Última atualização: 15/01/2020

1. Heirs

Londres, inverno de 1847

Você nunca imagina que uma tragédia possa cair sobre si, até que de fato aconteça.
Foi assim que toda a reviravolta aconteceu em minha família, iniciou-se com um breve resfriado que foi agravando até resultar na morte de papai. O cruel gosto da perda ainda estava em minha boca quando o oficial da justiça nos fez uma singela visita, algo que pareceu muito mais uma sentença de despejo após a abertura do testamento.

— Bem, vocês sabem das leis que regem nossa sociedade, infelizmente suas filhas não possuem o direito a herança, e como não tiveram nenhum herdeiro homem… — o oficial parecia ponderar e escolher bem suas palavras ao tentar no explicar o óbvio.

A casa onde nascemos e vivemos até o momento não seria mais nossa, e só Deus sabia o que seria de nossa família agora. Mamãe tentou segurar enquanto pode suas lágrimas, porém a única coisa que conseguia fazer era chorar ainda mais, já não sabia se era tristeza pelo luto ou desespero por nossa atual situação.

— Mas… Senhor Connor, como vamos sobreviver? O que vai acontecer com nossa casa aqui em Londres? Ou nossas terras em Derbyshire?
— Todo o patrimônio do lorde Allen será transferido para o parente mais próximo, o lorde White. — respondeu ele.
— O que? — Molly se levantou da poltrona onde estava sentada — Tudo que temos ficará para aquele nojento?!

Não podia negar que estava ainda mais revoltada que minha pequena irmã, mas deveria manter-me forte para o que estava prestes a acontecer, pelas duas, já que mamãe mostrava-se abalada demais em meio às circunstâncias.

— Molly, não diga tal coisa, James é da família ainda, certamente nos manterá amparadas pela memória de papai. — tentei apaziguar a situação, voltando meu olhar para o oficial — E o senhor sabe quando lorde White chegará?
— Ele já foi comunicado dos acontecimentos, creio que em dois dias esteja a Londres para finalizarmos a transferência de tudo. — respondeu ele.
— Eu não tenho mais forças para tudo isso. — mamãe se levantou bruscamente da cadeira e saiu em direção a porta.

Conseguia ouvir seus gritos de choro se afastando ao longo do corredor.

— Eu odeio tudo isso. — Molly saiu atrás batendo pé como uma criança mimada.

Minha irmã nem parecia ter 15 anos, deveria se comportar como uma dama, porém seus modos diziam o contrário. E novamente estava tudo em minha responsabilidade, não somente manter estabilidade emocional de nossa família, como também encontrar uma solução plausível para nossos problemas.

— Perdoe-me por elas, senhor Connor. — disse ao me levantar da cadeira, fazendo o gesto com a mão para que ele se levantasse também — Muitas coisas aconteceram em tão pouco tempo, nem mesmo tivemos tempo para viver nosso luto com tranquilidade.
— Eu entendo milady. — ele se levantou, recolhendo os documentos e os guardando em sua pasta — Se precisarem de qualquer coisa, não hesite em me procurar.
— Agradeço, senhor Connor. — a guiei até a porta da biblioteca — Tessa lhe acompanhará até a porta.

Olhei para minha criada que se mantinha no corredor a espera. Assim que eles se afastaram, soltei um suspiro de cansaço.

— O que será de nós, Deus?

Voltei meu olhar para a janela, dei alguns passos em sua direção e fiquei observando o pôr-do-sol por um tempo, até que Tessa adentrou a biblioteca anunciando que o jantar já estava servido. Segui para a sala de jantar, assim que lavei as mãos, sentei-me à mesa.

— Onde está Molly?! — perguntei ao notar sua ausência.
— A pequena Molly disse que estava indisposta. — respondeu Tessa.
— Prepare um prato e leve para ela, por favor. — pedi a criada.
— Não, se sua irmã está fazendo drama no quarto, que fique sem o jantar hoje. — a voz de mamãe estava amarga.
— Mamãe, precisamos dar espaço a ela, cada um sofre a sua maneira. — fui em sua defesa.
— E quanto a mim? Não acha que estou sofrendo? — ela me olhou — Vendo tudo que ser levado de nós, ver minhas amigas dando as costas para nossa família.
— Se elas fazem isso, então de fato nunca foram suas amigas. — mantive meu olhar suave, porém sincero a ela.
— Sabes que na aristocracia o status define a amizade. — sábias palavras, de alguém que só dava bom dia para quem pertencia a nobreza londrina — Nem mesmo lady Evelyn Lewis teve a decência de me cumprimentar no enterro de vosso pai.

Talvez fosse castigo de Deus. Afinal, mamãe sempre agiu como uma mulher orgulhosa e em alguns casos preconceituosa.

— Se acha superior a mim, mas sua fortuna só foi salva porque a enteada se casou com um burguês. — continuou mamãe ainda mais indignada — só quero ver até quando lorde Lewis vai se manter afastado do vício dos jogos… Aquela víbora traidora.
— Mamãe, esqueça a família Lewis, temos outros assuntos mais preocupantes. — a chamei para a realidade.
— Eu sei, e já tenho tudo sobre calculado. — ela abriu um largo e malicioso sorriso, daqueles que me deixava com medo quando criança.
— O que a senhora está premeditando? — perguntei com receio.
— Lord Smith. — respondeu enigmaticamente.
— O que tem ele?
— Se casará com ele.
— O que? Eu? — agora eu é que estava indignada — Mamãe, a senhora está ouviu suas próprias palavras?
— Claro que estou. — ela levantou seu olhar autoritário para mim — E venho pensando nisso desde o enterro do seu pai, lord Smith é amigo da família e viúvo a um bom tempo, se casando com ele irá garantir a sobrevivência de nós três, e quem sabe nem esta casa perderemos.
— A senhora pretende me vender para aquele velho?
— Não estou te vendendo. — ela alterou a voz — Estou garantindo seu futuro lhe arrumando um casamento, e por sorte se engravidar dele, poderá ter um herdeiro homem antes do velho morrer.
— Eu vou fingir que não ouvi tais palavras da senhora. — voltei meu olhar para o prato de sopa de lentilhas, reprimindo meu grito de revolta.
— Pois não finja, já está decidido, irei enviar uma carta ao lord Smith, soube que ele está em Yorkshire. — reforçou com segurança.
— Pois saiba a senhora que não irei compactuar com esse plano horrível. — me levantei da mesa — Não irei me casar com aquele velho asqueroso, que está às portas do caixão.

Saí de sua presença transbordando de raiva, ouvindo seus gritos a me chamar. Não queria mesmo acreditar que mamãe teria essa coragem. Ela estava praticamente vendendo-me para garantir seu status perante a sociedade. Assim que entrei em meu quarto, me desabei em meio a todas as lágrimas que reprimia desde a morte de papai, já não sentia nem mesmo aquela falsa força que demonstrava ter perante todos.

- x -

?! — Molly deu dois toques na porta e adentrou meu quarto — Posso entrar?
— Sim, o que deseja? — a olhei desinteressada, certamente havia ido ali a mando da mamãe.
— Mamãe pediu para que descesse, lord White chegou. — respondeu.

Estava tão estática com os planos de minha mãe para mim, que nem mesmo estava contando os dias, mesmo com o atraso de algumas horas, finalmente lord James White, nosso primo distante, chegou a nossa casa. A partir de agora a Allen House não seria mais nossa, não seria mais a mesma, seria somente lembranças de um tempo feliz para mim.

— Vamos então.

Me levantei da poltrona ao lado da janela e seguimos para sala de estar juntas. Lord White estava parado perto de uma escultura egípcia que papai ganharam de um amigo arqueólogo há 2 anos. Ele conversava com o oficial de justiça senhor Connor, certamente sobre o testamento e os bens que um dia foram nosso.

— Se tivesse se casado com o lord Riley assim que fez 18 anos, não passaríamos por isso. — comentou mamãe num tom baixo ao se aproximar de mim — Mas seu pai insistiu para que esperássemos mais.
— Vai me culpar pela morte do papai também? — retruquei mantendo-me ponderada.
— Falaremos sobre isso depois. — disse ela se voltando para os cavalheiros.

Não. Não falaríamos sobre isso depois. Com minha mãe nunca tinha conversa, sempre era do jeito dela, como ela queria.

— Lord White, esta é minha filha mais velha. — disse ela.
Allen. — fiz uma breve reverência — Prazer milord.

Eu me lembrava de tê-lo visto uma vez, quando visitamos o tio Alfie em seu leito de morte.

— Encantado. — ele pegou em minha mão e a beijou de leve — Apesar da herança ter passado para meu nome, quero que saibam que tudo aqui ainda pertence a vossa família, lady Daisy.
— Oh, lord White, você agora é da família também. — minha mãe parecia encantada por ela, algo que me deixava ainda mais preocupada.
— Senhora Allen, gostaria que assinasse alguns papeis antes de minha partida. — disse o senhor Connor.
— O que seriam esses papéis? — perguntei.
— Um termo de compromisso que lord White concordou em fazer para pagar-lhes uma pensão mensal, ajudando assim na sobrevivências de vocês. — explicou ele.
— É o mínimo que posso fazer. — lord White manteve seu olhar em mim.
— É o mínimo que a lei permite. — sussurrei para mim, forçando um sorriso.
— Lord White, ainda poderei ler os livros da biblioteca? — perguntou Molly.
— Claro, quantos quiser. — ele sorriu para mim irmã.
— Quero continuar lendo todos. — Molly sorriu de volta.

Garota interesseira, esta parte ela havia aprendido muito bem com minha mãe.

— Ficará para o jantar desta vez, senhor Connor? — perguntou minha mãe.
— Ah não, ainda tenho trabalhos a fazer, mas agradeço milady. — disse ele.

Enquanto mamãe acompanhava o senhor Connor até a porta, Molly mantinha sua atenção no cachorro que o novo dono da casa havia levado consigo, um golden retriever lindo e de pelagem creme.

— Espero que não se sinta ainda mais desconfortável com a presença do meu cachorro. — disse lord White ao se aproximar de mim.
— A casa é vossa agora lord White, eu não devo me sentir desconfortável. — permaneci com meu olhar baixo.
— Não precisa ficar na defensiva, milady. — retrucou ele.
— Não estou na defensiva, minhas palavras são a realidade em que vivenciamos. — elevei meu olhar para ele com segurança.
— Prove-me
— Como?! — não havia entendido suas intenções.
— Já que somos da mesma família, não precisa me tratar com formalidades, pode me chamar de James. — ele sorriu de canto, seu olhar se mantinha fixo em mim — Como assegurei a vossa mãe, pretendo cuidar de vocês, em memória de meu tio.

Suas palavras pareciam sinceras. Porém, eu sempre tinha dentro de mim, uma pequena parte que me fazia desconfiar de tudo e de todos, papai sempre dizia-me que isso poderia ser bom ou ruim, dependendo do caso. Entretanto, daria um voto de confiança a ele, já que aparentava estar mesmo querendo ser caridoso conosco.

— Agradeço, James. — disse num tom baixo.
— Me daria a honra de mostrar a casa, antes do jantar?! — pediu ele.
— Sim. — estendi a mão em direção ao corredor que dava para a biblioteca — Podemos começar pela melhor parte da casa segundo Molly.
— Deixe-me adivinhar… A biblioteca?!
— Certamente.

Eu o levei em cada cômodo da Allen House, sem deixar passar nenhum centímetro. Até que chegamos ao quarto principal que havia sido desocupado por minha mãe na noite anterior para que fosse entregue a ele.

— Eu disse a vossa mãe que não deveria ter se retirado desde quarto. — comentou ele ao adentrar — Este lugar possui muitas memórias dela e meu tio.
— Talvez seja melhor assim, para ajudá-la a superar a perda. — comentei — Além do que… Não seria correto ela continuar aqui, agradecemos sua bondade e o quanto quer nos ajudar a superar nossa perda, mas isso não mudaria o fato de que agora tudo que um dia nos pertenceu está em seu nome.
— Voltou a ficar na defensiva. — disse ele.
— Não, apenas dizendo novamente a realidade. — retruquei.
— Você é uma dama intrigante, . — comentou ele, disfarçando seu olhar que passava por todo o meu corpo, da cabeça aos pés.
— O jantar já deve estar quase pronto, vou deixá-lo se acomodar.

Me retirei de seu quarto, antes mesmo que pudesse dizer mais alguma coisa. Segui para sala e me mantive sentada no sofá até que o jantar fosse servido. Pela primeira vez após a morte de papai, Molly estava se alimentando corretamente e sem que fosse obrigada por nossa mãe. Ela parecia mais conformada pela presença de James do que eu, mas a culpa não era dele. O assunto sobre o lord Smith ainda martelava em minha mente, deixando-me ainda mais cansada psicologicamente.

Algumas semanas se passaram… E logo chegou a primavera.
E eu já estava reagindo melhor a nova realidade, ter um homem aparentemente estranho em casa e conviver com ele de forma natural era tão desgastante quanto tentar convencer minha mãe a reavaliar seus planos de me casar com lord Smith.

