I ao XXII
XXIII. Pall Mall
Há quem diga que o lar é o lugar com o qual uma pessoa se identifica, onde tem seu próprio espaço, se sente acolhido e seguro. O que de fato não deixa de ser verdade, afinal toda casa pode tornar-se um lar, mas nem todo lar é especificamente uma casa. E com estes sentimentos estava nosso casal Bridgerton em meio aos preparativos para a mudança para Derbyshire. Após o domingo em família, desfrutando da hospitalidade e diversão que somente a burguesia conseguia disponibilizar, na manhã seguinte o conde e a condessa de Whatnot tiveram um longo momento de despedidas, após desfrutarem de um brunch lady Danbury e a tia mais casamenteira que poderia ter. Horas depois de tudo ajustado nas carruagens que seguiriam com o casal, a despedida final de com a família Sollary não a permitiu conter a emoção, ainda mais por imaginar-se tão longe de todas as pessoas que passou parte de sua vida tendo-as ao seu lado todos os dias.
— Mãe... — a diamante sussurrou, mantendo-se abraçada a mãe, relutante em soltá-la sabendo que deveria.
— Não é um adeus minha querida. — finalmente elas se afastaram um pouco — É um singelo até breve, e sabes que sempre poderá nos visitar e acredito que também a visitaremos, não é mesmo?!
O olhar de Marie voltou-se para o Bridgerton.
— De fato, senhora Sollary, todos serão muito bem-vindos a Garden House. — confirmou , voltando o olhar carinhoso para a esposa.
— Garden House? — sussurrou Lily com um olhar estranho e curioso — Será que irá morar em uma floresta?!
— Jardim, sua boba. — Camellia sussurrou de volta em risos.
— Sentirei falta de ambas também. — garantiu , indo abraçá-las — E comportem-se, pois a Rose não costuma ser tão boa quanto eu.
— Não queria que partisse de Londres tão rapidamente. — reclamou Lily.
— Nem eu, a temporada nem terminou e estamos longe do outono. — Camellia concordou com sua gêmea.
— Podem me escrever sempre que desejares. — sorriu com graça para ambas, que fizeram careta para sua sugestão.
Algumas gargalhadas maldosas soaram de Daisy, ela bem conhecia as gêmeas para saber que escrever cartas seria a última coisa que fariam para matar a saudade da irmã mais velha. Entretanto, a intelectual da família não deixou-se levar pelas emoções do momento e para despedir-se da primogênita apenas deu-se ao trabalho de lhe entregar um livro de presente para a nova condessa.
— Caso em algum momento sentir-se perdida, abra na página vinte e sete. — sugeriu Daisy, com uma piscada discreta para ela.
assentiu e, afastando-se dela, seguiu para perto de Rose que manteve-se distante todo o tempo. Ao mesmo tempo que a segunda filha sentia-se alegre pelo casamento da irmã, também sentia-se triste por saber que lá no fundo o cavalheiro que conquistaste o vosso coração sempre manteria a atenção em vossa irmã. Rose era inteligente e entendida o suficiente para notar este fato.
— Ficará tudo bem entre nós? — perguntou , a ela.
— Por que não ficaria? — Rose disfarçou suas inseguranças internas, voltando o olhar para o lado.
— Rose, eu vos conheço desde o dia em que nasceste. — segurou em sua mão, com o olhar singelo — Afastou-se de mim desde o Vauxhall, quando...
— Está tudo bem, , saibas que estou feliz por vosso casamento. — assegurou ela — É notório o amor de lord Bridgerton por vós, principalmente pela forma em que a olha... Desejo ter esta sorte um dia.
— Não és obrigada a casar-se com o marquês, se de fato não o ama. — a condessa garantiu, mantendo o olhar compreensivo para a irmã — Podemos encontrar uma outra saída.
— Este é o problema , eu o amo, foi eu quem pediu ao papai para dar-me de casamento para o marquês... — Rose conteve parte de suas emoções, sentindo os olhos lacrimejarem — Mesmo sabendo que não terei cem por cento de vossa atenção.
— Conquiste-o Rose, és tão inteligente e bela, mostre-o que tens a capacidade de lhe atrair a atenção por completo. — incentivou a primogênita.
— Não sou como vós, ...Nem minha beleza compara-se à vossa. — o olhar de Rose abaixou com tristeza.
— De fato não somos iguais, mas tens qualidades que eu não possuo, e certamente o conquistará com elas. — a abraçou com carinho, confortando-a — Se de fato o amas, não desista de ser feliz com aquele que vosso coração escolheu.
— Agradeço-te por ser minha irmã. — sussurrou Rose, deixo as lágrimas caírem.
— Rose, não chore. — manteve-se firme — E escreva-me contando tudo.
— A verei na próxima primavera? — perguntou Rose — Será minha temporada, apesar de já está prometida.
— Não sei, mas garanto farei o possível para visitá-los novamente até o natal. — garantiu ela — Eu te amo, Rose.
— Eu também, .
Ambas abraçaram-se novamente, sendo contempladas por um abraço coletivo com as outras irmãs e o pequeno Bolwmer. Assim, o casal Bridgerton adentrou a carruagem e seguiram para um lugar inesperado, pelo menos por que fora pega de surpresa quando reconheceu que o caminho em que tomaram não era exatamente o que lembrava das viagens com o pai. Afastando-se da cidade, a carruagem os levou para o Castelo de Windsor, a última parada do casal antes da viagem para o novo lar em Derbyshire. Com o anúncio da aproximação dos aguardados hóspedes, devido a perspicaz velocidade dos cavalos, desceu a escadaria do castelo eufórica para recebê-los em sua casa temporária.
Um sorriso doce e o olhar sutil, assim que as portas do hall de entrada abriram-se com o anúncio do conde e da condessa de Whatnot, os olhos da pérola real brilharam diante do casal que tanto torceu para ficarem juntos. O que de fato pode-se admitir que se nossa engenhosa fosse um cupido, não teria dado tão certo vossas ideias para o casal.
— Bem-vindos a Casa de Windsor. — disse , mantendo o sorriso no rosto e indo de encontro a eles, abraçando primeiro.
— Confesso que estou surpresa por estarmos aqui. — a condessa retribui o abraço e afastou-se da amiga, observando o marido fazer-se de inocente.
— Ah meu irmão, que saudade. — ela o abraçou empolgada — Estou feliz por terem aceitado meu convite a estadia antes de irem para Derbyshire... Apesar de notar apenas vós sabia de tal convite.
O comentário de soou como repreensão.
— Sim, apenas ele. — cruzou os braços um tanto chateada, ocultando sua alegria pela surpresa.
— Vamos esquecer esta parte. — sorriu moderadamente e olhou a irmã — Estava preocupado com vossa integridade física, por isso aceitei o convite.
— E por qual motivo esta preocupação? — viu-se confusa.
— Anda circulando comentários sobre vossa alteza não lhe deixar... Dizem que ambos passam muito tempo confinados em vossas intimidades. — ele tentou suavizar as palavras para não constrangê-la e nem a esposa.
— Esta sociedade não tem outro assunto para preocupar-se que não seja a vida de um casal em fase de lua de mel? — desabafou a vossa indignação com tais comentários — E não devemos nenhum tipo de satisfação a pessoas que não sabem de fato o que é um casamento feliz.
— Casaste com o maior libertino da Inglaterra, achas mesmo que teria outro assunto mais instigante do que o vosso matrimônio? — retrucou .
— Deixem que se intrigue, minha princesa. — a voz de soou vindo da porta para o grande salão — Tenho certeza que metade desta sociedade duvida que serei fiel a quem desposei e a outra metade aposta que jamais a farei feliz.
— Dizem que uma vez libertino sempre libertino, contudo devo assegurá-los que há exceções a regra. — disse .
— Não precisa nos explicar nada, . — entrou no assunto — O que importa é que estejas feliz, veja o que falam de meu casamento com vosso irmão… Não haverá maiores insinuações negativas que as nossas.
— Milady Bridgerton está certa. — sorriu de canto maliciosamente para a esposa — Enquanto falam o que não sabem, nós desfrutamos...
Ele parou por um momento, deixando vossa esposa entender entrelinhas o que insinuara, que retribuiu com um sorriso provocativo.
— Devemos entender isso? — sussurrou , ao marido.
— Não, definitivamente não. — segurou o riso.
— Mudemos de assunto e . — a pegou pela mão no susto do impulso de seu corpo — Venha comigo, mostrarei-lhe o quarto onde ficarás e temos muitos assuntos a colocar em dia… Apesar de chegarem logo ao final da tarde.
— Devo dizer-lhe que eu e vosso irmão dormimos no mesmo quarto?! — tomou impulso para acompanhá-la — Tradições da burguesia.
— Oh, isso é magnífico. — ela se mostrou nenhum pouco surpresa — Eu e vossa alteza decidimos fazer o mesmo, estávamos curiosos sobre estes costumes.
Ambas seguiram em frente com guiando-a até a escada. A conversa renderia entre elas, porém havia uma longa semana para isso que lhes permitiria ainda mais risadas e segredos compartilhados. Ainda no hall, os cavalheiros permaneceram em silêncio até que vossa alteza quebrou o gelo e iniciou um assunto.
— Parece que teremos uma semana parcialmente solitária, no que depender de nossas esposas. — brincou , imaginando o quanto a princesa aproveitaria a companhia da cunhada.
— Certamente a deixarei mais solitária em nossa vida em Derbyshire, então estou feliz que ela possa desfrutar da companhia de minha irmã. — confessou o conde, ao refletir sobre seu futuro em família.
— Pelo vosso olhar, não me parece muito feliz com a partida. — notou o príncipe.
— Certas preocupações com minhas responsabilidades para com a coroa. — contou ele, voltando o olhar para a escultura de um anjos que havia próximo a escada — Não és o único que deve bons resultados a vossa majestade.
— Tenho certeza que não, mas acredite, o peso da coroa é um fardo ainda maior. — riu de canto e deu um passo para se retirar dali — Venha meu cunhado, nós cavalheiros também merecemos um pouco de diversão.
— Para qual delito estás a me convidar?! — brincou , mantendo um tom sério.
— Por quem me tomas? — ele fez-se de ofendido — Sou um homem honrado agora e... Há várias formas de um cavalheiro divertir-se que não envolve um caloroso corpo feminino.
Vossa alteza riu um pouco mais alto indicando o caminho para saída do castelo. , um tanto admirado com as afirmativas dele, apenas limitou-se a seguí-lo em silêncio até os estábulos. A diversão proposta por vossa alteza fora uma refrescante cavalgada ao luar entre cavalheiros com direito a distanciar-se o máximo possível do castelo com pequenas disputas de corridas improvisadas. De fato, jamais devemos julgar a forma que uma pessoa encontra a diversão, já que a desta singela autora é contar-lhes os inúmeros romances dos quais presencio em nossa doce Londres.
Sentadas nos bancos acolchoados do jardim leste do castelo, estavam as nobres damas trocando experiências iniciais de matrimônio. Certo que nossa pérola possuía bem mais aventuras para contar, graças aos ávidos momentos oferecidos pelo marido. Algumas até causando certa vergonha e constrangimento em nossa condessa.
— , acho que poderias omitir certas partes de vossas noites aventureiras. — disse com os cuidados nas palavras — Não sintas que estou com inveja, peço-te, por favor, só me deixa um tanto envergonhada com os detalhes.
— Oh, , perdoe-me, estou a falar com tanta empolgação que não atentei-me se a estava deixando desconfortável. — sorriu com um olhar compreensível.
Se para ela viver todas aquelas experiências fora inicialmente inacreditável e confuso, imagine para a amiga ouvir com riqueza de detalhes as mais diversas formas que fora tocada pelo marido. assentiu entendendo a euforia da amiga por sua presença, querendo compartilhar a felicidades com ela.
— Está tudo bem, apenas... Contenha-se nos detalhes. — pediu , ainda envergonhada — Contudo, estou feliz por ver seu olhar brilhando por vossa alteza.
— Ah, tem sido um perfeito cavalheiro, como lhe contei, nunca imaginei que pudesse ser tão amada em toda a minha vida, principalmente por alguém com um passado como o dele. — confessou ela, ao dar um suspiro de alívio.
— De um libertino?! — indagou .
— Sim... — assentiu, voltando o olhar para a fonte que tinha logo à frente — Confesso que aconteceu tudo tão rápido e não sei dizer quando, como ou em que olhar eu me apaixonei por vossa alteza... Mas depois que recebi a declaração dele, aquela que lhe contei, não consegui mais tirá-lo dos meus pensamentos e cada dia sentia meu corpo mais atraído por ele assim como meu coração.
— Perdoe-me o julgamento, mas inicialmente achei que o que tinhas por vossa alteza era apenas curiosidade e atração física, lembro-me de uma carta com vossos relatos sobre isso, quando ele tentou beijá-la sem sucesso. — comentou .
— No entanto agora... Perco-me as contas de quantos beijos ele rouba-me ao longo do dia. — riu baixo — Não lhe recrimino amiga, no início eu também achei que fosse apenas algo físico, porém todas as vezes que estávamos no mesmo ambiente sentia-me atraída por seus olhares para mim e isso me assustava... Por isso relutei em admitir que sentia algo por vossa alteza, até o vosso pedido no Hyde Park, e ter certeza que ele queria-me como a única em vossa vida.
— Ganhaste a melhor declaração de amor de todas em plena luz do dia. — comentou , ao contemplar o brilho no olhar de vossa amiga.
— Tens razão. — concordou — Mas a senhora condessa Bridgerton não fica atrás, pude notar a felicidade estampada no rosto de meu irmão.
— Sim... Devo dizer que estamos no nosso melhor momento, sendo amigos e... — parou por um momento e lembrando-se da aventura sobre os arbustos da propriedade do marquês, levou as mãos sobre o rosto toda envergonhada.
— Hum... Não é somente eu que tenho aventuras amorosas regadas a malícia e desejo. — comentou , deixando-a ainda mais constrangida.
— Há um lado que vosso irmão que não sei explicar, mas que me tira toda a sanidade... — confessou ela, formulando em sua mente as palavras — Ao mesmo tempo que ele se mostra tão fechado a conversas, o que causa nossas constantes brigas, ele faz-me render a ele com tanta naturalidade que no fim vejo o quanto se esforça para deixar-me confortável.
— Bem... Meu irmão sempre foi assim, não gosta de compartilhar as preocupações e sempre coloca a prioridade de quem ama acima da sua, é de sua natureza fazer isso. — contou , voltando o olhar para ela — Deve-se ter muita paciência para lidar com e não lhe culpo se houver brigas pelo percurso.
— Diversas brigas de fato e pelas mínimas coisas, mas... — ela suspirou com um brilho no olhar — A melhor parte é a reconciliação.
— Imagino pelo vosso olhar, amiga. — riu baixo, mordiscando o lábio inferior — Minha mente já fervilha de curiosidades...
— Não me olhe com esta malícia, mereces bem o marido que possui. — manteve o olhar de repreensão, arrancando risadas da amiga.
— Perdoe-me minha mente fértil, admito que em partes vossa alteza é a culpada por isso. — ela riu mais um pouco — Mas voltando ao assunto, mesmo com as famigeradas brigas, meu irmão a faz feliz?
— Muito... — suspirou com um sorriso no rosto — Não consigo mensurar o quanto me completa.
— É isso que importa... — empolgou-se — Estão juntos agora e terão um belo casamento pela frente.
— Não graças a vossas travessuras. — a olhou com seriedade.
— Já lhe pedi desculpas pelo infortúnio do vestido, mas fora minha única saída para dar um impulso em meu irmão, já não conseguia suportar ele olhando-a de longe desejando tê-la em seus braços... — mais uma vez demonstrou reconhecer o erro de tentar manipular a vida alheia, contudo para ela por um bom motivo — Sei que não há justificativa, mas tenha a certeza que meu irmão apaixonou-se por vossa pessoa desde que a viu pela primeira vez quando derrubou-lhe o suco no vestido.
— Isso eu já descobri, não foi fácil arrancar dele, mas... — novamente encolheu-se de vergonha — Vosso irmão é um tanto quanto relutante em reconhecer os erros e expor os sentimentos.
— Acredite, não é relutante em admitir quando está errado, ele apenas assume os seus atos e não de terceiros. — explicou — Quanto aos sentimentos, é de fato.
— E custava-lhe algumas libras me dizer que a responsável foste a irmã? — indagou.
— Talvez não quisesse estragar nossa amizade. — a princesa continuou em defesa do irmão — Mas deixemos o passado para recordar no futuro e rirmos destas travessuras. E falaremos de algo importante.
— O que seria? — a olhou intrigada.
— Nossa amiga, Bourbon. — o tom da voz de ficou mais séria.
— O que aconteceu?! — o olhar de ficou mais atento.
— Eu não sei, a última carta que recebi dela, pareceu-me triste e insegura com o futuro. — explicou a princesa.
— Bem, após a ida para o campo, não lhe faltaram comentários sobre não haver nenhum noivo, e ela ter sido enviada para não envergonhar ainda mais o pai. — comentou a condessa, deixando o tom mais baixo, entristecendo-se pela amiga — Queria tanto poder lhe confortar de alguma forma se realmente for verdade.
— Eu também, mas não posso deixar Londres agora a menos que seja seguir em lua de mel para o oriente, ordens de vossa majestade. — disse , lembrando-se que tinha obrigações com a coroa — Preciso organizar um chá da tarde no solário de Windsor esta semana e felizmente tenho minha amiga aqui para me ajudar.
— Ah não, não tenho talento para estas coisas. — recolheu-se.
— Pois trate de ter, agora és uma condessa e terá que organizar bailes e jantares em Derbyshire. — informou a amiga.
suspirou fraco, desmotivada por tal novidade.
— Bem, mas voltemos ao assunto que importa. — disse — O que faremos para ajudar ?!
— Não sei… Mas temos uma semana juntas para pensar. — respondeu a diamante.
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A ensolarada manhã de sábado trouxe consigo alguns comentários da tarde anterior que foram regados de fofocas e risadas no chá oferecido pela pérola real. A recepção fora um sucesso aos olhos de vossa majestade, que não poupou elogios a nova princesa, causando até ciúmes na alteza regente que deu o ar de sua presença no evento. Contudo, voltemos às atividades mais interessantes neste dia refrescante.
— Damas e cavalheiros, eu lhes apresento o tradicional jogo da família Bridgerton. — anunciou com empolgação, para seu seletos convidados — Pall Mall.
— Que jogo é esse? — perguntou , curiosa pela empolgação da amiga.
— É um jogo bem popular na França, porém originou-se na Itália, mas é claro que os Bridgertons tem seu modo peculiar de jogar. — brincou , ao explicar para a esposa — Mas é bem simples, alguns arcos foram espalhados pelo gramado, não importante se é ou não irregular, cada um escolherá um taco e terá que acertar a bola de mesma cor, o objetivo central é passar sua bola por todos os arcos antes dos oponentes.
— Parece mesmo fácil. — comentou .
— Mas é claro que podes usar sua bola para desviar a bola do seu oponente. — disse Eloise, ao passar por eles indo pegar um dos tacos.
— Oh, desculpe-me querida prima, mas minha casa, minhas regras. — disse , ao pegar o taco da morte antes dela.
— Lhe asseguro que terei mais sorte da próxima vez. — disse ela, ao pegar o branco.
— Que tal jogarmos em dupla? Já que estamos em casais. — sugeriu , olhando com malícia para vossa alteza.
— Não acho que seja prudente vossa sugestão, a julgar que minha dupla consiste em alguém muito competitiva. — comentou sir Phillip, moderando as palavras sobre a esposa.
O que arrancou risadas de Colin e Penelope, o outro casal convidado.
— Poderia ser damas contra cavalheiros. — sugeriu Penelope, pegando o taco alaranjado.
— Eu não me importo com as regras, se meu diamante vencer, eu venço. — comentou , pegando o taco amarelo.
— Pois eu gostei da sugestão de , sugeriria damas primeiro, porém não podemos esquecer da ordem de idade, Colin os mais velhos na frente então nos dê a honra de iniciar. — disse Eloise, ao gesticular para que ele iniciasse.
O que irritou a prima.
— Lembrem-se do lema da família: sempre que um Bridgerton ergue um taco, tornamo-nos todos trapaceiros e mentirosos. — disse , ao lembrar a famosa frase da família, sendo uma indireta para Eloise.
Ambas eram boas amigas desde a infância, porém vencer o Pall Mall estava acima de qualquer amizade. E o que deveria ser a versão de casais ao longo da partida tornou-se uma brutal disputa entre os primos que a todo custo queriam arruinar as jogadas uns dos outros. Enquanto divertiu-se com as provocações e trapaças ao longo do jogo, encantado com este lado competitivo de vossa esposa. sentiu-se em meio a selva com leões selvagens prontos a atacá-la.
— Está tudo bem, minha senhora? — perguntou , ao aproximar-se dela, que permanecia estática com o que presenciava.
— Não sei se consigo absorver um jogo em que se é mais importante garantir que os adversários percam do que de fato ganhar. — comentou ela, embasbacada.
