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Última atualização: 21/01/2021

Antigo e Novo Testamento



47. I Coríntios

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
- I Coríntios 13:4-7

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O dia amanheceu um pouco nublado. O que me desapontou por estar ansiosa para minha visita a loja de noivas com a ajumma. Segundo , o céu estava acinzentado devido à fumaça vindo das indústrias chinesas, era triste vez o céu tão poluído assim. De certa forma, me fez ter saudades do Brasil e de como o ar é um pouco mais limpo que aqui, consequentemente a saudade de sentir o cheiro de terra molhada após uma rápida chuva. Ou o frescor do pôr-do-sol na primavera, até mesmo o calor maluco que fazia no verão e as constantes chuvas de dezembro. 

Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. — sussurrei para mim mesma ao olhar para o céu pouco antes que sair pelo portão.
— O que está recitando? — perguntou ao aparecer ao meu lado.
— Um poema do escritor brasileiro Gonçalves Dias, se chama Canção do Exílio. — respondi a ele, ajeitando a mochila no ombro direito.
— Você não está exilada. — ele me olhou confuso e intrigado.
— Eu sei. — ri de leve, passei a mão no cabelo colocando minha franja para trás da orelha — Mas é uma forma de expressão da saudade por estar longe de casa.
— Daqui alguns dias aqui será sua casa. — ele manteve seu olhar atento em mim.
— Eu sei, terei duas casas. — sorri de leve para ele — Só preciso me acostumar com a ideia.
— Tenho certeza que Deus ajudará. — ele sorriu de volta e estendeu a mão — Vamos? Você tem prova daqui a pouco.
— Vamos. — segurei em sua mão e saímos para rua.

O missionário Han nos levou de carona até o campus da universidade. Me despedi de sem demora e segui para meu prédio. A prova iniciou às 8:30 em ponto. Confesso que estava apreensiva e nervosa, mas fiz uma rápida oração antes de entrar na sala. A resposta para meu esforço veio logo à tarde quando saiu os resultados da prova oral e escrita. Felizmente para glória de Jesus, havia passado o primeiro módulo com boas notas e seguiria em frente para o segundo módulo do curso de Hangul. Era minha primeira conquista acadêmica naquele país, que como havia dito, seria minha casa em poucos dias. Era maluco pensar que tudo aquilo estava acontecendo. E mais uma vez era a confirmação que os propósitos de Deus são para serem vividos e não entendidos.

Na hora do almoço me encontrei com ajumma Sora. estava com alguns trabalhos de última hora para fazer e ainda tinha seu estágio, então provavelmente só o veria à noite em nosso devocional conjunto. Segui com a ajumma para um restaurante de uma amiga dela da igreja J-US Worship, em que comecei a congregar junto com a família que me acolheu com tanto carinho. Mais uma vez me deparei com o choque cultural ao provar um bolinho apimentado de gosto estranho e duvidoso. Agradeci a ajumma por explicar a sua amiga, senhora Ong que eu não estava acostumada com o tempero muito forte da culinária do país. Ela foi bastante compreensível comigo e me deu uma fatia de torta de morango como cortesia da casa.

Após o almoço, ajumma ligou rapidamente para Sunny, a fim de monitorar se a filha havia retornado em segurança e corretamente para casa. Então, seguimos para a loja de vestidos de noiva, recomendado por outra amiga de infância. A atendente nos recebeu com gentileza e cordialidade, tantos vestidos lindos que me faltaram palavras para descrever o sentimento de estar ali. Só sei dizer que as pernas tremem juntamente com a ansiedade. Eu realmente tinha que trabalhar esse lado ansioso meu, e sempre orava muito a Deus para me ajudar. 

Não era à toa que Eclesiastes 3 sempre aparecia diante de mim em vários momentos: 

Tudo tem o seu tempo, e a tempo para todo o propósito debaixo do céu. 

O tempo de Deus não é o mesmo que o nosso, Ele é o dono do tempo, Ele é o tempo. Mas porque tanta ansiedade, se é Deus quem está no controle da minha vida? Essa é uma pergunta que não consigo responder, mas sempre lutarei contra esse sentimento. 

Mantive minha atenção na ajumma que olhava atentamente cada detalhe de cada vestido. A modelagem, o tecido, o acabamento, meus olhos brilhavam mais que o meu. Em pouco tempo, já sentia que ela havia se tornado uma terceira mãe para mim, já que Mônica era a segunda. Me aproximei dela, com curiosidade e perguntei sobre um assunto que se mantinha em minha mente.

— Ajumma, você tem algum tipo de relacionamento com a mãe de ? — perguntei curiosa.
— Não muito, eu já tentei me aproximar, mas ela não me deu abertura. — respondeu com tranquilidade, devolvendo o olhar curioso — já conversou com você sobre ela?
— Uma vez, muito vagamente. — respondi me lembrando — Mas ele não parece confortável ao falar dela.
— A mãe de não demonstrou o esforço de ser próxima do filho, em alguns momentos sinto que sou bem mais próxima dele do que ela, o que me deixa triste, é um bom filho e Arya infelizmente não aproveita a chance de viver isso. — sua voz doce era aconchegante para mim.

Ajumma Sora sempre com a suavidade no olhar, transmitia paz e aconchego a todos que interagiam com ela. Me lembrava da minha mãe, o que diminuía bastante a saudade da minha família no Brasil. Do outro lado do mundo Deus levantou uma mãe parecida com a minha para cuidar de mim. Isso me deixava ainda mais grata a Deus por seu cuidado e amor. Em segundos, ela voltou seu olhar para a arara de vestidos e retirou um, me mostrando.

— Aqui está, este foi feito sob encomenda para você. — disse ela com um olhar já entusiasmado.
— Que lindo. — foram as únicas palavras que consegui dizer, por minha reação foi ficar estática.

O vestido era mesmo lindo. Simples, singelo e lindo. Sem renda, sem muito volume, rodado como o de uma princesa e sem alça. Meus olhos se encheram de brilho e encanto. Peguei o vestido e segui para o provador. Pensei que seria complicado vesti-lo, mas até mesmo a numeração era exata para mim. Coincidência? Não, com Deus não existe coincidência, tudo acontece como Ele planeja para nossa vida. Não precisei olhar outros modelos, tinha a certeza dentro de mim que era aquele mesmo. Ajumma fez a ficha de cadastro e reservou o vestido para o final de semana que marcamos a data. 

Ela me deixou no campus da universidade ao final da tarde, após comprarmos também o all star que insisti para a cerimônia. E sim, eu não entraria com um salto enorme, eu entraria de all star branco, para combinar com que faria o mesmo. Ele tinha achado louca a minha sugestão, mas gostou bastante e apoiou minha decisão, em meio aos protestos loucos de Sunny em conjunto com Mônica.

: Já chegou?

Mandei essa mensagem para ele.

: Estou na sala de projetos
vem aqui!
: ok!!
estou chegando.

Me dirigi para o prédio de arquitetura e design. Não era tão longe da biblioteca como o meu que era específico para os cursos de Hangul, Línguas Estrangeiras, Jornalismo, Literatura, História e História da Arte. Assim que cheguei em frente ao prédio, soltei um suspiro cansado, pelo dia movimentado que tive em meus passeios e compras com a ajumma. Entrei no prédio e segui para a sala de projetos que ficava no quarto andar. Aquilo não parecia uma sala propriamente dita, mas era mais um espaço para os alunos executarem suas atividades. Mesas com pranchetas espalhadas pelo lugar, alguns puffs também, e um espaço de convivência ao fundo com dois sofás e máquinas de snacks. Havia mais três alunos na sala, todos concentrados nos papéis em sua frente. estava em uma mesa concentrado no seu desenho, com um escalímetro na mão e uma lapiseira técnica na outra.

Me aproximei de leve e puxei um puff, para me sentar do outro lado da mesa, de frente para ele. Assim que levantou o olhar e me viu. Senti como se ele tivesse paralisado de leve. Não esboçando nenhuma reação por um tempo.

— Bom dia. — disse cortando o silêncio, num tom baixo para não incomodar os outros alunos.

Meu coração sentiu uma certa apreensão por sua reação estranha ao me ver. 

— Bom dia. — ele desviou o olhar rapidamente para folha e respirou fundo.

Não entendi o que aconteceu com ele, entretanto me preocupei.

— Está tudo bem?! — perguntei mantendo o olhar nele.
— Sim. — ele se manteve de cabeça baixa olhando o papel pregado na mesa.

Abaixei o olhar rapidamente e vi que era a planta técnica de uma loja. Voltei meu olhar para ele, que continuava olhando a planta.

— Tem certeza? — insisti.
— Sim. — confirmou.

Fiquei em silêncio por um tempo, me sentindo incomodada com aquilo. Pensando se deveria ou não insistir mais e tentar entender o que aconteceu. Sabedoria, era algo que precisava muito de Deus para conduzir todas as minhas decisões na vida. Esperei por um tempo em silêncio, somente olhando ele continuar com a atenção voltada para seu projeto. Uma aflição começou a tomar conta de mim, fazendo meu coração ficar apertado. Isso deu lugar a alguns pensamentos negativos em minha mente como “será que ele está agindo assim porque se arrependeu de me pedir em casamento?”, ou “será que gosta realmente de mim?”. 

Dúvida. Este é um sentimento que sempre tem sido o oposto da fé e da certeza. E estava sendo gerado em minha mente por este breve momento de frieza vindo dele.

— Eu vou para o dormitório. — disse ao me levantar bruscamente — Me desculpe se incomodei.

Nem mesmo esperei que ele tivesse alguma reação e saí da sala às pressas. Claro que as lágrimas já estava sendo formadas no canto dos meus olhos. Andando rápido, me desviei para as escadas, não conseguiria ficar esperando o elevador. Foi quando senti uma mão me parar no meio do caminho e me puxar para perto. Era que impulsionou meu corpo para o dele me dando um abraço apertado. Meu corpo gelou todo, era a primeira vez que ele me abraçava daquela forma. Não consegui deixar de me lembrar dos muitos doramas que vi os protagonistas abraçando as mocinhas assim.

— O que está fazendo? — não consegui controlar a voz de choro.
— Mianhaeyo. — disse ele ao me pedir desculpas em coreano, em um sussurro — Me perdoe, quando você chegou, eu não soube como reagir.
— Como assim. — com os olhos marejados, me afastei dele e o olhei confusa.
— Porque está chorando? — seu olhar ficou preocupado — Eu te fiz chorar?

Agora ele estava ainda mais preocupado.

— Me perdoa, eu não sei o que fiz, mas me perdoa. — conseguia notar um misto de desespero e apreensão vindo dele.
— A forma como agiu, eu… — senti ele limpar minhas lágrimas ao tocar meu rosto — Comecei a pensar que não gostava tanto assim que mim, que talvez estivesse arrependido de se casar comigo.

Era complicado explicar para ele o que estava se passando internamente. Mas se não fosse sincera naquele momento quanto ao que sentia, como seria no futuro depois de casada? 

— Jamais. — ele sorriu de leve, mostrando um olhar carinhoso e compreensivo — Eu jamais vou me arrepender, porque tenho a certeza de que é você a mulher que quero para o meu futuro, o presente que Deus me deu.
— Então porque agiu assim? Isso me deixou assustada. — indaguei fungando um pouco.

Era algo maluco e incômodo, mas sempre que eu chorava, mesmo que poucas lágrimas, meu nariz insistia em quase entupir e me deixar ainda mais em surto.

— Me desculpa. — ele segurou em minha mão e entrelaçou nossos dedos — Confesso que estou meio ansioso com o nosso casamento, quanto mais dia se passa, mais fico nervoso e quando eu te vi tão perto de mim há minutos atrás, a única coisa que conseguia pensar era no quanto eu queria te beijar.

Um frio na barriga passou por mim. Não esperava ouvir aquilo dele. Nenhum pouco, apesar de em alguns momentos ter a mesma vontade e me controlar ao máximo.

— Por isso fiquei sem reação, por não saber como reagir. — continuou ele a explicar — Agora eu entendo o que Davi disse sobre não ser fácil fazer a corte, agora que tenho você mais perto de mim, meu coração acelera ainda mais.

Eu me afastei um pouco dele e ri. Ri de nervoso e desespero. Fazendo ele rir junto.

— Eu também sinto isso em alguns momentos. — confessei.
— Vai dar certo não vai?! — perguntou ele com um olhar esperançoso.
— Vai. — sorri de leve — Vamos conseguir esperar até o momento certo!

Ele sorriu de volta e me pediu para esperá-lo na escadaria. retornou a sala de projetos, pegou suas coisas e seguimos juntos até a frente do prédio do meu dormitório. 

— Assim que eu chegar no terraço, te ligo. — disse ele ao soltar minha mão e dar o primeiro passo se afastando.
— Ok. — assenti — Vou direto para lá.

Nos despedimos e ele seguiu. Assim que fizemos nossa vídeo chamada habitual para o nosso devocional conjunto, retornei para meu dormitório e peguei minha coisas para ir tomar banho. Já de pijama no corpo, quentinha e cheirosa, me joguei na cama e ao agradecer por meu dia, me entreguei ao sono.

- x - 

! — disse Mônica ao me abraçar forte — Que saudade.

Foi uma surpresa para mim quando me pegou na porta do meu prédio de hangul dizendo que minha família havia chegado no país. Somente segurei a emoção para pegar algumas coisas no dormitório e seguimos direto para casa de seus pais.

— Eu também. — disse ao retribuir o abraço — Fiquei tão feliz quando disseram que o passaporte tinha saído e poderia vir. 
— Provisão de Deus, minha filha. — disse meu pai ao me abraçar também — Tudo isso é provisão, porque esse negócio costuma demorar.
— Isso é verdade. — disse o missionário Han ao cumprimentar meu pai como velhos amigos de infância, o puxando para se sentar no sofá.

Isso ainda me impressionava.

— E onde estão seus pais? — perguntei ao Davi — Onde está Joseph?

Olhei para Lira.

— Meus pais não puderam vir, minha avó está meio doente e a igreja não pode ficar sozinha né, então eles estão lá como auxiliares no lugar do seu pai. — explicou meu amigo.
— Joseph não conseguiu vir por causa do seu estágio no TJ, ele acabou de ser indicado por um professor, não poderia pedir dispensa para sair do país. — respondeu Lira ao me abraçar — Mas ele disse que está muito feliz com seu casamento e já conta com vocês para serem nossos padrinhos.
— E desde quando aspirante a médico tem vida para se casar? — brincou Davi.
— Muito engraçado. — Lira fez uma careta para ele.
— Vocês dois. — eu ri de leve deles — Ainda não sei como já fizeram corte.
— Nem nós. — disseram os dois em um coral.
— Mas o Joseph já fez o pedido? — perguntei curiosa.
— Ainda não, mas estou na expectativa. — ela deixou transparecer um sorriso mimoso e esperançoso.
— Estou feliz por vocês dois. — disse ao se aproximar de nós.
— Pena que o pequeno Samuel também não pode vir pela idade. — olhei para Mônica triste por não poder ver meu irmãozinho.
— Sim, eu deixei ele com a Kátia com o coração apertado. — disse ela ao se sentar ao lado do meu pai — E como vamos voltar amanhã após o casamento, então ele não vai sentir tanto a minha falta.
— Nossa falta. — corrigiu meu pai.
— A Layla já chegou? — perguntou Davi — A última notícia que tivemos dela é que iria embarcar antes de nós.
— Sim, a Layla iria passar no Japão primeiro e depois viria para Seoul. — respondeu a ele — Acho que faz parte do pacote que eles compraram.
— Isso. — concordo.
— São todos muito bem-vindos em nossa casa. — disse ajumma Sora ao entrar na sala com uma bandeja em sua mão — Preparei um lanche para vocês.
— Que amor, muito obrigada. — disse Mônica com leveza no olhar.
— Imaginei que pudesse chegar com fome. — disse ajumma ao sorrir com gentileza.
— Fome é o meu sobrenome. — brincou Davi.

Nós rimos e agradecemos pela comida e pela vinda da minha família em segurança, juntamente com uma rápida oração de gratidão feita por meu pai. Nos deliciamos com o lanche preparado e Mônica logo se ofereceu para ajudar ajumma a lavar a louça suja. A loucura veio na hora de acomodar os recém-chegados. Por mais que fosse apenas por um dia, pelo menos para meu pai, Mônica e Lira, ainda assim seria um tanto quanto apertado. Por sorte, Davi passaria mais dias conosco em Seoul, e já tinha seu roteiro traçado juntamente com Layla e Charles. Meu irmão adotivo pensou em tudo.

Acomodamos meu pai e Mônica no quarto de . Lira dormiria comigo e Sunny, na cama de hóspedes que tinha acoplada na cama da minha cunhada. Já Davi e meu futuro marido, dormiria um no sofá e o outro no colchão no chão do escritório do missionário Han. E seria uma noite movimentada e cheia de conversas pela madrugada. Pelo menos nós mais jovens ficamos até tarde no jardim conversando sobre as novidades tanto no Brasil como na Coréia. Me animei ao saber que Pablo e Madu já tinham marcado a data do casamento para o próximo ano e o que Isla e Pietro seria no início de dezembro.

Eu e Lira entramos no quarto da minha cunhada e nos deparamos com ela em completo sono. Minha irmã se deitou na cama improvisada para ela, e permaneceu com um olhar curioso para mim.

— O que foi? — perguntei ao me sentar no meu sofá cama e olhar para ela.
— Nada, só estou feliz por você e por mim. — ela manteve um sorriso singelo no rosto e um olhar brilhoso — Passamos por tantas coisas desde quando nos conhecemos.
— Conquistamos muitas coisas também com a graça do Senhor. — completei — Como tem ido a federal e o curso de medicina?
— No próximo semestre eu vou poder fazer estágio na área da minha especialização. — respondeu ela ao pegar o travesseiro e abraçá-lo — Isso me deixa entusiasmada e ao mesmo tempo com medo de não dar conta.
— Entendo esse sentimento, também pensei que não conseguiria quando meu pai e eu nos mudamos para Minas, quando ele abriu a igreja e quando vim para a Coréia. — revelei a ela sem vergonha — É normal da natureza humana sentir insegurança, mas nossa fé nos dá a segurança que está em Cristo Jesus.
— Verdade. — ela soltou um suspiro esperançoso — Você é um exemplo para mim, obrigada por não desistir.

Eu me peguei sem reação as suas palavras. No fundo, eu que estava agradecida a Deus por não me deixar desistir e por ser minha coluna de sustentação.

— Mas, mudando de assunto, onde vão passar a lua de mel? — perguntou Lira — Aqui mesmo?
— Não podemos ficar muitos dias afastados por causa da universidade, mesmo que meu primeiro módulo tenha encerrado, ainda tem tido aulas do final do semestre e tem seu estágio e o meu na biblioteca. — expliquei a ela — Mas não vamos passar aqui não.
— Hum… — ela riu me fazendo rir também — E onde vão?
— Então, é meio louco, mas depois do casamento e da recepção, vamos ir direto para o aeroporto e seguir para a ilha de Jeju, os avós paternos de nos cederam a casa deles lá para ficarmos cinco dias. — expliquei a ela.
— Que fofo da parte deles, vocês vão passar a lua de mel numa ilha. — comentou ela.
— Bem a ilha de Jeju é um dos cartões postais daqui e tem muita paisagem bonita lá. — continuei com um sorriso bobo na face — E quer muito me mostrar a praia que ia quando criança com os avós.
— Legal.
— Pois é, o louco é que só teremos nosso tempo juntos e sozinhos quando chegarmos lá. — ri de leve.
— Você está nervosa?
— Muito. — continuei rindo baixo — Mas, a gente tem orado tanto esses últimos dias pra que tudo ocorra bem, que graças a Deus assim que vem o nervosismo, uma onda de paz e calmaria vem logo atrás.
— A paz que excede todo entendimento humano. — comentou Lira entendendo.
— Filipenses 4:7. — disse a referência.

Nós rimos e Lira concordou com a cabeça positivamente. Nós deitamos finalmente e meu corpo se mostrou tão pesado com a rotina intensa e agitação dos últimos dias, que logo peguei no sono sem esforços. Na manhã seguinte, ajumma Sora me acordou cedo e juntamente com as outras garotas, me arrastou para o spa onde eu passaria o dia me aprontando. Tudo era novidade, principalmente o formato de casamento que os coreanos faziam. Principalmente a parte em que depois da cerimônia, teria que anexar meu nome nos registros da família, para que eu realmente fosse reconhecida pelo país como sua esposa. Ele faria isso agora pela manhã juntamente com seu pai, assim não atrasaria nosso vôo para Jeju. O que significa que na teoria eu seria reconhecida como sua esposa às 9:30 da manhã e não às 16 horas em nossa cerimônia.

— Esse vestido é realmente lindo. — comentou Mônica, assim que o terminei de vestir — Foi feito para você, meigo, delicado, singelo e simples.
— Eu concordo. — disse Lira — Está um encanto.
— Sim. — o olhar brilhante de ajumma Sora me transmitia ainda mais segurança.

Meu coração se aqueceu um pouco, e uma ponta de desejo de ter minha mãe ali apareceu. Meu conforto vindo do Espírito Santo, foi olhar para as duas mulheres que se tornaram minhas mães e exemplos de gentileza e fé para mim. 

Maquiagem leve e suave feita, vestido no corpo, cabelos soltos com uma tiara singela de pérolas. Eu já estava pronta para seguir para o espaço do cerimonial que o missionário Han havia reservado para o nosso casamento. A cada proximidade do lugar, meu coração ficava ainda mais acelerado e minhas mãos um pouco frias. Batendo constantemente meu all star nos pés no chão do carro, minha perna estava involuntária naquele ritmo. 

Assim que descemos do carro, meu pai já me aguardava do lado de fora. Os outros entraram e fiquei em frente à porta de entrada da noiva, com meu pai ao meu lado todo emocionado.

— Sua mãe estaria orgulhosa agora, e derramando lágrimas também. — comentou ele ao me dar um beijo no topo de minha testa — Pois eu estou orgulhoso da filha que tenho, e Deus está orgulhoso da mulher que você tem se tornado.
— Pai o senhor não pode me fazer chorar. — disse num tom baixo, segurando as lágrimas — Não é justo com a moça que fez minha maquiagem.

Eu o fiz rir de mim.

— Mas obrigado por suas palavras. — sorri de leve para ele — Meu coração está grato por ser sua filha, por todos os conselhos e por não ter desistido.

Ele derramou a primeira lágrima e me abraçou forte. Sim, meu pai era meu primeiro exemplo de perseverança e obediência a Deus. O maior lema do seu chamado era II Coríntios 12:10, “quando estou fraco é que estou forte”. E estava se tornando muito forte em minha vida, pois Deus me fortalecia sempre. Respiramos fundo após o abraço e nos colocamos novamente de frente para a porta. Sem marcha nupcial, e ao som sublime do violino e violoncelo tocando Oceans, a porta se abriu diante de mim e me deparei com à minha espera. Minhas pernas tremeram um pouco e me apoiei ainda mais em meu pai.

Ao dar o primeiro passo entrando, foi como se o tempo parasse e tudo não existisse ao meu redor, eu só conseguia olhar para e ver ao seu lado uma luz forte e linda que me fazia sentir no mais profundo do meu ser, que era o próprio Deus ao seu lado. Ambos à minha espera em um dia reservado para a formação da nossa família. 

A espera da noiva.

"Tu me dás a paz que excede
Todo entendimento humano
E quando eu planejo me mostras
Que é bem melhor o Teu plano

Com misericórdia me cobres
Derramando graça em mim
Eu desconheço um outro amor assim."
- Que Amor É Esse / Luma Elpidio

Chamado: Amar verdadeiramente.

Dicionário:
Escalímetro: é um instrumento na forma de um prisma triangular que possui seis réguas com diferentes escalas. Utilizado para medir e conceber desenhos em escalas ampliadas ou reduzidas em desenhos técnicos.


48. II Coríntios

“Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco, é que sou forte”.
- II Coríntios 12:10

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— Sim. — disse após a pergunta do pastor Kim, que celebrava nossa cerimônia.
— A futura senhora Lee, faço a mesma pergunta, é de livre e espontânea vontade que aceita se casar com o futuro senhor Lee? — continuou o pastor Kim.
— Sim. — disse com segurança.
— Pelo poder e unção concedidos a mim por Deus, e diante dos documentos de casamento civil, eu vos declaro casados em nome do Senhor Jesus. — ele olhou para nós dois com um sorriso escondido — Agora finalmente o noivo pode beijar a noiva pela primeira vez.

Meu coração acelerou com suas palavras. já tinha mencionado ao pastor Kim sobre nossa corte e como era, todos ali naquele lugar sabia sobre isso. O que me fez ficar levemente envergonhada e nervosa. Um frio na barriga ao manter meu olhar em e o dele em mim. Claro que era possível ouvir os cochichos e as movimentações ao nosso redor. Contudo, minha atenção estava voltada ao meu agora marido e seus movimentos em minha direção.

Quanto mais ele se aproximava de mim, mais sentia as pupilas dos meus olhos dilatarem, minhas pernas bambearem. Ele tocou com a mão esquerda em minha cintura para me deixar mais apoiada e próxima a ele, e com a mão direita ele tocou de leve em meu rosto, deixando transparecer um sorriso suave em sua face. Se ele não estava tão nervoso quanto eu naquele momento, ele sabia esconder muito bem. Meu olhos foram fechando lentamente com a continuidade de sua aproximação, até que senti seus lábios tocarem os meus, num beijo leve e singelo.

O primeiro de muitos.

O que esperei por quase três anos…

Não. Esperei por pouco mais de vinte anos.

