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Última atualização: 21/01/2021

Antigo Testamento



19. Salmos pt.1

"O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará."
- Salmos 23:1

- x - 

— Eu amo vocês, mas tenho que ir. — disse ao jogar minha bolsinha de lápis na mochila, já me levantando da cadeira.
— Calma , a aula nem terminou direito. — reclamou Davi — Pra que a pressa.
— Agora eu trabalho lembra? — me expliquei — O senhor Rodrigues me pediu para chegar mais cedo.
— Mais cedo do que já chega? — Lira me olhou confusa — Não tem como amiga.
— Ele acha que tem, é por que uma das moças da manhã está de férias, mas se eu entro mais cedo, saiu mais cedo. — pisquei de leve — Beijos e fui.

Saí correndo da sala. Ao passar pelo corredor, acabei esbarrando em alguém que fez minha mochila cair, ao levantar meu rosto pedindo desculpas, era Joseph.

— Aqui. — disse ele esticando a mochila para mim assim que a pegou.
— Obrigada. — sorri de leve.

Ele se afastou para seguir seu caminho.

— Joseph. — o chamei.
— O que? — ele me olhou.
— Eu perguntei ao Jullian se você voltou na célula dele, ele disse que você não foi mais. — comentei — Está tudo bem?
— Por que quer saber?

Respirei fundo tentando encontrar as palavras certas.

— Não deveria se preocupar com a minha vida. — continuou ele — E acho que está atrasada.
— Sexta-feira estarei na célula na casa do Pietro, não sei conhece ele. — retruquei sem me intimidar — Mas sei que conhece a Isla, ela mora perto da casa dele, gostaria de te ver lá.
— Você não desiste mesmo né?
— Não. — sorri de novo.
— Você ainda está atrasada.
— Eu sei. — ri de leve — Mais ainda quero te ver lá na sexta.

Eu me afastei rindo e voltei a correr até o ponto de ônibus. Felizmente tudo cooperou para que eu chegasse mais cedo, principalmente o trânsito, e nem parecia ser uma habitual quarta-feira em horário de pico. Assim que troquei minha roupa e coloquei o avental, comecei a servir as mesas, já que Tânia preferia ficar na parte de dentro preparando as comandas. O dia foi longo para meu desespero, o que eu mais queria era chegar em casa tomar um banho e dormir, porém hoje era dia de culto e eu estava no louvor como sempre. 

Assim que deu meu horário saí correndo mais uma vez para pegar o ônibus. Ao chegar em casa, tomei um banho correndo troquei a roupa e segui para a igreja. Davi e Jullian já passavam o som com a Madu, infelizmente Justino que ficava na bateria não poderia participar por causa do trabalho na oficina, então teríamos só o violão tocado por mim, acompanhado do cajon tocado por Jullian.

As horas foram passando e desta vez, por mais que eu quisesse ficar mais um pouco conversando com o povo, eu só pensava na minha cama. Peguei carona com seu Chico e sua esposa que tinham ido na caminhonete dele, deixando papai pra trás, ele precisava resolver alguns assuntos sobre o telhado da salinha que começou a vazar água. 

— Que cansaço… Que sono… — disse ao pegar minha toalha e entrar no banheiro.

Amarrei meu cabelo para não molhar e liguei o chuveiro, aquele vapor quente me animou um pouco, até que me lembrei de não demorar muito por causa da conta no final do mês. Realmente, a gente só entende o sentido de economia quando estamos ajudando a pagar algo, e desde que comecei a trabalhar tenho tentado ajudar nas despesas da casa. Por mais que papai dizia que a obrigação era dele, por ser meu pai e provedor da família, eu queria ajudá-lo e me sentia bem com isso. Certamente se mamãe fosse viva faria o mesmo por ele sem contestações.

— Hum… — desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha — Isso que é banho.

Saí do banheiro e entrei no meu quarto, peguei o celular e olhei no visor.

— Até que não demorei muito. — comentei.

Voltei meu olhar para o canto superior e vi que tinha uma mensagem do kakaotalk. Deixei meu celular em cima da cama e fui até o armário para colocar meu pijama, assim que terminei de me vestir voltei a pegar o celular e vi que era uma mensagem de bom dia de .

: bom dia. 
como foi hoje?
: bom dia.
foi tudo bem, trabalhei bastante e agora vou terminar um trabalho para amanhã e depois vou dormir.

Eu esperava que ele estivesse em off, porém apareceu uma mensagem dele digitando…

: que bom que está bem
hoje teve culto?
: sim, estou chegando agora.
você está na universidade?
: sim
vou deixar você estudar também.
: até mais tarde?
: até mais tarde
bom dia.
: bom dia.

Um sorriso bobo aparece em meu rosto logo depois que digitei a última frase. Deixei meu celular em cima do travesseiro e me espreguiçando, segui até a escrivaninha, ainda tinha um trabalho de química para entregar e só tinha feito metade dele, ou seja, nada de poder dormir. Eu tentei ser forte e resistente, até que adormeci em cima dos meus cadernos, mesmo desconfortável naquela cadeira, meu sono estava bom, e como estava bom. 

— Princess?! — disse meu pai num tom baixo me acordando.
— Hum?! — abri os olhos com um pouco de dificuldade — Não acredito que dormi.
— Pelo menos terminou o trabalho. — disse ele pegando as folhas soltas do meu caderno ao lado.
— É, eu terminei e achei que podia estudar mais um pouco, mas acho que não aguentei. — comentei me espreguiçando de novo — Chegou agora?
— Sim. — ele olhou o relógio no pulso — São uma e meia da manhã. 
— Tão tarde? — o olhei me levantando da cadeira — Porque demorou?
— Ah, fiquei conversando com o seu Chico e a sua esposa. — ele respirou fundo — Eles me contaram sobre a neta deles.
— Ela contou a eles? — perguntei.
— Que está grávida? Sim, contou, eles me pediram um conselho.
— Que bom que ela contou. — comentei — E agora, o que vai acontecer?
— Eles queriam mandar ela pro interior, mas aconselhei eles a não afastar ela, e sim fazê-la sentir que pode se apoiar neles. — respondeu — Por mais que sua escolha tenha sido desaprovada pelos avós, ela precisa do apoio deles agora, pois a consequência fica e deve ser encarada de frente.
— Tem razão. — concordei — Eu disse a ela que pode contar comigo.
— Fez muito bem. — ele sorriu — Agora vá dormir mocinha, que amanhã tem mais.
— Amanhã não, daqui a pouco.
— Amanhã sim, eu ainda não dormi. — ele riu — E ainda vou orar.
— Farei isso também.
— Bom dia. — ele me deu um beijo na testa — Dorme com Deus.
— Bom dia pai, amém, o senhor também.

Assim que ele saiu do meu quarto, arrumei minha cama e ajoelhei na beirada dela, então comecei a orar, não iria demorar muito por estava caindo de sono ainda, porém sabia que encerraria com um louvor. 

E se eu passar pelo vale… Acharei conforto em Teu amor… Pois eu sei que és aquele… Que me guarda, me guardas… Em Teus braços é meu descanso… Em Teus braços é meu descanso...

Somente nos braços do Espírito Santo eu encontraria descanso em meio a tanta coisa acontecendo em minha vida, pedi muito mesmo para que minhas forças fossem renovadas, pois sabia que minha força é Jesus.

A rotina estava complicada e intensa, principalmente por este ano ter que me empenhar mais para a prova do Enem. Até mesmo Lira tinha montando um plano de estudos para não se perder nas matérias e poder tirar suas dúvidas com mais facilidade com os professores, e mesmo com minha rotina louca na cafeteria, nosso grupo de estudos não tinha morrido, ele estava ativo e funcionando todo domingo à tarde. 

Eu, Lira, Davi, Madu, Yasmin, Isla, Jullian e Pietro, estávamos empenhados a estudar e estudar para conseguir uma bolsa em alguma universidade, cada domingo na casa de um.

— Ainda estou em choque pelo senhor Rodrigues te liberar de trabalhar no domingo. — comentou Yasmin — Já ouvi dizer que ele é um mercenário.
— É Deus! — expliquei — Como eu entrei de jovem aprendiz, eu conversei com ele sobre alguns pontos que eu não poderia deixar solto, e para ter o domingo livre, não tenho folga na semana mais, e sábado fico de 9 às 18.
— E por falar em não trabalhar no domingo, não aguento mais aquele call center. — comentou Isla — Essa sinusite que não me deixa por causa dos ar condicionado, não é legal.
— A Yara tava querendo se candidatar como jovem aprendiz também. — comentou Yasmin.
— Eu já falei com ela pra esquecer isso, melhor ela pegar outra coisa. — falou Madu — Ainda mais que ela é hiperativa, não vai conseguir ficar sentada 6 horas por dia.
— Isso é verdade. — Pietro riu.
— Gente, nunca imaginei que pudesse ter tanta coisa pra estudar assim. — comentou Lira — Só não desisti da federal porque é meu sonho de criança.
— Mas também, vai logo querer o curso mais concorrido. — Davi riu — Você é louca.
— Que curso você quer? — perguntou Jullian.
— Medicina. — respondeu ela — Quero me especializar em pediatria, amo crianças.
— Nossa doutora Lira. — brinquei.
— Coragem. — Isla riu.
— Falou a psicóloga da turma. — brincou Davi, em defesa de nossa amiga.
— Ai gente, realmente, agora que vou ficar com psicologia mesmo, tô tão desanimada de letras. — comentou ela.
— Eu já me decidi. — disse Pietro — Apesar de engenharia automotiva ser focada em carros, eu vou seguir a engenharia mecânica que dá mais opções.
— Olha aí meu engenheiro. — brincou Isla.
— Meu engenheiro?! — dissemos todos em coral olhando ambos.
— O que está rolando aí que a gente não sabe? — continuou Madu.
— Nada. — Isla desconversou.
— A gente está fazendo a corte. — admitiu Pietro.

Todo mundo gritou de empolgação.

— Por que será que eu sabia que vocês dois seriam os primeiros. — comentou Yasmin — Já que meu shipp e Davi morreu.
— Esse shipp nunca existiu.  — comentou Davi.
— Verdade. — concordei.
— Quando a Yara souber. — Madu soltou uma gargalhada — Ela não vai parar de importunar vocês.
— Não contem ainda. — pediu Isla.
— Tarde demais. — Yasmin olhou com cara de inocente com seu celular na mão.
— Yasmin. — Isla lançou um olhar indignado — Daqui a pouco vai ter um áudio dela de todo tamanho no privado aqui.
— E como foi? — perguntou Madu — O pastor Jonas foi muito rígido?
— Fala do meu pai como se fosse tão severo. — a olhei sem entender.
— É porque a corte é coisa séria. — explicou ela.
— Verdade. — concordou Lira.
— Então, nós estamos há 3 meses orando, aí fomos no domingo passado falar com o pastor Jonas com nossos pais, aí ele explicou como funcionava de novo, falou que o compromisso estávamos fazendo também com Deus… — começou Isla.
— Aí contamos a ele que já estávamos em jejum e oração pra ter confirmação. — continuou Pietro — E decidimos manter a corte é o casamento.
— Sério? — Jullian o olhou meio boquiaberto.
— Sim. — confirmou Pietro — O pastor até perguntou se eu estava mesmo convicto disso, por ser mais novo que a Isla, ter apenas 18 anos, mas…
— É gente, o novinho me atraiu. — brincou ela.

Nós brincamos mais um pouco com a afirmação dela. Era fofo ver um casal sendo formado no nosso círculo de amizades. 

— Ok gente, vamos mudar de assunto e voltar para os estudos. — disse Davi — Daqui vamos direto pra igreja.
— Mas vocês estão no louvor hoje? — perguntou Isla.
— Não, hoje vai ter um pessoal de fora que convidamos, indicação da Layla. — comentei.
— E por falar em Layla, ela vai mesmo noivar esse ano? — perguntou Madu.
— Sim, ela me disse que eles estão planejando um jantar de noivado pra família e o casamento pode rolar em setembro. — respondi.
— O Charles me disse que estão esperando sair o apartamento que eles financiaram. — completou Davi.
— Como é bonito quando as coisas são feitas sem pressa e planejada. — comentou Yasmin — Já vão casar tendo uma casa.
— Vamos fazer isso também, né P?! — Isla olhou com carinho para Pietro.
— Awwwnnnn! — todos brincamos.

Pietro ficou vermelho de vergonha, mas assentiu. 
As horas se passaram, Davi, eu e Pietro saímos da casa da Yasmin e seguimos para a igreja, não demorou muito até o ministério de louvor convidado chegar para a passagem do som. Foi tudo tranquilo e abençoado, e no final do culto lá estava Yara brincando com o novo casal de jovens da igreja, foi engraçado ver a cara de vergonha do Pietro, até a Isla riu dele.

. — Dara se aproximou de mim, pouco antes deu sair da igreja para ir embora.
— Oi Dara, como você está? Meu pai me contou que conversou com seus avós. — sorri de leve para ela.
— Estou bem. — ela tentou sorrir, mas seu olhar ainda se mantinha triste — Eu só queria agradecer mais uma vez por ter me dado um apoio.
— Não precisa, eu que agradeço em poder ter te ajudado, mesmo que pouco. — a abracei com carinho.
— Você me ajudou muito, eu estava tão desesperada naquele dia, que só me vinha à mente fazer alguma besteira que eu pudesse me arrepender depois. — confessou ela.
— O que importa é que tudo vai começar a se revolver agora, você tem o apoio dos seus avós e Deus está no controle. — me afastei um pouco e segurei em sua mão — E já quero ser madrinha dessa benção aí.
— Vai ser uma honra para mim. — ela sorriu.
— Você continua indo na célula da casa do Jullian? — perguntei.
— Sim, é bem divertido as ministrações da Isla. — respondeu ela.
— Fico feliz por isso, é bom estar envolvida com outros jovens da igreja, fazer amizades saudáveis.
— Sim.
— Estamos planejando uma confraternização entre as células de jovens e adols no próximo sábado, não sei se o Jullian já falou com vocês da célula dele.
— Ele falou no sábado passado.
— Te espero lá, vai ser bem legal. — assegurei.
— Eu vou sim. — ela desviou seu olhar para rua — Meus avós estão me chamando, até mais.
— Até.

Eu me aproximei do meu pai, o obreiro Zé nos levaria para casa. Assim que chegamos, ele deixou suas coisas na mesa ao lado da tv e foi para cozinha, sendo ele, estava quase desmaiando de fome. Chefe Jonas iria preparar um rápido omelete especial para nossa janta improvisada. Aproveitei para ir ao meu quarto trocar de roupa e preparar minhas coisas para o dia seguinte, teria aula de matemática e eu só tinha estudado quinze minutos na sexta após voltar do trabalho. 

— O cheiro está maravilhoso pai. — comentei ao voltar para sala.
— Falei que não iria demorar, já está pronto. — comentou ele.
— Agora bateu uma fominha mesmo. — me aproximei dele e peguei o prato já servido — Que fome.
— Bom apetite.
— Amém.

Agradecemos a Deus pelo nosso alimento e devoramos aquela omelete. Estava uma delícia e meu pai continuava se superando a cada receita nova que estava, o dom escondido do chefe Jonas já estava sendo comentado por todo mundo na igreja, era engraçado isso. Me ofereci para limpar a cozinha após comermos, assim papai poderia descansar um pouco, ao terminar desliguei a televisão ao vê-lo cochilando no sofá e fui para meu quarto. Peguei meu celular me sentando na cama e olhei algumas mensagens dos grupos, respondi algumas e fui dar bom dia ao .

: bom dia…
como foi o seu domingo?
: bom dia
foi chato e estressante, estou terminando um trabalho para entregar amanhã.
tive que refazer alguns cálculos e desenhar de novo aquele telhado abençoado.
: uau, quem mandou ser o melhor aluno do curso, 
as pessoas esperam muito de você.
: se faço pra Deus, preciso fazer bem feito.
não acha?
: concordo 100%!!!!! kkkkkk
como está Sunny?
: sem celular até segunda ordem.
: tá explicado o silêncio dela kkkkkk
o que aconteceu?
: sua notas caíram um pouco, meu pai ficou bravo
: missionário Han é bravo? onde? como? quando?
seu pai tem uma cara de tranquilo.
: só até a vírgula kkkkkkk
ele é muito exigente com relação a escola, sempre foi, mas é natural dos pais coreanos, nós focamos muito na educação.
:  isso me deixa admirada, meu pai também se preocupa muito comigo e com meus estudos, mas não é tão “exagerado” assim.
: kkkkkkkkk
: e agora ela vai ficar até o final do ano letivo?
: não, só até suas notas melhorar na próxima prova de destaque.

já havia me contado sobre essa tal prova de destaque que existia nas escolas, fazer os alunos se matarem de estudar para ficarem nos primeiros 20 lugares de numa lista de 100 alunos por série, era algo medonho.

: espero que ela consiga de dedicar.
: sim, ela pediu para de mandar um abraço dela.
: abraço recebido, manda outro
kkkkkkk….
: você deve estar cansada, vou te deixar ir dormir.
: pior é que estou mesmo, 
hoje tivemos nosso momento de estudos, e nem consegui acordar tarde, tive que chegar um pouco cedo para limpar a igreja ande de ir para o grupo de estudos.
: então vá dormir.
: bom dia.
: bom dia.

Verifiquei o despertador antes de fazer minha oração e me entregar ao sono, meu corpo estava meio dolorido de ter lavado o salão da igreja, essa semana era da equipe da Isla que misteriosamente eu participava. Ela convocou alguns jovens para ajudar e foi até divertido, lavamos todas as cadeiras também, que surpreendentemente transbordavam poeira por causa do conserto do telhado da igreja.

A semana passou rápido, até chegarmos na confraternização das células jovens e adols. Eu, Isla e Yasmin nos encontramos cedo na casa da Madu para organizar a decoração e as comidas, Lira e Yara chegaram pouco depois com os meninos para ajudar. Jullian foi o último a aparecer e com uma inacreditável companhia.

— Olha só que eu encontrei perdido. — Jullian colocou a mão no ombro de Joseph.
— Joseph. — me aproximei deles — Que bom que você trouxe ele Jullian, hoje vai ser uma confraternização especial.

Joseph permaneceu em silêncio me olhando, seu jeito marrento e tímido era fofo, ele se sentou em uma das cadeiras ao canto, até que Pietro o forçou a ajudar a carregar as caixas de som, que tinha trago no carro emprestado do seu pai. Eu deixei as meninas terminando e me escondi no quarto da Madu para poder meditar um pouco na exegese que tinha preparado para ministrar, era da canção Aquieta Minh’ alma.

Ao final da última oração e do agradecimento pelo momento de comunhão, me aproximei de Joseph, antes que ele pudesse sair correndo, desta vez não o deixaria se isolar novamente, eu queria me aproximar mais dele e lhe oferecer sua amizade.

— Você canta muito bem. — disse ele num tom baixo.
— Obrigado, mas é pra glória de Deus, não pra minha. — eu sorri — Se fosse por mim eu nem cantava, acredite ou não, sou muito tímida.
— Difícil acreditar, você é bem popular, não só na escola, mas aqui também. — retrucou ele.
— É a graça. — brinquei sendo realista — Você está preocupado com alguma coisa?

Observei que ele não parava de olhar o celular.

— Me desculpe, mas não posso demorar. — disse ele, seu olhar estava triste e seu semblante cansado.
— Posso te ajudar em alguma coisa?
— Não, neste momento ninguém pode me ajudar.
— Hum… Eu tenho certeza que tem uma pessoa que pode.
— Quem? — perguntou ele.
Jesus. — respondi com segurança.

“Aquieta minh'alma
Faz meu coração ouvir Tua voz
Me chama pra perto
Só assim eu não me sinto só.
Porque, na verdade, eu descobri que tudo o que eu preciso está em Ti
Mas meu coração é teimoso demais pra admitir."
- Aquieta Minh'alma / Ministério Zoe

Chamado: Descansar em Deus.



20. Salmos pt.2

"Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará."
- Salmos 91:1

- x - 

Descansar em Deus. Eu estava aprendendo isso com o livro de salmos, tanto eu como papai precisávamos deixar tudo no controle de Deus e não murmurar, somente seguir um dia após o outro. Mas claro que a vida não daria uma brecha e faria de tudo para nos deixar preocupados com alguma coisa, e foi isso que aconteceu na manhã de sábado em que eu estava prestes a sair para o trabalho.

Lira me ligou desesperada dizendo que estava sendo despejada da casa do pai com sua mãe. Liguei rapidamente para meu pai, pedindo que ele ajudasse elas, mesmo querendo ir ao socorro de minha amiga, eu tinha um compromisso a cumprir na cafeteria, e não poderia faltar sem um atestado médico pelo menos. Passei o dia intercedendo por elas mentalmente enquanto cumpria meu serviço, estava muito preocupada.

— Menina, tá acontecendo alguma coisa? — perguntou Felícia — Você está tão caidinha hoje.
— Ah?! — a olhei sem entender.
— É que geralmente você está sempre sorrindo e hoje está séria, com olhar distante.
— Uma amiga minha estava sendo despejada hoje de manhã. — expliquei — Até agora não tive mais nenhuma notícia sobre.
— Nossa que chato, ela morava de aluguel? — Tânia perguntou, ao ouvir nossa conversa.
— Não, ela morava na casa do pai com a mãe dela, mas seus pais não eram casados, é uma história longa e confusa. — expliquei.
— Você mora pro lado de Nova Lima né? — Felícia terminou sua comanda e me perguntou.
— Sim, por que?
— Você mora pro lado de Nova Lima né? — Felícia terminou sua comanda e me perguntou.
— Sim, por que? — perguntei.
— É que conheço muita pessoa por lá, por que minha mora lá, se quiser posso perguntar pra ela se ela não tem um barracão para alugar ou conhece alguém. — se ofereceu.
— Sério? Mas é muito caro?
— Não, minha geralmente cobra baratinho e o lugar é bem arrumado. — assegurou Felícia.
— Muito obrigado, vou olhar como está a situação delas, mas se você puder olhar isso para mim.
— Olho sim. — ela sorriu com gentileza.

Meu coração estava meio aliviado, mas meus pensamentos continuavam querendo saber a situação. Na hora do almoço recebi um áudio no whatsapp de Davi contando que Lira e sua mãe estavam na casa dele, e que ficariam lá até conseguirem um lugar para morar. Realmente elas tinham saído da casa do pai de minha amiga, após uma grave discussão com a avó de Lira que insultou a Mônica com palavras ofensivas. Era triste saber que uma pessoa poderia ser tão amarga na vida a ponto de tratar outra assim.

“Davi você está trabalhando também? Mais tarde passo na sua casa, depois do trabalho.”

Enviei a mensagem e depois escrevi outra pra Lira.

“Amiga, me desculpe não ter ajudado muito de manhã, tive que ir trabalhar.”

Fiquei olhando para a tela do celular por alguns minutos, até que voltei a realidade e comi a comida que tinha levado na marmita. Saí da cafeteria e fiquei dando algumas voltas pelo shopping para passar meu horário de almoço, até que meu celular vibrou no bolso: era uma mensagem de .

: ?
Está mais calma agora?
Quando quiser, estou aqui.

Sorri de leve ao ler.

: você deveria estar dormindo não?
Já são 1 da manhã aí.
: estava preocupado com você
afinal me contou sobre sua amiga e não falou mais nada.
o que aconteceu? ela conseguiu outro lugar para ficar?
: sim, mas temporário, como ainda estou trabalhando, não sei de tudo em detalhes, mas tenho uma amiga aqui que se ofereceu para ajudar.
: tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.
: romanos 8:28

Ele estava certo e eu não iria me deixar desesperar, minha amiga precisava de mim naquele momento.

: fique tranquila, vai dar tudo certo.
: sim
Eu creio *-*
: vou te deixar aproveitar seu horário de almoço.
: e você precisa dormir, moço
: antes
tenho uma novidade...
: qual?
: não posso dizer tudo, mas em breve voltarei ao Brasil
: sério??
: sim.
: quando?
: ainda não sei a data, mas vai ser próximo das férias.
talvez antes
: o bom aluno não precisa ficar até o final do semestre?
: não, pois o bom aluno já terá conseguido todos os créditos que precisa
e posso adiantar minhas provas.
: quem em sã consciência adiantaria as provas?
: eu
para ir ao Brasil.
: você é louco
se eu pudesse, adiaria até o Enem.
: e por falar em enem,
como está indo os estudos?
: cansativo?
posso responder assim?
: kkkkkkkkk pode
tenho que ir agora, amanhã tenho um trabalho para apresentar logo cedo.
: Deus abençoe.
: amém
bom dia.
: bom dia.

Ainda me admirava com a dedicação de com a faculdade, tinha que admitir que arquitetura não é um curso fácil e também lidava com a vida das pessoas, ele sempre me dizia que um erro de cálculo pode custar muito caro. Assim que deu a hora, voltei para minha função servindo as mesas, a cada minuto olhava para o relógio do meu celular, parecia que as horas não passavam e os clientes não paravam de aparecer.

— Nossa, pensei que nunca terminaria. — disse ao abrir meu armário e pegar minha mochila — Não vou nem trocar de roupa.
— Hoje você está mesmo com pressa de ir para casa.
— Sim, estou. — disse já me apressando para ir embora — Até segunda meninas.

Saí apressada em direção ao elevador, queria chegar o mais rápido possível no ponto de ônibus, pois a grade de sábado conseguia ser pior que a de domingo. Desci algumas paradas antes da minha casa e segui direto para casa de Davi, assim que ele abriu o portão para mim, vi o rosto triste de Lira que estava sentada no chão da varanda.

— Amiga. — corri até ela e me ajoelhando a abracei — Como está?
— Um pouco melhor agora. — respondeu ela.
— Bom dia pra você também. — reclamou Davi.
— Desculpa maninho. — eu o olhei — Bom dia Davi.
— Onde estão todos? — perguntei.
— O pastor Jonas está ajudando meu pai e pegar as coisas delas lá. — respondeu ele — Minha mãe e a Mônica estão na igreja.
— Por que?
— Minha mãe estava muito alterada e abalada, aí a tia Kátia levou ela pra lá pra se acalmar um pouco. — explicou Lira.
— Mas o que aconteceu?!
— Meu pai brigou com a minha avó por minha causa, aí minha avó brigou com minha mãe e o caos sobreveio. — Lira parecia não querer detalhar muito — Foi a pior de todas as brigas, minha avó nos expulsou.
— Não precisa falar mais. — disse a interrompendo.

Eu sabia que tocar no assunto a fazia mal.

— O que importa é que agora está tudo sendo resolvido. — disse Davi — Aos poucos, mas está.
— Sim. — concordou Lira.
— E vocês vão ficar aqui mesmo? — perguntei.
— Só até encontrarmos outro lugar para ficar.
— Elas vão dormir no meu quarto. — explicou Davi.
— Ahhh. — me sentei ao seu lado.
— Pelo menos podemos respirar mais aliviadas, mamãe conseguiu aquele estágio que te falei. — Lira olhou para o portão — De manhã ela vai trabalhar limpando o escritório e a tarde ela vai trabalhar fazendo o estágio de advocacia, o dr. Simão foi muito bom em fazer esse acordo com ela.
— Sua mãe já trabalhava para ele, ela só precisava se livrar da vergonha e dizer que era formada em direito, só não tinha estágio. — observou Davi.
— Verdade. — concordei.

Lira assentiu.
Ela e sua mãe estavam gratas por nossa ajuda, era visível, assim como também seu desconforto em invadir a privacidade de Davi e seus pais. Foram duas semanas até que conseguimos formalizar o contrato de aluguel com uma conhecida da dona Muriel, que disponibilizou um quartinho dos fundos de sua casa para elas morarem.

— Uma pena não ter dado certo com a avó da sua colega da cafeteria. — comentou Lira.
— É, mas a Felícia ficou feliz em ter pelo menos tentado, mas avó dela já tinha alugado para um casal. — expliquei novamente — Fica em paz.
— Sim, pelo menos agora eu e a mamãe teremos um lugar nosso, apesar do tamanho.

Nós rimos.

— Como foi morar 2 semanas com o Davi? — perguntei curiosa.
— Estranho, porém engraçado. — ela riu — Ele é realmente daquele jeito o dia todo, achei que fosse só perto da gente.
— Davi é uma comédia, mas amo ter ele como irmão adotivo. — sorri de leve — Sua mãe está trabalhando agora?
— Sim.

Aquela era a minha primeira visita na casa nova após elas se mudarem, era mesmo muito apertado, o lugar. Eu não sabia onde terminava a cozinha e iniciava o quarto, somente o banheiro era a parte.

— Ainda tenho fé que teremos uma casa maior e seremos mais felizes. — comentou Lira se sentando na cadeira.
— Vocês já são mais felizes por terem saído daquele lugar. — comentei.
— Isso é verdade. — concordou — Hum... Tem visto o Joseph?
— Só no intervalo do recreio. — respondi — Por que?
— O Jullian me contou que ele está indo na célula de novo.
— Sim, a Isla me disse isso, fico feliz.
— Você gosta dele?
— Eu?! — por essa eu não esperava.
— É! Você tem se empenhado tanto em se aproximar dele.
— Bem, eu tenho gratidão por ele ter me defendido daquela vez, mas o que sinto por ele é carinho de amiga.
— Tem certeza?
— Claro que tenho, ultimamente não tenho pensado nessas questões sentimentais da vida, estou tão focada em estudar para o Enem que nem meu curso eu consegui escolher.
— Você é mesmo uma pessoa cheia de questões a se resolver. — ela riu.
— Gostaria de ser uma pessoa mais fácil, porém... — ri junto.
— Você conversou com a Layla, sobre o próximo culto de jovens?
— Sim, ela perguntou ao Charles e ele aceitou ministrar, fiquei muito feliz e aliviada.
— Eu ainda me choco que você não queira ministrar.
— Apesar de ser líder, acho que devo dar esta honra a outras pessoas por enquanto. — expliquei — E já tem tempos que penso em convidar ele, só não consigo perguntar.
— Ele é muito ocupado?
— Sim, ele estuda e trabalha assim como a Layla, e ambos estão focados nos preparativos do casamento, esse ano está corrido para eles.
— Imagino, casamento é coisa séria.
— Bastante.
— Você pensa em se casar amiga?
— Sim, um dia talvez, depois de conseguir as respostas que procuro, ou talvez antes. — eu ri.
— Ainda em busca do seu chamado?
— Sim, por mais que algumas sejam apontadas, não consigo ter 100% de certeza. — expliquei — Mas continuo fazendo com dedicação tudo que me é apresentado.
— Sua dedicação me deixa ainda mais admirada e motivada também.
— Sim, estou feliz por estar no kids com sua mãe, logo você se tornará líder kids também.
— É, o pastor Jonas disse que vai esperar mais um pouco até que eu e minha mãe nos acomodamos aqui. — concordou — Ah, te falei que consegui aquela vaga no pet shop?
— Não.
— Vou começar lá na segunda.
— Vai trabalhar sábado também?
— Não, só até sexta. — confirmou.
— Que felicidade. — estava realmente feliz por ela — Eu estou pedindo Deus renovo pra continuar naquela cafeteria.
— É pesado né?
— Sim, não sei mais o que é pior, servir às mesas ou fazer as comandas, tudo é realmente cansativo, mas no final do mês tenho o prazer de ajudar meu pai nas contas da casa.
— Esse é meu desejo agora, ajudar minha mãe nas despesas também. — disse ela com os olhos brilhando.

Eu pedi a ela para usar o banheiro, quando voltei me sentei na cama novamente e continuamos a conversar.

— E como está suas conversas noturnas com o coreano? — perguntou ela, curiosa.
— O nome dele é . — a repreendi de leve.
— Desculpa. — ela riu.
— Nossas conversas são legais, falamos sobre muitos assuntos, descobri que a irmã dele está sem celular por causa das notas na escola.
— Uau, eu estava vendo uma postagem no facebook sobre as escolas de lá. — comentou ela — São bem rigorosas.
— Sim, eu até comecei a ver alguns doramas para saber como é.
— O que é isso?
— Dorama?
— Sim.
— Ah, dorama é uma forma de nomear as novelas asiáticas, coreana, japonesa, chinesa, taiwanesa, tailandesa.
— Tudo isso?
— Sim. — eu ri da cara estranha que ela fez — São bem legais, eu vi uma semana passada de 20 capítulos que o beijo saiu no último episódio, fiquei chocada.
— Comparando as novelas brasileiras que a pessoa piscou já está beijando.

Seu comentário nos fez rir um pouco.

— Te indico a ver, são muito boas, a qualidade é ótima.
— Legendado né? — ela fez careta.
— Até parece que você não vê episódios de Grey’s Anatomy legendado. — cruzei os braços a olhando.
— Não mexe na minha série. — ela brincou — Eu tinha que saber o que estava rolando na nova temporada.
— Sei.
— Tenho alguns doramas de médico pra te indicar.
— Hum... São bons mesmo?
— Indicação direta do . Pode confiar.
— Então eu quero.
— Pode começar com o Descendants of the Sun, é uma mistura de médico com militar, menina. Melhor dorama que vi até hoje.
— Nossa a propaganda está boa. — ela riu.
— Aguarde e confie, tem o selinho de aprovação da Yara e da Yasmin.
— Não acredito que você está introduzindo elas também.
— Que nada, quando eu comentei com a Yasmin, ela me disse que a Yara tinha feito ela assistir tudo em uma madrugada.
— Chocada, a Yara é uma viciada.

Nós rimos. Eu não podia demorar muito, porém fiquei mais um pouco conversando com ela. Assim que voltei para casa, papai estava fazendo nosso jantar, seu olhar parecia um pouco triste e distante, não sabia ao certo se era pelo cansaço da rotina ou por outro assunto.

— Tudo bem pai? — perguntei preocupada.
— Sim, eu acho.
— O que aconteceu?
— O Zé e a Kátia vieram se aconselhar comigo. — respondeu ele desligando a trempe do fogão.
— Aconteceu alguma coisa? O Davi está bem?
— Não é nada com o Davi... — ele me olhou — Isso morre aqui, ok?
— Não vou contar para ninguém. — assegurei — Só irei interceder por eles.
— Os dois estão passando por um momento difícil no casamento deles, estão se desentendendo com frequência e me pediram uma ajuda. — contou ele.
— Entendi, espero que eles possam superar essa fase.
— Tenho certeza que vai, só de ver o olhar de um para o outro e pude perceber que o amor ainda está lá, só precisam se conectar novamente. — continuou — E você mocinha?
— Eu o que?
— Como foi a visita na nova casa da Lira?
— Foi legal, é pequeno, mas agora elas poderão ficar em paz. — respondi.
— Estou feliz por elas, principalmente por Mônica estar conseguindo se reerguer.
— Pai...
— O que? — ele me olhou.
— Seus olhos estão brilhando. — comentei.
— O que? Não. — ele desconversou voltando seu olhar para a panela.
— Estão sim. — retruquei — Agora toda vez que o senhor fala da Mônica, vejo um brilho diferente no seu olhar.
— É impressão sua.
— Pode omitir de si mesmo, mas não pode esconder do Pai. — disse colocando Deus na conversa.
. — ele suspirou fraco — Eu confesso que ao longo desses meses, criei uma admiração bonita pela Mônica, ela é uma mulher muito corajosa e descobri que sua fé é muito grande.
— E?!
— Não quer dizer nada, eu e Mônica criamos uma amizade sólida, posso dizer.
— Só amizade?
— Por que está tão curiosa assim, ein?!
— Por que queria que meu pai encontrasse uma boa mulher e se casasse novamente e fosse feliz. — expliquei — Já tem um tempo que a mamãe morreu e o senhor continua solitário.
— Não é o momento para que me preocupar com a minha vida sentimental, tenho um ministério para cuidar.
— Pode cuidar das duas coisas ao mesmo tempo. — retruquei — Não é bom que o homem esteja só.
— Sério que você quer usar Gênesis 2:18 comigo? — ele me olhou — Você sabe o que Paulo fala em I Coríntios 7:8?
Digo, porém, aos solteiros e às viúvas: É bom que permaneçam como eu. — respondi — Mas ele também fala que é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo.

Seu olhar ficou sério e atravessado.

— Não que eu esteja dizendo que o senhor está assim. — me defendi, engolindo seco.
— Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu. — respondeu ele.
— Pai, eu sei Eclesiastes 3 de cor. — mantive minha opinião — Há tempo de se conter, mas há tempo de se abraçar também.
— Sei que se preocupa comigo filha, mas se futuramente for o propósito de Deus eu me casar novamente, isso irá acontecer. — ele veio até mim e me abraçou — Mas fico feliz que mesmo não pensando sobre isso, eu tenho o seu apoio.
— Provérbios 18:22. — sussurrei brincando.
Quem encontra uma esposa encontra algo excelente; recebeu uma bênção do Senhor. — recitou o versículo, segurando o riso. 

Ele sabia que podia contar comigo para tudo, eu sempre o apoiaria.

"Tens liberdade aqui
Espírito Santo
Espírito Santo

Eu sou Tua casa
Tua morada
Eu sou Teu lar
Mude as coisas de lugar.”
- Sou Casa / Elizeu Alves

Chamado: Descansar em Deus.



21. Provérbios

"A mulher sábia edifica a sua casa, mas com as próprias mãos a insensata derruba a sua."
- Provérbios 14:1

- x - 

Espírito Santo, ore por mim… Leve pra Deus tudo aquilo que eu preciso… Espírito Santo, use as palavras… Que eu necessito usar, mas não consigo… — ajoelhada na beirada da minha cama, eu continuava a louvar — Me ajude nas minhas fraquezas
Não sei como devo pedir… Espírito Santo, vem interceder por mim… — estava acontecendo tantas coisas na minha vida, que sentia meu coração aflito — Todas as coisas cooperam pra o bem… Daqueles que amam a Ti… Espírito Santo, vem orar por mim.

Quanto mais eu louvava, mais eu sentia as lágrimas rolando pelo meu rosto, mesmo com as lutas da vida, eu sabia que só havia um lugar em que eu me sentiria bem e abrigada, aos pés de Jesus. Somente Deus poderia renovar minhas forças e me dar a direção certa para tudo que eu precisava, internamente estava um pouco triste e cansada, mas tinha certeza que o Espírito Santo traria renovo para mim e viria com teu bálsamo em meu ser. 

Estou clamando, estou pedindo… Só Deus sabe a dor que estou sentindo… Meu coração está ferido… Mas o meu clamor está subindo… — tentei limpar minhas lágrimas sem sucesso e continuei minha oração — Senhor Jesus, a ti tudo entrego e agradeço por sua misericórdia e seu amor…

Demorou um tempo até conseguir dormir. Mas felizmente minha noite de sono foi tranquila e serena, quando acordei pela manhã senti meu corpo descansado, apesar da minha mente ferver de pensamentos preocupantes. Me espreguicei um pouco ainda na cama e levantei, olhei rapidamente para o celular conferindo quantas horas e fui correndo trocar de roupa, após colocar o uniforme saí do quarto e encontrei meu pai com uma generosa xícara de café na mão. Seu olhar atento ao celular era novidade.

— Bom dia pai, o que tanto olha aí? — perguntei curiosa indo pegar uma maçã na geladeira.
— Bom dia princess. — ele desviou o olhar para mim por um momento — Um aconselhamento rápido.
— Algo confidencial?
— Em partes. — ele digitou mais algumas coisas e guardou o celular no bolso — Mas agora está resolvido.
— São muitos problemas de muitas pessoas de uma só. — comentei — O senhor parece mais cansado que eu.
— Não me fale em cansaço. — ele tomou o último gole de café — Vamos lá, tenho aulas para dar.
— E eu tenho aula para assistir. — brinquei.

Seguimos juntos até a rua. Meu pai pegou o ônibus e foi para seu trabalho, enquanto eu segui pela direção contrária para encontrar Lira e Davi, porém para minha surpresa acabei esbarrando em Joseph.

— Bom dia. — disse dando um sorriso singelo.
— Bom dia. — sua voz estava baixa e seu olhar triste, parecia ainda mais fechado que antes.
— Está tudo bem? — perguntei — Seu olhar está… Triste.
— O que você conhece de tristeza, a garota que vive sorrindo como se a vida fosse uma maravilha. — uma aspereza veio em sua voz.
— Acredite ou não, eu sei o que é ficar triste. — retruquei firme — Eu passei por um longo tempo de solidão e tristeza quando minha mãe faleceu, achei que era minha culpa grande parte do tempo.
— Eu não imaginava… — ele desviou seu olhar para o chão.
— Mas mesmo meu coração foi curado e hoje só restam as cicatrizes, nada de dor. — assegurei — E somente uma pessoa foi capaz de me curar.
— Jesus? — ele me olhou meio desacreditado.
— Posso dizer com toda a certeza que sim. — sorri novamente — O motivo do seu sorriso é Ele.

Ele deu um sorriso disfarçado.

— Você é estranha. — ele manteve sua voz baixa.
— Estranha? Por que?
— Por falar de uma pessoa que nunca viu. — respondeu.
— Um dia eu o verei, e enquanto isso não acontece, eu o sinto todo o tempo cuidando de mim.
— A certeza no seu olhar me admira. — ele desviou seu olhar para a rua — Você deveria ir, vai se atrasar para aula.
— Você não vai? — perguntei.
— Hoje não.
— Aconteceu alguma coisa?
— Preciso trabalhar.
— Trabalhar?! Não pode encontrar um emprego depois da aula?
— Pare de se preocupar comigo.
— Peça pelo menos para trocar de turno, estude à noite. — sugeri.

Ele se afastou de mim e seguiu em frente. Suspirei fraco e olhei para trás, Lira e Davi estavam se aproximando, ambos alegres e entre gargalhadas, algo que me deixou intrigada demais.

— Posso saber a piada? — perguntei.
— O Davi estava me contando sobre um filme do Adam Sandler que viu ontem. — respondeu ela.
— Legal, e qual foi?
— Trocando os pés. — respondeu ele — E você? O que fazia conversando com o Joseph?
— Nada, esbarrei nele enquanto esperava vocês. — expliquei — Ah, ele me disse que estava trabalhando agora, fiquei meio preocupada.
— Bem que ele está meio sumido da escola. — Lira observou.
— Eu sugeri a ele que se mudasse para o turno da noite, assim poderia continuar estudando e se formaria.
— Você está mesmo empenhada a se aproximar dele. — Davi me olhou admirado.
— Eu sinto que ele precisa de ajuda. — dei o primeiro passo e saí na frente — E como está a casa nova Lira?
— Estamos nos divertindo muito. — disse ela empolgada — É a primeira vez que temos liberdade para fazer o que quisermos, sair quando quisermos e escutar música alta.
— Fico feliz por você amiga. — eu ri da empolgação dela — E você Davi? Animado para a prova de hoje?
— Nem me lembra, tô pedindo a Deus ajuda pra não rolar desastres. — respondeu.

Nós duas rimos dele.

— Deixa de ser bobo, vai dar certo, nós estudamos no domingo. — garanti.
— Vou confiar em você sister.

Assim que chegamos na escola, o sinal tocou e entramos para sala. Foi uma certa agonia ter que esperar até depois do intervalo para fazer a bendita prova de matemática. Para mim estava tudo bem, mas sempre que olhava para Davi, as caretas que fazia enquanto olhava a folha, parecia o fim do mundo.

Os dias se passaram, e o feriado de 1 de maio chegou como música aos meus ouvidos, felizmente eu não trabalharia nele por ter trabalhado todo o carnaval na cafeteria. Meu dia seria de descanso, cochilos no sofá e sessão cinema após o almoço, em companhia do meu pai que também tinha tirado o dia para ficar tranquilo e sossegado.

— O almoço estava maravilhoso chefe Jonas. — elogiei ao terminar de secar as vasilhas e guardar no armário.
— Obrigado querida. — ele se esticou no sofá e ligou a televisão — O que vamos assistir agora?
— Não sei! — fiquei pensando por um tempo — Acho que podemos fazer uma maratona de B13, já tem tempo que não vemos esse.
— Os meninos do parkour? — ele ficou olhando a lista da Netflix — Que tal vermos Toy Story? Queria ver animações hoje.
— Hum… Madagascar então?
— Vamos começar então com Vida de Inseto?
— Monstros S.A.?
— Procurando Nemo? — rebateu ele.
— Fechado… 

Nós rimos.

— Eu não resisto a Dory. — comentei.
— Nem eu. — concordou.

Me sentei ao seu lado e começamos a assistir. Um feriado durante a semana fazia toda a diferença, mas assim como o domingo, ele passou bem rápido e logo voltamos a rotina, porém pudemos ter um singelo momento pai e filha que não tínhamos a um tempo. Chegando na sexta à noite, após voltar da célula na casa do Pietro, recebi uma mensagem do meu novo professor de coreano. parecia mais empolgado do que eu em sua missão de me ensinar hangul.

: Bom dia hoobae18.
: Bom dia sunbae19. *-*
: como foi o dia? 
sua célula? 
a prova de geografia? 
o que comeu no almoço?
: calma kkkkkkkkkkkkk 
uma pergunta de cada vez
: desculpa, estou curioso
não nos falamos há dois dias.
: você precisava se focar nos estudos, como ficou a segunda etapa do concurso?
Você passou?

ainda participava daquele concurso de arquitetura da universidade, eram em três etapas que pareciam muito complexas.

: perguntei primeiro kkkkkk
: seu bobo
meu dia foi mais tranquilo, graças a Deus
a célula foi boa, deixei o Pietro ministrar desta vez e foi divertido, ele contou o testemunho dele e encorajou os jovens a optar pela corte em seus relacionamentos futuros.
a prova de geografia estava fácil e até caiu uma questão sobre a coréia
e eu comi feijão tropeiro no almoço
agora você!
: kkkkkkkkk
eu passei para a segunda etapa, e agora estou ajustando algumas coisas e corrigindo alguns erros de cálculo.
Sunny está aqui te mandando um oi.
: você está em casa?
: hoje sim, é aniversário de casamento dos nossos pais.
:  que legal, felicidades a eles
e manda um abraço pra Sunny
: ela está te mandando outro
: ela não vai receber o celular de volta tão cedo né?
: segundo o meu pai talvez na semana que vem, 
já que as notas dela melhoraram
: ela precisa vigiar mais no tempo que gasta no celular e não dar bobeira de novo.
: eu já falei isso para ela
mas quem disse que conselho de irmão é ouvido
: deve ser engraçado ter um irmão 
sempre quis ter um, 
mas minha mãe se foi e meu pai não pensa em casar novamente
: é bom e ruim ao mesmo tempo. mas e o Davi?
você disse que ele é seu irmão de consideração
: não é a mesma coisa, não moramos na mesma casa
: Isso é verdade.
: mas eu me divirto muito com ele.
: e por falar em diversão, 
me deve um passeio quando eu for ao Brasil.
: já disse que será um prazer ser sua guia.
: a melhor guia de todas com certeza.
: BH não é assim um Rio de Janeiro, mas temos muitos pontos turísticos
: estou contando com isso.
: você sabe quando vai voltar?
: ainda não, mas em breve com certeza

Fiquei um tempo em silêncio sem saber o que digitar.