— Anda , ou vamos nos atrasar. — disse Molly ao passar por meu quarto.
— Nunca a vi tão empolgada para uma festa. — comentei ao pegar minha bolsa.
— Não é pela festa, mas por quem estará nela. — retrucou.
— Hum… E quem estará na festa? — a questionei curiosa.
— Não vou dizer.
— Desde quando tem segredos para mim? — cruzei os braços.
— Desde agora. — ela saiu correndo.

Só havia uma explicação para isso: Jacob Gale, o filho mais novo do dr. Gale. Ambos eram amigos desde sempre, o único motivo que a fazia se arrumar e agir como uma dama nas festas, ou quase isso.

— Finalmente querida. — disse minha mãe assim que adentrei a sala de estar — Pensei que não fosse mais nos acompanhar.
— E quem cuidará de Molly, caso ela faça alguma travessura. — sorri de leve.
— Eu vou me comportar desta vez. — assegurou minha irmã.
— Você sempre diz isso. — brinquei.
— Lembre-se Molly que agora não tem vosso pai para pagar por suas travessuras. — a voz amarga que se instalou em minha mãe continuava intacta.
— Eu sei mamãe. — logo o sorriso de Molly fechou, dando espaço a um olhar triste.

Meu consolo é que isso passaria assim que visse seu amigo Jacob.

— Seu pai não está aqui, mas pode contar comigo Molly.

Ouvi James cochichando para ela, dando uma piscadela após. Molly assentiu voltando seu sorriso nos lábios. Eu o agradeci novamente pouco antes de entrarmos na carruagem para seguir ao nosso destino. Certo que o convite não havia sido endereçado diretamente para todos, e sim para lord White, que logo anunciou que seríamos suas acompanhantes. Minha mãe foi a primeira a se empolgar com isso, já que enfrentávamos um grande bloqueio social, onde ninguém desejava a presença da viúva falida e suas filhas nos grandes bailes de Londres.

— Uau. — disse Molly assim que descemos da carruagem — Esse lugar é enorme.
— Ouvi dizer que está entre as cinco propriedades mais caras e luxuosas da cidade. — comentou minha mãe ao se posicionar em meu lado — Uma pena que os donos sejam burgueses.
— A senhora sabe de quem é? — a olhei.
— Claro, acha mesmo que já não fiz minha pesquisa sobre as famílias mais ricas e influentes de Londres. — ela manteve seu olhar para frente — Esta casa pertence aos Baker.
— Sim. — afirmou James — Agora todas as propriedades e negócios da família Baker estão em posse do único herdeiro, senhor Baker.
— Já o viu antes lord White? — perguntou minha mãe.
— Algumas vezes em jantares de negócio. — respondeu — Soube por um amigo que ele está prestes a perder a herança do pai devido a uma cláusula do testamento.
— Bem, um burguês a menos em nossa sociedade pelo menos. — minha mãe suspirou como um alívio em saber das desgraças alheias — Vamos entrar.

Aquele era o lado perverso de minha mãe que me causava repulsa, me envergonhava e chateava.
Seguimos para a entrada e logo fomos anunciada no grande salão da sala. O lugar contava com a presença de quase toda a elite londrina, de nobres a burgueses, conseguia até mesmo contar com a presença de membros ligados a família real como o Duque de Cambridge. Porém um rosto familiar e reconfortante para mim estava presente, lady Nalla Lewis, a única que ainda considerava minha amiga e que foi solidária no enterro de papai. Me afastei de minha mãe para me aproximar dela, que logo me reconheceu e me abraçou.

, que bom te ver aqui. — disse Nalla.
— Digo o mesmo, senhora Winchester. — brinquei chamando-a pelo sobrenome de seu marido.
— Por favor, continue me tratando como Nalla, somos amigas desde sempre. — ela sorriu.
— Agradeço a Deus por isso, por vossa amizade por mim continua a mesma. — a olhei com sinceridade — Ainda sinto-me envergonhada pelas duras palavras de minha mãe em vosso casamento… Quem diria que o mundo daria voltas e estaríamos passando por situações complicadas financeiramente.
— Por favor, não se sinta assim, não tem culpa de vossa mãe ser assim. — ela sorriu com doçura — Não me importo com as palavras de ninguém mais, estou feliz em meu casamento, é só o que me importa.
— Sim, depois vou querer saber tudo sobre sua nova vida. — sorri de volta — Deve estar sendo um paraíso viver longe da megera.
— Fale baixo, ela está aqui também. — brincou minha amiga — E por falar.
— Olha só, quem está aqui. — Evelyn se aproximou de nós com sua arrogância — A mais nova órfã de Londres.
— Boa noite, lady Lewis. — fiz uma breve reverência.

Assim como minha amiga, eu não a suportava.

— Evelyn! — a voz de minha mãe soou atrás de mim — Que surpresa.
— Para você é lady Lewis, afinal não estamos mais no mesmo nível social para não haver formalidades. — Evelyn mantinha sua soberba de sempre.
— Lady Lewis. — minha mãe deu uma risada sarcástica — Como se sua origem condiz-se com seu status atual.

Mesmo na vala, minha mãe sempre mantinha sua pose e não deixava ninguém humilhá-la. E dessa vez eu estava gostando. Nalla me pegou pelo braço e me puxou para longe daquele duelo de titãs.

— Devemos nos preocupar com os espinhos que sairão dali?! — perguntou ela rindo.
— Acho que não. — ri junto.
— E como está sendo para vocês? Soube que continuaram morando na Allen House, como o lord White.
— Sim. — confirmei — Foi estranho nos primeiros dias, mas agora estou me acostumando.
— Tem certeza?
— Não sei, há vezes penso que posso confiar em James, ele é um parente que mesmo se beneficiando de tudo que é nosso, vem mostrando caridade e nos amparando…
— Mas?! — insistiu ela.
— A forma como ele olha para mim… Meu lado racional me diz para não confiar nele. — suspirei fraco — Talvez eu esteja na defensiva como sempre, mas.
— É sempre bom dar o benefício da dúvida para as pessoas, porém não o conhecemos direito para saber se ele está mesmo com boas intenções. — comentou Nalla — Mas saiba que pode contar comigo para o que precisar.
— Obrigado, você é minha única amiga agora. — a abracei novamente — Ou melhor, sempre foi a única.
— Digo o mesmo. — retribuiu ela o abraço — Venha me visitar algum dia, adoraria tomar um chá da tarde com você.
— Será um prazer. — eu passei meu olhar pelas pessoas que estavam perto procurando minha irmã — Se me der licença, vou procurar por Molly, tenho que evitar que ela estrague alguma coisa.
— A vontade. — disse rindo.

Certamente Nalla se lembrou do vaso espanhol que Molly conseguiu quebrar da Lewis Castle no primeiro verão que ficamos hospedadas lá. Papai teve que pagar caro por aquela travessura. Eu me afastei dela e comecei minha buscar, passando pelas pessoas, até que vi o vulto de alguém correndo na lateral do salão, logo reconheci os cabelos cacheados de Molly. Segui em sua direção adentrando ainda mais a mansão, quando me deparei com uma grande porta, então ouvi algumas vozes. Devagar, girei a maçaneta e abrir a porta, lá estava Molly e Jacob se beijando no canto da sala.

— Molly Allen. — disse em voz alta e firme.

Ambos se assustaram e ao se afastarem, Jacob esbarrou em um grande globo de vidro, o fazendo cair e se quebrar em mil pedaços.

— Eu… — Jacob me olhou sem reação e apressadamente saiu da sala.
— Não acredito no que meus olhos viram. — estava indignada com minha irmã — Não é assim que deves agir, Molly ainda tens 15 anos, imagina se fosse a mamãe a ver isso.
— Me desculpe. — ela se aproximou de mim — Por favor, não conte nada a ela.
— Este é o menor de seus problemas agora. — apontei para os cacos de vidro — Como acha que vamos reparar isso?
— Eu não sei, podemos voltar para sala e fingir que não aconteceu.
— Mas aconteceu, e não foi esta a educação que papai nos deu. — retruquei tentando não ficar com raiva — Somos responsáveis pelas consequências de nossos erros.
— Sábias palavras. — uma voz grossa e meio rouca soou da porta.

Era oficial, estávamos encrencadas.

You can call me monster.
- Monster / EXO



2. Proposal

Londres, inverno de 1847

— Perdoe-me senhor. — me virei para o homem.

Seu olhar fixo e intenso em minha direção, fazia minhas pernas quererem fraquejar, porém me mantive firme.

— Eu… Nós… — as palavras fugiam de mim.
— Deixe-me adivinhar. — seu olhar suavizou um pouco, ao se voltar para minha irmã — Não tens como pagar.
— Sim. — assenti.
— Senhor, a culpa foi minha. — disse Molly — Por favor, não brigue com minha irmã.
— Não irei brigar, mas poderia nos deixar à sós.

Molly me olhou.

— Pode ir, e não conte nada a mamãe e nem ao James.
— Mas o James pode ajudar. — insistiu ela.
— Não Molly. — a repreendi — É nosso problema, não deles.

Não queria dever mais nenhum favor a James, não sem antes saber realmente quem ele era. Molly assentiu e se retirou. Voltei meu olhar para o homem que mantinha sua atenção em mim.

— O senhor, deve ser o senhor Baker. — presumi.
— Sim, sou eu, Baker. — confirmou — Posso saber o nome da bela dama que invadiu minha biblioteca no meio da festa?
— Sou Allen, e aquela é minha irmã Molly.
— Allen. — ele sorriu de canto — Estou admirado por não ter se apresentado com seu título de nobreza, milady.
— Ultimamente meu título não tem me servido muito. — retruquei.
— Soube sobre seu pai, lamento. — suas palavras soaram sinceras — Perdi o meu ano passado, imagino o que deve estar passando.
— Talvez o senhor possa imaginar somente 50%, já que ao contrário de mim, não perdeu vossa herança. — rebati.
— Tens razão. — ele me olhou de cima para baixo, como se me avaliasse.
— O que está olhando? — indaguei.
— Nada. — ele sorriu com satisfação — Não se preocupe senhorita, eu não irei cobrar nada pelo globo quebrado.
— Não vais?
— Não, por sua honestidade, e como é a primeira vez em minha casa, serei um bom anfitrião e deixarei passar. — ele olhou para os cacos de vidro — Estava mesmo querendo me livrar disso.
— Eu… Não sei como agradecer.

Ele sorriu de canto novamente e se retirou da biblioteca sem dizer mais nada. Eu respirei fundo, não sabia se era de alívio ou desespero por não entender tamanho cavalheirismo de vossa parte. Talvez fosse mesmo pelo fato de ter perdido vosso pai como eu, ao voltar para sala, avistei o senhor Baker conversando com o senhor Winchester. Seu olhar veio de encontro ao meu de uma forma intensa, que fez meu coração acelerar estranhamente.

Em minha primeira vez naquela casa, já sairia dali com um segredo.

. — minha mãe se colocou em minha frente, tampando minha linha de visão para ele — Por onde andou? Estava a sua procura.
— Eu… Estava procurando por Molly, acabei me perdendo. — não era uma mentira.
— Vamos, lord White quer voltar para a mansão. — ordenou ela.

Assenti a seguindo até a saída. Infelizmente, não consegui nem mesmo me despedir de Nalla. Passei todo o caminho de volta pensando no senhor Baker e de como havia me tratado em vossa casa, algo que estava jogando por terra todo o conceito que minha mãe vinha criando sobre os burgueses. Nalla havia se casado com um e me parecia a mulher mais feliz do mundo, certamente não eram tão horríveis assim. Além de serem a base econômica de nossa sociedade.

— Estou cansada, vou me deitar. — disse assim que chegamos em casa.

Subi para meu quarto e logo que entrei, Molly veio atrás de mim, já fechando a porta e trancando.

— O que está fazendo? Que desespero é esse? — a olhei sem entender.
— Diga-me, por favor, diga-me o que houve entre você e o senhor Baker. — seu tom desesperado parecia mais aflito — Diga que não estou com a corda no pescoço.
— Não se preocupe, ele não irá nos cobrar nada. — assegurei a ela — Disse que fará isso em memória do pai, já que ele também sofreu essa perda.
— Sério?
— Sim.
— Graças a Deus. — ela soltou um suspiro de alívio.
— Mas isso não muda o fato de tê-la flagrado aos beijos com Jacob. — a repreendi novamente — Molly, o que pensas que estava fazendo? Ainda és uma criança, ambos são.
— Não sou mais uma criança, logo serei uma mulher.
— Olhe suas palavras, és uma criança sim. — fui firme com ela — Não deverias ter feito o que fez.
— Pois saiba que mamãe aprova que eu seja próxima dele. — retrucou ela.
— Mamãe precisa reavaliar seus conceitos.
— Não precisa não, ela disse que após o outono assim que eu completar 16 anos, fará meu noivado com Jacob, nos casaremos daqui dois anos. Ele será médico como o pai e teremos uma boa vida, além da herança que terá caso o Dr. Gale morrer.
— Mamãe está louca e você também. — sussurrei — Achas mesmo que vou permitir isso, você só poderá se casar depois de mim, e eu não pretendo fazer isso tão cedo. — assegurei a ela.