Mas era o beijo que Deus preparou com todo carinho para mim.

— Eu te amo. — sussurrou ele em meio aos aplausos de todos.
— Eu também te amo. — sussurrei de volta.

Aquela também era a primeira vez que dissemos essa frase um ao outro. Pois tinha fundamento para isso, foram meses e semanas de conversas e um conhecendo o outro, gostos, qualidades e defeitos. O sentimento que tivemos de amizade no início foi se construindo aos poucos e se tornando amor. Estávamos prontos não somente para proferir a frase que aquecia nosso coração, mas também para fazê-la se tornar material em nossa vida. 

— Eu não acredito que vivi pra ver vocês dois se beijando pela primeira vez. — disse Davi ao vir nos cumprimentar.

A cerimonialista havia reservado um espaço para que nós noivos ficássemos para os cumprimentos. E meu irmão foi um dos primeiros a se aproximar.

— Deixa de ser bobo Davi. — disse ao empurrar ele de leve, brincando.
— Dessa vez eu vou ter que concordar. — disse Lira em risos — Poderia ter sido mais emocionante se a noiva não tivesse levantado o buquê.
— Em minha defesa, foi no automático da vergonha. — expliquei.
— Eu nunca vi isso, a noiva esconder o primeiro beijo do casal. — Layla se aproximou com a mão na cintura.
— Para ser sincero, não poderíamos nos beijar em público, porque não é da nossa cultura, mas o pastor abriu essa exceção para nós dois. — explicou com tranquilidade — Se fosse uma cerimônia normal, eu somente beijaria a testa dela. 
— Ai que sem graça. — Layla se mostrou chocada com a explicação dele — Esperar esse tempo todo e não poder ter aquele beijo.
— Culturas diferentes amor. — disse Charles ao se manter abraçado a ela.
— Estou feliz que todos puderam vir. — disse a eles — E vocês dois vão ficar até quando?
— Mais alguns dias, bom que o Davi vai poder curti mais com a gente. — respondeu Charles.
— Só mais dois dias né. — explicou Davi — Eu tenho um estágio e uma faculdade me esperando.

Nós rimos da cara de tristeza que ele fez. e eu fomos cumprimentados por mais pessoas. Não havia convidado muitas pessoas da Coréia, somente alguns amigos próximos de e dos seus pais e algumas pessoas da igreja, além dos seus avós paternos. Foi triste por sua mãe não ter comparecido e apenas enviado um presente de casamento. Acho que a explicação se deve ao seu trabalho que lhe consumia um tempo a mais nesta época do ano. Fiquei empolgada ao conhecer uma jovem chamada Yuri que faz parte do grupo J-US Ministry, o ministério de louvor da J-US Worship. Ela e são amigos de infância, e quando soube que ele se casaria, ela ficou muito feliz por ele, pois também estava noiva e sabia que era uma felicidade muito grande em nossa vida.

Não ficamos muito tempo na recepção pós cerimônia, pois as passagens compradas e o vôo marcado, era pegar as malas já levadas para lá e seguir para o aeroporto. Só foi o tempo de me trocar e colocar um vestido mais leve e também singelo. A cor rosa bebê foi sugestão da ajumma Sora, que foi uma verdadeira mãe para mim, me ajudando em cada detalhe de tudo. Desde a decoração totalmente voltada para a harmônica e sutil mistura do design industrial que tanto amava, com a Sakura, flor de cerejeira, que era minha favorita. 

Eu jamais conseguiria fazer aquilo sozinha. 

- x - 

— Chegamos. — disse assim que abriu a porta e me deixou entrar primeiro.

Adentrei a casa. A construção ficava no topo de um rochedo, tinha uma vista plena para a Gimnyeong Seonsegi Beach, uma das praias mais lindas de Jeju, considerada pelo meu esposo. Me aproximei do sofá que estava de frente para a lareira, e observei a poltrona ao lado da mesma. O inverno estava chegando e os avós de tiveram o cuidado de deixar uma reserva de lenha próximo à entrada para a cozinha. Alisei as costas do sofá de leve ao observar ele colocando as malas ao lado da escada e voltando para fechar a porta.

O caminho todo já havia sido em plena fascinação com tamanha beleza da natureza criada por Deus, estar agora ali com a vista para o mar. Era privilegiado nossa lua de mel.

— Acho que agora eu deveria dizer, enfim sós. — brincou ele.

Não me contive em rir. Agora sim eu estava vendo o nervoso e ansioso diante de mim. Seu olhar confuso sobre o que deveria fazer a seguir, me fazia querer rir pela nossa situação embaraçosa. 

— Não sei o que fazer agora. — confessou ele ao coçar a cabeça.
— Acho que deveríamos orar primeiro. — sugeri.
— Tem razão. — concordou ele ao estender sua mão para mim — Gostaria de fazer as honras, senhora Lee? E iniciar a oração?
— Você é o meu sacerdote agora senhor Lee, então você deveria começar. — disse ao segurar em sua mão.

Nós rimos um pouco, pelo nervosismo de ambos. E fechamos nossos olhos. iniciou a oração agradecendo a Deus por nosso casamento e por todas as coisas boas que estavam acontecendo em nossa vida. Eu fofo ouvi-lo orando, meu coração se enchia de alegria e me sentia segura em saber que era tão temente ao Senhor quanto eu. Aos poucos comecei a iniciar um louvor, sentindo as lágrimas escorrerem um pouco por minha face, uma leveza tomou conta de mim, deixando-me serena e tranquila.

— Te fiz chorar. — disse ele após a oração e abrir seus olhos.
— Só um pouquinho. — brinquei rindo.
— A ajumma disse que você não conseguiu comer muita coisa, quer que eu te prepare algo? — perguntou me olhando preocupado e ainda confuso.
— Eu não sei, não estou com muita fome. — respondi desviando meu olhar para a janela — Você está?
— Não sei. — respondeu.

Tudo se manteve em silêncio por um tempo. E mantive meu olhar para a janela, mesmo sendo de noite, as luzes do lado de fora contribuíram com destaque da paisagem. Assim como a claridade da lua na praia. Com suavidade, senti tocar em meu rosto, movendo meu olhar para ele, o brilho em seu olhos já havia preenchido o lugar do nervosismo. Em segundos, seus lábios tocaram os meus pela segunda vez. Doce e delicado, com seus braços envolvendo-me pela cintura aproximando meu corpo ao dele. As aceleradas batidas do meu coração com seu toque, deram lugar para uma sensação de êxtase. Tudo ficou meio silencioso dentro de mim, meu corpo se aqueceu, eu apenas seguia deixando ser conduzida pelas investidas dele. Permitindo-o me tocar ainda mais.

Eu sabia que naquele momento a frase “dois se tornando um” que dizia na Bíblia seria concretizada em nosso casamento, seríamos sim apenas um. 

E não estava com medo mais de algo dar errado. 

Apenas permitia que o nosso “eu te amo” saísse das palavras e se materializasse em nossa primeira noite juntos.

— Acho que agora entendo parcialmente o que Salomão queria dizer em Cantares. — comentou assim que me fez aninhar a ele, na cama do quarto de hóspedes que prepararam para nós dois.

Ele riu do próprio comentário. E me lembrei vagamente do que dizia no livro da Bíblia que eu menos tinha lido em toda a minha vida.

— Espero sinceramente que você não compare meu corpo com a anca de uma égua. — ergui meu corpo de leve, puxando o lençol para me cobrir mais e o olhei — Isso não é legal.
— Jamais. — ele riu de mim e acariciou minha face de leve com carinho — Se tiver que comparar, seria seu o brilho do seu olhar com o das estrelas do seu, ou o encanto do seu sorriso com o pôr-do-sol em uma tarde de outono.

Ele foi se aproximando mais e me deu um beijo suave.

— A suavidade do seu beijo, como a brisa do mar da primavera. — continuou ele ao sorrir — Não imagina o quanto estou feliz por esse momento, valeu a pena a espera.
— Compartilho do mesmo sentimento. — sorri de volta para ele e me aninhei novamente em seus braços — O que acontece agora?
— Não sei. — ele riu baixo — Acho que teremos que descobrir juntos.
— Hum… — concordei com a cabeça fechando os olhos.

Eu senti ele se remexendo na cama e seus lábios tocaram os meus novamente. Aquilo arrepiou um pouco meu corpo, pois senti mais intensidade que das outras vezes. Contudo, a doçura e delicadeza continuavam ali. O restante da noite passou lentamente em meio aos carinhos, descobertas e declarações de amor em sussurros que arrepiaram nossos corpos. 

O sol entrou pela janela assim que se levantou na manhã seguinte e abriu as cortinas. Cobri minha cabeça e virei para o canto. Meu corpo estava cansado, confesso. Não estava preparada para a noite que tivemos. Me mantive quietinha na cama e ouvi ele saindo do quarto, eu não ia me mover um milímetro dali, só queria dormir mais um pouco e foi o que eu fiz. Fechei meus olhos e tirei um breve cochilo. Quando acordei, minhas narinas logo sentiram um cheiro gostoso invadindo o quarto. Ouvi três batidas na porta e descobrindo minha cabeça, olhei para sua direção. estava com uma bandeja de café em suas mãos. Meu estômago fez um barulho involuntário e senti um fundo dentro de mim, era a fome aparecendo finalmente.

— Precisamos alimentar o corpo. — disse ele, mantendo um leve sorriso no rosto e entrando no quarto.
— E você fez tudo isso? — perguntei boquiaberta.

Panquecas americanas, suco de laranja, frutas e geléia de morango. Não era um café da manhã tradicional coreano e nem brasileiro, mas me emocionou um pouco ver sua surpresa para mim. Ele se sentou em minha frente e colocou a bandeja entre nós dois.

— Não que os doramas exageram, mas realmente existem homens no meu país que sabem cozinhar. — ele deu uma piscada boba e maliciosa — O que achou?
— Uau! — minha primeira reação — Só acho que se me acostumar mal assim no primeiro dia e depois não cumprir… Será propaganda enganosa.
— Não se preocupe, sempre vou ter o Espírito Santo para puxar minha orelha. — brincou ele — Vou me esforçar muito para realmente ser o esposo que Deus sonhou para você.
— Faço das suas, as minhas palavras. — concordei com ele, erguendo de leve meu corpo lhe deu um selinho rápido — Agradeço pelo café.

E eu realmente fiquei impressionada. Estava tudo saboroso e muito bem caprichado. Já imaginava cozinhando para mim mais vezes. Mais um ponto na minha lista que tracei com o senhor para meu varão: saber cozinhar! Era realmente impressionante pensar e ver na prática que Deus não deixa passar nenhum detalhe em nossa vida. Todos os pontos que passei anos orando para que meu futuro esposo tivesse, apresentava para mim aos poucos. Isso apenas confirmava que sim, vale a pena confiar e esperar em Deus.

— Ficou gostoso, quero a receita. — brinquei com ele.
— Hum... Me desculpe, mas essa é secreta e você vai ter que lutar para merecer ela. — brincou de volta segurando o riso.
— Que absurdo, eu não acredito que terei que pagar mais preço. — o fiz rir finalmente — Que maldade, Deus está vendo isso.
— Este café será apenas preparado para mim, especialmente para você. — ele piscou de leve e sorriu — Preciso ter algo a meu favor, imagina quando você estiver zangada e eu posso amolecer seu coração com este café.
— Hum… — eu segurei minhas expressões de fofura, ele afastou a bandeja de leve e foi se achegando.
— E quando estiver com tpm, posso te preparar chocolate quente, cheio de amor. — ele se aproximou mais e beijou meu pescoço.
— Ok, isso está me agradando, vou cobrar. — eu ri sentindo cócegas.
— Será um prazer cumprir cada uma de minhas palavras. — ele me beijou com mais doçura e intensidade também.

Ele tocou em minha cintura achegando mais o meu corpo junto ao dele. Mais uma vez fazendo meu coração acelerar, e o dia nem tinha começado direito.

Finalmente, após o café da manhã, ele me chamou para dar uma volta pela praia. Mesmo com o friozinho do inverno dando as caras, Jeju no final do outono era lindo e valia a pena ser contemplado. Trocamos de roupas, e colocamos um suéter da mesma cor cada um, eu já estava me acostumando com o costume dos casais de sair com roupas combinando. E achava divertido e meigo isso. 

— Eu fiquei esperançoso da minha mãe ir em nosso casamento. — iniciou ele num tom baixo, enquanto segurava minha mão com nossos dedos entrelaçados, ao longo da nossa caminhada pela areia — Eu realmente queria que ela te conhecesse, pelo menos nesse dia.
— Eu lamento, por isso… — sussurrei — Agora entendo que não goste de falar sobre ela, mas sempre que quiser, estou aqui e… Mais do que eu, Jesus sempre estará aqui por você.
— Obrigado. — ele parou e me olhou — Obrigado por tudo.
— Somos um agora. — disse ao levantar nossa mão e mostrar nossos dedos entrelaçados — Sua alegria, minha alegria, sua dor, minha dor…
— Suas conquistas, minhas conquistas. — ele sorriu de leve — Eu confesso que fiquei chateado na hora, mas estou bem, o abandono da minha mãe não me causa mais dor a muito tempo. Só não gosto de falar do assunto por…
— Não precisa explicar. — disse o interrompendo — E também, devemos trazer à memória aquilo que nos traz esperança.
— Lamentações 3:21. — disse ele, a referência bíblica.
— Isso mesmo. — sorri de forma suave e esperançosa também — Esteve em nosso casamento as pessoas que precisavam estar.

Ele se impulsionou e me deu um beijo suave de surpresa e sorriu. Então envolveu suas mãos em minha cintura e me virou para olhar o mar. Permaneci em silêncio aninhada a ele, olhando para todo o horizonte desenhado por Deus em nossa frente.

— Há alguns anos eu sempre olhava para este mar e imaginava estar assim com a mulher da minha vida. — sussurrou ele com suavidade — Estou grato a Deus por meu sonho se tornar real hoje.
— Eu te amo. — sussurrei de leve — Valeu a pena te esperar.
— Eu também te amo. — sussurrou ele de volta — Valeu muito a pena te esperar!

E só conseguimos esperar um ao outro, com a ajuda do Espírito Santo que nos deu força para esperar!

"I will love You Lord my strength
Eu vou Te amar Senhor, minha força
I will love You Lord my shield
Eu vou Te amar Senhor, meu escudo
I will love You Lord my rock
Eu vou Te amar Senhor, minha rocha para sempre
Forever all my days I will love You God
Todos os meus dias eu vou Te amar, Deus."
- God I Look to You / Bethel Church

 

Chamado: Em Cristo é que somos fortes.



49. Gálatas

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei”.
- Gálatas 5:22-23

- x - 

— Bom dia! — disse ao entrar na cozinha me espreguiçando.

Tinha que confessar, nunca tinha dormido em um colchão tão gostoso e macio como aquele da cama do quarto de hóspedes. Sempre que me deitava nele, o convite para horas de sono era real e forte. Parei e me escorei na bancada da pia, olhando-o preparar o café. me olhou de leve e sorriu, então voltou sua atenção para a frigideira.

— Bom dia. — ele manteve o sorriso no rosto concentrado no que fazia — Dormiu bem?
— Sim, aquele colchão é maravilhoso. — respondi soltando um suspiro feliz e animado — Podemos levar ele pra casa com a gente?

Ele riu um pouco.

— Não podemos. — desligou a trempe do fogão e me olhou meio instigante — Mas acho que você vai gostar da minha cama.

Eu soltei uma risada rápida e me afastei da pia, então me aproximei da mesa e me sentei na cadeira. Mantive minha atenção nele que ajeitava todas as coisas do café em cima da mesa com carinho e cuidado. Assim que terminou, ele se sentou na cadeira de frente para mim e sorriu. Por um instante eu somente fiquei em silêncio, olhando-o com um sorriso bobo no rosto.

— Vamos comer?! — perguntou ele.
— Itadakimasu. — disse agradecendo pela refeição em japonês.
— De nada. — disse ele em risos, então esticou sua mão para mim, que segurei de imediato — Senhor, agradecemos por mais esta refeição que estamos fazendo juntos, como um casal, que possamos ter mais momento abençoados pelo Senhor, e que não nos falta tua provisão.
— Amém! — disse em concordância com sua oração.

Após um sorriso suave, voltei meu olhar para aquela mesa. A cada dia meu marido estava se superando na cozinha. E desta vez, sua dedicação na cozinha nos rendeu torradas francesas com Nutella e morangos, leite gelado que eu tanto gosto, acompanhado de um misterioso prato de pão de queijo. Onde será que ele tinha conseguido aquilo? Me mantive em silêncio e comecei a degustar do café da manhã. Porém, era inevitável perceber seus olhares curiosos para mim, esperando cada pequeno gesto de reação em relação ao seus dotes culinários. Assim que peguei um pão de queijo e mordi, se manteve com o olhar fixo em mim. 

— O que foi? — perguntei mais curiosa ainda por seu olhar.
— Então o que achou?! — ele devolveu a pergunta.
— Hum… Está gostoso, impressionante. — confessei.
— Sério? — ele se mostrou surpreso com minhas palavras.
— Sim, porque? Foi você que fez? — aquilo seria surpresa.
— Não. — ele riu — Poderia dizer que sim, mas seria mentira. 
— Então…
— Descobri uma cafeteria aqui perto que pertence a uma brasileira, lá vende pão de queijo. — explicou ele com tranquilidade — Achei que seria legal comprar para o nosso último café antes de voltar para Seoul.
— Que fofo. — sorri de forma meiga e comi o resto do pedaço — Cinco dias passaram tão rápido, que não acredito que já vamos voltar no final da tarde.
— Sim, os dias sempre passam rápido quando estou aqui em Jeju. — concordou ele, com um tom de nostalgia — Mas de todas às vezes, essa foi a melhor de todas.
— Eu me diverti muito aqui também. — soltou um suspiro pensativo —
— Sim?! — ele me olhou atento.
— Como vamos fazer agora? Seu pai disse que podemos ficar lá até você ir e voltar do exército, mas… — eu ainda estava confusa em como seria nossa situação de moradia neste início.
— Mas… Está com receio de algo? — perguntou ele.
— Ainda estou em fase de adaptação, e pensando agora, preciso me acostumar com a ideia de você ir para o exército no início do ano que vem. — confessei minhas preocupações para ele.

Eu e já tínhamos conversado muito sobre sua ida para o exército, sobre a obrigatoriedade de todos os homens entre 18 e 30 anos de servirem por pelo menos 21 meses ao país. Claro que para eles era uma honra servir ao seu país e protegê-lo. Para as famílias era um tempo de espera e saudades. Para mim, seria uma nova realidade em um curto espaço de tempo. Esse era um dos medos de , que eu me sentisse sozinha por causa da sua ida precoce.

— Me desculpa por te fazer passar por isso. — disse ele num tom baixo — Eu sempre pensei sobre isso, mas nunca me senti preparado para ir, então te conheci e nossa corte começou, fiquei ainda mais inseguro sobre o assunto, mas…
— Não deve se desculpar, eu acho lindo o orgulho que você tem em ir e servir ao seu país. — eu estiquei o braço e segurei em sua mão, entrelaçando nossos dedos — Tenho certeza que não vai ser um tempo fácil, mas que com certeza Deus colocou em você a vontade de ir agora, porque precisava de alguém ao seu lado para te apoiar e orar por você. 

Ele sorriu de leve para mim, seus olhos possuíam um brilho incomum e suave.

— Claro que você teria a ajumma, seu pai e…

Eu fui interrompida por um beijo doce e singelo dele. Retribui na mesma leveza, sentindo sua outra mão tocar minha face.

— Obrigado… — sussurrou ele — Eu te amo, .
— Eu também te amo. — sorri para ele novamente.
— E sobre morar com meus pais… — ele se sentou novamente, mantendo nossos dedos entrelaçados — Se não quiser, podemos alugar um apartamento.
— Eu sou grata pela ajuda deles, mas acho que devemos seguir a risca Gênesis 2:24, e ter a nossa própria casa. — disse minha opinião sobre o assunto.
Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. — completou ele, como o trecho bíblico — Você tem razão, tem um cliente do escritório que mencionou estar alugando o antigo apartamento dos seus pais, talvez posso conversar com ele. O que acha?
— Não custa nada tentar. — o encorajei.
— Vou mandar uma mensagem para ele depois do café. — piscou de leve e voltou o olhar para seu copo de leite — Vamos continuar.

Assenti com a face e também voltei minha atenção para a comida. Como dito, após o café da manhã ele mandou uma mensagem ao tal cliente, que foi muito solícito ao responder de imediato dizendo que seria um prazer mostrar o apartamento para nós dois. Claro que não daríamos mais nenhum passo sobre aquele assunto sem antes apresentar a Deus, e foi o que fizemos. Voltamos para o quarto e ajoelhamos um de frente para o outro, de mãos dadas, começamos a orar. Pedimos direção, condução e provisão para o começo de nossa vida como um casal, assim como sabedoria, paciência e mais amor ainda entre nós dois.

— Em Teu nome oramos Senhor Deus, e entregamos tudo o que temos e que somos, nosso casamento pertence a Ti Jesus, e que tudo esteja em sua total direção. — disse encerrando a oração — Amém!
— Amém!  — disse em concordância, ao abrir os olhos.
— Agora está na direção do Senhor. — disse ele ao se levantar e esticar a mão para mim.
— Sim. — segurei em sua mão e me levantei com sua ajuda — Hum…
— O que foi agora? — ele tentou não demonstrar preocupação.
— Não me olhe assim, só estava pensando que… Nos mudando, vamos ter que colocar muita coisa no lugar. — observei o início das preocupações de uma vida a dois, mordi de leve meu lábio inferior.
— Vamos deixar essa preocupação para quando ela chegar, basta cada dia ao seu próprio mal. — brincou ele.
— Mateus 6:34. — disse a referência bíblica para ele.
— Isso mesmo. — ele se aproximou e me deu um selinho de leve — A única coisa que consigo imaginar, é sendo feliz com você.
— Glória a Deus. — disse ao sorrir para ele.

Eu me afastei um pouco dele e segui para o banheiro. Escovei os dentes e lavei novamente meu rosto, ainda estava com sono. também entrou no banheiro e escovou seus dentes. Logo que terminou, meu marido sem a menor cerimônia retirou a blusa deixando seu abdômen à mostra e ligando aquele chuveiro que eu ainda não tinha me acostumado. Foi difícil controlar minha reação, e quando me peguei totalmente fixada nele, até minha cabeça estava tombada.

— Quer tomar um banho comigo? — ele fez a proposta com um olhar atraente.
— Eu acho… Que... Deveria arrumar a cama… — dei a desculpa ao dar o primeiro passo para sair do banheiro.
— Não deve não. — ele segurou em minha mão e me puxou para ele.

Nem mesmo tive tempo para reagir, quando seus lábios tocaram os meus, de forma doce, envolvente e maliciosa. E o banho? Nem mesmo sei para onde ele foi, em toda aquela concentração e mais descobertas. Demorou um pouco, e ainda tinha uma banheira que facilitou aquela brincadeira. Mas no final, o banho foi realmente tomado.

— Não precisava fazer isso. — eu rir ao senti cócegas com o beijo em meu pescoço, que deu — Eu mesmo posso fazer isso.
— Claro que precisava, eu molhei seu cabelo. — disse ele ao ligar o secador mais uma vez.

Era fofo ele fazendo aquilo, secar meus cabelos e cuidar de mim com tanto carinho. Assim que terminou, peguei uma buchinha de cabelo e o prendi. Então me sentei novamente na cama e fiquei o observando secar o seu cabelo. Ele fez questão de ficar somente com a toalha enrolada na cintura, mostrando seu corpo definido, fingindo estar concentrado e olhando no espelho. Mas eu sabia que seu olhar estava mais no meu reflexo do que no secador em suas mãos. Era divertido e interessante descobrir aquele lado ousado de . Apesar de ficar com vergonha em alguns momentos.

— Pronto, agora terminei. — disse ao desligar o secador e guardar na minha mala.
— Hum… Não está com frio?! — perguntei apontando para a toalha em seu corpo — Essa toalha dele estar molhada.

Eu obviamente já havia trocado de roupa, colocando uma blusa de moletom dele com o símbolo do J-US Ministry, que peguei para mim, pois era muito quentinha e confortável, e um short. Era nítido a mudança de estação, pelos ventos do lado de fora da casa e a brisa do inverno chegando. O país já se preparava para a estação da neve, e eu me preocupava com a saúde dele de certa forma.

— Não, não estou com frio. — ele caminhou até mim com mais um daqueles sorrisos — E se estiver, você pode me aquecer.
… — eu senti meu coração acelerar um pouco com sua aproximação — E o nosso passeio?
— Acho que pode esperar, o que acha? — ele subiu em cima da cama e ficou de joelhos, tocando de leve em minha face — Você quer sair?
— Não… — eu impulsionei meu corpo desta vez e iniciei o beijo de forma doce.

Senti suas mãos tocarem em minha cintura, trazendo meu corpo para mais perto dele. O que me fez arrepiar de leve. investiu mais um pouco deixando o beijo mais intenso, então mais uma vez me desliguei de tudo que acontecia do lado de fora daquele quarto. E misteriosamente, ao olhar de relance para o lado de fora, o tempo estava um pouco nublado com gotas de chuva começando a cair. Mas o que importa se o inverno estava chegando e se havia muito frio e neve pela frente? 

Naquele momento só importava o quão rápida a temperatura do quarto estava se elevando. Com nossos beijos e carícias!

- x - 

— Eu vou ao banheiro, tudo bem? — disse a assim que checamos o horário do nosso embarque.
— Tudo bem, estarei aqui. — disse ele atenciosamente.