: está com sono?
você deve estar cansada por causa da sua rotina diária.
: sim, um pouco
ultimamente tenho orado muito pedindo pra Deus renovar minhas forças físicas
ando com o sono atrasado, não imaginava que a rotina estudar e trabalhar era tão puxada
como consegue?
: não é fácil mesmo, mas Deus renova sim.
: como está seu estágio?
: trabalhoso, minha chefe é muito exigente, nada está bom
eu tento não ficar estressado e nem abalado com os defeitos que ela encontra, só Jesus para me manter sereno.
: respira fundo e mantenha a calma
: vou sim kkkkkkkkk
hum….
: o que?
: já pensou nas canções que vai ministrar no domingo?.
: ainda não, antes tenho que pensar na célula de amanhã
a Isla me convidou para levar o louvor na casa do Jullian amanhã
: vai ser à noite?
: sim
: volte para casa com segurança, ok?
: sim *-*
o Pietro sempre me dá carona
além da célula na casa dele, ele vai na do Jullian por causa da Isla
: você me contou que eles estão fazendo a corte
: fiquei mega feliz por eles, combinam tanto
formal um casal bonito
: você pensa em fazer a corte?
: um dia com certeza, só não estou me preocupando com isso agora, pois tenho outras preocupações, e também, preciso manter meu coração calmo
sei que Deus está na condução de tudo.
: isso é bom, o cuidado de Deus não falha.
: e você? pensa em fazer corte?
: a nossa igreja não tinha essa visão, mas depois que a Layla nos explicou como funciona, meu pai gostou muito da ideia e estamos implementando aqui 
: hum….
não foi uma resposta

Eu ri do meu comentário.

: sim, eu penso
apesar de saber que não é fácil manter um relacionamento sem contato físico, 
mas sei que o amor não se constrói só com isso
quero ser um amigo para a minha namorada
: seu pensamento é muito bonito, concordo plenamente

Um sorriso bobo escapou em meu rosto. Foi quando me dei conta que estava esparramada em cima da cama como aquelas adolescentes de filmes teen romântico.

“O que está acontecendo comigo?” pensei comigo, era um amigo que havia se aproximado de mim da forma mais singela possível, e que todos os finais do dia conversávamos muito sobre diversas coisas. Respirei fundo, tentando não me deixar levar, não iria criar nenhuma expectativa desta vez, mesmo querendo.

: Planos para as férias?
: estamos no início de mais e já está pensando em férias?
: penso nas férias desde o primeiro dia de aula
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk quero muito poder acordar tarde
: por falar em acordar tarde
como é morar na universidade?
ando vendo alguns doramas e fiquei curiosa
: olha, minha hoobae vendo doramas
: sim, Sunny me mandou um email com indicações valiosas
: morar na universidade é bom, mas tem o lado ruim
tem algumas regras, horário de se recolher, mas não gasto dinheiro com transporte
: legal
: se você vier estudar aqui, saberá como é
: quem sabe, se Jesus testificar no meu coração
: vou torcer para isso
: seu bobo
: , acho que deve estar tarde para você, vou deixá-la dormir.
: tem razão, estamos conversando e nem senti a hora passar.
: Bom dia e bons sonhos
: Bom dia e boa aula

Me levantei da cama deixando o celular na mesa de apoio ao lado, retirei a colcha da cama e estendi a coberta, então me ajoelhei na beirada para ter meu momento com o Pai. No meio da minha oração, me sentei na cama e chamei Jesus para vir dormir comigo, não demorou muito até que peguei no sono me esquecendo de verificar o despertador. Acordei na manhã seguinte com meu pai batendo na porta perguntando se eu não ia trabalhar naquele dia. Levantei da cama no susto, troquei de roupa correndo e saí em direção ao ponto de ônibus, que para a glória de Deus passou rápido.

Felizmente o senhor Rodrigues não percebeu meu atraso, foram alguns minutos, mas foram. Tânia já estava lá com seu avental a postos servindo algumas mesas. Ela parecia meio triste aquele dia, e ao lhe perguntar me confessou que estava passando por problemas na família. Eu não tinha tanta experiência assim para aconselhar, ainda era uma jovem no início da vivência, mas após ouvir meu pai aconselhar tantos casais, eu já tinha absorvido o básico e necessário. Na hora do nosso almoço, sentamos no estoque e conversamos um pouco, eu contei a ela histórias de pessoas que meu pai ajudou e passaram pela mesma coisa. Seu olhar triste ganhou um pouco de esperança, e aproveitei o momento para convidá-la para a célula de mulheres na quinta de manhã no salão da Mira, uma linda coincidência, pois quinta era sua folga.

— Pronta para a parte 2? — brincou Felícia assim que voltei do almoço.
— Queria minha casa. — fiz cara de choro.
— Ah menina. — ela riu de mim, retirando seu avental — Agora é minha vez de descansar.

Ela saiu para seu horário de almoço. Continuamos nossa jornada com a cafeteria enchendo cada vez mais, parecia que as pessoas brotavam da terra pra irem ao Café Bão Demais, o que deixava a gente desnorteada às vezes com tanta comanda para preparar e mesa para atender. 

Mais semanas se passaram. No domingo de manhã fui tomar café da manhã na casa da Lira, meu pai tinha alguns assuntos da igreja para resolver, e à tarde iríamos almoçar na casa do Davi, onde nosso grupo de estudos se reuniria. Mônica estava silenciosa naquela manhã, pensativa talvez, me olhando de minuto em minuto.

— Lira, poderia ir comprar mais leite? O bolo levou o resto. — disse ela entregando dinheiro a filha.
— Ah mãe. — ela fez uma cara de desânimo, porém pegou o dinheiro — Você vem comigo ?
— Não, a vai ficar aqui. — respondeu Mônica em meu lugar.
— Tudo bem. — Lira fez bico e se levantou da cama — Já entendi.

Mônica colocou o bolo no forno, enquanto a filha pegou sua chave e guardou o dinheiro no bolso antes de sair.

— Quer falar algo comigo? — perguntei já imaginando coisas.
— Sim e não. — ela se virou para mim e me olhou.

Retraída e sem saber como se expressar.

— O que foi Mônica? Alguma coisa com a Lira?
— Não. — ela puxou a cadeira e sentou — É que, eu ando sentindo algumas coisas e não sei me expressar bem sabe.
— Está com problemas de saúde?
— Não. — ela riu — Desculpa, estou tão nervosa que não sei como reagir.

Algo lá no fundo me dizia que tinha a ver com meu pai.

— Sabe… Desde Lira te conheceu e tudo aconteceu, temos sido tão acolhidas por todos, estou muito grata por isso, e para mim já é o bastante…
— Sim, nós estamos felizes em ajudar… — sorri de leve — Mas tem algo que te aflige?
— Talvez. — ela respirou fundo — A Kátia, o Zé e seu pai tem sido pessoas muito boas para mim, agora posso andar com minha próprias pernas e estou mais próxima de Deus.
— Isso é bom. 
— Estou dando voltas… — comentou ela.
— Você está gostando do meu pai? — fui direta e franca em seu lugar.
— É tão visível assim? — seu olhar ficou tímido.
— Sim, muito visível. — eu ri de leve — A verdade é que é difícil não gostar do meu pai, ele sempre foi assim essa pessoa compreensível e atenciosa.
— É por isso que me sinto ainda mais… A forma que ele me trata é a mesma que com as outras pessoas, mas…
— Fique calma Mônica, ninguém manda no coração e se você está tendo sentimentos por meu pai não se sinta culpada. — a acalmei — Você é solteira, ele é viúvo, são adultos e o mais importante, estão firmes em Deus.
— Eu fico com medo de me abrir para o pastor e…

Em tese, ela temia a rejeição, podia ver em seu olhar.

— Meu pai sempre fala que Deus une propósitos, e se for mesmo o propósito dEle, você e meu pai juntos, tem todo o meu apoio. — confessei — Apenas ore e peça confirmação do Senhor.
— Você é tão madura e tão doce. — gotas de lágrimas se prenderam no canto de seus olhos — Obrigado.

Eu sorri e a abracei forte.

— Fique em paz, vai dar tudo certo.

Não vou negar, estava torcendo pelos dois.

 

"God of Your promise
Deus da sua promessa
You don't speak in vain
Tu não falas em vão
No syllable empty or void
Nenhuma sílaba inútil ou vazia
For once You have spoken
Porque uma vez que tu falaste
All nature and science
Toda a natureza e a ciência
Follow the sound of Your voice
Seguiram o som da Tua voz."
- So Will I / Hillsong United

Chamado: Ser sábia

Dicionário:
18. hoobae: alguém num grau mas baixo que você, como por exemplo: um chefe ou alguém numa série na escola maior que a sua.
19. sunbae: alguem de um grau mais elevado que você, como por exemplo: um chefe ou alguém numa série na escola maior que a sua.


22. Eclesiastes

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu."
- Eclesiastes 3:1

- x - 

Conversar comigo foi mesmo bom para Mônica, ela parecia mais tranquila e menos agoniada por estar gostando do meu pai, minha parte eu faria, interceder por ela e deixar Deus no controle. Eu também tinha outras preocupações em mente, como buscar minha intimidade com o Espírito Santo, com a rotina pesada, estava sentindo que meus TSD - Tempo Sozinha com Deus, estavam sendo corridos e sem qualidade. Então decidi reorganizar os horários do meu dia, para que tivesse um tempo mais prolongado de oração, de 23:hrs à meia noite seria só eu e Deus, de portas fechadas no aconchego do meu quarto. Os trabalhos de escola ficariam para serem feitos domingo de manhã agora, assim no embalo, após o almoço seguiria com os estudos para o ENEM.

— Bom dia filha. — disse meu pai vindo do corredor se espreguiçando, seu olhar estava confuso em me ver ali — Acordada a essa hora?
— Joguei todo o meu compromisso acadêmico para o domingo, para ter meu TSD à noite. — expliquei.
— Não está fácil não é? — ele me olhou preocupado — Você tem feito muitas coisas ao mesmo tempo.
— Sim, mas a cada dia me sinto mais renovada. — eu sorri de leve — O que me importa é não deixar minha comunhão com Deus, o resto a gente dá um jeito.

Ele sorriu e veio me abraçar com carinho.

— Minha filha amada. — era gostoso o abraço do meu pai — Jesus te ama muito e está feliz por isso.
— Eu também pai! — me aconcheguei em seus braços e suspirei — Pai…
— Sim?
— Estou com fome.

Ele soltou uma risada boba e se levantou.

— Deixa eu te alimentar então. — continuou rindo — Você acordou que horas?
— Hum… Era umas sete. — respondi voltando minha atenção para o caderno.
— Dormi demais hoje. — ele se afastou indo para a cozinha.
— Dormiu mesmo, mas com razão, voltou que horas ontem?
— Era umas meia noite, acho que já estava dormindo.
— Ah sim, eu mal terminei de orar e apaguei. — passei algumas folhas do livro — Como foi a reunião com o pastor James?
— Foi boa, ele disse que vai nos apoiar no nosso primeiro acampamento de jovens. — respondeu com um toque de animação.
— Que legal, eu vou falar com a Layla também, ela disse que se fizéssemos era pra contar com ela. — comentei.
— Isso é bom, e por falar em Layla, como anda a notícia do noivado dela?
— Ah! Ela mandou o convite pelo whatsapp para mim. — continuei escrevendo — Disse que chamou poucas pessoas, só os amigos mais íntimos.
— Ela é bem extrovertida, gostei bastante da ministração dela no primeiro culto de jovens. — papai elogiou — Foi impactante.
— Sim, e por falar nisso, já decidi a data no próximo, como as férias estão chegando, pensei em fazer na segunda semana de julho, o que acha? — parei de escrever e o olhei.
— Uma boa data.
— Pensei em fazer uma noite só de louvor e adoração. — expliquei.
— Deus habita em meio aos louvores. — disse ele.
— Salmos 22. — testifiquei.
— Hum… Que tal panqueca americana hoje? Ainda tem aquela geléia de morango que fiz na semana passada. — sugeriu ele abrindo a geladeira.
— Pai, se eu engordar a culpa é sua. — brinquei.
— Descobri uma receita nova e mais fácil, quero testar pra ver se vai ficar boa. — explicou ele e brincou — Mas, você não é obrigada a comer.
— Ha… Ha… Ha… Que o você vai fazer fazer panqueca e eu não comerei.

Ele riu da minha cara.

— Vem me ajudar? Ou ainda tem muita coisa pra fazer?
— Desta vez não terá sua assistente, tenho um trabalho de português para entregar segunda feira e nem comecei.
— Eita, Deus te ajude.
— Amém. — voltei minha atenção ao caderno.

Quanto mais meu pai cozinhava, mais o cheio gostoso rescindiu no apartamento, comigo tentando me concentrar nos estudos, felizmente eu não deixava acumular muita coisa, pois sempre estava adiantando os exercícios nos meus horários de almoço na cafeteria. Após o almoço gostoso que tia Kátia preparou, um bife a rolê com purê de batata baroa, eu e Davi demos um tempinho jogando um pouco no playstation dele até que os outros chegaram.

— O que? jogando? — disse Isla ao entrar — O mundo tá perdido. 

Todos riram.

— Isso sim é de admirar. — comentou Pietro.
— Gente, não sou como o Davi, mas sei jogar algumas coisas. — me defendi — E não podemos ler de barriga cheia.
— Faz sentido. — disse Jullian.
— Ainda não me conformo de não poder shippar vocês dois. — Yasmin fez uma careta.
— Nem comento. — Davi a olhou — A é shippavel com outra pessoa.
— Quem? — todos disseram.
— Fica quieto Davi. — me levantei e coloquei a manete em cima do móvel — Vamos estudar?
— Agora solta a língua senhor gamer. — insistiu Isla.
— Também quero saber. — Yasmin mantinha seu olhar curioso.
— Não posso contar. — Davi soltou uma risada maldosa.

Nos acomodamos na sala e iniciamos nossos estudos. Eu estava me sentindo tão cansada que não estava conseguindo prestar muita atenção em nada, principalmente por estar com muito sono. Tentei resistir, até que Davi me forçou a deitar na cama dele e dormir, enquanto todos continuavam na sala, e acabei acordando próximo do horário do culto. Felizmente Madu, Yasmin e Jullian já tinham ido para a igreja e lá encontrariam Justino.

— Por que me deixou dormir? — perguntei Davi enquanto esfregava meu olho.

Ainda sonolenta e querendo voltar para cama.

— Porque a senhorita está visivelmente cansada. — explicou ele — Não se preocupe com o louvor hoje, a Yasmin e a Madu ficarão responsáveis, já avisei o pastor Jonas, você precisa de um dia de descanso.
— Obrigado. — sorri de leve — Mas quem vai tocar o violão?
— Lembra daqueles gêmeos que vieram conversar com a gente? — disse ele.
— Sim.
— Então, como eles estão já fazendo o Esc e fiz um teste básico com eles, conversamos com o pastor e ele autorizou a entrada. — explicou.
— Nossa, que menino eficiente. — me espreguicei.
— Minha líder está cheia de coisas pra fazer, preciso ajudar.
— Mais uma vez, obrigada. — nós rimos — Eu vou ficar te esperando na sala, não vou pra casa não, senão eu não chego na igreja de tanto sono.
— Sim senhorita. — brincou.

Após Davi terminar, seguimos juntos para igreja. Já tinha uma quantidade boa de pessoas e mais estavam chegando. Eu passei todo o culto em pé próximo a porta da igreja, para não dormir sentada na cadeira, foi uma benção a pregação do meu pai, assim como os louvores que as meninas levaram. Fiquei impressionada com um dos gêmeos que cantou com elas, sua voz era muito bonita e tinha unção também. Após a benção final, não consegui esperar meu pai, peguei carona com o seu Chico e sua família até o nosso prédio. Ao chegar no apartamento, tranquei a porta e fui direto para o quarto, troquei de roupa arrastada e desmaiei na cama. Só deu tempo de agradecer a Deus pelo meu dia.

Dias depois e finalmente chegamos na data do noivado de Layla. Eu não estava animada para ir, mas ela tinha me convidado com tanto carinho e pedido para eu não faltar, que nos quarenta e cinco do segundo tempo, eu e meu pai seguimos para casa dela. A mãe de Layla nos recebeu no portão, avistei Charles conversando com algumas pessoas mais à frente, ao olhar para o lado meu pai já tinha desaparecido e se infiltrado numa roda de pastores que estavam de convidados.

. — a voz de Layla soou atrás de mim, recebi um abraço caloroso dela — Que bom que você veio.

Eu e Layla tínhamos construído uma amizade legal e divertida, ela me aconselhava bastante sobre coisas da igreja e estava sempre intercedendo por mim. Estava feliz por ela, que depois de alguns anos, finalmente iria realizar um de seus projetos: se casar com Charles.

— Sim, eu vim. — retribui o abraço com carinho — Mesmo com a correria do dia a dia, não podia deixar de vim te prestigiar.
— O Davi também já chegou, está lá dentro na sala conversando. — comentou ela — Vai lá.
— Onde você vai? — perguntei assim que ela se afastou para ir até o portão.
— Vou ali buscar uma coisinha na casa da minha tia, já volto. — respondeu.

Assenti sorrindo e segui em direção a casa, meu coração acelerou um pouco quando entrei na sala e vi sentado no sofá conversando naturalmente com Davi, como se fossem amigos de infância. 

— E por falar nela. — Davi me olhou com um sorriso maldoso.
— Estavam falando o que de mim? — tentei disfarçar minha surpresa de ver ali.
estava perguntando se você não viria. — explicou Davi.
— Eu não podia deixar Layla na mão, ela me convidou com tanta empolgação. — expliquei, voltei meu olhar para .
— Desde quando está no Brasil?

Já tinha três dias que não falava com ele pelo kakaotalk, então nem imaginava que ele viesse para o país, ainda mais naquela data.

— Cheguei hoje de manhã, o Charles foi me buscar no aeroporto. — respondeu ele.
— Ah… E você veio sozinho?
— Com o meu pai. — ele deu um sorriso leve, mantendo seu olhar em mim.
— Bem, eu vou ali ver se o Charles precisa de ajuda. — Davi se levantou do sofá e me lançou um olhar de: juízo.

Então se afastou de nós dois.

— Não imaginava que fosse vir por agora. — disse me sentando ao seu lado — Você já está de férias?
— Ainda não. 
— Mas e como fica então? 
— Eu já estou com todos os meus trabalhos adiantados e tenho muitos créditos com meus professores, não vai afetar minha vinda para o Brasil.
— Você veio para o noivado da Layla? — virei um pouco meu corpo para ficar mais de frente para ele.
— Também. — afirmou.
— Também?!
— Sim, um dos motivos foi o noivado dela…
— E o outro? — insisti.
— Você. — direto e preciso.
— Eu? — isso me surpreendeu.
— Sim, você me deve um encontro. — explicou.
— Hum… pelo que sei é um passeio, entre amigos.
— Passeio? — ele se fez de desentendido — Não acredito que me enganei, pensei que fosse um encontro, como nos doramas que minha irmã de indicou.

Nós rimos.

— Bobo. — disse — Vai ficar quantos dias?
— Hoje e mais dois. — respondeu.
— Volta na segunda então?
— Sim. — ele voltou seu olhar para a televisão — Tenho um projeto para terminar.
— Verdade, e como está indo o concurso?
— Fomos para a terceira fase, agora só tem cinco alunos. — respondeu, parecia um pouco ansioso — Não vejo a hora de poder apresentar tudo pronto e alinhado.
— Fica tranquilo, tenho certeza que vai dar certo e você vai se sair muito bem. — sorri de leve — Você é uma pessoa muito aplicada.
— Amém, pra glória de Deus. — ele sorriu também.
— Sunny não pode vir?
— Não, ela tinha prova esse final de semana. — ele ficou movimentando de leve os dedos, parecia mesmo ansioso com alguma coisa.
— Nossa que triste.
— E você? Como estão os estudos para seu vestibular?
— Puxado, no último domingo eu até tentei, mas acabei dormindo no quarto do Davi, enquanto todo mundo ficou estudando na sala. — respondi um pouco envergonhada.
— Você tem estado muito cansada, consigo perceber.
— São muitas responsabilidades ao mesmo tempo, tenho sentido meu corpo tão cansado. — Inclinei meu corpo, encostando nas costas do sofá — Se eu dormir aqui não repare.
— Se você dormir, te dou meu ombro para se encostar. — sua voz ficou suave.
— Um ombro amigo é sempre bom. — concordei.
— Como anda sua busca por seu chamado? — ele se inclinou também — Da última vez que me disse, estava lendo o livro de Salmos.
— Sim, mas já cheguei em Eclesiastes e estou aprendendo muito mais que somente ter paciência e esperar. — expliquei — Estou aprendendo que preciso ter o temor de Deus também.
— Isso é bom. — ele riu aleatoriamente — Pode encostar se quiser.

Disse se referindo ao seu ombro.

— Posso mesmo? Sinto que se fizer isso, vou dormir. — confessei.
— Quer que eu cante para você? — sugeriu ainda em risos.
— Você não está me ajudando. — ri junto — Quem é sã consciência vai em uma festa de noivado e dorme?
— Uma pessoa que está cansada e merece descansar os olhos por alguns minutos. — seus argumentos eram bons.
— Você é bom em argumentar. — brinquei, me remexendo no sofá e finalmente apoiando minha cabeça em seu ombro — Como está indo no estágio, conseguiu convencer sua chefe?
— Ela não, mas o superior acima dela sim. — respondeu — Eu já imaginava que o projeto da galeria estava estranho e quando refiz o cálculo, descobri o erro em uma das estruturas.
— Conseguiu resolver o problema?
— Ainda não, entreguei a alteração para o engenheiro estrutural, para conseguir encontrar outra alternativa que vai deixar o lugar seguro e do jeito que o cliente quer. — ele tinha uma segurança na voz, certamente amava o que fazia.
— Arquitetura me parece ser tão perigoso quanto medicina.
— Sim, é como já te falei, um erro de cálculo pode custar vidas. — explicou — Já li tantas notícias sobre obras de desabaram por erros no cálculo das estruturas, ou por trabalhar com materiais inferiores.
— É um perigo isso.
— Sim. — ele suspirou — É por isso que sempre pensei que deveria escolher algo que gosto para fazer o resto da minha vida, assim além de ser responsável com meu trabalho eu me divertir com ele.
— Esse é um bom pensamento, fico vendo tantas pessoas que trabalham na área da saúde e não possuem o mínimo de empatia pelos outros, profissionais que não exercem sua profissão com amor e respeito ao próximo. — desviei meu olhar para o teto — Eu ainda não consegui me decidir que curso vou fazer, nem a universidade, mas quero me divertir trabalhando também.
— Minha sugestão da universidade de Yosen ainda está de pé. — disse, sua voz estava mais serena — Conversei com um veterano meu, tem várias bolsas de estudos para estrangeiros, se quiser um professor particular para estudar para prova.

Ri baixo, mas de desespero.

— Não me fale em mais provas. 
— Você teria que fazer um teste de proficiência em inglês, acho que é a parte mais difícil. — explicou — E como você tem conhecimentos em inglês, não será tão complicado assim.
— Não preciso mesmo saber o básico de hangul? 
— Não. — ele riu — Você estudaria primeiro hangul e depois poderia escolher um curso específico.
— Teria mais tempo para escolher. — ri junto — Mas não sei, ainda não me vejo morando em outro lugar e longe do meu pai.
— Você ainda tem muito tempo para pensar no assunto, o que importa é você ter certeza em sua decisão e não fazer algo por causa dos outros.
— Tem razão.

Que nossas conversas rendiam sempre era normal. Porém, nosso momento foi cortado por Davi que nos forçou a sair da sala e voltar para a varanda onde todos estavam já festejando. Layla transbordava felicidades e empolgação, seu vestido floral branco a deixava ainda mais delicada.

— Você e o made in ásia ficaram um bom tempo conversando. — comentou Davi comigo, com aquele olhar irônico.
— Pare com esses pensamentos Davi.
— Não pensei nada. — ele riu — Mas vocês estavam tão fofos no sofá, meu shipp da vida, como diria a Yara.
— Deixe de bobeira, é tão meu amigo quanto você. — retruquei.
— Vou relevar esse seu desinteresse, e apostar no olhar dele para você que meu shipp não morre. — brincou.

Meu irmão era mesmo um bobo. Foi um dos melhores jantares de noivado que eu já tinha participado, assim que meu pai e o missionário Han finalmente perceberam que era hora de nos recolhermos, voltamos para casa. Na manhã seguinte, me mandou uma mensagem perguntando se minha agenda estava cheia após o almoço, então entendendo a indireta, combinei que o levaria para conhecer a Praça da Liberdade. Já que a cafeteria estava passando por uma pequena reforma e eu só voltaria a trabalhar na próxima semana, eu iria aproveitar a oportunidade.

— Aqui é muito bonito. — disse ele admirado com a natureza em meios aos prédios de compunham o Circuito Cultural da Liberdade.
— Temos também o parque municipal, não é assim um Central Park, mas também é muito bonito e ajuda a trazer mais verde para a cidade. — comentei.
— Eu li em um dos meus estudos que Belo Horizonte foi a primeira cidade planejada aqui no Brasil. — ele continuou olhando para a fonte.
— Sim, reza a lenda que inicialmente eles planejaram até a avenida do Contorno, tanto que ela realmente contorna todos os bairros próximos ao centro, e uma coisa curiosa é que as ruas mudam de nome após passar pela avenida do Contorno, exceto a avenida Amazonas e a Afonso Pena, e as duas se cruzam na praça 7.
— Uau.
também é cultura e urbanismo. — brinquei.
— Uma boa turista também. — elogiou.
— Agradeço, será que encontrei meu curso.

Nós rimos.

— Esses prédios são tão interessantes e diferentes, temos tantas misturas de estilos aqui, art déco, modernismo, é incrível.
— A arquitetura do seu país também é incrível. — elogiei — Vejo as casas tradicionais nos doramas, são lindas.
— Cada país com sua beleza.
— Verdade.
— Temos hora para voltar para casa? — perguntou ele, ao olhar para o relógio do celular.
— Está com pressa?
— Não. — ele me olhou e sorriu — Que tal um cinema mais tarde? Ou você tem célula hoje?
— Não, não tenho, hoje é meu dia de folga. — respondi.

Ficamos mais um tempo caminhando pela praça enquanto ele me contava algumas coisas sobre a universidade de Yosen, parecia mesmo estar empenhado a me convencer a cursar inicialmente hangul em seu país. Próximo ao final da tarde, seguimos pela rua Espírito Santo, até chegar no Shopping Cidade.

— Então, o que veremos? — perguntou ele ao olharmos os filmes em cartaz.
— Meus amigos que me desculpem, mas vamos de Mulher Maravilha. — respondi.
— Ela gosta mesmo de DC. — ele riu.
— Eu te falei que prefiro mais a Marvel.
— Falou sim. — ele continuou com um sorriso no rosto — Batman é seu personagem favorito, você não consegue escolher entre o Homem de Ferro e o Capitão América, já leu várias hq’s online, mas prefere os mangá e sua animação favorita é A viagem de Chihiro por causa do seu amigo japonês Kento. 
— Você sabe guardar informação.
— Um pouco, somente quando as informações me interessam.

Ok. Ali estava o olhar de interesse que Davi sempre dizia perceber nele. Meu coração acelerou um pouco, e tentei ao máximo esconder minha timidez pela situação. Seguimos com nosso cronograma, antes do horário do filme fomos lanchar um pouco, queria pagar por tudo mas não deixei, então combinamos que ele ficaria com os custos do lanche e eu com a sobremesa após o filme. Cada um pagou seu ingresso. 

- x - 

— Chegamos. — disse ao parar em frente o meu prédio.
— Foi o melhor passeio entre amigos que eu já fiz. — comentou ele.
— Você não disse que era um encontro?!
— Como você prefere classificar? — ele me olhou, com aquele olhar.

Encontro?! Me perguntei internamente, mantendo-me em silêncio.

— Vamos subir. — mudei de assunto seguindo para porta — Você disse que seu pai está aqui.
— Sim, o pastor Jonas convidou ele para o café. — confirmou.
— Já imagino que meu pai foi preparar alguma receita especial.
— estou contando com isso.
— Não acredito que já está com fome.
— Estou sempre com fome. — brincou.
— Nem te recrimino, eu estou sempre com sono.

Nós rimos. Como previsto, nossos pais estavam entre risos e conversas no apartamento, falando sobre igreja, filhos, gastronomia, futebol, e vários outros assuntos aleatórios, os “amigos de infância” pareciam colocar mais longos anos de conversa em dia. Contamos a eles sem detalhes como tinha sido nosso passeio pela cidade, e proveitoso o cinema. não perdeu a oportunidade de experimentar o bolo de cenoura com calda de chocolate que papai fez para o café da tarde deles. Pouco antes deles irem embora, um assunto sério veio em pauta, o que me deixou estática e surpresa ao mesmo tempo.

— Bem, como eu expliquei para vocês, a corte é algo muito sério, nós temos essa visão de relacionamento cristão, baseado nos ensinamentos da palavra de Deus. — iniciou meu pai novamente — Fico feliz que tenham comprado a ideia, e surpreso por ter esse desejo de fazer a corte com a .

Papai me olhou curioso.

— Mas, temos que saber se também tem esse desejo. — mesmo mantendo seu olhar sério — Então filha?
— É tudo muito novo para mim, mas…

Coração acelerado.

— Meu coração está em paz. — sorri de leve — Eu aceito.

abriu um largo sorriso de felicidade. Vi o olhar de aprovação de nossos pais.

— Junte as mãos os dois. — disse meu pai — Neste tempo além de se conhecerem, mantenham constante seus momentos de oração em favor da corte de vocês, jejuam juntos por este propósito para que Deus possa confirmar, daqui três meses vamos conversar novamente para confirmar a decisão de vocês. Agora será o momento de oração.

Assentimos juntos e papai começou a fazer a oração para selar nosso propósito.

"주님은여전히그곳에계시
O Senhor ainda está lá
언제나언제나변함없
Sempre como sempre
영원히영원히사랑하시
Amor para todo o sempre
삶의모든주께드리
Eu te dou tudo na minha vida
You still love me
Você ainda me ama
You still love me 
Você ainda me ama"
- You still love me / J-US Ministry

Chamado: Paciência na espera.



23. Cântico dos Cânticos

"Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os rios não conseguem levá-lo na correnteza.
Se alguém oferecesse todas as riquezas da sua casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado."
- Cânticos 8:7

- x - 

Eu estava muito feliz e ao mesmo tempo anestesiada. Não sabia como iria contar  a novidade aos meus amigos e já imaginava a cara do Davi para mim, ele já shippava esse casal antes mesmo dele acontecer. Assim que chegou na casa onde estava hospedado, ele me mandou uma mensagem para definirmos alguns pontos do nosso propósito. Não seria somente 3 meses de oração para confirmação, mas também faríamos jejum nesse período abdicando de coisas que gostamos.

: Então
pensou no que vai cortar?
: sim e você?
: animes e mangás, 
eu gosto muito e vejo todos os dias
mesmo nas semanas de provas
: interessante, eu até pensei nas séries
mas não vejo todos os dias e não me fazem falta nas semanas de prova.
: o que escolheu então?
: chocolate, eu amo chocolate
: também gosto de chocolate, mas não tanto assim
a Sunny que é viciada kkkkkkkkkkk
: chocolate na tpm é a melhor coisa 
: kkkkkkkkkkk
: não ria, é sério.
: desculpa kkkkk
: seu bobo
: então, estamos de acordo com o jejum?
: sim, vamos começar hoje mesmo
: Bom dia e bons sonhos então, até amanhã à noite.
: Bom dia e bons sonhos, até.

Por mais que estivesse no Brasil, já se aproximava o dia de retornar ao seu país, e aproveitando a oportunidade, meu pai convidou o missionário Han para pregar no culto de domingo. As horas se passaram e domingo à tarde cancelamos nossa tarde de estudos para uma breve confraternização em comemoração das férias de julho que se iniciavam. Mais tempo para descansar, dormir e claro se preparar para o ENEM. Escolhemos a casa do Pietro para nosso encontro, que contou até com a presença de Yara e Mia, os gêmeos do louvor Benjamim e Benício também foram convidados por Davi. Era visível que a cada dia nosso grupo de amigos aumentava, assim como a quantidade de jovens na igreja.

— Eu ainda estou surtando com a corte da . — disse Yara ainda eufórica.
— Calma miga, assim vai assustar o menino. — Isla tentou repreender porém segurava o riso.
— Seus amigos são sempre assim? Todos cheios de empolgação? — perguntou num tom baixo para mim, rindo de tudo.
— Sim, você ainda não viu todos falando sobre o universo marvel e super heróis. — ri junto — Mas todos são muito legais.
— Percebo isso a cada minuto. — constatou ele.
— Ok, vamos a contagem. — disse Yasmin — Isla e Pietro, e , Madu e Pablo, falta mais alguém?
— Falta eu e a Lira. — disse Davi ao segurar na mão dela.
— O que? — dissemos todos em coral olhando para os dois, chocados.
— Sim. — Lira se encolheu toda de vergonha.
— Como assim? Vocês dois e não me disseram nada? — perguntei indignada com o silêncio deles.
— Desculpa, é que estávamos orando para falar com o pastor Jonas e depois contar a todos. — explicou Lira.
— E desde quando vocês dois tem essa intimidade toda? — perguntou Madu.
— Nos tornamos muito próximos quando eu e minha mãe passamos um tempo na casa dele. — continuou ela.
— Faz sentido. — observou Yasmin.
— É mana, você está solo agora. — brincou Yara.
— Não estou sozinha. — Yasmin deu de ombros — Jullian e os gêmeos também estão solteiros.
— Eu tenho namorada. — Benício riu de leve — Estamos cogitando a ideia de fazer a corte também.

Nós rimos e brincamos um pouco com a afirmação dele.

— Meu irmão foi mais rápido que eu. — Benjamin riu e se sentou no chão ao lado da porta.
— E por falar em corte, por onde anda o Pablo? — perguntou Yasmin curiosa.
— Ah, o Charles ia ministrar em uma outra igreja e arrastou ele junto. — explicou Madu.
— Ele é o que do Charles? — perguntei.
— Não, eu quero é saber onde que vocês se conheceram. — disse Yara — Porque a novidade só apareceu agora.
— O Pablo é irmão mais novo dele. — Madu riu da amiga — Nós nos conhecemos no congresso de jovens que fomos da igreja deles.
— Ah… — Yara a olhou impressionada — Não perde tempo né amiga.

Todos riram.

— Foi ele que chegou em mim, perguntou se eu estava gostando. — um sorriso bobo apareceu em sua face.
— E como foi? Por que ele é de outra igreja. — agora eu tinha ficado curiosa.
— Estamos sob a cobertura do pastor Jonas e o pastor deles. — respondeu ela — Minha mãe nem acreditou quando eu contei a ela e apresentei ele.
— Estou admirado por vocês fazerem a corte, fico curioso para saber como é. — comentou Benjamin — Não deve ser fácil no mundo de hoje. As pessoas julgam muito.
— Ah sim, quando eu contei na minha família, minhas tias riram de mim, falando que a gente não iria aguentar. — revelou Pietro — Tive que respirar fundo e não me deixar abalar.
— Vamos combinar que suas tias e a opinião delas é o que menos conta. — Isla cruzou os braços.
— Vamos falar de coisa boa sem ser família. — Yara desviou seu olhar para o celular — Gente, quando vamos ao cinema ver Mulher maravilha? Eu e a Mia comentamos isso ontem.
— Temos que marcar né. — disse Davi — Apesar de eu estar de olho em Liga da Justiça.
— eu também estou esperando pela Liga. — disse Benício — Minha namorada não gosta de filmes de heróis, preciso dos amigos pra ver comigo.
— Que isso. — Madu o olhou boquiaberta — Aqui todo mundo gosta de filmes assim.
— Verdade. — concordou Lira — Até eu tive que me render a maratonas.
— Todo o meu dinheiro foi levado pelos Guardiões da Galáxia. — revelou Jullian — Gente, os boletos não estão me dando condições pra mais nada.
— Nem fale de boletos. — Pietro riu — A gente ri de desespero, mas eu queria ter ido ver os Guardiões, mas não rolou.
— Desculpem aí, mas eu estou esperando Thor: Ragnarok. — Yasmin se remexeu no sofá de três lugares onde estava sentada com Yara e Mia — Eu preciso ver o Loki de Odin, ok? Ok!
— Pois eu estou esperando pelo Homem Aranha. — anunciou Madu — Já imaginaram? Tony Stark vai estar lá.
— Sim, já imaginamos. — concordou Davi — Esse povo só quer levar a gente a falência mesmo.

Eu fiquei em silêncio, pois já tinha ido ao cinema com .

— E você , está calada. — Yara me olhou desconfiada.
— Nós fomos ontem ver Mulher maravilha. — contou na maior naturalidade.

Fazendo todos nos olharem surpresos e chocados.

— Desculpa gente, era o filme mais interessante da lista. — tentei me explicar.
— A gente te entendi. — Isla piscou de leve.
— Se tem um filme que eu estou esperando e não é de herói é A Torre Negra. — comentou Benjamin — Esse Idris Elba é um ator de excelência.
— Verdade. — concordou Yasmin — Ele no Thor estava muito legal, e li uma vez que cogitaram a ideia dele ser o próximo 007 depois do Daniel Craig.
— Se rolasse seria a maior representatividade. — Davi se empolgou um pouco — O cara tem estilo.
— O filme que eu quero mesmo é Avengers guerra infinita. — declarou Isla — Mas só ano que vem.
— Enquanto isso, a gente vai guardando grana, porque o ingresso está caro demais. — completou Pietro — Vocês já viram o preço da pipoca?
— Eu nem compro mais pipoca meu querido. — disse Madu — Eu vou nas Lojas Americanas e faço minha comprinha.
— Eu levo de casa. — brincou Yara, fazendo todos rirem.

Ficamos mais algum tempo comendo e conversando, até deu a hora de irmos para a igreja. Quem era do louvor, foi na frente pois tínhamos que ensaiar, e naquela noite teríamos como convidado também, não somente o missionário Han. Eu sabia que tudo estava no controle de Deus, e isso se confirmou quando do altar eu vi sentado na última cadeira no canto, Joseph. Meu coração se encheu de alegria na mesma hora, eu já sentia que aquela noite seria especial para muitas pessoas.

Após o final do culto, tentei me aproximar de Joseph para saber se tinha gostado, se estava bem, porém ele saiu rapidamente da igreja e seguiu sua direção. se aproximou de mim e me olhou curioso.

— Era o rapaz que você está ajudando? — perguntou ele.
— Sim, ele é bastante sozinho e distante, da última vez que conseguimos conversar ele estava bem triste. — respondi.
— Deus abençoe que você consiga ajudá-lo, e que ele possa conhecer o amor em Jesus Cristo. — segurou em minha mão e sorriu.
— Amém! — sorri de volta.
— Seus amigos estão pensando em sair para lanchar, você quer ir?
— Você deve estar cansado. — o olhei.
— Não, amanhã de manhã voltarei para Seul, gostaria de aproveitar ao máximo hoje. — sua voz era um misto de tristeza pela partida e felicidade por ainda estar aqui.
— Então vamos.

Inicialmente nosso role seria entre os casais em corte, porém Yasmin e Yara deram seu grito, dizendo que era injusto a gente deixar os solteiros de fora. Então juntamos todos do nosso grupinho e seguimos até o trailer de sanduíches do Hugo, era um point de encontro de jovens e aos domingos só davam as pessoas da igreja lá.

— Agora sim, gente eu estava morrendo de fome. — comentou Isla ao abocanhar seu sanduíche.
— Que isso, nem parece que comeu lá na nossa festinha. — Yasmin boquiaberta com ela — Pietro, acho que você vai ter que virar o Julius, porque sua varoa come viu.
— Minha corte tem dois empregos. — Isla brincou.

Todos rimos.

— Nem fala, eu já estou quase mesmo indo para o segundo emprego, agora que estou morando sozinho, só Jesus. — ele sentou ao lado da Isla — Morar de aluguel é caro.
— Eu e minha mãe nos mudamos recentemente e já estou vendo como é complicado pagar aluguel e fazer a compra do mês. — confessou Lira.
— Nossa, minha mãe fala isso todos os dias. — comentou Yara — Ela tá querendo que a gente mude de novo para casa da minha avó.
— Mas lá não é pequeno? Onde vai ficar seus cinco cachorros? — perguntou Jullian.
— Na minha cama, mas fazer o que. — ela riu — Ela mudou de setor e horário, não tem mais adicional noturno, acho que vou começar a fazer jovem aprendiz pra ter grana.
— Jovem aprendiz é muito bom. — comentou Benjamin — Eu já fui até conseguir o estágio da minha faculdade.
— Você já faz faculdade? — perguntei admirada — Você e o Benício parecem ser tão novos, tipo a nossa idade.
— Nós temos 23. — contou Benício — Ele faz medicina, e eu estou tentando me formar em jornalismo.
— Totalmente diferente um do outro. — comentou Madu.
— Tá explicado. — Yara disse com a voz meio alta — Porque o Benjamin é solteiro, o menino faz medicina.

Nós rimos.

— Vou ficar pra tio né. — brincou ele.
— Ficar pra tio? — me olhou sem entender a expressão.
— Significa que vai ficar solteiro para sempre. — ri baixo.
— E você , faz faculdade?
— Eu curso arquitetura. — respondeu ele.
— Também tem cálculo que eu sei. — Yasmin tomou um gole do seu refrigerante — Eu estava correndo disso, mas descobri que moda também umas tretas assim.
— Para fazer modelagem, calcular quanto de tecido se gasta em uma roupa. — Benício concordou — Minha namorada fez técnico do vestuário no modatec e agora está fazendo faculdade na Una.
— Eu queria mesmo é uma de graça, mas acho que vou catar o Pro-Uni pra ver se consigo. — retrucou Yasmin.
— Na UFMG tem moda. — informou Benício, a Lara que não conseguiu passar.
— Bom saber. — disse Yara — Porque eu também vou me jogar na moda.
— Era de se esperar. — brincou Davi.
— E como está sendo morar em outro lugar Lira? — perguntou Isla.
— Divertido, me sinto em total liberdade longe da minha avó. — respondeu ela em sorrisos.
— Sua avó é mesmo medonha. — finalmente Mia comentou algo, com seu jeitinho tímido — Eu a vi uma vez e fiquei com medo.
— Uma senhora sem amor no coração. — errado o Davi não estava.
— Vamos falar de coisa boa. — Madu se virou para — Como são as universidades da Coréia, ? Eu vi um vídeo de uma menina que estuda lá, mostrando o dormitório dela. Até sonhei.
— Eu sonho toda vez que vejo dorama. — brincou Yara.
— Eu também. concordou Yasmin.
— Bem, são legais, tem uma boa estrutura de ensino e instalações, não tenho muito o que reclamar. — ele sorriu meio desajeitado em responder algo tão simples. 
— O investimento em educação no seu país é alta também, deve ser já costume, qualquer instituição de ensino lá é de boa estrutura. — observou Jullian.
— Sim, investimos muito em educação.
— Ao contrário daqui que o salário dos professores são parcelados. — comentou Benjamin — Uma professora minha da federal reclamou que até hoje eles devem o décimo terceiro dela do ano passado. 
— Chocada. — Yasmin o olho abismada.
— Você faz na federal? — perguntou Pietro.
— Sim. — afirmou Benjamin.
— E você vive? — agora Davi brincou.

Todos rimos da pergunta.

— Eu soube que os professores de lá são tensos. — continuou Davi.
— Bastante, nós estudamos muito. — assegurou Benjamin.

Nós continuamos conversando sobre mais assuntos divertidos até todos irem para suas casas. me acompanhou até meu apartamento, onde seu pai o aguardava para irem para casa onde ficaram. Logo pela manhã ele me mandou uma mensagem dizendo que já estava indo para o aeroporto, lhe desejei boa viagem e pedi que me avisasse ao chegar.

“Cheguei em segurança.”

Vi esta mensagem assim que acordei na manhã de terça-feira, sorri de leve e agradeci a Deus por ele ter feito uma boa viagem. Logo comecei a digitar.

: Amém, glória a Deus.
: Amém
como foi seu dia de ontem?
: minha segunda foi tranquila, depois que voltei do trabalho meu pai fez espaguete para o jantar e ficamos vendo filme.
: que filme vocês viram?
: detona ralph
: essa animação é muito boa
: sim, me divirto muito
aí já é noite, você já vai dormir?
: daqui a pouco
: está em casa ou no dormitório?
: em casa, vamos almoçar na casa da minha avó amanhã
para contar a novidade
: eu não posso almoçar com meus avós, mas já contei a eles também
: o que eles falaram?
: que você mora longe
: errados não estão
: verdade

Eu ri. Eu me despedi rapidamente, ainda tinha que tomar café da manhã e me arrumar para chegar mais cedo a cafeteria. Era bom estar de férias por não ter que acordar cedo, mas por outro lado, não podia aproveitar muito graças a cafeteria. Eu acordava de manhã e via dorama enquanto tomava café da manhã, estudava um pouco e seguia para o trabalho. Cada dia da semana tinha um compromisso diferente: segunda era o dia da família com papai, passávamos a noite conversando ou fazendo maratonas de filmes, terça era o discipulado na igreja, quarta tinha culto na igreja, quinta eu ajudava meu pai na célula da casa do seu Soares, na sexta eu tinha a minha célula de jovens na casa do Pietro, no sábado eu tirava para revisar os compromissos relacionados a igreja e do meu pai, domingo era dia de estudar para o ENEM e mais culto à noite.