Molly estava louca, se casar aos 18, ela ainda era jovem demais para pensar em corte.

— Não é o que ela falou.
— O que nossa mãe anda dizendo?
— Vais casar com o lord Smith. — ela fez uma careta.
— Não vou. — desmenti — Já disse a mamãe sobre isso.
— Então deverias dizer novamente, pois ela o convidou para o jantar de amanhã. — Molly se voltou para a porta e a destrancou saindo.
— Não acredito. — sussurrei novamente.

Agora finalmente eu estava sentindo tudo desabar de vez sobre mim, e desta vez não teria nem mesmo o apoio de Molly para convencer minha mãe. Desejava saber quando que minha doce e inocente irmã começou a ficar tão parecida com minha mãe, se esquecendo de todos os conselhos que papai nos deu até seus últimos minutos de vida.

Meu corpo cansado sentiu necessidades de se abrigar nos lençóis da cama, me troquei rapidamente e me aconcheguei entre as cobertas para me aquecer. Mesmo cansada não estava com sono, pois muitos eram meus pensamentos sobre o destino de minha vida. Foi quando bateram em minha porta.

— Quem é?! — perguntei me levantando e colocando uma manta sobre mim.
— Sou eu, James. Podemos conversar? — perguntou do outro lado.

Abri a porta e o olhei, no fundo curiosa para saber.

— Não é de bom tom um cavalheiro bater a esta hora no quarto de uma dama. — disse a ele — O que desejas?
— Conversar. — estranhamente, seu olhar estava sereno — Perdoe-me se eu lhe acordei.
— Não, eu não estava dormindo. — assegurei.
— Podemos ir até o escritório? — perguntou ele — Não se preocupe, vossa mãe já dorme.
— Sim.

O segui até adentrarmos o lugar. Assim que passei pela porta, lembranças dos dias felizes com meu pai vieram em minha mente, passando como flashs diante dos meus olhos. De como eu corria por aquele lugar quando era pequena, de como ele me confortou ali assim que Riley disse que não me esperaria e se casaria com a lady Emily Evans, da última vez que papai sorriu para mim com sua saúde ainda intacta. Momentos que agora eu só poderia reviver em minha memória.

— Imagino que esteja se lembrando de vosso pai. — comentou ele.
— Sim. — respirei fundo — Não venho aqui desde que ele morreu.
— Não consigo imaginar o quão pesado esteja sendo, principalmente para você. — palavras honesta até o momento.
— Estou curiosa para saber o que desejas conversar comigo. — disse sem rodeios.
— Sua mãe anunciou seu casamento com o lord Smith. — também direto e preciso — Devo acreditar que seja real?!
— Está preocupado com isso?!
— Estou preocupado com você. — confessou — Seus olhos não me passam felicidade ao tocar no assunto.
— Confesso que não estou satisfeita com esta decisão que minha mãe insiste em impor a mim. — deixei a sinceridade fluir — Mas, não irei me casar, nem sob tortura.
— Está certa disso?! — ele se aproximou de mim e segurando minha mão — Posso lhe ajudar se desejar.
— Já tens feito muito por nós, não tenho o direito de lhe pedir tal coisa.
— E se eu disser que meu coração está inclinado a fazer o que for preciso para lhe ajudar? — ele tocou em minha face — Desde o dia em lhe vi, sinto-me atraído por você.
— James. — me afastei um pouco dele — Somos primos.
— De segundo grau. — reforçou ele — Deixe-me te ajudar, por favor.

Respirei fundo.

— O que tens em mente?
— Amanhã, após o jantar… — ele sorriu de leve e se retirou do escritório.

Eu permaneci imóvel por um tempo. Será que James estaria mesmo interessado em mim? Não conseguia imaginar-me casando com ele, não até o momento, mas se acontecesse, talvez mamãe não seria contra.

— Não, , tire esses pensamentos de si. — balancei a cabeça negativamente — Apesar do meu lado racional, sempre imaginei me casando por amor e não por dinheiro.

Mas… E se James estivesse apaixonado por mim? Pensei.

— Talvez, se for, posso dar-lhe a chance de me conquistar. — sorri de forma boba — Ele é um cavalheiro charmoso e bonito, de família nobre e mesmo nosso parentesco… Ora essa, pare de pensar nisso, somos primos... De segundo grau, mas ainda somos primos.

Agora mesmo que minha cabeça estava fervilhando de pensamentos e teorias da conspiração. Devo presumir que minha mãe surtaria com a ideia, ou ficaria feliz com a probabilidade de recuperamos o que era nosso. Não… Não… Não pensaria mais nisso até a noite seguinte. Voltei meu olhar para a cadeira de meu pai e me sentei nela, aninhando-me comecei a sentir como se estivesse em seu colo, sendo novamente amparada por ele. Algumas lágrimas apareceram repentinamente rolando pelo meu rosto, as deixei cair sem receio, talvez me ajudassem a aplacar a saudade que sentia dele.

— Pai, o senhor me faz tanta falta.

Quanto mais eu chorava, mais pedia a Deus para que meus problemas desaparecessem como quando ele estava vivo.

- x -

— Senhorita Allen. — ouvi uma voz feminina ao longe — Senhorita Allen… Milady.
— Hum?! — abri meus olhos e me vi ainda na poltrona do papai — O que aconteceu?
— A senhorita adormeceu aqui no escritório. — explicou ela.
— Todos já acordaram?
— Sim, estão à mesa tomando o desjejum. — respondeu.
— Obrigado Tessa. — eu me levantei — Poderia levar meu café no quarto?
— Sim senhorita.
— Agradeço.

Me afastei dela e segui para meu quarto. Quanto menos contato eu tivesse com minha mãe naquele dia, seria melhor para minha saúde mental.

— Se está esperando pela criada com seu desjejum, saiba que não o fará. — disse minha mãe ao adentrar meu quarto — Mesmo que esta casa não seja nossa, minhas regras ainda permanecem, você é minha filha e deves obedecer-me.
— Estas duras palavras é por não ter comparecido ao desjejum, ou por eu não concordar com o casamento? — retruquei.
— Sabes do que estou falando.
— Perdoe-me mamãe, mas não sei. — a confrontei.
— Não brinque com a sorte. — ela manteve seu olhar autoritário — Estejas pronta antes do jantar, o lord Smith sempre foi um homem pontual, então não envergonhe-me.

Engoli sua ordem a seco e assenti com o olhar. Mais do que nunca comecei a contar com a ajuda de James para me livrar daquela sentença de morte. Assim que ela saiu eu joguei uma das almofadas na porta no impulso da raiva, junto com as lágrimas de revolta que já rolavam meu rosto.

— Eu odeio isso. — limpei minha lágrimas e me sentei na cama.

Retirei do criado mudo o livro que papai gostava de ler para mim.

— Razão e Sensibilidade. — sussurrei ao ler o nome — Metade Elinor, metade Marianne, papai sempre me dizia que eu deveria ter os dois lados das irmãs Dashwood, é a única lembrança que terei do senhor para sempre.

Abracei o livro e continuei chorando.

As horas foram se passando e fiz questão de continuar no quarto, mesmo que isso me custasse as refeições diárias. Até que Tessa pediu permissão para entrar em meu quarto ao final da tarde e trouxe consigo duas maçãs escondidas no avental.

— Aqui senhorita. — disse ela — Trouxe para aliviar a fome que deve estar sentindo.
— Obrigado Tessa. — peguei as frutas dela — Você está sempre cuidando de mim, desde criança.
— Venho trabalhando há anos para vossa família, desde quando seu avó ainda era vivo e eu uma criança, lembro-me daquele tempo meu pai era o mordomo fiel ao lord Allen. — disse ela, parecendo viajar em suas memórias, então me olhou com carinho — Me corta o coração de como vossa mãe a trata.
— Eu já me acostumei com isso, não se preocupe, no final Molly sempre vai ser a caçula favorita.
— Lamento por ter que passar por isso, a senhorita não tem culpa. — ela tocou com carinho em meus cabelos.
— Culpa?! Do que está falando?
— Nada, nada senhorita. — ela se afastou de leve — Eu irei buscar o vestido que vossa mãe mandou lavar para hoje à noite.

Assenti sem entender.
Assim que retornou, eu já havia comido as maçãs. Tessa me ajudou a vestir-me, a cada segundo sentia como se aquele vestido fosse correntes que me prendiam ao que eu não queria, um sentimento de angústia começou a tomar conta do meu coração. Respirei fundo antes de sair do quarto, precisava ser firme, ainda que em último caso eu fugisse de casa para não me casar com aquele velho. Havia também Nalla, que prometeu ajudar-me.

— Vamos , nada a temer. — encorajei-me ao descer as escadas.

Uma mistura de coragem e insegurança passaram por meu corpo assim que meus olhos viram o lord Smith com a taça de vinho na mão, rindo com minha mãe, ambos sentados no mesmo sofá.

— Ah, finalmente. — disse minha mãe com seu olhar de desaprovação por eu ter me atrasado.

Claro que foi proposital.

— Perdoem-me a demora. — sorri falsamente como havia aprendido com ela.
— Contava com mais pontualidade de vossa filha, lady Allen. — comentou lord Smith — Não gosto de atrasos para nada em minha vida.
— Claro que ela é pontual. — minha mãe engoliu seco — Imprevistos acontecem.
— Não acha que o atraso feminino nos dá mais expectativa? — interviu James — Lord Smith, quanto mais uma dama demora, mais ela surpreende com sua beleza ao chegar.
— Bom, isso é verdade. — o velho olhou para mim — Está muito bonita esta noite, senhorita.
— Agradeço, milorde. — voltei meu olhar para James e sorri em agradecimento a ele também.

Tessa adentrou a sala e cochichou algo no ouvido de James, que logo anunciou que o jantar estava servido. Fomos todos para a sala de jantar. Mamãe fez questão de me colocar sentada ao lado de lord Smith, talvez para me lembrar que ela estava no comando.

— Diga-me lord Smith, como andam as coisas em Liverpool? — perguntou James — Soube que o senhor tem investido parte de sua fortuna em negócios com os espanhóis.
— Sim. — o velho mantinha sua atenção na carne que partia em seu prato — Eles não possuem tanta etiqueta quanto nós, mas são bons apreciadores de vinho.
— Verdade, havia me esquecido que o senhor é detentor de uma vasto vinhedo em Liverpool. — comentou minha mãe — E mais uma vez agradeço por nos presentear com esta safra.

Que bom que ela havia mencionado, já não estava mesmo com vontade de beber vinho aquele dia.

— O Acorde não é considerado o melhor vinho da Inglaterra por acaso. — disse se gabando — A tradição do cultivo e fabricação ainda ganha desses avanços da indústria.
— Acredito que sim.
— Além de dar ainda mais peso monetário as nossas safras. — ele deu um suspiro de satisfação.

Como se sua fortuna fosse me impressionar.

— O senhor só possui vinhos em seu castelo, lord Smith? — perguntou Molly.
— Claro que não. — ele riu — Ah, que bom que mencionou meu castelo, gostaria de convidar-lhes para passar o final da primavera comigo em Liverpool, assim minha noiva já vai se acostumando com o clima do porto.

Assim que a palavra noiva saiu de sua boca, meus punhos se fecharam automaticamente apertando o garfo que estava em minha mão. E assim foi toda a noite, comigo em silêncio ouvindo lord Smith se gabar por toda sua fortuna e bens, na expectativa de que James faria algo. Mas não o fez.

— Você disse que me ajudaria, disse que faria algo e não o fez. — tentei não me alterar ao entrar no escritório de papai, onde ele estava lendo um jornal.
— Se acalme. — ele fechou o jornal e me olhou serenamente — Sua mãe pode lhe ouvir.
— Minha mãe já está dormindo, depois que ela toma seu calmante não ouve mais nada. — assegurei.
— Sei que está brava comigo, mas tenho uma explicação.
— Qual?
— Não fiz nada esta noite, pois tenho que conhecer primeiro meu inimigo para agir contra ele. — explicou.
— Faz sentido, e o que achou dele?
— Um velho egocêntrico e soberbo. — direto e preciso.
— Soube classificá-lo muito bem.
— Sua mãe está se deixando levar por isso, pela riqueza dele. — continuou — Porém, eu dei lhe minha palavra que a ajudaria.
— E ainda vais ajudar?
— Sim.
— Agradeço.
— Mas…

Mas… Porque será que eu já imaginava que teria esse mas.

— Mas?!

Ele se aproximou de mim, da mesma forma que o fez na noite passada.

— Tenho minhas condições.
— Condições? Pensei que quisesse me ajudar.
— E quero, porém, além de cavalheiro, sou um homem e como disse sinto-me ainda mais atraído por você.
— Você, está querendo que eu me case com você? — perguntei ingenuamente.
— Casar? — ele riu de mim.

Então acariciou minha face.