Eu me afastei e segui para o banheiro feminino. Por causa do mau tempo, nossa espera iria se prolongar por mais duas horas. Se eu soubesse que teria esse atraso, não teria saído apressadamente da casa dos seus avós. Nossas malas já estavam despachadas dentro do avião, só faltava mesmo poder embarcar. 

Assim que entrei no banheiro, estranhei ter um segurança na porta. Só ao fechar a porta que ouvi um som abafado como de um choro, achei estranho a primeiro momento, mas segui para o reservado. Demorei alguns minutos e assim que saí, me aproximei da bancada da pia. Olhei discretamente para o reflexo da mulher ao lado no espelho, o som do choro vinha dela. Senti meu coração ficar um pouco apertado, e logo me veio uma vontade forte de ajudá-la. Lavei minhas mãos ainda em silêncio, pedindo internamente a Deus para me guiar em minhas palavras.

— Está tudo bem, senhora? — perguntei ao notar a aliança de casamento na sua mão esquerda.

Ela balançou a cabeça positivamente limpando as lágrimas e olhando para seu reflexo no espelho. Movi meu olhar juntamente com ela e percebi algo estranho na região dos seus olhos. Sua maquiagem parecia visivelmente carregada como se quisesse esconder algo. Seu olhar triste se voltou para meu reflexo e mais uma lágrima caiu. Seu coração se apertou ainda mais e mesmo sabendo que não era da cultura coreana abraços principalmente em estranho e coisas assim… Eu lhe abracei da forma mais aconchegante e acolhedora possível. Foi então que ela desabou a chorar ainda mais. Eu realmente não sabia o que dizer a ela, então somente fiz o que eu sabia fazer de melhor, comecei a louvar.

— You call me out upon the waters… The great unknown where feet may fail… And there I find You in the mystery… In oceans deep, my faith will stand… — comecei a cantar Oceans de forma bem suave.

E quanto mais eu avançava na canção, mais ela chorava, até que seu coração foi se acalmando e ela foi ficando mais em paz. Quando terminei a canção, me afastei de leve dela e sorri com gentileza.

— 감사합니다. (kamsahamnida) — disse ela, obrigado, em coreano na linguagem formal.
— Disponha. — respondi também em coreano.

Eu ainda não era muito fluente no idioma, mas já conseguia entender e me comunicar sem tanta luta. Ela enxugou as lágrimas novamente e retocou sua maquiagem. Em poucos minutos, um sorriso superficial e forçado se fez em seu rosto, me deixando assustada e preocupada.

— Gostaria de pedir que não contasse sobre isso a ninguém. — pediu ela mantendo o tom baixo e suave de sua voz.
— Não se preocupe, não contarei. — assegurei a ela.
— Mais uma vez, obrigada, tenho certeza que esse abraço foi Deus que me deu. — aquelas palavras me surpreenderam ainda mais.

Ela era cristã?! A mulher guardou suas coisas dentro da bolsa de mão e se retirou do banheiro. Aquilo me deixou pensativa por um tempo, até que me lembrei do vôo e de . Lavei as mãos novamente e segui para a área de embarque. permanecia sentado em um dos bancos, jogando alguma coisa no celular. Assim que me aproximei, sentei ao seu lado e olhei para a tela do seu celular, porém meus pensamentos continuaram na mulher do banheiro.

— Você demorou. — comentou ele, mantendo a atenção no celular.
— Sim… E você não vai acreditar no que acabou de acontecer naquele banheiro. — disse a ele.
— O que aconteceu? — ele pausou o jogo e me olhou.
 —Tecnicamente eu assegurei que não contaria, mas você é meu marido e biblicamente somos uma só carne, então pra você eu posso contar. — disse a ele já em minha defesa oculta.
— Adorei o seu argumento. — ele riu — Conte então.
— Quando eu entrei no banheiro, ouvi uma pessoa chorando, e se confirmou quando eu saí do reservado, aí fiquei prestando atenção nessa mulher que estava chorando enquanto lavava as minhas mãos. — comecei a contar a ele — Aí, eu perguntei se ela estava bem, ela assentiu que sim, mas voltou a chorar, então eu abracei ela e ela chorou mais ainda, e aí eu comecei a cantar Oceans pra ela se acalmar…
— E ela se acalmou? — perguntou ele com um olhar confuso e curioso.
— Sim, e me agradeceu e pediu para não contar a ninguém. — terminei o relato com precisão — Por isso eu demorei.
— Uau. — ele se mostrou impressionado — Que bom que o Senhor te usou para ajudar ela, mesmo que com um abraço.
— Acredita que foi isso que ela disse? Que Deus me usou naquele abraço. — relatei mais essa parte a ele.
— Sério?
— Isso me deixou pensativa e curiosa. — voltei meu olhar para frente e coincidentemente avistei a mulher do banheiro — É ela.
— Quem?! — olhou para a mesma direção que eu.
— A mulher do banheiro, de sobretudo xadrez burberry, cachecol bege e sapato vermelho. — detalhei precisamente a roupa dela.
— Como você sabe sobre padronagem de xadrez? — me olhou admirado.
— Tenho amigas que fazem design de moda. — brinquei respondendo a verdade — Aprendi algumas coisas com a Jenie e a Yasmin.
— Hum, que legal. — disse ele.
— E você nobre arquiteto, desde quando sabe sobre padronagens de estampas de tecido? — coloquei a mão na cintura curiosa.
— Apesar de ser uma espacialidade dos designers, nós arquitetos em alguns raros momentos também escolhemos padronagens de tecidos para estofados. — respondeu ele com propriedade — Não somos tão alheios assim.
— Ok senhor arquiteto. — brinquei o fazendo rir junto comigo.

Ele voltou seu olhar para frente.

— Ela parece ser uma pessoa importante, tinha um segurança na porta. — comentei voltando ao assunto da mulher.
— Tenho a sensação de já tê-la visto, mas não lembro de onde. — comentou ele.
— Hum…

Nós esperamos com paciência no Senhor, como aconselha Salmos 40, e finalmente nossa hora de embarque chegou. O tempo já estava mais tranquilo e conseguimos seguir novamente para Seoul. Ao chegarmos na casa dos pais de de táxi, ajumma Sora brigou conosco por não termos ligado para que ela nos buscasse. se desculpou alegando que não queria lhe incomodar, o que de fato era uma realidade. Deixamos a conversa sobre morarmos em outro lugar para o dia seguinte. Eu estava totalmente cansada pela viagem e pelos cinco dias muito bem aproveitados em Jeju. Ficamos à vista deles tempo suficiente para fazer um lanche e seguimos para o quarto de . Quarto no qual eu entraria pela primeira vez desde que cheguei no país.

— Seu quarto é tão bonito quanto o de Sunny. — comentei olhando em minha volta — Mais organizado eu admito, muito mais organizado.

Ele riu enquanto colocava as malas nos pés da cama de casal. Voltei meu olhar para as prateleiras na parede da bancada de estudos e vi nossa foto do primeiro “encontro”, na praça da Liberdade. Foi um dia lindo, ambos com vergonha e nervosos pelo passeio. Em outro porta-retratos, uma foto minha com meu violão tocando, parecia a primeira célula em que ele me viu louvar. Me lembrava muito bem daquele dia e daquela roupa que eu vestia. Como ele tinha aquela foto?

— Curiosa sobre como consegui a foto? — perguntou ele ao me abraçar por trás, me aninhando em seus braços.
— Sim, confesso que sim. — admiti. 
— Foi a Sunny quem tirou, quando eu vi no celular dela… — ele riu — Apenas peguei para mim.
— Hum…

Ele beijou de leve meu pescoço e se afastou.

— E esta é a cama. — ele apontou como se fosse um vendedor mostrando um produto maravilhoso — Ajumma Sora comprou ela dois dias depois que eu anunciei nossa corte. 
— Sério? — por essa eu não esperava.
— Sim, desde o início ela dizia que eu me casaria com você. — revelou ele — Ela realmente torceu por nós.
— Que fofa, eu já a considero um exemplo para mim, já adotei como minha mãe. — disse a ele com o coração quentinho por aquilo.
— Ela vai amar saber disso. — ele sorriu e respirou fundo — É a primeira vez que você entra aqui.
— Sim. — concordo.
— Este quarto agora é tão meu quanto seu. — disse ele com firmeza.

se aproximou e segurou em minha mão. Bem suavemente, ele começou a louvar uma canção. Lentamente fechei meus olhos e comecei a agradecer a Deus por tudo.

— Here I am… Down on my knees again… Surrendering all… Surrendering all… — eu me juntei a ele e comecei a cantar também — Find me here… Lord as You draw me near… Desperate for You… Desperate for You...

Acima do nosso amor um pelo outro, estava o nosso amor por Cristo. E nada melhor do que mostrar nosso amor e gratidão a Ele por tudo que vivemos nos últimos dias. Começamos a orar e buscar a presença de Deus, para nossa vida individual e para o nosso casamento. Eu conseguia sentir a intensidade da busca de aumentando de igual com a minha. Lágrimas escorrendo pelo meu rosto demonstravam toda a presença do Espírito Santo que eu sentia dentro de mim, juntamente com minha oração em línguas.

Não somente naquele momento… Mas sempre seríamos um casal totalmente rendido a Jesus.

"Like a mighty storm
Como uma forte tempestade
Stir within my soul
Agite minha alma
Lord have your way
Faz teu querer Senhor
Lord have your way in me
Faz teu querer Senhor, em mim
Like a rushing wind
Como um vendaval
Jesus breathe within
Sopra aqui dentro Jesus
Lord have your way
Faz teu querer Senhor
Lord have your way in me
Faz teu querer Senhor, em mim"
- I Surrender / Hillsong United

Chamada: Em qualquer lugar ou situação, se render a Cristo.


50. Efésios

Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. 
Vistam toda a armadura de Deus [...].
- Efésios 6:10-11

- x - 

Felizmente o dia seguinte era domingo. Isso significava que poderia dormir mais um pouco, já minha noite foi um tanto agitada graças a e sua empolgação. Me espreguicei na cama, apalpando as cobertas e notei que ele não estava do meu lado. Abri os olhos estranhando e o vi sentado na bancada de estudos concentrado na tela do notebook. Senhor, é domingo, e ele estava trabalhando?

— Hum… — me espreguicei um pouco e ergui meu corpo, permanecendo com o olhar para ele.
— Bom dia. — sorriu de canto, mantendo o olhar no notebook.
— Bom dia. — disse ao me levantar da cama e me aproximar dele.
— Não vai dormir mais um pouco? — perguntou ele movendo o olhar para mim — Hoje é domingo, senhora Lee.
— E o que você está fazendo nesse notebook, senhor Lee? — voltei a pergunta para ele.
— Estou respondendo alguns emails da universidade, e marquei com aquele cliente para vermos o apartamento. — respondeu ele — Não estou trabalhando, mas ainda sou um aluno.
— Sim, eu sei, e quando será sua formatura? — perguntei.
— Por causa dos rumores de uma doença vindo da China, eles estão adiando a formatura, mas os diplomas já serão disponibilizados na próxima semana. — respondeu ele demonstrando preocupação.
— Você acha que isso pode ser sério? — também fiquei preocupada.
— Não sei, mas vamos orar para que não seja. — ele se levantou da cadeira — Por garantia, vamos de máscara visitar o apartamento.
— Sim. — assenti — Já estou me acostumando muito a usar isso.
— Vamos após o almoço então. — ele se levantou da cadeira — Vamos tomar café?
— Vai na frente, tenho que trocar de roupa. — disse.
— Por que não posso te ver trocando de roupa? — ele lançou o olhar de cachorro sem dono.

Eu me peguei sem reação a sua pergunta.

— Você pode ficar se quiser. — disse de forma tímida, não sabia mesmo como reagir.

Ele deixou um sorriso de canto disfarçado no rosto e se sentou na cama, me olhando atentamente. Isso me deu um frio na barriga, ficar sendo observada por ele. Me aproximei do guarda-roupa e abri, foi fofo ver todas as minhas roupas ao lado das dele. Meu coração acelerou bastante com isso. Peguei um conjunto de moletom, estava meio frio o quarto, mesmo com o aquecedor do assoalho ligado. Troquei minha roupa e passei o pente no cabelo, o prendendo com uma buchinha. Mantive meu olhar no espelho da porta do guarda-roupa até que o reflexo que apareceu com sua aproximação. Ele me abraçou por trás e sorriu, então beijou meu pescoço.

— Vamos tomar café? — perguntei.
— Vamos. — assentiu ele.

Saímos do quarto de mãos dadas e seguimos até a cozinha. Ajumma Sora nos recebeu com um sorriso meigo no rosto e um olhar curioso. Ela se ponderou nas perguntas sobre nossa primeira noite ali. E relatou que o missionário Han estava na igreja em reunião sobre o caso da doença nomeada por Covid 19, que estava assustando a população chinesa e os países ao seu redor. Parecia bastante sério o assunto. Ajumma me ajudou a preparar o café da manhã pra mim e para , já que ela e meu sogro já tinham comigo e Sunny estava na casa de uma amiga.

As horas se passaram e logo à tarde, nos encontramos com o cliente de . O senhor Kim nos recebeu no apartamento que ficava no bairro Hongdae. Ele parecia ansioso por nossa visita e empolgado por tê-lo contatado. Fiquei um pouco orgulhosa com os elogios que fez sobre o trabalho de , tanto na reforma de seu escritório, quanto no projeto de sua casa na praia. Claro que meu marido havia feito seu trabalho sendo supervisionado por outro profissional já formado, e o projeto de fato não levou sua assinatura por ser ainda um aluno. Mas no final, o que valia era o senhor Kim reconhecer seu empenho nos projetos.

— Eu realmente estou feliz por alugar este apartamento para vocês. — disse ele com um olhar emocionado — Era da minha mãe, eu cresci naquele lugar e fui muito feliz. 
— Esperamos ser feliz lá também. — disse ao segurar em minha mão e me olhar com carinho.
— Mais uma vez agradecemos por tudo. — disse ao senhor Kim, com um olhar grato.

Ele entregou as chaves para e nos cumprimentamos em despedida. Ficamos por um tempo em silêncio naquele lugar. O apartamento estava todo arrumado e limpo, nem parecia estar vazio a tanto tempo, com alguns móveis em bom estado e outros precisando de uma reforma. O senhor Kim havia relutado em vender ou alugar por muito tempo, desde que sua mãe faleceu. Porém, pelo interesse de , resolveu alugar para nós metade do valor de mercado. O melhor contrato de locação que poderíamos sonhar, e o pagamento mensal seria feito diretamente em sua conta. 

Definitivamente tudo isso foi provisão de Deus para nossa vida.

— Vamos orar? — disse ele ao estender a mão para mim.
— Sim, temos que agradecer e consagrar esse lugar ao Senhor. — assenti ao segurar em sua mão.

Ele iniciou a oração e o acompanhei. Passamos um bom tempo orando ali, até que enviou uma mensagem ao seu pai mandando o endereço. Ele já tinha conversado com o missionário e a ajumma pela manhã, antes de eu acordar, explicando nosso ponto de vista em morar com eles. Seu pai concordou e ficou feliz por nosso posicionamento, tanto ele quanto ajumma Sora. Assim que os dois chegaram e entraram, ficaram felizes por nós e emotivos. Afinal, aquele lugar representava que seu filho agora era um adulto com uma família para cuidar.

O missionário Han também orou em conjunto com a ajumma Sora, e nos abençoou para que fôssemos muito felizes naquele apartamento. combinou com ele que levaria alguns móveis de seu quarto, como sua cama e a bancada de estudos. Eles assentiram sem contestar. Nós deixamos o lugar e voltamos para casa deles, a mudança seria feita no dia seguinte. já não tinha mais aulas, a entrega final do seu trabalho de conclusão de curso seria na próxima semana, então ele faria isso com a ajuda do seu pai. Eu ainda permanecia de férias, porém pedi para ficar no meu estágio na parte da manhã durante esse tempo de recesso.

— Hum… — terminei de enviar uma mensagem ao meu pai.

Contei a ele sobre o apartamento, a lua de mel, nosso retorno e a ida de ao exército. Voltei meu olhar para ele que havia retornado do banheiro, somente com a calça do pijama. Que audacioso esse meu marido! Pensei comigo rindo de leve.

— O que foi? — perguntou ele ao parar de secar seu cabelo e me olhar.
— Nada. — fiquei um pouco mais séria, mantendo a suavidade no olhar e me mantive sentada na cama — Você vai fazer a mudança amanhã, mas e seu estágio?
— Vamos trabalhar home-office nas próximas semanas. — explicou ele — Por causa dos rumores na China, ele quer garantir a nossa segurança.
— Isso é bom, eu também recebi um email da biblioteca, ela vai se manter fechada até tudo ser esclarecido, então nós funcionários vamos aproveitar para organizar novamente os livros e conferir a catalogação de tudo. — disse informando o que aconteceria com meu estágio.

Ele colocou a toalha no pendurador e seguiu até a cama.

— Agora sua ida para o exército está me preocupando. — confessei meus sentimentos internos — Se essa doença for mesmo séria? 
— Então vamos continuar confiando em Deus, nossa vida está nas mãos dele. — ele segurou em minha mão e entrelaçou nossos dedos — Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará.
— Salmos 37:5. — assenti dizendo a referência bíblica, abri um sorriso singelo para ele.

se impulsionou e me deu um beijo suave e doce, então sorriu de volta.

— Vamos crer e confiar, os hebreus foram guardados no Egito não foram? — continuou ele com o olhar transbordando fé — E ainda que venha qualquer doença, tudo que acontece é para glória de Deus.
— Amém. — disse, sentindo a confiança voltar para mim.

Ele se achegou mais na cama e encostou as costas na cabeceira. Me aninhei em seus braços, e esperei até que ele puxasse os cobertores nos cobrindo. O corpo de estava quente, em comparação ao meu que parecia uma calota polar de tão gelado. Poderia até dar um choque térmico entre minha mão fria e a sua toda aquecida. Ele ficou brincando com nossos dedos entrelaçados, o que me fez sorrir espontaneamente observando. O lado carinhoso de que eu estava descobrindo, meu deixava encantada e ainda mais agradecida a Deus por tê-lo preparado para mim.

Sua forma de me olhar, seus sorrisos pela manhã, as palavras de perseverança alinhadas às bases bíblicas. Sem deixar de mencionar a forma que ele me beijava com tanta intensidade e desejo, suas carícias e declarações. Pensamentos sobre tudo isso começaram a invadir a minha mente. Recém-casados, e em breve teríamos um grande deserto para enfrentar: a ida de para o exército.

— Você está pensativa… — comentou ele num tom baixo, mas mantendo a firmeza em sua voz que me arrepiava o corpo — Compartilha comigo.
— Estava pensando sobre sua ida para o exército. — disse também mantendo meu tom baixo — Chegamos em dezembro na próxima semana, e em janeiro você se alista.
— Sei que está preocupava, mas descansa no Senhor. — ele começou a acariciar meus cabelos com a outra mão — E eu não vou ficar assim tão ausente…
— Exército, você vai ficar ausente. — argumentei.
— Inicialmente eu iria mesmo para o exército, mas conversando com meu pai, ele me aconselhou a me alistar para o Departamento de Polícia, assim e terei mais abertura para ficar mais próximo, vou poder dormir em casa. — explicou ele com a tranquilidade de sempre  — Assim não te deixo sozinha, nos casamos recentemente.
— Sério? — me remexi e o olhei — Você não vai morar no batalhão?
— Não, no DP nós temos a opção de moradia com a família. — ele sorriu com carinho —  Mas, claro que as 5 semanas de treinamento básico serão realizadas no batalhão em que eu me alistar.

Não me contive em impulsionar meu corpo e beijá-lo com toda doçura que possuía. Estava feliz em saber que teria essa opção e eu não ficaria de fato longe do meu marido. Logo seus braços me envolveram trazendo meu corpo mais para perto e me aninhei novamente em seu corpo quentinho.

— Está feliz? — perguntou ele.
— Estou mais aliviada. — confessei — Ainda mais com essa coisa de Covid 19, você servindo, a China é aqui do lado.
— Tomarei cuidado. — assegurou ele, ao respirar fundo — E você? Ansiosa para o segundo módulo do seu curso?
— Um pouco, estou feliz por ter finalizado com notas altas e bom desempenho. — disse a ele.
— Que orgulho da minha esposa. — disse ele voltando a segurar minha mão e entrelaçar nossos dedos — Sinto que sua pronúncia está melhorando muito, mais alguns meses e vai parecer uma nativa.
— Glória a Deus, aleluia! — disse empolgada — Saber disso me motiva mais ainda… Hum...
— O que? 
— Você não me contou em detalhes como sua conversa com seu pai e a ajumma, só que eles aceitaram sem problema. — disse mantendo meu olhar em nossas mãos unidas.
— Bem, a ajumma ficou com aquele olhar triste dela, mas no final entendeu que precisamos ter nossa vida separado deles, e também nossa intimidade. — senti uma entonação maior na última palavra — O importante é que temos a benção deles e dos seus pais também.
— Sim, a Mônica achou muito bom nosso posicionamento quanto a isso. — comentei.
— Meu pai também gostou, de certa forma. — ele riu baixo.
— E como vai ficar seu estágio enquanto estiver servindo? — perguntei curiosa.

De acordo com os princípios bíblicos de um casamento, era o sacerdote e a função de se preocupar com contas, conforto, segurança e em como manteria nossa família era dele, minha função como auxiliadora era de ajudá-lo a encontrar as melhores soluções para nossos problemas e orar para que Deus lhe dê sabedoria. Então, não iria me preocupar com isso, mas não deixaria de ficar curiosa.

— Eu já conversei com meu chefe, meu contrato de estágio encerra no final do mês, mas quando retornar do exército, serei efetivado no escritório. — respondeu ele.
— Sério?! 
— Sim. — confirmou — E comentei com ele sobre você fazer o curso de design de interiores.
— Eu ainda não tenho certeza que vou querer fazer mais específico. — argumentei — Ainda estou orando por isso.
— Pelo sim, pelo não, melhor profetizar. — brincou ele.
— Você gostaria de trabalhar com sua esposa? — perguntei curiosa.
— Seria interessante, mas teria que me controlar. — um toque de malícia soou dele.
— Sei. — eu ri.
— Mas voltando a nossa situação financeira… — continuou ele — Eu vou receber um salário simbólico do governo que vai ajudar a cobrir nossos gastos, e também tenho uma grana no banco guardada para isso, antes mesmo da nossa corte eu já tinha começado a guardar dinheiro para morar sozinho, então eu só ajustei meu propósito, não serei mais sozinho agora. 

Ele apoiou o queixo na minha cabeça, e voltou a brincar com nossos dedos.

— Somos só nós dois, por enquanto. — disse meio instigante.
— Hum… — ele brincou.
— Mas só daqui alguns anos. — eu me remexi novamente e o olhei — Nada de filhos com menos de três anos de casados, quero tempo pra namorar com você.
— Calma moça. — ele riu de mim e acariciou minha face — Somos jovens ainda, temos tempo pela frente se Jesus não voltar antes.
— Que bom que pensa assim. — ri junto — Eu te amo.
— Eu também te amo. 

Ele sorriu com carinho e impulsionando seu corpo me beijou com doçura e intensidade. Meu corpo que no início estava frio se aqueceu de imediato, ao ser envolvido dos seus braços e beijos. O coração acelerado e agora totalmente grato a Deus por saber que mesmo sendo um momento delicado sua ida para o exército, ele não estaria tão longe assim como eu imaginava.

--

— Senhor Jesus, estamos aqui diante do Senhor, e te apresento a vida do meu marido, um servo do Senhor que neste momento está há algumas horas do seu alistamento. — disse ao iniciar minha oração consagrando sua ida para o serviço militar — Te tua graça o alcance todos os dias em que ele estiver servindo a este país, que tua misericórdia o mantenha protegido e guardado a todo momento, e que a porção dobrada e a armadura de Efésios 6 do Senhor venha sobre ele, para que sua fé não seja abalada pelas lutas que ele enfrentará… Graças te damos por tudo que tens feito e por tudo que és em nossas vidas… Em teu nome eu oro, amém!
— Amém! — disse ele em concordância e me deu um selinho rápido — Obrigado, me sinto mais seguro agora.
— O dever de uma boa esposa é orar por seu marido. — disse ao sorrir para ele.

O mês de dezembro tinha passado tão rápido que nem sentimos o natal e ano novo. Com o caos instalado mundialmente por causa do Covid 19, o país passava por uma batalha contra um inimigo novo e a busca por uma vacina. Instalado uma rígida quarentena em todo o país. Notícias de mortes ao redor do mundo e meu coração aflito por minha família no Brasil. A onda do vírus ainda não tinha chegado lá e só havia pequenos rumores de suspeitas, mas ao presenciar tudo o que acontecia na Coréia, já me preocupava com as pessoas em meu país natal. Querendo ou não, brasileiro não era um povo tão aplicado e disciplinado como os coreanos, por isso, minha oração estava sendo dobrada.

Quando me dei conta já era o dia do alistamento de . Na minha pouca esperança, imaginei que eles pudessem adiar o alistamento, mas seguiu conforme o cronograma. Me despedi dele na porta do nosso apartamento, pois não podia acompanhá-lo devido a restrição de saída. Porém, onde o físico não vai, o espiritual vai e eu estaria com ele em oração o tempo todo. 

Após um beijo, não de despedida, mas de encorajamento, ele saiu e seguiu para seu propósito.