— Acredite, isto é o mínimo diante do que nossa família tem para lhe mostrar, se nossos outros primos estivessem aqui seria uma carnificina. — comentou ele, segurando o riso.
Ela continuou em choque.
— Que tal uma mudança no jogo. — disse , ao bater com força em sua bola para que acertasse a de , desviando sua rota para longe.
— Muito bem, vossa alteza. — disse , ao dar um pulo empolgada — Aprendeste bem.
— Com a melhor minha querida. — ele piscou de leve para ela, sorrindo de canto, então sussurrou em seu ouvido — Este jogo deu-me várias outras ideias.
— Mal posso esperar para compartilhá-las comigo. — ela piscou de volta e olhou para o irmão — Vossa vez .
olhou atravessado para a irmã, demonstrando descontentamento pela jogada de vossa alteza.
— Foste proposital, não é?! — perguntou ele, a irmã.
— Sempre é proposital, meu caro irmão. — ela piscou de leve para ele, voltando o olhar para a cunhada.
por sua vez suspirou fraco e caminhou até a sua bola, vosso marido a acompanhou para lhe transmitir calma e segurança. A determinada diamante, mesmo sendo perspicaz com o marido, naquele momento apenas tentava não desapontá-lo diante da disputa. Porém, em um tacada errada, sua bola acabou se distanciando ainda mais para dentro do jardim oeste, contemplado por labirintos de altos arbustos.
— Uau, isso que foi uma tacada excepcional. — comentou Eloise, não contendo os risos.
— Um casal já foi, faltam dois. — disse para a prima.
— Que vença a melhor. — retrucou Eloise.
Longe daquela rivalidade, estava a procura de sua bola em meio aos arbustos do labirinto. Sua preocupação em não errar, deu lugar às risadas que surgiam em seu rosto, quando finalmente encontrou o que procurava.
— Compartilhas com vosso marido o motivo destas risadas que me deixam fascinado? — perguntou ao aproximar-se dela.
— Por que vieste atrás de mim?! — perguntou confusa.
— Ainda somos um casal, pelo que lembro-me. — respondeu ele, com tranquilidade.
— Perdoe-me, estraguei nosso jogo. — disse ela, com um tom baixo.
— Pelo contrário… — ele pousou as mãos na cintura da esposa, trazendo-a para mais perto — Abriste uma bela oportunidade para fazermos o nosso próprio jogo.
— Devo-me preocupar por vossas inúmeras cavalgadas noturnas com vossa alteza? — indagou ela.
riu baixo, tentando entendê-la.
— Não penses que preciso de vossa alteza para influenciar-me. — sussurrou ele, em vosso ouvido, fazendo-a arrepiar — Minha mente possui vossas próprias idealizações e anseios…
— Milorde… — sussurrou ela, de volta sentindo seu toque.
O que dizer de um casal jovem e cheio de desejos?!
Lady Lewis.
Garota, você sabe que eu quero seu amor
Seu amor foi feito a mão para alguém como eu
Venha agora, eu te guio.
- Shape Of You / Ed Sheeran
XXIV. Encontre-me no solário
Se existe uma insegurança em nossas vidas, é de não saber o que o futuro nos reserva. Desde o abrir dos olhos pelas manhã até o seu fechar à noite, inúmeros acontecimentos cercam nosso dia em sua maioria inesperados, e quando ousamos planejar algo, o imprevisível aparece para mostrar-nos que o viver é uma surpresa por isso sempre acontece no presente.
E assim estava o nosso rubi com seu corpo trêmulo parada em frente à porta da biblioteca, sem saber o que pensar nem mesmo como reagir diante do que estava por vir. Segundo as palavras de sua criada, o cavalheiro que se encontrava do outro lado era o vosso noivo, a quem nem mesmo tinha certeza que existia e estava ali, a um cômodo de distância. Ao mesmo tempo que sentiu um aperto do peito por medo do desconhecido, suas recordações de momentos com vossa graça invadiram a mente sem pedir licença com total profundidade. Sua mão tocou na maçaneta, mais alguns minutos para reunir a coragem necessária para adentrar o lugar.
Como ela queria estar feliz por tal momento, assim como as vossas amigas, havia um casamento enfim em sua vida, entretanto imaginar que fosse um homem desconhecido lhe entristecia internamente. Claro que a filha de um nobre falido não deveria ter o direito de sonhar alto, casar-se por amor ou algo do tipo. Ela já deveria dar-se por satisfeita apenas em ter um cavalheiro disposto a desposá-la diante de tanta vergonha estabelecida em vossa família. E por mais que o causador de parte do seu infortúnio fosse o pai, ela não se dava o direito de culpá-lo, ambos sofreram com a morte da amada lady Bourbon. Um fato inesperado e silencioso que desestabilizou por completo um homem que tinha todo o seu tempo voltado a família e o amor da sua vida.
E voltando ao presente, tinha agora a responsabilidade de seguir com os planos de matrimônio forjados pelo pai e reaver a honra que a família perdeu.
— Está a tanto tempo encarando esta porta, minha querida. — a voz de sua tia soou ao lado num tom de sussurro — Não és obrigada a entrar, se quiser, digo que está indisposta.
— De qualquer forma terei que encarar meu futuro. — eu voltou o olhar para a tia por um momento — Então, que seja agora já que surgiu-me a oportunidade.
voltou a encarar a porta e após um longo respiro fundo, atraindo novamente a coragem girou a maçaneta e abriu-a com suavidade. Assim seus olhos avistaram o homem que estava em pé de costas para ela, observando a paisagem noturna fora da janela. Juntamente com o primeiro passo para adentrar, veio também um pequeno desespero que fez seu coração acelerar e seu corpo fraquejar, se era pelas proximidades do calor do verão não se poderia afirmar, mas naquele instante a visão da doce rubi foi ficando cada vez mais escura até que perdera seus sentidos.
— ! — a última coisa que a pobre donzela conseguiu ouvir fora a voz aflita de vossa tia a chamar-lhe com desespero.
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Dizem que o corpo humano é uma máquina complexa e bastante curiosa. Sabe-se que para cada ação há sempre uma reação, quando estamos sob pressão ele nos responde de alguma forma para guiar-nos à estabilidade. E assim acontecera com , na ação de um súbito ataque de pânico e ansiedade pelo momento em que vivia, a reação de seu corpo fora desligar a chave geral para estabilizá-la internamento, ou seja, o famigerado desmaio.
— Hum... — o primeiro sinal de estabilidade veio de um resmungo, com seu corpo dando sinais de reflexos involuntários.
Contudo, a jovem Bourbon fora despertando aos poucos, percebendo a suavidade dos lençóis que a cobriam combinados a maciez de vossa cama. Não demorou muito para sentir os raios de sol que entrava pelas pequenas aberturas das cortinas tocando sua pele, suas pálpebras foram abrindo tão lentas quanto a visão que se mantinha ainda turva.
— Senhorita? — a voz de sua criada soou.
— Franchy?! — sua voz estava baixa e parecia cansada.
— Senhorita, está se sentindo melhor agora? — perguntou ela, ao segurar a mão de sua senhora — Todos ficamos preocupados quando desmaiou.
— Ah... Isso realmente aconteceu?! — se mostrou surpresa, como de fato estava, pois havia imaginado o desmaio como apenas um pesadelo.
— Sim, senhorita. — assentiu Franchy, observando-a acordar por completo — Vossa tia ficou ao extremo preocupada e mandou até mesmo uma carta ao lord Bourbon.
— Meu pai... Estou a lhe dar mais esta preocupação. — ela suspirou fraco — E quanto ao...
Ela parou em silêncio por um tempo, tentando relembrar a imagem do cavalheiro na biblioteca.
— Vosso noivo? — indagou a criada, completando.
— Sim. — assentiu.
— Também demonstrou preocupação, senhorita. — assegurou ela, com o olhar gentil — E pediu que lhe entregasse este bilhete, caso acordasse agora pela manhã.
A criada retirou o papel que estava escondido no meio de seu avental e entregou-lhe um pouco empolgada. Parecia feliz pela possibilidade de um futuro casamento de sua senhora.
— Agradeço Franchy, por manter a discrição. — disse , com um sorriso gentil.
Assim, ao desdobrar o papel começou a lê-lo.
“Estimada senhorita Bourbon, espero que estejas bem, diante do ocorrido na noite anterior. Peço que perdoe-me pela minha presença repentina e talvez deva ter sido esta a causa do vosso mal estar. Se permitir, desejo o prazer de vossa companhia nesta manhã, caso a senhorita já esteja melhor.
Estarei à vossa espera no solário em minha propriedade.
Ansiosamente, vosso noivo.”
demorou alguns minutos para absorver a última frase, estranhando também o bilhete não estar assinado adequadamente. Seu olhar voltou-se para a criada que mantinha certa curiosidade disfarçada de sorriso no canto do rosto.
— Então, senhorita, terá uma resposta para dar? — perguntou Franchy.
— Acho que sim, seria indelicado de minha parte se não o respondesse. — ela respirou fundo e apontou para os papeis que estavam em cima da escrivaninha.
Assim a criada correu até o móvel e pegando os entregou a ela com o tinteiro. A jovem rubi permaneceu por alguns minutos encarando o papel em sua mão sem ter a mínima ideia do que escrever, as palavras pareciam faltar-lhe de uma forma inexplicável. Tomando impulso, finalmente ela conseguira iniciar sua escrita.
"Bom dia, meu bom senhor.
Confesso-lhe que não encontro palavras para expressar, sinto-me envergonhada por tal ocorrido. Peço te que perdoe-me por lhe trazer preocupações justo no dia em lhe conheceria, e ainda fazê-lo pensar ser o culpado.
Certamente desfrutar de vossa companhia seria uma honra, entretanto encontro-me indisposta e o senhor merece uma companhia que não lhe traga mais nenhum incômodo. Por isso, apenas tenho um pedido, que possamos adiar este encontro para a próxima manhã.
Prometo ao senhor que estarei melhor.
Atenciosamente, vossa noiva."
sentiu seu coração acelerar um pouco, ao dobrar o papel e entregar a sua criada. Não sabia explicar o que estava acontecendo internamente, mas certamente havia uma ansiedade por poder ver o rosto daquele cavalheiro. Após sua criada deixar o quarto com a missão de fazer o bilhete chegar ao cavalheiro, ela levantou-se da cama e deu alguns passos até a janela voltando o olhar para a janela observando a beleza da paisagem que é desfrutada todos os dias. Com o verão ascendendo, o dia se mostrava caloroso e bem sugestivo aos amantes do campo.
— ?! — dois toques na porta lhe atraíram a atenção, assim como a voz de sua tia.
— Tia Poppy. — a olhou com suavidade, com um sorriso sutil e espontâneo — Perdoe-me por preocupá-la.
— Oh, minha querida. — Poppy adentrou mais o quarto indo em sua direção para um abraço reconfortante — Não me peças desculpas por algo que nem mesmo vós és a culpada... Sei que tens passado por tantas coisas, sentimentos e pressões em honrar vosso pai... Não deverias passar por isso.
— Estou bem minha tia... Acho que não consegui conter-me noite passada, confesso que pensava mesmo que não existia um noivo e que minha vinda para a Escócia era apenas para não trazer mais vergonha ao meu pai. — sentiu seu coração apertar, suas emoções começaram a ser expostas em forma de lágrimas no canto dos olhos.
— Minha pequena. — sua tia a abraçou novamente com carinho.
— Após dois anos sendo o desprezo de todos por não ter a beleza que se espera de uma donzela... — a primeira lágrima caiu de seus olhos — Já sinto-me afortunada pela mudança que me fizeste no outono passado.
— Não lhe fiz nenhuma mudança, sempre foste uma menina muito bonita, meiga e delicada, apenas precisava ter a coragem de se olhar no espelho e se sentir assim. — ela ergueu a mão e limpou a lágrima dela, mantendo o sorriso no rosto — Só me entristece pensar que o senhor que desposará esta linda jovem em minha frente, não é o cavalheiro que lhe toma os pensamentos.
— Está tudo bem tia Poppy, o cavalheiro que tem meus pensamentos certamente nem deve lembrar-se que eu existo. — ela enxugou as lágrimas que se criaram no canto dos olhos e forçou um sorriso — Posso desfrutar do desjejum que preparaste para mim?
— Claro minha querida. — Poppy sorriu com gentileza e se afastou de leve — Peço que troque-se e crie expectativas, pois nosso desjejum será em grande estilo e em meio a natureza.
assentiu com a face e observou-a se retirar.
Mesmo com seu futuro desconhecido, ela deixou-se animar por aquele dia, afinal nada como as loucas invenções de tia Poppy para lhe trazer o ânimo e deixá-la mais esperançosa. Com o retorno de Franchy, finalmente ela pode escolher com calma um belo e refrescante vestido do campo para a ocasião. Um penteado simples, o rosto com um leve protetor solar deixando transparecer vossa beleza natural e um sorriso esperançoso que orgulhou até mesmo a criada que tanto torcia pela felicidade de vossa senhora.
Logo um suspiro inesperado soou de si, assim que olhou-se pela última vez no espelho, ela não entendia exatamente o que sentira naquele momento mas lá no fundo, estava um pouco mais aliviada pelo ocorrido ter acontecido ali e não em vossa casa em Londres. De certa forma, havia uma energia positiva que a doce rubi sentia dos campos de lavanda próximos a propriedade do tio, o que lhe transmitia paz e aconchego. Decidida a esquecer seus problemas e temores pelo menos diante daquele dia, ela saiu do quarto e desceu as escadas motivada, encontrando o olhar empolgado da tia a vossa espera com uma cesta em mãos e inúmeros assuntos na mente para distraí-la.
Tia Poppy já tinha todo o roteiro das atividades daquele dia descrito em vossa mente esquecendo-se do desmaio acidental, nem mesmo preocupou-se com a temporária fragilidade física da sobrinha. Afinal, o primeiro dia do verão deve ser celebrado com euforia, aproveitando o frescor que apenas o campo lhes proporcionavam.
— Para onde iremos, tia Poppy, que precisaremos de cavalos? — perguntou curiosa por adentrarem os estábulos do lugar.
— Para o lugar que eu considero mais precioso daqui. — anunciou ela, ao montar primeiro — Vamos lá?
não teve muita opção a não ser montar no outro cavalo e criar as expectativas propostas por vossa tia. Seguindo para o norte, ambas passaram por uma clareira que separava a propriedade do senhor Kerr, do vizinho ao lado, continuando na mesma direção com a condutora sem preocupar-se se estava ou não invadir alguma propriedade alheia.
— Tia Poppy, a senhora sabe mesmo para onde estamos indo? — perguntou , insegura com a noção geográfica que a tia tinha.
— Claro que sim, minha querida, conheço essas terras como a palma de minha mão. — a tia parou de repente e a olhou confusa — Por que?
— É que... A poucos metros acabamos de invadir uma propriedade. — explicou ela, ao parar o cavalo também um tanto assustada com o olhar sereno da tia — Não achas imprudente?
— Não quando o dono é noivo de minha sobrinha. — respondeu ela, com mais tranquilidade ainda.
O corpo de gelou um pouco. Não apenas pelo fato em si, como também por imaginar que aquele passeio fosse um plano de vossa tia para lhe apresentar o tal noivo, ou na pior das hipóteses até mesmo esbarrar com acaso com ele. Isso trouxe-lhe insegurança novamente e Poppy percebeu de imediato.
— Não se preocupe minha querida, ninguém além de mim sabe para onde vamos e vosso noivo nem mesmo sonha que exista tal lugar em uma propriedade tão grande como essa. — ela riu de leve — Não vos aflijais, pois não planejei nenhum encontro casual entre ambos.
— A conheço o suficiente para saber que não me deixaria em tal situação. — assentiu , com um sorriso singelo para ela.
— Então, continuemos. — Poppy devolveu o sorriso e continuou a seguir com o caminho.
De fato, tia Poppy estava certa sobre uma coisa, a propriedade do noivo em questão era a maior e mais cobiçada de toda a Escócia, afinal para um cavalheiro de sua posição era de se esperar. Terras imensamente produtivas e muito bem cuidadas, transmitia ao povo que trabalhava nelas a segurança de boas colheitas e prosperidade a todos que o serviam naquela região. E não nos esquecendo dos diversos bosques e florestas que enchiam os olhos de muitos amantes da natureza, envolto as colinas que pareciam. Parecia uma paisagem pintada a mão por Deus, de tão bela.
— Chegamos. — disse tia Poppy parando o cavalo e já descendo.
— É lindo. — sussurrou ao parar o dela e descer também com a ajuda da tia.
Nossa doce rubi ainda se impressionava com as habilidades de sua tia em cavalgar, o carinho que a mesma demonstrava pelos cavalos e de como aqueles animais pareciam ter afinidade com ela. Contudo, tal lugar reservado era uma pequena área verde escondida por altas árvores que os antigos chamavam de bosque solitário, localizava-se entre duas colinas. A região de Inverness tinha mesmo sua beleza escondida que a fascinou sem esforços.
— Que lugar é este? — perguntou , curiosa.
— O bosque solitário. — respondeu Poppy, pegando a cesta amarrada nas rédeas do cavalo e seguindo para perto dos arbustos — Muitos tem receio de vir aqui, pelas muitas histórias que giram em torno daqui, mas eu acho incrível à vista.
— E quais histórias seriam essas?! — a jovem a acompanhou com o olhar, observando a tia estender a toalha e ajeitar os alimentos sobre ela com cuidado.
— Bem, a mais famosa de todas é de um casal de famílias rivais, mesmo com sentimentos proibidos um pelo outro ambos trocaram juras de amor neste lugar, assegurando que jamais se entregariam a outra pessoa... — tia Poppy assentou-se na beirada da toalha e olhou para a sobrinha gesticulando para que fizesse o mesmo — Entretanto, ambos estavam fadados por vossas famílias a casarem-se com pessoas que não amavam, então decididos a passarem a eternidade juntos, o casal marcou um encontro para despedir-se da vida nesta terra e seguirem juntos para a eternidade.
— E eles fizeram isso? — perguntou , em choque com a história.
— O cavalheiro sim, porém a donzela fora descoberta pelos pais e forçada ao casamento às pressas, assim que o rapaz voltou a este lugar não encontrando a amada, apenas uma carta escrito por ela pedindo para esquecê-la, de coração partido ele cumpriu vossa parte no acordo. — continuou, ao mordiscar um morango que estava na cesta — Chamam esse bosque de solitário por causa deste cavalheiro que permanecerá na eternidade sozinho sem vossa amada.
— E quanto a donzela? O que aconteceu com ela? — indagou .
— Não se sabe, apenas que nunca mais sorriu novamente pelo que aconteceu com o vosso amado. — respondeu ela — Dizem que os gritos de choro dele ecoam pelas árvores deste bosque de tempos em tempos, e que o lugar traz má sorte para quem entra, por isso as pessoas não vem aqui.
— E a senhora ainda vem aqui? — surpreendeu-se pela coragem da tia.
— Não acredito em má sorte, acredito em saber aproveitar as oportunidades e desafios que o mundo lhe proporciona. — explicou Poppy com segurança — Se pensarmos que tudo irá mal, então irá, pensamento positivo é a chave para uma boa vida.
— Queria ser assim. — sussurrou para si.
Tia Poppy, minha cara, é como esta autora sempre diz: Se a vida lhe der limões, faça uma limonada e refresque-se neste caloroso verão.
— Além do mais, olha esta vista, que má sorte há em contemplar a natureza? Ter medo de histórias antigas que nem sabemos se é verdade? — Poppy riu de leve e suspirou apaixonadamente — Se há má sorte certamente fora quebrada, pois este é o lugar que o senhor Kerr pediu-me em casamento... Sob um céu estrelado do outono com o balançar do vento fazendo as folhas caírem.
— Que romântico. — os olhos de brilharam com as palavras dela.
— Sim, muito. — concordou.
Elas sorriram uma pra outra e começaram a degustar do desjejum preparado pela tia. Diversas frutas frescas e pequenos brioches doce para começar bem o dia. Em um momento de contemplação, Poppy voltou o olhar para o sul notando algo novo na paisagem, afinal ela nunca havia estado naquela parte do bosque, pois vossa preferência sempre fora a parte mais próxima à clareira.
— Interessante. — comentou ela.
— O que? — a olhou.
— Eu não costumo a vir muito a este lado do bosque, e nem imaginava que teria um lugar mais confortável aqui para assentar, porém não sabia que aqui dava vista para o castelo da colina. — explicou ela, mantendo o olhar na edificação e apontando para a sobrinha.
— Castelo da colina?! — voltou o olhar para onde a tia apontou, vendo o lugar mencionado.
— Sim, é chamado de Collis Castelli, latim... — respondeu continuando — E saiba que pertence ao nosso vizinho assim como este bosque, dizem que a torre mais alta deste castelo permite uma vista panorâmica para toda a região de Inverness... Meu sonho é conhecer esse lugar.
