Doce Mentira
Manhattan, New York
Outono de 2015
Ela estava tão linda.
O brilho no seu olhar parecia tão sublime que aqueceria o coração de qualquer noivo à espera no altar. não se destacava somente por estar de branco seguindo em minha direção, com o buquê de tulipas como planejou desde o ano passado. Seus passos confiantes não lembravam uma noiva nervosa pelo dia mais esperado de sua vida. A confiança que demonstrava era a cada passo me deixava ainda mais impressionado.
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— ?! Onde estava a essa hora? — perguntei assim que ela entrou em nosso apartamento recém comprado com algumas sacolas nas mãos.
— Estava com umas amigas, não resisti e comprei algumas coisas para a nossa lua de mel. — ela colocou as sacolas na mesa de centro e se aproximou de mim.
Um selinho em minha boca foi o suficiente para sentir o perfume de outro que se impregnava em seu pescoço. Era como levar um soco no estômago e não ter forças para reagir. Meu pai nunca gostou do nosso relacionamento, mas sempre pensei que fosse pelo fato da família de ser humilde. Era complicado para ele aceitar o namoro do seu filho único com a sobrinha da empregada. Mais ainda lidar com a notícia do casamento. Entretanto, ter de volta em minha mente as palavras duras do meu pai dizendo que minha noite estava me traindo. Só fazia minha garganta arder de raiva. Por ser verdade suas acusações.
— Me desculpe por ter demorado, sabe como são assuntos de noivas às vésperas do seu casamento. — ela manteve um sorriso angelical no rosto que parecia tentar me desarmar internamente.
— Sabe que fico preocupado com sua segurança, ainda mais quando sai usando o anel de noivado. — voltei meu olhar para o objeto em seu dedo, que fazia questão de exibir sempre.
Eu poderia ter terminado. As fotos reveladoras se encontravam no meu cofre pessoal. Mas não. Ali estava eu querendo negar o óbvio e sofrer mais um pouco, me deixando levar pela sedução dela, cegando meus olhos mais uma noite. E sim. Havia algo nela que me deixava vulnerável. Talvez pelo calor do seu corpo ou pelo tom suave em que sussurrava “Eu te amo”. Como das outras vezes, final da noite eu já estaria rendido a ela, em nossa cama me esquecendo de sua traição.
— Ninguém se atreveria me roubar. — disse ela confiante — Sou a noiva de Village, um homem importante na Continuum.
Ela permaneceu próxima a mim se insinuando. Mas naquela noite não, seus poderes persuasivos não funcionariam comigo…
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— Ansioso para tomar sua noiva finalmente? — perguntou Sebastian ao se aproximar de mim.
— Não imagina o quanto esperei por esse momento. — disse a ele.
Meu padrinho de casamento sabia muito bem das minhas intenções em continuar com todo aquele circo de horrores. Mas era fascinante ver a sutileza do olhar falso de em minha direção. De como aquele sorriso conseguia enganar a todos, até mesmo o pobre padre atrás de mim.
Eu me afastei do altar e segui a passos lentos até a metade da igreja. Segurei em sua mão e me mantive sereno no olhar e confiante no que fazia.
— Finalmente. — sussurrou ela.
— Sim. — assenti.
— Eu te amo. — as palavras soaram de forma tão doce de seus lábios que nunca imaginei que uma mentira pudesse soar assim com tanta naturalidade.
Se eu não tivesse a visto como verdadeiramente é, certamente eu acreditaria naquela declaração.
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— Senhor Village, não vai entrar? — perguntou Max, meu motorista particular.
— Se está aqui, deveria seguir a diante. — aconselhou ele.
Eu deveria classificar aquilo como o ápice da queda da minha sanidade mental. Seguir até aquele estúdio fotográfico já havia sido um sinal de masoquismo em gostar de me auto torturar. Descer do carro e entrar no prédio, era a própria confissão de insanidade. Mas foi o que fiz. Eu precisava ver com meus olhos para então lavar as escamas que me aprisionavam a ela.
Passei pelo porteiro e lhe dei uma boa quantia para que não me anunciasse. Melhor, o homem que não se importava com os inquilinos do lugar, por mais cem dólares, me entregou sua chave reserva do lugar em questão. Não foi preciso muito tempo para que tomasse coragem e com cautela, abrisse a porta. Logo, ouvi algumas vozes e risadas, vindo ao fundo. Me coloquei atrás da pilastra no melhor ângulo para obter a visão que procurava.