"You know before I do
Tu sabes antes que eu saiba
Where my heart can seek to find Your truth
Onde meu coração pode encontrar Sua verdade
Your mercy is the shade I’m living in
Sua misericórdia é a sombra em que estou morando
You restore my faith and hope again
Tu restaura minha fé e espera novamente
[...]
You are the Defender of my heart.
Tu és o Defensor do meu coração."
- Defender / Jesus Culture

Chamado: Se revestir da armadura de Deus, para as batalhas da vida.



51. Filipenses

“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”.
- Filipenses 4:7

- x - 

Primeira noite sem . Internamente eu estava angustiada e nervosa, principalmente pelas notícias divulgadas sobre o Covid 19. Meu marido passaria por 5 semanas de treino pesado, sem poder ter contato com ninguém da família. Agora com a quarentena, seriam as 5 semanas mais solitárias para mim. E por mais que o convite dos meus sogros sempre estaria ativo para ficar esses dias com eles. Aquele apartamento já havia se tornado tão aconchegante para mim, um lar abençoado por Deus. Verifiquei se a porta estava trancada devidamente, apaguei as luzes e fui para o quarto. Me aproximei da cama e ajoelhei, senti a primeira lágrima se formar no canto dos meus olhos.

— Senhor Jesus… — eu fiquei em silêncio por um tempo, não sabia como expressar o que estava sentindo, então suavemente comecei a louvar — Aquieta minh'alma… Faz meu coração ouvir tua voz… Me chama pra perto… Só assim eu não me sinto só…

Aos poucos fui falando com Deus todas as minhas preocupações e angústias, reafirmando que minha vida e minha família pertencia a Ele. As lágrimas foram escorrendo, principalmente quando orei ao Senhor em favor da vida e da saúde de . Ele trabalhando como um servidor da polícia e não diretamente no exército, estaria na linha de frente tanto quanto os médicos que se empenhavam nos hospitais. Pensar que algo pudesse lhe acontecer, mesmo não estando na zona de risco e tendo uma boa saúde, não queria pensar nisso. 

Somente ter a certeza de que Deus sempre estaria no controle de tudo. 

Haja o que houver.

Após quase duas horas diretas orando e pedindo forças a Deus. Senti uma paz inexplicável tomar conta de mim, deixando meu coração até o momento apertado, bem mais leve e sereno quanto ao que pudesse acontecer nas próximas semanas. 

Tudo que acontecesse, aconteceria para glória de Cristo Jesus!

Me levantei e voltei para o guarda-roupa. Troquei de roupa colocando o pijama e me deitei logo em seguida. Não estava com sono, mesmo precisando dormir. Peguei o celular  e abri a última mensagem de . “Eu te amo” Ler isso me fez sorrir de leve. De repente, uma mensagem de Davi apareceu nas notificações, então abri.

Davi: paz mana
como está aí?
a gente tem visto altas notícias alarmantes
: tá tudo bem, em partes
o país já está de quarentena
foi se alistar hoje e já iniciou as 5 semanas de treino
e aí no Brasil?
Davi: a gente tá levando né
já em alerta, porque tem umas pessoas com suspeitas
internadas no Eduardo de Menezes
: e meu pai?
e a igreja?
Davi: até agora tá tudo normal com os cultos
seu pai está bem e todo mundo lá também
: amém 
glória a Deus
Davi: mas e o ?
como vai ficar essa lance do exército
: bom
depois das 5 semanas, 
tem mais ou menos uns 21 meses de serviço
Davi: isso tudo?
: sim
e por mais que ele não fique no exército e sirva na polícia, 
ainda assim é pesado. 
Davi: fica em paz irmã
já deu certo
: amém
é isso mesmo que estou pedindo
a paz de Cristo que excede todo entendimento humano.
Davi: isso é bom
ah
e você vai ficar onde nesse tempo?
com seus sogros?
: segundo o
ele poderia dormir em casa
eu espero que sim mesmo
Davi: mas se não?
: não sei
mas creio que vou continuar aqui
eu acho fofo o carinho e apoio dos meus sogros
mas agora que provei da privacidade maravilhosa que é ter minha própria casa
Davi: não quer trocar isso né 
kkkkkkkkkk
: e também não quero invadir a privacidade deles de novo
Davi: você está certa que querer ficar
mas ficar sozinha?
: eu ainda estou estudando aqui,
terei muita coisa pra ocupar meu dia
e estou com um projeto legal também
Davi: hum….
e o que seria?
: por enquanto as aulas na universidade estão paradas
vou continuar estudando em casa o que aprendi e aperfeiçoando
minha cunhada vai me ajudar
Davi: isso é legal
: pois é
e a sua varoa Jenie
me dei uma ideia bem legal
Davi: qual?
fiquei curioso agora
: ela disse que eu poderia criar um canal do youtube 
falando sobre minha experiência na Coreia e tudo mais
mas algo diferenciado das youtubers que já existem
e o principal, com uma visão cristã em seu conteúdo
Davi: minha varoa?
te deu essa ideia?
#chocado
: sim
achei legal pra tipo passar o tempo né
vou ficar muito tempo sozinha e em casa
Davi: eu nem imagino como vai ser 
se no Brasil a gente ficar de quarentena
: do jeito que brasileiro é
não quero nem ver
Davi: mana tenho que ir,
meu estágio me chama
: ah
e como ficou a treta da mudança de prédio na escola de design?
Davi: não ficou né
ainda falta o habite-se dos bombeiros
: eita
e agora?
Davi: não sei,
sem previsão certa de aula
tudo parado
pelo menos o estágio tá caminhando
: isso é bom
está se preparando para o futuro?
Davi: e a varoa já não deu o chamado 
dizendo que não vai ser a e esperar 3 anos
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
: que absurdo me usarem de exemplo 
kkkkkk
Davi: mas é um exemplo bom, 
pode acreditar
: sei
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Olhei para o relógio do celular, já marcava uma da manhã. Me despedi do meu amigo e me aconcheguei entre as cobertas que me aqueciam no final do inverno coreano. Chamei Jesus para se deitar ao meu lado e dormir comigo, e fazer o mesmo ao lado de . Graças a Deus, minha noite de sono foi tranquila e dormi bem. Logo pela manhã, me espreguicei ao erguer meu corpo e bocejei um pouco. Olhei para a cortina na janela, um pequeno raio de sol entrava. Me levantei e caminhei até o banheiro, lavei o rosto e fiquei olhando minha cara de sono no espelho.

— Bom dia Espírito Santo, bom dia Senhor Jesus, bom dia Deus appa! — disse ao sorrir de leve para meu reflexo.

Abri os braços e me abracei por um tempo. Após sair do banheiro, segui para cozinha e logo veio o primeiro choque de realidade. não estava ali preparando o nosso café da manhã. Abri o armário e peguei um pacote de biscoito, a primeira surpresa do meu marido foi um bilhete pregado no pacote.

“Se alimente bem!” 

— Que fofo. — disse ao ler com um sorriso largo no rosto — Você também!

Tomei meu café da manhã e voltei para o quarto. De acordo com o cronograma experimental que testaria hoje, a parte da manhã dividiria meu dia em arrumar a casa e estudar um pouco de hangul. Já na parte da tarde, após a pausa do almoço, eu iria focar no planejamento do projeto do canal do youtube. Eu não sabia o que faria, mas sei que Deus me daria a direção certa para tudo sobre isso. E o melhor, consegui perceber que também seria uma forma de levar a palavra de Deus de forma sutil as pessoas.

As horas passaram rápido. Quando me dei conta já era final da tarde e meu celular no silencioso já tinha várias ligações dos meus sogros e mensagens do meu pai. Porém, a única que fez meu coração acelerar foi a de , dizendo: Já estou com saudades. 

Eu posso dizer o mesmo que ele neste momento.

Sentada no chão, em meio aos meus papeis de rascunho e anotações, planner e notebook ligado. Olhei para a tela do notebook novamente e pausei a video aula, me levantei e fui para o banheiro tomar um banho para relaxar a tensão que fico nos meus ombros. Após água quente e relaxante, coloquei o pijama e segui para a cozinha. Comecei a preparar meu jantar, seria um simples e fácil lámen que achei no armário com outro bilhete de . Notei que em cada embalagem ele havia deixado um pequeno bilhete com uma mensagem para mim. 

Me pergunto quando ele fez isso. Quando eu estava dormindo? E será que fez isso para eu não sentir tanta saudade assim? Se foi, achei super fofo!!! Queria poder fazer… Hum… E uma ideia sim me passou pela cabeça. Faria o mesmo por ele e lhe escreveria todos os dias, até o final do seu serviço. Escrever cartas de amor e apoio de próprio punho, é um costume muito forte na Coréia, mesmo com tanta tecnologia. Uma boa ideia vindo direto do Senhor! E como eu faria para entregar? tinha algumas folgas já programadas e feriados também, então escreveria antecipadamente enumerando as cartas e o faria prometer que não leria tudo de uma vez e respeitaria a ordem.

— Vou me divertir muito escrevendo para ele. — disse a mim mesma, ao olhar para o bloco de folhas coloridas em cima da mesa de centro, já pensando nos detalhes.

Definitivamente, eu estava tranquila e em paz quanto aos próximos dias. 

Pois Deus continuaria no controle de tudo.

"Tu me dá a paz que excede todo entendimento humano
E quando eu planejo me mostras que é bem melhor o seu plano
Com misericórdia me cobres derramando graça em mim
Eu desconheço um outro amor assim."
- Que Amor É Esse (Espontâneo) / Luma Elpidio

Chamada: Descansar em Deus



52. Colossenses

Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.
- Colossenses 3:23-24

- x - 

Já se contava uma semana de treinamento, e eu estava descobrindo novos bilhetes de espalhados pela casa. Dentro dos casacos, da minha mochila, bolsas, sapatos. Aquilo estava se tornando uma caça ao tesouro que me divertia e me motivava a escrever mais cartas a ele. Eu já havia escrito cartas que dariam para as cinco semanas de treino, com uma ajudinha do meu sogro e benção de Deus, elas chegaram perfeitamente às mãos do soldado .

Que amor é esse? Graça incalculável… Não tem interesse, não quer nada em troca… Tua vontade é boa, perfeita e agradável… Para mim… Para mim… — comecei a louvar enquanto preparava meu almoço — Quero conhecer-te, ouvir teus segredos… Não importa o preço eu me lanço por inteiro… Sei que nos seus braços existe um espaço para mim, para mim… Para mim…

Meus afazeres da manhã tinham sido finalizados com sucesso, e agora voltaria para as vídeo aulas sobre edição de vídeo, gravação e outras coisas essenciais para saber. Davi tinha se oferecido para me ajudar nesse início e tinha uma câmera profissional guardada. Seria ela mesma que usaria para fazer meus vídeos. Claro que com a pandemia e tudo que estava acontecendo seria complicado chamar atenção das pessoas com passeios pela cidade, dentre outras coisas… Porém, Sunny me deu várias outras ideias que eu poderia usar para deixar o canal interessante sem sair da visão cristã que eu queria transparecer.

Eu ainda não descobri cem por cento qual o meu chamado. Uma busca que continuo desde que me mudei para Belo Horizonte. Porém, tudo que eu faço, sei que devo ter a consciência de que faço para o Senhor Jesus, então me dedicarei ao máximo, pois de toda a forma, também fará parte do meu ministério. Fazer tudo com ordem e decência, como alerta Paulo em I Coríntios 14:40. 

— Obrigada Senhor Deus por mais essa refeição. — disse ao me sentar na cadeira e agradecer pelo alimento — Que a cada dia sua provisão não nos falta, continue abençoando meu marido e lhe fortalecendo a cada dia. Amém!

Mesmo longe, não deixou de se preocupar com a responsabilidade da casa. Pela manhã, um entregador havia levado mantimentos para mim. Todas as embalagens plastificadas e com um bilhetinho dele, dentro do plástico. Eram as compras do mês, para que eu não precisasse sair de casa. Meados de fevereiro e havia uma forte restrição de saída de casa. Somente em casos emergenciais mesmo. Recebi também uma carta de cinco páginas sua, dizendo o quanto estava com saudade, o quanto minhas cartas o ajudaram a superar a primeira semana de treinamento, e o quanto estava orando para que Deus guardasse nossa vida e nosso casamento nessa distância.

Eu te amo também. — disse em voz alta ao me lembrar do poema que ele escreveu na carta — Obrigada Deus, pela vida do meu marido.

Voltei a comer e assim que terminei o almoço, ajeitei a cozinha lavando as vasilhas sujas. Esperei alguns minutos para iniciar minha agenda da tarde. Senti meu corpo mole e uma preguiça sem explicação, mas pedi ao Espírito Santo força e foco para continuar a fazer o que precisava. Troquei algumas mensagens com Davi sobre o canal, e ele ficou de fazer algumas vinhetas para mim. Meu amigo parecia mais empolgado em poder me ajudar, do que eu mesma com o projeto.

Fiz mais algumas anotações e minha planilha de assuntos semanais abordados. Reorganizando meu planner com todos os meus afazeres e tarefas. Isso me levou a montar até um bullet journal com caderno costurado a mão que aprendi a fazer com Sunny. O que ajudaria ainda mais a me organizar e não esquecer de nada. 

--

As semanas se passaram e vi a formatura de por uma transmissão de vídeo privada aos membros das famílias dos soldados. Somente o missionário Han pode ir, isso por ser o pai de e não ser da zona de risco. Fiquei tão emocionada ao ver meu marido com aquela farda linda que o deixou ainda mais atraente. Me deu até um arrepio no corpo quando ele tirou uma foto e me enviou. Pela primeira vez em 5 semanas ele teve a autorização de pegar o celular de volta. Ok que o cabelo estava curto, e eu achei estranho, por estar acostumada com seu cabelo grande como dos cantores de kpop. Mas ainda assim, meu marido continuou lindo e interessante.

. — disse sua voz firme e estremecedora do outro lado da ligação.
. — meu coração acelerou.

Eu que estava de pé perto da janela, me sentei na poltrona ao lado. Senti até a pressão cair um pouco.

— Tudo bem? — sua voz ficou preocupada — Você ficou em silêncio.
— Acho que foi a emoção. — confessei a ele — Meu coração até acelerou.
— Hum… Sinto sua falta, mas suas cartas me aquecem todas as noites quando leio. — confessou ele num tom mais suave.
— Seus bilhetes também. — disse sorrindo boba — Estou amando minha pequena caça ao tesouro, cada um em um lugar diferente do apartamento.
— Que bom que gostou. — ele tossiu um pouco.
— Está tudo bem? — perguntei já me preocupando.
— Sim, estou bem, minha saúde está bem. — assentiu ele — Estou em segurança.
— Que bom, ficou mais aliviada. — soltei um suspiro, relaxando um pouco meu corpo na poltrona — Eu vi sua formatura pela transmissão, queria ter estado aí com você.
— Eu também, mas sei que suas orações me alcançaram durante todo esse tempo. — disse ele — Obrigado.
— É uma honra para mim orar pela vida do meu esposo. — disse com firmeza.
— Como está seu canal? — perguntou.
— Nos preparativos finais para ir ao ar. — respondi, levantei os pés abraçando de leve minhas pernas — Davi está me ajudando muito e Sunny também, ela disse que quer ser da minha equipe técnica.
— Sério? A Sunny? Tem certeza? — ele riu baixo.
— Sim, tenho, minha cunhada linda, disse que agora seu sonho era trabalhar com cinema ou produção de tv. — revelei a ele.
— Sunny? Que sempre teve ambições de ser famosa? Entrar para uma agência como SM Entertainment? Essa não é a minha irmã. — ele desacreditou.
— Vai saber, Deus está trabalhando nela. — a defendi de leve.
— E como vai ser seu canal?! — ele parecia bem interessado — Se quiser, posso te ajudar também.
— Por enquanto, se concentre em dar o seu melhor no serviço militar, como se estivesse fazendo para Deus. — aconselhei ele.
— Colossenses 3:23-24, eu sei, farei sim, vou trabalhar duro e dar o meu melhor. — assegurou ele, lembrando a referência bíblica do meu conselho.
— Que bom, e quanto ao meu canal, eu vou falar sobre coisas do cotidiano da cultura coreana, porém com uma pitada da visão cristã. — expliquei a ele — A ajumma Sora também disse que me ajudaria.
— Seria legal se você fizesse um quadro de covers. — sugeriu ele — Sua voz é linda, seria um diferencial você cantar em coreano, além de ajudar a treinar a pronúncia das palavras.
— Não tinha pensado nisso. — admiti.
— Pode começar com músicas do J-US Ministry que gosta. — continuou ele — E será uma forma de evangelizar também, pode fazer análises de músicas do kpop sob o olhar cristão, ver o que a letra fala com você, segundo as escrituras, como você fez com várias músicas gospel brasileiras.
— E dá pra fazer com as de kpop normal? — aquilo me chocou.
— Claro que dá, tudo em nossa vida deve ser analisado de acordo com as escrituras. — respondeu ele com tranquilidade e segurança — A Bíblia é nosso manual de sobrevivência nesse mundo.
— Isso eu concordo.

Nós rimos um pouco.

— Que saudade do seu sorriso. — disse sentindo o coração apertar um pouco.
— Não posso ficar muito tempo mexendo uma vez no celular, vou trabalhar bastante no departamento de registros onde me colocaram inicialmente. — explicou ele suas tarefas iniciais — Mas, prometo mandar duas fotos por dia e espero minhas cartas. 
— Eu já escrevi as próximas. — garanti — Quando vou poder te ver? Vai voltar hoje para casa?
— Então… Precisamos conversar sobre isso. — seu tom ficou mais sério.
— Lee , não me assusta. — disse falando seu sobrenome primeiro, da forma de costume da cultura coreana.
— Meus superiores decidiram que por conta dos muitos casos, não vamos poder voltar para casa nesses primeiros meses, então ficaremos em um alojamento do exército que o 31º Batalhão cedeu para o Departamento de Polícia. — continuou ele mantendo a voz série, porém suave para que eu não me preocupasse tanto.
— Então eu não vou te ver. — constatei após aquela notícia.
— Não por enquanto, para garantir a sua segurança. — disse ele, conseguia sentir sua tristeza na mesma intensidade da minha — Você entende, não é.
— Sim, entendo sim. — respirei fundo e olhei para o céu pela janela, uma lágrima desceu sem pedir permissão.

Aquilo mostrava que seria bem mais pesado do que eu imaginava. Tudo isso por consequência do Covid 19 que estava se tornando uma pandemia, deixando o país inteiro em alerta e parado. E na China, onde tudo originou, estava na mesma situação, se não pior.

— Podemos combinar de fazer vídeo chamada, todas as noites? — propôs ele.
— Claro que sim, como antes do casamento. — o lembrei da nossa experiência passada.
— Sim. — afirmou.
— Escolha o horário e eu estarei acordada te esperando. — garanti a ele com firmeza.
— Vamos orar juntos então? — perguntou.
— Sempre. — confiante.

Eu estava chateada? Sim. Frustrada? Muito. Mas teria que ser forte, para que também permanecesse forte. E sabia que não passaríamos sozinhos pela luta da distância, Deus está conosco e não vai nos desamparar. Respirei fundo, ouvindo as poucas palavras de oração de , concordando com tudo o que dizia e agradecendo por chegarmos bem até o momento.

— Amém! — disse assim que ele terminou a oração.
— Então, sem previsão para ter meu esposo no dia dos namorados? — fiz uma certa manha — Dia 14 de fevereiro é daqui uma semana e meu aniversário está próximo também.

A esperança é a última que morre.

— Eu realmente não sei… Não posso te prometer. — disse ele.
— Tudo bem, então.

Ele precisou desligar, então nos despedimos rapidamente. Feliz por ter ouvido sua voz e abalada por não poder tê-lo em casa pelo menos à noite. Inconformada eu estava. E levaria toda a minha frustração aos pés de Cristo e apresentaria ao único que poderia ajudar e resolver essa situação. Deixei o celular na poltrona e segui para o quarto. Ajoelhei aos pés da nossa casa e comecei a orar. As lágrimas apareceram juntas na mesma ora. 

Antes de eu falar… Tu cantavas sobre mim… Tu tens sido tão, tão bom pra mim
Antes de eu respirar… Sopraste Tua vida em mim… Tu tens sido tão, tão bom pra mim… — mesmo com toda a minha tristeza e revolta, eu jamais deixaria de agradecer a Deus por tudo que estava fazendo, pois Ele sempre seria bom para mim, meu bom pai — Oh, impressionante, infinito… E ousado amor de Deus… Oh, que deixa as noventa e nove… Só pra me encontrar… Não posso comprá-lo, nem merecê-lo… Mesmo assim se entregou… Oh, impressionante, infinito… E ousado amor de Deus!

Mesmo chateada, minha gratidão pelo cuidado de Jesus com era enorme. E no meio de toda a minha oração, pedia ao Espírito Santo que habita nele como habita em mim, cuidar de sua saúde e seu corpo, em todo o momento. 

Nos dias que passaram, tentei seguir minha rotina diária o mais leve possível. Mudando a ordem de execução das coisas ao máximo, para não me sentir entediada. Na sexta à tarde, gravei o primeiro vídeo do canal. Me peguei mais do que nervosa e tive que gravar a parte de apresentação três vezes por ter gaguejando. Confesso que sempre tive essa timidez com a qual lutava sempre contra, principalmente quando subia no altar com o ministério de louvor. Mas depois que expliquei o propósito do canal, de mostrar minha vivência no país de forma leve e descontraída com a palavra de Deus, o vídeo seguiu mais fluido.

Assim que terminei de gravar e assistir para ver como ficou, enviei ao Davi. Esperei até ele confirmar o recebimento. Como estava de folga, e sem aulas na Escola de Design até segunda ordem, daria prioridade a edição do meu vídeo. Recolhi todos os papeis que tinha espalhado pela sala durante o processo, deixei o notebook ligado em cima da mesa de centro e fui para a cozinha preparar algo para comer. E o lámen foi campeão novamente. Mais fácil de fazer, praticidade é tudo quando se está sozinho e não quer cozinhar. Segui para o banho logo após de comer, demorei um pouco para aproveitar e lavar o cabelo. Quando voltei para sala, me sentei no sofá e liguei a televisão.

Só tinha que esperar Davi terminar sua parte do trabalho. Sunny já tinha montado o canal para mim e me explicado toda funcionalidade. Ela também ficaria responsável por legendar em hangul e inglês meus vídeos. Então, enviei para ela também, para já ir fazendo as legendas para inserir depois de upar o vídeo. Entrei no aplicativo da Netflix e finalmente comecei a maratona de Grey's Anatomy, indicada pela Lira. Eu já tinha visto uns episódios picados, mas sempre desistindo pelo tanto de temporada. Porém, desta vez seguiria à risca. Apesar de não esperar nada do nível da série House e The Good Doctor, mas se conseguisse chegar a trilogia Chicago Med, Fire e PD, já estava no lucro.

Logo no final da noite, meu amigo/irmão me enviou o vídeo editado. Eu logo upei o arquivo e deixei salvo o rascunho para Sunny editar a legenda e enviar. Mandei uma mensagem a ela informando o vídeo, e esperei até que fizesse sua parte. Antes da meia noite, ela enviou e já estava disponível para visualização. Segundo ela, o lado bom de ter duas legendas é o maior alcance público, e eu esperava que estivesse certa sobre isso. Abri a página do canal e olhei para o banner com a arte feita por Davi, ele tinha mesmo talento para gráfico.

Princess in Korea. — sussurrei ao ler o nome do canal escolhido por Sunny.

Segundo minha cunhada, tinha que ser algo relacionado comigo e com o seu país, e como meu apelido era Princess. Fazia sentido.

--

Passar o dias dos namorados sozinha foi complicado, mas quando chegou no meu aniversário… A solidão bateu tão forte que chorei quase o dia todo. E por mais que tentasse ficar bem, tudo parecia ser motivo para as lágrimas caírem. Nem a vídeo chamada com meu pai funcionou positivamente, mesmo ainda a de . Depois, os próximos dias foram se arrastando ainda mais. As notícias mais tensas de graves, a cada dia dizendo que mais pessoas da polícia davam sinais da doença. Até no Brasil já se iniciaram rumores de quarentena. Precisava manter a fé de que tudo ficaria bem no final.

— Obrigado Senhor, o banho estava bom. — disse ao colocar o roupão de banho e me olhar no espelho.

Dei um sorriso para mim mesma e pisquei de leve.

— Que linda eu sou. — após semanas pra baixo, curiosamente aquele dia minha autoestima estava elevada — A imagem e semelhança do Senhor Jesus!!! Te amo Espírito Santo!

Sorri novamente e ao soltar meus cabelos, dei uma ajeitada e segui para sala para ver se tinha guardado o resto do espaguete que comi no almoço. Não me lembrava de ter feito isso. Quando cheguei na sala, meu corpo gelou. Ver meu esposo de pé, ao lado da porta fechada, segurando um bouquet de rosas vermelhas, fez meu coração quase parar. Eu estava vendo direito mesmo? Ou era uma visão?

? Está tudo bem?! — perguntou ele fazendo uma cara confusa.

Eu tomei impulso e corri até ele o abraçando.

. — sussurrei, me agarrando ao seu pescoço.

Eu não ia soltar mais.

— Ei, calma, vai amassar as flores. — brincou ele.
— Quem liga pra flores, você está aqui. — disse ao olhá-lo — Você está aqui de verdade?
— Claro que estou. — ele sorriu de forma fofa — Feliz 100 dias de casado. 

Nem consegui dizer mais nada, ele largou as flores e envolveu seus braços em minha cintura me trazendo para mais perto. Seu beijo doce e intenso veio logo em seguida para matar toda a saudade que se acumulou nas últimas semanas. Esta em seus braços, sentir seu carinho e tocá-lo deixou-me aquecida internamente, em uma noite de primavera que seria mais do que especial para nós dois. E que nos uniria mais uma vez, com a benção e ajuda de Deus. E mais uma vez estava grata pelo cuidado do Senhor comigo e com minha família.