Tia Poppy tinha razão em ser fascinada pelo Collis Castelli. Uma edificação construída totalmente em pedra ao longo do século XIV e considerada uma das mais antigas do país que continuam ativas como residência localizada no alto de uma colina, pertencendo há mais de dez gerações à mesma família. E por mais que pareça ser um castelo frio e gélido pela arquitetura em estrutura e paredes de pedra, a decoração interna de todo lugar fora pensada para transmitir ao máximo conforto e aconchego. Tendo sofrido algumas reformas de tempos em tempos, atualmente conta com uma paleta de cores mais suave em tons pastéis nos tecidos dos estofados e a mobília com um amadeirado mais claro e sutil, deixando de lado a exuberância do estilo medieval, as tradições do estilo clássico e as influências luxuosas de Paris.
— Sente ansiedade por conhecê-lo? — perguntou tia Poppy, em curiosidade.
— Falas do castelo, ou do dono? — devolveu a pergunta, mantendo o olhar na edificação.
— De ambos. — brincou tia Poppy, para descontrair a conversa — Não sintas pressionada a isso, minha querida, já carregas preocupações demais...
— Agradeço por tentar me tranquilizar, mas... Não poderei abusar por muito tempo da paciência e compreensão de alguém que não conheço. — comentou o rubi.
— Achas que o aborreceu pelo desmaio? — vossa tia riu de leve — Fatalidades acontecem minha querida, olhe para mim, desmaiei na noite de núpcias, deixando o senhor Kerr desesperado.
permaneceu em silêncio, mantendo o olhar no horizonte, enquanto a vossa tia em risos desviou a atenção para os pedaços de brioches. Internamente o rubi indagava-se: Como o vosso pai conseguira arranjar-lhe um casamento com alguém tão importante? E desde quando lord Bourbon tinha conhecidos na Escócia além do senhor Kerr e tia Poppy?
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— Senhor Kerr! — a voz de Poppy soou empolgada pelo hall de entrada da casa, assim que retornou com a sobrinha e encontrou-o vindo do corredor em que se encontrava o escritório — Retornaste mais cedo hoje.
— Minha senhora. — o homem manteve o olhar sério e vagamente inexpressivo, porém com suaves expressões de preocupação — Os criados sinalizaram a vossa ausência durante o dia.
— Vossa esposa estava a aproveitar o frescor do dia apresentando as belas paisagens das colinas locais para a sobrinha. — a forma como Poppy especificou, fez com que o marido já entendesse para onde exatamente fora, e voltando o olhar para a jovem Bourbon, assentiu com o rosto a explicação dela.
Poppy aproximou-se mais um pouco do marido e sussurrou algo em vosso ouvido, então retornou para perto da sobrinha e a puxou consigo em direção às escadas. Já no corredor dos quartos, a animada tia aconselhou-a banhar-se um pouco para refrescar e aproveitando se livrar dos vestígios de terra e folhas que adquiriram no seu piquenique. A doce rubi assentiu e adentrou o quarto, sendo recebida por Franchy que a aguardava próximo a janela.
— Franchy? O que faz aqui? — perguntou ela, estranhando ao ver que a banheira em vosso quarto estava cheia de água.
— A senhora Oslo pediu-me para preparar vosso banho agora ao pôr do sol. — respondeu prontamente — Eu nem mesma sabia de vossa localização, apenas assenti a ordem.
— Ah, certamente minha tia está envolvida. — riu baixo — Ela sempre teve uma ótima percepção de tempo e espaço.
— A senhorita pretende banhar-se agora? — perguntou a criada.
— Sim, mas prefiro fazê-lo sozinha, agradeço por preparar meu banho, retire o restante da noite de descanso Franchy. — disse ela, com um olhar gentil — E obrigada por... O bilhete.
— Ah, sim, senhorita Bourbon. — em um impulso de memória a criada lembrou-se de um detalhe — Bilhete entregue em mãos e o convite estendeu-se para amanhã ao nascer do sol.
— Agradeço, e tenha uma boa noite, Franchy. — disse .
— Boa noite, senhorita . — a criada sorriu de volta retirando-se em seguida.
A doce rubi espreguiçou-se de forma demorada e logo sentiu um fundo no estômago. Após o desjejum com a tia e passar horas cavalgando pelos campos, nem mesmo houve uma pausa para o almoço tendo a fome acalentada pelas sobras das frutas do cesto. Após o banho, vestiu os trajes apropriados e pediu a um dos criados para que o jantar fosse servido em vosso quarto. Por mais que fosse inspirador ver a forma em que tia Poppy e o senhor Kerr interagiam na presença de outras pessoas, ela somente desejava descansar após aquele dia.
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Com o nascer do sol, foi despertando lentamente graças a um feixe de luz que passava pelas cortinas, ao abrir os olhos sua mente fora rápida o bastante para relembrar o compromisso daquela manhã. Erguendo o corpo no susto da batida na porta, sentiu a cabeça rodar de leve.
— Sim?! — disse ela, elevando um pouco mais a voz.
— Minha querida, já está acordada?! — a voz de tia Poppy soou do outro lado da porta.
— Sim, acabei de acordar. — seu tom baixou em quase sussurro.
— Eu não quero assustar-te querida, mas acho que deveria se aprontar de imediato pois há uma carruagem lhe aguardando. — anunciou tia Poppy, com um tom impressionado — Acho que vosso noivo é bem pontual.
Após alguns segundos absorvendo a informação, finalmente despertou por completo e levantou-se da cama seguindo até a porta. Do lado de fora, tia Poppy mantinha um olhar animado acompanhada de Franchy que já pensava no vestido certo para a ocasião especial. Enquanto a criada adentrou seguindo até o armário de vestidos, tia Poppy segurou na mão de sua sobrinha guiando-a até a penteadeira para ajeitar os cachos de vosso cabelo.
— Então, como estou?! — perguntou , ao olhar-se no espelho.
— A semelhança que tens com vossa mãe agora, emociona-me muito. — disse a tia, transbordando orgulho — És ainda mais linda, minha querida.
— Obrigada minha tia, por tudo. — a rubi abriu um sorriso singelo para ela, então voltou a atenção para a criada — E agradeço a vós também Franchy, por sempre torcer por mim.
— Magina senhorita , sempre foi tão amável comigo e vossa família sempre cuidou da minha. — Franchy sorriu de volta.
— Acho que devo ir agora. — o último suspiro antes de deixar o quarto.
Subir em uma carruagem sem saber exatamente o que acontecerá ao chegar ao destino final, fez com que passasse todo o caminho pensativa no que encontraria quando chegasse. Senhor Hilte, o mordomo prontamente a aguardava no jardim frontal, com o parar da carruagem em frente ao homem, recebeu de imediato a ajuda para desembarcar.
— Bem-vinda ao Collis Castelli. — disse o senhor Hilte, ao recebê-la agora formalmente — Meu senhorio a aguarda no solário.
Ela assentiu com a face e o seguiu pela trilha de pedras ornamentais. Pelo caminho observou bem a sutileza das flores que compunham os canteiros do jardim, formando um padrão de cores definidas em brancas representadas por lírios e jasmins, e misturadas aos rosas representados por camélias e peônias. Nem mesmo em toda primavera ela havia sentido tamanho perfume quanto o que sentia ali.
— Senhorita?! — disse Hilte, chamando-lhe a atenção.
Ela havia parado por um momento e perdendo-se na beleza das flores, deixou que a distração a envolvesse esquecendo da pessoa que a aguardava.
— Está tudo bem, senhorita? — indagou o homem.
— Sim, perdoe-me. — ela sorriu de leve, um pouco sem graça e voltou a caminhar seguindo-o.
Poucos metros adiante e finalmente chegara ao solário. Com a estrutura toda em madeira e vidro, recém construído há dois anos, era a edificação mais iluminada da propriedade e totalmente diferente da arquitetura do castelo. Em um movimento rápido, o senhor Hilte girou a maçaneta e abriu a porta, gesticulando para que ela entrasse.
O primeiro passo fora amedrontado, entretanto o segundo seguiu mais firme. Não tinha como fugir do futuro que a aguardava, e o mesmo seguia parado de costas para ela, bem ao fundo do lugar observando a paisagem do lado de fora.
— Senhor?! — a voz da rubi soou leve e suave, mesmo internamente estando em total desespero.
O cavalheiro sentiu o corpo arrepiar com a doçura daquela voz, um sorriso discreto formou-se no canto do seu rosto assim que moveu-se para se virar. O olhar de iniciou confuso formando um misto de surpresa e inexpressividade, enquanto ele manteve seu rosto sério e sereno.
— Vossa graça?! — sussurrou ela, sem saber se colocava como uma pergunta ou afirmação, não entendendo se o rosto do cavalheiro a vossa frente era realmente o que de fato via, ou uma miragem do que ardentemente desejava ver.
E eis que finalmente a última peça se encaixa.
Lady Lewis
Obrigado, me desculpe, eu te amo
Tudo isso não é suficiente para expressar meu tudo
- Promise / EXO
XXV. O Rubi de Whosis
A maior verdade que sabemos sobre a vida, é que ela é imprevisível. Nada acontece como esperamos e quanto mais achamos que não seremos impressionados eis que a figura de um duque secretamente apaixonado aparece diante de um coração ansioso e aflito. Poderia-se dizer que a surpresa é de fato agradável e positiva, entretanto, internamente o rubi se encontrava em um misto de confusão e choque, no qual se notara por sua expressão estática ainda encarando o homem diante dela.
— Acaso isto é uma brincadeira, meu senhor? — sussurrou ela, forçando a voz sair.
— Não costumo brincar com assuntos deste nível de seriedade. — ele manteve o olhar sério, assim como o tom de voz.
Vossa graça seguia controlando a confusão de seus pensamentos, mantendo-se certo de vossas decisões. Após confrontar lord Bourbon e arrancar a verdade sobre não haver nenhum noivo para , trouxe-lhe alívio e ao mesmo tempo incertezas fazendo-o se questionar em todo o caminho para a Escócia, se realmente estava fazendo o certo em desposá-la. Se realmente os sentimentos que detinha pela jovem dama eram de fato amor e não piedade. E quanto mais refletia, mais lhe crescia a certeza de que a única coisa que não a desejava era vê-la nos braços de outro cavalheiro.
— Era o senhor, o tempo todo? — indagou ela, ainda atordoada — Sabendo minha aflição sobre... E não me contaste?
permaneceu em silêncio, abaixando sutilmente o olhar, aquele era um assunto que deveria ter diretamente com o pai. Já a jovem, se sentiu enganada imaginando que certamente o cavalheiro tenha se divertido em brincar com vossos sentimentos ao lhe beijar propositalmente.
— Senhorita… — ele deu dois passos para se aproximar.
Entretanto, ela o parou ao gesticular com a mão direita em um pedido silencioso para manter-se afastado. Logo, fechou os olhos, respirando fundo sentiu um aperto no coração e suas pernas falharem. Seu emocional já abalado pelo dia anterior não havia recuperado o suficiente para aquela revelação.
— Eu acho que... — ela elevou a mão até a testa, e seu seu corpo cambaleou involuntariamente.
— Senhoria Bourbon. — de imediato, vossa graça a amparou em seus braços tentando não se desesperar — A senhorita está bem?
— Não... — sussurrou ela, segurando com um pouco de dificuldade no braço dele — Eu quero ir para...
Antes que pudesse terminar a frase, perdeu a consciência com seu corpo desfalecido nos braços de vossa graça. não perdeu tempo em gritar seu mordomo para que buscasse o doutor na cidade de imediato e na oportunidade também avisasse a família da jovem o ocorrido. Zelando por seu bem estar, ele a levou no colo até o quarto principal do castelo, que lhe pertencia. Apoiando o corpo da rubi na cama, ele afastou-se logo sentindo culpa por lhe causar tal constrangimento, então seguindo para o hall de entrada da construção, controlou sua impaciência com a demora do médico.
Não demorou muito até que o doutor Frederiksen adentrasse o castelo acompanhado de seu aprendiz. Na presença da governanta do castelo, a senhora Lamberg, que ficara no quarto principal observando a paciente, o médico examinou-a com atenção e lhe ajudou a recobrar a consciência, com seu preparado.
— Hum?! — sentiu sua mente atordoada e pesada, seguido de um cheiro forte e desconfortável.
— Ah, finalmente. — disse o médico aliviado por ela dar sinais positivos — Senhorita Bourbon.
— Doutor... — ela o reconheceu de imediato, porém ao olhar em sua volta, estranhou o lugar em que se encontrava — Onde estou?
— Está no Collis Castelli, senhorita Bourbon. — respondeu a senhora Lamberg, tomando a frente.
voltou o olhar para o médico que assentiu com a face. Ele lhe explicou que o motivo do desmaio fora puramente emocional e pediu para que descansasse por hora e se alimentasse adequadamente. Assim que o homem retirou-se do quarto, a jovem voltou a atenção para a senhora que mantinha-se de pé próximo a janela.
— Quem é a senhora? — perguntou, curiosa.
— Meu nome é Francesca Lamberg, milady. — respondeu ela, em um tom firme porém baixo — Sou a governanta do castelo, vossa graça pediu-me para cuidar da senhorita.
— Imaginei mesmo que eu não estivesse em casa. — sussurrou ela, se encolhendo um pouco — Em que quarto me encontro?
— No quarto de vossa graça, milady. — respondeu ela, direto.
nem mesmo teve tempo para criar uma reação à informação, e a porta do quarto abriu-se com a imagem de uma tia preocupada adentrando o ambiente seguindo em sua direção. Tia Poppy a abraçou sem cerimônias, ignorando parcialmente a presença da criada, afinal, não era comum algo do tipo acontecer a jovem e por certo o diagnóstico do doutor se alinhava com os pensamentos da tia aflita.
— Minha querida, como está? — perguntou Poppy, dando um sorriso singelo.
— Estou bem, eu acho. — disse a sobrinha, forçando um sorriso confiante — Apenas não estou sabendo controlar minhas emoções.
— Oh minha querida... — tia deixou transparecer um olhar de empatia — Imagino que não esteja sendo fácil.
— Nenhum pouco. — admitiu — A senhora sabia? Quem era ele?
— Bem, em parte... — Poppy tentava encontrar as melhores palavras para não magoar ainda mais a sobrinha — Eu sabia que era um homem importante, pelo fato de ser o dono deste castelo, mas não que era um duque... Já o conhecia, ?
A sobrinha olhou para a criada, não sentia-se à vontade para falar o assunto em sua presença. E foi o que a tia percebeu.
— Poderia nos deixar à sós. — pediu a tia, em tom de ordem.
A criada fez uma breve reverência e retirou-se do quarto, fechando a porta. Entretanto, nós sabemos que o maior passatempo da criadagem são as inúmeras fofocas que circulam em torno da vida de seus senhores, e desde o fatídico falecimento da duquesa não há um só criado que não esteja curioso para saber sobre a suposta donzela que tomará este lugar. Não vos recrimino meus caros, pois esta autora aqui está a vários capítulos aguardando pelo desfecho desta história. E no mais, quem nunca gostou de uma boa fofoca, principalmente envolvendo os nobres ingleses.
— Está mesmo bem? Ou apenas dizes isto para não me preocupar? — reforçou Poppy, olhando-a com ternura.
— Estou minha tia, é como o doutor me disse, meus desmaios foram puramente emocionais, foram dias cheios de surpresas e incertezas, afetaram-me mais do que imaginei. — confessou ela.
— Estou ao vosso lado, seja qual for a decisão, não és obrigada a casar-se se de fato não o quiseres. — assegurou a tia, empática às pressões vividas pela sobrinha — Tens abrigo diplomático em minha casa.
Completou num tom de brincadeira.
— És tão amável. — disse , sorrindo mais levemente para ela — Agradeço tanto cuidado comigo, tia Poppy.
— O prazer é meu em ter uma sobrinha tão maravilhosa quanto vós. — ela a abraçou novamente.
Mais algum tempo de conversa com abrindo o coração para tia, contando-lhe sem muitos detalhes como conhecera vossa graça, revelando vossa postura diante do acidente que obteve na biblioteca de lady Danbury, e omitindo o beijo perturbador de pensamentos. Após ser deixada no quarto pela tia, violou a ordem médica de repouso e levantou-se da cama indo até a janela, ainda estava claro e o sol começava a dar indícios de se pôr. Parada por algum tempo contemplando a paisagem, de repente, algumas vozes foram ouvidas do corredor até que o girar da maçaneta lhe chamou a atenção.
A porta do quarto se abriu revelando a presença de lord Bourbon.
— Papai. — disse ela, num tom baixo, notando que o homem estava acompanhado de vossa graça — Vossa graça.
— Olá, minha querida, ficamos preocupados. — comentou lord Bourbon agindo com tranquilidade, como se não houvesse preocupações com o ocorrido.
— A senhorita sente-se melhor? — perguntou vossa graça, mantendo o olhar fixo nela.
— Sim, senhor. — ela respirou fundo, e pedindo — Perdoe-me abusar de vossa bondade, mas vossa graça poderia deixar-me à sós com meu pai?
— Claro, imaginei que desejasse isso. — manteve-se compreensível ao momento — Os deixarei à sós.
Assim que o duque retirou-se do quarto, lord fechou a porta para mais privacidade e retornou a atenção para filha, que pelo olhar demonstrava vosso desapontamento com o silêncio do pai.
— Sei que lhe devo algumas explicações, minha querida. — iniciou ele, vossas palavras que pareciam soar arrependimento — E que nenhuma delas vai mudar o fato de vosso pai ter sido egoísta o bastante para não pensar em vós e nos vossos sentimentos... Mas, estava tão envergonhado por meus atos falhos que não consegui pensar em outra alternativa a não ser criar um noivo imaginário para lhe garantir a honra.
ao ouvir aquelas palavras apoiou-se no beiral da janela, não querendo acreditar que de fato suas suspeitas misturadas aos comentários de muitos, estavam corretas. Não havia um noivo, nunca houve um noivo e nunca haveria um noivo... Mas, onde entraria vossa graça nesta história, que bagunçou toda a sua estrutura já fragilizada pela realidade?
— Se não havia um noivo... Como vossa graça... — ela respirou fundo, tentando absorver a chuva de pensamentos que lhe invadiam.
— Após vossa vinda ao campo, o duque veio até nossa casa, perguntar-me sobre o noivo... — lord Bourbon, parou por um momento lembrando-se do ocorrido e de como ficou surpreso pelo interesse do cavalheiro por informações mais concretas do assunto — Por sua persistência, não tive outra escolha a não ser revelar-lhe a verdade… Então como um cavalheiro, de imediato fez-me o pedido.
— Então, se vossa graça não tivesse o confrontado... — ela começou a refletir um pouco mais e tirar suas próprias conclusões — Deixaria vossa filha envelhecer no campo à espera de um noivo que jamais existiria?
Lord Bourbon apenas abaixou o olhar silenciando-se, não tinha resposta para lhe dar. Diante disso, o coração de apertou-se de tristeza, com as lágrimas formando no canto dos olhos sendo seguradas ao máximo.
— Deixe-me sozinha, por favor. — pediu ela, dando as costas para o pai, ao sentir a primeira lágrima rolar pelo rosto.
— Espero que um dia, esta filha possa perdoar vosso pai egoísta, mesmo este não merecendo. — proferiu lord Bourbon, antes de se retirar do ambiente.
Ao ouvir a porta se fechando, desabou no chão pondo-se a chorar para aliviar a dor. Saber das ações do pai conseguia lhe deixar ainda mais desapontada, que certamente era pior que a incerteza sobre os motivos de vossa graça ter tornado seu noivo. Seria por piedade, ou para lhe restituir a honra que parcialmente lhe tirara com o beijo proibido?
— ?! — a voz de Poppy soou da porta, seguido de seu barulho abrindo.
Logo a tia avistou a sobrinha sentada no chão ainda apática com as lágrimas escorrendo por seu rosto. Entrando mais que depressa, ela se aproximou e ajoelhando ao lado abraçou-a com ternura, para lhe trazer conforto ao coração.
— Como se sente? — perguntou Poppy.
— Péssima, como se eu fosse um fardo ao meu pai, que o envergonha. — ela aninhou ao seu abraço, chorando mais um pouco.
— Oh, minha pequena… — a tia a aconchegou mais, acariciando os cabelos — Se eu pudesse, jogava-o na forca pelo que fizeste contigo.
— Sinto-me esgotada agora, sem forças para definir sequer minhas emoções atuais. — confessou a rubi, ao suspirar fraco.
— Não se force, então. — aconselhou a tia.
E desfazendo o abraço por um momento, a olhou com carinho.
— Tenho algo a lhe falar, vossa graça pediu para que ficasse aqui, repousando em seus aposentos até o casamento. — revelou a tia, observando-a com atenção — Ele parece bem preocupado, no entanto, se desejar voltar, tens meu apoio.
— Ele realmente pediu isso? — indagou desacreditada.
— Sim, e se aceitar o pedido, Franchy ficará aqui convosco. — assentiu Poppy — Não precisa, se não quiser… Este noivado, o casamento, apenas aceite se realmente desejar… Pro inferno com a honra de vosso pai.