— Admito que és muito bela, em outros tempos seria a esposa ideal para mim… — continuou ele — Mas agora, tudo o que tens já é meu, não há nada que possa me oferecer ou me beneficiar me casando com você… Além do mais, já possuo uma noiva que pagará 50 mil libras por seu dote.
— Então, o que…
— Posso permitir que continuem aqui e com uma boa quantia, garantir que vossa mãe não a case com lord Smith e até mesmo pagar um dote para que Molly se case com o jovem doutor.
— Em troca?! — estava com medo do que viria a seguir.
— Em troca, não se casará com nenhum outro homem, e deixará a porta de vosso quarto aberta para mim, todas as noite.

O que?
Senti um aperto em meu coração, uma sensação de perda e queda ao mesmo tempo. Como se o último fôlego de vida estivesse sendo tirado de mim.

— Você está me propondo ser… James… — respirei fundo, puxando o máximo de ar que conseguia, me escorei na mesa, pois minha mente rodava com tudo aquilo — Diga que é brincadeira de vossa parte.
— Nunca fui tão sério em toda a minha vida. — ele se aproximou mais de mim para tentar beijar-me.
— Como podes me propor isso. — eu o empurrei, então bati em seu rosto — Jamais serei sua concubina, e a porta de meu quarto sempre se manterá trancada para você.
— Então se considere sem quarto a partir de hoje. — disse ele.

James se retirou do escritório, novamente me deixando lá, mas desta vez em lágrimas.

Por que você é assim?
Por que você é assim?
Já sou o cara mau da história.
- Keep Your Head Down / TVXQ



3. My Answer

Londres, primavera de 1947

As palavras de James se confirmaram na manhã seguinte, quando ordenou que saíssemos até o pôr-do-sol. Minha mãe não imaginava o que estava acontecendo, nem Molly, mas certamente se soubesse, talvez me forçasse a aceitar a proposta de James até o casamento com lord Smith. Algo meio duro a se imaginar vindo de minha mãe, mas considerando o fato dela nunca ter tido tanto afeto por mim quanto tens por Molly, começava a acreditar que sim, seria possível ela ter essa atitude.

— Vim assim que recebi vosso recado. — disse Nalla ao me encontrar no jardim da casa do doutor Gale.

O primeiro lugar que pensamos pedir abrigo.

— Podemos continuar aqui no jardim? — pedi a ela — Não quero minha mãe ouvindo nossa conversa.
— Claro. — ela me abraçou — Diga-me o que houve? Seus olhos estão inchados.
— De tanto chorar. — respondi — Estou descontando cada lágrima que reprimi desde a morte do meu pai.
— Minha amiga, lord White estava se mostrando tão caridoso, o que houve?
— O que meu lado racional estava me dizendo o tempo todo. — respondi — Ele não é digno de confiança Nalla, nunca foi.
— Podes explicar-me direito.
— Ele queria que eu fosse vossa concubina.
— O que? 
— Isso mesmo que ouviste. — assegurei — Primeiro, disse-me que ajudaria com a anulação do meu casamento com o lord Smith, depois propôs como condição que eu me tornasse… — não segurei as lágrimas e as deixei cair — Ele disse que eu não deveria me casar com ninguém, e deveria manter a porta do meu quarto aberta para ele todas as noites.
— Céus… — ela arregalou os olhos, também sem reação — Como ele pode dizer tais palavras? Graças a Deus que Sebastian se recusou a fazer negócios com ele.
— Não perderá em nada. — sequei minhas lágrimas com o lenço que estava na mão.
— Mas vossa mãe sabe disso? — perguntou ela.
— Não, e nem pretendo contar. — voltei meu olhar para o jardim — Seria vergonhoso demais para ela saber que vossa filha agora é vista como uma possível cortesã, que se presta a.... Onde estaria a minha honra agora?!
— Já lhe disse antes e repetirei, se precisar de qualquer coisa, não hesite em me procurar. — disse ela segurando minhas mãos — Sei o quanto vossa mãe se parece com Evelyn.
— Há muita diferença entre ambas Nalla, Evelyn é sua madrasta, é uma forte explicação por ela não gostar de você, mas minha mãe. — voltei a chorar — Nunca entendi o motivo de me tratar como me trata.
— Não se sinta sozinha, você tem a mim, sua irmã de coração. — ela sorriu com doçura.
— Obrigado. — sorri de volta limpando as lágrimas — Mas, vamos falar de algo bom, soube que irá para Paris.
— Quem te contou? — Nalla parecia impressionada por eu saber.
— Marg. — respondi — Vossa irmã veio me ver e acabou comentando.
— Aquela linguaruda. — brincou minha amiga rindo comigo — Sim, Sebastian disse que me deve uma lua de mel, então… 
— Espero que possa aproveitar bastante, nem me lembro quando foi a última vez que fui a Paris, papai nem havia descoberto de sua doença. — comentei — Mas estou feliz por você amiga.
— Agradeço. — ela deu um suspiro fraco — Mas eu estou preocupada com sua situação, vossa mãe e a história do lord White. 
— Fique tranquila Nalla, eu sei me cuidar e minha mãe não me forçará a nada. — forcei um sorriso tranquilo para que ela não se preocupasse mais.

Ela me abraçou forte. Nalla era mesmo uma grande amiga, a irmã gêmea que eu sempre quis ter e nunca pude. Nós conversamos mais um pouco sobre as loucuras de sua sogra a senhora Poppy, e de como a mesmo se esforçava para deixar Nalla mais confortável na família. Assim que ela partiu, segui para o quarto em que estava instalada e por lá permaneci o resto do dia lendo o único livro que pude levar comigo: o diário de aventuras do papai. Ele havia se aventurado muito quando jovem, fez questão de escrever algumas curiosidades para que eu pudesse ler quando sentia saudades dele em suas viagens.

Foi assim nos dias que seguiram. Eu permaneci confinada em meus aposentos remoendo tudo de ruim que estava me acontecendo, em alguns momentos chorava e em outros somente ficava olhando para o céu da sacada da janela. Nem mesmo Molly conseguia me tirar do quarto ou fazer-me abrir a porta, todos só viam meu rosto nos horários das refeições, porém algumas eu nem comparecia.

Estávamos vivendo de favor, sem dinheiro e nenhuma perspectiva de futuro, pelo menos eu não tinha, não tinha escolha a não ser fugir em extremo caso. Mas se o fizesse, como seria depois? Foi quando algo surpreendente me aconteceu, recebi uma carta do senhor Baker me convidado para um chá. Por que aquele burguês me convidaria para algo tão trivial entre as mulheres, ou melhor, que assunto ele provavelmente teria a se tratar comigo? 

— Então senhorita, que resposta eu levo para o meu senhor? — disse o mensageiro para mim no hall de entrada da casa do doutor Gale.
— Bem…
— O que está acontecendo aqui?! — perguntou minha mãe ao entrar, vindo da sala, lançando-me um olhar desconfiado — Quem é este serviçal?
— Milady, estou aqui a serviço do senhor Baker. — respondeu o homem prontamente.
— O que o seu senhor quer com minha família? — perguntou minha mãe.

O homem ficou em silêncio. Então minha mãe desviou seu olhar para o bilhete em minha mão e o arrancando de mim, começou a ler.

— Por que o senhor Baker te enviou este bilhete?! — perguntou ela em seu tom rude habitual.
— Eu não sei mamãe. — respondi mantendo meu olhar nela.
— Pois bem. — ela desviou seu olhar para o homem — Diga a seu senhor que minha filha não aceita este convite e que ele não deveria tentar cortejar uma donzela comprometida.
— Eu não estou comprometida. — a confrontei novamente.
— Está sim e não me contrarie, vá para seu quarto. — ela elevou um pouco o tom de sua voz.

Segui suas ordens sem contestar, não tinha forças para lutar contra suas imposições, não naquele momento. Entrei no quarto e me tranquei, dali não sairia nem sob ameaça de morte. Logo à noite, após um pedido gentil do doutor Gale, compareci ao jantar mantendo-me em silêncio todo o momento, não quero admitir, mas já estava tornando-se desgastante toda esta situação, sentindo-me sufocada por todos.

— Se achas que vai fugir de mim assim Allen, está muito enganada. — disse minha mãe ao entrar atrás de mim em meu quarto.
— Fugir mãe? — eu a olhei — Para onde achas que eu poderia fugir?!
, todas nós estamos sobrecarregadas com esta situação, a morte de vosso pai abalou nossa família e estamos desamparadas agora, mas isso não significa que não podes confiar mais em mim. — sua voz suavizou — Sou sua mãe e quero o vosso bem, por isso preciso que entendas que o casamento com o lord Smith é a melhor saída.
— Para quem mamãe?! — perguntei ao me sentar na cadeira ao lado da janela e olhar para fora — Para a senhora? 
— Para todas nós. — respondeu com seu ar superior — Ele é um homem íntegro e honrado, possui uma grande fortuna e se em dois ou três anos você lhe der um herdeiro homem, ficará tudo certo caso ele venha a falecer.

Eu não me dei o trabalho de retrucar suas palavras, estava cansada demais para outra discussão. Ela ficou falando mais algumas coisas sobre o lord Smith e de como estava contando comigo para honrar o nome da nossa família, afinal depois de termos sido despejadas por lord White, toda a sociedade londrina já comentava o assunto.

— E não pensei que eu não sei o motivo daquele usurpador ter nos despejado. — sua voz estava mais fria do que o normal.
— Do que está falando?! — eu me levantei da cadeira e a olhei.
— Estou falando da proposta que lord White lhe fez. — respondeu sem rodeios.
— Como soube?!
— Ele mesmo me disse antes de nos expulsar, queria que eu a obrigasse a aceitar. — explicou abaixando ainda mais sua voz.
— E o que a senhora disse? — indague.
— Estamos aqui, não estamos? — sua resposta subjetiva era de forma entendível.

Estava um tanto quanto surpresa, talvez não esperasse por essa reação vindo dela.

— Você é minha filha, e tem um nome a zelar. — continuou.

Está explicado. Não era por mim, mas por sua própria honra e talvez pela de Molly, claro que mamãe não pensaria em mim a primeiro momento, se o fosse, não me faria casar com lord Smith.

— Estou cansada mamãe, poderia deixar-me sozinha agora? — pedi num tom baixo.
— Vou deixá-la descansar, mas espero que possa refletir sobre suas vontades, pense bem no que estamos passando . — ela se voltou para a porta — Ah! E quanto ao senhor Baker. Mantenha-se afastada.
— Sim senhora.

Esperei até que ela saísse para enfim trancar a porta. Mas é claro que eu não me afastaria, só do fato de incomodar minha mãe, o bilhete do senhor Baker me fazia ficar ainda mais curiosa. Meu pai sempre dizia que a curiosidade matava as pessoas, mas que dependendo do caso, valeria a pena morrer. Lá no fundo eu não me importava mais com o que pudesse me acontecer, eu morreria só para descobrir o que o senhor Baker queria comigo.

- x - 

— Nalla! — disse assim que minha amiga desceu as escadas de sua linda casa para me receber.
! — ela sorriu ao me ver, e logo veio me abraçar — Que prazer recebê-la minha amiga.
— Eu que agradeço vosso convite. — disse retribuindo o abraço — Sabes como minha mãe anda.
— Fiquei perplexa quando li vossa carta, mas sabia que lady Daisy não negaria um pedido meu para que pernoitasse em minha casa hoje. — ela segurou em minha mão e começou a me conduzir até a sala.
— Quem negaria um pedido assinado pelo senhor Winchester em pessoa. — comentei rindo — Minha mãe ficou até assustada ao ver o selo dele em sua carta.
— Sempre que quero convidar alguém, uso o selo dele, pois sei que não será recusado o convite. — ela deu um sorriso travesso de criança.
— Pois fazes muito bem. 
— Agora conte-me. — ela me puxou para sentarmos no sofá — Porque desejas pernoitar aqui?
— Preciso de vossa ajuda Nalla.
— No que estiver ao meu alcance.
— Acho que estará, se vosso marido não ficar furioso ou desconfortável.
— O que tem Sebastian?
— Há alguns dias eu recebi um bilhete do senhor Baker, convidando-me para um jantar em vossa casa, porém minha mãe interceptou e acabou por me proibir de manifestar qualquer interesse em aceitar.
— Nossa. 
— Ela ainda insiste na ideia de casar-me com lord Smith, já está fazendo planos para que nos mudemos para Liverpool no verão.
— Ah minha amiga, e como posso te ajudar?
— Eu não sei exatamente o que o senhor Baker quer comigo, mas…
— Precisas encontrar com ele sem que lady Daisy saiba.
— Exatamente.
— E por que achas que Sebastian ficaria desconfortável? Ele e o senhor Baker são amigos e sócios em alguns assuntos.
— É que… Estou pensando em usar vossa casa para esse encontro.
— Não se preocupe, vossa mãe não pode controlar quem entra ou sai de minha casa, posso convidar qualquer um para o jantar de hoje. — ela sorriu para mim, como se tivesse articulando algo em sua mente — Mandarei um bilhete ao escritório de Sebastian no porto, neste momento ele deve estar em reunião com o senhor Baker.
— Faria isso por mim?
— É claro que sim. — ela manteve sua mão segurando a minha — Jamais me negaria e Sebastian jamais negaria um pedido meu.