— Fique tranquila que fiz todo procedimento de higienização antes de entrar em nossa casa. — assegurou ele, assim que me aninhei ao seu corpo em nossa cama — E também fiz meu teste semanal ontem, deu negativo.
— Fico aliviada por isso. — disse ao tocar em sua mão e entrelaçar nossos dedos.
— Bem, eu sabia que você não iria esperar eu tomar banho e… — ele segurou o riso — Acho que nem eu esperaria.

Nós rimos.

— Depois de tanto tempo, até aceito convite para tomar banho. — brinquei.
— Hum… Adoro tomar banho com você. — ele encostou de leve seu queixo no alto da minha cabeça.
— Como te deixaram vir? — perguntei curiosa.
— Contei ao meu superior sobre nós, quando ele viu a aliança no meu dedo. — respondeu ele — Então, ele me deixou trabalhar no setor mais isolado para ficar distante do fluxo de pessoas na DP, ele disse que minha folga de hoje é seu presente atrasado de casamento.
— Mande meus agradecimentos a ele. — disse erguendo meu corpo e o olhando — Quer dizer que vai voltar amanhã?
— Hum… Eu teria que voltar à noite, então, posso voltar depois de amanhã, mas de manhã. — respondeu.
— Então, acho que precisamos aproveitar ao máximo nosso aniversário de 100 dias. — disse ao abrir um largo sorriso.
— É o que eu mais quero. — ele impulsionou seu corpo e me beijou novamente com um toque de malícia.

Eu estava maravilhada com aquele presente. 

Sabia que no fundo, não era do superior de , mas veio diretamente de Deus para nossas vidas.

"You're rich in love and you're slow to anger
Tu és rico em amor e tardio em irar-se
Your name is great and your heart is kind
Seu nome é grande e seu coração é gentil
For all your goodness, I will keep on singing
Por toda a sua bondade, eu vou continuar cantando
Ten thousand reasons for my heart to find
Dez mil razões para o meu coração encontrar."
- 10,000 Reasons / Jesus Culture

Chamada: Tudo o que dizer, faça para a glória do Senhor Jesus.



53. I Tessalonicenses

Deem graças em todas as circunstâncias, 
Pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.
- I Tessalonicenses 5:18

- x - 

No dia seguinte ao acordar, me espreguicei de leve na cama, sentindo falta de alguém ao meu lado. Abri os olhos e notei que já havia se levantado. Céus, ainda eram sete da manhã. Por que ele tinha que se levantar tão cedo? Bocejei de leve e ergui meu corpo. Peguei meu celular na mesinha da cabeceira e olhei o visor. Tinha algumas mensagens do meu pai, Davi, Lira, Mônica e outras pessoas da igreja no Brasil. Abri a conversa do meu pai para saber as novidades. Eu permanecia preocupada com eles, por causa da pandemia que se alastrava pelo mundo.

Chef Papai: bom dia querida, 
tudo bem por aí?
Princess: bom dia pai
está tudo bem por aqui
para glória de Deus
na medida do possível

Ele demorou alguns instantes para visualizar e me responder.

Chef Papai: ufa
isso é bom
tenho andado muito preocupado com a senhorita
Princess: senhora papai
agora sou uma mulher casada
kkkkkkkkkkkkkk
Chef Papai: ah verdade, senhora Lee
kkkkkkk
Princess: mas está tudo tranquilo por aqui, 
apesar dos novos casos
todos estão cumprindo a quarentena a risca
e o número de mortes tem baixado significativamente
Chef Papai: sinto mais tranquilidade ao saber disso
aqui as coisas começaram a fechar também
vamos ter que fechar a igreja na próxima semana
meu coração tem andado angustiado por causa disso
Princess: imagino
depois da luta que tivemos para abrir e consolidar os membros
Chef Papai: meu coração doeu quando li o decreto
só consegui pensar nas células
nos anfitriões
nos membros
Princess: pai
mantenha seu coração firme no Senhor e permaneça na fé
vai dar tudo certo
Deus é conosco e o controle jamais sai de suas mãos.
Chef Papai: sim minha querida
e falando nisso
como está o serviço militar do ?
Princess: devido a quarentena, 
ele está ficando em um alojamento próprio para a polícia
assim diminui o nível de contaminação aos civis
e isso me preocupa um pouco
semana passada três policiais foram afastados com suspeitas
e mesmo que não fique exposto, 
ainda assim tem um risco
Chef Papai: estamos em oração por vocês daqui
e orem por nós aqui também
Princess: com certeza
e o está aqui hoje
Chef Papai: liberaram ele?
Princess: folga premuim pelo aniversário
de 100 dias de casada
kkkkkk
presente do superior dele
Chef Papai: que legal
100 dias já
passa rápido mesmo
Princess: sim
passa muito rápido

Comecei a pensar em algumas coisas que pudessem ajudar a igreja no Brasil.

Princess: pai, acho que tive uma ideia
Chef Papai: qual?
Princess: porque não transmite os cultos online?
Chef Papai: online?
Princess: sim
desta forma as pessoas não se afastam 
completamente da comunhão com a igreja
pelo menos até tudo isso passar
Chef Papai: interessante
vou falar isso com a equipe
teremos discipulado urgente na próxima sexta 
para alinhar todos os pontos dessa pandemia
vou repassar o fechamento para a igreja 
no culto de domingo
Princess: vai dar certo pai
Chef Papai: vou te adicionar no grupo da liderança de novo
assim você pode ir acompanhando as notícias
tudo bem?
Princess: tudo bem
assim que falar com o Davi, 
pede ele pra falar comigo
estou tendo umas ideias legais
pra manter a chama do povo acesa
Chef Papai: obrigado querida
mesmo distante ainda nos ajuda
Princess: é um prazer fazer a obra do Senhor
para mim é privilégio para poucos
Chef Papai: muitos são chamados, 
mas poucos os escolhidos
Princess: Mateus 22:14
kkkkkkkkkkkkkkkk

Me despedi do meu pai, dizendo que iria tomar café na companhia do meu marido, e segui me levantei da cama, deixando o celular na mesinha  novamente. Me espreguicei novamente e olhei para meu corpo, não tinha nenhuma vontade de tirar o pijama do corpo. Segui para a cozinha e logo vi em frente ao fogão preparando nosso café da manhã. Como eu estava sentindo falta daquela cena, e do cheiro gostoso que seu café da manhã me proporcionava pela manhã. Me aproximei dele e o abracei por trás, apoiando minha face em seu braço direito, espionando o que fazia no fogão.

— Bom dia, flor do dia. — disse ele com serenidade, e dando um sorriso tímid.
— Por que acordou tão cedo? — perguntei.
— Quero aproveitar o máximo de tempo com a minha esposa. — respondeu ele — Mas você poderia ter dormido mais um pouco, estragou a minha surpresa de levar o café na cama.
— Desculpa. — falei num tom triste e baixo.

Ele desligou a trempe do fogão e virou para mim com um sorriso meigo. Envolvendo seus braços em minha cintura, me beijou com suavidade e doçura.

— Não tem problema. — ele manteve o sorriso no rosto — O que importa é que estamos juntos.
— Obrigado pelo café. — abrindo um largo sorriso para ele.
— O prazer é tudo meu preparar o café da minha esposa. — ele me beijou novamente, depois se afastou para colocar o prato de panquecas na mesa.

Me sentei na cadeira e fiquei observando ele terminar de preparar o nosso café. Panquecas com geléia de morango, cappuccino de chocolate, suco de laranja e cookies. Meu café da manhã favorito preparado por ele.

— Como está sendo sua divisão com todas essas regras e decretos? — perguntei a ele enquanto saboreava minha panqueca.
— Tentamos não ficar apreensivos e temerosos pela doença, mas as coisas ficaram tensas depois das suspeitas na semana passada. — respondeu ele mantendo o olhar em seu prato — A cada dia eu fico ainda mais grato a Deus por ter me alistado para a polícia e não o exército como queria inicialmente.
— Tem tido casos piores no exército? — indaguei.
— Eles estão na linha de frente com os médicos, fazendo a segurança dos hospitais e o controle de entrada e saída do país nos aeroportos e portos do país. — explicou ele — Apesar da polícia continuar com seu trabalho mantendo a ordem na cidade e assegurando o cumprimento da quarentena.
— Imagino que não esteja sendo fácil mesmo, Lira me mandou uma mensagem dizendo que seu estágio na pediatria foi antecipado por causa mesmo da pandemia, ela tem auxiliado muitos médico da Santa Casa. — contei a ele — Mas e agora com a diminuição dos casos, como vai ficar?
— Eu não sei, mas acho que esta quarentena vai se prolongar mais um pouco, principalmente agora que muitos casos se levantaram nos Estados Unidos. — respondeu ao me olhar — Todos estão preocupados com a economia do país, mas a saúde e a segurança do povo vem em primeiro lugar.
— Isso é bom, fico feliz com essa preocupação que o governo coreano tem com a população. — disse ao terminar meu café e me levantar da cadeira — Eu arrumo a cozinha.
— Não. — ele se levantou junto e pegando em minha mão, me puxou para perto — As vasilhas estão aí todos os dias, eu não. 
… — eu me peguei admirada com suas palavras.
— Hoje, você é minha, com a permissão de Deus. — ele sorriu com um pouco de malícia.

Logo seus lábios tocaram os meus com mais desejo. Eu realmente consegui sentir o quanto queria aproveitar aquele tempo comigo, sendo recíproco de minha parte. Nossa entrega um ao outro era na mesma proporção de doçura e intensidade. E como ansiamos para que as horas demorassem a passar. Eu realmente não queria me desgrudar dele nem por um instante. 

— Eu te amo! — sussurrei a ele, aninhada ao seu corpo no chão da sala em meio às almofadas.

Desta vez, não tínhamos conseguido chegar ao quarto, e a sugestão de de espalhar as almofadas no piso aquecido do apartamento foi até confortável. Ele estava brincando com os dedos da minha mão esquerda, tocando de leve na aliança em meu dedo. Um silêncio acolhedor que me permitia ouvir seus batimentos cardíacos ainda acelerados, pareciam sinfonia aos meus ouvidos.

— Eu também te amo. — sussurrou ele de volta.
— Não queria que hoje terminasse. — confessei a ele — Não tão rápido.
— Ainda teremos muitos momentos juntos. — ele entrelaçou os nossos dedos — Que tal um filme? Você escolhe.
— Hum… Que tal uma maratona de Haikyuu? — sugeri.
— Você quer ver anime? — ele se remexeu e me olhou — Desde quando prefere animes a filme?
— Podemos ver a viagem de Chihiro então… Não, vamos ver Mulan. — disse me escolhendo — Já tem tempos que não vejo um clássico da Disney.
— Ahhh, que tal uma maratona de clássicos Disney? — sugeriu ele ao beijar meu pescoço, me fazendo cócegas.
— Sim. — concordei rindo de leve — Maratona Disney.

Ele foi até a sala e pegou o notebook. Retornando para o quarto, se deitou novamente ao meu lado e ligou o aparelho. Antes de começar a ver o primeiro filme escolhido, fechou os olhos e aos poucos, começou a cantar um louvor em gratidão a Jesus, por aquele momento e por tudo que estávamos passando. Mesmo em momentos de caos, a certeza de que tudo era para glória de Deus, era real em nossos corações.

"我全心呼求你聖
Eu invoco o Seu Santo Nome de todo o meu coração
我的眼單單仰望
Meus olhos só olham para Ti
大海翻
Mar agitado
我卻安息你懷
Eu descanso em paz em seus braços
你屬我而我屬
Porque eu sou Teu, e Tu és meu."
- 恩典之洋 [Oceans (Where Feet May Fail)] / 演唱璽恩 [Sien Vanessa]

Chamada: Sempre dar graças a Deus.



54. II Tessalonicenses

Quanto a vocês, irmãos, nunca se cansem de fazer o bem.
- II Tessalonicenses 3:13

- x - 

Eu adormeci em seus braços no segundo filme que ele colocou. E olha que eu amo ver O rei Leão, mas não teve jeito e o sono me pegou em cheio. Acordei pela madrugada ao ouvir a voz de , abri os olhos de leve e mesmo com a visão um pouco embaçada pelo sono, pude ver meu marido de joelhos nos pés da cama orando. De olhos fechados e as lágrimas escorrendo por seu rosto. A única frase que consegui distinguir, foi: “Senhor Jesus, por favor, proteja a minha esposa e o meu casamento.” Me peguei emocionada ao ouvir. Me virei para o canto e mesmo em silêncio externamente, em minha mente também comecei a orar, até que adormeci novamente.

?! — acordei na manhã seguinte rolando na cama, sentindo-a vazia.

Abri os olhos e ergui meu corpo. Avistei na porta do guarda-roupas um bilhete. Soltei um suspiro frustrado, já imaginando que ele havia ido embora sem se despedir de mim. Queria vê-lo antes de voltar para a DP. Me levantei da cama e segui até o móvel, ao pegar o bilhete, um sorriso espontâneo apareceu em meu rosto.

— Não me contive em acordar cedo e vê-la dormir, você sorri enquanto dorme e isso aquece meu coração, eu te amo e voltarei em breve, já estou com saudades. — disse ao ler em voz alta — Do seu amor, .

Agora o meu coração se aqueceu. Senti algumas lágrimas se formando no canto dos meus olhos. Guardei o bilhete dele, mas antes coloquei a data e o horário que encontrei como fiz com os outros que já tinha encontrado. Segui para a cozinha, já imaginando que teria uma montanha de louça suja, porém me deparei com a casa toda arrumada e a cozinha mais do que organizada. havia mudado alguns móveis de lugar. Ao me aproximar da geladeira encontrei outro bilhete dele.

— Não resisti em deixar tudo limpo para você, afinal foi eu quem sujou. — eu ri do desenho de uma carinha triste — Você é muito bobo .

Guardei esse bilhete no bolso do short do pijama, com a esperança de encontrar mais um bilhete. Dito e feito, encontrei o terceiro bilhete dentro da geladeira com o meu café da manhã preparado.

— Você é um encanto . — sussurrei ao retirar o prato de panquecas e ir colocar no microondas.

Tomei meu café da manhã e voltei para o quarto. Após um dia sem rotina, tinha que retornar aos velhos hábitos para preencher meu dia. Troquei de roupa e iniciei com meus estudos para treinar a escrita e a pronúncia do hangul. As semanas foram passando, sexta ao final da tarde fiz uma vídeo chamada com os líderes da juventude da igreja no Brasil. Estava com tanta saudade deles e tinha muitas ideias para compartilhar sobre o canal da igreja.

— Bom dia gente. — disse assim que liguei, a sala do meets já estava cheia.
!!! — Yara soltou um grito, que eu tive que baixar o volume.
— Oi Yara. — eu ri dela.
— Finalmente nossa líder está de volta. — disse Isla animada — Estávamos com saudades.
— Eu também estava, e quero novidades. — confessei a eles.
— Nos casamos! — disse Isla levantando a mão esquerda e mostrando a aliança em seu dedo.

Pietro estava ao seu lado e fez o mesmo, ambos com um sorriso largo no rosto e muita felicidades em volta.

— Finalmente. — brincou Davi rindo.
— Parabéns! — disse ao sorrir para eles — Queria poder ter visto.
— Sentimos sua ausência aqui. — assegurou Pietro.
— O meu é no final do ano. — anunciou Madu — O Pablo achou melhor a gente esperar.
— E onde está o ? — perguntou Yasmin.
— No serviço militar, por conta da pandemia ele tem morado na instalação improvisada para os policiais. — respondi a ela.
— E como ele é de farda? — perguntou Layla, causando um certo ciúmes em Charles que estava ao seu lado na câmera.
— Não entendo o propósito dessa pergunta? — Charles a olhou sério.

Nós rimos dos dois.

— Então gente, estamos aqui para um assunto sério. — disse Layla num tom mais firme — Ontem eu, Charles e Davi tivemos uma reunião online para discutir sobre o canal a igreja com a transmissão dos cultos e ele disse que a tinha algumas ideias para passar pra gente.
— De volta a equipe. — disse Yara empolgada.
— Sim. — confirmei.

Layla começou a repassar todas as novidades que ocorreram ao longo do tempo em que estava na Coréia. Mais duas células de jovens foram abertas no final de novembro e a equipe de liderança geral da igreja já contava com 120 pessoas, com 500 membros agora. Nossa igreja havia se multiplicado bem. Porém, com a pandemia chegando ao Brasil e quarentena sendo decretada, a preocupação em não deixar os membros dispersos e vulneráveis e abandonar a fé. Os cultos online estavam sendo uma benção, mas precisava movimentar mais a igreja, mesmo que utilizando os recursos tecnológicos. 

— Assim, temos o Instagram da igreja, a Yara tem alimentado as postagem com as artes que fiz e ensinei ela a editar. — disse Davi — E o canal no youtube.
— Acho que está bom manter os dois, pelo que vejo, o Instagram tem se tornado muito popular. — comentei ao olhar para minhas anotações da agente — E o tik tok também, percebi um aumento significativo de usuários brasileiros nele.
— Como sabe disso? — perguntou Layla.
— Minha cunhada me ajudou a fazer a pesquisa. — expliquei.
— Uau, isso que é proatividade. — brincou Yasmin.
— Sim. — eu ri.
— Ok, vamos continuar fazendo as postagens e posso ficar a cargo do tik tok também, já tenho o meu. — disse Yara.
— Eu acho que o canal deveria ser mais movimentado também, não somente os cultos nele, mas pra atrair mais pessoas além dos membros, poderia ter alguns quadros com postagens semanais. — sugeri a eles minhas ideias — Por exemplo, escolhe um dia da semana e posta o versículo do dia com uma explicação em cima dele, quadros de aconselhamentos para os jovens nessa pandemia, tipo todo sábado um vídeo de louvor cover ministrado pelo pessoal do louvor.
— Eu gostei do cover, principalmente se você mandar daí pra gente. — disse Madu, segurando o riso.
— Ata, e você, a Yasmin e o Benjamim não podem fazer isso né? Como foi dito, mas duas pessoas entraram no vocal louvor. — argumentei com ela.
— Mas estamos com saudade da sua voz. — resmungou Yasmin.
— Assistam meus vídeos no meu canal. — ri de leve.
— Verdade, a moça está de youtuber também. — brincou Layla.
— Eu vi os vídeos que já postou e amei conhecer mais a cultura coreana, principalmente essa parte cristã que a maioria dos canais não falam. — comentou Madu — Ou melhor, praticamente todos não falam dessa parte. 
— Minha mãe e a Karla viram o vídeo sobre as igrejas coreanas, elas ficaram admiradas por saber sobre a fé deles. — comentou Yara — Minha mãe achava até que o país fosse todo ateu.
— Bem, tem ateu, tem budista, católico, cristão, é meio que misturado que nem o Brasil, mas uma coisa impressionante é que a maior igreja cristã do mundo está aqui na Coréia do Sul. — afirmei minhas descobertas.
— Sim. — confirmou Layla — eu estou fazendo o seminário pastoral com o Charles e nós estudamos sobre essa igreja, ficamos admirados da disciplina deles e dedicação com a obra.
— Eu ainda não tive o prazer de visitar ela, mas me confirmou que tem mesmo uma faixa na frente dizendo que os membros não podem fazer jejum direto por mais de quarenta dias, por questões de saúde. — relatei a eles — Já ouvi casos relacionados a isso, então…
— Uau. — Madu estava com um olhar admirado.
— Yara, Mia, Pietro e Charles podem me ajudar a organizar a agenda de postagens e vídeos do canal, podemos começar na terça próxima semana. — disse Davi — Como eu estou responsável por isso.
— Eu só continuo ajudando se rolar um quadro sobre moda cristã. — disse Yara — Já estou pensando em várias coisas.
— Imagina, um especial moda Sarah Shiva. — comentou Madu v Ela se veste como uma princesa mesmo.
— Sim. — concordou Isla — Queria ter esse dom todo pra me vestir, mas o all star não sai do meu pé e a calça jeans rasgada não me abandona.
— Eu conheço uma pessoa que se casou de all star. — disse Layla em risos — Não é ?

Todos riram.

— Gente, eu me senti tão confortável com ele, que não abri mão dessa segurança de não tropeçar no caminho ao altar. — disse em minha defesa.

Continuamos nossa reunião por mais uma hora. Enfim, estava tudo resolvido e por dentro me sentia totalmente empolgada e feliz por poder ajudá-los mesmo que distante. Eu estava mesmo sentindo falta de contribuir com o Reino, fazer algo para a obra de Deus. Por mais que a rotina da igreja fosse puxada nos meus anos em Belo Horizonte, eu me senti útil. Assim que encerramos a vídeo chamada, abaixei a aba do notebook e caminhei para o banheiro. Tomei um banho refrescante, as noites da primavera também eram um pouco quentes. Coloquei outro pijama de tecido mais leve e segui para a cozinha. Preparei um lámen para mim e voltei para sala. Liguei a televisão e passei o resto da noite vendo Grey's Anatomy e saboreando meu jantar.

--

Dia 5 de maio se comemora o dia da criança na Coréia, um feriado nacional destinado a celebrar a vida das crianças do país. Por isso, decidi gravar um vídeo contando sobre a história desse feriado, porém de uma forma diferente e mais interativa. Por isso, aceitei o convite dos meus sogros e fui passar alguns dias na casa deles. Pela primeira vez contei com uma convidada no vídeo que seria a minha cunhada e seus relatos de histórias da infância sobre o feriado.

— Estou tão feliz que esteja aqui conosco. — disse Sunny ao sentar na cama do quarto de que era meu também.

Meus sogros haviam comprado outra cama de casal para deixar ali, esperando nos receber como hóspedes e também nossos filhos no futuro. O quarto continuava tão organizado quanto na época que morava ali. Foi estranho deixar nosso apartamento fechado. Mas estava feliz por me reunir com eles, assim não passaria tanto tempo sozinha.

— Eu também, foi complicado ficar todo esse tempo sozinha lá no apartamento. — confessei a ela — Tentei ocupar minha mente com algumas tarefas, lendo mais a Bíblia, porém não foi fácil.
— Imagino, eu aqui com minha mãe estou em surtos. — ela soltou um suspiro fraco — Ainda mais com meus doramas parados pela quarentena, estou vendo os mais antigos.
— Hum… Você é mesmo muito hiperativa para ficar tanto tempo em casa. — ri de leve de sua cara de tristeza.
— Como está indo seu projeto carta ao soldado? — perguntou ela curiosa.
— Está indo bem. — deixei as cartas desse mês na nossa caixa de correio do apartamento, assim ele vai poder pegar.
sabe que está aqui? — ela me olhou intrigada.
— Sim, fizemos uma vídeo chamada ontem à noite e contei a ele que viria para sua cada. — respondi a ela desviando meu olhar para o celular em minha mão — Ele ficou feliz por saber que não ficarei sozinha nas próximas semanas.
— Ahh… Bem, conhecendo o meu irmão como conheço, ele deve ter fazer alguma surpresa no aniversário de 200 dias. — comentou ela com uma carinha sapeca.
— Estou contando com isso. — eu me movi até ela e observei a revista que folheava em suas mãos.

Assim que Sunny virou a página, reconheci um rosto estampado na revista, era a mulher do banheiro do aeroporto de Jeju. Eu não havia me esquecido dela, e sempre que podia, orava por sua vida. Percorri meu olhar pela matéria que falava sobre ela, parecia uma pessoa importante.

— Quem é ela Sunny? — perguntei curiosa.
— Esta mulher aqui? — minha cunhada apontou para ela.
— Sim. 
— Seu nome é Kim Sooyoung, uma ex modelo muito prestigiada no ramo da moda, já fez participação em alguns doramas, porém atualmente as pessoas só se lembram dela por ter feito um casamento milionário por causa dos seus pais. — explicou minha cunhada, ela tinha muito conhecimento dessas pessoas famosas — Dizem os netizens que os pais dela fizeram muita pressão psicológica nela para que aceitasse se casar com um chaebol da indústria de alimentos.
Chaebol? — a olhei tentando me lembrar o que significava.
— Sim, dizem que ela se casou com o herdeiro da Jong Kimchi Group, um forte conglomerado de alimentos do país. — continuou Sunny movendo seu olhar para a revista novamente — Mas uma pena que isso não lhe traga felicidade, já vi muitos comentários em fóruns do Naver sobre ela apanhar do marido e ainda ser traída, mas claro que ninguém dá nome às pessoas, mas contam os fatos e é fácil ligar as coisas.
— E isso é realmente verdade? — perguntei preocupada.
— Se é, eu não sei, mas tenho pena dela. — disse Sunny ao se levantar da minha cama — 
Mas por que o interesse?
— Eu esbarrei com ela no banheiro do aeroporto de Jeju, na volta da lua de mel. — respondi de forma objetiva.
— Vou colocar minhas revistas no quarto e ver a reprise do Music Bank.

Assenti a observando sair. Vagamente me lembrei do dia em que a conheci no banheiro, a forma como chorava e sua maquiagem pesada que certamente escondia as marcas de agressão em seu rosto. Meu coração se apertou ao saber disso sobre sua vida. Nenhuma mulher deveria passar por uma situação dessas, fomos feitas para ser protegidas e amadas. 

Não maltratadas.

— Senhor, proteja essa mulher onde quer que esteja. — sussurrei ao guardar o celular em meu bolso — Que o abraço que eu dei, possa continuar sendo renovado todos os dias pelo Senhor, Espírito Santo.