Alguns dias se passou e sábado à noite papai convidou Mônica e Lira para jantarem em nossa apartamento. Eu já imaginava o motivo e Lira também, papai e sua mãe tinham conversado na sala dele na igreja sobre seus sentimentos e agora iriam conversar com a gente sobre o assunto. Eu estava feliz pela possibilidade do papai seguir em frente em sua vida sentimental e Mônica era uma pessoa gentil e simpática, além de bonita.

— Então, o que acham? — perguntou ele.
— Eu estou super de acordo. — disse imediatamente.
— Eu também apoio. — pronunciou Lira.
— Eu fico com receio do que as pessoas vão falar na igreja. — Mônica se retraiu um pouco.
— Não liga para o que as pessoas vão falar, a opinião de Jesus é que importa para nós, por isso vamos orar. — disse meu pai.

Ele deu um sorriso reconfortante e segurou em sua mão. Não via aquele olhar em meu pai a muito tempo, olhar de esperança.

 a "O meu orgulho me tirou do jardim
Tua humildade colocou o jardim em mim
E se eu vendesse tudo o que tenho em troca do amor, eu falharia
Pois o amor não se compra, nem se merece
O amor se ganha, de graça o recebe.”
- Quero Conhecer Jesus (O Meu Amado é o Mais Belo) / ONE Ministry

Chamado: Conhecer Jesus.



24. Isaías

"Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim."
- Isaías 6:8

- x - 

— Imagina se nossos pais se casam? — disse a Lira — Vamos ser irmãs de verdade.

Estávamos caminhando pouco mais a frente. Papai decidiu acompanhá-las até em casa.

— Sim, vai ser muito legal nós duas morando juntas. — ela sorriu — Vou amar isso.
— Eu também. — concordei.
— Como é louco tudo isso, ano passado quando você mudou para nossa escola, nem imaginava que seríamos amigas. — ela mantinha um brilho no olhar — Estou feliz por nossa amizade.
— Eu também. — sorri — E como está indo sua corte com o Davi, ainda estranho imaginar vocês dois.
— Por que?
— É que tenho vocês como meus irmãos. — expliquei.
— Ahhhhh… Está indo bem, temos algumas diferenças e semelhanças, estamos nos conhecendo mais um pouco e orando também. E você com o ?
— A mesma coisa, além da distância que ao mesmo tempo que ajuda, atrapalha. — suspirei fraco — O estágio dele consome um bom tempo do seu dia, e só conversamos à noite, quando lá é de manhã.
— Deve ser complicado por causa do fuso horário.
— Demais, às vezes ele me liga e é de madrugada e estou dormindo. — ri baixo.
— Nossa. Acho que se Davi me ligasse de madrugada, eu batia nele.
— Que isso amiga. — ri de novo — Eu aproveito a deixa para orar um pouco.
— Queria essa disposição.
— Se eu não faço isso, não consigo ficar de pé. — admiti — Só o Espírito Santo me sustenta. 
— Amém nós todos.
— E como estão as coisas no pet shop? — perguntei.
— Mudei de lá.
— O que? — fiquei surpresa — E está trabalhando onde agora?
— Na sorveteria, é menos pesado para mim.
— Imagino, mas no pet pagava mais?
— Não, pagavam menos, agora recebo 60 reais a mais. — explicou ela — Faz diferença essa grana.
— Muita diferença. — concordei — Eu estou fazendo hora extra esse mês na cafeteria pra ajudar meu pai, o carro que ele tinha em São Paulo estava alugado para o meu tio, e agora ele comprou o carro dele e vai devolver, vou usar minha grana para pagar o ipva e o seguro para meu pai.
— Manter um carro também é caro né?
— Demais, e agora que meu tio não vai mais pagar pelo aluguel do carro, vamos ficar sem essa grana.
— E vão ter mais despesas. — concluiu ela.
— Sim, por isso que estou juntando a grana pra ajudar ele. — suspirei fraco — Ele queria vender, mas não deixei, alguma hora ele pode precisar, sabe. 
— Hoje em dia ter carro nem é mais questão de luxo, mas de necessidade. — afirmou ela.
— Com certeza. Só fico pensando no que as pessoas possam falar sobre isso. — confessei — Porque, gente para julgar e fofocar tem aos montes.
— Mas o pastor Jonas desde o início sempre foi transparente com as finanças da igreja. — ela me olhou.
— Mas ainda assim o povo fala.

Assim que chegamos no portão da casa dela, nos despedimos delas e voltamos para o nosso apartamento. Papai permaneceu mais tempo em silêncio, até que eu puxei assunto.

— Está tão pensativo. — perguntei ao fechar a porta e passar a chave trancando.
— Estou meditando em tudo que te acontecido em nossas vidas, foram muitas coisas desde que viemos para minas. — ele sentou no sofá e me olhou.
— Verdade papai, conhecemos muitas pessoas legais, passamos algumas dificuldades e agora, quem diria estamos fazendo corte juntos. — sorri me sentando ao seu lado — Se me dissessem que tudo isso aconteceria conosco, acho que não acreditaria.
— E o que seus avós disseram além de “ele mora longe”. — papai riu.
— Meu avó pediu para que eu tivesse juízo e a vovó perguntou se eu vou morar na Coréia depois de casar. — eu ri também — Não tinha pensado nessa possibilidade.
— Bem, se você vai morar lá ou não será na direção de Deus.
— Tenho pedido muito a direção de Cristo para minha vida e meu futuro. — assegurei — Ainda mais que estou mesmo pensativa na ideia de tentar uma bolsa de estudos em Yosen.

Eu já tinha conversado com meu pai sobre essa possibilidade, e ele como sempre ficou ao meu lado e me apoiaria em minha decisão.

— Vamos esperar pela resposta. — ele sorriu.
— O senhor pretende anunciar a corte para a igreja agora? — perguntei curiosa.
— Não, só após os três meses de confirmação, quero estar certo disso até anunciar, por enquanto não deve falar nada com ninguém, nem com o Davi. — pediu ele.
— Tudo bem, é um assunto de vocês, não vou contar.
— Obrigado filha.
— Então pai, no próximo domingo será a consagração dos líderes que estavam em treinamento, como vai ficar as células? — perguntei.
— Bem, a maioria dos líderes em treinamento ficarão com as células que estão em suas casas, você está com o Pietro né?
— Sim.
— Como você é supervisora, então ele vai ficar responsável pela célula na casa dele, assim como os outros. — ele me olhou com carinho — Tenho sentido que você está muito sobrecarregada filha e agora está na hora de distribuir ainda mais as responsabilidades, só a Yara por questão da idade que vamos esperar para colocá-la como líder. 
— Tudo bem. — assenti — Se der certo, o senhor e a Mônica ficarem juntos, vou poder dividir com ela né.
— Só pensa nisso né? — ele cruzou os braços.
— Papai, querendo ou não é estranho eu ser a responsável pelas líderes do kids, eu sou sua filha e não sou mãe ainda. — meu argumento era real.
— Vamos esperar em Deus. — disse ele.
— E como vai ficar o carro?
— Seu tio disse que vai trazer na semana que vem, estou pedindo a Deus para nos orientar e prover dinheiro para ficarmos com ele.
— Complicado, por isso estou fazendo as horas extras.
— Só não quero que você se sobrecarregue mais, vamos esperar em Deus.
— Eu sei pai, não vou abraçar o mundo com as pernas. — garanti — me disse a mesma coisa.
— Esse rapaz parece ser muito sensato.
— Ele tem uma sabedoria admirável como o senhor pai.
— Vejo intimidade com Deus nele. — afirmou papai.
— Sim, e estou buscando o mesmo.
— Ah, uma coisa, vou precisar da sua ajuda com meu planejamento de aula do próximo semestre.
— É pai, você e suas aulas bagunçadas.
— Essa coisa de planilha, planner, planejamento é com você. — ele riu — Mas aquela escola me cobra isso.
— Precisa de mais organização na sua vida.
— Eu até tento, mas não consigo. 

Nós rimos juntos. Ficamos mais um tempo sentados no sofá e conversando sobre Mônica e , no final da noite, fui para meu quarto, era hora de conversar um pouco com a minha corte.

: bom dia
: bom dia
como foi seu dia?
: foi bom
Mônica e Lira vieram jantar aqui em casa
: Mônica e seu pai estão em corte?
: mais ou menos, não posso contar agora, papai pediu sigilo.
: hum… entendi
: e você? como está as férias?
: cansativo com o estágio
: aqui também, fazer hora extra na cafeteria está me deixando mais cansada, 
achei que essas férias seria tranquilas
: trabalhar tem seu lado negativo kkkkkkk
: o positivo é quando o dinheiro cai na conta, mas os boletos levam tudo
kkkkkkkkk
: realidades da vida adulta
: sim e por falar da vida adulta
você me deve suas histórias de quando criança
: qual delas quer ouvir?
: todas kkkkkkkkkkkkk
: são muitas, queria contar pessoalmente
: hum… e quando vai voltar ao Brasil?
: final do mês talvez
: sério?
: sim
conversei com meu chefe e ele me mudou de setor, 
vou poder trabalhar em casa com mais frequência
: e isso é bom?
: sim, vou poder viajar sem medo
: então é ótimo
glória a Jesus.
: amém
vai ser bom trabalhar em casa em dias alternados
: vai ser bom você vir no final do mês
: acho que vou poder ficar uma semana
: tempo bom
: já estou com saudade de te ver
: digo o mesmo
: vou te deixar dormir, bom dia e bons sonhos
: bom dia e bons sonhos

Fiquei um tempo olhando para a tela do celular, depois coloquei o aparelho em cima da mesa de cabeceira e fui trocar de roupa. Após minha oração e realizar meu TSD, me deitei e rendi ao sono que veio sem demora. Minha noite foi tranquila e relaxante assim como o domingo.

Pulando para segunda de manhã, acordei para mais um dia de afazeres e responsabilidades. 

— Menina, esse shopping só enche nas férias. — comentou Felícia ao se aproximar de mim.

Naquele dia a Val tinha faltado e eu ficaria do lado de dentro preparando as comandas. 

— Já perdi as contas de quantos expressos eu já fiz hoje. — brinquei.
— E você chegou mais cedo hoje né? — comentou Tânia.
— Sim, cheguei duas horas mais cedo. — confirmei — Fiz um acordo com o seu Rodrigues de fazer hora extra nas férias.
— Todo mundo precisando de grana. — Felícia riu.
— Nem fala, meu filho vai ter que colocar aparelho, e de onde vai sair a grana? — Tânia apontou o indicador para si mesma — Não aguento mais.
— E eu aqui lutando para tirar minha carteira de motorista. — Felícia pegou a bandeja com a comanda que tinha preparado.
— Força miga. — brinquei.
— Seu Rodrigues bem que podia dar uma bonificação, pra quem não falta. — reclamou Tânia — A Val falta quase toda semana e agente sempre fica segurando as pontas aqui.
— Calma Tânia, um dia seremos recompensadas.
— Tomara, estou dobrando quase todo dia. — continuou reclamando — Minhas costas estão um caco.
— Nem fale de dores nas costas. — Felícia retornou.
— Gente, olhe pelo lado bom. — intervi.
— Tem lado bom?
— Claro. — sorri — Os boletos estão pagos.

Nós rimos um pouco e voltamos ao serviço. Era mesmo incrível a forma que aquele lugar ficava cheio o dia todo, todos os dias nas férias, parecia que o shopping era o único ponto turístico da cidade. 

No final do expediente senti meu corpo mais cansado, não tinha nenhum compromisso da igreja para aquele dia, voltaria cedo para casa. Assim que desci do ônibus no meu bairro e segui para minha casa, ao me distrair mexendo no celular, trombei em uma pessoa, ao levantar o rosto pedindo desculpas, paralisei por um momento.

— Joseph. — sussurrei ao ver seu rosto machucado.
— Você. — sussurrou ele.
— O que aconteceu? — perguntei preocupada.
— Nada.
— Seu rosto está machucado, não é nada, olha as suas mãos. — eu tentei não me desesperar.
— Eu estou bem, vou para minha casa. — disse ele se esquivando de mim.
— Não. — segurei em sua mão.
?! — a voz de Davi soou próximo de nós — Joseph? O que houve?
— Ele não quer me dizer.
— Eu estou bem. — Joseph tentou se soltar de mim, mas não deixei.
— Temos que ir ao posto, ou na Upa, limpar essas feridas.
está certa. — concordou meu amigo.

Joseph continuou relutante, mas com a ajuda de Davi levamos ele para o posto de saúde, de onde liguei para meu pai. Minutos depois ele chegou preocupado e assumiu responsabilidade sobre Joseph, que continuou dizendo que estava tudo bem, até que meu pai conseguiu retirar a verdade dele. A vida de Joseph não era mesmo fácil.

— Já que você brigou com seu tio, não acho prudente voltar para a casa da sua avó hoje. — meu pai analisou a situação.
— Ele pode ficar na minha casa. — ofereceu Davi — Eu ligo para os meus pais.
— Não quero incomodar. — sussurrou Joseph ao tocar de leve no band-aid em seu rosto.
— Não incomoda. — Davi deu um sorriso fechado e retirou o celular do bolso — Vou ligar para eles agora.

Meu amigo se afastou de nós para fazer sua ligação. Enquanto papai continuou conversando com Joseph, mandei uma mensagem a contando sobre a situação, que estava acontecendo, que logo assegurou que iria interceder por nós. Seguimos para casa de Davi, onde meu pai confirmou o pedido de ajuda para o obreiro Zé, que se dispos de imediato em ajudar. Tia Kátia recebeu Joseph com um sorriso materno no rosto e o levou para lanchar na cozinha, eu não imaginava que uma coisa assim poderia acontecer.

Na manhã seguinte, meu pai e eu fomos na casa da avó de Joseph entender o que tinha acontecido. Aparentemente ela era uma senhorinha simpática e receptiva.

— Então dona Marta, pode nos contar. — disse meu pai ao se sentar na cadeira.

Eu decidi permanecer de pé.

— O Joseph sempre foi um menino carinhoso e gentil, mas de uma vida conturbada, ele era mais falante quando criança, agora está sempre calado e introvertido, com más amizades. — ela tinha uma tristeza no olhar e na voz.
— Por que isso aconteceu? — perguntou meu pai.
— O casamento do meu filho e da minha nora sempre foi conturbado, e depois que meu filho começou a beber, as coisas pioraram, após uma discussão minha nora foi embora de casa e deixou o filho pequeno para trás. — explicou — Joseph ficou sozinho e abandonado, veio morar comigo depois que me vi obrigada a denunciar meu próprio filho ao conselho tutelar. 
— Não imaginava que a vida dele tenha sido tão triste assim. — sussurrei.

Meu coração estava apertado em ouvir aquela história.

— Nós encontramos o Joseph ontem machucado, ele disse que tinha brigado com o tio. — explicou papai — O que aconteceu?
— Sim, meu filho mora comigo também e ele e o meu neto não se dão bem, vivem em guerra aqui dentro, não sei mais o que fazer.
— Não se preocupe dona Marta, o Joseph vai ficar alguns dias na casa de um amigo. — disse meu pai.
— Agradeço por ajudarem ele, eu queria poder fazer mais, porém nas minhas condições.
— Vamos ajudar sim. — assegurou meu pai.

Assim que voltamos para casa, conversamos um pouco sobre a descoberta da vida sofrida de Joseph. Seria complicado ajudar aquele coração muito machucado, mas com a ajuda do Espírito Santo, tudo iria se resolver e ficar bem. Convencemos ele a ficar mais dias na casa do obreiro Zé, assim não somente ficaria longe do seu tio que o tinha agredido, como também na companhia de Davi ele poderia se sentir melhor. 

— Então Davi, como está tudo lá? — perguntei ao me encontrar com meu amigo na casa de Lira.
— Está indo, o Joseph é meio fechado e travado, mas ontem minha mãe conversou com ele e ele se abriu um pouco. — respondeu meu amigo ao se sentar no chão perto da janela.
— Tia Kátia é boa com essas coisas, ela sempre vai com jeitinho e acaba conquistando a confiança da gente. — afirmei.
— Foi assim que ela fez com a minha mãe. — comentou Lira.
— Verdade. — concordei.
— E agora, como vai ficar? — perguntou Lira.
— Ele mora com a avó, mas o tio é o problema. — explicou Davi — Mas meu pai já disse que ele pode ficar o tempo que precisar, minha mãe está quase adotando ele.
— Para quem não tinha irmão. — eu ri — Já vai para o segundo.
— Pelo menos ele parece legal. — ele desviou o olhar para o teto — Conversei com ele esta manhã, pedi perdão por tê-lo julgado em um certo momento da minha vida.
— Fez muito bem. — assegurei.
— É por isso que temos que conhecer a pessoa antes de formar uma opinião sobre ela. — Lira estava certa.
— Aprendi a minha lição. — disse ele.

Eu sorri de leve. Mesmo com todas aquelas coisas acontecendo, tinha a certeza dentro de mim, que Deus estava no controle de tudo. 

“Pai, eu sei
Tua presença acrescenta paz
Não há espaço para confusão
Pai, então
Pra que me preocupar com a aflição?
E com as dores do meu coração?
Se tua presença só traz alegria
Tua alegria é a minha força.”
- Tua Alegria / Isadora Pompeo

Chamado: Se dispor para Deus.



25. Jeremias

"E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.”
- Jeremias 29:13

- x - 

: confesso que estou ansioso pelo resultado
esse concurso me levou dias e mais dias
: você já sabe quando vai sair?

Rolei meu corpo na cama e fiquei olhando a tela do celular.

: eles disseram eu vai ser na primeira semana de aula
: ainda tem um tempinho do final das férias, quando você vier na última semana
: você sabe que a última semana é amanhã
: sim eu sei kkkkkkkk.
: estava pensando em irmos naquele mirante onde nos vemos pela primeira vez.
: o mirante do parque das mangabeiras
: sim, a Layla está querendo fazer outra vigília lá, você vai né?
: vou sim, ela me chamou e já convoquei os jovens da igreja
: e como vai seus amigos?
eles são engraçados, contei para Sunny sobre eles, ela riu muito
: desta vez a Sunny vai vim?
: sim, meu pai deixou ela ir, depois de muito pedir
: estou com saudade dela, aquela fofura em pessoa
: e ela segue com saudade de você também
: você sempre fala do seu pai e da Sunny, mas não muito da sua mãe
: verdade
é que meus pais são divorciados, isso aconteceu a muito tempo, hoje meu pai é casado com a mãe da Sunny
: então vocês são irmãos por parte de pai
: sim
: e você tem contato com sua mãe
: tenho
: o que ela achou da nossa corte?
: estranhou um pouco o fato de você não ser coreana e morar longe, mas essas questões para mim não tem importância.

Bom saber seus pensamentos sobre nossas diferenças culturais.

: e sua madrasta?
: ela ficou empolgada querendo te conhecer
: diga a ela que tem uma grande possibilidade de ir morar aí no próximo ano.
: você vai mesmo fazer a prova?
: conversei com meu pai e ele disse que vai me apoiar em qualquer decisão, então...
: você vai gostar de Yosen e já tem um monitor particular
: uma coisa de cada vez.

Eu ri.

: é sério
: eu sei kkkkkkkkkkk agora preciso me preparar para fazer o exame de proficiência.
: só cuidado para não se sobrecarregar novamente, agora que as coisas vão ficar mais calmas
: sim, eu vou me cuidar
: amém, glória a Deus.

Mantive um sorriso bobo na cara, era fofo quando ele demonstrava estar preocupado comigo.

: e o ENEM? ainda pretende fazer?
: sim,
vai que ajuda também,
além do mais,
indo ou não para Yosen,
eu quero ter mais opções para meu futuro acadêmico
e meu pai me aconselhou a fazer
: faz muito bem
: como foi no estágio hoje?
: mais tranquilo,
já que passei dois dias em casa,
hoje fiquei lá trabalhando
: sua antiga chefe falou algo?

Me levantei da cama e caminhei até a porta, estava com sede e tinha deixado minha garrafinha na cozinha.

: não a vejo muito, felizmente
: que bom
: e meu chefe gostou da apresentação que eu montei
: ele seria louco se não gostasse, ficou lindo
: obrigado
: você foi com ele para a reunião?
: sim
: e como foi?
: fiquei um pouco nervoso.
: é assim que começa.

Passei por meu pai que estava cochilando no sofá. Coloquei meu celular no bolso da calça do pijama e me aproximei dele, fiquei com dó de acordá-lo, então fui até seu quarto e peguei uma manta, voltei para sala e o cobri.

— Não estou dormindo. — resmungou ele.
— Está sim. — segurei o riso.
— Só estou descansando a mente. — ele se remexeu no sofá se embrulhando mais na manta — Estou cansado, e não sei o que vou pregar no culto de quarta.
— O senhor não tinha convidado o pastor Marx?
— Verdade. — ele deixou os olhos semicerrados — Tinha me esquecido.
— Ele ligou hoje de manhã confirmando. — anunciei — Eu ia te falar agora de noite, mas chegamos tarde e eu fui conversar com o .
— É por isso que minha agenda fica com você. — ele riu, fechando os olhos novamente.
— Vai mesmo ficar aí no sofá?
— Só mais um pouquinho, aqui está confortável.
— Nem comento. — balancei a cabeça negativamente.

Segui para a cozinha e peguei minha garrafinha de água em cima da pia e voltei para o quarto.

— Bom dia pai, bons sonhos. — disse ao passar pelo sofá.
— Bom dia querida. — sussurrou ele.

Estava mesmo cansado e com sono. Assim que entrei no quarto, tomei um gole e me sentei na cadeira, retirei o celular do bolso, já tinha mandado outra mensagem.

: seu pai já chegou?
: sim, e está apagado no sofá, até cobri ele
: a rotina dele é bem mais puxada que a nossa
: sim, e depois da igreja hoje,
ele ainda ficou lá dando aconselhamento
: meu pai também faz isso às vezes.
: isso faz ele chegar mais tarde
: vou te deixar dormir, vou embarcar daqui a pouco
: estarei a sua espera
vai chegar na terça né?
: provavelmente sim,
a não ser que a troca de avião demore
: Deus abençoe que não
: amém, te vejo na terça então
: bom dia e boa viagem
: bom dia e bons sonhos

Meu coração já estava acelerado ao imaginar que estava mesmo vindo para o Brasil, mesmo não tendo nem um mês de corte, pelos meses que passamos somente como amigos, era real que estava começando a ter sentimentos mais fortes por ele. Deixei meu celular ao lado do travesseiro e ajoelhei na beirada da minha cama, sob a promessa de Jeremias 29:13, minha oração naquela noite seria para buscar ainda mais a presença de Jesus para minha vida. Meu desejo era ser ainda mais cheia da presença e doa amor de Cristo em meu ser, pois Ele é o pão que mata a minha fome e a água que mata a minha sede. Ele me mantinha de pé em todos os momentos complicados da minha vida.

- x -

— Oi. — Joseph se aproximou de mim.

Minutos após término do culto de quarta-feira. Ele parecia bem mais calmo e sereno, mas seu olhar continuava triste.

— Oi Joseph. — sorri gentilmente — Está se sentindo melhor hoje?
— Sim. — respondeu movendo seu olhar para as pessoas que passavam por nós.
— Fico feliz por isso. — disse com sinceridade — Davi me contou que vocês têm conversado muito, me alegra saber que você tem desabafado com outras pessoas.
— Não está triste por eu não falar com você?
— Jamais. — mantive meu olhar alegre — Só de saber que você está dando uma oportunidade a Jesus, fico extremamente empolgada.
— Você insistiu tanto. — ele riu baixo — Tenho que admitir que me sinto bem aqui, apesar de alguns olhares...
— Não olhe para as pessoas, mantenha seu foco em Jesus. — o interrompi — Nosso alvo é Cristo.
— Eu aprendi isso hoje. — disse ele.
— Eu preciso ir ali, mas já quero te convidar para nossa confraternização das células jovens, Jullian disse que você tem perguntado a ele muitas coisas sobre a célula e a igreja. Que tal você se enturmar mais e conhecer os outros?
— Não sei. — ele ainda era o mesmo introvertido, mas tinha esperança.
— Vai ser legal.
— Farei o possível para ir.
— Que bom. — eu me virei para me afastar.
. — ele me chamou.
— Sim?! — o olhei.
— Eu sei que você tem um namorado... — ele parecia meio confuso no que queria dizer — Não é isso, não tem nada a ver com isso, é que eu queria saber se posso ser seu amigo.

Um largo sorriso abriu em meu rosto.

— É claro que pode ser meu amigo. — o olhei com carinho — E só esclarecendo, não é meu namorado, estamos em corte.
— Ah... O pastor Jonas me explicou um pouco sobre isso. — disse ele — Fiquei curioso para saber como é.
— É mistura de sentimentos. — brinquei — Mas não se preocupe, um dia Deus vai te apresentar uma garota legal e você vai poder fazer a corte.
— Não me preocupo com isso agora, eu acho.
— Cunhada unnie! — disse Sunny ao se aproximar de nós.
— Oi, vocês já estão indo? — perguntei.
— Sim. — ela olhou para Joseph e sorriu, com seu jeito fofo — Oi.
— Oi. — ele ficou um pouco envergonhado.
— Nos falamos depois Joseph e te espero na sexta para nossa confraternização.

Sunny segurou a minha mão e assim que nos despedimos dele, ela me arrastou até o altar, onde estava conversando com Davi. Meu amigo também se mostrou muito interessado pelas universidades coreanas, principalmente por Seul ser quase a capital do LoL.

— Eu vou falar sério, agora eu estudo para ir para lá. — anunciou Davi empolgado — Imagina eu cursando design de games na Coréia.
— Estou imaginando. — segurei o riso — Primeiro aprenda inglês, depois a gente conversa.
— Eu vou estudar, serei o aluno mais aplicado que você já viu. — garantiu meu amigo.
— Confio em você e acreditamos. — brinquei.
— Eu estava contando para ele sobre os cursos envolvendo games. — explicou .
— Enquanto uns querem, eu nem estou ligando para universidade. — comentou Sunny.
— Não está na hora também, viva apenas o ensino médio que já é estressante. — assegurei a ela.
— Unnie, você forma esse ano?
— Sim.
— Felizmente. — completou Davi.
— Aqui estão vocês. — disse Lira ao se aproximar de nós — Eu e minha mãe estamos indo.
— Essa é minha deixa para acompanhá-las. — disse Davi ao segurar na mão dela.
— Até sexta gente. — disse.

Ele se despediram da gente e foram, logo o missionário Han se aproximou da gente e chamou os filhos para irem com ele, estavam hospedados na casa do pastor Marx como sempre. Eu e meu pai fomos os últimos a sair da igreja, após fecharmos tudo seguimos para o apartamento. Na manhã seguinte, papai e eu acompanhamos Lira e sua mãe a um lugar importante, Mônica faria sua prova da OAB, na qual tinha se preparado muito para fazer.

Ficamos do lado de fora do prédio intercedendo por ela, pois seria mais um ciclo se iniciando em sua vida.

 

"And as You speak
E ao Teu falar
A hundred billion galaxies are born
Cem bilhões de galáxias nascem
In the vapour of Your breath the planets form
No vapor de Seu respirar, os planetas se formam
If the stars were made to worship so will I
Se as estrelas foram feitas para Te adorar, então eu também irei”
- So Will I / Hillsong United

Chamado: Buscar a Deus de todo o coração.



26. Lamentações de Jeremias

"O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam;”
- Lamentações 3:25

- x - 

— E como foi a prova? — perguntou meu pai assim que Mônica saiu do prédio.
— Teve algumas questões complexas, mas foi boa. — respondeu ela — Pensei que não conseguiria.
— Estou feliz por você mãe. — Lira a abraçou — Agora vai poder ser efetivada no seu estágio.
— Só depois que sair o resultado e minha carteira estiver na minha mão.
— Vai sim para glória de Deus. — disse meu pai — Você vai conseguir, estudou muito para isso.
— Amém.
— Vou ter uma mãe advogada. — disse Lira empolgada.
— Sim. — Mônica sorriu — Quem sabe uma mãe concursada.
— Você vai tentar algum concurso? — perguntei.
— Ainda estou pensando e esperando confirmação de Deus, mas estou pensando em tentar, pelo menos setor administrativo, ou algo assim. — explicou ela — Mas, um passo de cada vez.
— Está certa. — disse meu pai ao olhar para o relógio em seu pulso — Vamos tomar café? Estou com fome.
— Eu também. — levei a mão na  barriga e senti um fundo — Acordamos cedo.
— Vocês não precisavam ter vindo, mas agradeço a companhia, eu estava mesmo nervosa. — Mônica sorriu.

Seguimos pela rua, até chegarmos em uma lanchonete para comermos. Na volta para casa, eu e Lira sentamos no fundo do ônibus, para conversamos mais um pouco sobre as nossas cortes.

— E como está indo esse momento de confirmação entre você e o Davi? — perguntei percebendo seu olhar triste.
— Não sei explicar, nos primeiros dias eu estava mega empolgada, mas depois foi esfriando, eu e o Davi temos algumas coisas em comum, mas…
— Mas?! Você acha que não é o suficiente para seguir com a corte?
— Sim, meu coração não acelera quando eu vejo ele, que nem acontece com você e o . — explicou ela.
— Ah, mas cada um tem sua forma de reagir. — retruquei — Ainda mais que tem a distância entre a gente, namorar pelo celular é complicado, apesar de ajudar que não tem tanta reação dos hormônios pela parte física. 

Ri baixo.

— Mesmo assim. — ela olhou para janela — Antes que vocês começarem a fazer a corte, seus olhos já brilhavam quando você falava dele.
— Sério? — fiquei admirada — Eu não tinha reparado nisso.
— Até o Davi reparou. — assegurou ela — A corte de vocês só está confirmando.
— É por isso que meu pai pede para ficarmos em oração nestes três meses para confirmar. — suspirei fraco — E vocês ainda estou no primeiro mês.
— Sim. — concordou.

Só porque era a última semana de férias, as horas pareciam mais aceleradas que o normal. Eu tentei aproveitar ao máximo a estadia de e minha cunhada, apesar das horas de trabalho na cafeteria quererem me impedir. Enfim chegando sexta á noite, nos reunimos na igreja para a primeira confraternização geral das células de jovens e adols, foi bonito ver aquele tanto de jovens conversando e se divertindo, mais ainda ver a Mia interagindo com as pessoas mesmo com seu jeitinho tímido. 

Joseph chegou acompanhado do Jullian, pude perceber que eles estavam mais próximos e Jullian estava o ajudando em oração, assim como também fisicamente, pois tinha alugado o quarto que estava sobrando da casa onde morava com o pai. Mesmo com a afetividade da casa do Davi, agora Joseph teria um canto só dele e mais privacidade também. O que importava é que ele parecia mais sereno, até seu olhar estava menos triste, graças a Deus e com a ajuda do meu pai que se empenhava em aconselhá-lo da melhor forma possível.

— Boa noite gente. — disse assim que todos se acomodaram na grande roda de cadeiras que preparamos.
— Boa noite. — disseram todos em coral.
— Primeiro quero agradecer a presença de todos os jovens e adols que estão aqui, estamos na última semana de férias e muitos aqui ainda estudam, então esse foi o melhor dia para realizarmos essa confraternização. — continuei.
— Preparamos um tempo divertido e descontraído para todos. — anunciou Isla.
— E temos aqui um convidado que trará uma palavra rema de Cristo aos nossos coração. — disse me referindo a , que levaria a ministração.
— Bem. — Madu pegou o violão e encaixou em seu colo — Preparamos também um louvor especial. — ela começou a dedilhar o violão — Que todos possam abrir seus corações esta noite e deixar Deus entrar, transformar e transbordar a todos.
Apesar das feridas, apesar das decepções… Eu te chamei, Eu te chamei… Apesar do passado, apesar das desilusões… Eu te chamei, Eu te chamei… — eu e Yasmin começamos a louvar — Deixa Eu te usar para curar… Deixa Eu te usar para salvar… Enquanto Eu te uso… Eu cuido de tudo que te faz chorar…

Foi um tempo bom, tanto o louvor quanto a palavra, falou muito ao meu coração. Para glória de Deus todos estavam gostando da confraternização. Isla preparou uma brincadeira rápida de conhecimentos da Bíblia, e seria célula contra célula, foi mesmo divertido ver o espírito competitivo de Pietro e Davi animando os jovens das suas células, porém foi a célula da Yasmin que venceu no final, acertando as maioria das perguntas.

Na hora do lanche, os grupinhos foram se formando, todos conversando e comendo. Eu fiquei sentada no cantinho com , até que meus amigos foram chegando aos poucos e puxando cadeiras para sentar. Sunny se enturmou na roda dos adols que Yara tinha formado com Mia, e lá estavam cantando alguns louvores.

— A gente podia fazer mais confraternizações assim. — disse Isla — Mas no sábado, porque eu ainda estudo à noite.
— E por falar em estudar à noite, você vai fazer faculdade à noite? — perguntou Yasmin.
— Provavelmente sim. — respondeu ela — Mesmo se eu conseguir na federal, eu não posso sair do meu emprego ainda, e minha corte não tem dois empregos.

Nós rimos.

— Por falar em dois empregos, quem está assim é o Jullian. — comentou Pietro — Ele me disse que estava trabalhando no domingo na feira da Afonso Pena.
— Deve ser pesado. — disse Madu — E onde está ele?
— Conversando com o Joseph. — respondeu Davi.
— Nossa, quem poderia imaginar que o Joseph iria dar essa abertura pra gente. — Yasmin se mostrou admirada.
— É o que Jesus faz com a gente. — esclareci — Nos muda por completo. 
— Verdade, apesar dele continuar sendo uma pessoa fechada. — observou Pietro — Mas mudou muito.
— E o Pablo, Madu? — Isla a olhou — Quando vamos ver essa corte?
— Quando o irmão dele se casar. — ela riu — Com os preparativos do casamento da Layla com o Charles, o Pablo está sendo motorista, ajudante, padrinho, e tudo mais. 
— Chocada. — Isla brincou.
— Mas ele me disse que depois disso, ele vai mudar para a nossa igreja, pra gente seguir junto aqui. — explicou ela.
— Pensei que ele iria te pedir para ir pra lá. — Davi terminou de comer o pedaço de bolo em sua mão.
— Sim, mas a nossa igreja fica até mais perto da casa dele, então… É melhor ficarmos aqui, o pastor Marx disse que está em paz a transferência dele. — explicou ela.
— Isso é bom. — disse desviando meu olhar para .
— Não vai comer mais? — perguntou ele para mim.
— Não, estou satisfeita. — respondi.
— Que fofo. — disse Sunny ao se aproximar da roda com Yara e Mia — Minha cunhada.
— Você que é fofa criança. — devolvi o elogio.
— Vocês dois são mesmo fofos juntos. — comentou Isla — Esse shipp é real.
— Esse sempre foi o meu shipp. — assegurou Davi.
— Ahhhhh… Então era do que você sempre falava. — constatou Yasmin.
— Sim. — confirmou meu amigo/irmão — Desde o momento em que vi ele no mirante eu já fiquei com esse shipp na cabeça.
— Agradeço e fico feliz por isso. — disse meio envergonhado.

Logo o dia de e sua família retornar para casa chegou, assim como o fim definitivo das minhas férias, com o retorno das aulas, retornava também a minha rotina pesada que me deixava cansada e sempre com sono. Enfim, chegamos em outubro e em uma videoconferência, nós conversamos com e o missionário Han sobre nossa corte, durante aquele tempo de oração, a confirmação veio em nosso coração e continuamos em nosso propósito de conhecer um ao outro e construir um relacionamento forte e saudável em Cristo. Outra corte que se confirmou foi a do meu pai com a Mônica, com direito a anúncio diante de toda a igreja no culto de domingo. 

- x - 

— Gente, que filme foi esse. — comentou Yasmin — Só volto no cinema agora quando Avengers sair.
— Que isso, ainda tem Liga da Justiça mês que vem. — lembrou Jullian ao jogar seu pacote de pipoca no lixo — E ano que vem também promete.
— Haja dinheiro para acompanhar os lançamentos. — comentou Pietro de mãos dadas com Isla.

Ambos também tinham confirmado a corte.

— Pois eu só gasto meu dinheiro para ver Tony Stark. — declarou Isla — Sem mais.
— Gastar dinheiro com cinema está complicado. — resmungou Yara — Nem meu emprego que jovem aprendiz está ajudando.
— Ah… Só estou vendo vocês falarem de cinema, só quero saber quem está economizando grana para nosso acampamento de jovens. — cruzei os braços e olhei todos.
— Vou ser sincera. — Madu que estava de mãos dadas com Pablo se pronunciou — Eu fiquei feliz do pastor Jonas ter mudado para o ano que vem, esse ano está complicado para todo mundo.
— Verdade. — concordou Pablo — Se fosse esse ano eu não iria poder ajudar.
— Ah, falando nisso, que dia mesmo vai ser o casório da Layla com o Charles? — Jullian perguntou.
— Final de novembro. — respondeu Pablo.
— Quem é Layla? — ouvi Benjamin perguntar para Yasmin.
— É uma líder que conhecemos, já ministrou no culto de jovens várias vezes.
— Ahh. — Benjamin fez uma careta, parecia tentar lembrar quem era.
— Gente, estou sentindo falta da Lira. — comentou Isla.
— Verdade. — concordou Yara — A Mia também não veio.
— A Mia está passando mal, crise de sinusite atacou forte nela, está deitada na cama com o corpo todo doído. — explicou Madu.
— Nossa que dó. — Isla olhou para ela — Eu sei o que ela está passando, já tive essas crises.
— A Lira está fazendo um intensivo para o ENEM, ela quer mesmo passar em medicina. — expliquei.
— Ela e o Davi não levaram a corte adiante né. — comentou Yasmin.
— Não. — confirmei — Os dois tiveram a certeza que é somente amizade mesmo.
— Por isso a corte é importante. — Isla se pronunciou — Para termos certeza que é a pessoa mesmo, e como não há contato físico, as chances de sair machucado são menores.
— Verdade. — concordou Pietro — E que bom que eles viram isso no início, imagina se já tivessem dois anos de corte ou mais.
— Seria mais complicado. — disse com certeza.
— Eu já ouvi caso de um casal que ficou em corte três anos e não ficaram juntos depois. — comentou Madu — O menino não queria casar naquele momento e terminou com a menina, começou a fazer corte com outra e um ano e meio depois eles se casaram.
— Chocada. — Isla ficou boquiaberta — E a moça rejeitada?
— Deus proveu um varão de responsa pra ela. — respondeu Madu.
— Até fazendo corte temos que ser cuidadosos. — mencionei.
— Prudentes como a serpente. — concordou Pietro.
— Mateus 10:16. — disse falando a referência bíblica.
— Olha o pastor Jonas. — brincou Isla — Vontades guardar versículos assim.
— Passa um mês com meu pai e você consegue. — brinquei.

Todos riram e continuamos nosso passeio pelo shopping. Davi também não tinha ido com a gente, pois tinha um aniversário de um primo para comparecer. Mesmo sendo segunda e eu tendo ganhado folga naquele dia, era estranho estar ali no shopping sem estar trabalhando, já na volta para casa à noite, uma chuva inesperada nos pegou no meio do caminho dentro do ônibus. Cheguei em casa toda molhada. Corri para o banheiro e tomei banho para tirar a friagem, coloquei um conjunto surrado de moletom que tinha. 

Tudo parecia tranquilo, meu pai estava na sala vendo televisão e eu iria acompanhá-lo, mesmo com os trovões do lado de fora. Até que bateram na porta, estranhamos a primeiro momento, por não ter tocado o interfone, mas então meu pai se levantou do sofá para abrir a porta. Me levantei junto o observando, assim que ele girou a maçaneta e abriu. 

— Joseph. — sussurrei ao vê-lo todo molhado diante de nós.
— Eu o quero… Quero aceitá-lo assim como Ele me aceitou. — pude perceber uma lágrima escorrer dos seus olhos — Quero conhecer Jesus.

No impulso e sem importar se iria se molhar, meu pai o puxou para dentro e o abraçou forte e apertado.

— Jesus também quer te conhecer, meu filho. — era visível, meu pai estava mais do que emocionado com as palavras de Joseph.

E eu também.

 

"So I will call upon Your name
Eu chamarei pelo Teu nome
And keep my eyes above the waves
E fixarei os meus olhos por acima das ondas.”
- Oceans (Where Feet May Fail) / Hillsong United

Chamado: Não esquecer que Deus é bom.



27. Ezequiel

"Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e, em troca, darei um coração de carne."
- Ezequiel 36:26

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Tua voz me chama sobre as águas… Onde os meus pés podem falhar… E ali Te encontro no mistério… Em meio ao mar, confiarei! — eu comecei a louvar, enquanto meu pai orava a Deus em favor de Joseph — Ao Teu nome clamarei… E além das ondas olharei… Se o mar crescer… Somente em Ti descansarei… Pois eu sou Teu e Tu és meu!

Foi bonito vê-lo se rendendo ao amor de Jesus. Após alguns minutos, eu e meu pai conversamos com ele, que por sua vez foi se abrindo aos poucos e contando sobre sua vida e de como sofreu na infância. Meu pai o abraçou forte, transmitindo carinho a ele, dizendo que não estava sozinho, assim como no caso da Mônica e da Lira, deixaríamos o passado nas mãos de Deus, pois somente Ele poderia curar as feridas no coração de Joseph.

Pouco antes da meia noite, meu pai ligou para o seu Chico, assim os dois acompanharam Joseph até a casa onde morava com Jullian. Eu fui para meu quarto e ajoelhei na beirada da minha cama, comecei a agradecer ao Espírito Santo por ter alcançado aquele coração, orei também por minha vida e pela vida do meu pai. 

- x - 

Última semana de outubro e a organização para a festa de aniversário da igreja estava a todo vapor. Toda a liderança empenhada em divulgar o culto especial que seria feito no domingo, sob a coordenação de Yasmin e Yara, os jovens se juntaram para fazer um bazar com o objetivo de arrecadar dinheiro para contribuir com a festa. Todos empolgados e se esforçando para acontecer, e tudo na direção de Deus.

— Agora sim, podemos dizer, acabou. — disse ao sentar no degrau do altar e olhar para a igreja toda decorada para o dia seguinte.
— Concordo. — Isla se sentou no chão ao meu lado e olhou para porta da igreja — Ficou lindo, até que a Madu tem visão pra decoração.
— Menina, estou começando a olhar para o lado da arquitetura, vai que é minha vocação. — comentou Madu puxando uma cadeira — Eu já passo o dia vendo irmãos a obra.
— Ah querida, até eu vejo. — disse Yasmin — Aquele Scott que que fica na parte de quebrar a casa, gente que homem bonito, que cabelo.
— Aquele é o Jonathan. — disse Isla.
— Você também assiste? — Madu a olhou.
— Claro, você acha que agora eu quero uma porta de celeiro no meu banheiro, por causa de quem? — ela riu — Meu sonho agora é conceito aberto.
— Bancada de 3 metros. — ri junto.
— Até tu ?! — Yasmin riu também.
— Gente, meu pai tem dois empregos. — brinquei — Quando não é vendo receita no youtube, é vendo irmãos a obra na Netflix.
— Você tem netflix? E nem me fala. — Davi se fez de indignado.
— Eu já te falei sim uma vez, a gente tem, mas a conta é da minha avó. — expliquei — Nós somos os agregados.

Todos riram.

— Estou sentindo falta do Pietro, onde anda seu varão Isla? — perguntou Yara — Ele disse que traria os cartões de bem-vindo.
— Ah, o cara da feira pediu pra ele ajudar ele hoje com não sei o que, ele não pode vim. — explicou ela — Mas os cartões estão aqui comigo.
— Ah.
— A Lira também não veio. — observou Mia.
— A Lira ia visitar um parente com a mãe dela. — respondi.
— Nossa gente, trabalhar final de semana é cansativo. — comentou Jullian enquanto mexia no seu celular — Lembro quando eu era jovem aprendiz num supermercado, era tenso voltar pra casa uma da tarde morrendo de fome.
— Graças a Deus eu nunca peguei uma escada de domingo lá no call center. — Isla esticou suas pernas e cruzou — Domingo é de Deus, dia de descanso.
— Fala isso pra quem trabalha em shopping. — disse a ela.
— Você nem trabalha mais no domingo miga. — Yasmin me olhou.
— Mas eu já trabalhei e é realmente pesado. — assegurei.
— Aqui, amanhã vai ter ministrante convidado? — perguntou Davi.
— Sim, o pastor Antônio que é a nossa cobertura de São Paulo vai vim. — respondi — Ele é muito legal, exortação pura.
— Glória a Deus. — disse Isla — Gosto é assim.
— Nem todo mundo gosta. — comentou Jullian.
— O povo gosta é que massageia o ego. — brincou Isla — Tem que ser é que nem o Jão do deserto, raça de víbora.

Nós rimos dos gestos que ela ia fazendo.

— Gente, a conversa está boa, mas temos que ir, antes que meu pai me liga e pergunta se derrubamos a igreja. — brinquei.
— Já estamos aqui há um tempão arrumando né. — concordou Yara — Daqui a pouco minha mãe me liga também.
— A nossa também. — Madu olhou para a irmã — Vamos Mia.
— Eu vou com vocês. — disse Isla se levantando.
— Davi, você me ajuda a fechar a igreja. — pedi.
— Mana, a chave já está na mão. — disse ele.

Seguimos para fora e Davi fechou a porta com a ajuda de Jullian. Seguimos todos cada um para sua casa. Assim que cheguei no apartamento, meu pai estava terminando de preparar a janta, desta vez chefe Jonas foi modesto e fez sua nova especialidade: arroz temperado com frango. Foi um tempo muito bom, pois tanto o cheiro quanto o sabor estavam gostoso, e após comermos, me ofereci para arrumar a cozinha.

— Pai, o senhor é o melhor nas panelas, mas tem que aprender a lavar as vasilhas enquanto cozinha. — o repreendi de leve — Parece que todas as colheres da casa estão nesse bojo.

Tentei ficar séria, mas queria rir da situação.

— Eu juro que tento, mas é complicado, ainda não consegui pegar o jeito de fazer duas coisas ao mesmo tempo. — ele tentou argumentar em sua defesa — Isso é uma habilidade feminina, muito complexa de alcançar.
— Sei. — eu o olhei — E precisa mesmo sujar esse tanto de vasilha só pra cozinhar?
— Ossos do ofício. — brincou ele.

