perseverança e paciência para mim.

Agora, era eu quem repetia as vezes de minha mãe. Sentada em uma cadeira, escrevendo uma carta de amor para o agente mais rabugento do Esquadrão de Elite das Forças Especiais do Exército da França. Como me apaixonei por este militar? Foi em uma missão da Cruz Vermelha que segui de voluntária arrastada por minha amiga Lola. Raffaelli era o mais sério e mal-humorado de todos os franceses que faziam nossa segurança, e o mais bonito também.

É claro que com todas as regras que ele impunha e sua postura disciplinada, logo me interessei. Sem esforço nenhum, transformei os meus 14 dias de voluntariado, em dias de diversão, deixando ele o mais irritado possível comigo. Não foi aquele clichês amor e ódio dos filmes da Netflix, mas o ponto auge de tudo, foi quando quase me afoguei no lago e ele me resgatou como um herói. Minha mãe riu quando contei a ela, que aproveitei o momento para beijá-lo de surpresa.

— Vejamos o que escreveu para mim desta vez. — sussurrei assim que retirei sua carta da caixa de correio.

Voltei para dentro da casa dos meus pais. Estava passando um tempo em Coimbra após desistir do curso de enfermagem em Lisboa. Se de uma coisa eu tinha certeza, é que ser enfermeira não era o futuro que desejava para mim. Apesar do meu pai ser totalmente contra ao meu sonho de jornalista, minha mãe seguia me apoiando às escondidas como podia. Entrei no quarto, tranquei a porta e comecei a ler a carta de número 27.

Meu esquadrão segue agora numa missão em Jacarta, na Indonésia. Como sempre, não posso dizer o que estamos fazendo, mas posso assegurar que meus pensamentos continuam em você.

Feliz por não se importar em esperar meses por uma carta minha, com o coração acelerado ao sentir seu doce perfume quando abro suas cartas e com a esperança de um dia poder tocá-la novamente.

Para sempre seu, Tenente Raffaelli.

Meu coração também acelerou ao ler a última frase.

Algo recém descoberto do meu militar rabugento? Um lado romântico e muito bem escondido, que lhe fez enviar flores para mim no meu aniversário. Soltei um suspiro apaixonado, ao ler novamente e me lembrar de nossa última noite juntos em meu voluntariado. O gosto do seu beijo ainda permanecia em mim, assim como o desejo de abraçá-lo novamente. Lhe escrevi:

Também sinto sua falta. Apesar dos poucos dias que convivemos juntos e muitas cartas que vieram depois, sinto como se já o conhecesse a décadas…

Não que tenhamos mais de cem anos, porém ao ler suas cartas, apenas sinto que ainda há uma eternidade para se viver ao seu lado.

Posso mesmo sonhar com a possibilidade de um casamento?

Sempre sua, Bragança.

Estava sim ansiosa para uma resposta depois de tocar no assunto mais delicado entre nosso estranho relacionamento à distância. Sua resposta chegou três meses depois, demorou um pouco menos que as últimas, mas causou a mesma reação em meu corpo trêmulo de curiosidade:

Sinto-me preocupado com esta nova missão. Estamos seguindo para o Vietnã agora, não sei quanto tempo ficarei, mas disseram que seria a última antes de voltar para casa. Certamente Paris está mais iluminada nessa época. O inverno mesmo sendo frio, torna toda a cidade iluminada com as luzes do natal...

Isso me lembra que gostaria de passar esta data com você em meus braços. Ser aquecido pelo calor de seu corpo, envolvido pela doçura de seus lábios. Não é somente o seu coração que anseia pelo casamento.

Não sei o que será do nosso futuro, mas posso lhe afirmar que anseio dormir e acordar com você ao meu lado.

Sempre seu, Tenente Raffaelli.

Meu coração acelerou ao ler suas palavras. Acompanhada pela neve que caía do lado de fora, de forma sublime, me acomodei na poltrona ao lado da lareira e comecei a lhe escrever mais uma vez:

Confesso que me preocupo quando dizes que se preocupa. Estamos a dois anos trocando cartas com você distante de mim, porém tenho a esperança de que sim, esta será vossa última missão. Peço a Deus todas as noites para que te guarde e o traga de volta para mim, mesmo não estando na França, imagino que Paris deva estar mais bela que Lisboa nesta época.

Espero que possamos passar nossa lua de mel na cidade em que nasceu, ter nossos filhos na cidade em que eu nasci e morar no lugar em que nosso amor se perpetuará.

Sempre sua, Bragança.

O inverno era a pior estação para cartas de amor. O frio e a demora sempre me deixavam apreensiva e nervosa. Eu não sabia quando ele receberia minha resposta. Não sabia o que faria em sua última missão, entretanto me alegrava em saber que ele me desejava tanto quanto eu o desejava.

Nutria em mim a certeza, que sempre estaríamos conectados mesmo com toda a distância a nos separar...

Mesmo por cartas, o sentia bem próximo a mim.

Me sinto conectada, protegida.
É como se você estivesse aqui
Comigo a todo o tempo
Você me ouve, você está perto de mim
E tudo mais vai ficar bem.
- Connected / RBD

“Conexão: A vida é muito curta para se prender à distância.” - by: Pâms

FIM.

Nota da autora:
Mais um ficstape, agora com um aconchegante amor a distância.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!

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