Saí do quarto e segui para a cozinha. Minha sogra estava preparando o jantar. Me aproximei dela e ofereci minha ajuda. Ajumma Sora sorriu com graça e aceitou minha ajuda. Foi divertido estar ali com ela me contando histórias de quando se casou com o missionário Han e se esforçou bastante para conquistar a confiança de

"Sublime graça, doce o som que salva o pecador
Fui cego e agora posso ver
Perdido e me encontrou."
- Vasos Quebrados / Marine Friesen

Chamada: Manter o coração bondoso.

Dicionário:
Netizens: O termo netizen é uma palavra-valise das palavras "Internet" e "citizen" como "cidadão da rede" ou "cidadão da internet". Descreve uma pessoa ativamente envolvida em comunidades online ou na Internet em geral.
Chaebol: É o termo coreano que define um conglomerado de empresas em torno de uma empresa-mãe, normalmente controladas por famílias, tais como Samsung, Hyundai e LG. Genericamente os herdeiros desses conglomerados são chamados assim.



55. I Timóteo

Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, 
negou a fé e é pior que um descrente.
- I Timóteo 5:8

- x - 

As semanas foram passando. E aos poucos a grande onda de contração do Covid-19 foi diminuindo e a quarentena sendo substituída por uma restrição de distanciamento. Claro que ainda tinha restrições também, e somente poderia vir para casa em datas comemorativas e feriados. Contudo, só o fato das mortes baixarem e das pessoas se recuperarem nos hospitais de campanha, deixava a todos com esperanças. No Brasil as notícias ainda eram alarmantes, mas estava feliz e grata a Deus pela reabertura das igrejas e todos estarem bem e seguindo as normas de distanciamento. Não à risca claro, mas pelo menos mantinham o hábito de usar as máscaras e o álcool em gel.

querida. — ajumma Sora me chamou de seu quarto.
— Sim. — disse ao aparecer na porta — Deseja algo? 

Estávamos sozinhas em casa. O missionário Han compareceu em uma reunião de pastores da igreja J-US Worship, em que visitei algumas vezes antes da pandemia. Eu já estava me preparando para congregar nela, quando a quarentena começou. Agora seguia vendo os cultos online, mantendo minha rotina de leitura da palavra e devocional. Minha busca por mais intimidade com Deus continuava e agora, com o reforço de um jejum que iniciei semana passada. E sim, meu jejum tem sido com o foco total na conquista por mais intimidade com o Espírito Santo.

— Minha querida, liguei para o Han, não estou me sentindo bem. — disse ela com a voz mais baixa.
— Sim, mas o que está sentindo? — me aproximei dela e coloquei a mão em sua testa, estava queimando de febre — Ajumma, a senhora está com febre.
— Meu corpo está dolorido e não estou sentindo meu paladar. — reclamou ela.
— Vou ligar para o sogro, precisamos ir ao médico agora. — disse a ela, pegando meu celular do bolso e procurando o número dele nos contatos.

Assim que meu sogro atendeu, expliquei o que acontecia. Ele me orientou no que deveria fazer e disse que nos encontraria no hospital. Fiz exatamente o que ele disse. Sunny chegou da loja de conveniência no momento em que eu ajudava ajumma a caminhar até o táxi que chamei pelo aplicativo. Expliquei a minha cunhada o que tinha acontecido e pedi para ficar em casa e alerta, caso ligasse. Segui para o hospital. Não demorou muito até que ajumma fosse atendida e eu permaneci na recepção em um espaço mais afastado. 

Assim que meu sogro chegou, pediu informações e o médico lhe atendeu. As suspeitas de que ajumma estava com Covid-19 eram altas, e tinha duas alternativas. Ou ela seria internada para tratamento hospitalar, ou seria cuidada em casa sendo medicada pela família e fazendo repouso absoluto. O senhor Han não conseguiu se decidir, sua preocupação estava em sua esposa ficando ali sozinha sem a família ao lado.

— Sogro, eu cuidarei dela, sei que precisa resolver muitos assuntos na igreja, e não está sozinho, eu cuidarei da minha sogra e Sunny estará comigo também. — assegurei a ele com firmeza.

E sim, eu considerava ajumma minha sogra há muito tempo.

— Eu te agradeço muita filha. — seus olhos se encheram de lágrimas emocionadas — Consigo sentir o carinho que sente por ela, saiba que é recíproco.
— Eu sei. — sorri de leve, porém ele não pode ver devido a máscara.

Ele conversou com o médico responsável e após a enfermeira me passar todas as instruções. Memorizei tudo e anotei com cuidados os horários dos medicamentos. Voltamos para casa com ajumma sendo amparada pelo marido. Eles seguiram para o quarto, enquanto eu caminhei para o banheiro. Precisava tomar um banho e trocar de roupa, agora seria cuidado dobrado. 

Me sentei na cadeira e abri meu planner. Reformulei completamente meu cronograma, pois agora eu teria que dividir os afazeres da casa e o preparo das refeições com Sunny. Valia a pena me esforçar mais para cuidar da ajumma Sora. E foi o que fiz, nas duas semanas de tratamento que seguiram.

— Sunny, acho melhor somente eu manter contato com ela além do seu pai. — disse pensando na segurança de ambas — Você é a pessoa que mais está saindo de casa para ir ao supermercado.
— Tudo bem, eu só não quero que minha mãe se sinta sozinha, unnie. — explicou ela.
— Ela não vai, fique tranquila, estamos aqui por ela. — assegurei dando um sorriso singelo.
— Então, eu posso ficar com a casa e você faz as refeições, eu sou péssima na cozinha. — alegou Sunny com um olhar melindroso.
— Tudo bem, eu só não sou tão boa assim em culinária coreana. — brinquei, fazendo-a rir.
— Eu tenho certeza que você vai se sair bem. — ela piscou de leve e sorriu para mim — Ah, eu tenho um caderno de receitas que estava montando, mas acabei desistindo dele.
— Pode ajudar. — disse a ela.
— Vou buscar então. — Sunny saiu correndo até seu quarto, enquanto permaneci na cozinha olhando para as sacolas que ela trouxe do supermercado.

Eu realmente não sabia muita coisa de culinária coreana. Se caso algo desse errado, eu apelaria para o youtube como o meu pai. Assim que minha cunhada voltou com o caderno na mão, o peguei e dei uma folheada. Tinha as receitas mais tradicionais do país, com o passo a passo do modo de preparo, principalmente do famoso Kimchi. 

— Pode ficar com ele. — disse ela — Vai fazer mais uso do que eu.

Eu ri dela.

— Desistiu de aprender? 

Perguntei a ela, ao parar na página que ensina a fazer Bulgogi, a carne cortada em fatias finas marinada em um molho doce à base de soja e grelhada com pimenta, cebola e brotos de feijão. Era um dos pratos que ajumma gostava de fazer, porém não era tão fácil assim. Li a receita três vezes e na quarta, fui cozinhando simultaneamente. Meu bulgogi de primeira viagem foi acompanhado por arroz e alface. Preparei um prato e coloquei na bandeja para levar até ajumma.

— Ajumma, seu almoço. — disse ao entrar no seu quarto e seguir até a cama.
— Não estou com fome. — disse ela mantendo o tom baixo.
— Ah, eu fiz tão especial só para a senhora. — fiz uma cara de triste — Meu primeiro bulgogi, vai mesmo fazer essa desfeita?
— Ah querida. — ela sorriu para mim, com um olhar de mãe orgulhosa — Você tem sido uma benção na minha vida, estou grata a Deus por estar aqui, cuidando de mim.
— É uma honra para mim poder cuidar da senhora. — mantive o sorriso singelo no rosto.
— Meu pequeno realmente encontrou uma boa esposa. — ela ergueu seu corpo e assim eu coloquei a bandeja no seu colo — Obrigado pela comida.
— Disponha. — mantive o olhar atento nela — Segundo a Sunny, eu passei no teste.

Ela soltou uma risada baixa e pegando o hashi, experimentou de leve. Meu coração ficou ansioso para saber se ela tinha gostado, porém ajumma comeu tudo o que tinha no prato sem dizer uma só palavra.

— Ajumma, não disse nada, estava ruim? Não precisa dizer que gosto só para e agradar. — disse a ela.
— Estava uma delícia minha querida. — ela sorriu para mim, mantendo o olhar acolhedor — Suas mãos são abençoadas.

Meu coração se encheu de alegria por aquilo. Me senti grata a Deus pela vida dela, por sua recuperação estar sendo tranquila e por poder ajudar. Cuidar da ajumma me transmitia paz e felicidade. Sentia realmente que estava cuidando de uma mãe que Deus havia me presenteado.

— Você poderia cantar um pouco? — pediu ela após colocar a bandeja na mesinha de cabeceira — me disse que sua voz é linda.
— Claro que posso ajumma. — assenti, começando a escolher mentalmente a música — Prefere acapella ao posso pegar o violão do missionário?
— Com o violão é mais legal. — disse ela.

Assenti e correndo no escritório do meu sogro, peguei o violão ao lado da estante de livros. Voltando ao quarto, puxei a cadeira e apoiei o instrumento no meu colo. Após afiná-lo, comecei a dedilhar com suavidade. Fazer isso para ela, me lembrou das vezes que cantei algum louvor para meu pai em seus dias de tristeza e angústia. Eu sempre me recorria para os louvores em dias de tempestade. E como está escrito em Salmos 22:3, o Senhor é Santo, entronizado sobre os louvores de Israel. Nada como um louvor para nos aproximar ainda mais de Deus.

Amazing grace... How sweet the sound… That saved a wretch like me… — minha voz foi saindo com suavidade, e logo senti meus olhos fechados como sempre acontecia — I once was lost… But now I'm found… Was blind but now I see… Oh, I can see it now… Oh, I can see the love in Your eyes… Laying yourself down… Raising up the broken to life…

Em minutos senti uma gostosa sensação de paz. Sabia lá no fundo que era a presença de Deus tomando todo o lugar. Abri meus olhos rapidamente e notei que ajumma estava orando, com lágrimas se formando no canto dos olhos. Voltei a fechar meus olhos e continuei a louvar.

Aquele momento havia sido separado para nós duas. E me sentia grata a Deus por isso, por poder cuidar dela.

"Amazing grace,
Graça maravilhosa,
How sweet the sound,
Quão doce é o som,
That saved a wretch like me.
Que salvou um miserável como eu.”
- Amazing Grace (Broken Vessels) / Hillsong United

Chamada: Nosso primeiro ministério é a família.



56. II Timóteo

Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé.
- II Timóteo 4:7

- x - 

Finalmente o natal de 2020 se aproximava. Após passar por grandes preocupações e incertezas ao longo do ano. Dezembro já se preparava para encerrar e dar lugar a um novo ano. Na Coreia o comércio seguia com suas restrições e atenção dobrada quando a segunda onda do vírus foi anunciada na Europa. O que mais me deixava admirada era a disciplina de todos quanto aos cuidados recomendados pelo governo. 

Eu fiquei triste por não ter comemorado os 200 e 300 dias de casamento. Entretanto, a surpresa que preparou para nosso aniversário de 1 ano de casados foi linda e singela. Claro que ele não pode estar presente. Meu marido também havia sido isolado com suspeitas e ficou 15 dias longe de todos em nosso apartamento, enquanto permanecia na casa dos seus pais. Eu queria ter ficado com ele, cuidado dele, mas me fez prometer não arriscar minha saúde. Eu já tinha cuidado de ajumma, o que o deixou muito grato e feliz.

Na véspera de natal, participei de uma vídeo chamada com meu pai, Mônica, Lira, Joseph e o pequeno Samuel. Foi tão emocionante, é bom vê-los bem e felizes com o final do ano. Senti a animação e esperança para boas novas no próximo ano. Segundo meu pai, 2021 seria um renovo para a igreja. Após o jantar preparado por ajumma Sora, recebi uma mensagem de , dizendo para ir ao nosso apartamento para pegar meu presente. Eu não entendi o motivo dele me pedir para ir naquele momento. Mas fiz exatamente o que pediu e fui sozinha de táxi.

— Onde será que ele colocou? — disse ao entrar no apartamento e fechar a porta, trancando-a.

Ao me virar para dentro, me deparei com tudo apagado e todo o ambiente iluminado com pequenas luzes de led formando um caminho até o quarto. Neste caminho, pétalas de rosas espalhadas no chão. Meu coração acelerou de imediato, ansiando vê-lo ao chegar naquele quarto. Lentamente, pedindo a Deus para ele estar ali, segui até a porta. Me deparei com um bilhete pregado.

— Peça a Deus o seu maior desejo e veja-o realizá-lo. — sussurrei ao ler — Jesus, por favor.

Senti um pouco mais de ansiedade ao girar a maçaneta e abrir. Meus olhos lacrimejaram ao ver de costas para a porta e observando o que se passava do lado de fora da janela. O quarto totalmente decorado com vários corações espalhados na parede. Havia um varal de fotos nossas na parede da cabeceira da cama, sendo iluminados pelas pequenas luzes de led. Nem mesmo esperei que ele virasse para mim, fechei a porta e corri, abraçando-o por trás.

. — sussurrei, envolvendo meus braços em sua cintura.
— Feliz natal. — disse ele ao colocar suas mãos por cima das minhas — Estou feliz por ter vindo.
— Mesmo que não estivesse aqui, eu viria. — disse com segurança — Mas estou feliz que meu presente seja você.
. — ele se virou para mim e sorriu — Você também é o meu presente. Me perdoe por não ter vindo em nosso primeiro aniversário.
— 100 dias, este foi o nosso primeiro aniversário— sorri de leve para ele — E você está aqui agora, é o que importa.
— Teremos mais um ano para enfrentar o serviço militar— disse ele com um olhar preocupado.
— Deus é conosco e tudo vai dar certo. — eu impulsionei meu corpo e o beijei de leve — Somente precisamos ter fé.

Ele assentiu com o olhar e se curvando, me beijou com mais intensidade e doçura. Com cuidado, mantendo-me concentrada no beijo em que me dava, ele abriu os botões do meu casaco e o retirou do meu corpo. Senti um leve frio passar por minhas costas, segui de suas mãos que me trouxe para mais perto dele. parecia mesmo com muita saudade, seu olhar profundo me deixou um tanto tímida. Porém, apenas conseguia desejar ficar ali em seus braços, completamente entregue ao meu marido, após longas semanas sem vê-lo presencialmente.

Quanto mais ele me tocava, mais meu corpo arrepiava. Nem mesmo o frio do inverno seria capaz de esfriar a nossa noite de natal que se iniciava. E por mais que pela manhã teríamos que ir para casa de seus pais, para o almoço em família. Aquele momento era somente nosso e eu aproveitaria ao máximo a companhia dele. 

— Sinto falta disso. — sussurrou ele, assim que me aninhei em seu corpo em nossa cama.
— Disso o que? — perguntei ao olhar para seus dedos entrelaçados nos meus.
— Estar com você, assim, aninhado. — explicou com mais detalhe — Essas semanas sem conseguir falar com você direito, eu quase fiquei louco, ainda mais depois que soube do isolamento da ajumma… Senti vontade de deixar tudo, desistir do serviço militar e voltar para casa.
— Imagino sua preocupação. — suspirei fraco — Também não foi fácil para mim saber que estava aqui e não poder vir te ver. 

Foram os piores 14 dias da minha vida. Mais foram extremamente intensos em jejum e oração pela vida do meu marido. Eu tinha a certeza que Deus estava sempre no controle de tudo, porém precisava continuar lutando contra as dúvidas e preocupações que insistiam em invadir minha mente.

— Não queria te colocar mais em risco. — explicou ele — Dedetizei o apartamento todo depois disso.
— Não quero mais pensar nisso , apenas quero continuar aqui, assim com você. — senti ele acariciar meus cabelos.
— Eu também. — assentiu ele — Estou grato a Deus por estar bem, por todos estarmos bem apesar do momento de tribulação.
— Sim. — concordei.

Ele se remexeu, me deitando sobre a cama e me olhando com carinho.

— Obrigado por me esperar, eu darei o meu melhor enquanto estiver no serviço militar para glorificar o nome do Senhor Jesus e deixar a senhora Lee orgulhosa. — assegurou ele, e beijando meu pescoço.

Senti cócegas de leve.

— Vou combater o bom combate, terminarei a minha carreira e manter minha fé guardada. — continuou ele, deixando seu olhar fixo em mim — Então, voltarei para você.
— Estarei te esperando até o fim. — disse a ele com segurança nas palavras — E sempre, vou cobri-lo de oração.
— Eu te amo, Lee. — sussurrou ele em meu ouvido, fazendo meu corpo arrepiar.
— Eu te amo Lee . — disse também ao sorrir para ele.

Me impulsionei e iniciei o beijo, sentindo ele tocar em minha cintura. Mais uma vez com a benção do Senhor, nosso amor se consumava de forma física e intensa. Eu somente desejava matar minha saudade dele... 

Apesar de ter que me preparar para mais 12 meses sem ele.

"One more day and it's not the same
Mais um dia que não é igual
The Spirit calls my heart to sing
O Espírito chama meu coração para cantar
I'm drawn to the voice of my Saviour once again
Eu sou atraído pela voz de meu Salvador mais uma vez."
- All I Need Is You / Hillsong United

Chamada: Jamais desistir do seu chamado.



57. Tito

Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade; use linguagem sadia, contra a qual nada se possa dizer, para que aqueles que se opõem a você fiquem envergonhados por não poderem falar mal de nós.
- Tito 2:7-8

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Manhã de natal e eu me espreguiçava da cama. Para minha surpresa, ainda estava ao meu lado dormindo. Achei estranho, pois ele sempre acordava primeiro e preparava nosso café. Não fiquei desapontada, pelo contrário, nossa noite foi tão intensa que o notei meio cansado pouco antes do amanhecer. Abri os olhos e me remexi para me levantar, porém, seu braço me interceptou me puxando para mais perto dele. Logo, senti sua respiração em minha nuca e um leve beijo depois. Um arrepio veio em seguida em meu corpo.

— Não levanta agora. — sussurrou ele — Vamos dormir mais um pouco.
— Vamos almoçar na casa dos seus pais. — o lembrei, mantendo minha voz baixa — Não podemos ficar na cama por muito tempo.
— Só mais trinta minutos. — insistiu ele com sua voz sonolenta — Não me sinto renovado para me levantar.
— A culpa foi sua. — me remexi novamente, virando para ele e o olhando — Você que não quis parar e dormir.

Ele abriu os olhos e me olhou com suavidade e brilho.

— Você se mostrou tão disposta assim que terminamos nossa oração das 3 da manhã. — ele sorriu de canto com certa malícia — E sabe…
— Hum… — segurei o riso dele.
— Foi a melhor noite da minha vida. — confessou ele.
— Supera a nossa primeira noite? — perguntei admirada.
— Hum… — ele pensou um pouco — Foi a segunda melhor noite.

Nós rimos.

— E já que acordamos… — o olhar dele ficou mais intenso.
— Lee , não estava indisposto? — lancei um olhar desconfiado.
— Com você não. — ele me puxou mais — Nunca estou indisposto.

Ele encostou seus lábios nos meus iniciando o beijo. Senti meu corpo se aquecer um pouco, porém não o deixaria em vantagem desta vez. Tínhamos um compromisso e prometi a ajumma que ajudaria na preparação do almoço. Então toquei de leve em seu tórax o afastando um pouco. Seu olhar desapontado veio logo em seguida, então eu sorri.

— Levante, tome um banho gelado e guarde sua disposição para mais tarde. — eu me afastei dele e me levantei — Enquanto toma seu banho eu preparo o café hoje.
— Achei que você seria meu café. — disse ele num tom manhoso.
— Canibalismo não é bem visto pela sociedade, senhor Lee. — brinquei rindo dele — E vai contra os princípios bíblicos também.

Peguei uma blusa de moletom dele e vesti.

— Assim você não ajuda. — disse ele.

Me virei para olhá-lo e notei seus olhos cheios de desejo em minha direção. 

— Banho gelado. — reforcei ao sair do quarto.

Segui para a cozinha enquanto me espreguiçava pelo caminho. Abri a geladeira e me deparei com ela recheada de coisas. Parece que meu marido tinha feito as compras do mês. Sorri de leve e vasculhei dentro, o que poderia fazer. Logo me lembrei da receita de bolinho de chuva que fiz uma vez para ele semanas depois do casamento. Repeti a dose, era o mais rápido a ser feito e me ajudava a matar o gostinho de saudade do Brasil. 

Assim que terminei de fritar os biscoitos, apareceu de repente, me abraçando por trás e beijando meu pescoço. 

— O que faço agora, o banho frio não resolveu. — sussurrou ele.
— Acho que tem água gelada na geladeira, sabia que é uma boa forma de hidratação? — segurei o riso.
— Mercenária. — disse ela.
— Vou tomar banho também. — sorri de leve para ele — Deveria tomar seu café.
— Sem você? — ele me olhou frustrado.
… 
— Já está me esnobando… — ele fez bico.

Não me contive em rir daquilo.

— Me espere então, será um banho rápido. — assegurei a ele.

A criança interna do meu marido assentiu e foi obediente. Tomei meu banho bem rápido e já coloquei as roupas de inverno para enfrentar a neve do lado de fora. O bolinho de chuva até ficou gostoso, devido à minha pressa em fazê-los. Assim que chegamos na casa dos meus sogros, ajumma já estava na cozinha iniciando sua preparação para o almoço. Deixei na sala conversando com seu pai e seguiu para minha missão de ajudante de natal.

— Obrigada, ajumma. — disse a ela, assim que coloquei o avental emprestado.
— Ficou uma graça em você, pode ficar com ele. — ela sorriu com graça.

Ajumma Sora me explicou com clareza e riqueza detalhes o que planejava para o almoço de natal. Claro que o cardápio seria inteiramente tradicional coreano, nosso famoso bulgogi acompanhado de massa de batata doce, e o indispensável para eles, kimchi. Para sobremesa, a opção seria bolos de frutas, no qual Sunny prepararia, pois era sua especialidade. Fomos conversando também durante os preparativos, entre risos, histórias e alguns relatos que me deixou surpresa.

— Nossa por essa eu realmente não esperava. — disse ao terminar de ouvir a história das amigas de Sunny.
— Pois é, eu contei sua história e do para minhas amigas da igreja e elas ficaram encantadas de saber que vocês passaram quase três anos em corte sem nem se beijarem. — reafirmou minha cunhada — Eu particularmente acho a história de vocês muito fofa e motivadora, já disse ao meu pai que também quero fazer corte e ter um casamento assim também.
— Vale a pena esperar. — confirmei a ela.
— Por um marido como o meu irmão, com certeza. — disse ela em risos — já é maravilhoso como um irmão, imagino como marido. E minhas amigas concordam comigo, vamos fazer a corte.

Ajumma me olhou com brilho nos olhos e sorriu.

tem um bom pai, por isso é um bom marido. — disse ela num tom baixo, com um sorriso bobo no rosto.

Pude perceber que assim como eu, ela também é feliz em seu casamento. Isso me deixa com o coração aquecido e empolgado. Saber que minha escolha de esperar, que minha conduta cristã é um exemplo para alguém me deixa ainda mais feliz. Pois honrar o nome de Cristo é o que mais quero em minha vida. Saber que Jesus tem sido glorificado através de minhas decisões e escolhas, me deixa ainda mais certa de que tenho seguido o caminho que o Espírito Santo escreveu para mim.

— Hum… Está gostoso como sempre, querida. — disse meu sogro a sua esposa com um olhar carinhoso.
— Para ser sincero, está com um sabor diferenciado e especial. — voltou seu olhar para mim e piscou de leve.

Me enchi de vergonha e timidez, ao ver no canto do seu rosto um sorriso malicioso que se formou. Meu coração acelerou um pouco.

— Não vai acreditar no que Sunny nos contou na cozinha. — comentei com .
— Surpreenda-me, minha irmã é cheia de loucuras. — brincou ele.
— Yah, seu chato. — ela fez uma careta para ele.
— Ela disse que contou sobre nossa história, de como nos conhecemos e nossa corte. — continuei com o assunto.
— Hum… Eu também já contei sobre nossa corte para alguns amigos, e eles ficaram chocados, não quiseram acreditar. — riu.
— Só quem viveu de perto sabe que é verdade. — disse meu sogro — As pessoas infelizmente acham que não é possível ter um namoro em santidade hoje em dia, mas fico grato a Deus pela vida de vocês e orgulhoso por meu filho ter vivido isso.
— Por falar em amigos, eu os conheci tão rapidamente no casamento. — comentei com ele.
— Teremos uma oportunidade em breve, eles estão pensando em reunir nossa turma para um encontro pós colegial. — explicou ele — Será nosso segundo encontro eu acho, no primeiro não consegui ir, estava no Brasil.
— Hum… — voltei a olhar para o prato.
— E como está o serviço militar ? — perguntou ajumma — Meu sobrinho iniciou o dele semana passada, foi enviado para o 137º batalhão do exército coreano.
— Bem, no departamento de polícia é mais tranquilo, porém no próximo mês faremos outro treinamento tático militar para manter a memória fresca. — senti o olhar analítico de em mim, de tempos em tempos — Vai ser bem puxado, já sinto isso.
— Me lembro bem quando servi no exército antes de ser consagrado a missionário. — disse meu sogro com ar nostálgico — Fiz muitos amigos nos meses que servi.
— Também fiz alguns amigos no meu DP, são pessoas bem legais e o capitão também é bem recíproco com todos. — contou meu marido.
— Nem acredito que já vai completar um ano, 2020 passou tão rápido com essa pandemia. — comentou Sunny.
— Os anos tem passado rápido mesmo querida. — disse ajumma.
— Tudo para o cumprimento da palavra em Mateus 24:22. — concordou o missionário Han — Nossos dias estão sendo abreviados e devemos ser vigilantes para a volta do Senhor Jesus.
— Querido. — ajumma o olhou — Como ficará os cultos da igreja, continuarão sendo transmitidos pela internet?
— Sim. — respondeu ele — Estamos esperando a decisão do governo para a abertura parcial das igrejas, mas por enquanto continuará sendo assim.
— Sinto falta da comunhão. — afirmou ajumma — Mas enquanto não voltamos, montei um grupo de oração com algumas amigas, estamos nos ajudando assim e intercedendo pela igreja.
— Isso é bom. — meu sogro sorriu para ela.