As palavras abertas da tia fizeram rir por instantes.
— Eu ainda não sei o que meus sentimentos estão dizendo, mas… Não acho que devo recusar o pedido de alguém que demonstra preocupações comigo. — disse ela, em resposta final.
Poppy sorriu para ela e abraçou-a novamente, bem apertado. Mais alguns minutos de conversa e desabafos, a tia despediu-se dela e se retirou mais uma vez, retornando para casa na companhia do senhor Keer. Lord Bourbon fora também convidado a hospedar-se no Collis Castelli com a filha, afinal, em breve estariam oficialmente em família. sabia muito bem dos riscos que seria um casamento com a rubi, pois financeiramente não receberia nenhuma libra pelo dote, e pior seu dever continuava em assumir as dívidas do sogro e fazer prosperar as muitas terras improdutivas que lhe pertenciam ao norte do país. Um trabalho e tanto para o duque mais disciplinado que a coroa possuía.
A noite passou lentamente, com ainda em repouso no quarto principal. Logo pela manhã, fora acordada ao som de pássaros do lado de fora, a janela estava aberta e com isso tentava puxar em sua memória o motivo de tê-la deixado assim.
— Bom dia. — sussurrou para si, espreguiçando um pouco.
— Senhorita Bourbon. — Franchy deu dois toques na porta e a abriu em seguida — Já acordaste?
— Sim. — assentiu erguendo mais o corpo e vendo ela entrar — Bom dia, Franchy.
— Bom dia, minha senhora. — a criada sorriu com sutileza — Vosso rosto está mais corado está manhã, acredito que tenha descansado bem.
— Curiosamente sim, minha noite foi tranquila. — assentiu.
— Vosso desjejum foi servido no solário a pedido de vossa graça. — anunciou ela — Mas se a senhorita estiver indisposta, posso pedir para que tragam ao quarto.
— Não precisa, estou bem melhor hoje. — garantiu a jovem, ao levantar-se da cama — Apenas preciso de roupas mais adequadas para me retirar do quarto.
— Ah sim, minha senhora, trouxe comigo os vossos vestidos. — disse Franchy, rindo de leve.
— Ajuda-me a me trocar, então? — pediu .
— Com prazer. — Franchy assentiu, saindo novamente do quarto para pedir a outro criado que trouxesse os baús com os vestidos.
Fora um momento divertido para a rubi, com as inúmeras opções dadas por Franchy para aquele dia. A sutil noção de moda da criada era alimentada pelas muitas conversas com a modista sobre os nobres tecidos vindos de Paris. O sonho da criada era se tornar uma grande estilista um dia, e economizava muito para isso.
— Bom dia, meu pai. — disse ao descer o último degrau da escadaria, vendo-o adentrar o cômodo.
— Bom dia, minha querida. — lord Bourbon, ainda envergonhado pelo transtorno causado a ela, manteve o olhar abaixado.
A doce jovem não conseguiu pronunciar mais nenhuma palavra, apenas se dirigiu para a saída. Caminhando pelo jardim, notou alguns criados ao longo observando-a entre cochichos. Era difícil para ela não se importar, afinal, se levar pelo histórico do passado de vossa graça, ela certamente estaria ali apenas para substituir a falecida e cumprir o dever de lhe dar herdeiros após o casamento.
— Vossa graça. — sussurrou ela, ao entrar no solário e se encontrar com ele — Imaginei que o senhor estivesse aqui.
— Agradeço por vir, e por aceitar ficar. — disse ele, se sentindo estranho por não conseguir expressar-se como deveria.
No rosto de surgiu um sorriso espontâneo. Por mais que estivesse confusa por seus pensamentos, era inegável a forma em que seu coração acelerava apenas com o olhar do cavalheiro a sua frente. E não economizava na intensidade que emanava de si, pois internamente lutava contra os desejos que continha desde aquele beijo.
— Acompanha-me no desjejum? — perguntou ele, cordialmente ao afastar uma das cadeiras para ela.
— Sim. — a doce rubi deu alguns passos até ele e sentou-se.
Então o acompanhou com o olhar até sentar-se na cadeira ao lado. Ele poderia ter acionado os criados para tal coisa, contudo, fez questão de servi-la pessoalmente de forma atenciosa. Pois vossa graça tinha a intenção de permanecerem à sós ali. O primeiro momento oficial sozinhos, de muitos que seguiriam ao longo do matrimônio.
— Espero que tenha conseguido descansar. — disse ele.
— Sim, felizmente sim. — ela se mantinha retraída com seu jeito tímido de sempre.
Bastante constrangida com o olhar do cavalheiro. Não a recrimino minha cara, que donzela não estaria assim diante de um duque como este? Mas se fisicamente estava descansada, não se estendia ao mental. Eles permaneceram um tempo em silêncio, enquanto degustavam dos pedaços de brioches, se esforçava para não olhá-lo, sabendo que a atenção dele estava fixa nela.
— Perdoe-me por não ter revelado sobre… — ele interrompendo o silêncio, procurava as palavras em sua mente — Era um assunto entre a senhorita e o vosso pai.
— Não deves se desculpar, para ser honesta, eu o agradeço por tudo. — confessou ela, mantendo o olhar na taça de suco — Se não fosse o senhor, certamente jamais saberia a verdade.
Ela respirou fundo, ainda permanecia inquietações internas.
— Tens algum questionamento? — indagou ele, ao percebê-la incomodada.
— Sim. — ela levantou o olhar, tomando coragem para encará-lo.
— Diga. — ele permaneceu sério como de costume.
— Por que fizeste o pedido? — perguntou sem rodeios.
sentiu um frio na barriga de nervosismo, nunca havia demonstrado tanta ousadia nas palavras diante de alguém.
— O que pensas sobre isso? — ele devolveu a pergunta.
— Que o senhor apenas o fez por causa do… — ela suspirou um pouco, precisava seguir em frente — Beijo.
— Inicialmente sim, novamente peço-te desculpas por meus modos, não deveria ter lhe faltado com o respeito, sou um cavalheiro e devo agir como tal. — respondeu ele.
— Agradeço pela sinceridade, vossa graça. — ela arredou a cadeira e levantou-se — Mas não sinta-se obrigado a tal responsabilidade por causa de algo que certamente é insignificante para ambos… Casar-se comigo é casar-se com as dívidas do meu pai, sem dote e correndo o risco de tornar-se a chacota da nobreza.
— Senhorita. — ele levantou-se também.
— Vossa graça, sinta-se liberado de vossas responsabilidades, eu não me sinto nenhum pouco desonrada, e podemos esquecer este assunto. — afastou-se da mesa, para se retirar.
Para a delicada rubi, pior do que passar a vida em solidão, seria casar-se com o homem amado apenas pela honra sabendo que não seria correspondida, pois no fundo, ela já havia desacreditado do amor e de um final feliz como o das amigas. Após a verdade de não haver noivo, contentar-se com um casamento por piedade ou apenas cumprimento de regras, era o mesmo que estar fadada a tristeza.
— ! — o duque segurou firme em seu braço, e aproximando-se mais seus corpos — Permita-me continuar minhas palavras…
— Vossa graça. — ela colocou a mão direita na altura do tórax do cavalheiro, sentindo seu corpo arrepiar com a proximidade.
— Desde aquele beijo, tem sido ainda mais difícil de tirá-la da minha mente. — confessou ele, se aproximando mais, colando seus rostos a ponto de sentir a respiração da donzela — No início desta temporada, eu tinha certeza que desoparia uma dama apenas para cumprir as exigências do meu título, mas então eu a vi pela primeira vez… Ao apresentar-se para a rainha, com um sorriso sutil nos lábios que deixou-me paralisado. — ele soltou seu braço, deslizando os dedos até a cintura dela — Nunca gostei de frequentar os bailes da nobreza, mas apenas para vê-la comecei a ir em cada um deles…
— Senhor… — sussurrou ela, com seu coração acelerado.
— Então, eu a vi no Vauxhall, dançando com o príncipe… — naquele instante já sentia seus impulsos reprimidos a flor da pele.
O duque ficou repetindo para si mesmo internamente que era um cavalheiro e esperaria até o altar, entretanto, seus lábios involuntariamente tocou os de , iniciando outro beijo ainda mais intenso e desesperado que o primeiro.
— Vossa graça… — ela sussurrou novamente, atordoada pela situação.
— … — mais uma vez chamou-a pelo nome, em um tom mais baixo e envolvente — Permita-me desposá-la, não há nada que eu mais desejo neste mundo que não seja a senhorita.
Ela manteve seus olhos fechados, sentindo a respiração dele ofegante. E mais uma vez, rendida aos movimentos de vossa graça, consentiu mais um beijo que a estremecia por inteiro.
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— Então minha querida? Como se sente?! — perguntou tia Poppy, ao abraçá-la mais uma vez, antes de descerem para o jardim.
olhou seu reflexo no espero, alisando o deslumbrante vestido de noiva, com rendas sutis e pequenas pedras de diamante espalhadas. Suas memórias voltaram a dois dias atrás, na declaração de vossa graça no solário, de como a deixou sem palavras e totalmente rendida ao segundo, terceiro e quarto beijo do casal. Ela havia percebido o esforço do autocontrole de vossa graça, assim que afastou-se dela e se retirou sem mais palavras. Levou alguns minutos para que a jovem entendesse de fato o que tinha acontecido naquele lugar.
— Estou nervosa. — ela desviou o olhar para o reflexo da tia — Pelo que acontecerá após o casamento.
— Hum… Sobre a primeira noite do casal? — questionou a tia.
— Sim, a senhora nunca me contou sobre. — se virou para ela.
— Bem… — Poppy sentiu-se envergonhada, sem saber o que responder a ela — Acontecem muitas coisas não somente na primeira noite, mas nas próximas e depende muito de como será o casamento.
— De como será o casamento, em que sentido? — indagou a jovem.
— Bem, casamentos sem amor, certamente é mais doloroso… — Poppy parou por um tempo para pensar no que falara — Bem, apenas saiba que quando há amor envolvido, é bem mais prazeroso para nós, as esposas.
— E quando não tem?! — continuou ela, curiosa.
— Então, eu ouvi dizer que é um martírio. — respondeu a tia.
Poppy, lembrou-se a história de uma amiga que havia sido forçada a um casamento arranjado com um homem trinta anos mais velho. A pobre Nancy vivia dias de tristeza e terror sendo abusada pelo marido e aceitando o mesmo traí-la com as criadas da casa.
— Mas não se preocupe com isso, minha querida. — Poppy voltou a sorrir, espalhando os pensamentos ruins — Pude perceber no olhar de vossa graça que ele tem fortes sentimentos por vós.
— Sim, ainda não acredito que o destino sorriu para mim desta forma. — confessou a rubi, com um frio na barriga — É muito para ser verdade.
— Pois então, acredite e pare com pensamentos negativos. — reforçou a tia, feliz por ela — Tenha um bom casamento e não preocupe-se com a primeira noite, apenas permita-se descobrir mais de vosso marido, sem reservas.
assentiu com um sorriso e abraçou-a em gratidão.
E finalmente para o ansioso coração desta autora, nosso terceiro casamento mais aguardado da temporada. Espero que os pequenos herdeiros não demorem tanto a vir ao mundo, compensando nossa espera pelo matrimônio! E ao pôr-do-sol em uma singela e simplória cerimônia preparada no solário do Collis Castelli, para nada mais que quatro convidados conhecidos do duque além da família da noiva, eis que finalmente nosso rubi tornou-se a duquesa de Whosis.
A recepção dos noivos não demorou muito, afinal, o duque tinha sua fama de reservado e ponderado quando o assunto era festas ou algo desta natureza. Os cumprimentos dos convidados fora rápido e preciso, assim como a retirada da noiva para o quarto principal.
— Vossa graça. — disse lord Bourbon, ao adentrar o escritório do castelo para agradecê-lo.
— Lord Bourbon. — o olhou, com serenidade, enquanto fechava um livro de registro.
Tenebrae mesmo em festividade, possuía algumas responsabilidades para com seu ducado, que requeria vossa atenção para a próxima estação. Mesmo estando em meados do verão, o povo local já se inquietava devido a alguns prejuízos da safra deste ano. E para alguém perfeccionista como tal, bastava um motivo pequeno para preocupar-se de imediato.
— Sei que já o fiz desde que saímos de Londres, entretanto, mais uma vez quero lhe agradecer pelo que fez por minha filha. — disse o lord.
— Tenho fortes sentimentos por vossa filha, lord, então saiba que desposá-la não foi por piedade, e mesmo se houvesse um noivo, certamente o final seria o mesmo, pois não a permitiria casar-se com outro que não fosse eu. — suas palavras seguras, fizeram o pai da noiva se surpreender.
— Vossa graça, não imaginei que de fato tinha sentimentos por . — o homem, soltou um suspiro mais aliviado — Saber sobre isso, me deixa ainda mais feliz.
— Eu estava me retirando. — disse — Mas, antes de me recolher, gostaria de pedir uma coisa.
— O que quiser, vossa graça. — disse o pai, atento.
— Desejo que retorne amanhã mesmo para Londres, não se preocupe, pois terá alguém de minha confiança para instruí-lo em vossos negócios e necessidades. — assegurou o genro — Percebo que ainda sente-se desconfortável com vossa presença e não a quero obrigar a tal coisa.
— Claro senhor, entendo perfeitamente. — assentiu ele, sem contestações.
— Assim que o período de lua de mel passar, assumirei a responsabilidade por todas as vossas propriedades, então até lá, sugiro que o senhor mantenha-se recolhido em vossa casa. — pediu o duque, em tom de ordem — E mantenha a discrição, a coroa apenas saberá deste casamento quando retornarmos a capital, daqui a algumas semanas.
— Como desenhar, vossa graça. — lord Bourbon, fez uma breve reverência antes de sair primeiro.
Assim que retirou-se em seguida do escritório, encontrou seu mordomo Hilte o aguardando do lado de fora.
— Mais algum pedido para hoje, meu senhor? — perguntou o homem.
— Quero que esta carta chegue em mãos, ao senhor Kim. — ordenou ele — Ele saberá o que fazer com o lord Bourbon ao lê-la.
— Como desejar meu senhor. — assentiu Hilte, ao pegar a carta da mão dele e guardar no bolso do colete — Mais algo?
— O segundo quarto está preparado? — perguntou.
— Sim, senhor.
— Muito bem, quero que sirva o desjejum de amanhã no solário. — continuou as recomendações — Mande todos os criados ficarem longe do perímetro e não quero comentários inoportunos pelas paredes do castelo.
— Não se preocupe senhor, a criadagem será o mais discreta possível. — garantiu o mordomo.
— Assim espero. — pensou se faltava algo — Diga a senhora Lamberg que não será necessário continuar as reformas no quarto da duquesa situado na ala leste.
— Sim, senhor, devemos preparar um novo quarto? — indagou o mordomo.
— Não, ela ficará no quarto principal. — respondeu — Eu continuarei no segundo quarto, como tem sido.
— Como desejar, senhor. — o mordomo reverenciou e retirou-se para suas tarefas.
O duque Tenebrae, respirou fundo, ao lembrar-se da primeira noite com sua falecida esposa. Nunca imaginaria que passaria pela mesma sensação daquele dia, o coração acelerado e ansioso pelo que viria a seguir. Seguindo para o quarto principal, deu dois toques na porta e logo ouviu a vossa esposa assentir para entrar. E lá estava , de costas para ele, próximo à janela olhando o horizonte, vestida com uma camisola de linho egípcio. deu alguns passos aproximando da esposa, parando atrás dela, a milímetros de distância.
— Vossa graça!? — disse num tom suave, à despertando o pensamento.
— Senhor… — sussurrou ela, sentindo o coração acelerar.
— Tenho permissão para adentrar os vossos pensamentos? — perguntou ele, tocando-a na cintura.
— O que desejas saber? — indagou ela, sentindo um arrepio por seu corpo.
— Ao que pertencia vossa atenção?! — continuou ele, ao encostar de leve seus lábios no ombro direito dela.
— O que o senhor acha?! — ela se encolheu um pouco, intrigada por algumas sensações novas passarem por seu corpo.
— Eu vos imploro, diga-me. — pediu ele, ao virá-la com sutileza para ficarem de frente um para o outro.
— Não há outra coisa em meus pensamentos, vossa graça… — respondeu ela, segura num tom baixo — A não ser o cavalheiro a quem me desposou, e detém a maior parte dos meus pensamentos.
Ele sorriu de canto, aninhando-a em seus braços para deixá-la mais próxima o possível, então finalmente beijou-a abertamente com doçura e intensidade. Todos os desejos que vossa graça reprimia, finalmente poderiam ser mostrados a jovem a quem lhe chamou a atenção desde o início.
Desta vez, nada iria os atrapalhar. A parte que mais gostamos de fato.
Já , que iniciou retraída pela conversa com a tia antes da cerimônia, permitiu-se conhecer o lado apaixonado do marido, deixando-o mostrar todos os seus lados mais íntimos em meio a brisa que adentrava a janela, que refrescava o aquecido ambiente. Era perceptível e surpreendente para ela, o calor que emanava do corpo de , acelerando seu coração mais e mais, em meio aos sussurros e declarações de amor. Uma confirmação para a rubi que definitivamente aquela união jamais seria por piedade e fadada ao fracasso, pois os sentimentos do duque eram mais do que reais e palpáveis para ela.
— Vossa graça… — sussurrou , ao se remexer na cama, sentindo o vazio ao lado.
Ela abriu os olhos e notou estar sozinha no quarto. A nova duquesa já tinha conhecimentos sobre os casais na nobreza dormirem em quartos separados. E que também haviam exceções como vossa tia e o senhor Keer, pois a burguesia tinha seus hábitos de dormirem os casais no mesmo quarto.
— Este quarto está tão vazio agora. — sussurrou ela, a realidade.
Ao pensar em tudo o que havia acontecido naquele lugar há horas atrás, seu corpo estremeceu um pouco. Fechando os olhos, não conseguiu conter a imagem dos beijos e carícias de , do toque dos seus dedos e do calor do seu corpo, em um curto espaço de tempo havia passado por diversas sensações que conseguiam resumir a um só sentimento: amor.
Estar em um momento de intimidade com seu marido, a fez perceber que um casamento certamente era mais do que conversas no jardim ou presenças em bailes da nobreza. Por certo, agora ela conseguia entender as palavras de tia Poppy sobre as muitas noites que viriam após a primeira.
E se indagava: Seriam todas assim? E terminariam com ambos distantes como o sol e a lua?
Honestamente minha cara, eu esperava algo mais ousado como nosso príncipe.
tentou dormir novamente, rolando várias vezes na cama até entender que perdera o sono, levantou-se e jogando um xale nos ombros, saiu do quarto. Em suas muitas noites de insônia quando criança após a morte da mãe, ela caminhava pelo jardim ao longo da madrugada, para se cansar e finalmente voltar ao quarto. Assim ela o fez e seguiu para o jardim do castelo, admirando os arbustos de flores que perfumam o lugar sendo iluminados pela lua.
— Achei que fosse o único a não conseguir dormir. — a voz de vossa graça soou atrás dela, assustando-a sutilmente.
— Senhor. — ela respirou fundo, ao voltar seu olhar para ele — Achei que estivesse em vosso quarto.
— Perdoe-me por assustá-la. — pediu ele, aproximando-se mais.
— Está tudo bem. — sentiu seu coração pulsar um pouco mais forte com sua aproximação.
O jardim estava claro como o dia, e fora possível para ela notar que seu marido estava sem camisa.
— Tentei dormir, mas… Obviamente não conseguiria. — confessou ele, mantendo o olhar fixo nela — E a vós?
— Acordei não tem muito tempo… Não consegui voltar a dormir. — ela voltou o olhar envergonhada para o solário que estava próximo — Eu não pude deixar de ouvir dos criados sobre a ala leste do castelo.
respirou fundo, não queria falar do assunto, não naquela noite.
— Estou proibida de ir lá, também? — perguntou ela.
não sabia muita coisa sobre o acidente que acontecera no castelo, mas também não o perguntaria.
— Claro que não… — ele deu mais alguns passos passando por ela, seguiu para o solário.
A rubi não entendeu bem, no entanto o seguiu curiosa para saber o que seu marido faria.
— Perdoe-me se disse algo que não deveria. — disse ela, ao entrar e vê-lo próximo do sofá que tinha aos fundos.
— Não há o que ser perdoado. — ele voltou seu olhar carinhoso para ela — Está tudo bem.
— Não quer falar sobre o assunto? — perguntou ela, inocentemente.
— Apenas quero manter minha atenção em vós… — ele estendeu a mão direita para ela, instigando-a.
sorriu de leve e seguiu até ele, segurando em sua mão, sem entender o motivo.
— Vossa graça… — ela manteve a voz baixa.
— Posso lhe pedir uma coisa? — perguntou ele.
— Sim, o que desejas? — assentiu ela.