Nós rimos. Eu terminei de arrumar tudo e fui para o chuveiro, um banho era tudo que meu corpo precisava após se alimentar. Um sábado movimentado, tanto na cafeteria, quanto na organização da igreja que modéstia a parte, ficou linda e delicada. Chegando no quarto de pijama no corpo, peguei o celular do bolso da minha calça e mandei uma mensagem de bom dia para . Com o final do semestre, combinamos de nos falar de dois em dois dias, para não interferir em nossos estudos e trabalho, além de dar tempo para ter saudade e acumular assuntos para conversar.

: bom dia
voltei da igreja há pouco tempo

Enviei a mensagem e me sentei na cama, mantendo meus olhos no celular.

: bom dia
o que estava fazendo na igreja?

Eu ri… Tinha dito a ele na última conversa sobre o aniversário da igreja, minha corte estava mesmo com a cabeça cheia de coisas da faculdade.

: é o aniversário da igreja lembra?
te falei da última vez.
: verdade
esqueci, desculpa
: tá em paz, 
sei que está na semana de provas e sua mente deve estar cansada
: sim, estou tendo que colocar adesivo na testa todos os dias pra me manter acordado
que nem no dorama A little thing called first love.
: ahhh.. depois quero o nome desse adesivo aí kkkkkkkkkk
: eu te passo
e você? como está a espera pela prova do Enem? e os estudos de domingo?
: está seguindo bem, 
agora na reta final estamos treinando textos para a redação
: hum… 
isso é bom
: como está a Sunny?
: sonhando com as férias kkkkkkkk
: e o seu pai e a ajumma?
o que é ajumma mesmo? esqueci
: kkkkkkkkkkkkkkk eles estão bem também
ajumma é uma forma de tratamento, para mulheres mais velhas ou já casadas, usado por todos.
: e ajhussi é forma de tratamento para os homens.
: sim
: ahh eu sempre me confundo
: é normal
: amanhã eu vou acordar cedo para ajudar a tia Kátia a fazer bolos de pote para a festa da igreja, vou dormir mais cedo hoje
: vá e descanse em paz
: bom dia e boa aula
: bom dia e bons sonhos 

Assim que me espreguicei, deixei o celular na mesinha ao lado da cama, joguei a colcha para o lado, peguei a coberta e ao agradecer pelo meu dia, fiquei um tempo conversando com o Espírito Santo, até que peguei no sono. Daquela vez, teria que ser sentada/deitada mesmo, pois meu corpo estava doendo todo da rotina do dia. 

Domingo de manhã, acordei cedo e corri para casa do Davi. Tia Kátia já estava acordada com os ingredientes na mesa e o livro de receitas, passamos a manhã fazendo os bolos de pote para entregar na festa da igreja. Parte do dinheiro gasto neles foi do bazar dos jovens e a outra parte de doações da célula de mulheres, mais uma vez vimos que a união fazia tudo funcionar da melhor forma possível.

— Tá de parabéns Davi, até que você não é ruim no fogão. — brinquei ao dar a primeira garfada.

Como nosso foco eram os bolos, sobrou para Davi a responsabilidade de fazer o almoço. 

— Não sou um chefe Jonas, mas sei me virar sozinho. — disse ele colocando o macarrão no prato.
— Já pode casar. — brinquei.
— Fala isso não que minha mãe compra a ideia. — disse ele.
— Esse menino nem corte tem. — reclamou tia.
— Quando aparecer uma garota que se encaixe, talvez. — ele se sentou na cadeira — Onde está meu pai?
— Foi buscar o pastor Antônio com o pastor Jonas. — respondeu ela.
— Meu pai saiu mais cedo que eu de casa, nem vi ele. — reclamei.
— Daqui a pouco estão aqui para almoçar. — disse ela.
— Ou não, meu pai me disse que eles teriam uma reunião com o pastor James também.
— Hum… Então vão demorar. — constatou tia Kátia.

As horas se passaram, Davi e eu fomos na frente com os bolos e colocamos na geladeira da cantina que montamos atrás da salinha, então seguimos para o salão para testar o som. Como meu pai tinha me pedido para ficar no louvor, mesmo no violão dividi a responsabilidade do vocal com a Madu desta vez, Benício se posicionou na bateria e Benjamin ficou na guitarra. Iniciamos o culto com o música de celebração, pude sentir a animação de todos, a presença gostosa de Jesus reinando em todo o lugar.

Na presença dos homens… Na presença dos anjos sempre… Eu te louvarei, te louvarei… — começamos a cantar — Mesmo estando em guerra… Vou celebrando minha vitória… Eu te louvarei, te louvarei…

O culto continuou em plena festividade, em um momento após a ministração da palavra, todos os líderes da igreja foram consagrados novamente agora diante de toda a igreja, um momento emocionante para todos. Olhei para Mônica e Lira em lágrima, tive que me controlar para não chorar também.

No final, distribuímos a todos os bolo no pote e os cartões. Em um momento, olhei para meu pai e vi um brilho diferente em seus olhos, consegui sentir lá no fundo a felicidade que ele estava sentindo, após quase dois anos em minas, tínhamos passado por muitas dificuldade, mas também muitos momentos de alegria.

Aquela festa marcava mais um ciclo em nossa vida.

"O som da festa vai subir
Sua glória descerá
Se ouvirá um novo som
De aleluia.”
- 1000 Graus / Renascer Praise

Chamado: Ter um coração quebrantado.



28. Daniel

"Naquela ocasião eu, Daniel, passei três semanas chorando. Não comi nada saboroso; carne e vinho nem provei; e não usei nenhuma essência aromática, até se passarem as três semanas."
- Daniel 10:2-3

- x - 

Primeira terça-feira de novembro e eu estava à noite na igreja em reunião com a equipe do louvor. Meu pai tinha cancelado discipulado geral, aproveitando convoquei todos do louvor, com o objetivo de formar duas equipes e fazer uma escala semanal para que ninguém se sobrecarregasse. Mais duas pessoas tinham entrado para o louvor, Jonathan e Rute.

— Equipe 1 sou eu e a Madu no vocal, comigo no violão, o Jullian na guitarra e o Benício na bateria, — anunciei — e a equipe 2 é a Yasmin, a Rute e o Jonathan no vocal, o Benjamin na guitarra e o Justino na bateria.
— Confere. — disse Davi — Eu e o Jonathan revisamos na mesa de som.
— Ok. — terminei de escrever em minha agenda — Então pessoal, nós sabemos que o ministério de louvor é o mais atacado, e não foi a toa que Deus trouxe ao coração do meu pai esse propósito. A partir de hoje, até completar esses 21 dias, estaremos fazendo esse jejum em favor do nosso ministério de louvor.
— E quem toma remédio controlado? Tem coisas que eu não posso deixar de comer. — indagou Rute.
— Então, como meu pai falou alguns minutos atrás para as pessoas que por questões de saúde não podem fazer o jejum de Daniel total, você faz parcial e tira uma coisa que gosta muito, por exemplo, se é ver filmes, você tira os filmes. — expliquei.
— Entendi. — disse ela — Acho que já até sei o que vou tirar.
— Gente, mais uma coisa. — Davi já se levantou da cadeira — Vamos nos atentar para o horário, sei que todo mundo aqui tem compromisso, trabalha ou estuda, mas se é para estar aqui às 18 horas na quarta para o ensaio, vamos fazer um esforço e chegar no horário, no domingo pela mesma forma. 
— O Davi está certo, vamos ser mais comprometidos, por favor. — concordei — No mais, é isso, vamos orar agora fechando a reunião.

Todos se levantaram e após a oração, todos foram embora. Davi me ajudou a colocar as cadeiras no lugar e a fechar a igreja, na volta pra casa, ele me acompanhou.

— E como está o ? — perguntou ele aleatoriamente — Quando volta para o Brasil?
— Ele está bem, na semana de provas, então nem conversamos muito. — respondi — Ele disse que vai tentar vim em janeiro e ficar até meu aniversário.
— Hum… E você já se decidiu?
— Sobre?
— A faculdade, se vai cursar algo aqui ou vai se jogar na Coréia. — ele me olhou curioso.
— Ainda não sei, tenho até depois do enem pra descobrir. — eu ri — Mas Deus é quem vai me direcionar.
— Hum…
— E você Davi? Já se decidiu? Design de games mesmo?
— Não. — ele respirou fundo — Eu vou cursar design gráfico na uemg.
— De onde tirou isso?
— Um menino do meu time de LoL me falou do curso e fiquei interessado. — explicou.
— Você troca de curso como troca de roupa. — brinquei.
— Mas desta vez é definitivo. — assegurou ele firme — E eu descobri que lá tem um centro de extensão que mexe com quadrinhos, já estou sonhando.
— Esse menino passou o currículo completo pra você então. — eu ri.
— Com certeza, vou focar em fazer uma boa prova pra entrar pelo SiSu.
— Deus te abençoe meu amigo.
— Amém nos todos.
— Amém. — olhei para o céu que estava estrelado — Você e a Lira, estão em paz depois do término da corte de vocês?
— Estamos sim, por que?
— É que não vejo mais vocês conversando com tanta frequência como antes. — comentei — Fiquei preocupada.
— Imaginação sua. — ele me olhou com uma cara esquisita — Nossa amizade continua a mesma, gosto muito da Lira, só que agora estamos também em um ritmo cada um por si e Deus por todos por causa dos estudos.
— Verdade, a Lira tem quase se matado de tanto estudar para o vestibular. — concordei, suspirando fraco.
— A doida foi escolher logo o curso mais complicado e concorrido da federal. — disse ele — Tem que estudar mesmo para passar em medicina da UFMG.
— Tem para mim que ela vai passar, é muito aplicada. — garanti.
— E será que ela vai ter vida depois disso? — ele me olhou.
— Isso eu já não sei. — eu ri.
— Como diz a Isla, passar é fácil, permanecer e se formar que é difícil.

Errado ele não tava. Depois que me despedi dele na entrada do prédio, entrei e subi as escadas, trombei com Will e seu cachorro logo ao passar pelo andar dele.

. — disse ele ao me ver.
— Will. — sorri de leve e acariciei o Thor — Como está?!
— Bem, graças a Deus. — respondeu ele sorrindo também — E você?
— Bem também, meio na correria. — respondi — Vi sua avó no domingo na igreja, mas nem deu tempo de conversar com ela.
— Ela me contou, me falou que você estava namorando. — disse ele parecendo meio desconfortável pela notícia.
— Ah sim, não é namoro, estou fazendo a corte. — expliquei.
— Hum, com o Davi?
— Não. — eu ri — O Davi é realmente só meu amigo, um irmão.
— Ah.
— O nome dele é , não mora aqui.
— Espero que dê certo para vocês.
— Agradeço, tenho certeza que vai dar sim. — mantive o sorriso — E você? Como está a faculdade?
— Em ritmo de tcc agora. — respondeu — Fui efetivado no meu emprego, também estou correndo.
— Mesmo com a vida tumultuada, não se esqueça de Deus. — aconselhei — Precisamos sempre reservar o melhor tempo do nosso dia para ele.
— Eu sei, tenho sido meio falho, mas sei disso.
— No próximo sábado teremos o culto de jovens, está mais do que convidado. — anunciei.
— Vou tentar ir.
— Bom dia pra você, bom dia Thor. — disse seguindo para a escada — Tenho que ir, amanhã levanto cedo. 

Subi as escadas e entrei no apartamento. Meu pai não tinha chegado da visita que foi fazer com o obreiro Zé. Então, segui até a cozinha e olhei a geladeira, tinha sobrado alguma coisa do almoço, mas não estava com a mínima vontade de comer. Segui para o plano B, peguei o pão de forma que encontrei na geladeira e fiz um sanduíche, aproveitando que ainda não tinha iniciado meu jejum. Segui para o quarto e antes de orar para dormir, mandei uma mensagem rápida de bom dia para , que certamente estaria fazendo uma prova neste momento em seu país.

No dia seguinte segui minha rotina na cafeteria, à noite o louvor seria da equipe 2, então eu estava tranquila nesta semana. 

— Gente, estamos a uma semana do ENEM. — comentou Isla.
— Sério? Nem notei. — disse Yasmin de forma irônica.
— Menina, estou marcando dia após dias no calendário. — confessou Lira — Não aguento mais.
— Lira querida, após você passar só tende a piorar. — Davi colocou a mão no ombro dela — Soletra comigo, medicina.
— Para Davi. — ela tirou a mão dele do ombro dela — Você quer o que? Me fazer desistir?
— Não, quero te apresentar a realidade. — explicou ele.
— Sua realidade está parecendo filme de terror. — brincou Yara.
— Também acho. — concordei — Deixa a Lira em paz, esse é o sonho dela.
— Por falar em provas e tals, gente vou mesmo tentar arquitetura na federal. — disse Madu — Se minha nota não der, eu tento design de ambientes na uemg.
— Se decidiu? — Isla a olhou impressionada.
— Sim. — confirmou ela — E não mudo mais.
— Eu também já me decidi por design gráfico na uemg. — anunciou Davi.
— Finalmente meu amigo. — Isla riu dele — Não aguentava mais sua indecisão.
— Eu gostei da grade curricular, descobri que tem optativa de animação 3d, já quero começar a estudar. — disse Davi empolgado.
— O que eu quero mesmo é um emprego novo. — disse Pietro ao segurar na mão da Isla — Não aguento mais essa vida de dois empregos.
— Meu querido, agora que estamos com os planos do apartamento, não dá pra ficar desempregado. — disse Isla.
— Como assim planos do apartamento? O que não estamos sabendo? — perguntou Yara.
— Segredos de corte. — brincou ela — Depois nós contamos a vocês.
— Sinto cheiro de casamento. — disse.
— Eu também. — Madu riu.
— Confesso que nossa corte será rápida, pois minha cinderela já está com seus vinte e alguma coisa. — brincou Pietro.
— Nem comento. — Isla o olhou meio atravessado.
— Que horas que será o culto dos jovens no sábado? — perguntou Mia.
— Às 20hrs. — respondi — A Layla que vai ministrar a palavra pra gente.
— Sério? Mas e os preparativos do casamento?
— Ela disse que dava, o Charles quase me esganou quando eu fiz o convite para ela. — ri de leve — Mas vai dar certo.
— Eles casam agora no final de novembro? — perguntou Jullian.
— Sim. — respondeu Davi — E todos estamos convidados.
— Gente, imagina, quatro anos de corte. — comentou Yasmin — Layla e Charles são exemplo.
— Sim, eles formam um casal muito bonito. — concordou Madu.
— Também acho. — disse.
— Gente, depois das provas e vestibulares, vamos apenas para de encontrar domingo à tarde? — perguntou Yasmin.
— Vai sentir falta da gente? — brincou Isla.
— Vou. — confessou ela.
— Podíamos continuar encontrando. — sugeri.
— Eu e a Mia vamos poder participar né? — perguntou Yara.
— Claro. — Pietro riu.
— Eu e o Benício também queremos juntar na turma. — disse Benjamin.
— São todos bem-vindos, até você Jonathan. — disse para ele que estava sentado na cadeira perto da nossa rodinha.
— Beleza. — ele riu.
— A gente podia marcar uma maratona de filmes, para comemorar as provas. — sugeriu Jullian.
— Poderia ser comédia desta vez? — perguntou Lira — Eu amo vocês, mas já vimos todos os filmes de super-heróis.
— Não vimos o Watchmen. — disse Jullian.
— Ah não, esse filme não, detesto ele. — disse Isla fazendo careta.
— Você é louca? Esse filme é muito bom. — retrucou ele.
— Guarde sua opinião para você Jullian. — defendeu Madu — Eu também não gostei dele não.
— Vamos de comédia do Adam Sandler. — sugeriu Lira.
— Eu concordo. — disse Mia.
— Também apoio. — concordei com elas — Apesar de já ter visto quase todos com meu pai.
— Eu tô de boa. — disse Pietro.
— Eu também. — Davi entrou na onda — Tenho um hd externo cheio de filmes.
— E vai ser em qual casa? — perguntou Jullian.
— Pode ser na minha. — ofereceu Madu — Ou na do Davi.
— Na sua é melhor. — disse fazer, nos fazendo rir.
— Fala isso porque não quer ser o anfitrião e fazer o lanche. — retrucou ela.
— Verdade. — concordou Isla.

Continuamos brincando com ele e conversando sobre os possíveis filmes que veríamos.
Os dias foram passando, até que finalmente a prova em que eu e meus amigos nos preparamos o ano inteiro chegou. Meu coração acelerou um pouco quando entrei na escola para qual tinha sido selecionada, meu pai tinha me acompanhado, ele sabia que eu precisava de um apoio emocional. Ao entrar na sala, sentei na cadeira e debrucei sobre a mesa, comecei a orar, pedindo a Deus para me acalmar e para que eu me lembrasse das coisas que tinha estudado.

— Jesus me ajuda, pois não conseguirei fazer isso sozinha. — sussurrei ao final da oração.

O ENEM representava o fechamento de mais um ciclo em minha vida.

"I see the King of glory
Eu vejo o Rei da glória
Coming on the clouds with fire
Vindo nas nuvens com fogo
The whole earth shakes, the whole earth shakes
Toda a terra treme, toda a terra treme
I see His love and mercy
Eu vejo Seu amor e misericórdia
Washing over all our sin
Lavando todos os nossos pecados
The people sing, the people sing
O povo canta, o povo canta

Hosanna, Hosanna
Hosana, Hosana
Hosanna in the highest
Hosana nas alturas.”
- Hosanna / Hillsong United

Chamado: Pedir revestimento de Deus.



29. Oséias

“Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.”
- Oséias 6:3

- x - 

Segunda à noite e papai estava em uma visita urgente. Um casal estava para se divorcia após a traição a esposa; e o caso parecia bem mais sério que o meu pai imaginava. Ele não tinha entrado em muito detalhe comigo, e acabou chamando o Zé e tia Kátia para acompanhar ele nessa visita. Então eu estava sozinha e sem ideia do que faria, já tinha tido o meu TSD quando cheguei da cafeteria, não sabia se estava em casa, ele tinha ido viajar para casa dos avós.

Então, coloquei o celular no bolso, peguei as chaves e desci até o apartamento do seu Chico para visitar minha afilhada. A filha de Dara tinha nascido a coisa mais fofa do mundo, era uma linda princesinha que estava sempre vestindo lilás, a cor preferida da mãe. O final do ano tinha sido tão corrido para mim, que acabei me esquecendo de visitar Dara no hospital após o nascimento da pequena, e para ser honesta, eu estava devendo muitas visitas.

— Quem é a linda da dindinha. — disse ao pegar a pequena Carol no colo.
— Que bom que você veio. — ela sorriu ao me entregar a criança — Pensei que tinha esquecido da gente.
— Desculpa. — a olhei chateada comigo mesma — Foi tanta coisa acontecendo nas últimas semanas, esse final de ano foi mais louco que já vi, nem sei como estou sobrevivendo a essa primeira semana de janeiro.
— Você só veio aqui uma vez depois que ela nasceu. — comentou — Deve ter sido mesmo complicado para você.
— Foi, misturou formatura do ensino médio, igreja, trabalho, uma loucura. — fiquei de pé movendo meu corpo suavemente, com Carol aninhada em meus braços — E vocês? Como estão?
— Bem, está tudo bem, graças a Deus. — respondeu ela — Mesmo o pai da Carol não querendo, a princípio, agora depois que conheceu a filha ele aceitou ela.
— Isso é bom.
— Ele até propôs da gente se juntar e morar junto, mas eu não aceitei. — confessou ela — Eu quero começar do zero minha vida sentimental.
— Que bom, fico feliz por sua decisão. — disse com sinceridade.
— É, depois daquela conversa que tivemos da última vez, e você ficou me dizendo que primeiro eu tinha que me amar e me valorizar, cuidar da Carol e ter uma nova perspectiva de vida, eu pensei muito bem. — continuou ela — Da próxima vez que tiver um relacionamento com alguém, farei a corte também.
— Tenho certeza que Jesus vai abençoar. — sorri para ela — E você pensou sobre voltar a estudar?
— Como eu não faltei muito por conta da gravidez, a diretora decidiu me passar uma prova que vale pelo quarto bimestre e eu vou poder ter meu diploma. — respondeu se remexendo no sofá.
— E pretende fazer faculdade ou um curso depois? É bom pensar no futuro. — aconselhei.
— Sim, eu estou pensando em fazer um curso técnico de segurança do trabalho, sempre gostei dessa área, meu pai trabalhava com isso. — ela se mostrou animada com a ideia.

Isso me deixou feliz por ela.

— Que bom. — sorri de leve — Senti sua falta na célula de sábado.
— Você foi?
— Fui.
— Ah, eu até ia, mas a Carol estava enjoadinha, com dores abdominais, acabei nem saindo de casa. — explicou, tinha traços de tristeza sua voz.
— Mas ela está melhor agora?
— Sim, está.
— Vai apresentar ela esse mês?
— Não, o pastor Jonas falou que agora a apresentação de crianças vai ser no primeiro domingo do mês agora, e esse já passou, agora só em fevereiro. — explicou ela — Você aceita um suco? Fiz não tem muito tempo.
— Aceito sim.

Ela se levantou do sofá e seguiu para a cozinha, eu a acompanhei enquanto brincava com Carol.

— Combinei com minha avó, que depois que a Carol ficar maiorzinha, vou deixar com ela para ir trabalhar. — disse ela ao retirar a jarra da geladeira — Esse curso que quero fazer não é caro, mas agora temos a Carol e não posso deixar tudo nas costas deles. 
— Hoje em dia tem sido tudo tão caro mesmo. — fiquei a observando.
— Pois é, mesmo com o valor de pensão que combinei com o pai dela, o preço da fralda já leva tudo quase. — continuou despejando o suco no copo — Não dá.
— Você já tem um lugar para trabalhar?
— Estou pensando em voltar para o sacolão onde fiz um bico uma vez, a dona me conhece e gosta de mim.
— Que bom que já tem um lugar em mente.
— Tenho, é aqui no bairro e o fato de não pegar ônibus ajuda muito. — ela me entregou o copo.
— Essa e a parte boa de trabalhar no bairro onde mora. — concordei ao pegar o copo e tomar o primeiro gole, estava gostoso o suco.
— A parte ruim é que não pode dar desculpas se chegar atrasado. — ela riu — Mas você tem a Carol como desculpa.

Nós rimos. Ficamos mais um longo tempo conversando até que recebi uma mensagem do meu pai perguntando onde eu estava, tinha esquecido de colocar um aviso na geladeira. Fiquei mais uns 10 minutos e me despedi delas, quando estava saindo sua avó chegou e me ofereceu ficar para o jantar, porém desta vez eu não poderia. Chegando no apartamento, meu pai já se encontrava na cozinha preparando a janta, prato do dia: caldo de feijão.

— A Mônica vai se deliciar depois do casamento de vocês pai. — disse em elogio após terminar de comer — A cada dia você se supera, chefe Jonas.
— Sua boba. — ele riu.
— Boba nada, do jeito que a corte de vocês, já estou esperando a data do casamento. — o olhei séria, mas ainda mesmo tempo querer rir na inocência dele — Pai, sem brincadeira, você e a Mônica forma um lindo casal.
— Você acha?
— Tenho certeza, isso é um propósito de Deus, não tem erro. — assegurei — E já estou sonhando com a Lira sendo minha irmã e a gente dormindo no mesmo quarto.
— Esse apartamento vai ficar pequeno. — ele riu — E você, tão animada para dividir um quarto, sabia que tem gente que sonha em ter um quarto só dele?
— Me deixa ter a ilusão de que é legal dividir o quarto com uma irmã. — mantive meu olhar sério.

Ele caiu na gargalhada.

— Pai. — ri junto.
— E como está sua afilhada? — perguntou ele.
— Está bem, uma fofura de princesa. — respondi indo lavar os pratos.
— E você moça?
— Eu o que?
— O que vai querer para seu aniversário desse ano? — ele se sentou no sofá, esclarecendo a pergunta.
— Eu não tenho nada em mente, estou esperando minha corte vim da Coréia sabe. — um sorriso bobo apareceu na minha cara.
— Ah menina, como está a saudade aí?
— Bem forte. — admiti — Fazer corte já não é fácil, a distância então.
— Quando é de Deus, mesmo que seja a distância, tudo dá certo e ficamos em paz. — meu pai e suas palavras de sabedoria de sempre.
— Meu coração está em paz pai, por mais louco que seja, eu não estou me sentindo angustiada ou nada disso. — conclui — E cada vez que converso com ele, meu coração acelera de um jeito doido.
— O amor de vocês está crescendo de uma forma sublime querida, continue assim. — ele sorriu para mim.
— Sim… — voltei para sala e pulei no colo dele — E o senhor continue também crescendo o seu amor pela Mônica, quero uma boadrasta. 

Brinquei fazendo ele rir.
Papai estava feliz com essa nova perspectiva de vida, imaginar que de dois, podemos ser quatro naquele apartamento ainda deixava ele um pouco assustado, eu me mantinha empolgada com tudo. 

Após ver Madagascar pela milionésima vez, fui para o quarto descansar. No meu celular já tinha algumas mensagens de Sunny e me esperando para responder, primeiro mandei para minha cunhada e depois para minha corte.

: Bom dia
: olha quem está em casa
: como sabe que estou em casa?
: sempre que me manda mensagem essa hora, 
você está em casa
: que garoto observador
: sempre observei muitas coisas sobre você, 
já te falei isso antes
: é tão fofo quando você fala isso

Sorri meio boba.

: você me disse que agora é somente supervisora das células, 
como está indo?
: felizmente bem, 
com mais lideres sendo levantados, 
as responsabilidades vão sendo compartilhadas
: isso é bom, você não fica sobrecarregada
e a cafeteria?
: essa sim está pesada, 
o menino que trabalhava no turno da tarde saiu, dobrou o serviço
: quando sai o SiSu?
:  até o final do mês, mas não estou preocupada com isso
: já se decidiu?
: ainda não, mas falta pouco
: Deus abençoe sua decisão.
: amém
vou tomar banho, já volto

Deixei o celular em cima da cama por um tempo, fui para o banheiro e tentei não demorar muito, mas a água estava tão gostosa que desejei ter uma banheira ali para somente relaxar. Vesti meu pijama no banheiro mesmo, antes de voltar para o quarto, fui na cozinha encher minha garrafinha de água, ao passar pela sala, lá estava meu pai babando enquanto cochilava no sofá. Chefe Jonas realmente não aprendeu o caminho da cama.

— Quem sabe depois de casar. 

Sussurrei para mim ao voltar para o quarto.

: ok.

A mensagem de já estava lá.

: demorei?
: não kkkkkkk
: já estou deitada aqui na minha cama, hoje minha oração de bom dia vai ser assim
: está mesmo cansada né?
: muito, parece que ainda estou em ritmo de aula, trabalho e igreja
e nem chegamos em fevereiro
: devo deixá-la ir dormir?
: desta vez sim, sinto que vou me render ao sono em breve
: vai
descanse bem
: bom dia
: bom dia, em breve desembarco aí.

Me espreguicei na cama, sentindo algumas dores nas costas. Agradeci a Deus por meu dia, e quando menos esperei, peguei no sono. Porém, logo às três da madrugada acordei de repente, sabia que era o agir de Deus, estava em busca de intimidade com o Pai, e nada melhor que acordar de madrugada para conversar com o Espírito Santo. Meu corpo não gostava disso, mas meu espírito se deliciava.

“Sublime graça
Doce o som
Que salva o pecador
Fui cego e agora
Posso ver
Perdido e me encontrou.”
- Vasos Quebrados (Sublime Graça) / Hillsong United (versão pt)

Chamado: Conhecer o Senhor Jesus.



30. Joel

"E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões."
- Joel 2:28

- x - 

Entra, tudo aqui é Teu, a casa está pronta… Estamos esperando pra Te encontrar… Brilha Tua Glória e nos envolva com Teu fogo… Vem e toma o Teu lugar… — comecei a dedilhar no violão — Nós invocamos: Acende a chama… E que venha o Teu Reino… Nós nos rendemos e tudo entregamos… Pra sempre cantaremos...
— E aí mana. — disse Davi me interrompendo.
— O que você faz aqui na igreja a essa hora? — perguntei.
— O Jonathan não vai poder vir hoje, por motivos de trabalho, aí vou ficar na mesa som no lugar dele. — explicou ele puxando uma cadeira para perto.
— Que cara de felicidade é essa?
— Comecei a namorar. — anunciou ele com serenidade.
— Namorar? Tipo namorar?
— Sim.
— Sem corte?
— É, resolvi não fazer corte desta vez. — admitiu ele.
— E quem é a garota? Posso saber?
— O nome dela é Lucy, ela é de outro ministério. — respondeu — É líder de dança.
— Que legal, e como se conheceram?
— Você está parecendo minha mãe quando eu contei.
— Mas é normal, estou fazendo perguntas rotineiras, para entender. — ri dele.
— Conheci ela no casamento do civil da Layla.
— Ah.. A Lucy amiga da prima da Layla?
— Ela mesma.
— Tem certeza que vocês vão namorar assim? Davi, hormônio não converte, nós sabemos que quando rola contato físico é complicado se segurar. — o chamei a realidade — É complicado ter um namoro comum e manter a santidade do relacionamento.
— Eu sei, mas ela não concordou com a corte e depois da Lira, fiquei desencantado. — confessou ele, seu olhar tinha um pouco de frustração.
— Não deveria pensar assim e basear um relacionamento em outro que não deu certo. — retruquei — E também, pensei que você tivesse superado não ter dado certo.
— Ah, sei lá, acho que a corte não funciona para mim, só para os outros. — reclamou ele.
— Deixa disso Davi, a corte é para todos. — o repreendi — É uma questão de fé meu amigo, fé e esperar em Deus.
— Vou provar do namoro e depois penso se é isso mesmo. — ele se levantou da cadeira — Eu já falei com o pastor Jonas, não é pecado namorar normal.
— Não, mas é mais perigoso.

Davi era um jovem crescido e sabia diferenciar o certo do errado, não seria eu a babá do relacionamento dele. Voltei para meu ensaio até que os outros chegaram para passarmos a músicas que levaríamos nesta noite. Após o culto, me aproximei de Joseph, que estava sentado na cadeira lendo exatamente o capítulo que foi ministrado por meu pai naquela noite. 

— Olá. — disse ao me sentar do seu lado — Como está indo?
— Bem, graças a Deus. — respondeu ele — E você?
— Digo o mesmo. — ri de leve — Jullian me contou que está pensando em fazer a prova do enem para conseguir o diploma do ensino médio.
— Sim, eu deixei passar a oportunidade de me formar ano passado, agora tenho que recuperar o tempo perdido. — admitiu ele, meio sem graça.
— Nunca é tarde para seguir em frente e almejar coisas novas. — sorri para ele — E como está indo sua busca por Deus? Já leu o livro que te recomendei?
— Qual deles? Caçadores de Deus?
— Sim. — assenti.
— Nosso pai. — ele abriu um largo sorriso.

Algo raro de acontecer era Joseph sorrir.

— Eu devorei aquele livro, me deixou com mais sede ainda. — revelou ele animado — Sinto que ainda tenho muito a aprender e descobrir.
— Acredite, nós sempre teremos algo para aprender. — confessei — Estou muito feliz por você.
— Obrigado, quem iniciou isso tudo foi você .
— Eu?!
— Sim, você não desistiu de mim. — seu olhar de gratidão era fofo.
— Pois saiba que primeiro quem não desistiu de você foi Jesus, e foi Ele que começou tudo isso na cruz há 2018 anos atrás. — sorri para ele.
— Verdade. — ele ficou meio envergonhado — Agradeço a Jesus por você ter entrado na minha vida.
, Joseph. — Lira se aproximou de nós — Desculpa atrapalhar vocês.
— Não atrapalha não. — arrastei a cadeira pra ela se sentar — Fica aqui com a gente.
— Valeu mana. — disse ela, tentando não encarar muito Joseph.

Eu já tinha notado sim os olhares de Lira para ele, desde quando eu a conheci e Joseph era o menino rebelde da escola. O que me deixava na expectativa do momento em que esse possível casal pudesse se tornar real, lá no fundo eu já imaginava que Lira e Davi não iriam seguir adiante com a corte deles. E desta vez sentia que se por acaso o shipp Lira de Joseph entrasse em corte, certamente daria certo. Entretanto, não iria me empolgar muito, já que minha amiga estava com seus pensamentos no curso de medicina da federal.

— Além do diploma, você pensa em continuar estudando Joseph? — perguntei curiosa — Eu acho que seria bom você continuar.
— Estou pensando em cursar direito. — disse ele.
— Sério?
— Se quiser ajudar para estudar, minha mãe cursou direito e agora atua como advogada. — disse Lira de imediato, tentando se conter.
— Eu vou agradecer muito se ela puder me ajudar. — ele sorriu de canto meio tímido — Mas ao contrário da sua mãe, eu pretendo entrar para a polícia federal.
— Você gosta disso?
— Sempre sonhei em ser policial, mas não quero militar ou civil, quero ser federal. — respondeu ele.

Parecia mesmo gostar, pois seus olhos brilharam.

— Tem nosso apoio Joseph. — assegurei — É sempre bom lutar por nossos sonhos, e sendo da vontade de Deus, você vai conseguir sim.
— Verdade. — Lira concordou — Eu estou aqui, à espera do meu resultado no curso de medicina.
— Meu pai está me chamando. — disse me levantando despistadamente — Já volto.

Claro que aquilo era uma estratégia para deixar eles sozinhos e possivelmente criarem espaço para uma possível amizade. Joseph ainda era muito fechado, apesar de se abrir para mim, meu pai, o Jullian, Davi, o obreiro Zé e tia Kátia, ele ainda se mantinha resistente em fazer mais amizades na igreja. Claro que nem todos deveriam saber tudo sobre sua vida, mas seria legal ele se socializar e ter comunhão com os irmãos.

— O que deseja mocinha?! — disse meu pai assim que eu o abracei.
— Só dar uma forcinha para uma possível amizade. — disse apontando discretamente para o meu novo possível casal.
— Lá vem você, quer ver todo mundo fazer corte. — disse ele segurando o riso.
— Posso confessar algo?
— Diga.
— Acho que Lira sempre gostou dele, desde o dia que a conheci eu observei isso. — estava sendo honesta em minhas indagações — E pensando comigo agora, realmente é real.
— Vamos deixar Jesus trabalhar, se for propósito dele. — o olhar sereno do meu pai me passou tranquilidade.
— Sim, tem razão. — sorri de leve — E você?
— Eu o que?
— Quando vai recitar cantares para Mônica e pedir ela em casamento? — coloquei a mão na cintura.
— Ah menina, para de brincar com coisa séria. — ele me olhou sério.
— O senhor disse que com a permissão de Deus sua corte não seria de dois anos. — cruzei os braços o lembrando.
— Casamento é algo sério. — ele tinha razão — Mas estou mesmo pensando em conversar com a Mônica sobre isso.
— Meu coração se enche de felicidade pai. — o abracei novamente.
— Vamos para casa?
— Por favor. — dei um beijo em seu rosto.

Os dias se passaram e finalmente retornou, seu desembarque foi tranquilo assim como o voo. Sunny e missionário Han não vieram desta vez, somente ele, confesso que minha curiosidade maior é em conhecer a ajumma madrasta dele. Sábado à tarde, combinamos de nos encontrar após a minha saída da cafeteria, tinha dado a ideia de um encontrão dos jovens no mirante do parque das Mangabeiras. Era interessante voltar ao lugar que o vi pela primeira vez, agora fazendo corte com ele.

Mandei uma mensagem a Joseph o incentivando a participar daquele encontro, seria um momento especial que ele poderia ter a oportunidade de também receber seu batismo que tanto buscava. 

— Então, estamos aqui reunidos não somente como um momento de comunhão e diversão. — pronunciou Layla — Mas também, estamos aqui para ter um momento de intimidade com o Pai. 

Layla como sempre estava lá, seu amor por coisas desse tipo era visível. Charles a acompanhava, eu os admirava ainda mais, ambos mesmo casados no civil, estavam se mantendo em corte até se casarem na igreja. Infelizmente por problemas da saúde da mãe de Charles, tiveram que adiar o casamento na igreja para março. 

— Já tivemos o nosso momento de louvor com o . — continuou Charles — Agora, convido a todos a buscar um lugar e se entregar a Deus, busquem como se hoje fosse o último dia da vida de vocês. Este momento foi reservado para isso, para que todos aqui presentes possam ter essa oportunidade de buscar a glória de Cristo.

Eu e decidimos fazer uma oração juntos primeiro, para que Deus continue abençoando a nossa corte. Seguimos para perto de uma árvore e começamos. Era bonito vê-lo orar em português, porém havia alguns momentos em que ele começava a falar coreano e minha mente fundia um pouco. Até que chegou o momento em que eu me concentrei totalmente em minha oração e comecei a orar em línguas.

Confesso que não gostava muito de orar em línguas perto de outras pessoas, mais já tinha dado minha palavra ao Espírito Santo que não iria me reprimir em minhas orações, sendo de portas fechadas ou não. 

Entra, tudo aqui é Teu, a casa está pronta… Estamos esperando pra Te encontrar… Brilha Tua Glória e nos envolva com Teu fogo… Vem e toma o Teu lugar… — de forma suave e espontânea comecei a louvar — Nós invocamos: Acende a chama… E que venha o Teu Reino… Nós nos rendemos e tudo entregamos… Pra sempre cantaremos...

Meu coração se encheu de alegria. De mãos dadas a , eu estava e assim permanecemos, com nossos dedos cruzados, começamos a chamar a presença de Jesus para nossas vidas. Mais e mais. Fazia tempos que meu coração pedia para sentir Deus de uma forma diferenciada, ansiava por mais da presença de Cristo em meu ser.

Hosana, Hosana… O Noivo vem… O Noivo vem… — continuei a canção — Hosana, Hosana… O Noivo vem… O Noivo vem.

Por um breve momento, abri meus olhos e olhei na direção de Joseph. Ele estava ajoelhado sobre a grama, em lágrimas e de braços estendidos, seus lábios se mexiam mas nenhum som saía, sua oração estava sendo feita diretamente pelo seu coração. Foi neste momento que senti dentro de mim que assim como eu há dois anos, ele também estava recebendo seu batismo com o Espírito Santo, naquele mesmo lugar.

"I am a flower quickly fading
Eu sou uma flor que vai murchando
Here today and gone tomorrow
E que logo então se esvai
A wave tossed in the ocean
Uma onda no oceano,
Vapor in the wind
Um vapor ao vento.
Still You hear me when I'm calling
E ainda escutas quando clamo.
Lord, You catch me when I'm falling
Senhor, me levantas quando caio
And You've told me who I am
E me dizes quem eu sou

I am Yours.
Eu sou Teu.”
- Who Am I (SiWon) / Super Junior

Chamado: Se entregar inteiramente a Deus.



31. Amós

"Assim diz o Senhor à nação de Israel: Busquem-me e terão vida."
- Amós 5:4

- x - 

Estar naquele mirante foi mesmo um tempo precioso que me fez aproveitar cada minuto. Estar na companhia de também foi lindo, pois podíamos aprender ainda mais um do outro e matar a saudade. Passamos a noite toda ali em oração, louvores, dinâmicas divertidas e ministrações. Até que amanheceu e retornamos para casa. me levou até em casa com Layla e Charles, então foram embora. Assim que cheguei, meu pai já estava acordado passando o café da manhã.

Era estranho para mim pensar que não teria mais aulas de manhã. Ainda não tinha escolhido meu curso e nem decido meu futuro acadêmico, mas sabia que a resposta viria de Deus para mim. Me formei no ensino médio e já estava na fase adulta da vida, meus 18 anos tinha chegado, silencioso e tranquilo. 

— Bom dia pai. — disse ao me aproximar dele e lhe dar um beijo na bochecha.
— Bom dia querida. — ele sorriu — Como foi no mirante?
— Foi muito bom. — respondi — Me lembrei da primeira vez que vi o .
— Foi lá?
— Sim, incrivelmente há dois anos. — completei — Meu coração se encheu de alegria e do Senhor Jesus essa madrugada, foi tão bonito, todos orando e louvando. Por mais momentos assim.
— E foi muita gente?
— Foi, o Joseph foi também, ele foi batizado com o Espírito Santo. — senti meus olhos brilharem.
— Que lindo querida. Fico feliz por aquele rapaz estar se abrindo mais para Deus, me preocupa muito os ressentimentos que ele ainda guarda do pai. — o olhar do meu pai era mesmo de preocupação.
— Tenho certeza que logo Joseph encontrará forças para perdoar seu pai e recomeçar. — disse com esperança.
— Ele já está encontrando, quanto mais ele se entregar para Deus, mais força ele terá para enfrentar tudo isso e ter uma nova vida. — meu pai sorriu — Mudando de assunto.
— Hum… — cruzei os braços e me encostei de leve nas costas do sofá o olhando.
— Vou conversar hoje com a Mônica para marcarmos nosso noivado. — anunciou ele.
— Uhuuulll... — fiz festa sorrindo — Finalmente chef Jonas, agora a Mônica pode falar que o marido dela tem dois empregos.

Nós rimos.

— O senhor gosta mesmo dela né?! — o olhei atentamente.
— Sim, a Mônica é uma mulher sensacional, quando conversamos é como se nosso pensamentos sobre os assuntos se complementassem tão naturalmente.
— Me sinto assim também com o . — concordei.
— E consigo ver o quão de fé ela é, corajosa, guerreira. — continuou ele com segurança — Uma mulher que sei que posso contar também como amiga. Nos tornamos amigos nesse tempo de corte.
— Fico feliz pelos dois. — afirmei — A Mônica é um amor de pessoa. Já pensou em uma data definida?
— Final de março. — respondeu ao despejar um pouco de café na xícara.
— Boa data, porque em abril é o casamento religioso da Layla.
— E por falar em Layla, o que rolou que ela não se casou logo?
— A mãe do Charles adoeceu e ele tiveram que cancelar, só casaram no civil e continuam fazendo corte até sair o religioso.
— Nossa que loucura.
— Pois é, ela está ficando na casa dos pais ainda. — expliquei — Mas os dois continuam na maior animação, mesmo esperando a benção final.
— Eles estão sendo um bom exemplo para muito casal. — comentou papai.
— Isso é verdade.
— Vamos tomar café? — perguntou ele.
— Claro. — me afastei do sofá e abri a porta do armário, tirei minha xícara de dentro — Está com um cheiro gostoso.
— Está de jejum de novo? — perguntou ele curioso — Já tem dias que não te vejo comendo chocolate.
— Estou. Jejum da corte. — expliquei.
— Hum… E o ?
— Também, ele fez de frango e animes, eu fiz de chocolate e séries. — expliquei — E enquanto isso, continuamos nos conhecendo.
— Olha… E o que mais sabe sobre ele?
— Hum... — despejei um pouco de leite sobre o café na minha xícara e peguei um pedaço do bolo de cenoura que ele fez — Seus pais divorciaram quando ele tinha dois anos, a mãe dele foi para os Estados Unidos tentar ser modelo, mas não rolou, o pai dele demorou um tempo para se recuperar até que se casou de novo, foi antes dele ser missionário, então depois do casamento com a ajumma Sora, a Sunny veio ao mundo.
— Ajumma?
— É uma forma de tratamento coreana usada para se dirigir às mulheres mais velhas e casadas. — expliquei.
— Que interessante.
— Pois é, o está me ensinando coreano.
— Hum… E você está pensando em ir para lá? — ele colocou a mão na cintura e me olhou atentamente.
— Ainda não tenho esta resposta, já falei. — eu ri.

Tomamos o café da manhã e conversamos mais um pouco sobre os próximos eventos da igreja. Tinha muito a se fazer ainda e o galpão que alugamos precisava de uma nova reforma no telhado, pois estava tendo infiltrações causadas pelas chuvas. Neste tempo, eu dividiria meus dias em cafeteria na parte da manhã, pois tinha mudado de horário, e ajudar com as coisas da igreja no restante do dia. Mesmo tendo vindo para o Brasil passar um tempo perto de mim, ele também tinha alguns compromissos com a igreja onde Layla congregava. Mas sempre nos encontrávamos no final da tarde para conversar.

Uma semana se passou bem rápido. No domingo pela manhã, papai reuniu todos da liderança na casa do obreiro Zé para comemorar seu noivado com Mônica. Ele já tinha conversado com o pastor James para realizar o casamento religioso. Um dia feliz para meu pai e sua noiva, como também para mim e Lira. 

— Ainda estou estática com tudo isso. — disse Lira ao me abraçar — Seremos irmãs.
— Sim. — assenti retribuindo o abraço — E vamos dividir o quarto.

Brinquei rindo com ela.

— Dividir o quarto é o de menos para mim. — comentou ela — Sempre fiz isso com a mamãe.
— Pois para mim é novidade e eu estou curtindo a ideia. — afirmei.
— Que ideia? — perguntou ao se aproximar de nós e segurar em minha mão.
— De dividir o quarto com a Lira. — expliquei.
— Eu divido o dormitório da universidade. — comentou ele dando uma risada rápida — É complicado.
— Como é a universidade lá no seu país? — perguntou Lira.
— São boas, tem uma boa estrutura, os alunos podem ficar nos dormitórios, os professores são muito bons, só na semana que provas que todos surtam.
— Mas isso até aqui no Brasil acontece. — brinquei.
— Verdade. — ela riu — E eu já estou me preparando para a vida acadêmica.
— Você passou?
— Sim, Lira, ou melhor futura doutora Lira, será a nossa pediatra da família. — respondi a ele.
— Parabéns. — sorriu — Medicina é um curso muito trabalhoso.
— Sim. — concordou ela.
— Arquitetura também. — comentei — Eu vi aquela apresentação que você me mandou, fiquei chocada.
— Olha as futuras irmãs. — disse Isla ao se aproximar de nós, com os outros do nosso grupo de amigos.
— Vocês duas parecem mesmo irmãs. — comentou Jullian — Sempre juntas.
— Oi . — cumprimentou Davi — Nem vi que estava aqui.
— Você acabou de chegar Davi. — retruquei o olhando — Onde estava?
— Na casa da minha namorada. — respondeu ele.
— Ainda estou chocada que ele está namorando. — disse Yasmin.
— Não existe só a corte na vida. — Davi cruzou os braços.
— E como está a Lucy? Ela não quis vim? — perguntei.
— Não. Ela está com crise de sinusite. — respondeu ele.
— De crise de sinusite eu entendo. — disse Isla em risos.
— Joseph veio? — perguntou Lira de repente — Eu não o vi.
— Ele veio sim, as foi embora rápido. — respondi — Meu pai foi falar com ele, não sei o que, ele foi embora.
— Ele tem mesmo uma madrasta? — perguntou Madu — Nunca soube se era verdade.
— Ele morava com a avó dele, ele tinha uma madrasta, mas ela separou do pai dele quando ele tinha doze anos. — expliquei — Mas o que importa agora é que ele está se enturmando com a gente.
— É, foi bom ele ter ido morar comigo, além de dividir as despesas, ele tem desabafado bastante comigo. — comentou Jullian — Notei que ele nunca teve amigos de verdade.
— Eu também notei isso. — concordei — É muito bom essa aproximação.
— Gente, e por falar em aproximação, o Pablo me disse que depois do casamento, o Charles e a Layla vão vir pra nossa igreja. — comentou Madu.
— Sério? A Layla com a gente? — Yara olhou surpresa.
— Ela comentou isso comigo mesmo. — confirmei — Ela me disse que eles vão morar aqui no bairro e fica mais perto para os dois. 
— Sim. — Madu pegou o celular no bolso — Ela está super ansiosa para a cerimônia no religioso.
— Gente que loucura isso, os dois ainda fazendo corte mesmo depois do casamento no civil. — Yasmin parecia surpresa — Parece surreal isso.
— Eu acho lindo a força deles de esperar até o final. — comentou Isla — Assim será com a gente. — ela olhou para Pietro, que sorriu de volta.
— Conosco também. — me olhou e sorriu.
— Mesmo com a distância. — assegurei.
— Estou curiosa para perguntar, como é namorar a distância? — perguntou Yara.
— Você já fez essa pergunta. — eu a olhei.
— Desculpa, é que é muito louco. — disse ela — Vocês dois são tão fofos juntos.
— Verdade. — concordou Lira.