Tentei disfarçar durante todo o jantar, mas por um breve momento me senti insegura. Novamente o fator cultural sobreveio em minha mente. De países totalmente diferentes, e eu éramos um casal diversificado, em um país onde sua cultura era forte e tradicional. Comecei a pensar se ficaria confortável em apresentar sua esposa brasileira que era totalmente fora dos padrões de beleza coreanos. Senti meu coração oprimido por causa desses pensamentos.

--

— O que foi? — perguntou ele assim que entrou em nosso quarto — Está calada desde que chegamos em casa… Não, está calada desde que falei sobre o reunião da minha antiga classe do ensino médio.
— Não é nada. — mantive meu olhar na janela.

De certa forma, não queria falar sobre o assunto. Mesmo com inúmeros pensamentos sobre isso, me mantive em silêncio, reprimindo minha insegurança.

. — ele segurou em minha mão, me fazendo olhar para ele — O que foi?
— Não é nada. — disse com meus olhos já se enchendo de lágrimas.

Tentei me desviar dele, porém sendo mais rápido que eu, me puxou para um abraço aconchegante, me aninhando em seus braços.

— Se acha que por algum instante, eu vou me arrepender de ter me casado com você, só porque que não é coreana, está enganada. — disse ele num tom firme e sincero — Nenhuma mulher atraiu o meu olhar como você , e perante Deus, eu te afirmo, que você é quem eu amo.
… — sussurrei sentindo as lágrimas caírem.
— Eu já te contei sobre isso, mas falarei novamente. — ele se afastou um pouco e me olhou com carinho, limpando minhas lágrimas com o dedo indicador, aproveitando para acariciar meu rosto — Eu só tive duas namoradas, antes de te conhecer, e nenhuma delas meu coração bateu mais forte, foi em momentos que achei ter encontrado a pessoa certa… Mas não foram.

Seu olhar fixo em mim, me transmitia segurança.

— Quando a vi naquele mirante pela primeira vez, mesmo não sabendo quem era a garota que orava em línguas com tanta intensidade, percebi que tive que ir para o outro lado do mundo, para finalmente conhecer a mulher da minha vida. — ele sorriu — Mas foi no congresso de jovens da Layla, que Deus testificou no meu coração que era você… Por isso, jamais deixe que pensamentos relacionados à eu ser um coreano e você uma brasileira, a façam ser oprimida… Eu te…

Nem mesmo deixei ele terminar a frase que tanto gostava de dizer. O beijei com doçura e leveza, sentindo ele envolver seus braços em minha cintura. Eu estava sim já começando a me angustiar e sentir inferior as coreanas. Elas eram tão fofas e bonitas, como uma boneca de porcelana. Mas ouvir as palavras de me fizeram destruir cada pensamento negativo relacionado a isso. Afinal, pela lógica, se casou comigo sabendo quem eu era, sendo uma brasileira e totalmente diferente delas, tanto em cultura quanto em estética.

— Você não tem ideia do quanto sua beleza me atrai. — sussurrou ele em meu ouvido — E do quanto eu te desejo.

Senti meu corpo estremecer e minhas pernas bambearem.

— Me mostre então. — sugeri a ele.
— Com prazer. — ele segurou com um pouco mais de malícia em minha cintura e me beijou novamente.

Neste momento, apenas deixaria que a intensidade de conduzisse seu amor da forma mais sublime possível. Somente me senti grata a Deus pelos sentimentos sinceros do meu marido por mim. Por ter preparado com tanto carinho o nosso relacionamento, unindo duas pessoas diferentes com um propósito especial... 

Servir a Deus de todo o coração.

"Eu quero ser como um jardim fechado,
Regado e cuidado pelo teu Espírito,
Flua em mim como um manancial,
Do meu interior com águas vivas,
Restaura o meu ser, para o Teu louvor."
- Manancial / Ana Paula Valadão

Chamada: Ser exemplo para as pessoas de um verdadeiro cristão.



58. Filemom

Sempre dou graças a meu Deus, lembrando-me de você nas minhas orações.
- Filemom 1:4

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Sábado ao amanhecer, recebeu uma ligação de seu superior, dizendo que ele havia ganhado uma semana de férias para passar os últimos dias do ano com a família. Minhas orações foram atendidas. Eu tinha até feito 21 dias de jejum como Daniel, para que ele pudesse pelo menos estar em casa no final do ano. Sentada na cama, fiquei observando ele conversar no celular com o seu superior. Assim que ele encerrou a ligação, caminhou até a cama e se sentou ao meu lado.

— Bom dia. — disse ele, sorrindo de leve.

Me dando um selinho rápido depois.

— Bom dia. — sorri de volta e olhei para a Bíblia aberta ao lado — Estava orando, antes da ligação?
— Sim, fazendo meu devocional. — respondeu ele — Dormiu bem?
— Sim, obrigado. — segurei em sua mão, entrelaçando nossos dedos.
— Posso te pedir uma coisa? — seu olhar ficou mais singelo.
— Pode.
— Sempre que tiver chateada com alguma coisa, por favor, me conte, não esconda de mim. — ele desviou o olhar para nossos dedos entrelaçados — Somos um só lembra? Seus medos são os meus, sua coragem é a minha, seus acertos e erros também.
— Desculpa. — sussurrei.
— Não precisa pedir desculpas. — seu olhar sereno me transmitiu paz — Só preciso que compartilhe comigo o que sente, não quero que passe por essas situações sozinha, já não estou sendo tão presente fisicamente neste momento, mas seu marido ainda pode interceder por você.

Meus olhos se encheram de lágrimas emocionadas, porém as contive.

— Eu te amo. — dessa vez eu disse primeiro.
— Eu também te amo. — ele acariciou minha face.
— Eu não sei o que aconteceu comigo, mas somente me senti insegura ontem. — iniciei meu desabafo com ele — Eu fui pensando sobre as coisas, me lembrando dos doramas que vejo, quando dei por mim, comecei a pensar que se encontrando com as garotas que estudou com o padrão de beleza coreano, pudesse se sentir envergonhado por ter casado com alguém tão diferente delas.
— Eu jamais terei vergonha de você. — seu olhar sincero me confortou por dentro — E falando honestamente… — eu olhar intenso havia retornado.

O que já dizia tudo. A forma como me olhava desde quando me conheceu. Sendo desenvolvida a cada aproximação nossa ao longo do tempo, resultou naquele olhar de desejo que ele sempre tinha por mim. Era o olhar mais discreto e impactante que um homem poderia ter por uma mulher. Um olhar que somente eu conseguia decifrar, e internamente me derretia.

— Vamos orar, senhor Lee? — propus.
— Vamos orar, senhora Lee. — concordou ele ao segurar em minha outra mão — Temos muito a agradecer.

Assenti fechando os olhos. me roubou um beijo antes de iniciar a oração. Confesso que orar com ele era diferente, e nossa sincronia em louvar a Deus tinha um toque suave. Ele iniciou dando graças por nosso casamento e nossas vidas. Pela proteção de Cristo em nossa saúde nesse tempo turbulento de pandemia, e por tê-lo curando quando ficou em isolamento. Senti as lágrimas rolarem por meu rosto, quando agradeceu a Deus por minha vida, pedindo-o para me proteger e fortalecer minha fé. Em seguida, ele começou a pedir ao Espírito Santo para fazer morada em nossos corações, ser a coluna central de nosso casamento e fortalecer nosso amor.

Eis-me aqui, tantas fraquezas… Diante da Tua grandeza… O que se vê o coração sente… O corpo responde… Minha alma não mente… — comecei a louvar com suavidade em minha voz, não me importando com meu rosto molhado pelas lágrimas — Sonda agora este coração… Veja, Senhor, se não tenho razão… Mas eu não quero ser tão racional… Espírito Santo, pode se achegar… E fazer morada, e fazer morada… Espírito Santo, mora em mim…

Quanto mais eu louvava, mais orava pedindo pela presença do Senhor. Mais e mais fomos sentindo uma paz preencher nossos corações. A sensação de leveza tomou conta do todo o nosso quarto, como se a plenitude de Deus nos envolvesse por completo e renovasse nossas forças. Certamente meu coração iria ansiar por mais momentos de oração como estes com ao longo daquele um ano que ele ainda estaria em serviço militar.

--

Ter todas as manhãs ao acordar, me dá uma aquecida no coração. E meu corpo ainda se arrepiava quando ele me beijava no pescoço antes do café da manhã. E tinha que admitir, meu marido ficava mais atraente que eu, com aquele avental que ajumma me deu, enquanto preparava as panquecas com dedicação.

— Obrigada pelo alimento. — disse ao me sentar na cadeira de frente para ele — Como sempre, o cheiro está convidativo.
— Que bom. — ele me olhou com carinho — Vamos comer.

Ele fez as honras de agradecer e consagrar a nossa refeição, então degustamos do nosso café. Como eu havia deixado adiantado alguns vídeos para o canal, tinha os dias de folga de para curtir meu marido. E mesmo que ele tivesse se oferecido para aparecer comigo em algum vídeo do meu canal, senti no meu coração que ainda não era o momento para isso. Além do mais, ele estando no serviço militar, não daria motivos para que pudesse ser repreendido.

Ao final da tarde, eu comecei a me sentir incomodada e nem consegui diagnosticar o motivo. Um pouco irritada com algo que não consegui fazer no notebook, um pequeno comentário de me fez ficar mais nervosa e brigar com ele. Era tão surreal, que me senti insuportável na hora. Em plena quinta-feira, faltando horas para o ano terminar.

?! — me olhou assustado.
— Me deixa, eu não estou legal. — disse num tom mais rude seguindo para o quarto.
— . — ele me parou no caminho e pegando em minha mão, impulsionou meu corpo para sua direção e me abraçou forte.
— Me solta. — disse relutante.
— Não. — ele permaneceu como estava, me aninhando mais em seus braços — Não sei o que te causou estar irritada assim, mas não vou deixar que as brigas aproveitem a oportunidade e invadam em nosso casamento.

O senti acariciar meus cabelos, e comecei a chorar. Sensível e com tpm, era a única explicação para o meu estado de estresse repentino. E já começando a me culpar por jogar tudo em cima dele. 

"Porque Ele vive, posso crer no amanhã,
Porque Ele vive, temor não há,
Mas eu bem sei, eu sei, que a minha vida,
Está nas mãos de meu Jesus, que vivo está."
- Porque Ele Vive / Harpa Cristã

Chamado: Interceder pelos outros.



59. Hebreus

Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
- Hebreus 11:1

- x - 

As primeiras semanas de 2021 foram passando.

Felizmente, as coisas estavam se ajustando bem melhor após a rigorosa primeira onda da pandemia. Ainda que rumores de uma segunda onda atingissem a europa. Minhas aulas retornaram presencial de forma reduzida e alternada na universidade. E felizmente como continuei estudando em casa, não teria problemas em prosseguir. Meu estágio na biblioteca também retornou, mas eu somente iria nas terças e quintas. Não era muita coisa, mas só de sair de casa, me deixava aliviada e mais motivada. Afinal, foi realmente uma guerra travada para não surtar confinada em casa.

Claro que algumas restrições continuavam. Porém, minha preocupação estava nas notícias do Brasil. Alguns membros da igreja tinham contraído o vírus e um se encontrava incubado em estado grave. Uma corrente de oração iniciou sendo organizada por Mônica, claro que eu participei à distância. Somente a fé em Cristo seria o sustento para que nossas esperanças continuassem a ser renovadas.

Minha gratidão a Deus, por estar em um país disciplinado em que as pessoas respeitam o uso de máscaras e todos os decretos. Infelizmente em meu país não estava sendo assim.

— Unnie. — disse Sunny ao se aproximar de mim de repente.
— Sunny? — a olhei surpresa por vê-la no campus da universidade — O que faz aqui?
— Vim para uma entrevista de emprego de meio período aqui perto e passei para te ver. — respondeu ela.
— Emprego? E o vestibular para a faculdade? — indaguei achando estranho.
— Eu continuo estudando, mas preciso da minha independência financeira. — assegurou ela.
— Que álbum do EXO o sogro não quero comprar dessa vez? — cruzei os braços olhando-a com seriedade.

Em pouco tempo, eu já conhecia bem minha cunhada para saber que quando arrumava emprego, era para gastar com álbuns de kpop. 

— Que pergunta, não tem nenhum álbum não. — ela revirou os olhos e voltou sua atenção para um casal que passava.
— Então o que mais seria? — insisti.
— Meu pai disse que só posso morar no dormitório da universidade, se eu pagar por ele como o . — ela fez cara emburrada.
— Acho justo. — defendi meu sogro — Pelo que soube da história, seu irmão sempre trabalhou desde pequeno para ter a sua independência financeira e poder sair de casa mais cedo.
— Assim não ajuda. — ela me olhou atravessado.
— Desculpa, mas é a realidade. — segurei o riso — E ainda me surpreendo com o fato de ter feito isso sem nem imaginar que se casaria comigo antes de se formar na universidade.
— Ok, admito que o oppa sempre foi econômico. — sua voz soou como se resmungasse.

Eu ri dela.

— Está com fome? — perguntei — Estava indo comer algo agora.
— Um pouquinho, comi algumas barras de cereal no caminho para a entrevista. — respondeu ela.
— E onde foi fazer entrevista?
— Unnie, ore por mim. — disse ela me lançando um olhar aflito e esperançoso ao mesmo tempo.
— O que foi agora? — meu olhar ficou assustado para ela.
— Eu fiz entrevista em uma produtora de dorama. — seu olhar ficou sapeca.
— E contou isso aos seus pais? — ajeitei a mochila nas costas.
— Contei para a omma. — ela fez uma cara de dúvida — Pedi que não contasse ao appa até eu conseguir.
— O sogro não gosta muito dessa ideia, não é? — movi meu olhar para frente.
— Não, ele não gosta. — assentiu ela.
— Hum… Mas acho que se você mostrar dedicação e fazer para Deus, para glorificar o nome de Cristo, tenho certeza que ele te apoiará. — assegurei a ela — Tenha fé Sunny, e tudo sairá conforme a vontade de Deus, só não fique ansiosa e desesperada, se for pra ser, o missionário também sentirá paz no coração quanto a isso. — sorri de leve — Foi assim comigo, quando disse ao meu pai que viria para a Coréia, e como era da vontade de Deus, ele ficou em paz com minha decisão.
— Unnie. — ela me abraçou de surpresa, mesmo sabendo das orientações de afastamento — Komawo.

A forma de Sunny me agradecer em coreano informal era muito fofa, principalmente por aqueles olhinhos puxados dela. Seguimos para a cafeteria, onde por coincidência, encontramos algumas amigas de Sunny do colégio. Descobri que minha cunhada havia mesmo espalhado minha história com para todos que conhecia. Pois os olhares curiosos de suas amigas me deixou constrangida.

— Podem perguntar. — disse a uma delas, que parecia se segurando para não dizer nada errado — Seu olhar está te entregando.
— Desculpa unnie, é incrível e ao mesmo tempo surreal a história de vocês. — disse ela sorrindo com timidez.
— Você fez um bom casamento, oppa é mesmo um encanto de pessoa. — disse a garota de presilhas — Mas disso isso com muito respeito.

Assenti com a cabeça segurando o riso delas. 

Ao final da tarde, me despedi de minha cunhada, ela me convenceu a acompanhá-la para uma volta cansativa por Hongdae atrás de uma loja de artigos de kpop. Voltei ao apartamento sentindo meus pés pedirem cama. Deixei minha mochila em cima da cama e pegando a toalha, segui para o banheiro. Assim que liguei o chuveiro e retirei minha roupa, senti a água quente bater em minhas costas relaxando meu corpo.

Em um piscar de olhos, algo estranho começou a acontecer comigo e senti uma pontada forte em minha barriga. Era cedo demais para pensar em cólicas menstruais, porém a dor continuou a crescer. Em segundos, olhei para baixo e vi uma considerável quantidade de sangue escorrendo pelas minhas pernas juntamente com a água do chuveiro. Soltei um grito de dor, com a sensação de que algo estava sendo arrancado de mim. Fechei meus olhos lacrimejando e com as pernas fraquejando, me apoiei na parede. Desliguei o chuveiro, enrolando na toalha e segui com dificuldade até o quarto.

Quando finalmente consegui chegar à minha cama, meu corpo desabou no chão. Não conseguia sentir forças para caminhar.

, minha querida, deixou a chave reserva de vocês comigo para alguma eventualidade… — ouvi a voz de ajumma adentrando o apartamento — , já retornou da universidade? Senti no coração de passar aqui antes de voltar para casa...

Eu queria gritar para ela, chamá-la, porém minha voz não saía e a dor só aumentava mais.

! — ela apareceu da porta do quarto e veio correndo me socorrer — O que ouve, está sangrando. 

Meu olhar cheio de lágrimas para ela, era como um pedido de ajuda. Rapidamente ajumma ligou para meu sogro e foi nos buscar. Ela me ajudou a trocar de roupa com dificuldade e seguimos para o hospital. Só me lembro de ter desmaiado no momento em que a médica veio me examinar. Quando acordei, uma obstetra do hospital veio conversar comigo e explicar o que aconteceu com o meu corpo.

Segundo ela, eu estava com 7 semanas de gestação e havia sofrido um aborto espontâneo. Minha mente se fundiu com todas aquelas informações e notícias. Sò consegui entender que havia uma vida dentro de mim que se foi. Ajumma Sora se manteve sentada na cadeira ao meu lado, segurando a minha mão. Somente ela pode ficar comigo, por ser minha responsável no momento. 

— Vamos cuidar de você minha querida. — garantiu ajumma — Como cuidou de mim.
— Ajumma. — eu só conseguia sentir vontade de chorar — Eu nem imaginava que pudesse estar grávida, minha menstruação está em dia.
— Existem casos de mulheres que têm pequenos sangramentos durante a gestação, não é algo grave, porém eles são confundidos com menstruação. — explicou a médica.
. — a voz de soou no ambiente, fazendo meu coração acelerar.

Assim que vi meu marido se aproximando, vestindo sua farda policial. Não consegui conter minhas emoções e comecei a chorar.

— Podemos deixá-los sozinhos, dra.? — pediu ajumma.
— Claro. — assentiu ela.

Ambas se retiraram do quarto. se aproximou de mim e sentando na cama ao meu lado, seus olhos também marejados, deu lugar a um sorriso reconfortante.

— Eu estou aqui, agora estou aqui. — ele me abraçou forte — Me perdoa por não ter estado quando precisou, não consegui te apoiar.

Senti uma gota de lágrima dele cair em meu ombro.

. — sussurrei — Não foi sua culpa.
— Como você está? — ele manteve seu olhar de carinho para mim.
— Agora estou bem. — sequei minhas lágrimas e ele as dele — Na hora, doeu muito, mas consegui suportar, eu não sabia que estava grávida…

Meus olhos voltaram a se encher de lágrima.

— Eu não consegui segurá-lo…
— Não é sua culpa também… — ele beijou minha testa de forma singela e me abraçou novamente — Deus está no controle querida, Ele está conosco e seu propósito é maior em nossas vidas.

Sim, eu creio. Deus sempre estará no controle de tudo em nossas vidas.

"Eu tenho um Deus que não vai deixar,
Essa luta me matar, o desespero me tomar,
Por mais pressão que seja a situação,
O controle ainda está na palma de Suas mãos."
- Samuel Messias - Todavia me Alegrarei

Chamada: Ter fé sempre, em qualquer situação.



60. Tiago

A oração de um justo é poderosa e eficaz.
- Tiago 5:16

- x - 

— Senhor Jesus, mesmo em lágrimas, mesmo em tempestades, damos graças, pois o Senhor é bom e a Tua misericórdia dura para sempre. — disse ao finalizar a oração que fez para mim naquele quarto de hospital.

Ele sorriu novamente para mim e acariciou minha face.

— Está mais calma agora? — perguntou ele, mantendo o olhar sereno.
— Estou, obrigado. — sorri de leve para ele e voltei o olhar para a porta que se abria.
— Senhor Lee, me desculpe por atrapalhar, mas nossa paciente precisa descansar. — disse a enfermeira que entrou no quarto para trocar minha bolsa de soro.
— Já estava de saída. — ele não se importou com a presença dele e após me dar um selinho, ajustou sua máscara no rosto e saiu.

Fiquei observando ela executar seu trabalho, mantendo o silêncio. Após alguns exames, a doutora descobriu que eu estava com uma leve anemia, algo que poderia ter sido a causa do meu aborto espontâneo. Então, para que eu me recuperasse completamente, ficaria mais dois dias internada em observação. Ajumma Sora conseguiu a autorização para ser minha tutora e permanecer como acompanhante. Logo mais à noite, pedi seu celular emprestado e fiz uma vídeo chamada com meu pai, para lhe contar tudo o que aconteceu.

Mesmo longe do Brasil, eu sempre atualizava meu pai com as notícias, além de compartilhar alguns assuntos interessantes com Lira e Davi. Ambos eram mesmo como irmãos para mim e estava feliz pelas suas conquistas e vitórias. Claro que todos ficaram totalmente surpresos e preocupados com o que aconteceu comigo, porém se acalmaram quando eu disse que já estava tudo bem.

— É muito bonito o carinho do seu pai com você. — comentou ajumma assim que encerrei a chamada.
— Sim, ele se preocupa muito e com razão. — ri de leve — Por anos eu fui sua filha única.
— Ah sim, agora tem o pequeno Samuel. — ela sorriu — Como é bom uma casa com crianças, me lembro de quando Sunny nasceu.

Ela segurou em minha mão mantendo o olhar carinhoso para mim.

— Não se preocupe queria, tudo tem a hora de Deus para acontecer, e tenho certeza que ainda será uma mãe maravilhosa da qual seus filhos terão bons exemplos. — disse ela em consolo.
— Se eu meu exemplo for sendo uma mulher de fé e oração com a senhora e Mônica, me darei por satisfeita. — garanti a ela.
— Será bem mais que isso, você possui muitas qualidades. — ela manteve o sorriso no rosto com o olhar sereno.

Estava feliz por suas palavras. 

No dia seguinte, após mais exames, escapei por alguns minutos de ajumma e dei um passeio pelo hospital. Algo que nunca imaginei acabou acontecendo. Acabei esbarrando com Kim Sooyoung, a moça do banheiro do aeroporto de Jeju. Meu corpo gelou, ao vê-la com o braço enfaixado, sendo amparado por uma tipóia. Seu olhar triste era o mesmo, sendo escondido por uma maquiagem pesada no rosto.

— Kim Sooyoung?! — disse seu nome em voz alta.

Ela parecia estar fugindo de algo ou alguém.

— A estrangeira do banheiro. — ela pareceu me reconhecer.
— Meu nome é . — disse a ela.
— Podemos ir para outro lugar? — ela olhou para trás, vendo se não tinha ninguém atrás dela.
— Claro, eu estou no quarto 327. — disse a ela.
— Posso ficar lá, por alguns minutos? — seu olhar desesperado cortou meu coração.
— Claro. — disse ao pegar em sua mão e guiá-la para longe dali.

Assim que entramos no meu quarto, respirei aliviada, pois ajumma não estava lá. Ela olhou à sua volta discretamente, antes de nos sentarmos na cama. Sooyoung permaneceu em silêncio com o olhar baixo.

— Está tudo bem? — perguntei a ela.
— Sim, agora sim, agradeço por me acolher aqui, eu somente precisava de espaço. — explicou ela como se procurasse as palavras.
— Não é o que me parece. — insisti ao segurar em sua mão — Admito que não a conheço, não somos próximas, mas consigo ver em seu olhar o grito de socorro que somente Deus vê.

Os olhos dela ficaram marejados.

— Não tem sido fácil. — ela começou a desabafar — Ser esposa do herdeiro Kim não tem sido fácil, mas preciso seguir tentando pela honra da minha família.
— Você ama ele? — perguntei ao me lembrar da história dela, que Sunny contou.
— É complicado amar quando seu casamento foi um arranjo entre famílias. — respondeu ela.
— Então não está feliz. — constatei, sentindo empatia por ela.
— Há muito tempo não sei o que é felicidade. — confirmou.
— Por que aceitou se casar com ele? — estava curiosa por sua história.
— Minha família havia contraído muitas dívidas e à beira da falência, minha avó conhecia a mãe de Jinho… Luto comigo mesmo para não pensar que me ofereceram em troca de ajuda financeira, mas esta é a minha realidade. — continuou ela limpando algumas lágrimas que escorreu.
— Você poderia ter negado, não aceitado. — disse tentando entender toda a história do seu ponto de vista.
— Sim, mas a pressão que minha família me fez, com meu pai doente e… Não tive forças para lutar contra, apenas assenti em silêncio o meu destino. — ela voltou seu olhar para a tipoia.
— Tenho certeza que não foi este casamento que Deus sonhou para você. — manteve segurando a sua mão — Há um propósito para a mulher ter sido feita a partir da costela esquerda, é onde fica o coração, para sermos amadas e protegidas.
— Sempre acreditei que um casamento é para vida toda. — disse ela com a voz falha.
— E pretende deixá-lo viúvo? — tentei segurar minha indignação, mas quando me dei por mim já tinha falado — Me desculpe.
— Não, tens razão… — ela limpou mais uma lágrima — A cada vez que volto a este hospital, é por algo mais grave… E com isso, sempre fico me perguntando, Deus ainda se preocupa comigo?