— Além de minha duquesa… — suas palavras soaram maliciosas — Poderias ser informal com vosso marido… Diga apenas o meu nome.
— … — sussurrou ela.
Ele sorriu de canto e iniciou o beijo que renderia a madrugada no solário. manteve-se rendida às mesmas sensações de antes que pensara não voltar a ter pela segunda vez. não havia planejado aquilo, esperava vê-la apenas na manhã seguinte para o café e um passeio de cavalo pela propriedade, entretanto, o encontro de surpresa no jardim fora mais do que satisfatório para ele que não se importava mais com o improviso.
Vossa graça apenas desejava terminar a noite da mesma forma que iniciou, com a senhora amada em seus braços. E claro que isso implicaria nos preparativos dos criados ao amanhecer.
Contudo, como diria nosso querido ex-libertino:
Quem liga para o desjejum, quando se está amando?
- Lady Lewis
Eu perdi minha cabeça,
Desde o momento em que te vi.
Só de estar ao seu lado, meu mundo fica em câmera lenta,
Por favor, diga se isso é amor?
- What Is Love / EXO
XXVI. Notícias do Outono
Não há nada mais estimulante que a mudança de estações. E para nossos três casais em lua de mel, nada melhor que a brisa refrescante do outono para equilibrar as altas temperaturas proporcionadas pelo amor que transbordaram nosso verão de calor. Assim estava a condessa após acordar de um leve cochilo ao final da tarde, decorrente de um mal-estar. Nosso diamante Bridgerton, havia convidado a irmã Daisy para passar alguns dias em Derbyshire e lhe fazer companhia, juntamente com a criada.
A realidade das obrigações de havia chegado ao casal, e ambos passaram a se ver apenas ao amanhecer no desjejum e ao anoitecer no jantar. E para alguns que pensaram que a aristocracia vivia apenas das rentabilidades de vossas propriedades, saibam que administrar terras e mantê-las produtivas também requer atenção, dedicação e uma pitada de trabalho. Lord Bridgerton tinha muitos exemplos de nobres que faliram e perderam suas poses para a burguesia por acharem que a fortuna que tinham eram eternas.
Ah, meus caros leitores, nada é eterno… A não ser claro, o desejo ardente que ambos os casais sentiam, cada senhorio por vossa esposa.
— ?! — a voz sutil de Daisy, despertou a atenção da irmã que ainda se mantinha deitada na cama — Acordaste?
— Sim, Daisy, pode entrar. — respondeu ela, num tom baixo.
— Está melhor agora? — perguntou a irmã, assim que passou pela porta indo até ela — Vosso desmaio nos deu um susto.
— Sim, estou bem melhor. — assegurou ela, com o olhar confiante — Certamente deve ter sido algo que comi e deixou-me assim, mas já passou.
— Que bom, você bem que poderia ter nos deixado enviar um bilhete ao lord Bridgerton. — o olhar preocupado da irmã mais nova retratou inexperiência com tais situações — Eu fiquei tão aflita sem saber o que fazer.
— Pois eu acho que agiste muito bem. — sorriu de leve — E como foi o restante da tarde? Deves estar sentindo falta da agitação de nossa família, aqui é tão silencioso.
— Poderíamos trazer as gêmeas, resolveria em dois minutos. — comentou Daisy, sentando na beirada da cama.
Ambas riram. De fato as gêmeas eram o ponto de animação da família Sollary, divertindo a todos ao longo do dia com suas incontáveis travessuras.
— Melhor não, assim nosso pai não teria ninguém para distraí-lo nos momentos de raiva com os negócios, além de nossa mãe. — refletiu — E como ela está?
— A saúde continua a mesma, como o doutor disse, sem traços de melhoras, mas Rose prometeu manter-se atenta a ela. — respondeu a mais nova — Sendo sincera, sinto mesmo falta de nossa vida no porto.
— Sério? Achei que Londres tivesse enchido vossos olhos com a aclamada Lady Lewis. — ficou surpresa pela revelação da irmã.
— Londres é legal, porém, tínhamos mais aventuras em Liverpool. — explicou ela, em um tom saudoso.
— Ah, sim, aventuras como na vez em que as gêmeas quase conseguiram embarcar escondidas para América. — comentou , fazendo-a.
— Ou como quando você quase entrou para o exército da rainha, vestindo as roupas do papai. — retrucou Daisy, rindo um pouco mais — Tudo por causa de um amigo.
— Eu precisava me despedir adequadamente de sir Ulrik. — explicou a primogênita, lembrando-se de suas loucuras no Porto.
— E como tem sido? O esqueceste mesmo? Lembro-me que tinha um olhar encantado para ele. — o comentário de Daisy, não era tendencioso, apenas mantinha uma curiosidade normal pois sempre tinha com a mais velha as trocas de confidencialidades.
— Completamente... No início da primavera achei mesmo que não pudesse amar outro cavalheiro que não fosse ele, porém, não contava com a existência do lord Bridgerton. — confessou ela, num tom apaixonado.
— Não que eu queira apaixonar-me, mas seria emocionante viver um romance como o vosso. — afirmou, com o olhar brilhoso.
— Como o meu? Quase causando uma tragédia em nossa família? — riu de nervoso — Tudo terminou bem, mas as aflições que vivi naquele dia, não desejo a ninguém.
— Tens razão, foi um dia muito conturbado aquele. — concordou a mais nova, voltando o olhar para a janela — Hum...
Seu suspiro profundo chamou a atenção da irmã.
— A que se deve este olhar distante? — perguntou o diamante, intrigada.
— Peguei-me a refletir, como os meses passaram tão rápido que até parece que vivemos há anos em Londres. — contou ela, seus pensamentos — Já é outono e logo veremos a neve.
— Sim... — assentiu — Infelizmente verei Paris somente na próxima primavera, e espero retornar a tempo para o casamento de Rose.
— Então lord Bridgerton adiou mesmo as luzes da Torre Eiffel? — os olhos de Daisy demonstraram decepção — Estava a cogitar a ideia de me esconder em algum dos baús para participar da viagem.
— Não necessitas de tanto Daisy, já expressei a ele meu desejo de ter a vossa companhia, apesar da viagem soar como uma lua de mel atrasada. — anunciou , tranquilizando-a.
— Agradeço vossa bondade, agora resta-me saber se nosso pai irá concordar — a mais nova espreguiçou-se, inclinando o corpo para deitar-se aos pés da irmã.
— Ele irá permitir. — garantiu.
Um breve silêncio pairou pelo quarto, com ambas distantes em vossos pensamentos.
— . — sussurrou Daisy, com o olhar no teto.
— Sim. — respondeu a irmã.
— Já pensaste em ter filhos? — indagou a mais nova, se remexendo um pouco para olhá-la.
— Vagamente, por que? — ficou confusa pela indagação.
— É que, olhe para nossa mãe, teve tantos filhos e perdeu outros tantos que o corpo começou a rejeitá-la. — disse ela, tentando suavizar seus temores — Fico a me perguntar... E se de fato casar-me, não sei se desejo ter tantos filhos a ponto de fazer-me mal, ainda que eu os ame muito.
— Bem, sabe que nossos pais não nasceram em berço de ouro, e nossa mãe trabalhou boa parte da vida para ajudar nosso pai, certamente isso foi um ponto importante a ser considerado. — argumentou — Nossas condições atuais de vida obviamente são mais saudáveis do que a dos nossos pais em nossa idade.
— Isso é um fato... — concordou Daisy.
— Eu já pensei no momento em que serei mãe… Para ser honesta, tenho pensado nisso nas últimas semanas. — confessou a primogênita — No momento em que engravidar e um ser crescer dentro de mim.
— Parece tão espantoso ao imaginar. — comentou a irmã.
— Sim, mas também mágico.
As irmãs continuaram com o assunto de filhos e casa cheia. Por certo que após ter seis filhas e um filho, claro que o senhor Sollary já mantinha a ansiedade em ter muitos netos correndo por sua casa nas datas comemorativas. E sabia muito bem que assim como sua família, os Bridgertons também possuíam uma boa genética para filhos, dos muitos netos que lady Violet tinha além dos 8 filhos.
Algum tempo depois, Daisy se retirou do quarto da irmã e seguiu para a biblioteca, estava bastante interessada na estante dos romances parisienses que descobrira em seu terceiro dia na Garden House. Enquanto isso, o diamante Bridgerton permaneceu deitada refletindo sobre os assuntos abordados na conversa com a irmã. Chegando o horário do jantar, ela saiu do quarto seguindo para as escadas do palacete, chegando na sala de jantar se surpreendeu por não encontrar nem a irmã e menos ainda o marido.
— Moore. — ela voltou o olhar para sua criada — Acaso sabe onde encontra-se Daisy e lord Bridgerton?
— Ah, milady, vossa irmã pediu para ser servida na biblioteca, e creio que passará o final da noite em meio aos livros. — respondeu a criada, segurando o riso pelo comentário — Já o lord Bridgerton, assim que retornou seguiu para o orquidário, eu precisei avisá-lo sobre o ocorrido, após dizer que a senhora estava descansando. Perdoe-me.
— Não há necessidade de se desculpar. — assegurou , entendendo as preocupações dela — Sei que a deixei em uma situação delicada, por pedir para não informá-lo quando aconteceu.
— Mas ele não quis esperar pelo jantar? — indagou .
— Não senhora, apenas saiu em direção ao orquidário. — afirmou a criada.
— Tudo bem. — ela respirou fundo e se afastou para ir em direção ao local em que o marido se encontrava.
Uma das descobertas do diamante em Derbyshire foi saber que tinha uma fascinação por orquídeas, as quais diariamente reservava um tempo do dia para dar-lhes a atenção necessária. O que muito admirou a condessa, que nem mesmo fora permitida adentrar o lugar sem a presença do marido.
— Milorde?! — ela deu dois toques no vidro da porta, o chamando a atenção.
despertou de sua atenção a planta e voltou-se para a porta. de imediato gesticulou pedindo para que abrisse a porta, sendo atendida.
— Boa noite, conde de Whatnot. — disse ela, sendo formal ao extremo, em provocação a ele.
— Boa noite, condessa. — ele manteve o olhar sério e rígido.
— Tenho a permissão para entrar? — perguntou ela, tentando não se importar com a frieza dele.
— Sim, minha senhora. — ele abriu um pouco mais a porta para que ela entrasse.
fechando a porta, continuou em silêncio ao observar os passos de sua esposa pelo lugar. deslizou as mãos pela escultura da entrada e caminhou mais um pouco até a chaise próxima a sua bancada de mármore carrara em que realizava os trabalhos. Então, ao olhar para ele, percebeu seu olhar fixo em sua direção. O silêncio pairou sobre eles, e com isso aproximou-se de sua bancada e voltou às atividades que conduzia, porém, atento aos movimentos da esposa que se aproximava mais.
— Vossa esposa apenas receberá um boa noite frio e distante? — indagou ela, ao se posicionar ao lado dele, apoiando suas costas na bancada e ficando de frente para a porta.
— O que mais desejas de vosso marido? — ele devolveu a pergunta, mantendo a atenção ao que executava.
— Desejo saber o motivo de vossa raiva para com vossa esposa. — insistiu ela, mais claramente.
— Quando eu disse estar com raiva? — ele parou o que fazia, então a olhou permanecendo inexpressivo para ela.
— Vossos olhos... — direta e precisa — O que eu fiz agora? Pois nada passa-me pela mente.
— Nada?! Apenas ocultaste algo que vosso marido. — ele tentou manter-se sereno, mas internamente estava em plena irritação — Ainda achas que não fizeste nada?
— Por favor, , não posso lhe chamar todas as vezes que sentir-me indisposta. — retrucou ela, sentindo irrelevante sua chateação.
— E por que não? — questionou ele, não entendendo a tranquilidade da esposa — Na saúde e na doença, lembro-me muito bem destas palavras... Mas minha esposa provavelmente já deve tê-las esquecido.
Ela respirou fundo, tentando não se alterar, pois não desejava brigar com ele. Contudo, seu silêncio soou de outra forma para ele, que se afastando da bancada, impulsionou para se retirar do lugar.
— . — ela segurou em seu braço, num tom baixo e firme.
— Não consegues mesmo entender que tudo que a envolve é de meu interesse e preocupação... Deus disse que somos uma só carne, e levo isso muito a sério. — seu olhar suavizou um pouco, mostrando parte do seu lado apaixonado — Eu morreria se algo lhe acontecesse.
— O que poderia me acontecer?! — indagou ela, tentando compreendê-lo.
— Prometa-me que não me esconderá nada? — pediu ele.
— ...
— Apenas, prometa-me. — insistiu ele.
— Prometo. — declarou ela, não achando necessário, mas assentindo.
— Eu a amo tanto. — declarou ele, de forma direta e sucinta.
não obteve nem mesmo o tempo de reação, e logo os lábios de seu marido tocou os seus com doçura e certo desespero. De certa forma, lod Bridgerton tinha suas inseguranças quanto a saúde da esposa, principalmente pelo histórico familiar, pois não era segredo para ninguém que a mãe de nosso diamante tinha suas limitações por conta das muitas gravidezes que teve. E agora, após saber que a história em que a primogênita havia nascido antes do tempo determinado, com apenas sete meses de gestação, as preocupações do conde apenas aumentaram.
Entretanto, ali estava , despreocupada nos braços do marido, desfrutando de todo o amor que o mesmo poderia lhe dar após um pequeno mal entendido. E de fato que, Bridgerton jamais conseguiria passar mais de dez minutos brigado com vossa esposa, pois vossos olhos e pensamentos apenas lhe conduzia ao desejo de envolvê-la em seus braços onde quer que estivesse. E naquele orquidário, infelizmente, as plantas ficaram em segundo plano diante dos maliciosos beijos do conde que estremecia a esposa internamente.
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Na alta madrugada, acordou de repente sentindo outro mal estar. Ao lembrar-se que o casal ainda se encontrava no orquidário, ela levantou-se da chaise silenciosamente para não acordá-la e pegando seu xale para cobrir-se um pouco mais, se retirou do lugar. Do lado externo, foram apenas mais alguns passos para que seu corpo lhe parasse com um inesperado anseio de vômito.
— Que nojo. — sussurrou ela, após o ocorrido, limpando sua boca com a ponta do xale.
— Milady?! — em segundos a voz de soou atrás dela — Está tudo bem?
— Sim. — ela respirou fundo, então voltou-se para ele e forçou um sorriso — Não deverias ter se levantado.
— E vós não deverias mentir ao vosso marido após lhe fazer uma promessa. — o tom de sua voz ficou mais sério.
— Não estou a mentir, sinto-me bem de verdade, foi apenas… — ela respirou mais fundo novamente.
— Então uma senhora vomitando é algo normal? — ele apontou para o seu lado, mantendo o olhar fixo na esposa.
— , por favor, eu só não queria te acordar… — a voz do diamante foi ficando mais baixa, com a mesmo puxando o ar para seus pulmões, sentindo mais uma vez o mesmo mal estar da manhã.
— O que está sentindo?! — perguntou ele, ao perceber certa dificuldade vindo da esposa.
— Eu não… — nem mesmo conseguiu finalizar suas palavras.
A condessa em um piscar de olhos ficou inconsciente e seu corpo lentamente foi se desfalecendo, no susto a amparou, pegando-a no colo. Seguindo para o palacete, aos gritos chamou o mordomo Dawson que retornou juntamente com ele para a cidade.
— Chamou milorde. — disse o homem, ao adentrar o quarto principal do palacete e se deparar com o olhar assustado de seu senhor, enquanto permanecia com a esposa em parte sobre a cama e em parte em seus braços.
— Busque o doutor Green, depressa. — ordenou ele, num tom desesperado.
— Sim, senhor, irei de imediato. — o criado retirou-se mais que depressa, para pegar uma das carruagens e executar a missão.
Em poucos minutos todos já estavam acordados, cochichos a parte entre as paredes do lugar, Moore se direcionou para o quarto de sua senhora na companhia de Daisy, que mais uma vez sentiu o coração apertado pelo estado da irmã. A jovem Sollary que sempre vira a primogênita como alguém forte e saudável a todo momento, não conseguia entender o que lhe acontecia.
A chegada do doutor algum tempo depois, trouxe alívio e mais preocupações para todos. O homem após induzir com um preparado para despertá-la, foi analisando seu estado físico enquanto lhe fazia algumas perguntas pouco íntimas que finalmente o diagnóstico fora dito em voz alta.
— Grávida?! — sussurrou , assustada com as palavras dele, afinal não imagina que algo aconteceria assim tão rapidamente.
— Tem certeza, doutor?! — indagou , controlando sua apreensão interna.
— Não me resta dúvidas, milorde. — assegurou o médico, seguro de seu diagnóstico — Eu lhe recomendo repouso absoluto milady, e uma alimentação equilibrada, precisarei de uma das criadas para instruir no preparo de alguns chá que ajudará a diminuir os enjoos.
— Sim, claro… — olhou para sua criada — Moore, por favor, acompanhe o doutor e se atente ao que ele lhe ensinará.
— Sim, senhora. — disse a criada, mostrando o caminho para ele — Venha comigo, por gentileza, doutor.
Daisy, aproximou-se da irmã aparentemente sem reação, porém bastante espantada.
— Serei titia?! — comentou ela, de forma animada — Estávamos falando sobre filhos na tarde de ontem.
— Sim. — assentiu , ao sorrir para a irmã.
— Quem diria que era uma premonição minha. — ela riu — Deve ser por isso que está mais bonita, dizem que quando uma senhora se torna mãe, sua pele fica mais aveludada.
— Acho que são mitos Daisy, pois eu não me sinto assim. — alegou a primogênita.
— Bem, sendo ou não, sempre será bela. — garantiu a irmã — Ah, devemos escrever uma carta para Londres, contando sobre o bebê.
— Sim. — assentiu ela.
Logo o diamante olhou para o marido, percebendo em seu olhar uma sutil preocupação, sendo manifestada no silêncio. Então, discretamente ela pediu a irmã para que os deixasse sozinhos por um momento. Assim que Daisy se retirou com a desculpa que escreveria as cartas para a irmã, fixou o olhar no cavalheiro em sua frente, reunindo toda a sua paciência para lidar com a situação.
— Está tudo bem? — perguntou ela — Não disseste nada, desde o anúncio do doutor.
— O que tenho a dizer? — retrucou ele, com o tom baixo.
— O que o preocupa? — insistiu ela, sabendo ter mais coisas por detrás daquele olhar.
Ele voltou o olhar para a janela, permanecendo em silêncio.
— Agora é vosso senhorio que não se abre com a esposa. — ela o alfinetou com sutileza.
— Vossa condição preocupa-me. — iniciou ele, seu desabafo — Vosso histórico familiar me preocupa… Ter um filho me preocupa.
— O que está a dizer?! — ela sentiu-se confusa a princípio, então foi juntando as peças — , olhe para mim, por favor.
Ele suspirou fraco, voltando a olhá-la.
— Achas que acontecerá comigo o mesmo que aconteceu com minha mãe? — indagou ela, o ponto central da questão.
— É pecado temer a isso?! — retrucou ele — Só de imaginá-la doente por me dar filhos, meu coração corrói de angústia.
— Milorde… — ela gesticulou o chamando para perto.
teve alguns minutos de relutância, até que cedeu e aproximou-se dela, sentando ao seu lado, com o olhar fixo em seu ventre.
— Confesso que tenho pensado sobre isso desde que vossa irmã chegou aqui e contou-me as histórias das sete gravidezes de vossa mãe. — seu olhar continha um misto de medo e desespero — Não quero que o mesmo lhe aconteça.
— Não irá acontecer, lhe asseguro. — disse ela, com segurança — Agora deixe os maus pensamentos de lado e alegre-se, teremos um herdeiro…
— Eu te amo, sabia? — sussurrou ele, ao se aproximar o suficiente para lhe dar um selinho demorado.
— Sim, eu sabia. — ela sorriu para ele, sentindo-se contente pela notícia e por saber que havia alguém que a amava tanto ao ponto de se preocupar ao extremo com ela — Eu também vos amo.
Ela o beijou com mais suavidade. sabia que para a nobreza, ter herdeiros era a maior de todas as obrigações que uma boa esposa deveria executar, principalmente em títulos importantes como o de condessa. Não que a mesma sentiu-se obrigada a dar filhos para , mas queria lhe presentear com alguns, afinal ambas as vossas famílias tinham a fama de coelhos neste quesito.
E que venham os herdeiros.
Lady Lewis
Eu serei sua força
Eu darei a você esperança
Mantendo sua fé quando ela tiver acabado
- This I Promise You / 'NSYNC
XXVII. Viagens inesquecíveis
Enquanto a natureza transbordava seu frescor com as brisas suaves do balançar das folhas do outono, nosso casal real ainda se mantinham em clima de verão com seus dias calorosos e maliciosos. De fato, meus caros, o Castelo de Windsor nunca obteve dias tão intensos desde que o rei George e nossa rainha Charlotte se casaram. O que se explica tamanho desejo de vossa alteza por sua pérola desposada.