Segurei um pouco minha ansiedade misturada a inquietação interna, mas certamente meus olhos estavam brilhando ao saber que Nalla ajudaria-me. Segui seus movimentos com o olhar, ela se afastou um pouco de mim e escreveu um bilhete, logo pediu para que Isla enviasse ao senhor Winchester no porto com urgência. A primeira parte estava concluída, agora eu só deveria esperar até o jantar e me aprontar para o evento.

Marg também estava hospedada na casa de Nalla, desde que a irmã se casou, ela pensava em passar uma temporada em Londres. Como sempre, minha amiga pensava em tudo, e pouco antes dos cavalheiros chegarem, ela me emprestou um de seus vestidos novos para que eu usasse na ocasião. Muito gentil de vossa parte.

?! — disse ela ao dar dois toques na porta do quarto em que estava hospedada.
— Sim. — continuei me olhando no espelho — Pode entrar.
— Está pronta minha amiga? Marg já desceu e Sophie foi com ela, falta apenas nós duas.
— Estou tomando coragem, sei que o que fiz terá consequências amanhã.
— Então preocupe-se com isso quando o amanhã chegar. — ela sorriu para mim e estendeu sua mão — Vamos?
— Vamos. — sorri de volta e segurei em sua mão — Obrigado amiga.

Descemos juntas entre risos e sorrisos, até que minha face ficou séria assim que meus olhos viram Baker.

— Boa noite cavalheiros. — disse Nalla indo até Sebastian e se colocando ao seu lado — Esta é lady Allen, uma convidada minha. 

Sebastian mantinha seu olhar fixo em Nalla como se não houvesse mais ninguém ao seu redor, já o senhor Baker parecia surpreso em me ver ali.

— Não se preocupe , logo vai se acostumar. — disse Marg ao me dar o braço.
— Do que fala? — a olhei confusa.
— Da forma em que o senhor Winchester olha para minha irmã. — respondeu — Ele não tira os olhos dela.
— Já ouvi comentários sobre isso, mas nunca prestei muita atenção. — comentei com ela, mantendo o tom baixo.
— Mas é claro que não, já que tem outro olhar em vossa direção. — ela soltou uma risada baixa.

Meu olhar voltou para o senhor Baker que mantinha sua atenção em mim. Estávamos ali e eu não sabia o que fazer, permaneci sentada no sofá com Marg ao meu lado com seus assuntos sobre ir a Paris com Nalla, enquanto minha amiga permanecia na poltrona ao lado rindo da irmã, e no outro canto da sala ambos os cavalheiros conversando e seus olhares nas respectivas damas que os interessava.

Foi então que Nalla sussurrou para que eu fosse até o escritório de seu marido. Mas é claro que minha amiga também tinha pensado nisso, eu precisava de um momento a sós com o senhor Baker e ali seria o melhor lugar possível da sua casa. Eu me levantei discretamente e em passos suaves segui para o corredor da lateral leste onde ficava o escritório, assim que entrei caminhei até a janela e fiquei olhando para o jardim. 

— O que desejas comigo? — perguntei assim que senti alguém entrar, sabia que era ele.
— Achei que não quisesse estar em minha presença. — ouvi seus passos adentrando mais o lugar.
— Perdoe-me pelas palavras pronunciadas por minha mãe. — disse em explicação — Ela é um tanto quanto protetora.

Gostaria de acreditar em minhas próprias palavras.

— Mas não me respondeu. — me virei para ele — O que desejas?!
— Soube que tens um noivo, casamento arranjado. 
— Suas fontes andam desatualizadas.
— Então o lord Smith anda mentindo para muitas pessoas em Londres. — ele sorriu de canto.
— Eu não irei me casar com ele, se é isso que desejas saber, nem que me custe a vida. 

Eu não deveria dizer isso na frente de um desconhecido, mas já estava encrencada mesmo.

— Sabe, quando nos encontramos em minha biblioteca, você disse que eu só entendia 50% do que estava passando. — pronunciou ele, mudando levemente de assunto — Mas na verdade, poderei passar pelo mesmo.
— Do que está falando?
— Eu estou a duas semanas de perder minha herança e tudo pelo que conquistei. — ele se encostou na mesa e colocou as mãos nos bolsos da calça — Por uma irônica cláusula no testamento do meu pai, ele sabia que como herdeiro único o bastardo ficaria com tudo, então tinha que dificultar.
— Eu não sei o que dizer. — estava um tanto solidária — Mas, o que deves fazer?
— Casar-me. — ele manteve seu olhar para mim, esperando que eu entendesse o propósito de nossa conversa.

Como de fato eu entendi.

— Mas por que eu? — perguntei curiosa.
— Eu preciso de ajuda e você de uma nova opção. — explicou ele.
— Não é uma resposta muito convincente.
— E eu disse alguma mentira? — retrucou.
— Com seu dinheiro, você poderia se casar com qualquer donzela de Londres. — voltei meu olhar para o vitral da janela — Candidatas não lhe faltam, tenho certeza.
— Acreditaria se eu dissesse que lhe tenho como minha única escolha? — senti uma movimentação dele — Não é exatamente o tipo de casamento que deve ter sonhado.
— Não seria mesmo, tens razão. — o olhei novamente.
— Mas a decisão é vossa. — ele se virou para se retirar.
— Espera. — respirei fundo, não sabia mesmo o que dizer.
— Sim?!
— Posso lhe dar a respostas ao final do jantar? — perguntei.
— Como quiser.

Não era um não, mas também não era um sim. Eu precisava de tempo para pensar, era aquilo ou lord Smith, ou quem sabe fugir e ser uma mendiga pelas ruas de alguma cidade inglesa. Quanto mais eu pensava sobre o que deveria fazer de meu futuro, mais eu ficava desnorteada com tudo. E se eu aceitasse? O que aconteceria com minha mãe? Ela jamais aceitaria. Passei todo o jantar em questionamentos internos, mantendo-me em silêncio e totalmente distante.

Após a sobremesa, sai para respirar ar puro no jardim de Nalla, estava um tanto quanto encantada com sua fonte. Fiquei parada em sua frente olhando as águas caírem tranquilamente.

— Tenho minha resposta. — disse sentindo um doce perfume no ar, já reconhecendo de quem seria.
— E qual é?!
— Eu… — voltei meu olhar para ele — Aceito.

Ele se manteve sério, mas pude perceber em seu olhar que estava surpreso com a resposta.

— Mas…
— Mas?!
— Provavelmente minha mãe não irá concordar. — engoli seco pensando na reação que ela provavelmente teria.
— Não se preocupe, o que importa é a vossa decisão. — seu olhar seguro para mim, me fez sentir tranquilidade — Eu convencerei a vossa mãe.

Eu posso parecer forte, até mesmo sorrir, mas na verdade eu estou tão sozinho
Pode até parecer que eu não tenho nenhuma preocupação, 
Mas na verdade eu tenho muito a dizer,
A primeira vez que te vi, me senti tão atraído por você,
Andando sem rumo, Não pude dizer uma palavra.
- My Answer / EXO



4. Baker

Londres, outono de 1947

Eu não imaginava que o senhor Baker conseguiria convencer minha mãe tão facilmente a aceitar nosso acordo de casamento. Talvez, o fato de ter lhe prometido um belo e confortável chalé em sua propriedade em Derbyshire, ou fornecer o dinheiro para o dote de Molly, certamente foram primordiais. Eu ainda não entendia as atitudes de minha mãe, sempre em defesa de minha irmã e crucificando-me como eu também não fosse vossa filha, porém, não iria mais deixar-me abalar por suas atitudes. Felizmente passar todo o verão concentrada nos preparativos do meu casamento, deixou minha mente mais do que ocupada para pensar em outras coisas.

— Estou feliz por você minha amiga. — Nalla me abraçou forte — Vossa festa de casamento está tão bela quanto a minha.
— Lord Baker deixou-me escolher tudo que eu queria, não hesitou em pagar por tudo. — comentei.
— Bem, parece que ele tem algo em comum com Sebastian. — ela riu.
— Quem diria, nós duas nos casando nessas circunstâncias. — a olhei tentando não me entristecer.
— Sua situação consegue ser mais delicada do que a minha . — admitiu ela — Mas assim como estou descobrindo a felicidade com Sebastian, espero que possas encontrar também com o senhor Baker. — seu olhar estava esperançoso.

Sentia a sinceridade em suas palavras.

— Estou sentindo um frio em minha barriga, acho que desde o momento em que subi ao altar. — confessei — Agora olhando para os convidados, meu coração se mantém acelerado.
— Está nervosa por vossa noite de núpcias? — perguntou-me ela.
— Sim. — até mesmo minhas mãos estavam frias — Um pouco, não sei como agir.
— Se acalme minha amiga. — ela segurou em minhas mãos —Tenho certeza que o senhor Baker irá tratá-la da forma mais serena possível.
— Também ficaste assim em sua primeira noite com o senhor Winchester? — perguntei curiosa.
— Um pouco, eu não sei explicar, Sebastian desde o início conseguiu me atrair de uma forma surpreendente, meu corpo todo reage às suas ações de forma natural. — explicou ela.
— Percebo que ambos realmente foram feitos um para o outro. — admiti.
— Vais monopolizar a noiva Nalla? — perguntou Margareth ao se aproximar de nós.
— Nalla está me ajudando a não desabar nesta festa. — defendi minha amiga — Acho que estou começando a entender como se sente Nalla.
— Em que sentido? — perguntou minha amiga.
— As pessoas só compareceram ao nosso casamento por causa do senhor Baker. — expliquei — Afinal, agora eu somente sou a filha falida de um lord falecido.
— Eu estou tentando não me importar mais com essas coisas, afinal, Sebastian não gosta de participar desses eventos sociais. — comentou ela — E você Margareth, onde estava? Não a vejo desde o final da cerimônia.
— Estava com minha mãe e a Freya, mas agora consegui escapar de ambas. — explicou — Vim para desejar-lhe felicidades. — ela me abraçou — , você merece.
— Agradeço Marg, sei que vindo de vós, é honesto e sincero.
— Acho que já está na hora de nos retirarmos. — disse Nalla ao perceber a aproximação de nossos maridos — Senhor Baker, mais uma vez felicidades por vosso casamento.
— Agradeço milady. — ele olhou para mim, mesmo sua face sério seu olhar era sereno.
— Mais uma vez, agradeço por ter vindo minha amiga. — desviei meu olhar dele e abracei Nalla que retribuiu.
— Sebastian, deixarei aquele assunto para que resolva. — disse o senhor Baker mantendo o olhar em mim.
— Não se preocupe, eu resolverei. — assentiu o senhor Winchester mantendo seu olhar em Nalla.

Nos despedimos dos outros convidados que foram se retirando com discrição. Permaneci por alguns minutos sentada na chaise ao lado do piano, mantive meu olhar na aliança em meu dedo. A partir daquele dia eu seria a senhora Baker, seria mais um ciclo que se iniciava em minha vida, nunca imaginaria que a vida traria tantas reviravoltas em um curto espaço de tempo. 

— Senhora Baker. — a voz do senhor Baker despertou-me dos meus pensamentos — A senhorita Hill irá lhe mostrar vossos aposentos.
— Agradeço. — levantei-me e olhei para a governanta de traços orientais.
— Lhe darei alguns minutos para se acomodar. — anunciou ele.

Assenti com a face e segui a governanta em direção as escadas. Eu somente conhecia a parte térrea de vossa casa, mas me intrigava como seriam os quartos daquele lugar, por ser uma família de burgueses certamente seria parecidos com os quartos da casa do senhor Winchester. Hill abriu uma das portas e assim que entramos, me deparei com um luxuoso quarto, era notório os lençóis de linho egípcio na cama, assim como as cortinas francesas nas grandes janelas. Uma camisola de seda me aguardava em um cabide próximo ao banheiro que tinha dentro do quarto.

Minhas pernas tremeram um pouco e senti minha respiração falhar.

— Senhora, desejas ajuda para se trocar? — perguntou Hill.
— Sim, por favor.  —eu estava tão nervosa que tinha medo de estragar algo enquanto tentava me trocar.

Assim que retirei o belo vestido de renda dinamarquesa com qual havia me casado, e coloquei a camisola de seda, Hill me ajudou a soltar as presilhas em meu cabelo e os penteou de leve.

— Agradeço, senhorita Hill. — disse ao me virar e retirar o pente de sua mão — Mas acho que posso continuar daqui.
— Como desejar senhora. — ela sorriu de leve e se afastou um pouco me observando.

Em um piscar de olhos a maçaneta virou e a porta abriu, o senhor Baker entrou no quarto e olhou para Hill, logo ela se retirou fechando a porta. Lentamente ele foi se aproximando de mim, com a mesma intensidade meu coração foi acelerando.

— Senhor Baker… — sussurrei, abaixando minha cabeça.
— Não precisa ter medo. — ele tocou de leve em meu queixo, erguendo minha face — Podes me chamar de , agora estamos casados e não precisas de formalidades comigo.

Assenti com o olhar.