Nós continuamos a conversar mais um pouco, até que voltamos para sala. Aquele momento de comunhão foi descontraído e divertido, todos comemorando o noivado do papai com a Mônica. Desejando felicidades e benção de Deus para eles. Os dias que seguram meu pai anunciou a novidade no culto de quarta-feira. Foi desagradável notar que tinha alguns membros murmurando sobre o assunto, sendo contra o casamento deles. Triste e lamentável, que as pessoas que se levantaram contra, eram conhecidas da Mônica. Mas não iríamos dar ouvidos a isso, o que importava era a benção de Deus no relacionamentos deles.

No sábado à tarde, e eu fizemos um passeio na praça da Liberdade. Sem nada planejado, a única coisa que faríamos seria sentar em algum banco e ficar conversando sobre assuntos aleatórios. Aproveitando nosso tempo juntos.

— Você vai conseguir ficar até o casamento da Layla? — perguntei ao desviar meu olhar para o canteiro de rosas em nossa frente.
— Possivelmente sim. — respondeu ele — Apesar das minhas aulas já terem começado.
— Isso não vai te prejudicar?
— Não, tenho muitos créditos com meus professores. — ele segurou em minha mão entrelaçando nossos dedos — Me esforcei bastante ano passado para ter mais tempo com você esse ano.
— Posso te fazer uma pergunta boba?
— Pode. — ele riu.
— O que você viu em mim?!
— Eu vi Deus, em sua vida. — senti seu olhar vindo em minha direção — Vi Ele na forma que você sorri, no seu olhar e em como você louva com tanto amor. Fiquei impactado.
— Hum…
— Também vi o quanto você é meiga e delicada, a alegria que transmite para as pessoas em sua volta. — ele continuou me olhando — Você não é somente linda, mas é inteligente, criativa, uma grande amiga, verdadeira e sincera, conversar com você é como se os assuntos não acabassem.
— Tudo isso? — eu o olhei.
— E você? O que você viu em mim?
— Eu também vi Deus em você. — disse repetindo sua resposta — Seu olhar me chama atenção e faz meu coração acelerar um pouco, seu sorriso me transmite paz e me sinto seguro quando estamos perto um do outro. 
— Hum… — ele sorriu.
— Você é bonito, inteligente, gosta de quase tudo que eu gosto, louva de olhos fechados como eu, sua voz é marcante…
— Gosta da minha voz?
— Muito. — sorri para ele.

respirou fundo e olhou para frente. Eu não entendi o que tinha acontecido, mas ele parecia estar se controlando naquele momento. Acho que esse era o momento da corte em que precisávamos ter ainda mais fé e força para aguentar. 

. — disse.
— Sim.
— Esta madrugada estava orando, e recebi minha resposta. — contei.
— E qual foi?! — ele me olhou novamente.
— Eu decidi que vou para Coreia estudar lá. — respondi — Você me ajuda?
— Com maior prazer.

Ele abriu um dos sorrisos mais fofos que eu já vi. Seu olhar brilhou um pouco com esta notícia. Claro que seria o início de mais uma batalha com os livros em minha vida, mas estava preparada e com o apoio de Deus.

 

“The sun comes up, it's a new day dawning
O sol nasce, é um novo dia despontando
It's time to sing your song again
É hora de cantar Sua música de novo
Whatever may pass and whatever lies before me
O que quer que possa passar e o que esteja diante de mim
Let me be singing when the evening comes
Deixe-me cantar quando a noite vier
Bless the Lord, oh my soul
Bendize, ó minha alma
Oh my soul, worship his holy name
Ó, minha alma, adorar o seu santo nome”
- 10,000 Reasons / Jesus Culture

Chamado: Buscar a Deus em todas as situações.



32. Obadias

"Mas no monte Sião estarão os que escaparam; ele será santo e a descendência de Jacó possuirá a sua herança."
- Obadias 1:17

- x - 

Duas semanas se passaram e finalmente o casamento de Layla e Charles pode ser realizado na igreja. Após algumas lutas e semanas de espera, os recém-casados puderam finalmente concluir mais um ciclo em suas vidas e iniciar outro: o de casados. Layla ficou linda no vestido de noiva, e como sempre sua personalidade extrovertida divertiu muito a todos na pequena recepção que ela fez na casa dos seus pais.

— Gente, eu não aguentava mais, agora é correr pra benção. — brincou ela ao se aproximar da nossa rodinha de jovens.
— Finalmente né cunhada. — Pablo riu dela — Não aguentava mais dividir o quarto com o Charles, leva esse menino logo.
— A benção já é minha. — disse ela rindo também — Não solto mais.
— Enfim, casamos duplamente. — disse Charles ao abraçar ela por trás.
— Estamos muito felizes por vocês dois. — disse ao sorrir para eles.
— Vocês são um exemplo para nós de perseverança e fé. — disse Isla. 
— Com certeza. — concordou Yasmin — Já estou no propósito de oração, quero minha benção também.
— Que isso menina, você só tem 18 anos, ainda está nova. — disse Jullian.
— A gente começa é de cedo. — eu a defendi — Orar nunca é demais.
— Isso é verdade. — me olhou — Eu comecei a orar pela minha vida sentimental quando tinha 11 anos de idade. 
— Sério? Isso você não me contou. — disse a ele.
— Agora fiquei impressionada. — disse Layla — Deus caprichou para você em .

Sua brincadeira fez todos rirem e brincarem com nós dois também.

— Demorou um pouco para chegar, porque ela mora longe. — disse em risos.
— Pois é. — concordei rindo também.
— Seu casamento foi lindo Layla. — elogiou Yara — Fiquei mega emocionada.
— Eu também, quando Charles cantou para você. — Madu olhou para o Pablo — Então garoto do louvor.
— Eu só toco querida. — Pablo se defendeu — Você que é do vocal.

Todos riram.

— Pegou para você Madu. — Jullian riu dela.
— Onde está a Mia? — perguntei olhando em volta.
— Ela foi no banheiro com a Lira. — respondeu Yara.
— Não vi o Benício e o Benjamin também. — disse Yasmin.
— Eles estão no aniversário da avó deles, só foram na igreja mesmo. — explicou Jullian.
— Ultimamente tem sido difícil juntar a turma toda. — comentou Madu.
— Verdade. — concordei — Todo mundo com afazeres.
— E o Davi? — perguntou Isla.
— Ele está na sala com a namorada dele. — respondeu Layla — Gente, é amiga da minha prima, mas eu não me dou bem com ela.
— Sério? — eu a olhei.
— Sim, oh menina atribulada. — continuou ela.
— Deixa pra lá. — disse Charles — Vamos curtir nossa festa.
— Vocês vão viajar? — perguntou Pietro.
— Ganhamos de presente uma semana na praia. — respondeu Layla — Já estou me preparando pra voltar bronzeada.
— Vai ficar mais linda ainda. — Charles deu um beijo na bochecha dela.
— Fico pensando quem será a próxima na lista do altar. — comentou Yara.
— A Isla claro, pela idade os mais velhos na frente. — brincou Yasmin fazendo todos rirem.
— Com certeza sou eu. — Isla abriu um sorriso — Farei questão de mandar o meu buquê na sua mão Yasmin.
— Recebo essa benção miga. — ela riu.
— Só falta o varão aparecer. — Jullian a olhou — Até eu estou fazendo corte agora.
— Não acredito que você passou na minha frente. — ela balançou a cabeça negativamente.
— Calma amiga, sua hora vai chegar. — consolou Madu, segurando o riso.
— Tenho pressa não, estou agora é sonhando com meu curso de moda na federal. — disse Yasmin com satisfação.
— Nem fala de curso, não passei em psicologia no ProUni, mas farei Letras na uemg de Ibirité. — comentou Isla.
— Gente, temos que ir ali dar atenção para os outros convidados. — disse Layla já puxando o Charles juntos.
— Uemg de Ibirité?! Não é longe? — a olhei surpresa.
— Sim, mais meu lindo Pietro, vai me buscar de moto, porque vou estudar à noite. — explicou ela.
— Cuidado, é perigoso gente, e é longe. — comentou Yasmin.
— Federal também é longe. — Isla a olhou.
— Mas eu vou estudar de manhã. — retrucou ela.
— Feliz o jovem que pode estudar de manhã. — comentou Isla.
— Nós estudamos o dia todo na Coréia. — comentou .
— Federal também, já soube que existe matérias optativas que são à tarde. — explicou Yasmin.
— E eu aqui só de boa em jornalismo. — disse Madu.
— Você passou em jornalismo? — disse Lira ao voltar com Mia.
— Sim, tentei a primeira opção de marketing, mas consegui só meio bolsa e tava caro, fiquei com jornalismo na Una, ganhei bolsa integral do ProUni. — explicou ela.
— Eu estou sonhando com minha medicina na federal. — disse Lira ao abrir um largo sorriso.
— Todos digam adeus a vida social de Lira. — brincou Jullian.
— Nossa, medicina é cabuloso. — disse Yara — Eu também quero moda.
— Estou feliz, se não fosse medicina para ser pediatra, tentaria pedagogia. — contou ela.
— Cada um com seu dom. — disse Pietro.

Em meio a conversa, segurou mais forte em minha mão e me puxou para o lado. Saída estratégica na direita, seguimos até meu pai que estava com Mônica.

— Pastor Jonas, contei ao meu pai sobre seu casamento, ele mandou felicitações. — disse .
— Agradecemos. — papai olhou para Mônica e sorriu — Pena que ele não poderá vir.
— Nem eu poderei estar presente, mas estou feliz por ambos. — disse .
— Você volta quando? — perguntou Mônica.
— Daqui dois dias. — respondeu ele.
— Que tal um almoço amanhã?! — sugeriu meu pai — Almoço de família.
— Seria legal. — olhei para .
— Para mim é uma honra. — ele sorriu.
— E quando eu digo família, você e Lira estão no pacote. — brincou meu pai com Mônica.
— Nós iremos. — consentiu ela.

Eu já me vi animada com o tal almoço que papai ofereceu. Mesmo o dia sendo de festa, estava um pouco triste por ter que voltar para seu país, porém não me deixaria abater. Apesar da saudade que voltaria com sua partida. 

Domingo de manhã, acordei cedo com papai e fomos à feira comprar os ingredientes para seu almoço. Primeiro ele pensou em fazer seu tradicional strogonoff de frango, mas não poderia comer. Então, a opção vencedora era lasanha bolonhesa com salada de alface. Não me contive em observar a empolgação e dedicação do meu pai, não somente em comprar os ingredientes, como também no preparo do almoço.

— Que lindo vê-lo cozinhando chefe Jonas. — elogiei ele ao me ajoelhar no sofá, voltada para a cozinha.
— É um almoço especial. — explicou papai com sua animação, ao cortar os tomates que colocaria no molho caseiro.
— E o cheiro já está rescindindo a casa. — comentei.
— E o ?
— Mandou a mensagem dizendo que já está vindo. — respondi — Mônica e Lira também.
— Meu coração, agora fiquei nervoso. — disse ele.
— Deixa de bobeira pai. — ri dele.

Me afastei do sofá.

— Vou esperar eles lá embaixo.
— Tudo bem. — disse ele.

Saí pela porta e desci as escadas. Quando cheguei no hall, Joseph estava parado na calçada olhando a rua. Fiquei curiosa por ele estar ali.

— Joseph. — disse ao sair do prédio — O que faz aqui?
— Estou esperando a Lira. — respondeu ele — Ela vai me emprestar uns livros da mãe dela, e eu vim buscar.
— Ah… Ela e a Mônica vão almoçar com a gente. — expliquei — Está tudo bem com você?
— Sim, graças a Deus. Por que?
— É que está meio distante.
— É que seu namorado, corte, não achei que fosse legal ficar conversando com você sempre. — ele tentou se explicar.
— Joseph, eu já contei sobre você para o . — disse tranquilamente — Não precisa se afastar de mim por causa dele, pelo contrário, faz questão de ser amigo dos meus amigos.
— Me desculpa, eu fiquei meio sem jeito de me aproximar. — ele deu um sorriso fechado.
— Pois não fique. — sorri de leve, e me sentei no beirão do canteiro ao lado — Como está sua avó, ela já saiu do hospital?
— Sim, foi somente um resfriado. — disse ele — Ela já estava com a imunidade baixa, precisou ficar internada, mas está bem melhor.
— Isso é bom, um alívio. — voltei meu olhar para a rua — Jullian me disse que você está fazendo um bom serviço na empresa que estão trabalhando.
— O encarregado é um cara legal, e o serviço é fácil. — comentou ele.

Eu comecei a rir do nada.

— O que foi? — perguntou ele.
— É que, eu me lembrei do culto de quarta, que você e a Lira sentados juntos. — comentei — Achei fofo.
— Eu e a Lira? — ele me olhou confuso.
— Sim, o que acha dela?
— Ela é legal, conversamos às vezes na célula. — respondeu ele — Parece ser uma boa amiga.
— Ela é uma boa amiga. — confirmei — Mas só isso?
— O que quer ouvir?
— Não sei. — eu ri.
— Lira é… Eu gosto de conversar com ela. — confessou ele — Por que está perguntando isso? A Lira falou alguma coisa?
— Não, ela nem sonha que eu te perguntei isso.
— Ah. — ele me olhou meio vergonhoso.
. — disse ao se aproximar.
— Oi . — voltei meu olhar para ele e sorri — Chegou rápido.
— Sim, o Pablo me deu uma carona. — explicou ele.
, já conhece o Joseph. — disse.
— Bom dia Joseph. — sorriu de leve — Prazer.
— Prazer. — Joseph permaneceu sério.
— Joseph está esperando a Lira. — disse com tranquilidade — Senta aqui, espera com a gente.
— Claro. — se sentou ao meu lado — Joseph, me disse que vai começar a estudar para tentar o curso de direito.
— Sim, é o meu sonho. — afirmou.
— Que Deus abençoe seus estudos. — disse .
— Amém, obrigado.

Eu fiquei em silêncio observando os dois começarem a conversar sobre o curso de Joseph. tinha um amigo do curso de direito na universidade dele, foi um gancho para ambos se jogarem na conversa. Ficamos ali até que Mônica e Lira chegaram. Eu e entramos na frente com Mônica, enquanto Lira permaneceu para falar com Joseph. 

O almoço foi fantástico e papai se superou mais uma vez na cozinha. Estava feliz por Deus me ter dado aquela família. Mesmo ainda não sendo oficial, tanto o casamento do papai com a Mônica, como também meu futuro com , eu já sentia que sim, estávamos em família. 

Meu coração se aqueceu completamente por isso.

“There is a river where goodness flows
Há um rio que flui bondade
There is a fountain that drowns sorrows
Há uma fonte que afoga mágoas
There is an ocean deeper than fear
Há um oceano mais profundo do que o medo
The tide is rising, rising
A maré está subindo, subindo.”
- In The River / Jesus Culture

Chamado: Manter uma vida reta em Deus.



33. Jonas

"Jonas obedeceu à palavra do Senhor e foi para Nínive."
- Jonas 3:3

- x - 

Final de abril.
já tinha retornado para seu país e voltamos a rotina de conversas pelo kakaotalk.

: Diga a Sunny que estou com saudades dela quando for para casa.
: pode deixar, eu digo
kkkkkkkkkkkkk...
: e como estão as aulas?
conseguiu terminar aquele projeto?
: ainda preciso terminar alguns cálculos, tenho um amigo na engenharia que está me ajudando, e com meu estágio, tudo fica mais pesado
: você consegue, Deus ajuda.
: disso eu não tenho dúvidas, mas tenho um professor aqui que parece não gostar de mim
: por que?
: mesmo sendo o melhor aluno, ele sempre coloca defeitos nos meus trabalhos de expressão gráfica
: espinho na carne kkkkkkkk
talvez seja pra você se manter humilde, bom aluno
: não tinha pensado nesse ângulo e você?
como estão os estudos?
: aquela apostila que me enviou está sendo muito bem aproveitada
: tem certeza?
: sim... claro que algumas coisas tenho que correr no google para pesquisar, mas com vídeos aulas também ajuda
: fico feliz em poder ajudar,
só de imaginar você morando aqui ano que vem
: meu coração acelera
: o meu também
: vou dormir mais cedo hoje, amanhã é um grande dia na igreja
: bom dia e bons sonhos
: bom dia.
: me mande fotos...
: ok.

Domingo à noite no culto, a igreja se enchia de alegria, celebrando a 2ª festa de multiplicação das células e a consagração de mais líderes de célula. Nosso ministério estava crescendo, uma benção, mais também os comentários maldosos cresciam junto. Meu pai não dava ouvidos e nem se preocupava com isso, o que importava é a direção de Deus em tudo que fosse feito. 

Nesta multiplicação, contávamos com 12 células de adultos com o obreiro Zé, Justino e Natanael sendo levantados como supervisores, 8 células kids que ficariam na supervisão de Kátia e Esther e 9 células de jovens/adols com a supervisão de Davi e Isla. Eu não ficaria sobrecarregada, pois os outros departamentos da igreja também tinham seus supervisores. Como Jullian agora à frente da consolidação, Mira no diaconato e dona Muriel na intercessão. Eu continuava sendo a responsável geral pelo louvor, sendo auxiliada pela Madu. 

Mas mesmo com tantas pessoas sendo responsáveis pela supervisão dessas áreas, eu mantinha minha atenção neles e relatava tudo ao meu pai. 

— A festa foi linda pai. — disse assim que entramos no apartamento.
— Sim, todos estavam animados. — comentou ele — Os líderes também.
— Dois anos que estamos aqui, muita coisa aconteceu. — comentei ao me sentar no sofá.
— Verdade. — ele se sentou ao meu lado — E achamos que não daria conta.
— Mas Deus nos deu força. — completei — E nos deu a chance de aumentar nossa família.
— Sim… E essa surpresa eu nem imaginava que teria.
— Jesus gosta de surpreender seus filhos. — sorri apoiando minha cabeça no ombro dele, me aninhando em seu braço direito.
— Fico pensando em como seria se sua mãe estivesse aqui. — comentou ele — Claro que eu não me casaria com a Mônica, mas como seria nosso ministério com ela.
— Com certeza eu não teria tanta coisa para supervisionar. — isso era um fato.
— Só pensa nisso?
— Não pai. — eu ri.
— Sua mãe surtaria com sua corte. — ele riu também.
— Acho que não, ela sempre falava que eu iria casar com o Kento. — retruquei.
— Saiu do Japão e foi para a Coréia. — brincou ele.
— Sim, que loucura.
— Mas você chegou a gostar do Kento?
— Quando criança sim, mas depois deixei pra lá. — me remexi um pouco — Achei melhor não pensar em relacionamentos e apenas estudar.
— Que orgulho minha filha. — ele suspirou.
— Eu te contei que o começou a orar pela vida sentimental dele aos 11 anos? — perguntei.
— Não, mas isso me deixa surpreso.
— Sim, também fiquei quando ele contou.
— Aquele garoto é de fé, tem meu respeito. Mesmo morando longe.

Nós rimos.

— E agora pai?! A igreja está tendo vários eventos esse ano. — comentei — Precisamos começar a planejar o primeiro acampamento de jovens.
— Sim, você já montou a equipe?
— Estou montando, mas já confirmei a Isla, o Davi, o Pietro, a Yasmin, o Jullian, a Madu e o Benjamin. — respondi — A Layla e o Charles vão nos ajudar também.
— Esse menino Benjamin é um dos gêmeos? — indagou ele.
— Sim. É o gêmeo solteiro. — brinquei.
— Tem isso?
— O Benício já tem uma noiva já. — expliquei — Estão quase casando, estão esperando pelo curso de noivos.
— Hum.. Eu me lembro mesmo de um dos dois vim falar comigo sobre o curso de noivos. — senti meu pai se mexer, para coçar a cabeça — Mas não sabia qual dos dois era, agora sei.
— A noiva do Benício visitou a nossa igreja semana passada. — comentei.
— Que bom, ela gostou?
— Falou que gostou muito e vai voltar.

Eu me espreguicei de leve, sentindo meu corpo cansado e o sono chegar.

— Acho que vou deixar para enviar as fotos amanhã para o . — bocejei de leve — Estou com sono, se eu enviar agora, vou começar a conversar com ele e adeus sono.
— Vocês dois não medem o tempo. — meu pai riu.
— A gente vai entrando nos assuntos, e quando vê, já está na hora de acordar quase. — brinquei — Mas hoje vou dormir cedo.
— Amanhã não é seu dia de folga na cafeteria? — perguntou.
— Não, como não trabalho no domingo, eu vou de segunda a sábado pai. 
— Foi de Deus esse seu chefe te deixar folgar os domingos. — comentou ele.
— Sim. — eu me levantei do sofá e lhe dei um beijo no rosto — Vou dormir pai. Bom dia e bons sonhos.
— Amém querida, bom dia.

Caminhei até o quarto e fechei a porta. Troquei de roupa rápido e me ajoelhei na beirada da cama, fiz minha oração e me deitei em seguida. O sono veio forte e dormi quase como uma pedra. Acordei pela manhã com o despertador do celular tocando, mais um dia de trabalho mais um dia de vitória. Agora que estava decidida em estudar na Coréia, refiz meu cronograma diário para poder continuar estudando em casa, pois a prova de aprovação não era fácil.

A Universidade de Yonsei onde estudava, tinha um programa de bolsas de estudos para estrangeiros que me interessava muito. Eu teria direito a morar no dormitório, claro que dividindo o quarto com mais três pessoas. Porém tinha um longo caminho a percorrer para chegar lá. Teria todo o ano para estudar e me preparar para a prova. 

— Então gente, primeiro muito obrigado por terem aceitado ao meu pedido de ajuda. — disse ao me sentar na cadeira, na roda que fiz — Sei que é complicado virem em plena segunda para a igreja.
— Que isso miga, estamos aqui para ajudar. — disse Isla.
— Verdade. — concordou Yasmin.
— Desculpa gente, pelo atraso. — disse Layla ao chegar com Charles.
— Tivemos que passar antes na casa da minha mãe. — explicou ele.
em paz. — disse — Então, estamos aqui porque vamos organizar o primeiro acampamento de jovens da igreja, é um evento muito grande e precisamos começar isso agora.
— Já determinaram a data? — perguntou Layla — Isso é importante.
— Escolhi 7 de setembro. — disse — Vai ser numa sexta, feriado prolongado, podemos aproveitar.
— Se a gente for na quinta, teremos 4 dias para aproveitar. — comentou Yasmin.
— É nisso que estou pensando. — concordou Isla. 
— Layla, você que já organizou, do que precisamos? — perguntei.
— Tem uma lista grande, mas a coisa principal para fazer um orçamento, é saber o sítio que vamos alugar, é a parte mais cara. — respondeu ela.
— Isso eu já imaginava. — concordei — Se você puder, me faz uma lista dos tópicos importantes para começarmos a montar o orçamento.
— E depois disso, definir o valor do ingresso, porque não é barato fazer um evento assim. — completou Charles — Na outra igreja, montamos vários pequenos eventos para arrecadar fundos.
— Isso é uma boa ideia. — disse Yasmin — Podemos fazer uma rifa, com cesta de chocolate, o que acham?
— Eu compro. — brinquei.

Eles riram de mim.

— Chocolate até eu. — disse Isla.
— Tudo bem então, vamos começar a organizar tudo isso e montar também o cronograma de atividades do acampamento. — disse anotando em minha agenda.
— E montar as equipes também, quem vai fazer o que. — completou Davi — Eu sei que minha mãe vai querer ficar na cozinha fazendo a comida.
— Se duvidar, meu pai também. — comentei rindo.
— Comer a comida do pastor, queria. — disse Yasmin.
— Pastor Jonas cozinha? — Layla me olhou.
— Meu pai tem dois empregos. — brinquei — Chefe Jonas melhor cozinheiro da cidade. 
— Eu já comi a comida dele, é boa viu. — comentou Davi.
— Sua comida também não é ruim. — comentei.
— O Davi?! — Isla ficou boquiaberta.
— Ele sabe fazer omelete. — brinquei.
— De fome eu não morro. — ele riu.
— Já pode participar da equipe da cozinha então. — brincou Pietro.

Todos riram novamente. 
Continuamos nossa pequena reunião, demarcando os pontos mais importantes a serem resolvidos com rapidez, para assim Charles fazer nosso orçamento. Foi bom ter a ajuda dele e de Layla, que tinham mais experiência. Eu havia convidado ela para me ajudar com a liderança dos jovens, esse era seu chamado e continuaria sendo exercido no que dependesse de mim.

Papai e Mônica decidiram que não iria demorar muito em seu noivado.
Eles estavam certos do que queriam e dentro do propósito de Deus. Então, na segunda semana de julho, de forma discreta, eles trocaram as alianças se casando no civil, com uma pequena cerimônia religiosa no sítio do pastor James. Que também, futuramente seria o sítio do acampamento de jovens. Foram rara as vezes que vi meu pai tão feliz, Mônica também mantinha um lindo sorriso em sua face, que encheu meu coração de alegria. 

Eu como madrinha do meu próprio pai, entrei acompanhada por Davi, enquanto Lira entrou acompanhada de Joseph, o que não era novidade. Ambos estavam cada vez mais próximos e eu apoiando totalmente a amizade deles. 

Após anos viúvo, meu pai se casou novamente com uma mulher encantadora. Me peguei pensando que todas as nossas escolhas nos levou até aquele momento feliz. E se meu pai não tivesse aceitado vir para Minas. E se ele tivesse dito não ao seu ministério? E se eu não o tivesse apoiado? Não estaria vivendo aquele momento. No final, como no livro de Jonas, eu aprendi que quando obedecemos a Deus, coisas boas acontecem mais pra frente. 

No início não entendemos, mas no final, tudo tem um propósito. 

 

"Oh, I seek, only to see your face
Oh, eu busco, somente ver Seu rosto
I don't wanna go anywhere without you God
Eu não quero ir a lugar nenhum sem Você Deus
Without your presence
Sem a sua presença
Oh, let me see your face
Oh, me deixe ver seu rosto
The beauty of your holiness God
A beleza de sua santidade Deus
Take me into the holy place
Leve-me ao santo lugar"
- Holy / Jesus Culture

Chamado: Obedecer a palavra de Deus.



34. Miquéias

"Mas, quanto a mim, ficarei atento ao Senhor, esperando em Deus, o meu Salvador, pois o meu Deus me ouvirá."
- Miquéias 7:7

- x - 

. — disse Joseph ao se aproximar de mim no final do culto.
— Oi. — eu me virei e o olhei — O que foi? Você disse que precisava falar comigo.
— Sim. — ele parecia sem jeito para se expressar.
— Pode falar, aconteceu alguma coisa?
— É que tem um antigo amigo meu que tem passado necessidade e não sei como ajudar. — explicou ele — Queria te pedir ajuda.
— O que seria o exato problema dele? — perguntei.
— Ele mora em um barraco de lona, no lote vago perto da casa da minha avó. — disse ele — Ele perdeu o emprego recentemente e a cara dele caiu do barranco por causa da última chuva, e ele não conseguiu receber ajuda do governo ainda.
— Nossa.
— Fiquei pensando, se não podíamos juntar doações para ele e sua família.
— Ele tem família?
— Sim, esposa e duas filhas. — respondeu.
— Joseph, você falou sobre isso com meu pai?! — perguntei.
— Não.
— Conversa com ele, é bom fazer isso debaixo de uma cobertura. Do apoio do nosso líder, e com certeza ele pode movimentar a igreja toda para ajudar. — expliquei — Se quiser posso ir com você.
— Não precisa, vou lá falar com ele. — ele sorriu de leve — Muito obrigado.
— Diante do que meu pai falar, me avisa pra eu poder ajudar. — pedi.
— Aviso sim.

Ele se afastou de mim e seguiu em direção ao meu pai.

— O que Joseph veio falar? — perguntou Lira curiosa.
— Não me olhe assim senhorita. — eu ri dela — Ele veio me pedir ajuda para ajudar um amigo.
— Ah, o amigo que perdeu a casa. — supôs ela.
— Ele te contou?! 
— Sim, me contou ontem. — confirmou — Disse que estava se sentindo incomodado por não ajudá-lo.
— Pois é, eu disse que ele deveria conversar com o meu pai sobre isso, pedir um conselho do nosso líder e o apoio também. — expliquei.
— Por falar em conselho. — ela retirou o celular do bolso — Fiquei pensando que poderíamos montar um bazar aqui na igreja, para arrecadar fundos para o acampamento de jovens.
— E o que venderíamos? — perguntei.
— Arrecadando roupas, brinquedos, livros, coisas que as pessoas não usam mais e serviria para outras. — respondeu ela — Comentei sobre isso com a Isla, ela disse que a família dela vive doando roupas.
— Podemos separar algumas para a família do amigo do Joseph. — comentei.
— Sim, também pensei nisso. — disse ela já se empolgando.

A ideia era boa, mas antes teria que passar pela aprovação do meu pai, que por sinal já tinha muitas outras coisas para resolver. A conversa de Joseph com meu pai rendeu bastante, não só a preocupação com o amigo dele, mas também com outras pessoas que estavam em situação de rua. Já havia duas famílias que recebiam ajuda da igreja, com essa contaria três. 

Tentamos encarar uma situação por vez. Primeiro anunciamos por duas semanas que a igreja estava arrecadando roupas, acessórios, brinquedos e tudo que poderia ser doado para nosso bazar. Após receber as doações, fizemos um mutirão para separar tudo. Joseph se encarregou de separar as coisas que seriam doadas para seu amigo, juntamente com o obreiro Zé. Ambos teriam a missão de ajudar aquela família a encontrar um lugar melhor para ficarem. Felizmente, Zé tinha um conhecido que estava alugando sua garagem, não era o melhor lugar, mas temporário e seguro, melhor do que ficar na rua.

Neste meio tempo é claro que jejuamos e oramos pelo projeto, para que tudo ocorresse bem.

— Estou cansada de mais. — disse Yara ao sentar entre as roupas dobradas no chão — Desisto.
— Eu também me sinto vencida pelo cansaço. — concordou Yasmin ao sentar do seu lado.
— Que isso meninas. — Isla colocou as mão na cintura — Vocês estão mais novas que eu.
— Miga, desculpa, mas o rostinho de 18 tem a coluna de 80. — retrucou Yasmin.
— Nem fala de coluna, que a minha está doendo. — reclamou Madu.
— A minha também. — concordou Jullian — Perdi as contas de quantas roupas já dobrei.
— Seus fracos. — Isla riu.
— Ah querida desculpa. — Yasmin a olhou — Mas eu não trabalho sentada. 
— Miga vai por mim, trabalhar sentada é tenso também. — Isla a olhou.
— Ok gente, já fizemos muito por hoje né?! — disse parando elas — Está tudo ajeitadinho aqui na salinha para amanhã.
— Vai ser só sábado e domingo mesmo? — perguntou Lira.
— Sim, o que sobrar, vamos encaixotar e guardar para fazer de novo. — expliquei.
, é verdade que o Joseph entrou em um grupo de apoio aos moradores de rua?! — perguntou Yara.
— Sim, ele entrou de voluntário. — respondeu Lira — Com a benção do pastor Jonas.
— Como funciona isso? — perguntou Pietro — Sempre tive vontade de ser voluntário nessas coisas.
— É um grupo do pessoal da igreja do pastor James, todo sábado eles oferecem café da manhã para pessoas em situação de rua, evangelizam eles e tudo mais. — explicou Layla ao entrar na conversa, ela sentou na cadeira — Eu já participei um tempo, mas tive que sair.
— Por que saiu? — perguntou Mia ao sentar no chão ao lado de Yara.
— Eu fui acumulando muita função e fiquei sobrecarregada. — respondeu ela — Precisamos fazer aquilo que fomos chamados para fazer, e não pegar muita coisa e não dar conta, acabar fazendo de qualquer jeito. 
— É preciso dedicação. — completei concordando — Meu pai sempre diz isso.
— É um projeto muito bonito esse. — comentou Charles.
— Alguém viu o Davi? — perguntei — Mandei mensagem para ele, mas não me respondeu.
— Ele me disse que ia na casa da namorada antes de vir pra cá. — respondeu Jullian.
— Que legal, vai chegar na hora que fomos embora? — perguntou Yasmin na ironia.
— Depois eu converso com ele. — disse soltando um suspiro.
— Jullian, e sua corte? Onde está? Não disse que ela viria ajudar?
— Ela teve plantão no hospital hoje. — respondeu ele.
— Ela trabalha em hospital? — perguntou Madu.
— Sim, ela é técnica em enfermagem, agora está fazendo faculdade de enfermagem na federal. — explicou ele.
— Nossa, todo mundo na federal e eu aqui na particular. — reclamou Madu.
— Pelo menos tem cem por cento de bolsa. — disse Isla.
— Verdade. — ela riu.

Ficamos mais um tempo na igreja, até que fechamos tudo. Sábado e domingo foi o dia de ficarmos lá para vender as coisas do bazar. Para nossa surpresa arrecadamos muitas coisas. As roupas de frio foram separadas para Joseph, ele levaria para seu trabalho voluntário. Vendemos quase tudo, o que trouxe alegria para nós. Até mesmo na federal, Yasmin começou a fazer contato com alguns alunos pedindo doações para nós. 

Na quinta-feira depois de sair da cafeteria, combinei de encontrar Yasmin no Shopping Cidade, para conhecer uma veterana dela. 

, essa é Anne. — apresentou Yasmin.
— Bom dia. — disse ao conhecer a moça.
— Bom Dia? — ela me olhou estranho.
— A fala bom dia para todo mundo em qualquer hora. — explicou Yasmin.
— Que doido. — ela me olhou surpresa — Então bom dia, eu sou a Anne da moda. 

Nós rimos e procuramos um lugar para sentar, em uma das mesas da praça de alimentação, depois de cada uma pedir milk-shake com batata.

— Yasmin me falou que uma ideia que tiveram. — disse a garota — Sobre customizar roupas velhas.
— Sim. — assenti — Temos muitas peças de roupas doadas que não tem como passar pra frente e nem vender no bazar, aí a Yara nossa mini estilista, deu a ideia de pegar essas roupas e customizar ou remodelar elas fazendo bolsas, carteiras essas coisas.
— Nossa mascote já até deu o nome do projeto de “Abraçados”. — comentou Yasmin — Vamos doar as roupas reformadas para pessoas que precisam e vender os acessórios que forem feitos.
— Que legal, um projeto bem interessante. — disse Anne — Podem contar comigo.

Yasmin tinha me contado que Anne também é cristã. Ela congregava em uma igreja no centro da cidade. A convidamos para conhecer nosso ministério, já que queria participar do projeto também. 

— Você entrou quando no curso? — perguntei a ela curiosa.
— Hum... No início do ano passado, foi de Deus eu ter conseguido, porque não consegui o prouni, e mensalidade do curso de moda é caro demais. — afirmou Anne — Mas felizmente já consegui um estágio.
— Estágio de moda é difícil de conseguir? — indaguei.
— Mais ou menos, a gente precisa ter contato e conhecer as pessoas certas. — ela riu um pouco — Mas sempre sai vaga de estágio no quadro de avisos.
— É desse momento que estou esperando. — disse Yasmin — Não aguento mais essa vida de universitária sem grana.
— Pelo menos você pode ser considerada universitária. — brinquei — E eu que nem voltei ainda pra vida acadêmica.

Elas riram de mim.

— Você não passou em nenhum curso? — perguntou Anne.
— Não, essa moça aqui está é tentando ir para o outro lado do mundo. — respondeu Yasmin.
— Sério? — Anne me olhou admirada — Japão?
— Coréia. — respondi.
— Uau... E por qual motivo.
— Hum... — eu fiquei meio sem saber como responder.
— A corte dela. — Yasmin riu um pouco de mim.
— Sério?
— Yasmin, pare de ficar falando da vida dos outros. — brinquei.
— Que legal, um coreano de corte. — Anne não parecia impressionada como todos quando sabem sobre isso — Minha irmã mais velha fez corte também, com um australiano.
— Não brinca? — boquiaberta eu estava ao saber daquilo.
— Jura? — Yasmin também se mostrou impressionada.

Não era a única que encontrou seu propósito do outro lado do globo terrestre.

— Sim, ela conheceu ele em um intercâmbio do ciências sem fronteiras que ela fez para o Canadá, os dois começaram a ser amigos e ela propôs a corte pra ele. — respondeu ela — E sendo cristão, ele entrou na visão e aceitou.
— E depois? — perguntei.
— Mês passado eles completaram dois anos de casados. — completou ela com tranquilidade.
— Isso é como um exemplo para mim, mais um exemplo. — afirmou Yasmin — Ainda estou à espera do meu crush-varão.
— Não se preocupe miga, não está sozinha. — Anne riu — Eu também estou na fase da oração, vivendo salmos 40.
— Esperei com paciência no Senhor. — completei dizendo a referência bíblica.
— Isso mesmo.

Comemos o nosso lanche e conversamos mais um pouco sobre estudos e o curso de moda delas. Yasmin estava mesmo muito animada por finalmente estar estudando algo que gosta.

Ao chegar em casa mais tarde. Mônica misteriosamente preparava o jantar, achei estranho já que meu pai sempre brigava para ser o cozinheiro da casa. Essa era a coisa mais louca no casamento dos dois, brigarem para fazer os trabalhos domésticos da casa. O que me fazia rir sempre, tanto eu como Lira. Fechei a porta, passando a chave para trancar.

— Bom dia, Mônica. — disse.
— Bom dia, flor. — ela se virou para mim e sorriu.
— Que milagre é esse? — perguntei.
— Seu pai chegou passando mal de uma reunião com os pastores, eu o mandei ir para cama, descansar. — explicou ela — O corpo dele está quase tendo um ataque de exaustão.
— Bem-vinda a nossa realidade. — disse deixando minha mochila no sofá — Antes de casar com você, ele só se derramava no sofá e ali ficava a noite toda.
— Que bom que estou mudando isso nele. — ela riu — Sofá não descansa ninguém.
— Isso eu concordo. — caminhei até ela e peguei um copo para beber água — E a Lira?
— Ela disse que ia chegar mais tarde hoje por causa da faculdade.
— Hum… Vou aproveitar para poder orar. — disse pegando minha mochila — Agora entendo o quão complicado é dividir o quarto com alguém.

Ri de leve.

— Verdade, privacidade é complicado mesmo e nesse apartamento pequeno. — ela riu junto.
— Uma hora dá certo.

Saí da sala e tomei um banho quente, antes de me trancar no quarto.
Peguei meu violão e me sentei na beirada da cama, começando a dedilhar meu violão. Por mais que os dias estavam agitados. Por mais que estivesse cansada. Se tinha uma coisa que sempre renovava minhas forças, era quando conversava com o Espírito Santo e sentia Ele me envolver em Seu amor. 

Entra, tudo aqui é Teu, a casa está pronta... Estamos esperando pra Te encontrar... Brilha Tua Glória e nos envolva com Teu fogo... Vem e toma o Teu lugar... — suavemente fui começando a cantar, até que me deixei envolver pela música — Nós invocamos: Acende a chama... E que venha o Teu Reino... Nós nos rendemos e tudo entregamos... Pra sempre cantaremos.

Eu continuaria clamando. Pois Jesus sempre iria me ouvir.

"Like a rushing wind
Como um vento intenso
Jesus breathe within
Sopra em meu viver, Jesus
Lord have your way
Faz teu querer Senhor
Lord have your way in me
Faz teu querer Senhor, em mim"
- I Surrender / Hillsong United

Chamado: Continuar clamando.



35. Naum

"O Senhor é bom, um refúgio em tempos de angústia. Ele protege os que nele confiam,"
- Naum 1:7

- x -

: Bom dia princesa. *-*

Sorri automaticamente ao ler a mensagem de . Tinha terminado e ter meu momento com Deus, e Lira ainda não tinha chegado, nem meu pai acordado. Fiquei sentada no sofá mexendo no celular. Mônica não quis minha ajuda para terminar o jantar.

: Bom dia. 
Como foi a faculdade hoje?
: Olha quem está em casa… kkkkkkk
Acabo de sair da aula de estruturas metálicas
: Uau. Você já me disse que é uma matéria muito pesada
: demais, minha cabeça está doendo agora
e temos prova na semana que vem.
: que triste.
tome um remédio e descanse
: remédio sim, mas descanso
tenho estágio agora à tarde
: verdade
mas não se force muito
: é fofo quando se preocupa comigo
: *-*
: como está indo a nova família? 
dividir o quarto?
: complicado kkkkkkkk mas me divirto muito com a Lira
às vezes passamos a noite conversando como já te contei.
a Mônica está preparando o jantar agora
: já?
: sim
milagre
porque o papai não deixa ela cozinhar kkkkkk
: sério?
: sim
chefe Jonas é o dono da cozinha kkkkkkkk
: kkkkkkkkk
: preciso te contar uma novidade seguida de curiosidade
: o que?
: conheci uma sunbae da Yasmin hoje, seu nome é Anne, vai nos ajudar com o nosso projeto Abraçados.
: que legal, e a curiosidade?
: ela me contou que sua irmã mais velha também fez corte a distância
: sério?
: sim
com um rapaz australiano que ela conheceu no Canadá
: que legal
: e hoje, eles estão casados a dois anos
: fico feliz ao saber sobre isso
: eu também, fiquei muito feliz.

A maçaneta se moveu e Lira entrou fechando a porta.

— Boa noite família. — disse ela ao deixar a bolsa ao lado da porta e se jogar no sofá ao meu lado — Não aguento mais essa vida.
— Que isso mana. — eu a olhei — Onde estão suas férias?
— Queria saber também. — ela soltou um suspiro fraco — Foram 15 dias que nem serviram para nada, nem acredito que estamos em agosto. Minhas aulas voltaram e os professores estão querendo nosso fígado para o almoço.
— Credo. — fiz uma careta — Misericórdia.
— É chocante, mas real.
— Tenha fé filha, você vai conseguir sobreviver a isso. — disse Mônica da cozinha — Essa foi sua escolha.
— Eu sei, mas é tão cansativo. — ela me olhou com tristeza — E eu estou só no segundo período.
— Estou vendo sua luta, fico me perguntando como vai ser comigo ano que vem, longe de casa. — comentei.
— Está mesmo decidida? — perguntou Mônica.
— Sim, é para isso que tenho estudado. — confirmei — me disse que a prova de admissão é bem complicada.
— Você vai conseguir, você é muito dedicada. — disse Lira.
— Bom dia família. — disse meu pai ao sair do corredor dos quartos se espreguiçando.
— Finalmente. — brincou Mônica.
— Nunca dormi tanto. — disse ele — Acordei preocupado com a igreja, até que lembrei que hoje é quinta.

Eu ri dele.

— Outra pessoa cansada aqui em casa. — comentei.
— Todos temos andado cansados. — papai encostou na parede — Mas a alegria do Senhor é a nossa força.
— Neemias 8:10. — disse a referência na Bíblia.
— Ainda fico chocada com isso. — Lira me olhou — Você sempre sabe as referências.
— Anos de convivência. — respondi.
— O jantar está pronto. — disse Mônica.
— E o que temos para hoje? — meu pai se aproximou dela e a abraçou por trás olhando as panelas no fogão.
— O básico querido, arroz, feijão, salada e bife de porco. — respondeu ela.
— O básico também é gostoso. — meu pai a beijou de leve.

Era fofo esses momentos dos dois juntos. O amor deles. A cumplicidade e o carinho de um pelo outro. Um exemplo para mim e Lira. Voltei meu olhar para meu celular e lembrei de .

: Estou indo jantar, bom dia .

Desliguei o visor do celular e coloquei ele no sofá.
Ainda não tínhamos nos acostumado com o pouco espaço do apartamento e o dobro de pessoas que vivia nele. Mas mesmo com algum desconforto, fizemos nossa refeição em paz e tranquilidade, após a oração de agradecimento. 

Na manhã de sexta-feira, acordei cedo junto com a Lira e fiquei estudando até dar a hora de ir trabalhar. Um lado positivo da nossa família ter aumentado, as despesas eram divididas agora em 4 pessoas. O que me possibilitou a começar a juntar dinheiro para meu futuro acadêmico do outro lado do mundo. 

, que cara de cansaço miga. — comentou Felícia.
— Está tão visível assim? — a olhei — Trabalhar 8 horas totais é mais pesado do que ser só jovem aprendiz. 
— Bem vinda ao clube dos assalariados. — brincou ela.
— Agradeço. — eu ri.
— Aí gente, quem sentiu minha falta? — perguntou Tânia ao chegar.
— Ué, o que tá fazendo aqui menina?
— O seu Rodrigues disse que minhas férias terminaram ontem. — explicou ela — Um mês passou rápido demais.
— Os dias tem passado rápido demais.
— Isso é verdade. — concordei.
— Aqui menina, eu fui na célula ontem da sua igreja, que você me indicou. — disse Felícia — Foi até legal, o lanche no final tava gostoso.
— Sempre pensando em comida. — Tânia riu.
— Querida, agora eu sou fitness. — Felícia fez pose.