Todavia, nem tudo são flores e após muitos cochichos relacionados à lua de mel no castelo da família, ambos foram chamados à presença de vossa majestade. Às vésperas de sua partida para a viagem dos sonhos de nossa Bridgerton, as responsabilidades para com a coroa lhes bateram à porta.
— Vossa alteza, vossa alteza. — disse o mordomo real, ao recebê-los no jardim principal — Vossa majestade os aguarda no solário.
— O que vossa mãe deseja de nós?! — perguntou , intrigada com tal convocação.
— Lembrar-me dos meus deveres, por certo. — respondeu , seguindo na frente de cabeça erguida e olhar rígido.
Assim que se colocaram diante do solário, o mordomo os anunciou e logo adentraram o lugar. Internamente, sentia-se com o coração acelerado e as mãos trêmulas, afinal, era a primeira vez que veria sua sogra após a cerimônia de casamento. A princesa respirou fundo, suavizando o olhar para disfarçar seu nervosismo, deixando transparecer um sorriso singelo e discreto no rosto, enquanto um passo à vossa frente, manteve-se sério e firme quanto ao olhar.
— Mandou-nos chamar, majestade. — disse ele, num tom seco e áspero.
Nosso ex-libertino sabia que as convocações de vossa mãe nunca eram amigáveis, desde o momento em que prometera cumprir as obrigações reais, iniciando com matrimônio. O olhar da rainha para eles, permaneceu enigmático por alguns instantes, enquanto ela mantinha a sobrancelha direita arqueada os observando.
— Me parecem mais saudáveis do que eu imaginei. — comentou ela, com ar sarcástico.
— E por qual motivo não estaríamos? — indagou ele, mantendo a postura rígida.
— Tenho ouvido muitos rumores a respeito de ambos, o que me causa preocupação e ansiedade também. — continuou ela, não se importando com as indagações do filho — Após o matrimônio ao final da primavera com esta pequena estadia em Windsor, criei muitas expectativas a respeito dos dois, entretanto estamos caminhando para o final de outono e não obtive nenhum anúncio satisfatório vindo de ambos.
— E que anúncio deseja ter a nosso respeito? — em seu nervosismo tentou controlar o tom de sua voz, permanecendo com o olhar baixo — Majestade.
— Filhos. — revelou ela, reduzindo suas expectativas em uma só palavra — Com a intensidade do amor de ambos, esperava mais da boa natureza dos Bridgertons em se fabricar herdeiros.
— Majestade… — pegou-se surpresa pela colocação e deu impulso para se defender, porém sendo interrompida pelo segurar do marido em vossa mão.
— Não lembro-me de vossos anseios para com o príncipe regente. — retrucou , irritado com as palavras da mãe.
— Não vos importa minha forma de tratamento para com o vosso irmão, e sim para com vós, que tens um árduo trabalho pela frente para reconquistar minha confiança. — o olhar autoritário de vossa majestade ergueu-se fazendo o filho engolir seco — Deves muito a coroa, principalmente por vossa má reputação construída nos últimos anos.
— Tens a minha palavra e o meu comprometimento com a coroa, o que mais desejas de vosso filho?! — indagou ele, num tom mais áspero.
— Não basta apenas um casamento para reparar vossos erros. — reforçou a rainha, instigando mais o assunto — E reconstruir a vossa imagem.
— Alteza, o que vossa mãe está a dizer? — olhou para o marido, confusa pelas duras palavras da sogra — Nosso casamento…
— Não é isso que estás a pensar. — ele voltou-se para a esposa, com o olhar temeroso por um mal entendido.
— Então o que seria?! — voltou a atenção novamente para a rainha — Majestade, o que de fato vosso filho a prometeu?
Não que Charlotte quisesse atrapalhar o relacionamento do filho, contudo, ela sabia que para um casamento ser bem sucedido, há uma certa necessidade de conflitos rotineiros para fortalecer o amor. Afinal, estava tudo perfeito e tranquilo demais entre os recém casados. E intrigada para saber como a pérola reagiria diante dos segredos e acordos da família real…
— É dever de todo príncipe fazer um bom casamento e apresentar herdeiros à coroa, e mediante a reputação de um libertino… — respondendo de forma enigmática, a rainha manteve o olhar atento às faíscas de raiva que reluziam no olhar do filho, para ela — O sobrenome Bridgerton de fato sempre esteve no topo da minha lista de favoritos.
— . — sussurrou o nome da esposa, voltando-se para ela.
— Vossa majestade, se me permite, gostaria de me retirar. — pediu , mantendo a atenção em sua sogra — Não estou sentindo-me em perfeitas condições.
— Tens minhas permissão. — disse Charlotte, segurando suas expressões faciais.
— . — segurou na mão da esposa, para impedi-la de se afastar.
— Solte-me, por favor. — pediu ela, ponderando em sua voz.
— Permita-me lhe explicar. — pediu ele.
— Não há nada que tenhas que me explicar, alteza. — disse ela, soltando-se dele — Com sua licença.
A pérola retirou-se da presença de ambos, abalada por seus pensamentos e convicções diante das palavras de vossa majestade. Enquanto isso, no solário, controlou a raiva interna que sentia da mãe por expor um assunto inapropriado diante de vossa esposa.
— O que ganhas com isso, majestade? — perguntou ele, com um tom mais amargo — Não acredita em meus sentimentos por minha esposa? Ou me despreza o bastante para arruinar meu matrimônio?
— Ainda não entendo o motivo pelo qual pensa que sempre estou contra vós. — ela manteve o tom suave e o olhar atento — Mesmo envergonhando a coroa, ainda me mantive ao vosso lado, esquecendo-me de todas as travessuras cometidas e sabes disso. Então meu filho, vossa mãe apenas quer lhe ensinar mais uma lição.
— Qual? — indagou ele, com seriedade.
— Nunca esconda nada de vossa esposa, nem os vossos mais obscuros segredos e temores. — aconselhou ela, respirando saudosamente ao lembrar-se da cumplicidade que tinha com o marido — Pois ao final do dia, apenas ela entenderá as frustrações de vosso olhar.
abaixou o olhar, mantendo-se em silêncio por um tempo.
— Mais alguma coisa majestade? — ele voltou a olhá-la.
— Sim. — assentiu ela — Quanto à viagem de lua de mel para o oriente, considere-a adiada por hora.
— O que? — o príncipe segurou a vossa frustração — Por qual motivo?
— Os dias tem se passado rápido e logo chegaremos ao inverno, não quero nenhum membro da família real ausente do país ao final do ano. — reforçou ela, sua ordem — E claro, tens vossos compromissos com a cidade de Cambridge. Tenho certeza que não me desapontará mais.
Ele assentiu com o rosto.
— Sim, majestade, como desejar.
— Muito bem, pode se retirar. — disse ela, segurando o riso — E certifique-se de fazer as pazes com a vossa esposa antes de partir. Quero as carruagens em curso ao amanhecer do próximo dia.
mais uma vez assentiu para mãe e se retirou. Ele parou ao centro do jardim para recompor sua sanidade mental levada pelo desgaste de enfrentar a mãe. O acordo era real, diante de muitas aventuras libertinas, escândalos e alguns duelos clandestinos pelo caminho, para conquistar o perdão e a confiança da coroa, mais especificamente de vossa mãe novamente, o príncipe fez um acordo de regeneração com a mãe. Sua primeira missão seria casar-se com uma dama de família honrada e respeitada, e claro que vossa majestade não aceitaria ninguém menos que a jovem Bridgerton, para o sexto na linha de sucessão.
Em instantes, ele despertou de seu devaneio ao lembrar-se do olhar chateado de vossa esposa diante da conversa com a rainha. Ao procurá-la por todo o castelo sem sucesso, montou em seu cavalo e seguiu a galopes pelo restante da propriedade. Mesmo com o dia refrescante, o céu parcialmente nublado apresentava traços de possível chuva, algo que aconteceu ao final da tarde. E quando menos se esperou, uma forte tempestade se apresentou deixando vossa alteza ainda mais desesperado para encontrar a amada.
— ANNIA! ANNIA! — gritava ele, ao galopar com o cavalo pelos campos ao redor, vasculhando com os olhos todo o perímetro — ANNIA!
Ao longe, finalmente ele a avistou, caída ao chão com um dos cavalos próximo ao corpo. Segurando firme nas rédeas, parou seu animal e desceu rapidamente para socorrer a esposa e encostando sua mão em seu rosto, percebeu o quanto a jovem estava fria enquanto permanecia desacordada. Pegando-a no colo, a colocou em cima do cavalo e retornou para o castelo controlando o nervosismo e preocupação com o estado da pérola.
— Chamem o médico real, rápido. — ordenou ele, ao adentrar o chalé real carregando nos braços, seguindo em direção ao quarto principal.
— Sim, vossa alteza. — a governanta que o recebera, logo deu ordens a um dos lacaios para que buscassem o médico real, então enfrentando a chuva, se dirigiu para os aposentos de vossa majestade para lhe informar o ocorrido.
chegando ao quarto, obteve auxílio de uma das criadas, nos cuidados iniciais com a esposa, como as instalações do chalé era o mais próximo da queda da princesa, foi o primeiro pensamento que passou na mente dele, afinal, seu desejo era apenas levá-la a um lugar seguro. Não demorou muito até que o doutor Chang se apresentou juntamente com a criada Judith, e de imediato examinou a paciente para seguir com os cuidados médicos. O príncipe acompanhou de perto todos os procedimentos, recusando-se a se afastar dela, se culpando a cada segundo pelo ocorrido e por deixá-la correr tamanho perigo.
— Então?! — perguntou ele, ao médico real.
— Vossa alteza, a pulsação da princesa ainda está baixa, porém podemos respirar aliviados, pois ela está fora de perigo. — respondeu o doutor, com segurança — Seu corpo ainda está muito frio devido a chuva, e certamente lhe causará resfriado, então recomendo que a mantenha aquecida durante toda a noite e assim que acordar, faça-a tomar uma boa xícara deste chá de ervas, para tirar a friagem do corpo e lhe aumentar a imunidade.
— Agradeço por prontamente vir ao nosso socorro. — disse , mantendo-se sentado na cama, ao lado da esposa que dormia.
— É sempre um prazer, meu senhor, servir a família real. — o médico fez uma breve reverência e retirou-se do quarto na companhia de Judith, para lhe passar as orientações sobre o chá de ervas.
levantou-se e caminhou até o armário, retirou outro cobertor e retornou para cama, então cobriu-a mais para mantê-la aquecida como o médico aconselhou. Por longas horas, ele manteve-se ao seu lado, observando-a dormir, pensando em tudo o que havia acontecido em vossa vida desde o acordo com a mãe até o momento em que de fato apaixonou-se pela pérola intocável.
— Hum… — o som de murmúrio soou de , que foi despertando devagar, enquanto sentiu uma leve dor de cabeça.
— Alteza?! — a voz de , soou suave ao lado, fazendo-a despertar por completo.
— Alteza. — sussurrou ela, abrindo os olhos e vendo-o com nitidez.
— Onde estamos? — perguntou ela.
— Nos aposentos do chalé real. — respondeu ele, mantendo a voz baixa — Caíste do cavalo, eu vos encontrei e a trouxe para casa.
ainda sentia-se atordoada, apenas manteve-se em silêncio e desviou o olhar para a janela. sentiu com nitidez a frieza da esposa juntamente com a sensação de afastamento.
— Estou certo que lhe devo explicações. — iniciou ele, quebrando o silêncio que os envolveu.
— Eu não as quero. — disse ela, em rejeição — Deixe-me ficar com raiva por pelo menos um dia.
— Então, desejas que eu saia? — perguntou ele, diante de suas palavras.
— Sim, por favor. — respondeu ela, num tom frio, mantendo o olhar as gotas de chuva que deslizavam pelo vidro da janela.
O príncipe respirou fundo, assentindo ao pedido da esposa e retirou-se em silêncio. fechou os olhos, no fundo ela sabia que deveria dar um voto de confiança ao marido e ouvir as explicações devidas, entretanto, como todo Bridgerton, tudo tornava-se complexo demais. E a palavra libertino lhe martelava o pensamento tanto quanto a imagem da acompanhante Genevieve Le'Chant, que vira uma vez, publicada em meu jornal. Nossa pérola sabia muito bem, que tal senhorita era a aventura favorita de vossa alteza em seu passado de vergonhas.
— Alteza?! — a voz de Judith soou da porta, acompanhada de dois toques.
O que despertou-lhe de seus devaneios inoportunos.
— Entre, Judith. — elevou um pouco a voz, para que pudesse ser ouvida com clareza.
— Minha senhora. — a criada adentrou segurando uma bandeja nas mãos — Trouxe o vosso chá de ervas, indicado pelo médico real.
— Agradeço. — a pérola assentiu com o olhar, recebendo em mãos a xícara com o líquido aquecido.
— Está quente, senhora, tenha cuidado. — alertou a criada, lhe entregando a xícara.
— Agradeço pelo cuidado, podes ir descansar Judith, pretendo repousar após o chá. — anunciou ela.
— Como preferir senhora. — a criada fez uma breve e sutil reverência, então retirou-se em seguida.
terminou de beber o líquido meio adocicado em sua xícara e a depositou na mesa de cabeceira ao lado. Se encolhendo um pouco mais na cama, puxou os cobertores e fechou os olhos, sua cabeça ainda dolorida pela queda permaneceu latejando até que a princesa adormeceu. Três dias se passaram, com o casal intocável reclusos no chalé esperando pela passagem do mal tempo, o silêncio manteve-se presente a todo o momento, com ambos evitando os olhares e a companhia um do outro. Na manhã de sábado, com o céu um pouco mais aberto mesmo na presença das nuvens escuras, como ordenado por vossa majestade, duas carruagens aguardavam o casal.
No desjejum, notificou a esposa sobre as mudanças de planos requisitadas pela coroa, assim como a nova cidade em que viveriam. A princesa aproveitou os poucos minutos antes da partida para escrever duas cartas às amigas, contando-lhes de vosso infortúnio.
"Querida , que falta tenho de nossas conversas em Windsor. Fora de fato os melhores dias de minha vida, diante de minha realidade atual. Tive um desentendimento com vossa alteza, e não sinto que tenha forças para seguir adiante com o assunto. E começo a não estar tão certa de vossos sentimentos por mim, pois soube da própria rainha que nosso matrimônio já estava nos planos da família real, em uma forma de recuperar a imagem do príncipe.
Tal afirmação fez-me odiar meu próprio sobrenome por algumas horas, afinal ser uma Bridgerton tem-se um certo peso, positivo e negativo. Neste caso condicional para haver este casamento. Talvez tenha sido uma provisão divina adiarmos nossa viagem ao oriente. Por mais que meu desejo ardente fosse velejar pelos mares e conhecer a cultura japonesa, darei-me por satisfeita apenas em cuidar de meu novo lar em Cambridge.
Enfim, não falemos mais de mim, e conte-me mais sobre vossas primeiras impressões de Derbyshire, pois pelo que sei, moraste toda a vida no porto e cidades do interior são bem mais pacatas do que se imagina. E falaremos também de outras notícias felizes como o reservado casamento de com o duque de Whosis, ela nos deve agora um baile no castelo da colina com direito a fogos de artifício, para compensar o silêncio. Que tal no natal? Logo o inverno chegará e quem sabe na última estação do ano, possamos nos encontrar novamente e compartilhar nossas alegrias e frustrações juntas, pois tenho-as como minhas irmãs de coração e amo-te de igual modo.
Não irei prolongar-me muito, pois ainda necessito escrever a nova duquesa.
Contudo, espero-te uma carta em meu novo endereço.
De vossa amiga e alteza,
princesa ."
A pérola respirou fundo, desta vez com um pouco mais de animação do que a anterior, principalmente pelo comentário final.
"Bonjour, vossa graça.
Sua alteza, a princesa, escreve-te graciosamente para lhe parabenizar por vosso casamento."
parou por um momento e riu do início da carta. Em instantes, soaram dois toques na porta seguido do anúncio de sua partida por parte de sua criada, Judith. A princesa assentiu, pedindo por mais alguns minutos em privacidade, e retornando a carta da amiga.
"Brincadeiras e cordialidades à parte, devo lhe revelar que estou mais do que feliz por vossa conquista. Claro que a senhora deve-me muitas explicações sobre como conseguiste tal proeza, e se de fato lord Tenebrae era mesmo o tal noivo misterioso, não somente deves a mim, quanto a também. Afinal, ficamos muito preocupadas após lermos vossa última carta. E sendo mais sentimental agora, estou sentindo a mais profunda saudade de vós, e para compensar-nos o convite de casamento que não o recebemos, pelo menos o jantar de natal nos deve em vossa casa.
E nem ouse recusar o pedido de uma princesa.
Eu poderia lhe contar sobre minhas chateações momentâneas, porém, não quero estragar o vosso momento feliz que tanto sonhaste ter. Então, prometo que da próxima vez que nos virmos, lhe falarei sobre minha de realeza.
Amo-te como uma irmã, e espero mesmo vê-la em breve.
De vossa amiga e alteza,
princesa ."
Assim que colocou ambas as cartas, uma em cada envelope, lacrou-as com o selo real e levantou-se da cadeira seguindo em direção a porta. Talvez lá no fundo, ela sentisse falta da bela vista que a janela lhe proporcionou, porém, estava aliviada por partir para uma casa somente dela. Além do fato do chalé real estar marcado para sempre como o local da primeira briga do casal do ano.
— Alteza. — manteve-se à porta da carruagem, estendendo a mão para ajudar a esposa a entrar.
— Gostaria de seguir apenas na companhia de Judith, se não for incomodo ao senhor, alteza. — pediu ela, com o tom baixo.
— Como desejar, minha senhora. — assentiu ele.
A esta altura dos acontecimentos, todos os criados reais já estavam confusos e intrigados com o comportamentos de ambos. Que foram do céu ao inferno em apenas segundos de conversa com vossa majestade. nunca havia lidado com tal situação assim, em todas as vossas aventuras românticas, sempre que houvesse uma mínima presença de discordância de opiniões, o príncipe apenas encerrava os encontros e partia para a conquista de uma nova amante para aquecer vossas noites. Contudo, agora era diferente, a dama em questão era a vossa esposa e consolar-se em outros braços que não fosse o da pérola, ia contra vossos princípios.
Mais alguns dias de viagem, apreciando o mudar da paisagem com as últimas folhas do outono caindo das árvores.
— Bem-vindos ao Castle Mound. — disse Paul, o mordomo real responsável por cuidar daquele castelo — Altezas.
O homem olhou para ambos, notando uma frieza estranha ao se tratar de recém-casados. Logo a governanta real, senhora Prudence, apresentou-se formalmente e acompanhou até a ala leste, no qual se encontrava o quarto da princesa. Com um número de quartos ainda mais elevado que o Castelo de Windsor, em Cambridge, a pérola pode finalmente assimilar a grandeza de se fazer parte da família real. A parte negativa? Quanto maior o espaço, maior a distância. E, meus caros leitores, esta autora segue ansiando pelo beijo da reconciliação, pois sabemos em experiências anteriores, que a melhor parte de uma briga, é quando o casal sela as pazes.
— Agradeço por me mostrar todos os detalhes, senhora Prudence. Foste impecável em vossa recepção. — disse , educadamente — Poderia se retirar agora?
— Ah, sim, alteza. — assentiu ela — Desejas que eu chame uma das criadas para lhe ajudar a se banhar?
— Judith fará isso. — disse a princesa, ao olhar para a sua companheira de anos — Ela tem sido minha dama pessoal há anos e permanecerá assim.
— Como desejar, alteza.
A governanta se retirou do quarto e logo Judith iniciou os preparativos para o banho. permaneceu em seu quarto, mesmo após algumas horas de descanso. Pouco antes do jantar ser servido, as gotas de chuva foram surgindo acompanhadas de alguns trovões, nada esperado para o fim de uma estação. Seguindo o mesmo clima de silêncio e frieza, o banquete foi servido na extensa mesa que os separava.
A princesa sentiu-se sem apetite, entretanto, não tinha forças para se retirar. E por mais que lutasse contra o olhar do marido fixo em vossa direção, seus olhos sempre o correspondia de forma automática e espontânea.
— Já chega! — levantou bruscamente da cadeira, elevando a voz — Não mais admito está situação entre nós.
o olhou assustada e surpresa pelo rompante do marido.
— Do que estás a falar? — indagou ela, apoiando as mãos sobre a mesa.
— Desejo falar-lhe e deves me ouvir. — esclareceu ele.
— Já disse minha posição sobre o assunto. — ela manteve-se firme quanto ao posicionamento.
— E pretendes manter-se distante de vosso marido, sem lhe dar a devida chance de explicação? — questionou ele — Eu vos proíbo de ignorar-me.
— Me proibir? Achas mesmo que possui este direito? — ela levantou-se também, irritada com a colocação autoritária dele — Pois saiba que jamais me obrigará a fazer algo que eu não queira.
Ela afastou-se da mesa e seguiu em direção a saída.
— ! — gritou ele, seguindo de imediato atrás dela — , não a deixarei fugir, não desta vez.