— O que acontecerá agora, ?! — perguntei insegura por sua resposta.
— Este é seu, soube que os nobres dormem em quartos separados. — respondeu ele — O meu está na porta ao lado, espero que fiques à vontade, esta casa agora também é vossa.

Ele se afastou um pouco e olhou para o lado.

— Agradeço por ter aceitado minha proposta… E por saber que não sentes nada por mim, não a forçaria a fazer algo que não queira. — ele me olhou novamente com seriedade — Mas para todos fora destas paredes, seremos um casal completo. 
— Perdoe-me, mas não vos entendi. — disse um tanto quanto confusa em suas palavras.

Ele retirou um punhal do bolso de seu casaco e cortou sua mão esquerda, assustando-me de imediato. Levei a mão a boca, no susto, sem entender o propósito de suas ações.

— Senhor… ?!
— Deixe as criadas verem. — continuou ao deixar seu sangue escorrer pelo lençol branco — Elas cuidarão de anunciar que esta noite foi consumada.

Ele se aproximou de mim e pegando o lenço que estava na penteadeira ao meu lado.

— Este é o nosso segredo. — finalizou envolvendo o lenço em sua mão ensanguentada.

Assenti, ainda estática.
Assim que ele se retirou, meu olhar se voltou para o lençol sujo, não conseguia entender o motivo dele ter feito aquilo, mas ao mesmo tempo estava aliviada por seu ato cavalheiro. As semanas que se passaram não havia outro comentário pelas ruas de Londres se não as comparações entre meu casamento com e o casamento de Nalla com o senhor Winchester, ou seja, ambos por acordos relacionados ao dinheiro. Pelo menos minha amiga tinha a sorte de saber que vosso marido a amava de uma forma inexplicável e ela já estava retribuindo este amor a ele. Quanto a mim, somente via pela manhã no horário do café, ele passava o dia em seu escritório no porto e quando estava em casa, se mantinha na biblioteca trabalhando também.

também passava as noites fora, não sabia onde ou com quem estava, apenas que chegava antes do nascer do sol para que eu pudesse ter um pouco de vossa companhia.

. — disse Nalla ao se aproximar de mim.

Estava em minha caminhada ao final da tarde no Hyde Park. 

— Nalla. — eu a abracei — Perdoe-me não ter aceitado vosso convite para o chá na semana passada. 
— Não se preocupe, se não compareceu é por ter motivos. — minha amiga sempre compreensiva — Mas, aconteceu algo grave?
— Molly pegou um resfriado e minha mãe decidiu tratá-la aqui em Londres, ficaram hospedadas em minha casa. — expliquei.
— Bem que Marg me disse que havia visto lady Allen em uma Delicatessen. — comentou ela.
— Marg ainda está hospedada em vossa casa? — perguntei admirada.
— Ela não quer mais a vida em Derbyshire. — brincou.

Rimos um pouco.

— E onde ela está? — a olhei.

Era estranho ver Nalla passeando sozinha pelas ruas da cidade.

— Parou para olhar alguma vitrine com Sophie. — respondeu — Minha irmã é uma verdadeira consumista, precisa arrumar um marido que se adeque a seus gosto por luxo.
— Isso é verdade. — concordei.
— Seu olhar não me parece muito feliz. — observou ela — Algo vos chateia?
— Está tão visível assim? — voltei meu olhar para o lado, vendo uma senhora passar com uma criança nos braços.
— Sim. — ela segurou em minha mão — , somos amigas desde criança, vos conheço a muito tempo, algo te aflige não é?
— Muitas coisas me afligem.
— Quer conversar sobre? Podemos ir para minha casa.
— Não quero atrapalhar vosso passeio.
— Ah, por favor, quase todos os dias Marg me faz caminhar com ela pelas ruas, isso sem contar a senhora Poppy. — ela sorriu — Vejo que precisas desabafar.

Assenti, pois precisava mesmo conversar com alguém e a única pessoa que tinha em mente era ela, a única que confiava. Assim que chegamos em sua casa, Nalla me guiou até a biblioteca, onde teríamos privacidade, no caminho pediu para Isla preparar-nos um chá de ervas e servir no jardim.

— Agora estamos a sós, podes contar-me. — disse ela assim que nos sentamos nas poltronas perto da janela.
— Nem sei por onde começar. — disse receosa.
— Comece pelo início. — brincou.
— Eu… Eu…
— Você?! — Nalla me olhou preocupada.
— Eu ainda sou virgem. — assim que as palavras saíram de minha boca, senti um peso sendo retirado de mim.
— O que? Como podes, é uma mulher casa por mais de três meses. — ela estava estática — então vosso casamento não foi…
— Consumado?! Não.
— Sinto perplexa diante de tal notícia. — ela colocou a mão na altura do peito, parecia tentar assimilar minha confissão — Mas, qual o motivo?!
— Minha primeira noite não foi como a vossa, tão pouco meu casamento é como o vosso. — respondi sem haver uma resposta precisa — disse que não me forçaria a fazer algo que eu não quisesse, então…
— Bem, houve boatos que as criadas viram…
— O sangue nos lençóis não era meu. — expliquei — Era dele, fiquei tão estática quanto vós agora, ele cortou sua própria mão e deixou cair sobre a cama, para que achassem que nosso casamento havia sido consumado.
— Um tanto quanto cavalheiro. — admitiu ela — Mas seu olhar triste é por isso?
— Não sei bem. — pensei por um momento — É diferente quando estou perto dele, é um homem respeitador e interessante, faz questão de passar todas as manhãs comigo para que não me sinta sozinha.
— E?!
— Quando chega à noite, meu coração palpita de ansiedade esperando que ele entre pela porta para ter mais tempo com ele. — perdi-me um pouco em meus pensamentos — Será que estou tendo algum tipo de afeto por ele?
— Talvez. É difícil estar casada com um homem e conviver com ele sem que nasça algum sentimento. — respondeu minha amiga.
— Em seu caso pelo menos há muito contato físico para isso. — errada eu não estava.
— Mas o amor não se constrói somente pelo contato físico. — retrucou — Vocês dois costumam conversar sobre o que?
— Livros, viagens, ele me contou algumas histórias sobre piratas na manhã passada. — suspirei de leve — Gosto de ouví-lo, sua voz se torna uma canção para mim.
— Acho que está criando bem mais do que somente afeto por ele.
— Gostaria de conhecê-lo um pouco mais.
— Ah, neste ponto somos parecidas. — ela riu — Sebastian é tão silencioso e reservado quanto ao seu passado.
— Não descobriu mais nada sobre ele?
— Não. Mas não perdi a esperança.

Em segundos de reflexão, a porta da biblioteca se abriu. Nossos olhares foram em sua direção em conjunto e lá estava nossos maridos juntos nos olhando.

— Sebastian. — Nalla se levantou primeiro e caminhou até ele — estava em um passeio pelo Hyde Park quando encontrei .
— Você se divertiu? — o olhar do senhor Winchester estava fixo em sua esposa.

Assim como os olhos de estavam fixos em mim.

— Sim, então a convidei para o chá. — respondeu ela — Mas, ficamos tão envolvidas com nossa conversa.
— Que bom que a convidou, estava convencendo a jantar conosco. — o senhor Winchester olhou para meu marido — Mas ele estava relutante pois queria passar a noite com vossa esposa.

O olhar de saiu de mim e se virou para ele de forma atravessada, como se reprovasse o seu comentário. 

— Agradeço o convite, mas sinto-me um pouco cansada. — me levantei da poltrona tentando não olhar para meu marido.
— Lamento ter que recusar, mas não posso obrigar minha esposa indisposta a aceitar vosso convite. — se aproximou de mim e pousou sua mão em minha cintura, fazendo meu coração acelerar um pouco — Está tudo bem?!
— Sim. — sussurrei quase prendendo a respiração com seu toque — Só preciso ir para casa.

Já havia se tornado uma rotina constante tocar em minha cintura quando estávamos próximos um do outro, principalmente nas recepções em que comparecemos, ele não ficava tanto tempo distante de mim. Nalla disse que o amor não se formava somente com o contato físico, mas toda vez que sentia tocar em minha cintura, minhas pernas bambeavam um pouco. 

— Amanhã continuamos nossa conversa sobre aquele assunto. — disse ao amigo.
— Mais posso esperar. — o senhor Winchester sorriu de canto disfarçadamente e voltou seu olhar para a esposa.
— Desejo-lhe uma boa noite de descanso minha amiga. — Nalla sorriu para mim, seu olhar observador era visível, principalmente por eu estar apoiada a .

Seguimos sendo guiados por Lee até a porta de entrada, nossa carruagem já nos aguardava do lado de fora. Passei todo o caminho com meu coração acelerado, sentido o perfume de entrar em minhas narinas, assim que chegamos em nossa casa eu me coloquei perto da janela olhando a rua. Não sabia o que estava acontecendo comigo, ter sua presença à noite era uma surpresa que eu desejava que acontecesse, afinal somente em ocasiões especiais ele passava as noites em casa. Ou seja, quando hospedamos minha mãe e Molly.

— Tens certeza que está tudo bem? — perguntou ele ao se aproximar de mim e tocar em minha face para que o olhasse.
— Sim. — sussurrei tentando não olhá-lo.
— Não é o que sinto em vossa voz. — insistiu colocando a outra mão em minha cintura, me aproximando dele — Sou seu marido, podes me contar. Está triste, percebo isso há alguns dias.
— É impressão sua. — o olhei — Apenas estou cansada por ter caminhado hoje.
— Se insiste em tomar isso como sua resposta. — seu olhar permanecia sereno para mim.

Era visível que ele não acreditava, mas respeitaria meu silêncio. Senti sua mão percorrer por minha face, até tocar meus lábios, um frio passou por minha barriga. O que ele estava fazendo? Queria deixar-me louca?

— Como consegues… — sussurrou ele.
— O que eu consigo?! — perguntei confusa.
— Agir assim… Enquanto eu…

Ele nem mesmo terminou sua frase, antes de seus lábios tocarem os meus. Um beijo suave de início, mais se intensificando de forma inesperada, sentia até mesmo o gosto da malícia ao seus braços envolverem em minha cintura. Uma explosão dentro de mim, fazia meu corpo arrepiar espontaneamente. 

— Perdoe-me. — sussurrou ele com seu rosto ainda próximo ao meu.

Ele se afastou e seguiu para o corredor em direção ao seu escritório. Permaneci paralisada com seus atos, enquanto meu coração continuava acelerado, encostei de leve meus dedos em meus lábios e um sorriso surgiu em minha face. Não sabia como me sentir nem mesmo o que pensar.

— Como ele pode me beijar assim e depois se desculpar?! — quanto mais tentava entender, mas me sentia confusa.

Subi as escada e segui para meu quarto, assim que entrei, dei alguns passos até a penteadeira e logo me lembrei do meu primeiro dia naquela casa. De suas palavras sobre nosso casamento e de como me tratava com de forma gentil, carinhosa e em alguns momentos estranhos somente respeitável. Se tinha algum problema de bipolaridade, eis aí uma explicação para a forma em que me tratava diariamente, e por mais que tentasse não se aproximar muito de mim, assim como o senhor Winchester, meu marido havia criado um hábito natural de me olhar com máxima intensidade.

- x - 

Enfim chegara a primavera, minha estação favorita.
Minha mãe estava hospedada em nossa casa junto com Molly novamente, o que significava que a presença de também todas as noites para o jantar. Felizmente Tessa estava às acompanhando desta vez, por mais que eu lhe pedisse para trabalhar em minha nova casa, ela insistia em permanecer servindo minha mãe. Para minha surpresa, estava chovendo naquela tarde, estava um tanto preocupada com o passeio que Molly havia saído para dar com Jacob, afinal não confiava nele.

Encerrei minha leitura do dia e olhei para a janela por um tempo, toda aquela água escorrendo pelo vidro fez-me lembrar de minha irmã em seu passeio. Fechei o livro e o deixei na mesinha ao lado, me levantei da poltrona e saí do quarto, precisava falar com minha mãe. Tinha em meu pensamento que precisava enviar alguém para encontrar Molly e trazê-la em casa com segurança. Ao me aproximar do quarto em que a hospedei, havia uma pequena fresta da porta, que me proporcionou ouvir sua conversa com Tessa.

— Lady Allen, perdoe-me intrometer nesses assuntos, sei que sou somente uma criada e prometi guardar todos os segredos de vossa família, mas a forma que tratas a menina , a deixa a cada dia ainda mais triste. — as palavras de Tessa me confortou de alguma forma.

Ela sempre me defendia de minha mãe, mesmo sendo somente uma criada.

— Eu sei como tratar minhas filhas Tessa, espero que entenda, este assunto está encerrado. — a voz áspera de minha mãe era a habitual.
— Mas senhora…
— Entenda Tessa, jamais pode saber que não é filha do falecido lord Allen, já me basta a vergonha de vê-la casada com um burguês, não quero tocar no fato dela ser uma bastarda.