Nós rimos dela e voltamos ao trabalho. 
No final do expediente quase indo embora, recebi um áudio de Davi no whatsapp, parecia aflito. 

“bom dia , eu preciso muito conversar com minha líder irmã, é meio que urgente.”

Respirei fundo, pedindo a Deus que realmente não fosse muito grave o que ele tinha para me falar. Minha volta para casa foi em oração interna dentro do ônibus, ia passar na casa da Yasmin antes de chegar em casa. Assim que desci do ônibus, mandei uma mensagem para Davi, dizendo que conversaria com ele sábado pela manhã.

. — disse Yasmin ao abrir o portão.
— Oi miga, o ônibus demorou. — expliquei para ela.
— Que chato, o meu também da faculdade hoje mais cedo, e choveu à tarde. — comentou ela abrindo mais o portão para eu entrar — Quando chove o trânsito esquece de existir.
— Eu vi a chuva na hora do meu almoço. — entrei ajeitando a mochila nas minhas costas.
— Vamos entrar.
— Claro.

A mãe de Yasmin não estava em casa àquela hora, assim como eu, chegaria tarde em casa. Nós sentamos no sofá da sala e começamos a conversar sobre o projeto “Abraçados”.

— Anne está super empolgada em transformar esse projeto no trabalho de conclusão de curso dela. — comentou Yasmin.
— Fico feliz por ela querer nos ajudar. 
— Ela conhece muitas empresas que doam retalhos de tecidos, isso também ajuda muito.
— Com certeza. — disse — Yasmin, como eu estou concentrada no acampamento de jovens, vou deixar você responsável por isso.
— Tudo bem. — assentiu ela — Vou dar o meu melhor.
— E você vai me informando das coisas que possam acontecer, das decisões a serem tomadas. — pedi a ela — Vai ser legal esse movimento dos jovens.
— Eu pensei que poderíamos organizar isso aqui em casa, já que eu tenho as máquinas de costura. — ofereceu ela empolgada — Eu falei com a minha mãe que esse projeto é para fazer roupas e bolsas para o bazar da igreja e ir arrecadando fundos para os eventos da igreja e para doar para quem precisa também, ela ficou mega empolgada. Disse que ia juntar as amigas do trabalho e fazer nosso marketing lá, as amigas dela são loucas por bolsas customizadas.
— Que legal, sua mãe é demais. — eu sorri.

Senti meu celular vibrar no bolso da calça e o peguei. Era outra mensagem de Davi para mim, dizendo que iria na minha casa na manhã seguinte. Aproveitei para olhar a hora, e logo me levantei do sofá.

— Já vai?! — perguntou ela
— Sim amiga, estou morrendo de cansaço e sono. — respondi — Eu ia passar na célula do Pietro, mas acabei desmarcando.

Ela me abraçou.

— Deus te abençoe, você tem feito um tanto de coisa, e ainda estudado muito. — disse ela.
— E nem estou na faculdade ainda. — eu ri.
— Pois é. Te vejo no domingo.
— Sim, essa semana é a sua equipe do louvor né?
— Sim, é a minha equipe. — confirmou ela.
— Eu mandei lá no grupo, não sei se viu, adicionei mais três pessoas, vamos montar outra equipe pra revezar.
— Isso é bom. — ela abriu a porta e saímos para a varanda.
— Deixa eu ir lá. — a abracei novamente.

Segui meu caminho a pé mesmo. A casa de Yasmin não era tão longe assim do prédio onde eu morava. Quando cheguei em casa, senti uma leve dor nas minhas costas. Meu corpo extremamente cansado, que somente consegui chegar no meu quarto e me jogar na cama. 

Acordei no susto com meu celular tocando, era o alarme que tinha colocado para orar. No relógio batia meia noite e meia. Lira ainda estava acordada lendo um enorme livro de cardiologia. 

— Ainda acordada? — perguntei erguendo meu corpo.
— Tenho prova amanhã. — respondeu ela — Mas já estou indo dormir.

Ela fechou o livro. E se levantou da cadeira. Por estarmos dormindo no mesmo quarto, minha cama de solteiro mudou para uma beliche. Lira pediu para ficar com a cama de cima, enquanto eu fiquei com a debaixo.

— Bom dia e bons sonhos mana. — disse.
— Pra você também. — disse ela.

Levantei da cama e fui para a sala. Meu pai e Mônica já estavam em seu quarto. Meu momento de render aos pés de Jesus e pedir forças ao Pai, seria ali, ajoelhada diante do sofá. 

Pai, eu sei... Tua presença acrescenta paz... Não há espaço para confusão... Pai, então... Pra que me preocupar com a aflição?... E com as dores do meu coração? — comecei a cantar bem baixinho — Se tua presença só traz alegria... Tua alegria é a minha força... Tua alegria é a minha força... Tua alegria é a minha força

Eu estava cansada sim, mas o Espírito Santo é o meu refúgio de descanso.

 

"E se eu passar pelo vale
Acharei conforto em Teu amor
Pois eu sei que és aquele
Que me guarda, me guardas

Em Teus braços é meu descanso."
- Em Teus Braços / Laura Souguellis

Chamado: Me refigiar em Jesus.



36. Habacuque

"Mas a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas enchem o mar."
- Habacuque 2:14

- x -

Manhã de sábado, Davi chegou bem cedo na minha casa. O que me fez ficar ainda mais preocupada com o que estava acontecendo com ele. O recebi na porta, mas como todos estavam em casa pela manhã, descemos para conversar em outro lugar. Seguimos caminhando pelas ruas sem destino certo. Parecia de Davi queria mesmo é desabafar comigo.

— Estamos andando, e você está falando coisas aleatórias. — eu parei e olhei para ele — O que está acontecendo Davi?
— Estou em guerra comigo mesmo mana. — disse ele se sentando no chão da calçada — Fiz uma coisa errada e estou arrependido.
— O que você fez? — me sentei ao seu lado.
— Isso está me deixando agoniado sabe. — ele me olhou, seus olhos lacrimejavam — Agora tenho certeza que nunca estive preparado para ter um relacionamento.
— O que aconteceu? Com você e a Lucy?
— Nós terminamos. — respondeu ele — Tinha razão, é difícil namorar normal.
— Aconteceu alguma coisa mais séria entre vocês dois?

Ele permaneceu em silêncio me olhando, mas assentiu com a cabeça. Depois voltou seu olhar para o chão, vi algumas lágrimas escorrerem em seu rosto.

— Oh Davi. — eu não sabia o que dizer, nem como consolar ele.
— Eu já pedi perdão a Deus, estou muito envergonhado e decepcionado comigo mesmo. — disse ele — Ainda não contei aos meus pais.
— Davi, tenho certeza que se está mesmo arrependido, Deus já te perdoou e esqueceu disso. — assegurei a ele — Agora você tem que se perdoar e conviver com as consequências disso. Precisa contar ao Zé e a tia Kátia, e ao meu pai também, ele é seu pastor.
— Eu sei, mas não sei se consigo sozinho. — disse ele — Me sinto envergonhado.
— Meu irmão, nossa força vem de Deus. — sorri para ele — Se quiser uma companhia física, estou aqui.
— Sério? — ele me olhou.
— A parte importante você já fez, reconheceu que o que fez, não é certo diante dos ensinamentos da palavra de Deus. — disse a ele — Agora, é levantar e começar de novo, buscando ajuda no Senhor e mais da presença dEle na sua vida.
— Você faz parecer tão fácil.
— Fácil não é, mas temos um Pai que nos ajuda.

Sorri novamente e me levantei, então estendi a mão para ele. 

— Vamos?!
— Agora?
— Sim.

Ele segurou em minha mão e se levantou. 
Fomos para sua casa e eu liguei para meu pai no caminho.
Davi contou tudo a eles e pediu desculpas a todos. Meu amigo estava mesmo triste com tudo aquilo que estava passando. Meu pai o abraçou no final da conversa e fez uma oração para que Deus acalmasse seu coração. Davi pediu para se afastar um pouco das coisas que estava fazendo na obra, para assim poder focar na sua reconciliação com Deus. 

Como a Bíblia nos ensina a esconder a nudez do irmão, mas sim ajudá-lo a se reerguer, meu pai pediu a todos que não comentassem o ocorrido. Davi estava arrependido e falar sobre o assunto poderia trazer mais dores ao meu amigo. Era um assunto que não tínhamos o direito de contar a outros.

Porém, a própria Lucy acabou comentando com algumas pessoas além dos que interessava saber, e logo o bairro já comentava o assunto. Claro que comentários maldosos foram surgindo. Pessoas para tacar pedra tinha aos montes sempre, mas para abraçar e perdoar, eram poucas.

- x -

: E como está o Davi?

Olhei para a mensagem de . Meu amigo tinha deixado eu contar para ele, assim poderia me ajudar a interceder. 

: Ainda triste, mas firme na fé
ele entregou as coisas que estava fazendo e pedi ao Pietro pra ficar no lugar dele.
: ele precisa de tempo para se fortalecer na fé e se perdoar também
isso aconteceu com um amigo meu também, é complicado ir na contramão do mundo
: bastante
mas estou feliz que ele esteja bem, apesar das pessoas estarem julgando mal ele
: pessoas assim tem aos montes
o que importa são as pessoas que o abraçam e apoiam
que o ajuda a levantar
: isso também tem bastante
: é o que importa.
: mudando de assunto, como está minha cunhada?
: animada por você querer estudar aqui
: só agora você contou a eles?
: sim, não queria alarmar ninguém até a data da sua prova sair

Senti um frio na barriga.

: data da minha prova
isso me da um pouco de insegurança
: , você tem estudado muito durante todo esse tempo
tenho certeza que vai passar
: amém, pra glória de Deus
: mas não quer saber a data?
: claro que quero
você ainda não me disse.
: dia 7 de novembro
: onde eu farei?
online?
: Sim
em breve eles vão te mandar as informações finais para o seu email 
a prova será online e você passando essa primeira etapa, fará outra prova presencial aqui no ano que vem
: que frio na barriga lkkkkkkkkkk
: estou ansioso para te ver aqui
: então você não vem este ano aqui?
: talvez, ainda não sei.
: hum…

Eu fiquei olhar a tela do celular, então coloquei em cima da cama e me levantei. Meu coração estava acelerado com o anúncio da data da minha prova, o que me deixou ainda mais agitada por dentro. 

Respirei fundo e fechei os olhos. Estava sozinha em casa naquela hora, então… Comecei a orar, pedindo Deus que me ajudasse e que sua glória viesse sobre mim.



"I see the King of glory
Eu vejo o Rei da glória
Coming on the clouds with fire
Vindo nas nuvens com fogo
The whole earth shakes, the whole earth shakes
Toda a terra treme, toda a terra treme
I see His love and mercy
Eu vejo Seu amor e misericórdia
Washing over all our sin
Lavando todos os nossos pecados
The people sing, the people sing
O povo canta, o povo canta."
- Hosanna / Hillsong United

Chamado: Buscar mais conhecimento da palavra de Deus.



37. Sofonias

"O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você; com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria."
- Sofonias 3:17

- x - 

Antes de eu falar… Tu cantavas sobre mim… Tu tens sido tão, tão bom pra mim… — comecei a louvar bem baixinho em meio as minhas lágrimas — Antes de eu respirar… Sopraste Tua vida em mim… Tu tens sido tão, tão bom pra mim…

Fiquei ali dentro do quarto por um bom tempo, buscando minha intimidade com Cristo, até que Lira abriu a porta e entrou. Limpei minhas lágrimas e me levantei do chão. 

— Bom dia. — disse ao olhar ela — Chegou cedo hoje.
— Sim. — ela me olhou — Está tudo bem?
— Sim, só me sentindo meio cansada como sempre. — suspirei fraco — Estava orando aqui.
— Ah.. Eu te atrapalhei? — ela se mostrou preocupada, certamente por sua entrada repentina no quarto.
— Não, está tudo bem, eu já estava terminando. — sorri de leve para tranquilizá-la.
— Eu vou tomar banho. Seu pai está na cozinha hoje.
— Chefe Jonas?! — eu ri — Faz tempo que Mônica não deixa ele cozinhar.
— Sim, mas hoje ela deixou, porque tinha uma novidade para gente e seu pai gosta de fazer comida diferente nessas ocasiões.
— Novidade? O que será?

Eu caminhei até a porta do quarto.

— Deixa eu ver se consigo arrancar algum spoiler dela. — brinquei.

Fui para sala e Mônica estava sentada no sofá vendo um filme na televisão. Aquilo era novidade. Me sentei ao seu lado e fiquei a observando.

— O que Lira já foi te contar? — ela me olhou.
— Nada. Só que você tem uma novidade. — sorri de leve — Não pode dar dicas?
— Não, só depois do jantar.
— Eita. — voltei meu olhar para meu pai — O que o chefe Jonas está preparando para a noite de hoje?
— Uma receita de família. — respondeu ele.
— E nós temos receita de família?
— E meu strogonoff de frango é o que? — ele me olhou indignado.
— Desculpa, tinha me esquecido. — ri baixo.

Me levantei do sofá e fui até ele.

— Quer ajuda?
— Se você fizer o suco de acerola já ajuda. — respondeu — Comprei ontem e pode estragar na geladeira.
— Ok.

Peguei as acerolas e as lavei, então bati no liquidificador e coei para fazer o suco. Ficou até gostoso e não muito doce. Papai não demorou muito e liberou o jantar antes das 9 da noite. Assim que comemos, Mônica levantou seu copo de suco em forma de brinde e nos olhos com carinho.

— Então família… Minha novidade é… — ela alisou sua barriga de leve.

Logo eu entendi.

— Estou grávida. — completou ela.
— Sério? — Lira a olhou surpresa.
— Oi? — me peguei surpresa também.
— Sim. — respondeu ela, mantendo o sorriso no rosto e o olhar atento a nossa reação.

Mônica não era tão velha assim, tinha seus 36 anos e aparentemente nenhum sinal de menopausa. Meu pai ficou paralisado com a notícia e sem nenhuma perspectiva de reação.

— Precisamos de um lugar maior. — sussurrou ele.

Nós rimos.

— Pai, sua esposa diz que está grávida e você fala que precisamos de um lugar maior? — o olhei sem entender sua reação inicial.

Meu pai abriu um largo sorriso e abraçou Mônica com cuidado.

— Eu estou em um misto de preocupação e alegria querida. — explicou ele.

Ambos se beijaram de leve.

— Eu te entendo Jonas. — ela sorriu para ele — Também pensei nisso quando descobri a gravidez.
— Mente de pais preocupados. — constatei rindo.
— Nem eu sei como reagir agora. — disse Lira — Mas estou mega feliz, terei mais um irmão ou irmã.
— Eu também. — olhei para a barriga da Mônica.

Nossa família aumentaria, era uma benção. Para a glória de Jesus. Mônica nos contou sobre quando suas suspeitas apareceram, com a demora de sua menstruação. Depois do primeiro enjoo, acabou fazendo o teste da farmácia que deu positivo. Então indo ao posto de saúde, a médica pediu o teste que afirmou sua gravidez.

foi a primeira pessoa para quem eu contei a novidade. 
Depois mandei uma mensagem a Davi, para que contasse aos seus pais, mas guardassem segredo até meu pai contar para toda a igreja. Lira se encarregou de contar ao Joseph sobre a novidade, a proximidade deles fez com que iniciassem uma corte há duas semanas. Fiquei muito feliz também ao saber disso. Eles começaram a se gostar quando amigos, bom, Lira já gostava desde antes claro.

Em meio às comemorações com a novidade, a vida seguia. Faltando algumas semanas para o 1º Acampamento de Jovens da igreja, Layla me convidou para dormi em sua casa uma noite. Charles tinha viajado com o irmão para visitar um parente que estava doente. 

— Que bom que você aceitou dormir aqui hoje comigo. — disse ela ao me abraçar — Considere uma mini festa do pijama. 
— Eu que agradeço por me convidar. — eu retribui o abraço dela — Tenho me sentido tão cansada fisicamente e em alguns momentos desmotivada também.
— Tem certeza que é somente o físico? — ela me olhou atenta.
— Não, meu cansaço de verdade é metal, por tantas preocupações e responsabilidades. — me sentei no sofá — Mas isso está refletindo no meu físico, já percebi.
— Te entendo. — disse ela ao se sentar no sofá ao lado — Tenha fé, vai dar certo, eu também já passei por isso várias vezes.
— Eu sei, a causa disso é minha preparação para a prova, aquela que te falei.
— Está sendo pesado né?
— Sim, pedi até ao para interceder por mim. — soltei um suspiro cansado — Às vezes me pego com receio de falhar.
— Tenta descansar mais amiga. — aconselhou ela, ao segurar com ternura minha mão direita — Você sabe que todo mundo tem feito as coisas bem, a Mônica agora é líder geral dos kids, ela agora é a auxiliar do seu pai. Não mais você, e notei que você anda se sobrecarregando com coisas que não precisa mais se preocupar.
— Eu sei. Tento focar só no que preciso, mas é complicado. — expliquei ela — Tem a cafeteria também, que a cada dia está mais pesado lá…
— Descansa em Deus, miga. — ela sorriu.
— Você fala como meu pai, o mundo caindo e ele me falando, descansa em Deus filha, fica em paz. — nós rimos — Pelo menos, posso te agradecer de novo por ter aceitado ficar a frente da liderança dos jovens?
— Não. — ela riu novamente — Já me agradeceu demais, além do mais, jovens é meu chamado, só estou cumprindo meu ide e continuando meu ministério.

Eu via uma segurança no seu olhar que me deixava admirada. Layla era sim um grande exemplo na minha vida. Uma irmã mais velha que Jesus me deu com muito carinho.

— Mesmo assim. Obrigado. — eu a abracei de surpresa, recebendo outro abraço de retribuição.
— Mas me conta… — seu olhar ficou curioso.
— O que?! — me encolhi um pouco com medo do que ela poderia perguntar.
— Como está a expectativa de morar na Coréia? — perguntou.
— Hum… Um misto de euforia e insegurança. — ri de nervoso — Não sei dizer com precisão, mas estou preocupada.
— Com o que? — ela se levantou e caminhou em direção a cozinha — Vai me contando que vou preparar nosso lanche.
— Ok. — eu ri me levantando e indo atrás dela — Bem, de certa forma posso dizer que está sendo fácil fazer corte a distância, estou com medo de quando estiver lá, vê-lo todos os dias, na mesma universidade. 
— Hum… Já sinto que o sentimento está crescendo aí né?! — ela soltou uma risadinha boba — Sei como se sente.
— Você e o Charles são mesmo exemplo pra mim. — confessei sem rodeios.
— Ah menina, nem me fala, foi complicado aguentar a tentação, olhar para aquela boca dele e não poder dar nem um beijo… — ela passou a mão na cara, me fazendo rir — Tinha dia que eu mandava mensagem pra ele e falava que ia desligar o telefone só pra não ver a foto dele, menina, me dava umas vontade louca, nem comento.

Nós rimos um pouco, enquanto ela ia preparando alguns sanduíches para o nosso misto quente.

— Vocês dois não eram virgens né? — perguntei.
— Não, e isso deixava tudo ainda pior. — confessou ela rindo — Eu acho que quando se é virgem as coisas são mais fáceis… Bem, olhando para sua cara, acho que não.
— É pior, sem ofensa. — ri junto.
— Não, imagino que seja mesmo, porque você deve ficar imaginando como é né? — ela me lançou um olhar malicioso.
— Layla. — tentei chamar sua atenção, mas caímos na gargalhada novamente — Admito que já me peguei pensando como seria beijar ele.
— Hum…
— Eu nunca beijei antes, então, estou curiosa.
— O que? Sério? Nem um selinho?
— Selinho… Acho que sim. — ri com vergonha — Já tive várias oportunidades, mas fiquei com medo. 
— E agora?
— Não paro de pensar em como será quando me beijar. — senti meu coração acelerar um pouco ao imaginar a cena.
— Vocês definiram um prazo para a corte?
— Não exatamente, só definimos fazer a corte até o casamento. — respondi — Mas talvez seja até ele se formar, dois anos, um ano e meio, não sei exatamente.
— E a sua graduação?
— Ele não se importa se eu estiver estudando após nosso casamento, se nos casarmos após a formatura dele. — voltei em minha memória as conversas que tivemos sobre o assunto — Por enquanto não falamos muito sobre casamento, apesar de ser nosso objetivo no futuro, mas estamos mais focados nos estudos, tanto eu como ele.
— Ele disse que vai continuar estudando depois que formar? — ela desligou a trempe do fogão e me olhou.
— Ele pretende fazer mestrado e outra pós especializada em arquitetura industrial e pós moderna.
— Bem a cara dele. — ela riu — E você? já resolveu seu curso?
— Ainda não. — respirei fundo — É tão difícil, porque gosto de várias coisas, mas não me vejo fazendo nenhuma delas.
— O que exatamente você gosta?
— Música, mas não me vejo trabalhando com isso, matemática, amo exatas, mas não quero ser professora, gosto de desenhar, mas não quero nada relacionado a artes ou pintura, já até pensei em ser quadrinista já que gosto de escrever também, mas não sei se seria uma boa ideia. — continuei pensando — Meu lado escritora é legal, mas não me vejo fazendo letras ou sendo redatora, gosto de cozinhar, mas corro da gastronomia, deixo isso para meu pai. Amo animais, mas não quero mexer com animal morto na faculdade.
— Assim fica difícil te ajudar amiga. — ela cruzou os braços e balançou a cabeça negativamente.
— Desculpa. — fiz cara de criança carente.
— Já pensou em algo que talvez não tenha pensado e não seja óbvio demais? — perguntou ela.
— Ainda não.
— Você é criativa, talentosa, desenha bem, gosta de matemática, também escreve… — ela parecia pensar sobre minhas habilidades — Já pensou em design?
— Hum… Acho que já, Davi até comentou comigo sobre o curso de design gráfico que ele está fazendo na UEMG, mas não cheguei a ver.
— Pois é, ao invés de procurar algo específico, faça um curso de design geral, talvez tenha na universidade do . — continuou ela — Há várias vertentes do design que você pode explorar sem ficar presa a uma só e tem a capacidade de usar todas as suas habilidades.
— Não tinha pensado nisso. — comecei a pensar no que ela tinha dito.
— E se nada der certo, ainda pode tentar outras coisas depois. — completou ela.

Layla abriu um largo sorriso e piscou de leve, me fazendo sorrir junto. Com certeza eu pensaria mais em nossa conversa e pediria conselhos a única pessoa que me conhecia melhor que eu mesma: o Espírito Santo. Ela veio até mim e me abraçou forte, me fazendo sentir que o próprio Espírito Santo estava me abraçando naquele momento. Era tudo o que eu precisava. Senti o amor e o cuidado de Deus por mim, até nos pequenos detalhes.

 

"Oh, impressionante, infinito
E ousado amor de Deus
Oh, que deixa as noventa e nove
Só pra me encontrar.
Não posso comprá-lo
Nem merecê-lo
Mesmo assim se entregou
Oh, impressionante, infinito
E ousado amor de Deus."
- Ousado Amor / Isaías Saad

Chamado: Ser renovado por Deus.



38. Ageu

"”Tanto a prata quanto o ouro me pertencem”, declara o Senhor dos Exércitos."
- Ageu 2:8

- x - 

Entre o trabalho e afazeres da vida. Dei uma pausa no sábado de manhã, para comparecer a festa da minha afilhada que não via há tempos. Dara fez uma pequena festa no apartamento dos seus avós. Carol estava uma fofura de criança, vestido rosa com lilás, fita no cabelo e um sorriso meigo. Ela tinha crescido bem e eu nem tinha acompanhado isso. Madrinha desnaturada eu era.

— A madrinha é tão desnaturada que você nem reconhece. — disse ao pegar Carol no colo.
— Nós sabemos que a madrinha é muito atarefada. — disse Dara rindo — Mas estou feliz que tenha vindo na festinha dela.
— Decidimos fazer esse mês, porque mais pra frente vai ficar complicado. — explicou ela — Eu vou mudar o horário do meu trabalho. Ficarei no turno da noite agora.
— Sério?
— Sim, adicional noturno vai ajudar bastante, e de manhã posso ficar mais com ela. — explicou ela.
— Que bom então. — sorri de leve voltando meu olhar para Carol — Minha linda da madrinha.
— Ah, amei o presente que trouxe para ela, a jardineira do kids vai ficar linda. — agradeceu Dara.
— É?! Com as meninas à frente da marca de roupas da igreja, agora elas tiveram a ideia de fazer camisas e jardineiras para os kids. — comentei.
— Ficou lindo.
— Também achei, Yara tem maior talento para arte. — devolvi Carol para ela, que estava meio emburrada — Principalmente agora que está fazendo um curso técnico de moda. 
— Ela gosta mesmo dessa área né? — perguntou ao segurar a filha.
— Demais.
— Ela faz aquele do Senai?
— Acho que é… Técnico do Vestuário, coisa assim.
— Já ouvi falar, os professores de lá são muito bons.
— Ela sempre fala isso. 
— O meu técnico de segurança do trabalho também foi no senai. — comentou Carol — Até que foi mais barato que eu imaginei.
— Geralmente esses cursos são caros?
— Tem alguns que são.
— Aí complica.

 Não tinha muitas pessoas ali na festa. Somente os mais conhecidos, familiares, o pai da Carol e sua mãe. Meu pai e Mônica também estavam presentes, junto com Lira e Joseph. Fiquei pouco tempo. Tinha combinado de encontrar Layla para ajustar algumas coisas do acampamento. Faltava uma semana e eu estava quase surtando com todos os preparativos. Orando a Deus para nada dar errado em nosso primeiro Acampa.

— Calma , você está muito ansiosa. — disse Layla — Essa não é a minha primeira vez.
— Mas é a minha amiga. — suspirei fraco me sentando no sofá da sala dela — Oi Charles.
— Oi . — ele veio da cozinha e encostou na parede cruzando os braços — Tudo já está acertado, a maioria das pessoas que se inscreveram já acertou o pagamento, demos até quarta para finalizar tudo.
— O sítio que seria o mais caro, já está pago. — disse Layla assentando no puff próximo — Arrecadamos uma quantia boa com o bazar dos jovens.
— Isso me trouxe mais tranquilidade sabia. — respirei aliviada — Vou deixar então os últimos preparativos com você e a Isla, ela disse que te ajudaria com tudo.
— Fica tranquila, está tudo sob o controle de Deus, amiga. — Layla sorriu.
— Amém. — sorri de volta — E como está a vida de casado de vocês? Toda vez que venho aqui é trazendo preocupações. Por favor, não me expulsem.

Eles riram de mim.

— Estamos curtindo a beça. — disse Layla.

Charles deu uma piscada não tão discreta para ela, me fazendo rir.

— Vou deixar o casal então. — me levantei.
— Fica para o almoço. — ofereceu Charles.
— Não é todo dia que esse moço cozinha. — brincou Layla — Aproveita a oportunidade.
— Não, fica para próxima. — ri da cara triste que ele fez — Combinei de passar na casa do Davi.
— Davi, não vi ele na célula que ministrei semana passada. — comentou Layla.
— Então, abriu outra célula de jovens, e o Davi está tendo que liderar lá. — expliquei — Aos poucos ele tem voltado a fazer a obra.
— Entendi. Isso é bom. — disse Layla — Não pode desanimar e nem desistir.
— Melhor ainda é saber que abriu mais uma célula. — comentou Charles.
— Sim, meu pai está planejando outra festa de multiplicação em janeiro. — eu contei a eles.
— Amo festas. — Layla vibrou um pouco.

Eu me despedi deles e segui para casa de Davi. Ele já tinha chegado do seu curso, e como de costume estava no quarto jogando. Bati na porta antes de entrar, ainda me impressionava com sua concentração.

— Bom dia, flor do dia. — disse ao me sentar na cama dele o observando.
— Bom dia. — disse ele mantendo seu olhar na tela do computador.
— E aí irmão, só jogando? — perguntei.
— Não e sim. — respondeu concentrado enquanto digitava no teclado — Acredita que estou desenvolvendo um jogo em 2d? No meu curso.
— Que legal, mas sua graduação não é de design gráfico? — perguntei confusa.
— Sim, esse jogo é do centro de extensão da UEMG. — explicou — É bem legal, é um jogo educativo que ensina libras.
— Que interessante, gostei da iniciativa. — elogiei.
— Estou me divertindo a beça.
— E o curso que estava fazendo de artes gráficas? Acabou?
— Eu mudei a grade, já que passei no SiSu e tô no gráfico, agora vou fazer aulas na turma de sábado e com os módulos que vai ser vantajoso pra faculdade. — respondeu ele ao para e me olhar — Menina, que cara de cansada, você não tem dormido não?
— Tenho sim, mas parece que tô fazendo medicina junto com a Lira, não consigo descansar. — nós rimos — Você me pediu para vir aqui. O que deseja?
— Tenho uns amigos da faculdade que querem ir no acampamento. — respondeu — Falei tanto sobre isso que eles ficaram curiosos.
— Que benção. 
— É, eles vão me dar o dinheiro na segunda. 
— Ok, acerta com a Isla, é ela que está recebendo a grana. — expliquei — Tenho até que pagar meu ingresso também na terça no discipulado.
— Vai ter?
— Sim, só para aqueles que vão trabalhar no acampamento.
— Eu devo ir?
— É claro seu bobo, você vai trabalhar. — ri dele.
— Eu vou? — ele me olhou surpreso.
— Claro que vai, meu pai me falou que você precisa trabalhar mais na obra. — comentei.
— Beleza então.
— Hum…
— O que?!
— Nada.

Eu ri dele. 
Após tantas coisas acontecendo tanto na minha vida quanto na dele, eu pensei que nossa amizade tinha se distanciado, porém era a mesma. Davi continuava sendo aquele amigo/irmão bobo que amava fazer brincadeiras comigo. Principalmente se tratando da minha corte com . Eu estava feliz por sua postura em mergulhar na busca por Deus e leitura da palavra, após o término do namoro. Meu amigo tinha me contato que agora seu foco era somente buscar intimidade com o Pai e esquecer das outras coisas, assim não pensaria besteiras e sua fé aumentaria. Mas lá no fundo eu conseguia sentir que ele tinha medo de se decepcionar novamente com suas escolhas e entristecer a Deus outra vez.

Os dias se passaram bem rápido. 
E lá estavam todos reunidos na igreja na quinta à noite com suas malas, prontos para seguir viagem. Isla verificou os pagamentos de acordo com as pulseiras que distribuía. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas durante a organização, tudo deu certo no final. Tivemos dinheiro para pagar o sítio antecipado. Conseguimos comprar os alimentos que seriam servidos. E ainda sobrou dinheiro para fazer um brinde que seria entregue na festa de sábado à noite. Seria uma noite de festa havaiana.

— Jovens… Sejam bem vindos ao primeiro acampa jovens da nossa igreja. — disse Isla ao pegar no microfone, após o louvor fazer a introdução da recepção inicial no salão do sítio — Estamos aqui não só como um momento de diversão e comunhão, mas também com um momento de recarregar as energias, pois como já sabem o tema do nosso Acampa Jovem é Cumprindo o Ide.

Eu estava no canto direito, observando todos aqueles jovens e adultos animados, intercedendo e também me empolgando com tudo. Vi Charles de relance com sua câmera profissional registrando tudo, assim como Davi operando a mídia se certificando que tudo estava saindo em ordem com o som. Tinha deixado Yasmin à frente da equipe que levaria o louvor em todos os cultos que teriam no acampamento. 

— Agradeço desde já a presença de todos vocês aqui, ao pastor Jonas que confiou em nós, jovens escolhidos por Deus, a toda a equipe que se mobilizou e dispôs a trabalhar e servir neste evento. — continuou Layla — Tem uma frase que ouvi de um filme é guardei para mim, gostaria de compartilhar com os irmãos, e diz assim: “Para que todos os perdidos sejam salvos, todos os salvos devem ser mobilizados.” E é isso que estamos fazendo aqui, nesses dias além da diversão vamos nos unir também em oração para que em nossa volta para casa sejamos ainda mais mobilizados a levar o amor de Jesus a quem está perdido e precisa ser encontrado pelo Pai. 

Layla convidou meu pai para dar algumas palavras e alguns avisos. E então tivemos mais um momento de louvor e adoração, que perdurou por algum tempo, até que seguimos para o refeitório para jantar. Em meu coração, mesmo sendo o primeiro dia, a sensação de dever cumprido já se manifestava em mim. Estava feliz por aquela oportunidade e por sentir que a presença de Deus já estava reinando e operando naquele lugar.

E o mais importante de tudo: a provisão veio para a glória de Jesus.

"Deus Proverá
Minha vida, minha casa
Meus problemas já estão no altar
Deus proverá
Ele sempre tem uma resposta
Pra quem clamar."
- Deus Proverá / Eyshila

Chamado: Reconhecer que tudo pertence a Deus.



39. Zacarias

"Eis o que devem fazer: Falem somente a verdade uns com os outros e julguem reta­mente em seus tribunais;"
- Zacarias 8:16

- x - 

Novembro chegou com sua mistura de frio e calor. Eu estava nervosa pela data da prova estar próxima. Para minha surpresa, teria que viajar para São Paulo e fazê-la presencialmente no prédio do Consulado Geral da República da Coreia em São Paulo. A boa notícia é que veria meus avós e mataria a saudades deles, e também do meu amigo Kento. Sábado de manhã, acordei cedo e segui para a cafeteria, aproveitaria ao máximo minha estadia lá e faria algumas horas extras, pois meus dias estavam contados trabalhando para o sr Rodrigues. Mesmo não passando na prova, meu pai tinha me aconselhado a tentar fazer hangul em outra universidade, que fosse barata, assim não perdia a oportunidade.

— Você nem foi embora e eu já estou sentindo sua falta. — disse Felícia após levar o pedido e voltar.
— Deixa de drama Felícia, eu ainda vou ficar o mês de dezembro aqui, só vou embora em janeiro ainda. — expliquei a ela.
— Mas eu vou sentir falta das nossas conversas e seus conselhos. — ela me olhou fazendo bico.
— Se vai sentir falta dos meus conselhos, comece a segui-los. — a olhei séria — Se livra logo daquele seu namorado encostado e se ame primeiro.
— Eu vou, só estou esperando o melhor momento. — explicou ela.
— Melhor momento? Você gosta de sofrer Felícia. — Tânia entrou na conversa — Termina logo com aquele babaca. 
— Falou a miga do casamento falido. — ela lançou um olhar chateado para Tânia.
— Pelo menos estou lutando para melhorar. — retrucou ela.
— Meninas, não briguem. — eu ri delas — Eu é que vou sentir falta da troca de amor de vocês duas.

Nós três rimos e continuamos nossos afazeres. Após sair da cafeteria, passei na casa de Layla para acertar os detalhes do próximo culto de jovens. Charles estava na cozinha fazendo alguns sanduíches para nós, enquanto a gente conversava da sala.

— Podemos já divulgar, já que definimos no último sábado do mês? — perguntou Layla, anotando no calendário do celular.
— Sim, vou pedir ao Davi para fazer o flyer digital de divulgação. — consenti — Obrigada por entender meu perfeccionismo.
— Que isso amiga, eu já falei pra você não ficar tão preocupada assim com essas questões. — afirmou ela ao sorrir com gentileza para mim.
— É que, até o meu pai te passar oficialmente a direção dos jovens, eu me sinto responsável e não consigo me manter tranquila. — expliquei um pouco constrangida por ficar supervisionando ela o tempo todo.
— Isso só mostra seu comprometimento. — ela segurou em minha mão — Fico feliz que seja assim.
— Agradeço o apoio. — sorri de volta.
— E como estão os estudos para a prova? — perguntou Charles ao aparecer com uma bandeja com os sanduíches na mão.
— Angustiante. — respondi — Oro antes, durante e depois. 
— Está complicado assim? — Layla se moveu para arrastar a mesa de centro para que ele colocasse a bandeja.
— Complicado não, mas conseguiu uma cópia da prova do ano passado com uma caloura do curso dele, a menina estudou em uma escola de elite da Espanha, e ficou em décimo lugar. — respondi não me deixando abalar — A prova é em inglês e nada fácil.
— Mas você tem estudado muito, até com o . — Layla me olhou — Não se acha capaz de fazer a prova?
— É um misto de coragem e insegurança sabe. — desabafei dando um suspiro fraco — Mas estou me preparando psicologicamente caso não dê nada certo.
— Tenha fé e pense positivo. — aconselhou Charles.
— Estamos orando por você amiga. — assegurou Layla.
— Amém, agradeço.

Nós lanchamos os sanduíches acompanhado de suco de laranja, já que meu jejum de chocolate continuava vivo e operante. Charles chamou um uber para mim e voltei para casa. Assim que entrei no apartamento, me deparei com Mônica deitada no sofá, parecia ter tido um mal-estar. Lira tinha me mandado uma mensagem de tarde falando isso. A gravidez dela era um pouco delicada, e seu trabalho tinha sido transformado em home office, assim ela não se esforça tanto com transporte. Meu pai se encontrava na cozinha fazendo a janta, cantarolando um louvor da igreja.

— Finalmente cheguei… — disse ao fechar a porta — Bença pai, bom dia Mônica.
— Bom dia . — ela sorriu para mim e voltou o olhar para o celular.
— Deus te abençoe filha. — meu pai voltou o olhar para mim e sorriu — Conversou com o Rodrigues hoje?
— Não, ele não foi, mas segunda eu converso com ele. — respondi.
— Já passamos do dia 15, você precisa falar com ele sobre sua viagem. — me alertou ele.
— Eu já falei que vou passar cinco dias em São Paulo, mas a parte do aviso prévio, ainda vou falar. — expliquei.
— E vai quando? — perguntou ele.
— Eu vou na segunda e volto no sábado de manhã, assim vou poder participar do culto de jovens. — respondi.
— Abraça seus avós por mim. — pediu ele.
— Vou tomar um banho. — me afastei da porta e segui para o corredor — Lira está em casa?
— Está no quarto estudando. — respondeu Mônica.

Me aproximei da porta do nosso quarto e girando a maçaneta, abri e entrei. Lira estava ajoelhada nos pés da nossa beliche. E assim que me viu se levantou secando as lágrimas. Ela sorriu meio tímida e olhou para a bancada de estudos, pegando seu celular.

— Te atrapalhei?! — perguntei me sentindo constrangida.
— Não, eu já estava terminando. — ela respirou fundo e começou a mexer no celular — Estava tão surtada com a prova de manhã e a matéria que não entra na minha cabeça, que minha mãe me mandou vir orar, depois que saí chorando do quarto.
— Uau. — a olhei espantada, medicina era mesmo pesado — Está melhor agora?
— Sim, estou mais tranquila, e depois do jantar vou ler mais um pouco e ir dormir. — ela se sentou na cadeira — Minha cabeça está meio pesada agora, não quero ler mais nada.
— Eu vou tomar um banho. — deixei a mochila em cima da minha cama e peguei a toalha.

Fui para o banheiro, tomei meu banho relaxante e coloquei o pijama de morangos. Quando voltei para o quarto, Lira continuava mexendo no celular, sua concentração me deixou curiosa.

— Com quem você tanto fala? — perguntei espichando o pescoço.
— Com o Joseph. — ela manteve a atenção no aparelho, mas sorriu discretamente, suas bochechas coraram um pouco.
— Hum… — eu sorri para ela me aproximando — Como está indo a corte de vocês?
— Está sendo instigante. — respondeu subjetivamente.
— Só?
— Ah… — ela desligou a tela do aparelho e me olhou — Estamos construindo uma amizade sólida primeiro, assim como eu, Joseph ainda tem algumas partes da vida que precisa de cura interior.
— Hum… — eu me afastei e sentei na cama a olhando — Nada que o amor de Deus não cure.
— Sim, e estou feliz de ver como ele tem se entregado a Deus. — comentou ela dando um sorriso fofo.
— Eu também estou bem feliz por isso. — retirei o celular do bolso e vi uma mensagem de bom dia de , sorri no automático.
— É o ? — perguntou ela.
— Sim, me dando bom dia. — coloquei o celular ao lado na cama — Respondo depois, essa hora ele deve estar na prova dele, não posso atrapalhar.
— Semana de provas também? — perguntou ela.
— Não, como seu estágio terminou, agora está fazendo uma prova para ser efetivado. — expliquei.
— Mesmo não sendo formado?
— Sim, mas vai continuar trabalhando de meio período. — assenti.
— Que louco, eu não vejo a hora de fazer estágio.
— Já pensou em algum hospital específico? — perguntei curiosa.
— Uma veterana do curso disse que o Padre Anchieta é um bom hospital infantil para se trabalhar, a tia dela é auxiliar de enfermagem lá. — comentou comigo — Mas ainda estou pensando.
— Mais alguém da sua sala quer se especializar em pediatria?
— Só mais duas pessoas, a maioria quer se especializar em clínico geral ou cirurgia. — respondeu se levantando da cadeira — Vou ver como está minha mãe.
— Quando eu cheguei ela parecia melhor. — comentei ao me levantar junto — E pelo cheiro o jantar parece estar pronto. 
— Estou morrendo de fome. — brincou ela.

Seguimos para a cozinha em risos e adivinhações do que meu pai havia feito naquela noite. Chegando na sala, Mônica já se mantinha sentada no sofá com o prato de lasanha na mão. O cheiro forte de frango invadiu minhas narinas. Eu e Lira atacamos a travessa e até repetimos. Eu voltei primeiro para o quarto para fazer meu devocional, e Lira continuou na sala conversando com meu pai e sua mãe. 

Pra onde iremos nós? Só Tu tens a vida eterna. Pra onde iremos nós? Só Tu tens a vida eterna. — iniciei meu louvor — Tu és o Pão que desceu do céu. Fonte de vida, o Deus Emanuel.

Após meu momento de oração, arrumei a cama e me deitei. Senti um cansaço no corpo e o celular vibrar debaixo de mim. Peguei e vi outra mensagem de .

: Bom dia.
Terminei a prova
: Bom dia
e como foi?
: um misto
tinha coisas fáceis e difíceis
mas consegui fazer
: que bom
Deus abençoe que tenha uma boa nota
: e você? já foi para casa dos seus avós?
: segunda que vem
: a prova é na quarta?
: sim.
: fique tranquila
já deu certo
em nome de Jesus
: amém
estou me sentindo ansiosa e nervosa
: estou orando por você
está nas mãos de Deus, você vir ou não para cá
: sim
eu sei.
: então não deixe a ansiedade atrapalhar sua fé
aguarde e confie, sua parte já está fazendo
se quiser, podemos estudar juntos de novo
: obrigada
vou querer sim
me dá um frio na barriga sempre que lembro dessa prova
: você me disse que o enem é bem pior
se você sobreviveu a ele kkkkkkkkkk
: verdade
kkkkkkk
: como foi o trabalho?
conseguiu falar com o sr Rodrigues?
: ainda não
eu vou falar com ele amanhã
: hun
não demore
: não vou, amanhã sem falta
ele tinha um compromisso em uma filial no shopping cidade
: ah
: como estão todos aí?
: acho que bem.
: acha?
: não fui para casa esse final de semana
: não?
e o que ficou fazendo?
: um prédio em maquete de isopor na sala de projetos.
era para terça e tive alguns problemas na montagem
virei o final de semana fazendo
: uau
se alimentou direito?
: sim
minha madrasta veio até aqui trazer 
meu almoço no sábado acredita?
: ela parece mesmo ser um amor de pessoa
: ela é
: preciso ir dormir
bom dia

Desliguei a tela do celular antes mesmo dele terminar de digitar sua mensagem. Meu olhos pesados mostravam o quão sonolenta já estava. Olhei para Lira que tinha entrado sem eu reparar, ela se mantinha sentada na cadeira estudando com fones de ouvido para sua prova. Devia estar ouvindo os áudios que gravava das suas aulas. Minha irmã parecia mesmo desesperada com os estudos.

- x - 

— Vovó, vovô. — eu os abracei com carinho assim que desci do ônibus de viagem e os vi na rodoviária — Que saudade.
— Minha querida. — vovó sorriu de leve para mim — Como está bonita, e mais corada.
— Seu cabelo cresceu também. — comentou vovô pegando meu projeto de mala — Como está seu pai?
— Está bem.
— E o casamento? Está se dando bem com sua madrasta? — perguntou vovó.
— A Mônica é muito gentil e simpática, foi fácil gostar dela. — respondi.
— Vamos para casa, que aqui está ficando cheio de mais. — comentou meu avô.

Vovô Jorge não gostava muito de multidões, ele tinha um tique que o fazia desviar de aglomerações, além de ser extremamente caseiro, o contrário da vó Carmen que amava festas e participar dos eventos da igreja dela. Ambos eram católicos, tinham uma grande fé em Deus, que me deixava admirada. Também eram exemplos para mim. Assim que chegamos, fui recebida com animação pelo Bob, o cãozinho que eles adotaram recentemente. Espuleta e muito hiperativo, que pulava em mim sem cerimônias.

Os dias se passaram e finalmente eu estava entrando no prédio da embaixada. Um frio na barriga, meu coração acelerado, minha boca seca, e cheia de ansiedade. Por mais que eu tivesse orado antes de sair da casa dos meus avós, não conseguia conter o nervosismo de dentro de mim. Passei pela recepção e logo um responsável veio me atender. Na sala que eu faria a prova, tinha mais dez pessoas. Uma delas puxou assunto enquanto esperávamos, e descobri que eram de lugares diferentes do Brasil. Foram três horas silenciosas e mais longas que tive. Minha bunda doeu ao levantar da cadeira. A primeira coisa que fiz ao sair da sala foi ir ao banheiro e me trancar em um reservado e orar em agradecimento a Deus pela prova.

Mandei uma mensagem a , dizendo como tinha ido tudo. 
Eu não sabia se tinha ido bem ou mal, esperaria pelo resultado até o mês que vem. Mas estava certa que passando ou não na prova, em meu coração tinha a confirmação que a Coreia seria meu novo lar no próximo ano. Aproveitei os dias restantes na casa dos meus avós paternos onde estava, e visitei os meus avós maternos também. 

Na volta para Belo Horizonte, consegui chegar no aeroporto de Confins a tempo de participar do culto de jovens. Em meio ao louvor que era ministrado por um grupo convidado, senti paz em meu coração em relação a minha prova. Eu sabia que tudo estava no controle de Deus, e jamais me deixaria enganar pela ansiedade.