— Deixe-me , eu tenho direito ao meu espaço e não pretendo abrir mão dele tão facilmente assim. — a princesa continuou a caminhar a passos apressados pelo grande salão.
Ambos continuaram a atravessar o castelo aos gritos, um para o outro, até que a princesa saiu pelas portas enfrentando a forte chuva do lado de fora.
— , onde pretendes ir com está chuva? — gritou ele.
— Para bem longe de vossa alteza. — gritou ela, de volta.
— Não achas imaturo de vossa parte agir assim? — questionou ele, irritado pelas atitudes da esposa — Achas mesmo que este é o papel de uma princesa?
— E qual foi o vosso papel? Desposar a Bridgerton para reparar vossa reputação? Parabéns alteza, conseguiste. — desta vez a voz de soou com um toque de revolta e irritação.
— Pois saiba que muito antes de estar na lista de exigências de vossa majestade, já a considerava a única em meu coração. — gritou ainda mais alto, fazendo-a parar de imediato — E ainda que vosso nome não estivesse nos lábios de minha mãe, aceitaria somente a Bridgerton ao meu lado.
Ela voltou-se para ela, ainda com o olhar raivoso.
— Se és verdade vossas palavras, porque ainda recebes cartas daquela senhorita? — indagou , num tom amargo com os olhos cheios de lágrimas, ao lembrar-se de um dos envelopes que vira o mordomo do chalé entregar ao príncipe discretamente.
— Não posso impedir que terceiros escrevam a mim, mas posso impedir meus olhos de lerem tais palavras. — respondeu ele, com firmeza e segurança — Não sei o que viste, mas quero que saiba que o final de todas aquelas cartas foram as cinzas.
sentindo as lágrimas rolarem por seus olhos, tomou impulso e caminhou até ele, ao parar em sua frente o olhando firme.
— Eu te odeio. — disse ela, ao elevar seus pulsos e começando a socá-lo.
— E eu te amo. — disse ele, ao segurar seus pulsos com cuidado para não machucá-la, apenas fazendo-a parar — Sempre será a única em meus pensamentos.
foi aproximando mais seus corpos, sem se importar com o frio da forte chuva, o príncipe sentiu o coração aquecer ao calor do corpo da esposa. por sua vez, sentiu-se estremecer por dentro, sem a menor força e vontade de lutar contra as futuras investidas do marido. O coração acelerado e a respiração quase ofegante.
— Beija-me, antes que meu corpo sucumba à abstinência de vosso toque. — pediu ela, em um sussurro, já fechando os olhos.
Não seria preciso dizer duas vezes, pois era exatamente o que vossa alteza ansiava durante todos aqueles dias de distância. Ao tocar seus lábios aos dela, ele apenas desejava ardentemente sentir o amor de vossa esposa e retribuí-lo em proporções inimagináveis.
Lady Lewis
Eu já abri o meu coração para você há muito tempo
Você é tudo para mim, esse é o meu jeito de confirmar.
- My Answer / EXO
XXVIII. O duque e eu
Dizem os filósofos que a curiosidade é uma palavra originada do latim curiositas, que significa “desejo por conhecimento” ou “desejo por informação”. E este tal sentimento andava perturbando os pensamentos de nosso doce rubi, com anseio por saber mais sobre o fatídico acontecimento na ala leste do Collis Castelli. sabia que não havia proibição para a nova dona da casa, porém conseguia notar o incômodo no olhar do marido, sempre que tocava no assunto.
— Pronto senhora. — disse Franchy, ao terminar de escovar os cabelos da duquesa, no simples penteado que fizera.
— Agradeço Franchy. — disse , dando um sorriso singelo a ela — Tire o restante do dia de folga, tens me ajudado muito a entender o funcionamento deste castelo, mereces um tempo apenas para vós.
— Agradeço senhora. — a criada sorriu — Aproveitarei este tempo para escrever uma carta aos meus pais em Londres, estou muito grata por vossa graça tê-los contratado também.
— Eu jamais permitiria que vossos pais ficassem desamparados, após todos os anos de dedicação a minha família. — afirmou , com olhar de gratidão — Eu que os agradeço por não terem nos abandonado.
Franchy sorriu com graça e retirou-se. A duquesa soltou um suspiro espontâneo ao permanecer alguns segundos olhando o reflexo no espelho. Então lembrou-se das cartas das amigas que haviam chegado na noite anterior, com o convite para jantar na residência de sua tia, ao retornar para o castelo, apenas deu-se o trabalho de recolher em seus aposentos e dormir serenamente o restante da noite.
— Devo explicações a elas. — sussurrou ao pegar primeiro o envelope com o selo real — Vejamos o que me escreveste , certamente ameaçando-me cortar a cabeça por não tê-la convidado para o casamento.
Após ler a carta da amiga, preocupou-se de início pelo ultimato de um jantar de natal no Collis Castelli. Trazendo-lhe um frio na barriga pela responsabilidade de preparar uma recepção formal para as amigas, agora com uma dama casada, e principalmente considerando o fato de uma delas ser da realeza.
— e vossas invenções, era ela quem deveria oferecer tal evento. — riu de nervoso e começou a escrever sua carta resposta à amiga.
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“Querida princesa ,
minha adorável amiga,
Admito que sim, devo-lhe muitas explicações e desculpas por nenhum convite ter-lhe chegado. Aconteceram tantas coisas aqui no campo que nem saberei por onde começar quando nos vemos no natal. Por mais que me sinta temerosa por tal auto-convite irrevogável de vossa parte, e mesmo sendo inexperiente, a receberei em Collis Castelli com prazer e alegria, na noite mais singela do ano, pois também sigo com uma grande saudade de vós e da nossa diamante Bridgerton.
Agora como damas desposadas, temos nossas próprias famílias e lares para cuidar, nossas rotinas diárias e maridos atenciosos. Certamente nos falaremos mais por cartas do que em face, contudo, ainda assim me pego feliz, pois estamos todas vivendo nosso sonho de amor verdadeiro. Pelo menos é isso que vejo também em vosso casamento e de , assim como tenho visto no meu.
E quem sabe após o decorrer das estações, possamos formar uma tradição de nos encontrar toda primavera em Londres para acompanhar as temporadas de casamento e ler os jornais de Lady Lewis juntas. Além de ajudar com vossas irmãs caçulas que certamente precisará do nosso apoio.
Ao final de vossa carta, mencionaste algumas chateações, desejo que sejam passageiras e que volte a desfrutar das alegrias que Deus nos proporcionou. Sigo grata a nossa amizade e já me preparando para recebê-la no inverno.
De vossa amiga, Tenebrae
duquesa de Whosis.”
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A rubi soltou outro suspiro e guardou a carta no envelope, lacrando-o com o selo de vossa graça. Então, pegando a próxima carta, olhou por um momento a perfeita e bem contornada caligrafia de , a condessa Bridgerton realmente surpreendia em muito de suas qualidades e talentos. Ao abrir o envelope, a duquesa iniciou sua leitura.
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“Querida ,
Ou melhor, vossa graça.
Confesso que ainda não me acostumei com as formas de tratamento da nobreza, e para mim mais do que uma duquesa, a considero também como uma irmã e estou em imensa felicidade pelas boas notícias que recebi em vossa última carta. Feliz por estar casada e com a pessoa que vosso coração ansiava, e como a princesa comentaste comigo, nos deves muitas explicações sobre o noivo que todos achavam não existir, ser o duque de Whosis.
Quanto a mim, tenho boas notícias também, estou a esperar meu primeiro herdeiro. Imagine minha amiga, um pequeno Bridgerton crescendo dentro de mim. Meu coração aqueceu-se tanto quando descobri, mesmo com as preocupações de , sobre os inúmeros abordos e gestações de minha mãe que a deixou doente, ainda assim estou feliz com esta benção de Deus. Tenho certeza que continuarei saudável mesmo se tiver mais sete filhos como a lady Violet.
Enfim, não prolongarei minhas palavras, pois espero ter mais conversas com vós em breve, quem sabe no natal. me escreveu dizendo que certamente exigiria uma ceia de natal em vosso castelo, e a julgar pelas ousadias de minha cunhada, certamente já recebeste uma carta de convocação para tal evento.
Então, fico à espera de meu convite formal.
Amo-te como a uma irmã.
De sua amiga,
Bridgerton
condessa de Whatnot”
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A rubi finalizou a leitura com um sorriso no canto do rosto, sentindo o coração aquecido pelo carinho de suas amigas e saudoso por suas promessas de reencontro. Ela pegou uma folha para escrever a carta de resposta para a condessa, quando fora interrompida.
— Duquesa!? — a voz de soou da porta que estava entreaberta.
— Sim?! — pousou a pena, sobre o papel e voltou seu corpo para ele — Desejas algo, meu senhor.
— Sempre desejarei minha amada esposa. — disse ele, dando um singelo sorriso de canto.
— Meu senhor. — ela levantou-se, ainda sem entender o significado daquelas palavras.
— Acompanha-me em um passeio? — perguntou ele, ao estender a mão direita para ela.
— Claro meu senhor, mas… Onde vamos? — perguntou ela, ao se aproximar e segurar em sua mão.
— Em breve verá. — manteve a suavidade no olhar, então pegando o xale da esposa, cobriu-a de leve e a guiou para fora do castelo.
permaneceu em silêncio enquanto o acompanhava, apenas observando o caminho que seguiam sendo compondo pela beleza das folhas do outono. Aos poucos, a duquesa começou a reconhecer alguns pontos da floresta, a mesma que vossa tia havia lhe levado para passear.
— Este lugar, já estive aqui com minha tia. — comentou , num tom baixo.
— Imaginei, vossa tia tem o hábito de adentrar minha propriedade de vez em quando. — comentou ele, rindo baixo.
— Perdoe-nos senhor. — disse ela, um tanto sem graça.
— Não há o que se perdoar, pela beleza da paisagem, faria o mesmo que ela. — confessou ele.
Mais algum tempo de caminhada e finalmente chegaram ao local desejado.
— Aqui. — disse ele, ao olhá-la — Este é o meu lugar favorito de minha propriedade.
— É lindo. — disse , ao olhar para a árvore em sua frente toda iluminada, fazendo seus olhos brilharem juntamente.
Observando mais um pouco, a rubi viu um tapete forrado logo à frente da árvore, com almofadas espalhadas e encostadas em suas altas raízes. Ao lado, uma cesta com suas taças, uma garrafa de vinhos e algumas frutas, tudo milimetricamente planejado pelo duque.
— Preparaste tudo isso? — perguntou ela, admirada.
— Minha senhora gostou? — retrucou ele, a pergunta.
— Ficou perfeito. — assentiu ela.
Ele a guiou para que se sentassem no tapete. manteve o olhar sereno para a esposa, enquanto acariciava seu rosto.
— Eu te amo. — sussurrou ela, ao receber um beijo suave do esposo.
— Eu também te amo. — disse ele, em concordância.
— Tenho algo para lhe pedir. — disse ela, lembrando-se dos pedidos das amigas.
— Peça. — ele a olhou com carinho.
— Podemos oferecer um jantar de natal para nossos amigos? Aqui em Collis Castelli? — perguntou ela, um pouco temerosa e explicou — pediu-me como uma forma de rendição por não tê-los convidado para o casamento.
— Não precisas me pedir se este é o vosso desejo. — assegurou ele, suavizando o olhar — Tudo o que é meu, vos pertence, e este castelo está incluso.
— Eu não queria fazer algo sem o vosso consentimento, mesmo que para um grupo seleto de pessoas, seu que vossa graça não gosta de festas. — confessou ela, vossas inseguranças.
— Não me importo com festas, contanto que minha esposa esteja presente ao alcance de meu olhar. — ele acariciou sua face novamente, e deu-lhe um selinho rápido — Festas não me incomodam mais.
— Estou feliz por isso. — disse ela, respirando aliviada e ao mesmo em surto por ter que preparar o tal jantar a pedido da amiga — Soube pela carta de que um pequeno Bridgerton está a caminho.
— E por que o vosso olhar ficou triste ao dizer isso? — ele notou a sutil mudança.
— Esta notícia fez-me lembrar minhas obrigações com o nosso matrimônio, sei que o senhor aceitou um novo casamento para ter herdeiros também. — revelou ela — Nos casamos ao final do verão e… E se eu não conseguir lhe dar filhos?
— Então, seremos felizes da mesma maneira. — ele segurou em sua mão, entrelaçando seus dedos — Filhos serão consequência de nosso amor, apenas isso, não me importo se não os tiver.
— Vossa graça… — sussurrou ela.
— Vosso amor de basta, meu rubi. — ele a beijou novamente, agora demorando um pouco mais — Desejas algo mais?
— Sei que é doloroso para vós falar sobre o assunto, mas… — não queria atrapalhar a noite romântica que o duque planejou, contudo, precisava externar vossas inquietações.
— Diga. — vossa graça manteve o olhar atento a ela, já imaginando o que viria a seguir.
— O que aconteceu com ela? Vossa primeira esposa. — continuou ela, efetuando a pergunta.
afastou-se um pouco da esposa e inclinando o corpo para trás, apoiou-se em duas almofadas, permanecendo em silêncio por alguns instantes. Era um assunto que não queria reviver, menos ainda lembrar o dia em que perdera sua melhor amiga e amada Margareth.
— Não sabemos como, nem quando, mas um incêndio iniciou em um dos quartos da ala leste do castelo… No quarto de Margareth. — ele pausou novamente, sendo a garganta arder — Se eu estivesse em casa, talvez… Não garanti a segurança que prometi em nossos votos.
— Vossa graça. — segurou em sua mão, lhe atraindo a atenção — Foste um acidente, não és vossa culpa.
Ele ergueu novamente o corpo, olhando-a com seriedade e temor.
— Não quero, nem por um segundo, deixá-la desprotegida. — disse num tom baixo.
— Não deixará. — afirmou , confiante no cuidado e carinho do marido — Acredito nisso, meu senhor.
— , por favor. — pediu ele, para que ela fosse menor informal.
— . — assentiu ela — Quanto à ala leste…
— Desejas ir lá? — indagou ele.
— Desejo que aquele lugar não seja mais um lugar de dor e arrependimentos. — esclareceu ela, segura de suas palavras — Eu sei que lady Margareth foi alguém muito importante em vossa vida, e jamais estarei a altura de substituí-la…
— Não a quero para que substitua ninguém. — assegurou ele — E sendo honesto, nem mesmo senti por Margareth, o amor que sinto por vós.
A duquesa sorriu de forma espontânea com gentileza, e inclinando-se um pouco, permitiu-se ser ousada o bastante para iniciar um beijo suave e doce. sentiu-se aquecido por dentro, e em segundos de sutileza, o beijo foi intensificando as investidas de vossa graça com a esposa. Nesta altura de descobertas e intimidades, o duque havia prometido a si mesmo que não esconderia mais da rubi seu ardente desejo pela mesma. Respiração sincronizada, corações acelerados, carícias maliciosas e beijos ardentes que faziam ambos esquecerem até mesmo que estavam sob a luz das estrelas que reluziam no céu.
— Eu vos amo, com todo o meu ser. — sussurrou lord Tenebrae para a esposa.
Quanto às altas temperaturas entre o casal inesperado, nada como o frescor da brisa do outono para deixá-los ainda mais motivados em seu momento de intimidade e amor.
Lady Lewis
Eu perdi minha cabeça,
Desde o momento em que te vi.
Só de estar ao seu lado, meu mundo fica em câmera lenta,
Por favor, diga se isso é amor?
- What Is Love / EXO
XXIX. Caloroso Inverno
Se existe uma data em que todas as famílias anseiam ao longo do ano para celebrar em comunhão e alegria é o natal, o dia em que reservamos para sermos gratos ao nosso Senhor pelo nascimento de Jesus Cristo. E na Collins Castelli não seria diferente, e bem ao topo da colina, na torre mais alta do castelo, estava avistando as carruagens de vossos seletos convidados. O espaço destinado apenas para contemplação da propriedade, continha duas poltronas de tecido camurça e uma mesa de centro entre elas, com duas esculturas próximas à escadaria. O rubi afastou-se do beiral de proteção e voltou o olhar para vossa graça que mantinha-se de pé ao lado de uma das esculturas a observando.
— Acho que encontrei vosso lugar preferido do Collis Castelli. — comentou ele, permanecendo com o olhar fixo nela.
— De fato, aqui é tão tranquilo e me proporciona esta vista maravilhosa. — confirmou ela, dando alguns passos até ele — Ainda há beleza na ala leste.
— Pretendes mesmo continuar com a ideia da reforma? — indagou ele, sobre o pedido da esposa — Este castelo é bem grande, não fará diferença.
— Como eu disse, a ala leste ainda possui suas belezas, e este lugar é uma delas. — assegurou , mantendo o olhar suave — E não como se eu fosse me mudar para o outro lado do castelo, meus aposentos continuarão ao lado do vosso.
— Havia esquecido-me de como é estranho ter uma parede nos separando. — comentou ele, diante dos costumes da aristocracia.
— Uma vez, contou-me sobre os costumes da burguesia, de compartilharem o mesmo quarto. — comentou ela, lembrando das cartas de sua amiga.
se pegou pensativo sobre tal informação, porém logo voltou a atenção a esposa.
— Vamos? Nossos convidados já estão à nossa porta. — disse ele, ao segurar a mão de sua esposa.
— Sim. — assentiu ela, sorrindo de leve.
Ambos desceram a escadaria até finalmente chegarem ao jardim da duquesa que delimita a ala leste. Aquele era mais um belo lugar que tinha a intenção de restaurá-lo para que ficasse ainda mais belo nas próximas estações e mesmo com a neve do inverno, os jardineiros da propriedade já estavam cientes do planejamento da duquesa para as obras que iniciariam na primeira semana de primavera do próximo ano. Ah minha doce rubi, nada com uma boa reforma para jogar as más lembranças do passado fora, e projetar um futuro com mais cores e boas vibrações. Continuando o percurso do castelo, os anfitriões adentraram o grande salão para aguardar os convidados.
— Vossa graça, vos anuncio vossas altezas reais, o príncipe e a princesa. — disse o mordomo, ao abrir a porta central.
— . — logo a figura de apareceu ao lado de vosso marido, e com entusiasmo andou mais apressadamente para abraçar a amiga — Que saudade estava de vós.
— Digo o mesmo, vossa alteza. — a rubi retribuiu o abraço com ternura, sendo mais formal nas palavras.
— Ah, por favor, estamos entre amigo, para vós é . — pediu a princesa — Sou vossa amiga antes de ser realeza.
— Não mudaste em nada. — comentou .
— Vossa alteza. — manteve a serenidade no rosto ao observar o carinho da princesa por sua esposa, então atentou-se ao amigo que se aproximava com um largo sorriso.
— Whosis. — disse o príncipe em alto e com tom — A quanto tempo.
— Alguns meses se passaram, vossa alteza, mas estou feliz por vê-lo com este brilho no olhar. — comentou , ao perceber a felicidade do amigo estampada para todos verem.
— Não sou o único, vos garanto. — retrucou o comentário, com uma de suas piscadas discretas.
riu baixo em concordância, o que fez o rosto de corar um pouco de vergonha.
— Altezas, e vossa graça. — mais uma vez o mordomo Hilte, fez o pronunciamento — Eu vos anuncio, o conde e a condessa, lorde e lady Bridgerton.
— Ah, finalmente. — disse , ao voltar-se para o último casal — Achei que a carruagem deles havia se perdido.
— Verdade. — concordou — Estavam bem atrás de nós e desapareceram.
Ele riu como se pensassem em possibilidades maliciosas para tal feito.
— Sejam-bem vindos ao Collis Castelli. — disse , formalizando a recepção — Altezas, lord Bridgerton e milady.
— . — impulsionou-se e foi ao encontro da amiga, abraçando-lhe saudosamente — Que bom que conseguiste vir, fiquei preocupada diante de vossa condição.
— Bem, a depender de lord Bridgerton, ainda estaríamos em Derbyshire,entretanto não seria a neve ou minhas condições físicas que me impedia de passar esta data com minhas amigas.
— E esta decisão nos gerou muitas discussões. — comentou ainda inconformado pela imprudência da esposa que quase lançou uma a primeira guerra mundial diante do posicionamento do marido.
não se conteve em rir com discrição, sendo acompanhado pelo duque.
— Acredite, discussões fazem parte do processo de estar casado. — vossa graça lhe informou o óbvio, pelas experiências do primeiro matrimônio.
— Meu caro amigo, confesso que não gostei desta parte do processo. — disse o príncipe ao lembrar-se das semanas de rejeição da esposa.
O que muito admirou os cavalheiros presentes.
— Olha que lindo, vossa barriga, está enorme. — disse , ao abraçar a cunhada com delicadeza, não se importando com as lamúrias do marido e dos outros senhores — Chego a emocionar-me com a ideia de em breve ser tia.
— Também ando emotiva nos últimos dias. — admitiu .