A primeira lágrima caiu juntamente com sua última palavra. Senti meu coração sendo dilacerado por completo, o homem que passei minha vida chamando de pai, não era meu pai. Agora estava tudo explicado, eu entendia o motivo de minha mãe não me tratar da mesma forma que Molly, ela não me amava por ser uma bastarda. Me afastei daquela porta e saí correndo pela casa até a porta de entrada, em minha mente não conseguia pensar em mais nada, somente na dor ao saber o segredo de minha mãe relacionado a mim. 

Passei pelo portão e saí correndo pelas ruas de Londres debaixo daquela chuva que a cada minuto se intensificava ainda mais. Sem direção certa, com minha mente atordoada, meus pés foram me guiando para o lugar mais inesperado: o escritório do porto de e do senhor Winchester. Ao entrar na recepção, a secretária estava ausente, dei mais alguns passos lentos em direção a sua sala, ele parecia estar em reunião com seu sócio, porém eu estava tão desligada dos detalhes que só continuei seguindo em vossa direção até que parei em frente a porta e escutei vossa conversa.

— Eu ainda penso que deves se confessar, já percebi seu olhar para ela. — era a voz do senhor Winchester — Não podes continuar a passar suas noites aqui no escritório trabalhando enquanto tens uma bela esposa a lhe esperar em casa.
— Eu não vou forçá-la a se apaixonar por mim, sabes como eu sou. — parecia relutante — Não se preocupe meu amigo, sei o que é amar sozinho, tome conta de vosso casamento e deixe que do meu cuido eu.

Amar sozinho?! Pensei comigo. Eu já estava abalada com a histórias de minha mãe, agora estava me sentindo ainda mais fragilizada.

— Só estou lhe aconselhando como fizeste comigo.
— Agradeço Sebastian, por ser um bom amigo. — disse .
— Acho que tem alguém na porta. — observou o senhor winchester.

Eu ouvi alguns passos até que a porta se abriu e meus olhos encararam os de . Não me contive e nem mesmo forças eu encontrava naquele momento, mesmo com meu rosto molhado, uma lágrima caiu de meus olhos e pode ser notada por ele. 

Antes mesmo que tivesse alguma reação, no impulso, meu corpo se jogou em direção ao dele e lhe abracei, agarrando-me em suas vestes. Desabei em lágrimas como uma criança abandonada, sendo amparada por seus braços envolvendo-me com segurança.

“Fico curioso pensando o quanto você gosta de mim,
Quero ser como seu diário, 
Para saber os segredos do seu coração." 
- Hug / Dong Bang Shin Ki



5. Destiny

Londres, primavera de 1948

Eu estava atordoada com todas aqueles pensamentos em minha mente, não tinha forças para entender o que se passava comigo e com meus sentimentos. As palavras de minha mãe misturadas a conversa de e o senhor Winchester só faziam minhas lágrimas descerem mais e mais. Meu coração se encontrava em agonia e tristeza.

— Está tudo bem, estou aqui por você. — sussurrou ainda abraçado a mim.
— Eu vou deixá-los a sós. — disse o senhor Winchester ao passar por nós — Terminamos nossa reunião amanhã.
— Agradeço. — se afastou um pouco de mim e fechou a porta assim que ele saiu.

Então segurou em minha mão e me guiou até o sofá onde nos sentamos. Ele me olhou com serenidade e um sorriso singelo se formou no canto do seu rosto, erguendo sua mão direita com um lenço, começou a enxugar minhas lágrimas juntamente com os pingos da chuva.

— Por que choras? — perguntou ele — O que te entristeceu?

Mantive meu olhar para ele, sem saber quais palavras dizer. 

— São tantas coisas que estão machucando meu coração agora, desde sempre me mantive forte por influências do lord Allen, e ele sempre se orgulhou de mim por isso. — comecei a dizer — Mas agora, sinto-me tão abalada.
— O que te abala?
— Segredos descobertos, isto me abala. — o olhei sentindo meus olhos marejarem novamente.
— Do que está falando? — seu olhar ficou preocupado.

Naquele momento, eu não estava nem pensando no assunto do nosso casamento, mas no que me levou até ele.

— Esta tarde, ao falar com minha mãe, a ouvi dizer que… — voltei a chorar por um momento, reunindo forças para contar-lhe — Eu não sou filha legítima do lord Allen.

Seu olhar fixou estático, mas logo suavizou. mais do que ninguém sabia o que é ser um filho bastardo, ele sabia como eu me sentia naquele momento, como doía para mim descobrir que o homem que me criou com tanto amor não era meu pai verdadeiramente.

— Você ouviu isso da lady Allen? — perguntou ele.
— Sim, cada palavra. — assenti.

Ele se aproximou mais e me abraçou forte, aninhei-me em seus braços sentindo segurança. Senti suas mãos acariciando meus cabelos, fechei meus olhos e comecei a ouvir as batidas um pouco aceleradas do seu coração, uma sensação boa passou por mim. Era confortável estar em seus braços, afinal depois daquele beijo em que ele se desculpou comigo, evitava se aproximar de mim, apesar de sempre ter a necessidade de pousar sua mão em minha cintura sempre ao estar em meu lado.

— Precisamos voltar para casa. — disse ele ainda abraçado a mim — Você está molhada, não a deixarei pegar um resfriado.
— Agradeço. — me afastei um pouco e o olhei — Por querer cuidar de mim.
— Você é minha esposa. Por que não cuidaria? — ele sorriu e se levantou erguendo a mão direita para mim — Deixe-me cuidar de minha esposa.

Assenti segurando em sua mão. Racionalmente eu deveria cuidar de um assunto por vez, assim conseguiria manter minha mente mais organizada. Seria bom tê-lo por mais tempo perto de mim, afinal antes de confrontá-lo, eu precisava de vossa ajuda para confrontar minha mãe. Seguimos para casa, assim que chegamos, Tessa nos recebeu na porta e comunicou que minha mãe estava na sala de visitas recebendo o Dr. Gale e Jacob acompanhada de Molly.

Pedi para subir ao meu quarto, não estava preparada para mais nenhum tipo de fortes emoções. Ao entrar em meu quarto acompanhada de e Hill, dei alguns passos até a janela, ainda chovia muito aquela noite.

— Ajude-a a trocar-se e se aquecer. — disse a criada — Eu vou até a sala de visitas.
— Você irá retornar, não é? — perguntei.
— Sim. — respondeu ele — Após cumprimentar nossas visitas e lembrar vossa mãe que esta casa é minha.

Seu olhar estava sério e intenso. Eu nunca havia visto o lado rude e áspero de , e pretendia nunca vê-lo, mas sabia que no mundo dos negócios ele era um homem muito sagaz e de causar medo. Porém, ao contrário do senhor Winchester que sempre se mantinha reservado, observador e silencioso no meio social, era um tanto quanto comunicativo, e a junção das qualidades de ambos os tornavam os homens mais poderosos do meio econômico da Inglaterra.

— Desejas um banho quente senhora? — perguntou Hill assim que ele saiu.
— Sim, claro. — assenti.

Permaneci olhando para as gotas de chuva que escorriam pela janela. Enquanto isso, Hill preparou um banho quente para mim. Após meu banho, coloquei uma camisola de linho, meu corpo ainda estava frio e eu precisava me aquecer para não pegar um resfriado, então coloquei por cima um casaco de camelo que havia me presenteado, após uma de suas viagens a Mongólia. Em meio aos meus pensamentos, olhando meu reflexo no espelho da penteadeira, fui despertada pelo barulho da porta de abrindo.

— Trouxe um chá para você. — disse ao entrar com uma bandeja em sua mão.

Estava surpresa por ele não pedir a criada para fazer isso. 

— Agradeço. — sorri de leve — Como estava o dr. Gale e seu filho?
— Ambos estão bem. — respondeu — Pedi a ele para que me receitasse algo para resfriado, caso precise.
— Eu ficarei bem. — olhei para seu reflexo no espelho.

Seu olhar permanecia preocupado, apesar da serenidade em seu rosto.

— Tome o chá. — ele deixou a bandeja em cima da mesinha ao lado da porta e se virou para sair.

— Sim? — ele se voltou para mim.
— Fique aqui, esta noite… Por favor. — mantive um tom baixo, quase em sussurro — Não quero ficar só.

Ele se afastou da porta dando alguns passos até mim, então pegou em minha mão fazendo-me levantar e olhá-lo. Logo seus braços foram se envolvendo a mim até que meu corpo se aninhou ao dele, me agarrei de leve em sua camisa e fechei meus olhos.

— Jamais a deixarei sozinha. — ainda que suave, sua voz tinha traços de tristeza.
. — sussurrei — Posso te pedir uma coisa.
— O que quiser.
— Preciso saber quem é meu pai de verdade. — respirei fundo — Me ajude a encontrá-lo, sei que minha mãe não irá dizer nem por todo dinheiro do mundo, e ainda negará as próprias palavras.
— Você não vai conversar com ela?
— Não. Não quero falar com minha mãe e ter ainda mais a vossa rejeição. — expliquei, me afastando um pouco e o olhando — Eu só tenho você agora. 

Ele sorriu e acariciou minha face. Senti meu corpo estremecer um pouco e sem lutar contra meu impulso irracional, ergui meu corpo e encostei meus lábios nos dele de leve, estava mesmo fora do meu controle. Aos poucos foi se rendendo e retribuindo o beijo com intensidade, aproximando ainda mais seu corpo do meu. Por um breve momento perdemos totalmente a noção de tempo e espaço, concentrados um no outro, até que…

— Perdoe-me. — sussurrou ele ao se afastar — Pelo beijo.
— Por que está dizendo isso? — perguntei sem entender — Fui eu quem te beijei.
— Você está abalada e com seus sentimentos confusos… Não quero que… — ele se virou para a janela — Acho melhor descansar.

Eu não conseguia entender. Quando me beijava parecia ter sentimentos por mim, assim como eu estava tendo por ele, porém agora estava se afastando novamente. Permaneci em silêncio e caminhei até a cama, já havia tido fortes emoções para um dia só, então retirei o casaco e me deitei, cobrindo-me. Ao cair da madrugada comecei a sentir calafrios, meu corpo tremeu involuntariamente.

— Eu estou aqui. — senti se deitar ao meu lado e me aninhar a ele — Você está com febre.
— Eu estou bem. — sussurrei sentindo mais frio ainda, porém me afastando um pouco dele.
— Não está. — ele me puxou para perto — Deixe-me cuidar de você.
— Agora você quer se aproximar de mim? — mantive meus olhos fechados, rendendo-me aos seus braços.
— Do que está falando? — perguntou.
— Eu ouvi… As palavras do senhor Winchester…
— Quais palavras?
— Sobre passar as noites no escritório. — confessei.
— Você está com febre, podes delirar um pouco…
— Não estou delirando.
— Descanse, amanhã falamos sobre isso.

Tentei esvaziar a minha mente e me render ao sono mesmo sentindo ainda mais frio. Dizer que na manhã seguinte tudo se resolveria era o meu desejo, porém passei o dia ardendo em febre até ser medicada pelo dr. Gale pouco antes do horário do almoço. Meu corpo parecia meio dolorido, e minha cabeça meio zonza, me rendi novamente ao sono logo após Tessa me forçar a tomar uma sopa de legumes.

Os dias se passaram com o silêncio pairando entre eu e . Ele continuava me tratando carinhosamente de forma natural, éramos como um casal de verdade exceto pelo acontecimento da nossa primeira noite juntos. Era visível o que ele sentia por mim, só não entendia o motivo de não se declarar.

. — disse minha mãe ao adentrar em meu quarto.
— Boa noite mamãe. — mantive meu olhar na janela.
— Vim para ver se está melhor. — explicou ela — O dr. Gale disse que sua febre baixou graças aos cuidados do senhor Baker.
— Sim. — concordei — Felizmente tenho alguém para cuidar de mim.
— Você tem a mim. — retrucou ela.
— Tem certeza mamãe?
— Vosso pai morreu, mas você ainda tem uma mãe.
— Não precisa mais fingir.
— Como?
— Eu sei que lord Allen não é meu pai. — revelei — Não negue, pois ouvi vossa conversa com a Tessa, mas não quero falar sobre isso, só queria que soubesse que eu já sei a verdade e agora entendo um pouco os motivos de não gostar de mim.
— Minha filha… — ela se calou por um tempo.
— Eu a perdoo mamãe, não se preocupe.

Ela ficou sem palavras para retrucar. Em segundos Tessa entrou no quarto com uma bandeja de frutas para mim, seu olhar ficou surpreso ao ver minha mãe.

— Pequena , trouxe algo mais leve para comer agora. — disse ela com a forma carinhosa de sempre.
— Agradeço Tessa. — sorri para ela, observando seus movimentos.
— Tessa, o senhor Baker está em casa?
— Não lady Allen, ouvi a governanta Hill dizendo que ele estava no porto. — respondeu.
— O lado homem de negócios nunca sai dele. — sussurrei.
— Bem, agora que sei que está bem, vou me retirar para que possa descansar.
— Milady. — Tessa a olhou.
— Sim? — minha mãe a olhou.
— A senhora recebeu o convite do lord White, a menina Molly mandou-me perguntar se já pode encomendar o vestido. — perguntou.
— Que convite James teria para nos fazer? — perguntei.
— Esta manhã chegou o convite de vosso casamento com a lady Debbie Evans. — respondeu minha mãe engolindo seco — Além de reter nossa herança, vais ganhar 80 mil libras pelo dote.
— Era de se esperar, pelo que me lembro… Lady Debbie é uma das primas distantes de Nalla. O casamento será em Northamptonshire?
— Não. — respondeu novamente — O casamento será aqui em Londres e a festa em nossa antiga casa.
— Bem óbvio. — comentei.
— Bem, já está tarde, vou me recolher até o jantar. — ela se dirigiu até a porta — Tessa, me acompanhe por favor.
— Sim, milady.