Acima de tudo, Jesus sempre está no controle.

"Com Tua Glória sobre mim
Enche-me de Ti até transbordar
Eu nunca vou me saciar
Enche-me de Ti até transbordar
Pra onde iremos nós?
Só Tu tens a palavra de vida eterna."
- Pra Onde Iremos? / Gabriela Rocha

Chamado: Ser reto e verdadeiro.



40. Malaquias

"Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes."
- Malaquias 3:10

- x - 

Eu não sabia que era tão divertido e ao mesmo tempo corrido um backstage de desfile de moda. Mas aqui estou eu com Yasmin e Yara, ajudando Anne com seu desfile de conclusão de curso. Modelos para todos os lados, técnicos montando a passarela, professor organizador estressado e nós quatro rindo de tudo sentadas nas arquibancadas no Mineirão, onde seria o desfile. Eu já tinha visto aquele estádio pela televisão, mas nos 3 anos morando em BH, nunca tinha tido a oportunidade de entrar e assistir algum jogo. E como eu sempre gostei mais de vôlei que futebol, então acabei recusando alguns convites de Davi, que é atleticano quase doente. Eu sempre zoava ele com seu time.

— Nossa aqui é tão lindo à noite! — comentou Yara mantendo seu olhar para o gramado.
— Sim. — concordou Yasmin — Será que na minha vez a gente vai apresentar a coleção de tcc aqui?
— Não sei. — disse Anne — Cada ano é em um lugar diferente, mas ele costumam repetir o local.
— Vai ser babado você apresentar sua coleção de tcc aqui Yasmin. — comentou Yara empolgada — E pode me chamar para o backstage.
— Claro que vou sócia. — Yasmin pisquei de leve — E trate de estudar muito para entrar na federal também.
— Já estou estudando muito. — assegurou ela.
— Meninas. — a staff da produção apareceu da porta — Dez minutos.

Nós assentimos e nos levantamos dos bancos, saímos no corredor onde o caos parecia estar instaurado. Pessoas andando para todos os lados, algumas formandas da sala de Anne nervosas, modelos trocando de roupa ali mesmo para voltar a passarela. Era mesmo um universo exigente e perfeccionista, que desejava tudo impecável. Mas mesmo com toda aquela loucura, não deixamos a empolgação de lado e ajudamos Anne com entusiasmo. 

No final do desfile, seguimos para casa dela, que era na região da Pampulha mesmo. Pois seria mais seguro dormir lá, do que atravessar a cidade quase meia noite para voltar a Nova Lima. Anne morava sozinha em um apartamento alugado, ela tinha uma colega de quarto, que acabou trancando o curso e voltando para sua cidade natal no interior da Bahia. Agora, Yasmin estava interessada em ocupar a vaga e morar perto da faculdade, mas não o fazia para não prejudicar seu ministério na igreja. Sua meta era ter uma moto para facilitar seu meio de locomoção, e para isso uma carteira de motorista se fazia necessária também. E por ser filha única, sua mãe a ajudaria. 

— Aqui é tão silencioso. — comentou Yara — Diferente da minha rua, que a madrugada toda tem gente gritando nela. 

Nós rimos.

— Por ser apartamento, todo mundo meio que respeita o silêncio do outro. Só final de semana que a gente fica ouvindo as festinhas paralelas, mas a maioria daqui é aluno da federal ou da escola de design da uemg.
— Não tem curso de moda lá não?! — perguntei.
— Então, estão prometendo, mas até hoje nada. — reclamou Anne, retirando o sapato de salto ao lado da porta e entrando descalço — A Uemg é referência quando se fala de design, porém o máximo que conseguiria lá é produto, e não queria isso.
— Bem que podiam fazer logo esse curso. — bufou Yasmin — Quase não temos materiais para trabalhar lá na federal, isso me deixa frustrada demais.
— Eu durante meus quatro anos. — assentiu Anne caminhando até a parte que era da cozinha — Estão com fome meninas?
— Eu estou. — respondeu Yara se jogando no sofá e tirando o tênis — Minha barriga reclama aqui.
— Também estou abaixo de zero aqui dentro. — concordou Yasmin — Aquele lanche que deram pra gente não ajudou em nada.
— Ah, mas eu gostei do sanduíche, estava gostoso. — defendi.
— E por falar nisso, seu chefe vai descontar o dia de hoje de você ? Já que faltou? — perguntou Anne remexendo na geladeira.
— Mais ou menos, eu tenho hora extra na casa, ele vai pegar de lá. — expliquei.
— Ah… E como está esse negócio de juntar dinheiro para a viagem, está conseguindo? — perguntou Yasmin.
— Bem, é para isso que serve as horas extras. — respondi.

Elas riram.

— Já saiu o resultado da sua prova? — perguntou Yasmin.
— Ainda não. — desviei o olhar para a janela, e caminhei até lá.

Eu era reservada quanto a minha vida privada. As pessoas só sabiam da “possibilidade” de eu ir para a Coreia, porque meu pai mencionou do discipulado com os líderes da igreja. E expliquei que faria uma prova para ri para lá. Mas não contei tudo em detalhes, um conselho da minha avó é nunca sair espalhando seus sonhos para as pessoas, afinal, não sabemos quem é verdadeiro conosco e quem é invejoso. O coração do homem é enganoso e ser reservado era a melhor coisa a se fazer. 

Mantive minha atenção nos carros passando na Antônio Carlos, a vista do apartamento dava direto para a grande e famosa avenida. As meninas continuaram conversando, comigo viajando em minha mente. A pergunta de Yasmin, me trouxe pensamentos sobre como seria minha vida lá, como seria a corte estando mais próxima a , se a gente continuaria juntos ou não, tendo essa experiência de aproximação. Comemos um lanche preparado por Anne, depois dormimos espalhadas pelo apartamento. Na manhã seguinte, voltei para casa antes das meninas. Tinha uma reunião do meu pai, Lira e Joseph, sobre a participação deles em apoio a igreja do pastor James, no projeto café solidário. Eu tentei ao máximo ficar atenta as palavras do meu pai, mas tinha dormido pouco por passar a madrugada conversando com as meninas sobre estudos e estágios. No final, Joseph acabou ficando para o almoço com a insistência do meu pai, e finalmente provou do tempero do chefe Jonas.

Entrei no quarto e me deitei um pouco na casa. Senti umas dores nas costas, por ter passado a madrugada deitada no sofá de Anne. Retirei o celular do bolso e olhei o visor, meu papel de parede era o lettering do versículo de João 14:1. Abri o kakaotalk e mandei uma mensagem para . Nesse horário, provavelmente ele estaria indo para seu estágio, ou estudando na biblioteca. Fiquei olhando a tela, esperando um sinal de vida dele. Porém, nada, somente uma mensagem de Davi no whatsapp me chamando para passar na casa dele hoje, antes do culto. 

Meu irmão certamente precisava conversar comigo. Fechei os olhos por um tempo mantendo o celular do lado e cochilei. Acordei pouco depois das três da tarde e fui tomar um banho para ver se meu corpo recuperava o ânimo. Coloquei minha jardineira do kids com o blusa azul, pois minha equipe era a responsável da semana, e segui para casa de Davi. Fui atendida pela tia Beth que voltou para cozinha, dia de santa ceia, ela com a ajuda de dona Muriel organizavam tudo.

Cheguei na porta do quarto de Davi e dei dois toques entrando. Ele estava concentrado mexendo no computador, mas para minha surpresa não estava jogando.

— Que concentração. — comentei.
— Estou fazendo um trabalho aqui para amanhã. — ele manteve a atenção na tela do computador — Como foi o desfile?
— Foi bonito, nos divertimos bastante. — respondi adentrando, indo em sua direção — É algo muito difícil?
— Não, depende, se você sabe usar photoshop e illustrator ou corel. — respondeu se referindo aos programas que aprendia no seu curso — Felizmente aquele curso de artes gráficas está me ajudando muito.
— Isso é bom. — me coloquei ao lado dele, olhando para uma espécie de logo que ele montava — Bonito.
— Obrigado, estou desenvolvendo minha identidade visual. — explicou, percebi um discreto sorriso de satisfação em seu rosto — Para a aula de metodologia aplicada ao projeto.
— Hum, que chique. — eu ri.
— Pois é, gastamos cinco meses de pesquisas e obras análogas, testes e croquis para chegar nesse resultado. — comentou ele, parecia frustrado — Quase que a professora não aceita minha arte final, agora preciso refinar aqui.
— Está usando qual programa?
— Estou vetorizando no illustrator. — respondeu.

Davi já tinha me explicado algumas coisas do seu curso e me ensinado alguns termos que aprendeu também. Era tudo lindo e bonito no resultado final, mas para chegar a ele, meu irmão me dizia que metade da sua sala entrava em surto e chorava no meio das aulas. Isso me deixava apreensiva, em pensar que estudaria do outro lado do mundo longe da minha família que me apoia e dos meus amigos. A maioria tinha se dividido em ir para federal ou uemg, cefet ou para a puc-minas pelo pro-uni. E eu iria para bem longe.

— Está tudo bem com você? — ele largou o mouse e me olhou.
— Sim. 
— Tem certeza? Me parece abatida. — ele me conhecia bem.
— Só cansada, e ansiosa por meu resultado. — desabafei me sentando em sua cama — Eu juro que estou tentando, mas tá complicado.
— Acalma esse seu coração menina. — me aconselhou ele — Quanto mais ficar preocupada é pior, deixa Jesus resolver isso, você estudou, fez a sua parte, agora é com o Pai.

Davi era tão bom em dar conselhos quanto meu pai e eu. Talvez fosse um dom de Deus, talvez não, com certeza era um dom. E ele tinha razão, só que na prática, parecia não dar muito certo me conter a espera.

— Eu sei. — mantive meu olhar na tela do computador — É que só de pensar que vou iniciar um novo ciclo da minha vida longe do meu pai, eu me sinto insegura às vezes.
— É a primeira vez que fica longe dele, né? — ele me olhou com compaixão.
— Sim. Até na mudança para Minas eu estava com ele, agora sou eu que vou me mudar e sozinha. — continuei o desabafo — A parte boa é que meu pai não vai ficar sozinho, ele agora tem a Mônica e nossa família vai aumentar com o bebê a caminho.
— Está com medo?
— Mentiria se dissesse que não. — assenti — Mas, estou orando contra isso, pois sei que o que acontecer é propósito de Deus.
— Continue mantendo essa confiança, a palavra fala que a oração do justo, pode muito em seus efeitos. — disse ele.
— Tiago 5:16. — completei com a referência e sorri — Eu sei disso.
— Então, acalme essa alma e descanse no Senhor. — seu olhar ficou sério.
— Eu vou. — assenti — Hum… Para que me chamou aqui? Algum problema?
— Nada. — ele voltou o olhar para a tela do computador.
— Davi, eu te conheço, fala o que é. — insisti.
— É que… Até eu não sei, sabe. — ele me olhou de novo.
— Explica.
— Sabe sua amiga da federal? A do desfile.
— O que tem a Anne?
— Então, ela soube pela Yasmin que eu estava fazendo o cursinho de artes gráficas e a faculdade, e veio falar comigo. — iniciou ele — Começamos a conversar sobre a diagramação do portfólio de tcc dela e a identidade visual da sua marca.
— Foi você quem fez? — perguntei surpresa.
— Foi.
— Uau, ficou lindo aquela logo e o portfólio dela, ela me mostrou o pdf ontem. — comentei.
— Pois é, durante esse semestre trocamos mensagens por causa desse trabalho dela… — ele desviou seu olhar para o chão — E percebi que ultrapassamos as barreiras e ficamos meio íntimos nesse processo.
— Íntimos?
— É, ela conta seus problemas pra mim e eu me peguei na liberdade de fazer o mesmo. — explicou ele — Não sei se posso considerar isso uma amizade ou…
— É claro que é, e pelo seu olhar está sentindo bem mais que isso. — notei a tristeza no olhar dele.
— É que já tentei duas vezes e tenho medo de não dar certo e me frustrar de novo. — desabafou ele — Já considerei a ideia do celibato que Paulo aconselhou. 
— Não vem com essa ideia que nem meu pai não. — o repreendi — Olha, tenho certeza que o propósito de Deus pra sua vida é melhor do que se imaginar sozinho até a morte, se fosse assim Ele já teria dito para você desistir disso, mas como não disse, então pare com esse pensamento errado. — fui firme em minha voz — Se está gostando dela, seja direto e honesto, Anne vai entender, e pelo que sei ela está solteira.
— Eu sou cinco anos mais novo que ela. — argumentou ele.
— E daí? Nada impede isso, se você tem algum preconceito quanto a isso, joguei-o por terra e lute pela sua felicidade. — o aconselhei.
— Você é uma boa irmã. — ele sorriu e piscou de leve.
— Obrigada. — joguei o cabelo para trás me exibindo um pouco.

Rimos daquilo. 

— Agora sou eu que digo Davi, fique em paz.

Nós nos abraçamos e eu me levantei. Fui para a cozinha e dei uma espiada no que acontecia, ofereci minha ajuda para terminar de colocar as taças na bandeja. Não demorei muito para ir para igreja, pois tinha que chegar com 30 minutos de antecedência. Sendo a líder, tinha que dar exemplo a todas, principalmente Lira que eu treinava para deixar em meu lugar. 

Terça pela manhã, acordei recebendo uma importante e esperada notícia. Assim que liguei o notebook e li com mais calma o email enviado pela embaixada coreana, minha primeira reação foi ajoelhar e agradecer a Jesus pela resposta. Sim. Eu tinha passado na prova e ficando em segundo lugar no ranking geral, uma das três bolsas ofertadas seria minha. Eu chorei? E como chorei, tanto que foi difícil para meu pai entender o que estava acontecendo comigo, até Lira se assustou com minha reação. Ela teria aula mais tarde, então estava dormindo mais um pouco, e acordou com meu choro.

Mônica se aproximou do computador e leu o email em voz alta. O olhar orgulhoso e feliz do meu pai, se misturava a preocupação em sua face. Era sinal que sua filha iria para longe dos seus olhos. O misto de sentimentos me invadiu, mas o que prevaleceu foi a gratidão ao Espírito Santo por estar sempre comigo em todos os momentos. Não tive muito tempo para comemorar, pois ainda cumpria meu aviso prévio na cafeteria. Cada centavo que ganhava e economizava, valia a pena.

À noite, mandei uma mensagem no grupo do whats dos jovens líderes, a grande notícia. Todos os amigos que conquistei em Minas, me parabenizaram pela conquista e profetizaram a benção de Deus em minha nova jornada. Principalmente Yara, que estava ainda mais encantada com o mundo dos doramas.

Yara:
Agora até eu também quero ir para lá.
Yasmin: 
Vai me deixar sozinha na federal?
traidora.
Yara:
meus oppas estão lá
Madu:
trocou de gosto também yara?
Yara:
é pq você nunca viu o lee minho miga 
kkkkkkkkkkkk
Pietro:
Parabéns
você merece
estudou muito
Isla:
Verdade
e agora temos onde passar férias
Eu:
kkkkkkkkk 
gente 
eu vou morar no dormitório da faculdade
Layla:
mas o tem a casa dos pais
#partiucoreia #nasférias
Davi:
e você ñ acha q já pedi 
pra reservar um quarto pra mim?
kkkkkkkkkkkk
Yara:
uhhullll….
Benjamin:
eu também quero participar dessa férias aí
kkkkkkk
Layla:
todo mundo
vai preparando tudo lá
Charles:
imagina, segunda lua d emel na coreia
*de mel
Layla:
ui.. eu gostei dessa
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Eu:
kkkkkkkk
Lira:
kkkkkkk
Yara:
kkkkkkkkkkkkk
Benício:
kkkkkkkkk
Davi:
kkkkkkkkkkk
Yasmin:
kkkkkkkkkkkk

Fiquei emocionada por vê-los felizes por minha conquista. Ter o apoio deles que fizeram parte de três anos da minha vida, é significativo, pois criamos elos fortes de amizade.

- x - 

— Bom dia. — disse ao abrir um largo sorriso, quando me viu no saguão do aeroporto de Confins.

Ele tinha vindo até o Brasil para me buscar pessoalmente. Como seria minha primeira vez viajando de avião por mais de 2 horas, ele se ofereceu para estar ao meu lado nessa experiência louca. 

— Bom dia. — eu sorri para ele.

Já imaginando que veria aquele seu rosto lindo, aqueles olhos puxados todos os dias na universidade de Yonsei. Me deu um frio na barriga.

— Seu voo foi bem pontual. — comentei desviando meu olhar para o lado.
— Sim, desta vez sim. — ele olhou em volta — Veio sozinha me receber?
— Não, o Davi veio comigo, ele foi ao banheiro. — respondi procurando meu amigo com o olhar — E você? Veio sozinho?
— Sim. — assentiu ele — Sunny está de castigo de novo, então não pode vir.
— Vai mesmo passar o natal aqui comigo? — perguntei insegura.
— Sim. — garantiu ele — É o último que vai passar com seu pai antes de ir, quero participar também.
— Obrigado por tudo. — mantive o sorriso no rosto.

Me bateu um desejo louco de abraçar ele. Senti meu corpo querer se mover para fazer isso. Mas respirei fundo discretamente e me movi para a direção do banheiro. Seria um bom momento para Davi aparecer e estragar o clima. E bem quando preciso dele, meu irmão aparece com um sorriso largo no rosto e indo direto abraçar . Fazer aquilo que eu queria fazer, mas melhor não.

— Finalmente amigo. — disse Davi após o abraço — Animado para passar as festas de final do ano aqui com a gente?
— Bastante, e conhecendo o grupo de amigos de vocês, sei que vou me divertir muito. — disse .
— Bom que já vai se acostumando com a convivência direta com a . — comentou Davi lançando um olhar malicioso para mim.
— Vamos Davi? Ainda temos que abastecer o carro. — o lembrei, desviando do seu olhar.
— Vocês vieram de carro? — se impressionou.
— Pois é, meu irmão aqui conseguiu tirar carteira de motorista. — respondi naturalmente.
— Sou o novo motorista da rodada. — brincou ele — Nosso grupo de amigos é grande, precisamos de mais motoristas e carros disponíveis.
— Isso é verdade. — concordei.

Seguimos para o Palio cinza 2010 dele e paramos em um posto próximo para abastecer. A chegada de tinha mexido um pouco comigo. Não sei se era por causa da tpm, mais meus hormônios se agitaram um pouco. Isso significava que: se eu superasse estar perto dele nesse final de ano, conseguiria cursar na mesma universidade que ele no próximo. 

Sendo um teste de Deus para ver meus limites ou não, eu deixaria tudo nas mãos do Espírito Santo. Mesmo estando parcialmente preparada para encerrar meu ciclo em Nova Lima e iniciar outro em Seoul, eu sabia que sempre teria o apoio e as orações do meu pai.

Além de ter Jesus no controle de tudo! Assim como foi com Abraão, quando o guiou até Canaã.

"Vento de poder
Sopra em meu viver
Faz teu querer, faz teu querer em mim
Como um vendaval sobrenatural
Faz teu querer, faz teu querer em mim
Eu me rendo."
- Eu Me Rendo (I Surrender) / Gabriel Guedes

Chamado: Fidelidade que produz resposta.



NOVO TESTAMENTO


41. Mateus

"Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês."
- Mateus 6:33

- x - 

Traga-me pra mais perto… Leva-me mais profundo… Eu quero conhecer Teu coração… — comecei a sussurrar a música, com os fones no ouvido, faltava pouco para o avião aterrissar — Teu amor é tão mais doce que tudo que já provei… Eu quero conhecer Teu coração!

estava sentado na poltrona ao meu lado. Seu olhar concentrado na Bíblia lendo o livro de Jeremias. Voltei meu olhar para a janela que se mantinha com a cortina fechada, soltei um suspiro suave, já sentia saudades de casa e não tinha completado nem 24 horas. Comecei a pensar… Será que Abraão também se sentiu assim quando Deus o guiou para longe de sua parentela? Claro que não é a mesma situação minha, mas de toda forma eu já estava longe da minha casa também.

— Está tudo bem? — perguntou ao levantar meu fone para que o ouvisse.
— Sim. — assenti com segurança — Só sentindo os primeiros sintomas da saudade. — brinquei.

Ele riu de leve.

— Imagino, foi uma decisão muito difícil pra você. — ele deu um sorriso fechado.
— Estou tranquila, que foi uma decisão orientada por Deus. — abri um singelo sorriso — Então, posso aguentar a saudade.
— Farei o possível para de ajudar nisso. — ele segurou em minha mão e entrelaçou nossos dedos.

Senti um frio na barriga, que fez meu corpo se encolher automaticamente. Tentei disfarçar um pouco e continuar agindo com naturalidade. Entretanto, internamente eu me mantinha preocupada, afinal, agora eu iria conviver diariamente com na universidade e não teria meu pai e seus conselhos por perto. Esse seria o início de um período de vigilância dobrada em nossa corte.

Assim que o avião aterrissou no Aeroporto Internacional de Incheon, desembarcamos com tranquilidade e seguimos para o hall. Assim que pegamos nossas malas, encontramos a madrasta de nos esperando do lado de fora do edifício. 

! — ela se curvou de leve em cumprimento e sorriu para mim — É um prazer te conhecer pessoalmente. Ouvi muito a seu respeito.
— O prazer é meu. — sorri de volta para ela, meio envergonhada — Estou curiosa para ser o que ouviu sobre mim.
— Que é muito simpática, gentil, educada, inteligente… — ela desviou discretamente o olhar para — Bonita também.

Senti meu rosto corar um pouco.

— Ajumma. — disse ele também envergonhado.
— Estou impressionada por falar em português comigo ajumma. — disse boquiaberta, a pronúncia dela era melhor até que a de .
— Ah, depois que Han começou a fazer viagens ao Brasil com frequência, eu fiquei curiosa para aprender seu idioma, me ajudou muito com isso.
— Sua pronúncia é muito boa. — elogiei ela, arrancando-lhe um sorriso tímido.
— Obrigada. Eu preparei um lanche muito gostoso para quando chegassem. — anunciou ela — Fiquei com medo de perder a hora do desembarque, cheguei trinta minutos mais cedo.
— Agradecemos a preocupação e por vir nos buscar. — disse com um olhar singelo para ela.
— Para mim foi um prazer. — ela mantinha um olhar aconchegante de mãe coruja, que me transmitia paz e me lembrava a minha mãe — Agora vamos, vocês devem estar famintos. Comida de avião nunca é tão boa quanto a que fazemos em casa.
— Eu pensei que comer em casa fosse caro na Coreia? — olhei para confusa.
— É em parte, admito que é mais barato comer fora, mas gostamos de comida caseira. — explicou ele — Comida de mãe é a melhor.

Concordei com a face. Ajumma Sora nos ajudou a colocar as malas no carro, seguimos para casa deles. Eu ficaria hospedada no quarto de Sunny com ela, até finalmente me mudar para o dormitório da Yonsei University. A residência se localizava em uma região de casas tradicionais, o que me deixou ainda mais empolgada. Ao passar pelo portão de entrada, me deparei um com jardim oriental muito bem cuidado e bonito.

— Que lindo. — sussurrei sentindo meus olhos brilharem.
— Foi trabalho da ajumma. — comentou ao parar ao meu lado — Ela é paisagista.
— Sério? — o olhei admirada.
— Sim, ajumma foi uma das pessoas que me encorajaram a entrar na arquitetura. — explicou ele.
— Que legal, achei um encanto esse jardim. — comentei de volta.
— Que bom que gostou, foi complicado conseguir algumas espécies, mas no final ficou do jeito que eu queria. — relatou ela, soltando um suspiro de satisfação.

Assim que entramos pela porta da fachada, Sunny deu um pulo do sofá onde estava sentada e veio me abraçar.

— Unnie! — disse ela empolgada me apertando.

Sunny era a garota mais empolgada e carinhosa que eu já tinha conhecido. E me sentia muito à vontade com ela.

— Bom dia. — retribui o abraço — Também estava com saudade.
— Yeobo. — disse ajumma adentrando mais a casa — Sunny, onde está seu pai?
— Ele foi na igreja, o pastor Kim ligou para ele. — respondeu, e se virando para mim, pegou em minha mão — Venha, vou te mostrar meu quarto.
— Sunny, deixa ela descansar. — interviu — Fizemos uma viagem longa.
— Está tudo bem. — disse rindo da cara fofa que ela fez.
— Viu, ela quer conhecer meu quarto! — Sunny me puxou para o corredor a frente.

A casa de por ser de estilo tradicional em uma região tombada pelo Patrimônio Histórico, era somente térreo, diferente das edificações modernas que tinham dois ou mais andares. Construída no formato de U, praticamente todas as janelas davam vistas para o jardim da fachada, algo positivo acordar pela manhã com aquela vista linda. Sunny foi tagarelando pelos cômodos contando sobre a história da casa. No passado tinha sido morada de alguns nobres coreanos da era Goryeo, e hoje pertencia a mãe dela, que recebera de herança dos avós maternos. 

— Chegamos. — disse ela ao abrir a porta e me deixar entrar primeiro — Meu quarto é seu quarto!
— Obrigada pela hospitalidade. — sorri para ela adentrando.

Deu um discreto e tímido giro pelo quarto, era uma mistura de branco com detalhes amarelos, a cor favorita dela. Alguns posters de um grupo de kpop pregados na parede, não era tão organizado quanto eu esperava já que era a organização em pessoa. Mas transmitia uma sensação de aconchego.

— O que achou? — perguntou ela com um olhar ansioso para mim.
— Muito fofo. — respondi.
— Que bom que gostou unnie. — ela apontou para o sofá no canto direito — Meu pai comprou esse sofá cama para você poder dormir nele, enquanto não vai para o dormitório e quando passar os feriados aqui.
— Não quero incomodar. — me encolhi um pouco.
— Você já é da família, não incomoda. — ela abriu um largo sorriso.
— Sunny, a ajumma está chamando para comer. — disse ao aparecer da porta do quarto.

Nós assentimos e voltamos para sala. Ela já tinha colocado a bandeja com o lanche na mesa de centro e parecia estar na cozinha. Nos sentamos no chão ao redor da mesa e agradecemos pela comida antes de saborear os sanduíches de presunto com chá de camomila preparado por ela. Como eu ainda estava de jejum de chocolate, então me senti em paz por ela ter feito o chá, mas Sunny pareceu um pouco desapontada, ela era tão chocólatra quanto eu. 

— O que achou do lanche? — perguntou ajumma ao entrar na sala.
— Estava muito gostoso ajumma. — sorri de leve — Gostei muito.
— Que bom. — ela sorriu de volta — , liguei para seu pai, ele retornará à noite, porque vocês não levem as malas para o quarto e vão tomar um banho, durmam um pouco eu chamo para o jantar.

Assentimos sua “ordem” e seguimos. A casa tinha um banheiro social e outro que foi adaptado no quarto do casal, o que ajudava muito. usou o banheiro social, enquanto Sunny me levou no banheiro do quarto dos seus pais. Após um banho relaxante, coloquei um conjunto de moletom, mesmo sendo final de inverno, o dia se mantinha meio frio. Sunny me ajudou a abrir o sofá-cama e esticar um lençol nele. Me deitei um pouco e cobri com a manta que tinha trago do Brasil. Minha cunhada fofa me deixou descansar, porém permaneceu no quarto com fone no ouvido mexendo no celular. 

Meu cochilo foi curto ou o tempo que passou rápido, contudo, Sunny me acordou pouco depois do anoitecer e seguimos para a cozinha para jantar sentados todos à mesa. O missionário Han já tinha chegado e logo que me viu, me deu boas vindas. Ajumma preparou o prato típico bulgogi que é carne bovina fatiada fina e marinada em gengibre, molho de soja, alho, açúcar e outros temperos típicos, acompanhado de arroz coreano e manduguk, uma sopa feita com caldo e bolinhos de carne, tofu, algas e farinha de arroz. Foi estranho a primeiro momento, não somente pelo suave gosto apimentado que senti, assim como perceber que até mesmo meus hábitos tradicionais de arroz e feijão sofreriam uma mudança drástica. Entretanto, percebi que ajumma é maravilhosa na cozinha, e seu tempero muito saboroso.

— Obrigada pela comida. — disse ao terminar.
— Que bom que gostou. — ajumma se levantou para recolher os pratos.
— Quer ajuda? — me ofereci.
— Não, é seu primeiro dia aqui e está cansada pela viagem. — ela olhou para filha — Sunny, se levante e me ajude.
— Sua mãe está certa. — Han olhou a fiz, que fazia uma cara desanimada — Mais uma vez, bem vinda .

O ajusshi Han se levantou da mesa.

— Já vai se recolher Yeobo? — perguntou ajumma Sora.
— Preciso estudar um pouco. — respondeu ele seguindo para os quartos.
— Sunny, vamos, venha me ajudar. — ordenou ela levando alguns pratos até a pia.

Eu e ficamos nos olhando por um tempo, ainda sentados na cadeira. Ele se levantou primeiro e pegando em minha mão, me guiou até o jardim. Nos sentamos no chão e ficamos olhando o céu um pouco, até ele começar a cantarolar alguma música coreana.

— Acho que estamos muito silenciosos hoje. — comentou ele rindo de forma tímida.
— Verdade. — eu ri também, meu coração estava acelerado.

Ali sentada do seu lado no seu mundo agora. Meus pensamentos ansiosos se perdiam em imaginar como seriam agora nossos dias próximos um do outro. 

— Está ansiosa? — perguntou ele.
— Um pouco, pelos estudos, pela nova rotina, por ter que me acostumar longe do meu pai, por agora estar aqui com você. — confessei.
— Te deixa nervosa? Estarmos mais próximo? — indagou ele, seu olhar estava curiosos.
— Até o momento, nossa corte foi a distância, agora as coisas vão mudar um pouco, vou te ver todos os dias. — expliquei.
— Exceto na semana de provas. — brincou ele, me fazendo rir — Geralmente eu passo meus dias na sala de projetos.
— Certamente vou passar os meus na biblioteca. — completei.
— Me sinto empolgado com isso. — ele me olhou com carinho e sorriu — Espero conseguir dormir essa noite. 
— Eu também. — ri de novo —
— Sim.
— Eu vou conhecer sua mãe? — perguntei com um tom temeroso.

Me lembro dele ter falado sobre sua mãe não gostar da ideia da nossa corte. O que me deixava apreensiva por talvez ela não aprovar caso cheguemos no nível do casamento.

— Sim, você vai. — respondeu ele — Só não sei quando.
— Ela não está aqui? — indaguei.
— Ela mora em Busan, mas vive viajando a trabalho. — explicou ele — Não sei nem onde ela está agora.
— Uma vez você disse que sua mãe não conseguiu ser modelo, ela trabalha de que agora? 
— Produção de moda, ela conheceu algumas pessoas no ramo e mesmo não fazendo o que gostava, conseguiu continuar na área. — contou ele.
— Você a vê com frequência?
— Não tanto quanto eu gostaria, uma ou duas vezes por ano. — sua voz soou com tristeza.
— Eu sinto muito.
— Está tudo bem, o carinho que não tive dela, Deus compensou com a ajumma. — ele sorriu de leve — Ela me ama como se eu fosse seu filho.
— Me alegro com isso.
— Crianças?! — ajumma Sora apareceu da porta — Está tarde, venham dormir.
— Crianças? — eu olhei para .
— É sua forma carinhosa de nos chamar. — ele sorriu e se levantou — Estamos indo ajumma.

Assim que entrei no quarto de Sunny, ela já estava enroscada nas cobertas com os fones no ouvido vendo dorama pelo celular. Eu me troquei colocando o meu pijama e peguei minha Bíblia, ao sentar no sofá-cama comecei a ler o livro de Mateus. Demorou um pouco para chegar no Novo Testamento, mas estava grata por ter aprendido tantas coisas até ali. Em toda a minha leitura inicial, meu coração bateu forte quando cheguei no versículo 33 do capítulo 6. 

Aquelas palavras me ensinaram que eu não precisava me preocupar com o dia de amanhã. Em tudo Deus supriria a minha vida, eu só tinha que simplesmente buscar ainda mais a sua presença para minha vida, me entregar verdadeiramente em seus braços e continuar meu foco em pedir intimidade.

Traga-me pra mais perto… Leva-me mais profundo… Eu quero conhecer Teu coração… — comecei a sussurrar novamente essa canção que não saía de minha mente — Teu amor é tão mais doce que tudo que já provei… Eu quero conhecer Teu coração!

Aos poucos comecei a ouvir alguns passos vindo do jardim. Me remexi e abri de leve a cortina. Abri um largo sorriso ao ver caminhando pelo jardim enquanto orava. Não era somente eu que estava empenhada na busca por mais de Deus, isso aquecia ainda mais meu coração.

"E fazer morada, e fazer morada
Espírito Santo, mora em mim
O meu coração é o Teu lugar, faça morada
Eu Te convido a nunca mais me deixar aqui
Faça morada em mim."
- Faça Morada / Kemuel

Chamada: Buscar a Deus acima de qualquer necessidade.



42. Marcos

"E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura."
- Marcos 16:15

- x - 

Primeira semana de primavera. Um domingo ensolarado e cheio de frescor, Sunny me arrastou para um tour pela cidade, seguido de piquenique no rio Cheonggyecheon. foi conosco servindo de verdadeiro guia local me explicando tudo sobre a cidade. Ele me contou que antes aquele rio era um córrego de lixo e esgoto, então foi revitalizado e que o governo gastou muito e foi criticado por isso, porém o resultado final surpreendeu a todos virando um dos cartões postais do lugar.

— Aqui é tão bonito na primavera. — comentei ao sentar no degrau da escada do ria com Sunny.
— Sim… Sábado e domingo na primavera sempre fica lotado, tanto quanto no Natal pelas luzes. — contou ela já abrindo as vasilhas do lanche que ajumma preparou para nós.
— Que bom que se divertiu hoje. — comentou se sentando ao meu lado — Me desculpe por ter me afastado aquela hora.
— Sem problema, a Sunny também é uma ótima guia. — eu ri da piscada dela pra mim — Você foi resolver algum problema?
— Um amigo estava precisando de ajuda, então… — ele começou a se explicar.
— Tudo bem, ajudar um amigo é preciso. — o compreendi — Conseguiu ajudá-lo?
— Mais ou menos, ele tem tido problemas na família, estou evangelizando ele. — respondeu dando um suspiro cansado — É complicado quando a atitude dos pais não ajudam muito.
— Eu ainda não sei o porque insiste tanto nesse garoto. — disse Sunny ao tomar um gole do refrigerante que comprou para ela.
— E por acaso Jesus desiste de nós? — ele olhou para a irmã.
— Não precisa me olhar assim, só acho que esse menino só te traz problemas. — ela tentou contornar suas palavras.
— Eu concordo com o . — entrei na conversa argumentando a favor — Se eu não tivesse insistido no Joseph, ele não teria se rendido a Deus. Às vezes não é fácil cumprir o ide, mas devemos cumprí-lo com coragem e amor.

olhou para mim e piscou de leve. Parecia agradecido por minhas palavras. Terminamos de comer e continuamos nosso passeio, agora com as luzes noturnas brilhando pela cidade. Sunny ficou alguns passos mais à frente deslumbradas com as vitrines das lojas, enquanto eu e deixamos nossos passos mais lentos conversando.

— Fico feliz que esteja empenhado a ajudar seu amigo. — disse a ele.
— Sim, você foi um exemplo para mim. — me olhou de relance — Quando me contou sobre o Joseph, me lembrei desse meu amigo, sempre fiquei com receio de falar sobre Jesus pra ele, mas seu exemplo me motivou um pouco.
— Fico feliz por isso. — sorri de leve — Qual o nome dele?
— Jinho.
— Eu posso saber qual o problema dele? — confesso que estava um pouco curiosa.
— O seu pai é um tanto abusivo. — respondeu.
— E ele não pode denunciar?
— Eu o aconselhei a fazer isso, mas ele tem medo, seu pai tem dinheiro. — explicou  —As coisas são mais fáceis quando se têm dinheiro aqui.
— Oi Brasil, tudo bom? — brinquei fazendo ele rir — Isso também não muda no meu país, mas a justiça de Deus não é falha.
— Isso é verdade. — ele olhou para frente — Estou tentando ensiná-lo alguns princípios bíblicos agora, mas é complicado quando chega na parte de honrar pai e mãe, ele possui muita mágoa do pai e com certa razão.
— Sabe, uma vez meu pai pregou sobre isso, assim como está em Efésios 6, filhos sedes obedientes aos seus pais, também esta escrito pais não levantei a ira sobre seus filhos. — continuei com segurança — E mesmo que toda autoridade tenha sido constituída por Deus, em Atos 5:29, Pedro fala que mais importa obedecer a Deus do que aos homens. A interpretação que o meu pai sempre deu a essas duas passagens, é que uma pessoa só é autoridade em nossa vida, até o ponto em que nos faz pecar. 
— Não acredito que Deus queira que meu amigo se submeta a apanhar do pai e continuar sendo ferido como está sendo. — concluiu de forma pensativa.
— Se o pai dele não está agindo de acordo com princípios bíblicos de amar e cuidar do filho, ele deve ser corrigido disso. — completei — O Senhor não nos quer ver sofrendo, pelo contrário, Ele nos quer ver sorrindo e descansando nEle.
— Você não quer conversar com esse meu amigo? — sugeriu ele.
— Não. — eu ri — Essa tarefa é sua, mas vou interceder por você.

Continuamos nossa caminhada até retornar para casa. Já completava duas semanas em Seoul e no dia seguinte ajumma Sora me acompanharia na Yonsei University, para finalizar minha matrícula como aluna bolsista. Por mais que eu me forçava a manter serenidade e Eclesiastes 3 no meu coração, a ansiedade batia forte dentro de mim. Entrei no quarto e troquei de roupa, me sentei na cama e comecei a conferir pela terceira vez todos os documentos que tinha guardado na mochila.

— Unnie. — disse Sunny ao entrar no quarto — Está conferindo os papeis de novo?
— Sim. — admiti.

Ela riu baixo de mim.

— Está mais ansiosa que eu. — comentou ela indo se sentar na cadeira da bancada de estudos — E olha que nem estou tão motivada assim pelo meu último ano do colegial.
— Deveria. — ri da careta dela — E já sabe que curso vai tentar?
— Estou pensando em jornalismo. — respondeu.
— Uau, me disse que gostava muito de música, pensei que continuaria esse caminho. — palpitei.
— Estou me descobrindo uma excelente redatora. — ela fez uma pose de destaque — E sempre gostei muito das aulas de literatura e redação.
— E vai ser uma jornalista de entretenimento?
— Seria divertido trabalhar para o Naver ou ser uma caça couple do Dispatch. — seu olhar imaginativo.
— Eu deveria entender o que falou?
— Ah, desculpa. — ela riu — Naver é um site de busca coreano, estilo o google, e Dispatch é um site de fofocas que vive revelando casal de famosos coreanos.
— Ahh… — eu ri também — Você combina com moda, que tal trabalhar pra alguma revista?
— Se for assim, prefiro me tornar uma apresentadora de jornal da tv.

Minha cunhada era mesmo uma sonhadora. Eu terminei de conferir meus documentos e coloquei dentro da mochila novamente. Mais tarde, pouco antes de dormir, me chamou para orar com ele no jardim, com o objetivo de consagrar ao Senhor nosso semestre letivo e minha entrada na sua universidade. Seu tom de voz na oração demonstrava empolgação e felicidade por minha presença ali, algo que aqueceu meu coração de imediato. 

— Mais uma vez te agradeço Senhor Jesus e em teu nome eu oro. — disse ele finalizando a oração — Amém.
— Amém. — disse em concordância.
— Vamos mesmo almoçar juntos amanhã? — perguntou com um olhar duvidoso.
— Eu não sei, nem mesmo sei como vai ser no setor de matrículas, a ajumma vai comigo. — respondi ponderadamente.
— Você não quis minha companhia. — ele fez uma olhar triste.
— Você já tem aula amanhã, e suas aulas começam antes da minha. — expliquei — Mas, assim que terminarmos, eu te mando uma mensagem.
— Tudo bem. — ele sorriu de canto — Se você se perder, não hesite em me mandar mensagem.
— Não se preocupe. — ri baixo dele, parecia um pai preocupado.
— Depois da aula, vamos passar na loja de celulares, você precisa de um número daqui, assim fica mais fácil a comunicação. — sugeriu ele.
— Tem razão, caso a ajumma queira me ligar. — imaginei.
— Não disse me referindo a ajumma.

Eu ri novamente. 

— Só não pode me ligar no meio da aula. — o adverti, segurando mais o riso — Quero ser uma aluna aplicada.
— Tenho certeza que será. — ele continuou segurando em minha mão.

Seu olhar fixo em mim, mantendo um sorriso suave no rosto. Aquilo acelerava meu coração de uma forma. 

— Acho melhor irmos dormir. — sugeri.
— Tem razão. ele virou sua face para o lado, não posso ficar muito tempo sozinho te olhando. — ele riu.
— Nem vou perguntar o motivo. — ri me afastando dele — Bom dia.
— Bom dia.

Confesso que senti uma vontade forte de abraçá-lo naquela hora. Mas a prudência só me permitiu sorrir antes de entrar na casa. Pela janela do quarto, observei que continuou mais algum tempo no jardim. Me espreguicei de leve e após minha oração da noite, apaguei. Na manhã seguinte, acordei com ajumma chamando Sunny para seu primeiro dia de aula, foi complicado fazê-la se levantar. já havia saído, algo que me impressionou. Após tomar o café da manhã, me arrumei e de carro com a ajumma, seguimos para a universidade. Demos algumas voltas pelo campus, ela parecia estar mais perdida do que eu, algo engraçado. 

Quando finalmente chegamos no prédio da administração, subimos até o andar de matrículas. Uma moça de sobrenome Park veio nos atender, e rapidamente já me explicou em inglês sobre os documentos já preenchidos com meus dados, que deveria assinar. Precisei da ajuda de ajumma para tirar algumas dúvidas que fiquei ao ler alguns termos. A universidade tinha algumas regras de conduta para alunos que desfrutaram dos dormitórios, como toque de recolher e outras coisas. Minha nova instalação seria no prédio dos dormitórios femininos, quarto 4 do décimo andar. 

Ajumma Sora me acompanhou até meu quarto para conhecer. Eu só levaria minhas coisas para lá no dia seguinte, em que minhas aulas começariam. Eu passaria um ano apenas concentrada no curso de Hangul, aprendendo a língua coreana, escrita e falada, assim depois do teste de proficiência coreano, eu poderia iniciar meu curso de graduação em Design. Meu coração estava a mil com tanta informação que recebi da assistente Park. 

— Pensei que seu dormitório seria menor, mas até que tem um espaço bom. — comentou ajumma ao se aproximar da janela.
— Sim, eu preferi um dormitório duplo mesmo, não sei se conseguiria dividir com três garotas, prefiro só uma mesmo. — comentei com ela — Questões de privacidade.
— Pois o dormitório de é para quatro estudantes e sempre que o visito, seu lado é um único organizado. — revelou ela — Queria entender se a mãe dessas crianças não as ensinaram a pelo menos não deixar a toalha molhada em cima da cama.
— Certamente ensinaram sim. — ri de leve — Quando me disse que era organizado fiquei desconfiada, mas vendo de perto, ele parece ser chato com isso.
— Isso te deixa insegura? — ela me olhou com serenidade.
— Não. Acho legal esse lado dele, só acho que ele não deveria se cobrar muito. — eu comecei a rir — Olha só quem fala, sou a louca dos planners e post it.
— Não faz mal ter um pouco de organização na vida, mas sempre com equilíbrio, e saiba que Han tem o mesmo sistema de organização do filho. — ela sorriu com graça, certamente sabia do que estava falando — Vamos comer alguma coisa? Já estou sentindo fome novamente.
— Agora que falou, eu também… — pensei um pouco — Mas, disse ao que almoçaríamos juntos.
— Então, deixe que eu ligue para ele, o almoço é por minha conta. — ela piscou de leve e pegou em seu celular, para fazer a ligação.

Eu desviei meu olhar para cama que seria minha, pois a outra já estava ocupada. Mais um passo em minha nova rotina que me empolgava e ao mesmo tempo me deixava receosa. Será que daria conta dessa nova realidade em minha vida? Era complicado essa luta contra a insegurança de não conseguir, mas sempre que pensava negativo, a voz do Espírito Santo tomava conta de mim, dizendo que Ele era comigo o tempo todo. Enfim, deixaria Ele no controle, pois minha força e coragem era Jesus, sempre!

— Achei vocês. — disse ao nos encontrar na porta do restaurante próximo ao campus.

Lugar este indicado pela ajumma. Ele se sentou na cadeira ao lado da ajumma de frente para mim e sorriu de forma fofa. 

— Como foi a aula querido? — perguntou ajumma.
— Foi tranquila para o primeiro dia, mas de acordo com o cronograma já tenho três resenhas para a próxima semana e quatro artigos para ler. — contou ele com um tom desanimado.
— Artigos?! — o olhei impressionada.
— A vida acadêmica não é feita só de plantas e projetos. — ele riu fechado — Temos artigos para escrever também.
— Uau, isso me deixa meio receosa. — me encolhi um pouco.
— Tenho certeza que você se sairá bem também. — ajumma sorriu — Vamos fazer o pedido?

Assentimos e ela chamou a atendente. Pedimos a especialidade da casa: Chikin, uma espécie de frango frito agridoce com Japchae, um macarrão de batata-doce misturado a vegetais fritos e aromatizado com óleo de gergelim e molho de soja, acompanhados do famoso Kimchi, a uma conserva apimentada feita de acelga, repolho, rabanete ou nabo. É claro que deixaria de lado o Kimchi e provaria os outros pratos.

— Então, o que achou do nosso frango frito? — perguntou com um olhar curioso.
— O gosto é bem diferente, mas confesso que gostei, e do macarrão também, não imaginava que daria pra fazer com batata-doce. — voltei meu olhar para o prato — Meu pai que ficaria maluco querendo a receita.
— Seu pai é cozinheiro? — ajumma me olhou.
— Não profissional, mas tem se saído bem depois que descobriu o youtube. — brinquei os fazendo rir — Ele gosta muito de cozinhar, diz que é terapia para ele.
— Com tantos problemas para resolver. — observou — Imagino que ele jogue o estresse todo pra fora enquanto cozinha.
— Sim. — concordei.
— Seu pai é pastor não é? Lembro que Han comentou.
— Sim ajumma.