— Senhoras, ainda sou inexperiente nessa coisa de anfitriã, contudo, mandei que preparassem um chá para minhas convidadas no solário. — anunciou , estendendo com suavidade a mão direita para indicar o caminho — Me acompanham?
— Inexperiente todas nós somos. — disse , com empatia pela amiga, assentindo o convite — Exceto , ela parece ter nascido para dar recepções.
As amigas riram, ao seguir em direção ao caminho indicado pela duquesa.
— Nem tanto. — alegou , em sua defesa.
— Agora estou curiosa para saber sobre tal afirmação. — disse , seguindo passos a frente na indicação do caminho.
— Ela ofereceu uma recepção no solário do Castelo de Windsor para cinquenta mulheres da nobreza. — contou , ainda impressionada com o feito da amiga — Foi tão impecável que nem parecia ser vossa primeira vez.
— Bem, eu vi minha mãe e tia Violet fazendo isso muitas vezes, então... — ela explicou-se, meio tímida — Mas ainda tenho isto como sobre de principiante.
— Está explicado, é uma Bridgerton. — disse , fazendo-as rir.
As senhoras passaram rapidamente pelo jardim, devido à neve caída ao solo e a leve camada de brisa fria pelo ar. Ao adentrarem o solário, se viu maravilhada com o estado impecável das flores do interior assim como a sutil decoração que acompanhava o mobiliário de madeira maciça com estofado de tecido camurça azul marinho, a cor favorita de vossa graça.
— Para uma inexperiente, a mesa do chá está impecável. — comentou , nem mesmo a tia Violet tem tamanha atenção aos detalhes.
— Falas do que? — perguntou curiosa pelo elogio.
— A pétala dentro da xícara. — explicou a princesa.
— Ah sim, esta é uma flor comestível e bem rara, suas pétalas têm quase o formato de coração e combinada ao chá, traz um sabor especial. — contou , os segredos do campo.
— Nunca havia visto algo assim. — disse , surpresa pela mini aula de botânica da amiga — Onde aprendeste?
— Bem, eu nasci nos campos da Escócia, minha tia me ensinou algumas coisas ao longo dos anos. — revelou a duquesa.
— Interessante, agora estou curiosa para saborear este chá. — disse , controlando sua ansiedade.
— Irei servi-las. — disse , ao se posicionar próximo a mesa de centro e despejar o conteúdo do bule nas xícaras, servindo as amigas, uma a uma.
— Obrigada. — disse , ao pegar a xícara, já soprando de leve para bebericar o líquido.
— Agradeço , e espero que o bebê também goste do sabor, pois o cheiro está inspirador. — pegou sua xícara e fechou os olhos para novamente sentir o cheiro que rescindiu o espaço.
— De fato, é como o cheiro de um suave perfume adocicado que lhe envolve na primavera. — comentou , ao sentar-se em uma das poltronas.
— Sim. — concordou , assentando no sofá, juntamente com a duquesa.
— Acreditem, esta flor floresce apenas no inverno. — contou , surpreendendo-as.
— Surpreendente. — tomou outro gole e pousou a xícara em seu colo — Agora, vamos ao que importa, pois passei toda a viagem controlando minha ansiedade para saber a vossa história.
— Tenho que admitir que também fiz o mesmo, por isso não deixei que lord Bridgerton me impusesse a restrição de não viajar. — contou , fazendo olhar triste — Até o meu bebê está em curiosidade.
— Bem... Por onde eu começo?! — pensou por instantes, tentando entender como contar às amigas as loucuras ocorridas.
— Pelo beijo roubado de vossa graça. — disse .
— Espere. — a princesa protestou — Não me contaste sobre isso .
— Perdoe-me , mas foram tantos relatos e tantas cartas escritas a vós, que esqueci-me de alguns detalhes.
— Detalhes como esse não se deve esquecer, menos ainda para mim. — olhou-a com repreensão — E contaste a .
— Não fiques enciumada, ela vos contou sobre a queda na biblioteca e não relatou a mim. — defendeu a amiga.
— Mas não houve beijo. — resmungou a princesa.
— . — agora a cunhada repreendeu-a.
— Perdoem-me. — a pérola lançou seu olhar inocente para as amigas.
— Continue . — pediu a condessa.
— Bem... O que dizer. — ela soltou um suspiro encorajador — Após aquele beijo, fui enviada para casa de minha tia sem nenhuma esperança, então dias depois recebi o anúncio de um noivo que estava a me visitar, não consegui ver vosso rosto por um desmaio emocional e na manhã seguinte estava frente a frente com vossa graça e um casamento planejado para a manhã seguinte.
— E onde estão os detalhes? — questionou .
— Ela não é como vós, . — riu baixo — É um tanto objetiva, como eu.
— Não há detalhes para serem dito, assim como não havia nenhum noivo. — continuou , sentindo seu olhar entristecer — Meu inventaste um noivo para proteger vossa honra e se vossa graça não tivesse o confrontado... Certamente envelheceria à espera de alguém que nunca existiu.
— Lamento minha amiga. — ao vosso lado, segurou em vossa mão com ternura — Não consigo imaginar a frustração que sentiu quando descobriu.
— De fato, foste muito doloroso. — assentiu a rubi — Então após saber a verdade, vossa graça pediu minha mão ao meu pai, sem se importar em não haver um dote.
— Mas vossa graça não fizeste isso apenas pelo beijo? — indagou .
— Oh não, ele me fizeste uma declaração de amor, que nunca ousei imaginar receber. — contou , sentindo o coração pulsar mais forte ao lembrar-se — Vosso amor é real e verdadeiro.
— E quanto a falecida? — perguntou .
— Tornou-se apenas uma lembrança que não o causa mais dores. — afirmou a duquesa com um singelo brilho nos olhos.
— Isso nos alegra muito, afinal, os muitos boatos no início da temporada é que vossa graça apenas queria desposar uma donzela para lhe trazer os herdeiros que não teve com sua falecida. — comentou .
— Ele disse que não se importa se eu não lhe der herdeiros, basta que eu esteja para sempre ao vosso lado. — as bochechas de coraram.
— Realmente tais palavras são como uma declaração de amor. — , sentiu-se emocionada pela felicidade da amiga.
— Mas sinto que estamos bem próximo da multiplicação. — contou , meio envergonhada.
As amigas logo vibraram com a suposição, que mais parecia uma certeza.
— Se tornares mãe antes de mim, ficarei ainda mais ansiosa. — confessou — Vossa majestade nos envia cartas de duas em duas semanas cobrando boas notícias.
— Bem, para um casal intenso como vós e o príncipe, realmente há de se esperar uma semente da realeza em breve. — brincou .
— De fato. — admitiu a princesa — Ainda mais após nossa primeira reconciliação, sinto que ainda há lados ocultos de que preciso conhecer.
— Espera, vossa alteza disse reconciliação? — olhou-a boquiaberta — És o casal perfeito.
— E não ouviste os murmúrios do príncipe sobre as discussões quando chegamos? — impressionou-se.
— Achei que vossa alteza estivesse brincando. — continou olhando a amiga curiosa — O que aconteceu.
— Tivemos nossa primeira briga, contudo, não quero detalhar esta história. — soltou um suspiro fraco — Mas, posso lhes contar as inúmeras noites de descobertas que tivemos após isso.
— Ah não, vossas histórias me deixam constrangida, . — reclamou .
— Faz-se de inocente, mas certamente possui tantas aventuras quanto eu. — retrucou a cunhada — Achas mesmo que não percebi vossa escapada em meio ao Pall Mall, nos labirintos do jardim de Windsor?
— Nos perdemos... Apenas isso. — tentou-se defender.
— E precisas gaguejar? — manteve o olhar acusador.
— , a está deixando-a envergonhada. — tentou intervir.
— Este vosso olhar não me engana, querida cunhada. — riu de leve — Certamente profanaste o solo de meu jardim.
Um silêncio acusador pairou sobre elas, até que as três soltaram algumas gargalhadas.
— Quem diria que estaríamos aqui na última estação do ano tendo histórias assim para contar. — comentou , com o olhar apaixonado.
— Sim... Foi uma temporada agitada e cheia de emoções. — concordou .
— Muitas emoções. — voltou o olhar para a duquesa — Mas... Minha doce rubi, ainda faltas contar sobre vossa primeira noite.
— . — a repreendeu — Realmente casaste com alguém de vossa personalidade.
— Acredite, há momentos em que vossa alteza se surpreende comigo. — ela soltou uma gargalhada maliciosa.
— Acredito que tenha sido normal como a primeira noite de ambas. — disse num tom baixo.
— Certamente a de não se pode considerar normal. — argumentou , ao lembrar-se dos detalhes contados por vossa cunhada.
olhou-a com malícia.
— Minha primeira noite foi surpreendente. — disse a princesa, enigmática.
— Se fosse para dar uma colocação... — disse — Seria uma noite de descobertas.
— Sim, de fato a primeira noite é assim. — concordou — E as próximas seguem mais...
Ela pausou um pouco, deixando o restante em incógnita, arrancando risadas das amigas.
— E como é dormir no mesmo quarto? — perguntou , à condessa.
— É divino. — respondeu , por sua cunhada.
— Vossa alteza dorme no mesmo quarto que vós? — surpreendeu-se.
— Sim, e nunca gostei tanto de um costume da burguesia. — admitiu , com o olhar de satisfação.
Sob o frescor e aconchego do solário, as senhoras continuaram trocando vossas experiências e planos para mais encontros de casais como aquele. Ainda faltava tempo para o jantar de natal que seguia sendo preparado pelos cozinheiros do castelo. com auxílio de vossa tia, escolheu o cardápio para atender aos gostos dos convidados e de vossa graça, afinal, em uma data especial como aquela, tudo deveria seguir em perfeito capricho.
Quanto aos cavalheiros, foram servidos do melhor vinho da adega de vossa graça, na biblioteca do castelo. Entre risadas e experiências compartilhadas, uma amiga antiga entre o príncipe e vossa graça estava sendo fortalecida e estendendo-se ao novo integrante, lord Bridgerton.
— Vossa alteza, conte-nos mais sobre vossa experiência com discussões. — pediu , instigando o assunto.
— Digamos que minha esposa tenha adentrado o quarto de segredos da família real. — contou sem muitos detalhes — Mas confesso que odiei os dias em que passamos separados.
— E foram muitos dias? — indagou , também interessado na história.
— O suficiente para deixar-me louco. — o príncipe tomou um gole do vinho em sua taça — E em abstinência.
Seu comentário final arrancou risadas dos amigos.
— Em meu caso, as discussões tornaram-se rotina em meu casamento. — aproximou-se da janela, observando a neve caindo do lado de fora — No que depender de ... Não imaginava que os burgueses tinham tanto fôlego para tal coisa.
— Pois a melhor parte das brigas, é sem dúvidas a reconciliação. — afirmou o duque — Falo por experiência própria.
— Vossa majestade disse o mesmo a mim. — contou , lembrando-se da conversa com a mãe.
— Tornei-me experiente contra a minha vontade. — manteve-se contemplativo a natureza do lado externo — Contudo, serviu para que conhecesse melhor minha senhora.
— Soube por que compartilham do mesmo quarto. — entrou no assunto, curioso — Não importa-se em quebrar as regras?
— Bem, é um costume da burguesia e a família de minha esposa pertence à classe. — explicou , não sentindo nenhuma culpa por isso — Por um conselho de meu sogro, optei pelo compartilhamento.
— Se há algo magnífico entre a burguesia de fato é isto. — concordou — Nada melhor que adormecer e acordar com sua amada nos braços.
— Vós também? — surpreendeu-se.
— Não perderia a oportunidade de quebrar regras meu caro amigo. — piscou de leve com malícia no olhar.
Pois vos digo, meus caros leitores, que este é um lado de vossa alteza que muito admiro. E esta autora adora quando protocolos são quebrados, principalmente em momentos que estão associados aos costumes que distanciam nossos casais.
— O casamento de vossa graça foi a surpresa do ano, mais do que um casamento real. — comentou , iniciando outro assunto.
— Acredite, também foi uma surpresa para mim. — admitiu ele.
— Não achava que conseguiria desposá-la? — indagou , que já sabia parte da história.
— Sim. — assentiu vossa graça — Em um confronto com lord Bourbon, descobri que não havia nenhum noivo, então...
— Fico feliz que tenha encontrado a felicidade no sorriso da nossa doce duquesa. — sorriu demonstrando empatia — Estava a me preocupar com o vosso estado emocional, diante de nossa última conversa.
— Eu estou bem agora. — afirmou o duque — Meu coração tem acelerado constantemente por causa dela.
— Estás apaixonado, é normal. — brincou .
— Nada é normal, quando se está apaixonado, meu cunhado. — completou , lembrando-se de como sente-se completo e em êxtase com vossa esposa.
Assim como as damas, os nobres cavalheiros continuaram a conversar até que o mordomo Hilte anunciou ao seu senhorio que o jantar estava servido. O duque Tenebrae pediu para que anunciasse para e conduzisse as damas até o local a ser servido. E não havia lugar melhor para servir o jantar de natal de nossos casais, que o jardim privado de inverno, de vossa graça. Situado na ala leste do castelo, havia um telhado de vidro com a estrutura em metal inclinada, que protegia todo o espaço dos flocos de neve, deixando uma visibilidade para o céu.
Como uma quebra de protocolos e desejando a proximidade entre os casais convidados, a duquesa posicionou uma mesa redonda ao centro do lugar, com seis cadeiras e o mínimo de espaço possível entre elas.
— Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por este momento, e por ter me dado o melhor presente de natal que poderia sonhar em receber. — anunciou vossa graça ao olhar para a rubi, por mencioná-la de forma subjetiva — E agradeço aos meus amigos e convidados, pela presença em Collis Castelli, em nosso primeiro natal juntos.
Ele ergueu a taça em sua mão.
— Saúde! — completou o duque, iniciando o brinde.
— Saúde. — disseram os outros em concordância.
— Para uma primeira recepção, acredito que possamos criar uma singela tradição de todos os natais neste castelo. — comentou , orgulhosa de vossa amiga.
— Certamente os próximos natais terão mais membros. — disse , com um sorriso esperançoso.
Assuntos sobre os planejamentos de viagens de lua de mel para o próximo ano, as diversas publicações de meus jornais e claro os muitos herdeiros que alguns desejavam ter foram embalados à mesa, enquanto desfrutavam de um requintado jantar.
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— Percebeste a escapada do duque e ?! — comentou , ao se aproximar do marido que seguia tocando o piano da sala de músicas.
— Certamente desejavam nos deixar mais à vontade. — disse, continuando a tocar a canção com suavidade.
— O que estás a tocar? — indagou ela, sentando-se ao seu lado, de costas para o instrumento.
— Mozart, conheces? — ele a olhou por um momento.
— Vagamente. — disse ela, dando um sorriso suave — Mas gosto de ouvi-lo tocar, e nosso bebê também, posso sentir isso.
— Então tocarei sempre para ambos. — ele parou de dedilhar e voltou-se para ela — Disseste muito sobre estar grato no natal, e eu estou grato por tê-la ao meu lado.
— uma vez comentou sobre uma dama que feriste o vosso coração. — iniciou ela, tentando não gerar nenhuma discussão — Não desejo saber sobre o assunto, mas devo lhe confessar que estou grata pelo acontecimento, assim, pude conhecê-lo e me apaixonar por vós...
não se conteve em interromper a declaração de nosso diamante, com um suave e doce beijo, enquanto lhe acariciava os cabelos. Ambos ficaram por alguns instantes em silêncio, com uma singela troca de olhares e um sorriso no canto do rosto.
— . — sussurrou ela, ao pegar sua mão e a pousar sobre a barriga — Sinta, ele está dizendo oi.
Os olhos do conde de Whatnot brilharam de imediato ao sentir o pequeno bebê mexendo dentro de vossa esposa, um sinal de vida que lhes traria inúmeras felicidades futuras.
— É tão mágico. — ele manteve um tom mais baixo, voltando o olhar para a esposa — Obrigado, por me proporcionar isso.
— Eu te amo, lord Bridgerton. — disse ela, elevando um pouco mais a voz.
— Eu te amo meu diamante Bridgerton. — declarou ele, num tom mais apaixonado ao se impulsionar para beijá-la novamente.
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— Acredito que meu senhor teve a mesma ideia que nossos anfitriões. — a voz de soou, ao sentir a presença do marido no recinto.
— Uma saída estratégica pela direita. — brincou vossa alteza, ao se aproximar mais e abraçá-la por trás, apoiando o queixo no ombro dela — Era tudo o que desejei ao longo desta tarde, afinal, passaste toda a tarde em conversas com vossas amigas.
— E como descobriu que eu estava aqui? — perguntou ela, ao sentir o toque do marido em sua cintura — Me ausentei dizendo que iria para nosso quarto.
— A conheço muito bem, minha pérola real. — respondeu ele, ao dar um selinho prolongado em vosso pescoço — Durante o juntar, revelaste o vosso encanto pelo solário de nossos anfitriões, e observei muito bem o brilho em vossos olhos.
— Aquece meu coração ouvir isso. — ela virou o corpo, ficando de frente para ele com um sorriso nos lábios — Mais ainda por ver vosso olhar de desejo para mim.
— Bem… Já que estamos aqui. — ele afastou-se um pouco e pegou uma flor do inverno que estava em um dos vasos, propondo — Neste dia especial, que tal recordarmos a melhor noite de nossas vidas?
apenas manteve o sorriso malicioso em seu rosto, observando vossa alteza aproximar-se de forma sinuosa. Uma carícia para cada toque da flor, combinados aos beijos ardentes e intensos que aumentavam ainda mais os vossos desejos um pelo outro.
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— Vossa graça, não é certo deixarmos nossos convidados sozinhos. — disse ao terminar de subir as escadas atrás do marido.
Ela respirou fundo, retomando o fôlego.
— Perdoe-me fazê-la subir as escadas com rapidez. — disse ele, com um sorriso bobo no rosto, ao conduzi-la até o beiral
— Estou bem. — ela respirou com mais suavidade.
— Mas, quanto aos nosso convidados, apenas os dei espaço para que pudessem se sentir confortáveis. — assegurou ele, ao pousar suas mãos na cintura da esposa, mantendo-a de frente para ele — Além de querer finalizar este dia somente em vossa companhia, minha rubi de Whosis.
Ele lhe deu um selinho singelo e manteve a serenidade no olhar, enquanto contemplava a beleza de vossa esposa. O silêncio pairou entre ambos, permitindo ser ouvido o assobio dos ventos.
— . — sussurrou ela.
— Sim? — ele manteve-se atento a ela.
— Lembra-se quando propôs a tradição de comemorarmos os natais em Collis Castelli? — indagou ela.
— Sim. — assentiu ele.
— Eu disse que os próximos natais, teríamos mais membros. — continuou ela.
— Sim, mencionaste o herdeiro dos Bridgertons. — disse ele, em lógica do óbvio.
— Não era ela a quem me referia. — manteve o olhar ansioso para que ele entendesse.
— Por acaso a princesa está à espera de mais uma realeza?! — perguntou, não sentindo-se nenhum pouco admirado se fosse o caso.
— Não, não me referia a princesa. — sorriu de forma singela e pegando a mão do marido, tocou-a em seu ventre — Entendeste agora?
nem mesmo conseguiu pensar em como reagiria a notícia. Em segundos vossos lábios tocaram os da duquesa, iniciando o mais sublime dos beijos apaixonados que lord Tenebrae pudesse lhe proporcionar.
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E quanto a mim, esta nobre autora que vos escreve, nada como o inverno para se viver um grande amor.
Lady Lewis
Ya no importa cada noche que esperé
Cada calle o laberinto que crucé
Porque el cielo ha conspirado a mi favor
Y, a un segundo de rendirme, te encontré.
- Creo En Ti / Reik
XXX. Lady Lewis
Para os apaixonados por um bom romance, nossa jornada por descobrir os mais intensos e divertidos casais de nossa bela Londres não terminou, e por mais que o inverno nos imponha alguns limites, logo a primavera chegará cheia de novidades e mais famílias para se conhecer. Pois Lady Lewis jamais os deixará órfãos de uma boa história de amor.
E será mesmo que em nossa luxuosa Paris possui ainda mais fofocas, para deliciar esta humilde autora? Há quem diga que existe um velho louco chamado Napoleão que não se limita a contar as histórias da elite parisiense com tanta ênfase e que vossos segredos não caberiam em um livro de 500 páginas. Será que a doce Roma possui famílias com mais segredos do que se possa imaginar? Ou exista algum duque norueguês à procura de uma donzela para desposar? Quem sabe na próxima história descobriremos.
E quem sou eu?
Nem pelas joias da coroa saberão.
Lady Lewis.
Conte-me seu sonho
Conte-me os pequenos desejos em seu coração.
- Genie / Girls' Generation
FIM?!
E lá vou eu com mais uma fic de época porque não resisti e surtei com a série Bridgerton na Netflix. Finalmente terminaos essa história, exatos dois anos depois que a iniciei, bem no especial ALL STAR do FFOBS. Espero que tenham gostado.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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