Observei elas se retirando e logo me levantei, caminhei até a bandeja de frutas e peguei um morango e mordi, não estava muito doce, caminhei até a janela e fiquei olhando as pessoas passando pela rua. Era tedioso ficar todo tempo no quarto, já que meu corpo estava mais estabelecido, me retirei dos meus aposentos e desci as escadas seguindo em direção ao jardim. O final da tarde era lindo no verão, e as flores ainda perfumavam os arredores da casa.

— Mesmo com as flores, consigo sentir seu perfume. — comentei ao sentir a presença dele. 
— Fico feliz que esteja melhor hoje. — disse ele se colocando ao meu lado.
— Após tantos dias em repouso. — voltei meu olhar para ele — E com você ausente.
— Perdoe-me. — ele sorriu — Não achei que fosse demorar tanto tempo em Liverpool.
— O que importa é que conseguiu resolver seus assuntos. — disse com suavidade na voz.
— Presumo que já saiba sobre o casamento do lord White. — comentou ele.
— Sim.
— Se desejar, não é obrigada a ir. 
— Obrigado por se preocupar, mas não acho que devo deixar meu marido desacompanhado. — expliquei — O casamento de James não me afeta, só fico triste pela sua futura esposa.
— Se assim deseja. — ele segurou em minha mão — Mandarei Hill comprar um vestido novo para a ocasião.

Eu sabia que era um homem muito importante em nossa sociedade, o que significava os convites para festas, recepções e jantares de negócios, e eu como sua esposa deveria estar ao seu lado, mesmo ele dizendo que não era necessário. A noite passou com trancado em seu escritório novamente, na manhã seguinte após meu desjejum, Hill levou até meu quarto alguns vestidos que a loja da Mademoiselle Tatu havia enviado para mim. 

Era difícil escolher, as opções eram lindas e os tecidos nobres, mas eu não queria chamar mais atenção do que a noiva, então acabei escolhendo o modelo mais simples. Aquela festa de casamento seria um tanto quanto tediosa, já que minha amiga Nalla estava viajando com vosso marido. O que significava ter que suportar as nobres damas e seus assuntos chatos sobre beleza e luxo, ou filhos e supostas traições de maridos alheios. 

— Felicidades pelo casamento. — disse ao abraçar Debbie.

Eu não tinha nada contra ela, pelo contrário, torcia para que fosse feliz mesmo com o marido que havia arrumado.

— Agradeço por ter vindo . — ela retribuiu e sorriu — Você, lady Allen e a pequena Molly são da família de James, são muito bem vindas.
— Eu que agradeço a consideração. — disse voltando meu olhar para James que se aproximava.
. — disse ele — Surpreendente vê-la em meu casamento.

Eu não sabia o que responder a ele, um nó se formou em minha garganta.

— Gostaria que se retratasse a minha esposa como senhora Baker. — disse ao se colocar ao meu lado e segurar em minha cintura, como de costume — Lord White.
— Claro, senhora Baker. — James engoliu seco — Agradeço ambos por comparecerem ao nosso casamento.

sabia sobre o proposta de James do passado, e isso refletia ainda mais no olhar fulminante do meu marido para ele. Eu poderia dizer que aquela festa havia sido a mais tranquila possível, mas como todo casamento sempre tem algum evento inesperado, dois rostos conhecidos do casamento do senhor Winchester adentraram na casa acompanhados do senhor Connor, o mesmo oficial de justiça que nos tirou nossa herança. 

No início não entendi bem o que estava acontecendo, até que eles se trancaram a portas fechadas com lord White, minha mãe e meu marido. As seis pessoas passaram longo tempo discutindo o assunto que poderia mudar muita coisa em nossa família. A primeira pessoa a sair foi Medyaha, eu me lembrava vagamente de ter conversado com ela no casamento de Nalla. Se minha amiga estivesse aqui, ficaria surpresa com sua presença.

, que bom que não se retirou, precisamos da sua presença e de sua irmã. — disse ela com tranquilidade.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei já preocupada com .
— Não, apenas precisam saber sobre algo.

Estranho ela manter um sorriso escondido no rosto, parecia satisfeita com a situação. Seguimos eu e minha irmã com ela até o escritório, senti minha pressão cair assim que o motivo foi revelado, logo fui amparada por que passou todo o tempo ao meu lado. Quem poderia imaginar que minha família tinha tanto segredos assim, eu não era a única bastarda da família. Sim, meu pai havia tido um filho bastardo, pouco tempo antes de se casar com minha mãe: Demeter, agora com o sobrenome Allen. 

Era quase surreal a história, mas meu recém descoberto irmão tinha todos os documentos e cartas que comprovam o relacionamento de sua mãe com meu pai e a paternidade do lord Allen. Mesmo desviando várias vezes meu olhar, não conseguia parar de ficar na face desesperada de James com a notícia que perdera tudo o que pertencia a minha família. Aquela notícia mesmo não mudando em nada minha vida econômica, havia sido como uma justiça de Deus para minha família. 

— O que vai acontecer agora? — disse assim que e eu saímos do escritório.
— Tudo que era do seu pai passará para Demeter, como o herdeiro homem. — explicou ele.
— Ainda estou estática com a notícia. — comentei me apoiando nele — Esta vida tem tantas surpresas para nós.
— Sim, tem mesmo. — concordou — Você está bem, com tudo isso?
— Sim, estou. — respondi confiante — Demeter parece ser uma boa pessoa, sei que a herança do meu pai vai estar em boas mãos agora. E pelo que sei, ele tem uma sociedade com você e o senhor Winchester.
— Como sabes disso? — ele me olhou intrigado.
— Nalla me contou na última carta que me escreveu. — expliquei.
— Hum… — ele ficou pensativo.
— O que foi?
— Estou pensando, acho que lhe devo uma viagem de lua de mel. — respondeu assim que chegamos a porta de saída.

Me mantive em silêncio, até que nos despedimos de algumas pessoas e entramos em nossa carruagem.

— Está calada. — comentou ele.
— Como podes falar tão naturalmente em lua de mel? — fui direta e honesta — Se nem mesmo é sincero no que sente.
— Queres falar sobre isso aqui?
— Se for o momento, quero. — já estava um tanto quanto cansada dos seus desvios de assunto.
— O que quer saber?
— O que sentes por mim? — perguntei com o olhar já marejado de lágrima — Por que eu sei o que sinto por você.

Ele ficou em silêncio.

— Estamos quase completando um ano e… — a primeira lágrima caiu.

Não sei dizer se minha tristeza foi impulso para o gesto dele, mas se aproximou e me beijou com suavidade, tocando de leve em meu rosto.

— Por favor, não me peça desculpas pelo beijo. — sussurrei para ele.
— Não vou. — ele me olhou com um sorriso no canto do rosto — Tenho tanto a lhe dizer.
— Então diga.
— Podes esperar até chegarmos em casa?

Assenti com a face, me aninhei em seus braços e esperei até chegarmos. Assim que entrei em meu quarto, Hill encontrou em seguida para me ajudar a me trocar, retirei do armário a mesma camisola que tinha colocado na primeira noite. Não sabia que era intencional ou não, mas queria ver a reação de , desta vez ele não fugiria das minhas perguntas e me daria respostas. 

— Agradeço Hill. — disse assim que retirei a última presilha do cabelo.
— Deseja algo mais? — perguntou ela.
— Não, pode se recolher. — respondi — Boa noite.
— Boa noite senhora. — ela se afastou e abriu a porta para sair.

estava lá fora, como se estivesse esperando. Vestido com um kurta indiano como pijama, me lembrava daquele presente de casamento de um amigo oriental. Após a saída de Hill, ele entrou silenciosamente mantendo seu olhar fixo em mim.

— Me lembro desta camisola. — comentou ele.
— Achei que deveria usá-la hoje. — o olhei séria — Ainda me deve algumas respostas. 
— A primeira vez que vi a filha mais velha do lord Allen, foi quando quebrou a moldura de um quadro do castelo do conde Meagher. — seu olhar sereno para mim, parecia estar vendo a cena enquanto me contava — Mas não foi você, foi sua irmã que tinha quebrado, era uma festa de aniversário da esposa do conde, seu pai não estava naquele dia e vossa mãe queria lhe castigar pela travessura…
— Ela sempre protegia a Molly. — completei me lembrando daquele momento.
— Você sempre teve um olhar especial, foi a única das moças que me cumprimentou naquela noite, então resolvi devolver a gentileza. — continuou.
— Você… Agora me lembro que foi você quem assumiu a culpa no meu lugar. — minhas memórias daquele tempo eram vagas, de tantas travessuras posteriores de Molly — Lembro-me que vosso pai lhe castigou.
— Sim. — ele sorriu — Nunca gostei tanto de ser castigado. 
— E depois?
— Quando voltamos para Londres, nos encontramos mais vezes em outras recepções, até que soube do interesse de lord Riley por você. — seu olhar ficou triste por um breve momento — Mas…
— Meu pai achava que eu era muito jovem para um compromisso. — expliquei.
— Devo agradecer por isso. — ele respirou fundo — Quando meu pai se foi e soube do testamento, não conseguia pensar em outra pessoa, queria que fosse você… Mas sempre soube do desprezo de vossa mãe por burgueses.
— E quando meu pai morreu.
— Vi a oportunidade de lhe fazer a proposta, mesmo sabendo que poderia não se apaixonar por mim. — ele voltou seu olhar para a janela — Venho me mantendo afastado de vós todo esse tempo, pois não quero influenciar seus sentimentos por mim… Mesmo ainda obrigá-la a se apaixonar por um desconhecido.
. — me aproximei mais dele e toquei em sua face, fazendo-o olhar para mim — Você não é um desconhecido.
— Eu era quando nos casamos. — retrucou, seu olhar estava um pouco triste.
— Mas agora não é mais… Confesso que estou sem palavras por confessar essas coisas, não imaginava que ainda mantém esta memória da infância.
— Desde aquele tempo, meus pensamentos são seus. — declarou ele.
… — sussurrei.
— Mas, não quero que se sinta obrigada a me amar, só por ter se casado comigo. — continuou — Viver ao seu lado…

Não o deixei terminar sua frase, o interrompi com um beijo suave. 

— Não foi por obrigação que me apaixonei por você. — sussurrei — Eu te…

Agora ele não havia me deixado terminar com seu beijo intenso. Meu corpo se arrepiou com o primeiro toque em minha cintura, a partir daquele momento eu estava pronta para sermos um do outro por completo. 

— Eu te amo. — sussurrou ele assim que meu corpo tocou o lençol da cama.
— Eu te amo. — sussurrei de volta ao senti seus lábios tocarem meu pescoço.

Entre seus beijos e carícias nosso amor seria selado naquela noite, da forma mais intensa e cheias de malícias da parte de . Eu conheceria todos os sentimentos do meu marido por mim.

"Você é linda, eu sonhei com você,
Eu me apaixonei por você, mesmo antes de saber seu nome." 
- Destiny / TVXQ



Fim?!



Nota da autora:
E estamos nós aqui com mais uma fic do século XIX, finalizada!! Desta vez trazendo esse spin-off do univerdo de Beauty and the Beast, contando a história de outro casal inusitado, espero que tenham gostado da participação do nosso casalsão Winchester, Nalla e Sebastian. Vejo vocês nas outras cidades.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




Outras Fanfics:
SAGA BatB
| Beauty and the Beast | Beauty and the Beast II | 12. Brown Eyes | *Londres | *Cingapura |
SAGA DC - Batman
| 14. Goodnight Gotham | Gotham |
SAGA CITY
| Austin | Berlim | Chicago | Cingapura | Daejeon | Havana | Londres | Manaus | Manhattan | New York | Paris | Seoul | Vancouver | Vegas |
SAGA INYG
| I Need You... Girl | 04. My Answer | Mixtape: É isso aí | *Seoul |
SAGA MLT
| My Little Thief | Mixtape: Quem de nós dois | *New York
*Prodígios: | 01. Money | 05. Así Soy Yo | 10. My World | 15. Airplanes |
PRINCIPAIS
| 04. Stand By Me | 04. Swimming Fool | 04. You Are My Everything | 05. Sweet Creature | 10. Islands | 10. Tinta de Amor | 13. Too Late | Coffee House | Crazy Angel | Destiny's | Finally Th | First Sensibility | Genie | Mixtape: I Am The Best | Mixtape: Piano Man | Noona Is So Pretty (Replay) | Photobook | Princess of GOD | School 2018 | Smooth Criminal |
*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!


comments powered by Disqus