Terminamos nosso almoço e ainda deu espaço para saborear um pedaço de torta de maçã de sobremesa. Ajumma seguiu na nossa frente pois tinha um compromisso marcado com uma amiga em uma floricultura no shopping COEX Mall. Eu arrastei de volta ao campus para me apresentar formalmente todo o lugar, apesar das minhas intenções serem aprender o caminho mais fácil entre o prédio da biblioteca e meu dormitório. 

— Como foi sua matrícula? — perguntou mantendo seus passos coordenados com o meu.
— Foi tranquila, fiquei com um frio na barriga de dar algo errado, mas foi tudo bem. — respondi com serenidade — Além do dormitório, da bolsa de estudos e ganhar todas as apostilas, vou ter ajuda de custo mensal para despesas com alimentação e coisas eventuais.
— Isso é bom. 
— Demais, vou poder manter minhas economias guardadas. — concordei.
— Sabe que pode contar com a minha família não sabe? Não vamos te deixar desamparada. — assegurou ele.
— Claro, mas não quero dar trabalho pra vocês.
. — ele parou e me olhou sério — Cuidar de você não é um trabalho, é um prazer.

Um sorriso se abriu em meu rosto de forma espontânea. 

— O que podemos fazer agora? — perguntei.
— Não terei aula agora de tarde hoje… Podemos ter um encontro.
— Um encontro?
— Sim, que tal irmos ao Lotte World?
— Lotte??
— É o parque de diversões mais famoso do país. — explicou ele.
— Acho que gostei da ideia. — sorri de leve.

Tanto gostei que fiquei fascinada pelo lugar. Vários brinquedos e não conseguimos ir em todos, descobri com isso que tinha um pouco de medo de altura. Não me contive em brincar com a cara dele assim que saímos da montanha russa. Foi uma tarde divertida que me deixou conhecer mais o lado descontraído do e ficar algumas vezes paralisada com seu sorriso meigo. Mesmo que pudesse ser complicado fisicamente estar próxima dele, aquele tempo era mais do que propício para conhecê-lo mais a fundo. Seria o tempo decisivo para saber se nossa corte nos levaria ao altar ou não.

— E como foi sua infância?! — perguntei assim que terminamos de tomar o milkshake que ele pagou para cada um.
— Não sei dizer, no início mais novo eu era um pouco rebelde. — ele riu — Acho que por causa do abandono da minha mãe, mas depois que comecei a me envolver com a igreja e conhecer mais a palavra, abri meu coração para Deus e me deixei ser moldado por ele.
— Isso é bom.
— Foi aí que percebi que aceitar o amor da ajumma como minha mãe, era a benção que Deus queria me dar. — percebi seu olhar emotivo — E você? Como foi sua infância?
— Foi boa, até minha mãe falecer e eu passar por um turbilhão de sentimentos, mas assim como você, Deus me resgatou e me consolou. — respondi com segurança.
— Tem algum momento favorito que tenha com sua mãe? — perguntou curioso.
— Ela sempre cantava pra mim, antes de eu dormir. — assim que respondi, senti meus olhos lacrimejarem, e uma ponta de saudade apareceu — Meu pai me disse que minha voz cantando é idêntica a dela.
— Sua voz é linda, meu coração acelera quando te ouço cantar. — confessou ele.
— Quando você entrou para o ministério de louvor? — perguntei.
— Hum… No final do ensino médio. — nós voltamos a caminhar — Eu não queria, mas com um empurrão do meu pai, acabei aceitando.
— Não gosta de ficar em foco?
— Não, prefiro mais os bastidores.
— Eu também. — ri de leve — Como são seus amigos?
— Vai conhecê-los em breve. — ele riu — Eles são bem engraçados e brincalhões, são boas pessoas.
— Estou ansiosa para isso.
— Davi me mandou uma mensagem hoje pela manhã. — comentou ele — Ele disse que está com saudades da irmã dele, e me ameaçou dizendo que se eu não cuidar de você, ele me caçaria.

Nós rimos.

— Davi é um ótimo irmão mais velho. — admiti.
— Confesso que tinha um pouco de ciúmes de você com ele, principalmente depois que soube da Layla que todo mundo torcia para serem um casal. — ele abaixou seu olhar.
— A Layla te contou sobre isso? — fiquei chocada.
— Quando ela me contou, foi bem no início. — assentiu — Fiquei pensativo se deveria ou não me aproximar, porque achei que você e o Davi tivessem algum tipo de relacionamento.
— Uau. — impressionada eu estava — Eu e o Davi sempre nos vimos como irmãos.
— Acho bonita a amizade de vocês. — seu olhar parecia sincero — Também quero ser seu amigo e poder compartilhar sonhos e segredos com você.
— Também quero ser sua amiga. — sorri de leve.

Voltamos de ônibus para casa pouco depois de escurecer. Ajumma já estava com o jantar quase pronto. Aproveitei a deixa para tomar um banho quente e ajeitar minhas coisas na mala que levaria para a universidade. também faria o mesmo. Após o jantar, fui para o quarto antes de todos e iniciei uma videochamada com meu pai.

— Bom dia minha princess! — seu olhar estava emotivo — Que saudade. 
— Bom dia pai. — sorri para ele que acenava para mim.
— Como foi seu dia? A matrícula deu certo?
— Sim, deu tudo certo, amanhã vou me instalar no dormitório da universidade. — respondi — Já tenho até o cartão do quarto.
— Não tem chave?
— Não, é um cartão eletrônico, a gente passa ele no visor e a porta abre. — expliquei — tecnologia de ponta.
— Que menina metida. — brincou ele.

Eu ri.

— Como está a Mônica? A Lira? Nosso bebê? Todo mundo? — perguntei empolgada.
— Mônica está tendo muito enjoos nessa reta final, e Lira continua concentrada nos estudos e se preparando psicologicamente para iniciar um estágio no próximo semestre. — respondeu ele — E todos estão bem, te mandando abraços sempre.
— Eu falei com Davi ontem, parece que ele tem conversado muito com a Jenie. — comentei — Está rolando algo com eles?
— Não que eu saiba, mas essa sua amiga Jenie está congregando com a gente agora. — ele me olhou preocupado — Você está indo em alguma igreja aí?
— Sim pai, claro que estou. — assenti — Estou indo na mesma igreja que o e sua família, J-US Worship.
— J-US… Acho que já ouvi esse nome de você.
— É a mesma igreja daquele grupo que te mostrei os louvores que me indicou a ouvir. — o relembrei.
— Hum… Interessante, estou feliz que esteja congregando aí. — disse ele dando um sorriso suave — Fique bem filha e juízo.
— Pode deixar pai.

Assim que nos despedimos e encerrei a ligação, programei meu alarme para o dia seguinte e aproveitando a ausência de Sunny no quarto, me ajoelhei na beirada do sofá-cama e comecei a orar. Meu momento com Deus era o mais importante do meu dia, e desta vez precisava mais do que nunca falar com o Pai e pedir ao Espírito Santo que renova-se minhas forças e me preparasse para nova rotina que minha vida teria a partir dali. 

— Pai obrigada por tudo… — sussurrei sentindo minhas lágrimas rolarem por meu rosto — Sempre serei grata a ti, Jesus.

"주의이름부르며 
Invocando o nome do Senhor
주님앞에나아갈
Quando eu for diante do Senhor
주님은항상그곳에계시
O Senhor está sempre lá
반복되는속에 
Em uma vida repetitiva
여전히부족한대
Mesmo se eu ainda estiver faltando
주님은여전히그곳에계시
O senhor ainda está lá."
- You Still Love Me / J-US Ministry

Chamada: Cumprir o Ide.



43. Lucas

“Deem e será dado a vocês: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois à medida que usarem também será usada para medir vocês”.
- Lucas 6:38

- x - 

Início da primavera e com ela o início de mais um ciclo na minha vida. O campus da universidade se encontrava perfumado pelas flores de algumas árvores locais, assim como o colorido das mesmas que também nos encantava. Meu primeiro dia de aula e a ansiedade tentava me dominar. Me esforcei ao máximo para ficar tranquila, não me deixando levar pela empolgação de Sunny, logo pela manhã. Ajumma Sora acordou cedo e me ajudou com as malas, seguimos para o meu dormitório no campus. Tanto ela quanto Sunny me ajudaram a organizar minhas coisas no meu novo quarto. Minha cunhada parecia mais animada do que eu, já traçando planos para o próximo ano quanto iniciar sua vida universitária. 

Meu lado do quarto ficou aconchegante e tinha muitas referências do Brasil. Uma saudade forte bateu em mim ao olhar para o varal de fotos que montei no quadro de avisos do lado da bancada de estudos. Uma delas era minha foto com meus pais, em meu aniversário de sete anos. Reprimi uma singela lágrima que surgiu no canto do olho e voltei ao foco principal. Na hora do almoço, ajumma nos levou na Cat Cafe Goyangi Noriteo, uma cafeteria de gatos que ela gostava muito. Infelizmente, ela não podia ter um pois o missionário Han era alérgico. Então matava sua vontade sempre ao ir naquela cafeteria. Eu achei fofo o lugar e juntamente com elas, entrei no clima e acariciei alguns felinos.

— Aqui é muito confortável. — comentei ao me sentar ao lado de um gatinho que dormia — E os gatinhos são tão fofos.
— Sim, mamãe nos traz aqui desde que me entendo por gente. — comentou Sunny.
— Eu me sinto em paz aqui, sempre que estou estressada venho para cá e fico acariciando os gatos enquanto converso com Deus. — explicou ajumma Sora ao sorrir naturalmente — Me ajuda a ficar mais tranquila e serena.
— Gostei muito daqui. — comentei sorrindo junto.
— Pena que oppa não pode vir.

Oppa?! já havia mencionado sobre esse termo antes, a forma em que garotas mais novas chamas os irmãos, namorados ou amigos íntimos mais velhos do que elas. 

— Eu e olhamos nossos horários ontem, descobrimos que não vamos nos ver muito nesse semestre. — expliquei a ela — Ele estará muito, mas muito ocupado com várias disciplinas.
— E você unnie? Como ficou seu cronograma? — indagou ela.
— Tenho aulas somente pela manhã, mas resolvi estudar a tarde na biblioteca também, quanto mais eu me dedicar, mas rápido passarei de nível para iniciar meu curso de design. — respondi.
— Faz muito bem em se dedicar. — elogiou ajumma Sora e olhando para filha — Você deveria aprender com ela Sunny.
— Omma. — Sunny cruzou os braços e ficou emburrada.

Nós rimos delas de forma discreta. 

— Sua aula começa amanhã?! — perguntou ajumma.
— Sim, hoje seria somente para se instalar nos dormitórios e conferir a lista de horários, como preparamos tudo na semana passada, fiquei mais tranquila hoje. — respondi.
— Pois eu até agora não entendi nada dos meus horários. — Sunny soltou um suspiro fraco — Eles querem que eu participe de um clube da escola para ganhar méritos.
— E isso não é bom? — perguntei.
— É bom, mas não gosto de nenhum dos que a escola oferece. — ela continuou emburrada, mas logo relaxou a face quando um gatinho se aproximou ela e roçou em sua perna.
— Tente ir pelo menos chato. — aconselhei.
tem razão. — concordou ajumma Sora — E se deve participar de pelo menos um, que seja, terá que participar mocinha.
— Se tivesse um clube de dança. — observou ela.
— E por que você não monta um? Não deve ser complicado né? — sugeri.

Não entendia muito do sistema de ensino coreano, nem como eram as escolas do ensino médio e fundamental. Mas sabia que eles cobravam muito de seus alunos. Tanto que alguns passavam até 18 horas estudando e infelizmente casos de suicídio eram frequentes por conta de toda essa pressão acadêmica vivida. havia me contado como foi complicado para ele conciliar estudos, emprego de meio período, ministério e preparação para a universidade. Se no Brasil que é mais tranquilo eu já achei super pesado para mim, imagino o quão complicado tenha sido para ele aqui.

— Não é uma má ideia. — observou ela — Eu gosto muito de dançar.
— Está aí uma ideia. — comentou ajumma Sora.

Continuamos a conversar mais um pouco na cafeteria, até que ajumma me levou de volta para o dormitório. Assim que me despedi delas na entrada do prédio, recebi uma mensagem de no celular, perguntando como tinha sido meu primeiro dia e se estava instalada devidamente. 

: Está tudo bem! Acabei de entrar no meu dormitório.
: Eu estou na sala de projetos, vim do estágio para cá, preciso terminar um projeto do estágio e aqui é mais tranquilo.
: hum…
eu não conheço essa sala ainda :/

Continuei caminhando pelo prédio até chegar no meu quarto. Quando entrei, minha colega de quarto Kim Hyejin já estava lá, sentada na frente da sua bancada de estudos cheia de livros. Foi uma coincidência para mim quando descobri por alto olhando sua identificação na porta, que ela cursava medicina. Mas ao contrário da minha irmã Lira, a especialização de Hyejin seria em neurocirurgia. 

— Annyeonghaseyo. — introduzi um cumprimento em coreano.
— Hum… — ela me olhou — Annyeonghaseyo.
— Eu sou tomar banho. — anunciei a ela em inglês.

Ela assentiu com a face e voltou seu olhar para os livros. Senti lá no fundo que seria complicado a comunicação entre nós duas. Primeiro por não saber falar coreano, somente sabia o básico de sobrevivência que me ensinara. Segundo, porque nem todos os coreanos tinham a cultura de falar inglês, e os que falavam, tinham receio por achar que pudessem dizer algo errado. Não os culpo, também tinha esses momentos de me confundir com os idiomas e não saber formular a frase adequadamente.

Abri meu armário e peguei minha toalha e as roupas que vestiria. Como o prédio era somente do dormitório feminino, em cada andar tinha dois vestiários coletivos, com reservados dos vasos sanitários e de chuveiros também. Chegando no vestiário leste, entrei em um dos reservados do chuveiro e ajeitando minhas coisas no cabide, liguei o chuveiro. Ainda não tinha me acostumado com isso, o chuveiro era uma ducha estranha, mas a água estava bem quente e gostosa. Assim que terminei, voltei para o quarto. Me sentei na bancada de estudos e comecei a revisar em meu planner o novo cronograma que tinha montado. Ainda não possuía nenhuma atividade relacionada ao meu ministério, algo que já estava me deixando incomodada. 

Sentia falta das planilhas malucas que fazia para a igreja, meu pai nunca se perdia com elas. Mesmo longe, me sentia em paz por saber que agora ele tinha uma grande mulher ao seu lado. O pouco tempo que pude conviver com Mônica, vi nela uma mulher de oração e temperança. Suas qualidades encaixavam nos defeitos do meu pai e vise-versa. Pensar neles me fez pensar em minha corte com . O passeio pela cidade com ele, o piquenique no rio, seus olhares e sorrisos para mim. É impressionante como o tempo se passava tão rápido, esse ano já se completaria 2 anos de corte. O que me leva a crer que nosso próximo passo seria o altar.

— Ai. — senti meu coração pulsar mais forte ao pensar sobre esse assunto.

Lembro-me como se fosse ontem, nas férias de 2017 quando chegou de viagem ao Brasil, me fazendo o pedido de corte. Meu coração até acelera só de lembrar, seu olhar singelo brilhando para mim, e nossos pais totalmente de acordo com o pedido. Já se completava também quase dois anos que eu não comia chocolate e nem ele frango. Segundo meu pai não tinha necessidade de dar continuidade ao jejum depois dos três meses de oração, mas perguntou se eu estava disposta a levá-lo adiante até o final da nossa corte. Comprei a ideia e estou eu aqui agora, imaginando o dia em que puder voltar a comer aquela barra de chocolate branco com biscoito Oreo. Chega até salivar a boca de tanto desejo e vontade. 

— É por uma boa causa. — sussurrei para mim — Obrigada Deus por me dar forças.

Voltei meu olhar para o celular, tinha mais duas mensagens de .

: Amanhã prometo que te apresento a sala de projetos
tenho certeza que vai viver nela depois que começar seu curso
: Me avisa quando for dormir, para orarmos juntos.

Senti meus olhos brilharem com a mensagem dele. E comecei a digitar a resposta.

: Vou dormir daqui a pouco.
estou terminando de passar a limpo as coisas no meu planner
: estou com sono
: já chegou no seu dormitório?
: sala de projetos, estou finalizando tudo e salvando em pdf as pranchas de apresentação
: vivaaaa
glória a Deus
aleluia
que bom que já está no final
: quando for dormir, me liga
: ok
: vídeo chamada, quero ver você
: tudo bem.

Deixei o celular em cima da bancada e voltei minha atenção para o planner. Ri um pouco das marcações em caneta colorida me lembrando dos comentários de Davi sobre minha organização falsa que só eu entendia. Me levantei da cadeira e coloquei o celular no bolso da calça de moletom. Peguei minha Bíblia e saí do quarto indo para um espaço de convivência que descobri no terraço do prédio. Seria o lugar perfeito para meu devocional noturno. Sob a lua e as estrelas, na lanterna do celular e muita privacidade acompanhado a vista que tinha para o campus.

Iniciei lendo o capítulo 6 do livro de Lucas, onde tinha parado na noite anterior. Era complicado definir meu chamado em cada livro. Quando comecei com este propósito li a Bíblia inteira em um ano e fiquei totalmente confusa em alguns livros, tanto que tive que ler novamente várias passagens para entender o que Deus queria falar comigo. Terminei de ler o capítulo e comecei a louvar um pouco.

— Pra onde iremos nós? Só Tu tens a vida eterna… Pra onde iremos nós? Só Tu tens a vida eterna… — iniciei a canção de forma suave num tom baixo — Tu és o Pão que desceu do céu… Fonte de vida, o Deus Emanuel… Com Tua Glória sobre mim
Enche-me de Ti até transbordar… Eu nunca vou me saciar… Enche-me de Ti até transbordar…

Continuei louvando mais algumas canções, até que me ajoelhei e comecei a orar em línguas. Atraindo a presença de Deus para mais perto de mim, eu ansiava e desejava conhecê-lo mais. Algum tempo de passou até que terminei meu devocional. Então liguei para .

— Bom dia. — disse ele ao atender com um jeito fofo, dando um sorriso meigo.
— Bom dia. — retribuiu o sorriso, ficando toda derretida por sua voz.
— Terminou de orar? — perguntou ele.
— Sim. Onde está? — perguntei curiosa olhando para tela, tentando identificar o lugar que ele se encontrava, estava escuro.
— No terraço do meu prédio.

A ideia de devocional a luz da lua tinha sido dele. Em seu primeiro ano na universidade, descobriu por acaso o espaço de convivência no terraço dos dormitórios. O lugar mais tranquilo e privado para se ficar.

— Já saiu da sala de projetos?
— Sim, e já enviei o trabalho para meu chefe.
— Que menino aplicado. Funcionário do ano. — brinquei fazendo ele rir.
— Tudo que fizeres, faça de todo o coração como se fosse para o Senhor.
— Colossenses 3:23. — completei com a referência bíblica.
— Sim. — assentiu ele.
— Vamos orar então? Temos aula amanhã cedo.
— Vamos.

Eu fechei meus olhos e iniciou a oração, mais uma vez agradecendo a Deus por nossa corte e apresentando nosso jejum. 

Ter um relacionamento em santidade não era fácil. Exigia esforço, força de vontade e de certa forma disciplina também. Mas a certeza que Deus estava abençoando, nos fortalecia cada dia mais para saber esperar até o grande dia de nos unirmos oficialmente chegar. 

"Pra onde iremos nós?
Só Tu tens a palavra de vida eterna
Pra onde iremos nós?
Tu és o Pão do céu
O Deus Emanuel
Enche-me, enche-me até transbordar
"
- Pra Onde Iremos? / Gabriela Rocha

Chamada: Não julgar o próximo, mas estender a mão para o que está caído. 



44. João

"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim."
- João 14:1

- x - 

Terça pela manhã minhas aulas se iniciaram às 7 em ponto. Sentada em umas das cadeiras, acompanhei a aula inaugural com a professora Cho Hana. Uma senhora educada e aparentemente simpática, que conduziu a aula de forma descontraída e leve. O primeiro módulo, considerado básico, de hangul duraria apenas três meses, com as aulas de segunda à sexta de 7 da manhã às 11:20. Meu estudo seria intenso e focado, para minha sorte já tinha o inglês intermediário por estudar sozinha desde o ensino fundamental. E todas as apostilas eram em inglês, o que dobrava meu trabalho de ter que traduzir para o português para então estudar com mais conforto e praticidade.

Mandei algumas mensagens para durante o tempo em sala. As aulas dele terminava ao meio dia, e em seguida ele tinha que correr para seu estágio. Quanto mais eu imaginava que vê-lo durante a semana seria quase impossível, nossos planos de almoçar juntos todos os dias foram embargados pelos horários desencontrados, mais eu tinha vontade de vê-lo. Juntos e ao mesmo tempo longe. Meu coração se apertava ao pensar assim. Mas talvez fosse permissão de Deus para que a tentação não fosse maior. Estava chegando ao nível de sonhar com me beijando, e isso não ajuda nenhum pouco minha saúde mental.

Após o final da aula, recebi uma mensagem da ajumma me convidando para o almoço. Levei dois minutos para decidir recusar. Naquela dia eu estava decidida a explorar o campus, orando a Deus para não me perder drasticamente. Saí do prédio de humanas onde assistia às aulas e caminhei por um tempo pela campus, para reconhecer a área e começar a gravar os lugares. Passei pelo prédio da biblioteca e pelo prédio de engenharia e arquitetura, o mesmo em que eu teria minhas aulas do curso de design no próximo ano. 

Segui mais um pouco pela rua principal até chegar na entrada no campus. Continuei na direção de uma loja de conveniência popular entre os alunos. Ao entrar rodei pelos corredores até achar a prateleira dos lámens. havia me dado dicas de qual escolher, pois sabia do meu paladar fraco para comida apimentada. Peguei um pacote com o sabor de frango agridoce, recomendado pela minha corte e segui para o caixa. Pedi a informação para a moça no básico coreano que tinha, e ela gentilmente me explicou como utilizar a máquina que esquentava água e preparava o lámen.

— Hum… Tá quente. — disse sentindo o macarrão queimar de leve a minha língua — Devia ter esperado.

Assoprei um pouco. Um garoto coreano que estava sentado ao meu lado começou a rir. Não sei se era do meu desespero por ter queimado a língua, ou por não entender meu português que saiu enrolado. Olhei para ele que continuava a rir de mim e comecei a rir junto sem explicação. 

— Você precisa esperar um pouco para comer. — disse ele em inglês.

Observei um pouco, ele vestia uma blusa preta com uma frase escrita, jeans e all star. Voltei meu olhar para o pote de macarrão saindo fumaça de tão quente.

— Agradeço a dica, vou me lembrar da próxima vez. — respondi em inglês.

Voltei a me alimentar com mais cautela. O lámen até que estava gostoso. Fazer aquilo me mostrava mais uma vez, que agora minha vida seria bem diferente. E trazia a mente vários doramas que Sunny me indicou de universidade para que me acostumar com a rotina pesada que enfrentaria. Após terminar, retirei o celular do bolso, tirei uma foto e enviei a . Ele mandou outra mensagem com a foto do lámen dele de bacon. Juntei minhas coisas e voltei para universidade. Logo no primeiro dia de aula eu já tinha muitas tarefas extracurriculares para realizar, a começar por escolher um poema da era Goryeo para estudar e apresentar em duas semanas.

Eu pensava que o primeiro módulo era o básico, mas já começou bem frenético. Passei a tarde na biblioteca pesquisando, escolhendo alguns livros para estudos e lendo mais e mais. Após o pôr do sol, tive uma inusitada surpresa. Concentrada lendo um livro de história da era Goryeo que encontrei em inglês, uma mão chegou por trás e tapou minha visão.

— Adivinhe quem é? — perguntou quem fazia meu coração acelerar.
— O único coreano que eu conheço que fala português. — abri um largo sorriso — Bom dia, .
— Bom dia, . — ele se afastou e deu alguns passos se sentando na cadeira de frente para mim — Como foi seu dia?
— Queimei minha língua comendo macarrão. — já joguei o acontecimento do dia.
— Uau. — ele me olhou impressionado.
— Um rapaz que sentou no banco do lado na loja de conveniência começou a rir de mim. — contei a ele — Acabei rindo junto.
— Queria ter visto a cena. — ele riu.
— Não queria não. — ri junto, mas logo me contive, pois alguns olhares vieram em nossa direção.
— Vamos caminhar um pouco? — convidou ele.
— Vamos. — assenti juntando minhas coisas. 

Joguei os livros que peguei emprestado na mochila, indo colocar os outros no seu devido lugar com a ajuda de . Saímos do prédio da biblioteca e ele pegou minha mochila para carregar. Aceitei de bom grado agradecendo, pois estava pesada. Nossa caminhada aleatória continuou pelo campus. 

— Como foi seu estágio, você voltou cedo? — perguntei curiosa.
— Hoje foi um dia tranquilo, os projetos que eu estou envolvido estão iniciando a execução agora, o que me deixa mais tranquilo. — respondeu ele.
— Vida de estagiário não é fácil. — brinquei.
— Nenhum pouco. — concordou ele — E a aula?
— Preciso de ajuda. — me adiantei.
— Do que precisa?
— Um poema da era Goryeo. — respondi — A professora Cho vai trabalhar conosco através dos poemas, cada um com o seu. 
— Hum… Tem alguns que gosto muito, vou adorar te ajudar. — ele sorriu de leve.

O sorriso que me deixava derretida e com o coração acelerado. Voltei meu olhar para frente rapidamente.

— Eu… — disse ele.
— Você?!
— Tem uma coisa que queria conversar com você. — ele parou por um momento.
— O que seria? — parei também e o olhei.
— Daqui quatro meses vamos completar dois anos de corte. — continuou — E se estamos este tempo todo juntos é porque já começamos a ter sentimentos um pelo outro.
— Sim. — concordei com um frio na barriga imaginando o ponto em que ele queria chegar.
— Eu… Não sei como dizer isso, então… Tentarei não gaguejar…
— Tudo bem.

Ele se ajoelhou retirando do bolso da calça uma caixinha.

— Bem, passei o dia todo me perguntando se deveria fazer isso agora, e meu coração com a direção de Deus disse que não poderia passar de hoje. — seu olhar demonstrava estar emocionado, ele abriu a caixinha revelando um anel — No meu coração sinto que estou pronto para dar mais um passo, mas uma vida não se faz sozinha e para isso preciso saber se você também se sente preparada para isso. Would you marry me?

Ele estava me pedindo em casamento e a única coisa que sentia era meu coração pulsar mais forte e minhas pernas bambas. Eu estava pronta para dar mais aquele passo? Desde que conheci e começamos a corte, tivemos inúmeras conversas sobre nossas vidas, nossos gostos, qualidades e defeitos. O que um gostava e não gostava no jeito do outro. Descobri várias coisas, positivas e negativas sobre ele. Mas a principal de todas que me deixou ainda mais atraída, tirando aquele sorriso lindo e o olhar profundo, é um homem temente a Deus, de oração e com uma fé admirável. Meus defeitos se encaixavam em suas qualidades, e vice-versa. Não precisei pensar muito em sua pergunta, pois em meu coração o Espírito Santo já testificava a resposta.

— Yes. — aceitei, respondendo em inglês.

Ele abriu um largo sorriso e se levantou, retirando o anel da caixinha colocou em meu dedo. Somente depois disso que percebemos algumas pessoas ao nosso redor, nos olhando e com celulares nas mãos. Me encolhi de vergonha e também.

— Eu juro que não foi premeditado. — disse ele ao se manter segurando minha mão.
— Eu acredito em você.

me guiou para longe dali, seguimos em direção ao seu dormitório. Ele mantinha sua moto estacionada em frente. Eu vagamente me lembrava se ele tinha comentado sobre ter uma moto, eu sabia que ele dirigia e muito bem por sinal. Colocamos o capacete e seguimos para casa de seus pais. Assim que chegamos e a notícia foi dada, Sunny deu um pulo de alegria já dizendo que queria ser nossa dama de honra. Ajumma Sora também se mostrou feliz e animada assim como o missionário Han.

Após o jantar, fizemos uma vídeo chamada para o Brasil. conversou com meu pai a sós primeiro para contar que me fez o pedido e também pedir diretamente a ele sua benção. Meu pai abençoou de imediato, dizendo sentir paz diante do pedido de . Tanto ele quanto Mônica me deram os parabéns, e claro que piadas do meu pai sobre eu ter que ir para a Coreia para finalmente receber o pedido de casamento foram feitas com muitas gargalhadas de sua esposa.

Quando a corte foi apresentada para mim, achei que não teria o privilégio de viver essa experiência. Por não saber se o homem que Deus preparava para mim seguiria a mesma visão. Entretanto, naquele dia a confirmação de que tudo que é direcionado pelo Senhor, dá certo, se fixou em meu coração. 

Eclesiastes está certo em dizer que há tempo para todas as coisas debaixo do céu. 

Agora há o tempo da corte, futuramente será o tempo do meu casamento.

"God I look to You, I won't be overwhelmed
Deus, eu olho para Ti, eu não vou ser tragado
Give me vision to see things like You do
Dá-me visão para ver as coisas como Tu vês
God I look to You, You're where my help comes from
Deus, eu olhar para Ti, Tu estás onde o meu socorro vem
Give me wisdom, You know just what to do
Dê-me sabedoria; Tu sabes exatamente o que fazer."
- God I Look to You / Bethel Church

Chamada: Esperar e descansar em Deus.



45. Atos

Eles responderam: "Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa".
- Atos 16:31

- x - 

Meu coração ainda se sentia agitado pela novidade do noivado. E quem se mostrava ainda mais empolgada que eu era a ajumma Sora. Combinamos que a partir de agora eu passaria os finais de semana na casa deles, assim poderia olhar os preparativos do casamento com a ajuda da ajumma e de Sunny. Minha cunhada que me chamava de unnie, não parava de dizer que eu seria sua irmã mais velha oficialmente. Tanto eu quanto , nos esforçamos ao máximo para manter a serenidade diante de tudo.

Claro que quanto mais próxima nossa convivência, mais era tentador querer tocá-lo e sentir seu toque. Meu coração já acelerava só de olhar para ele, e lutava contra minha mente para não ficar imaginando muito como seria beijá-lo. 

Domingo pela manhã, acordei cedo e após trocar de roupa, fui para o jardim. Me sentei no banco com o celular na mão e comecei a digitar uma mensagem para Lira. Precisava compartilhar algumas coisas com minha irmã.

: Bom dia irmã!
Lira: ?! Acordada a essa hora?
: Sim.
Lira: Perdeu o sono?
: Mais ou menos
acho que meu corpo está se acostumando com o ritmo pali pali daqui
Lira: pali o que?
: pali pali, quer dizer acelerado.
Lira: ahh kkkkkk
então eles já sabem como é a vida de um universitário
kkkkkkkk
: sim e isso vivem todo dia
Lira: e como está as coisas depois do pedido?
: estão bem
….
Lira: ???
: queria falar sobre isso
como está indo sua corte com o Joseph
Lira: não pode comparar as coisas, 
nossa cultura já é diferente
: eu sei
Lira: acho que está indo bem até
: só?
Lira: descobri um lado romântico no Joseph
ele me deu rosas no nosso aniversário de corte
: que fofo
aqui as pessoas comemoram a cada 100 dias de relacionamento
Lira: sério?
#chocada
: sim, eu achei legal
sempre me lembra, porque eu sempre esqueço kkkkkkkkkkkkkk
Lira: e olha que você é boa com datas
: Sim. kkkkkkkkkkk
Lira: mas tem algo que queria me contar?
: tem sido complexo ficar do lado dele
ontem tivemos que sentar longe um do outro
porque estava dando choque
kkkkkkkkkkkkkkk
Lira: oi?
: juro que eu não sei como explicar
mas estou sentindo o peso da atração
mas seguirei forte
a espera valerá a pena
Lira: aleluia
: glória a Deus!!!
Lira: e já marcaram a data

Olhei em direção a porta. estava lá também mexendo no seu celular. Voltei a atenção para minha conversa.

: bem, foi uma loucura quando proposto por ele, mas como se forma no final deste ano e em janeiro do ano que vem ele vai para o exército, ele perguntou o que eu achava de casarmos no final do outono.
Lira: já? tão rápido.
: não é tão rápido assim considerando nosso tempo de corte
Lira: isso é verdade
: ele não quer completar 3 anos de corte sabe
e querendo ou não, nossa corte nem foi tão normal pela distância
Lira: hum...
: acho que se ele fosse brasileiro
teríamos casado em o que?
um ano e meio
ou um ano?
Lira: vai saber
quando é de Deus não importa o tempo
: isso é um fato.
Lira: e por falar em casamento
Joseph andou entrando nesse assunto comigo
: uau

Eu sorri com sua mensagem, estava feliz por ela.

Lira: Pois é,
mas falei a ele que casamento só quando eu estiver fazendo a residência
agora quero focar nas provas e em aprender tudo o que puder 
: faz o certo
medicina é complicado
Lira: hum…
estou curiosa
você vai mesmo se especializar em ambientes?
: sim
é uma especialização do design que trabalha diretamente com a arquitetura e engenharia civil, meio que me influenciou
fico babando nas maquetes virtuais que ele faz
e as maquetes reais então
ele tem o dom pra isso
Lira: imagino 
asiáticos são todos perfeccionistas
: kkkkkkkkkkkk
ele está se aproximando
vou ir
Lira: me manda mensagem quando decidir a data
: ok
provavelmente será ainda hoje
Lira: bjos!!
: te amo Li
Lira: tbm te amo mana

Coloquei o celular no bolso e olhei para , ele havia se sentado ao meu lado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei ao olhar a preocupação em seus olhos.
— Estava aconselhando meu amigo. — respondeu abertamente — Ele teve outra briga com o pai e… Mas ele está relutante em denunciar a agressão sofrida, tem medo que isso possa ser uma desonra ao pai.
— Eu não o conheço seu amigo e não sei como é a relação que ele tem com o nosso Pai, o Senhor Jesus, mas tenho certeza que não é isso que Deus quer para ele. — disse minha opinião.
— Eu também, mas ele não quer me ouvir. — soltou um suspiro cansado — Tenho orado por ele, mas parece que não está surtindo efeito, quanto mais eu aconselho, mais ele fica relutante.
— Talvez você precise mudar sua oração e também as palavras de aconselhamento. — sugeri a ele — Mostrar para seu amigo que denunciar o pai, também é uma forma de honrá-lo, pois seu pai não está agindo como Deus ensinou, filhos são presente do Senhor.
— Você tem razão, preciso pedir ao Senhor a direção para falar com sabedoria. — ele sorriu de leve — Poderia orar por mim? Agora?
— Sim. — eu não esperava por aquele pedido, porém não negaria.

Ele segurou em minhas mãos e fechou os olhos. Eu comecei a oração agradecendo a Deus por estar usando para ajudar o amigo, e pedi que lhe desse forças para continuar e sabedoria para fazer o que era da vontade do Espírito Santo. Não foi uma oração longa, mas as palavras foram precisas e as necessárias.

— Amém. — disse ele após eu terminar — Obrigado, me sinto melhor agora.
— Eu que agradeço em poder fazer isso por você. — disse ao sorrir gentilmente para ele.
— Logo seremos um. — ele entrelaçou nossos dedos — Estou feliz que seja você.
— Eu também, estou feliz que seja você. — afirmei.

Eu senti que ele queria me abraçar. Suas mãos ficaram suadas um pouco. Nos afastamos assim que ouvimos alguém sair no jardim. Era Sunny nos chamando para a videoconferência com meu pai e a Mônica. 

— Então. — meu pai começou a falar — Os noivos já se decidiram?
— Final de outono. — respondeu .
— E vai ser onde? — perguntou Mônica.
— Aqui. — respondi a ele.

Sua cara na tela do notebook não parecia muito boa.

— Estaremos no meio do semestre letivo, não posso me ausentar por causa do curso. — expliquei a ele.
— Mas pretendemos nos casar no Brasil também. — completou — Em janeiro, antes do meu alistamento.
— Você vai se alistar? — meu pai ficou surpreso.
— Sim, jovens entre 18 de 30 anos são obrigados a servir ao país por 2 anos, mas para nós é uma honra. — explicou .
— E minha filha? Como fica?
— Eu vou ficar aqui morando com eles, continuarei meus estudos na universidade. — respondi com tranquilidade.
— Mas 2 anos filha.
— Pai, é a cultura deles, estou totalmente em paz com isso. — assegurei a ele.
— Se você está dizendo, me sinto em paz também. — disse ele.
— Pastor Jonas. — o missionário Han se pronunciou — Não se preocupe que estamos cuidando de todas as coisas aqui, e logo as passagens para você e sua família virem ao casamento será enviada.
— Sério?
— Sim, nossa igreja está dando as passagens como presente de casamento aos noivos. — explicou o missionário Han — é um menino muito querido por todos lá, e ficaram encantados com sua filha, principalmente com a voz dela.

Me encolhi meio envergonhada.

— Isso me deixa um pouco mais aliviado. — disse meu pai — Eu não quero perder o casamento da minha princess. 
— E não vai pai, faço questão do senhor aqui. — sorri para ele.
— Mas já adianto que o casamento aqui será por minha conta, já vou separar o dinheiro. — alertou ele.
— Não precisa de muita coisa pai. — pedi a ele.
— Precisa sim, você é minha filha primogênita, a benção dos primogênitos é importante. — brincou ele.

Nós rimos disso.
Meu pai estava mesmo alegre e empolgado, mesmo o casamento não sendo no Brasil. E mais, Mônica estava animada com a ideia da viagem e de conhecer o país de . Para nossa surpresa, até o chefe de se mobilizou para nos abençoar com um presente de casamento, nos ajudando nas passagens. Ao total, daria para meu pai, Mônica, Lira, Joseph, Samuel nosso irmãozinho, tia Kátia, o obreiro Zé e Davi. Layla e Charles já tinham planos de nos visitar em julho, então adiaram para o final do outono aproveitando assim a viagem já programada.

Eu estava feliz. 

Mesmo com a distância, para a glória de Deus, meu pai teria a oportunidade de vir até nós e participar de um dia muito importante para mim.

Quem diria que Deus me levaria para o outro lado do mundo e me casaria lá.

Para essas coisas, o que importa não é entender e sim viver a vontade do Senhor Jesus para nós!

사랑사랑세상을비추시네.
Amor, esse amor, brilha em todo o mundo.
사랑사랑승리하리영원까지.
Amor, esse amor triunfará até a eternidade.
- Loves Is Here / J-US Ministry

Chamado: Apenas crer.



46. Romanos

Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.
- Romanos 8:37

- x - 

— O que achou deste vestido? — perguntou Sunny empolgada assim que me mostrou a imagem em seu celular.
— É bonito mais, não gosto de renda. — confessei temendo sua reação.
— Assim fica difícil te ajudar unnie. — ela sentou no sofá e cruzou os braços com a cara emburrada — Você não gosta de nada.
— Desculpa. — disse com dó dela.
— Não se desculpa , você não é obrigada a se casar com nada que Sunny queira só para agradá-la, o casamento é seu, tem que agradar a você e ao , Sunny que vá orar para a vez dela chegar. — disse ajumma Sora com autoridade.
— Eu vou a loja de vestidos amanhã com a senhora não é ajumma? — perguntei a ela.
— Sim, lá teremos mais opções e você analisa o que te agrada mais. — respondeu ela com a doçura de sempre.
— Ok. — eu me levantei do sofá — Vou para o quarto estudar um pouco, com o final do semestre a semana de provas está chegando.
— Bem observado. — ajumma Sora olhou para filha — O que me lembra que suas notas mocinha estão baixas, vá estudar também.
— Mas agora? Está na hora do Music Bank. — ela argumentou.
— Ou você vai estudar ou eu desapareço com seus preciosos álbuns do EXO. — ela sorriu de forma graciosa — Você escolhe.
— Aish omma. — Sunny se levantou do sofá ainda mais emburrada e seguiu para o quarto.
— Agora fiquei com medo dela. — brinquei.
— Isso é somente birra de menina mimada, faltou a vara da disciplina quando criança só pode. — explicou ela engraçada — Pra sair louca assim.

Nós rimos e eu me retirei. Assim que entrei no quarto, Sunny estava com os fones no ouvido, o caderno aberto, porém os olhos na tela do celular que se mantinha dentro do caderno. Balancei a cabeça negativamente e segui para minha cama improvisada. Em pensar que após o outono eu dormiria no quarto ao lado que era de , me deixava com um frio na barriga. 

Assim que comecei a ler minha apostila e a treinar o vocabulário oralmente, pois a primeira prova seria um teste de pronúncia, meu celular tocou. Era uma mensagem de Davi.

Davi: irmã
quando eu chegar aí me apresenta as amigas
kkkkkkkkkkkkkkkk
: vigia vaso
sei muito bem que você está fazendo corte de novo

Foi intrigante saber que muitas coisas estavam acontecendo comigo longe de casa. As células frutificando, a igreja crescendo. Isla e PIetro ficando noivos, assim como a Madu e o Pablo. O casamento de Benício e sua agora esposa entrando para o ministério kids. A corte de Julian e Yasmin. Mas Davi fazendo corte com a Jenie de moda da federal, foi a notícia mais incrível para mim. Ele que disse claramente que iria para o celibato, foi totalmente fisgado por uma garota mais velha que ele.

Davi: Jenie é meio ciumenta
mas é assim que eu gosto
: vocês está agindo com mais sabedoria agora
Davi: claro que sim
estamos sendo vigilantes
não quero mais errar 
já aprendi tudo
: muito bem
que Deus te dê forças irmão
Davi: e você e o ?
como estão com os preparativos?
: bem
os pais dele estão nos ajudando em tudo
Davi: eu achei isso mega legal
ahhhhhhhhhhhhhhhh
eu vou pra Coréiaaaaaaaaaaaaaaaaaa
: seu bobo
eu agradeci muito a Deus por ter nos dado esse presente
Davi: depois do casório vão morar onde?
: até voltar do exército
ficaremos aqui
depois, teremos nosso próprio apartamento
Davi: hummmm
isso é bom
morar com sogros é complicado
do outro lado do mundo então
: sim
mesmo o missionário Han e a ajumma Sora sendo legais comigo
quero minha casa
Davi: quem não quer sua própria casa
tu viu quem tá de casamento marcado?
: dona Isla e seu Pietro
kkkkkkkkkkkkkkk
amei saber disso
Lira me contou
Davi: eu ainda não sei como ela vive
essa menina tá sempre de casa pra igreja
da igreja pra faculdade
da faculdade pra casa
não respira direito
: claro que não, ela não cursa direito
ela respira medicina

Soltei uma gargalhada, e olhei para Sunny. Nenhuma reação vindo dela, então voltei o olhar para o celular.

Davi: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
rindo até amanhã
gostei dessa
: e você? como estão os estudos?
Davi: já tô fazendo estágio
: onde?
Davi: em uma agência de publicidade
gostei mesmo dessa coisa de design gráfico
: aqui qualquer profissão ligada ao design é bem valorizada
Davi: qualquer profissão tirando a política fora do brasil é bem valorizada 
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
: verdade
Davi: mana como tá sendo você aí morando com o ?
: por que a pergunta seu curioso?
Davi: é pq né…
vocês são referência para mim
: hmmmm
#fofo
#amém
Davi: e sério
se rolar algo estranho, faz o que me ensinou
fugi da aparência do mal 
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
: seu bobo
pode deixar que está tudo bem
eu tenho que ir agora
tenho prova semana que vem
vou estudar um pouco antes de dormir
Davi: ok
até mais
: bom dia!!!

Deixei o celular ao lado na cama mesmo e voltei meu olhar para a apostila. Continuei os estudos até que adormeci ali sentada mesmo. Ao longo dos meses que foram passando, meus dias foram ficando mais corridos. As coisas do casamento, o estudo e o trabalho de meio período que consegui na biblioteca, me forçaram a remanejar meu cronograma mensal toda semana. Minha única prioridade era sempre os momentos de oração e as idas na igreja de toda quarta e domingo.

De madrugada eu me vi totalmente desconfortável na posição que adormeci. Me levantei se aproveitei a deixa para tomar água na cozinha. Na volta para o quarto, ouvi vozes no jardim. Era . Consegui escutar o que ele dizia. Ele orava pelo nosso casamento. Não contive as lágrimas de emoção enquanto ouvia. Mesmo em silêncio externamente, dentro de mim eu testificava cada palavra que ele dizia. Em um instante, ele se virou em minha direção e me virou.

. — disse parando a oração.
— Desculpa, não queria te atrapalhar. — disse sem graça.
— Não atrapalhou não, já estava terminando mesmo. — ele sorriu — Perdeu o sono? Ou levantou para orar?
— Nem um e nem o outro. — eu ri baixo — Dormi estudando e acordei com dores nas costas.
— Uau, vá dormir direito então, você tem prova pela manhã. — aconselhou ele.
— Sim, já estou indo. — sorri novamente por seu cuidado — Bom dia.
— Bom dia.

Eu me movi para voltar ao quarto, porém senti algo forte em meu coração. Minha mãe sempre me falava: “Casal que ora junto permanece junto.” Então, não era dever somente dele orar por nosso casamento, mas meu também. Me afastei da porta e segui até ele, ao segurar suas mãos, fechei meus olhos para começar a orar.

— Só seremos um casal completo, se o Espírito Santo estiver em nós. — disse a ele — Eis-me aqui, tantas fraquezas diante da Tua grandeza… O que se vê, o coração sente… O corpo responde, minh'alma não mente… — comecei o louvor que atualmente estava falando muito em meu coração — Sonda agora este coração… Veja, Senhor, se não tenho razão… Mas eu não quero ser tão racional… Espírito Santo pode se achegar… E fazer morada e fazer morada...

Espírito Santo, mora em mim
O meu coração é o Teu lugar, faça morada
Eu Te convido a nunca mais me deixar aqui
Faça morada em mim
Faça morada em mim
Faça morada em mim.
- Faça Morada / Kemuel

Chamado: Somente com Deus somos mais que vencedores.




Continua aqui >>> I Coríntios em diante



Nota da autora:
Louvo e agradeço a Deus por você estar lendo a mais essa história, apesar de ser muito diferente de todas que já escrevi, estou muito empolgada e me divertindo bastante com todas as ideias que estou tendo, espero que você também se divirta e se emocione, que possa ser edificado com a mensagem de Princess of GOD!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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