— Peguei você, . — sussurrei mantendo o olhar neles.
Lá estava ela, minha noiva somente de lingerie, sendo abraçada por um homem que outrora me era desconhecido. Senti ânsia de vômito ao me lembrar que aquele era o fotógrafo que ela me apresentou para fazer o álbum do nosso casamento. Fechei meus punhos ao ouvi-los rirem quando ela mencionou meu nome. Parecia mesmo achar que me faria de idiota pelo resto da vida. Confesso que não foi fácil aguentar ver as próximas cenas, ambos se fundindo pelas almofadas no chão do lugar, em cima do tapete. Com sua voz pedindo por mais.
O que mais queria naquele momento, era matá-los da forma mais cruel do mundo. Entretanto, se tem uma coisa que aprendi com a Continuum: é que vingança é um prato que se come frio, e o meu sairia direto do freezer.
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— Joseli, aceita como seu legítimo esposo Village? — perguntou o padre.
— Sim. — respondeu ela.
— Refaço a mesma pergunta a vós, Village, aceita Joseli como sua legítima esposa? — perguntou ele.
Ela manteve o sorriso leve no rosto, ansiosa por minha resposta. Pobre garota, mal sabia o que a aguardava.
— Não acho que esta pergunta deveria ser feita a mim. — disse voltando meu olhar para o padre.
— Como?! — o senhor à minha frente olhou-me confuso.
— , do que está falando? — perguntou , já desfazendo o sorriso.
— Apenas estou explicando ao padre que não deveria perguntar para mim. — sorriu de canto para ela — Mas para outra pessoa que curiosamente não está aqui. Você notou a ausência do nosso fotógrafo? Charles não é esse o nome?
— Não sei do que está falando querido. — ela tentou se explicar.
— Tem certeza? — insisti com ela, segurando em seu braço com jeitinho para não machucá-la — Tem certeza mesmo? Porque o chão imundo daquele estúdio me parece tão familiarizado com sua presença todas as tardes.
— … — ela de repente demonstrou um pouco de desespero, porém forçando a suavidade em sua voz — Eu te amo querido… Eu juro que…
— Deveria ter jurado antes. — eu ri de leve a soltando.
Dei um passo para me afastar de descer do altar.
— , por favor… — ela tentou me segurar, porém, um passo em falso a derrubou no chão.
— Tropeçando em suas próprias mentiras. — sorriu de canto e agachei para olhá-la de perto — Espero que consiga ter proveito com o que sobrou dele, isso se tiver sobrado algo.
— Não… — ela tentou agarrar minha calça, começando a gritar de desespero — Não , por favor, !!!
A Continuum me ensinou que um traidor deve ser humilhado diante de todos, assim como aquele que toca em algo que é nosso deve pagar o preço por sua ousadia.
E foi o que aconteceu com Charles.
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— O que você quer de mim?! — disse o homem, que se encontrava acorrentado em uma cadeira, com cortes no rosto, hematomas pelo corpo e vestígios de sangue escorridos no canto da boca.
— Agradeço pelo favor, Jack. — disse ao mais novo diretor das Indústrias Baker, que também era um caçador de recompensas moderno.
— O prazer foi meu, é sempre bom ter um quarto vago em seus hotéis para me hospedar. — disse Jack, guardando o cartão vip que lhe entreguei discretamente — É todo seu, volto quando terminar.
Assenti com a face e voltei meu olhar para o homem.
— Charles não é mesmo? Sou o noivo de . — fechei meus punhos — Eu cancelei minha despedida de solteiro para estar aqui com você… Espero que não me decepcione e demore para desmaiar.
Sorri de canto com o olhar temeroso dele.
Eu nunca pensei que uma mentira pudesse soar tão doce
Até que você abriu a boca
E disse que me amava.
- Headspace / Lewis Capaldi
“Verdade: nenhuma mentira tem o êxito suficiente, que não se possa ser revelado sua verdade.” - by: Pâms
FIM?!
Mais um ficstape, mais uma fic da Continuum.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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