Não havia mais dúvidas, estava claro que Kim Sooyoung sofria de violência doméstica, só não tinha forças para se salvar disso. Não foi mesmo por acaso, e agora estava entendendo os propósitos de Deus. Não foi por acaso o que me aconteceu, pois me levou novamente a cruzar o caminho dela. Eu respirei fundo, deixando minha voz mais suave, comecei a louvar, como da vez que a conheci no banheiro. Desta vez, uma canção do Hillsong Worship, chamada Jesus I need You.

Hope be my anthem… Lord, when the world has fallen quiet… You stand beside me… Give me a song in the night… — mais do que qualquer coisas naquele momento, ela precisava ter Jesus em seu coração, por isso, continuei a louvar — And Jesus I need you… Every moment I need you… Hear now this grace bought heart sing out… Your praise forever…

Se tem uma coisa que meu pai sempre me diz desde criança, é que a oração de um justo pode muito em seus efeitos. E foi com o chamado do livro de Tiago, que aprendi que a minha oração sempre seria ouvida pelo Senhor Jesus. 

E eu iria orar por Kim Sooyoung.

"Diz que amado sou,
Sem que eu me sinta assim,
Diz que forte sou,
Quando há fraqueza em mim,

E que seguro estou,
Se frágil eu me sentir,
Que não estou só,
Pois eu pertenço a Ti,
Eu creio sim, eu creio sim,
No que diz sobre mim."
- Diz (You Say) / Gabriela Rocha

Chamada: Apenas ore.



61. I Pedro

Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.
- I Pedro 5:7

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Passei mais algumas horas conversando com Kim Sooyoung. 

Quando minha sogra finalmente voltou ao quarto, minha nova amiga estava mais calma e serena. Não entramos em detalhes sobre ela e mantive meu conselho sobre ela se abrir com seus pais e lhes contar tudo o que vivia. O primeiro passo para se libertar das amarras que a machucavam, deveria ser dela. E mesmo que seu marido fosse rico e influente, isso não limitaria o agir de Deus em sua vida. Ela somente teria que depositar toda a sua confiança em Jesus e deixá-lo cuidar dela.

— É muito simpática essa sua amiga. — comentou ajumma Sora ao se sentar na cadeira do acompanhante — Onde se conheceram?
— No aeroporto de Jeju, na volta da lua de mel. — contei a ela — Foi propósito de Deus, assim como minha vinda para o hospital. Apesar do motivo que me trouxe ter sido doloroso.
— E você está se sentindo melhor agora? — ela segurou em minha mão e sorriu com ternura.
— Sim, estou mais tranquila. — sorri de leve — Ver , me deu forças.
— Ele se preocupou bastante com você. — comentou ela.
— Uma pena que ele teve que voltar para a DP. — tentei não deixar meu olhar triste, mas já sentia saudades do meu marido.
— Ainda temos muitos meses pela frente, 2021 mal começou. — comentou ajumma com olhar solidário.
— Queria tanto que passasse rápido, assim o teria de volta. — soltei um suspiro cansado.
— Tente ficar tranquila querida, ansiedade sempre nos deixa mais apreensivas. — aconselhou ela — Este tempo que está distante, aproveite para se ocupar mais com as coisas do Senhor, ler mais a Bíblia, orar, jejuar, é um bom momento para aproveitar mais seus dias, já que sua rotina de senhora casada está mais branda.
— Verdade. — nós rimos.
— Querendo ou não, o casamentos nos consome um tempo e às vezes esquecemos que nossa prioridade é Deus e não o nosso marido. — continuou ela, mantendo sua voz suave — No início do meu casamento eu agia de forma imprudente, e tinha tanto ciúmes do Han, sempre querendo saber onde ele estava, com quem estava, meu coração nunca seguia em paz…Eu praticamente vivia para ele, o estava sufocando com minha obsessão.
— E como a senhora superou isso? — perguntei curiosa.
— Quando quase perdi o Han, Deus me mostrou que Ele era o primeiro em minha vida e não o meu marido, por isso todas as manhãs antes de dar bom dia ao Han, primeiro eu dou bom dia a Deus, converso com Ele e pergunto como Ele quer que eu me comporte naquele dia. — respondeu ela — Não que esteja agindo errado em querer seu marido de volta, mas se você confia no Senhor, apenas deixe que Ele cuide do seu casamento e bloqueie seu coração contra toda a ansiedade.
— Obrigado, ajumma, eu farei isso. — a olhei com gratidão.

Minha sogra, desde quando a conheci, sempre me aconselhou com palavras de sabedoria. O que me motivava a seguir seus passos e ser ainda mais íntima do Senhor. Claro que não seria fácil, mesmo distante, havia outras áreas na minha vida que competiam pelo meu tempo. Mas, se tem uma verdade em suas palavras, é que Jesus vinham em primeiro lugar em minha vida, e ninguém tomaria seu posto. Afinal, eu pertenço totalmente a Ele.

No dia seguinte, após receber a alta hospitalar e me trocar, deixei minha sogra assinando os documentos do hospital e segui até o quarto de Sooyoung. Ela já havia sido liberada e não estava mais lá, porém, tinha deixado um recado com a enfermeira que cuidou dela. Um bilhete com seu número de celular para que eu entrasse em contato com ela. Fiquei feliz, isso já era um sinal de que a senhora Kim considera minha palavras sobre mudar a situação de sua vida.

Segui para casa dos meus sogros. Passaria mais alguns dias com eles a pedido da ajumma. Ela seguia preocupada comigo e não queria me deixar sozinha. O quarto que permanecia sendo de me aguardava pronto e com os lençóis da cama trocados. Sunny foi até meu apartamento pegar algumas roupas minhas, aproveitando pedi para que trouxesse o notebook e meus planners para continuar as atividades do meu canal. Para meu alívio, já havia gravado alguns vídeos antecipados antes do ocorrido, e Davi seguiu administrando as coisas do canal junto com minha cunhada. 

— Que saudade de uma cama de verdade. — brinquei ao me sentar na cama do meu quarto e jogar meu corpo para trás.
— Estou feliz que esteja bem. — disse Sunny ao entrar no quarto com minhas coisas — E mais ainda por passar alguns dias aqui.
— Fiquei todo esse tempo no hospital e não sei das novidades. — ergui meu corpo e a olhei — Como estão as coisas?
— Sobre?
— Tudo, a pandemia… Tudo. — expliquei.
— Bem, dizem que a segunda onde chegou na europa, felizmente aqui está controlada e os testes com as vacinas estão sendo feitos e há expectativas positivas nisso, as aulas presenciais estão com horários reduzidos ainda e os dormitórios fechados até segunda ordem. — contou ela puxando a cadeira e se sentando — No Brasil é que as coisas não estão fáceis, andei conversando com o Davi.
— Isso me preocupa. — revelei a ela.
— Ele me disse que o povo não tem seguido nem mesmo as restrições de distanciamento e de uso da máscara. — continuou ela — Imagina que ele me mostrou uma foto de um bar aberto e cheio de gente sem máscara aglomerado.
— Não duvido disso. — garanti a ela.
— Pois é, eu achei que fosse antiga a foto e ele tinha me dito que foi da semana no ano novo. — o olhar indignado dela era o mesmo do meu.
— Infelizmente as pessoas não respeitam. — disse soltando um suspiro fraco — Me preocupa meu pai, minha família lá.
— Davi disse que todos estão bem, isso é bom.
— Sim. — concordo.

Continuamos conversando sobre as aulas “presenciais” da Yonsei University. Por enquanto, os alunos seguiam indo em horários alternados para entregar os trabalhos e tirar dúvidas. As aulas continuavam sendo no estilo remoto, em que os alunos via online em tempo real. Infelizmente era mais cansativo mentalmente e não assegurava o melhor do ensino que a universidade sempre oferecia, mas era uma forma de não parar o aprendizado e fazer os alunos esquecerem o conhecimento já adquirido.

E eu… 

Felizmente minha sogra conseguiu marcar a data da minha prova de proficiência em hangul. Sendo aprovada com mais de 70 créditos numa prova de 100, eu poderia iniciar meu curso de design ainda nesse semestre letivo. A forma de avaliação e as aulas dadas nas universidades coreanas eram diferentes. E em alguns cursos, a flexibilidade em assistir às aulas até ajudavam as celebridades a conseguir diplomas acadêmicos.

Terça à noite, me preparava para a prova da manhã seguinte. A faria na biblioteca que seguia fechada para o fluxo de alunos. Somente em horários especiais ela era aberta para que pudessem pegar livros emprestados. Fechei o livro e olhei para o relógio do celular, já marcava 10 da noite, o que me lembrava que eu não havia aparecido para o jantar. Me levantei da cadeira e saí do quarto, assim que cheguei na cozinha me deparei com ajumma preparando alguns sanduíches.

— Ah, . — ela me olhou com carinho — Aí está você. Ficou tão concentrada estudando que não veio jantar, isso me preocupou.
— Só agora que eu senti fome. — disse a ela, me aproximando da bancada — O que está fazendo?
— Sanduíches para minha nora querida. — respondeu ela, o óbvio, com um sorriso doce — Imaginei mesmo que estaria com fome, me disse que quando começa a estudar, é complicado te fazer parar para comer.
— Quando ele falou isso? — perguntei curiosa.
— Antes de ir ao serviço militar. — respondeu terminando o preparo.
— Eu realmente me esqueço da fome quando estudo. — confirmei meio sem graça.

Ela se afastou da bancada e abriu a geladeira. Permaneci em silêncio observando-a preparar um chocolate quente. Seu olhar carinhoso e sua dedicação me aqueceram o coração de uma forma sublime. Ajumma tinha mesmo se tornado uma mãe para mim e seguia grata a Jesus por isso.

— Aqui está. — disse ela, ao me entregar a bandeja com o prato de sanduíches e a xícara de chocolate quente — Agora se alimente bem.
— Obrigado ajumma. — sorri em agradecimento e voltei para o quarto com a bandeja.

Agradeci a Deus pelo alimento e saboreei o que ela havia preparado para mim. Assim que terminei, senti meus olhos pesarem de sono. E me lembrei que tinha acordado cedo para ajudar ajumma a limpar a casa, nossa faxina durou a manhã inteira. Após o almoço voltei aos meus estudos e só fiz uma pausa para o lanche da tarde. Eu realmente merecia um pouco de descanso. Olhei para meu celular e tinha uma mensagem de , dizendo que me ligaria em dez minutos.

Foi o tempo de tomar um banho, colocar o pijama e me sentar na cama esperando por sua ligação. Assim que o celular tocou com a videochamada dele, atendi.

— Bom dia. — disse abrindo um largo sorriso.
— Bom dia querida. — ele sorriu de volta — Como foi seu dia. senhora Lee?
— Bom e proveitoso, estudei mais um pouco para a prova de amanhã. — contei a ele mantendo o sorriso no canto do rosto — E você? Senhor Lee?
— Trabalhei muito hoje. — ele riu, mas conseguia ver seu olhar cansado — Mais dois policiais foram afastados, e um transferido para Busan, estou trabalhando sozinho em dois setores.
— Uau, você tem se esforçado muito esses dias, consigo perceber isso.  — comentei ajeitando o travesseiro nas minhas costas — Tente não forçar muito, eles precisam ver que precisa de alguém para ajudá-lo.
— Farei isso. — assegurou ele — Somente essa semana que ficarei sozinho, estão remanejando todos os policiais em serviço obrigatório, o que causou o acúmulo de função.
— Hum…
— E você? Alguma novidade? — ele parecia estar sentado no chão, conseguia ver a parede atrás dele.
— Além da prova de amanhã?
— Se alimentou bem hoje? — perguntou preocupando-se.
— Sim, a ajumma não me deixou ficar com fome. — assegurei a ele — E ela até me fez chocolate quente agora de noite.
— Você jantou?
— Sabe que não gosto de jantar se almoço… Mas os sanduíches estavam deliciosos. — brinquei fazendo-o rir.
— Está ansiosa para amanhã?
— Orando para manter meu coração em paz. — revelei.
— Mulher sábia. — ele sorriu e piscou de leve.
— É o que Provérbios me aconselha a ser. — afirmei.
— A mim também.
— Hum… Em que lugar você está? — perguntei curiosa.
— Na DP ainda, meu superior me pediu para estender o horário, mas logo irei para o alojamento.
— Quando vou te ver de novo? Já tem semanas desde o hospital. — indaguei.
— Você me vê quase todos os dias… — ele sorriu meio bobo.
— Você entendeu o que eu quis dizer. — fui mais firme na voz.
— Em breve terei alguns dias de férias, então siga juntando toda essa saudade. — seu olhar ficou um pouco mais malicioso.
— Ok, senhor Lee… Aguardarei com serenidade no coração por suas férias. — me senti meio tímida por seu olhar.
— Vamos orar agora, você precisa acordar cedo amanhã. — disse ele.
— Queria conversar mais com você. — reclamei.
— Amanhã à noite. — assegurou ele — Você escolhe a canção hoje.

Assenti com a face e fechei meus olhos. 

— Eis me aqui, prostrado outra vez… Pra tudo entregar… Pra tudo entregar… Leva-me, perto de Ti, Senhor… Anseio por ti… Anseio por ti… — iniciei o louvor num tom suave e baixo — Eu me rendo… Eu me rendo… Pra conhecer-te mais… Pra conhecer-te mais… Eu me rendo… Eu me rendo…  Pra conhecer-te mais… Pra conhecer-te mais… — então começou a louvar comigo, mantendo o tom suave da canção — Vento de poder, sopra em meu viver… Faz teu querer, faz teu querer, em mim… Como um vendaval, sobrenatural… Faz teu querer, faz teu querer, em mim.

Ele começou a oração agradecendo a Deus por nossas vidas e nosso casamento. Pelos livramentos na saúde e até mesmo por minha ida ao hospital. Pedindo para nos fortalecer sempre e manter nossa fé viva e firme nEle. Por mais alguns minutos oramos juntos e depois que terminamos, nos despedimos com um bom dia fofo e doce. Coloquei o celular na mesa de cabeceira e me deitei, puxando a coberta para me aninhar mais. Aquela cama era tão grande sem , mas estava em paz, pois sabia que o Espírito Santo dormiria ao meu lado como todos os dias.

No dia seguinte, acordei cedo e tomei um café da manhã reforçado. Antes de sair de casa, fiz uma breve oração em meu quarto consagrando a minha prova e entregando nas mãos de Jesus. Ajumma me levou de carro até a universidade e segui para a biblioteca. A avaliadora já me aguardava. Passei pelos procedimentos de entrada e escolhi uma mesa mais afastada. Assim que ela deu o sinal, comecei a fazer minha prova.

Se na noite anterior eu estava ansiosa e nervosa, achando que havia me dedicado pouco... Neste momento eu estava em paz e totalmente tranquila. Eu já sabia falar em coreano e escrever em hangul de forma fluente, só precisava mostrar a eles através daquela prova. Mesmo com a quarentena no ano passado e estudando mais em casa do que na universidade, eu melhorei muito minha pronúncia. E isso sem o menor esforço, somente tirando três horas do meu dia para praticar a escrita, e conversar com eles em seu idioma.

No final, ajumma Sora tinha razão em seu conselho. Me desesperar e voltar minha total atenção para coisas que consomem meu tempo, só me deixaria ansiosa. Minha prioridade era ter mais intimidade com Deus, e não desistiria da minha busca diária por mais da presença dEle na minha vida.

"Tudo o que eu tenho rendo aos Teus pés,
A mais ninguém,
Te dei meus fracassos,
E as vitórias Te darei também."
- Diz (You Say) / Gabriela Rocha

Chamada: Confiar mais nos planos de Deus.



62. II Pedro

Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, agora e para sempre! Amém.
- II Pedro 3:18

- x - 

Minha rotina diária havia mudado novamente. Agora que havia saído minha aprovação na prova com o resultado final de 92 créditos, eu iniciei meus estudos também no curso de design. Neste primeiro semestre letivo, mesmo entrando uma semana atrasada, conseguiria assistir às aulas gravadas e absorver o conteúdo já ensinado. Contavam-se sete matérias iniciais e percebi que a mais pesada de todas, era a matéria de desenho técnico. Felizmente eu já tinha aprendido um pouco com , o que ajudava no entendimento dos termos técnicos. E mesmo não sabendo que especialização eu seguiria daqui um ano, eu poderia explorar ao máximo minhas possibilidades, algo que busquei desde o início. Ter possibilidade de escolha era a melhor parte. 

Aulas pela manhã. Vídeos para o canal à tarde. Devocional à noite. Minhas tarefas me faziam viver os mesmos sentimentos da minha vida corrida no último ano do ensino médio. Porém, aquela sensação que me assombrava dizendo que eu não conseguiria, não tinha mais efeito desta vez. Minha certeza de que tudo que eu fazia era a permissão e orientação de Deus, espantava toda a insegurança que pudesse me atacar. 

— Você não imagina a correria que foi essa semana pra eu colocar todo o conteúdo em dia. — disse a Lira, pela videochamada.
— Mas pelo menos começou seu curso, isso que importa. — disse ela.

Vi uma movimentação vinda atrás dela, era Joseph chegando em casa. Surpreendente, minha irmã havia se casado com ele no mês passado. As coisas estavam acontecendo tudo de uma vez na minha vida, que nem consegui comemorar a notícia direito, mas estava feliz pela família que ambos estavam formando agora. Joseph merece ser feliz, principalmente depois que deixou o passado triste com seu pai para trás e o perdoou. E Lira… Seus olhos brilhavam sempre que mencionava o nome do esposo. Quem imaginaria que uma garota ainda mais tímida do que eu, teria coragem de se declarar primeiro.

— Joseph chegou aí? — perguntei.
— Sim, hoje ele chegou até cedo. — comentou ela.
— Dê bom dia a ele por mim.
— Pode deixar. — ela virou o rosto para o lado — A te mandou bom dia.
— Bom dia para ela também. — ouvi a voz dele soando ao fundo.
— Você ouviu? — perguntou ela.
— Sim. — assenti.
— E o
— Suas férias estão programadas para começar no sábado. — respondi.

Ainda era quarta-feira e não via a hora do final de semana chegar.

— Você deve estar ansiosa, né?
— Tô lutando contra, mas quero muito vê-lo. — confessei empolgada — Mas o que importa é que Deus tem guardado a vida dele nesse tempo difícil.
— Sim, ele está na linha de frente, né?
— Sim… E como estão as coisas aí no Brasil? — perguntei. — Conversei com meu pai ontem, ele me disse que vamos ganhar outro irmão.
— Pois é, isso me chocou também. — ela soltou uma risada baixa — Minha mãe é bem fértil.
— Sim. — eu ri junto — Nossos dias de filhas únicas acabaram de vez.
— Real oficial, e Samuel está muito fofo.
— Eu vi ele na videochamada, que coisa mais linda. — concordei — Queria muito pegar ele no colo.
— E ele está tão pesado.
— Imagino, meu pai sempre falava que eu era uma criança gordinha… — eu ri — Comia bem.

Ela riu.

— E como está com você? Sobre o lance do aborto? — ela me olhou mais séria — As vida tem passado tão rápido que não conversamos sobre isso.
— Eu estou melhor agora, no dia foi um baque, me senti super mal, mas agora eu entendo melhor as coisas e o propósito de tudo. — assegurei a ela — E continuo sonhando com mais filhos.
— Hum… E quem também vai ser mamãe em breve é a Layla. — comentou ela.
— Não brinca?! — eu sorri, alegre por minha amiga — Que legal, já vejo o Charles como um pai babão.
— É o que todo mundo diz aqui. — ela riu junto comigo.
— A Layla deve estar radiante. — comentei.
— Ela já fez até uma lista de possíveis nomes masculinos e femininos. — contou.
— Isso que é se preparar. — fiquei boquiaberta — E sua faculdade?
— Felizmente sigo plena não devendo nenhuma matéria, e já estou fazendo minha residência em pediatria. — seus olhos brilharam.
— Que fofo, estou feliz por estar realizando seus sonhos, seu ministério é mesmo cuidar de crianças, tanto no kids quanto na medicina. — disse a ela.
— Sim, e sou grata a Deus por isso, por meus sonhos estarem realizando. — disse ela, um pouco emocionada — E grata por sua vida, você tem parte nisso.
— Que isso…
— É sério, sua amiga significa muito e mudou minha vida, Deus te usou muito. — afirmou ela com segurança — Te amo irmã.
— Ahhh, eu também te amo, irmã.

Alguns minutos de conversa depois, Lira teve que encerrar a ligação para ajudar Joseph a encontrar alguma coisa na geladeira. Ela disse que ele nunca conseguia achar nada sem ela. Eu ri e nos despedimos. Assim que encerrei a ligação, voltei meu olhar para a porta do quarto e paralisei. estava encostado na parede, de braços cruzados e com um sorriso fofo no rosto. Além do olhar intenso para mim, aquele olhar que me deixava sem reação sempre.

?! — me levantei da cadeira ainda estática.
— Eu não mereço nenhum abraço de “bem-vindo ao lar marido”?! — perguntou ele num tom sugestivo.

Eu finalmente me toquei que era realmente ele e corri para abraçá-lo, sentindo seu perfume suave e amadeirado. Logo, ele me envolveu em seus braços num abraço forte e aconchegante. 

— Mas hoje é quarta. — sussurrei para ele.
— Não está feliz? — ele se afastou de leve e me olhou confuso.
— É que, se veio antes, talvez vá embora mais rápido. — disse minha teoria.
— Que mulher de pouca fé. — ele manteve o olhar carinhoso em minha — Ficaremos duas semanas juntos.
— Tem certeza? — perguntei.
— Sim, duas semanas a contar de sábado, fui dispensado hoje por ter horas extras de trabalhos noturno. — explicou ele — Teremos muito tempo para nós dois.

Ele me beijou de forma doce e suave, mantendo meu corpo mais próximo ao dele. Meu coração se acelerava sem pedir permissão. Era a saudade dentro de mim sendo expressada, deixando tudo mais intenso.

— Hum… Toc.. Toc… — a voz de ajumma soou da porta, nos interrompendo.

Meu olhar vergonhoso foi em sua direção. Principalmente por continuar com seus braços envolvidos a mim.

— Deseja alguma coisa ajumma? — perguntou a ela.
— Sim… Seu pai quer conversar com os dois. — disse ela.

Assentimos e seguimos ela até a sala. Esse era um dos pontos delicados em se passar os dias lá, privacidade. Claro que nas férias de , eu não pretendia ficar os 15 dias na casa dos meus sogros, por mais que amasse eles. 

— Pai. — segurava minha mão, e guiando-me até o sofá, nos sentamos lado a lado.
— Estou feliz que esteja em casa meu filho, sei que ainda faltam alguns meses para terminar seu serviço militar, mas já fico aliviado por estar bem e grato a Deus pela vida de vocês. — iniciou meu sogro.
— Deseja falar algo de importante para nós, sogro? — perguntei a ele.
— Sim. — seu olhar se mantinha sereno — Sabem que as igrejas voltaram a funcionar, com restrições, mas voltaram, tive uma breve conversa com Yuri, sua amiga , e ela me contou que tem acompanhado o canal de .
— Yuri, aquela moça que foi em nosso casamento? Do J-US Ministry? — perguntei a ele.
— Esta mesmo, e é sobre este assunto que quero falar. — confirmou meu sogro — já fez parte desta banda no ensino médio e teve que se ausentar quando começou a viajar comigo.
— Hum… — disse me lembrando dele ter falado sobre isso em algum momento.
— Mas o que este assunto tem relacionado a nós?! — perguntou .
— Yuri me pediu para entregar um convite a . — ele abriu sua Bíblia que estava na mesa de centro e me entregou uma carta.
— Para mim?! — peguei a carta de sua mão e abri para ler o que estava escrito.
— Então?! — perguntou .
— Ela está me convidando para fazer parte do J-US Ministry. — olhei para meio estática — O que eu faço?
— Ore e peça a Deus direção. — aconselhou meu marido, bem sábio de sua parte.
— O que você decidir querida, vamos apoiar. — assegurou ajumma Sora ao se sentar nos braços da poltrona em que o marido estava sentado.
— E não se apresse a tomar sua decisão, siga o conselho de seu marido. — completou meu sogro.

Assenti a eles e me levantei. Voltei para o quarto e ao fechar a porta, segui para cama e me ajoelhei aos seus pés. Faria sim o que havia aconselhado, pois todas as decisões em minha vida partiam do Espírito Santo e não de mim. Foram minutos ali, orando e sentindo algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu sabia que ser parte de um ministério de louvor era uma função muito importante e exigia ainda mais busca e unção de Deus. Levar a igreja a adoração é algo sério e importante, pois já tinha sido parte do louvor da igreja no Brasil. 

Confesso que ainda não sabia cem por cento qual era o meu chamado. Já tinha conseguido descobrir alguns dons e comecei a usá-los em favor da obra de Deus. Mas continuava a seguir meu propósito de descobrir qual era meu chamado de Gênesis a Apocalipse. E me sentia grata por ter descoberto muita coisa até ali. Mesmo faltando alguns livros, através de minha sogra eu percebi que meu chamado de II Pedro, era crescer em graça e conhecimento.

Não é à toa que a Palavra nos orienta a isso. E por mais que Deus capacita os escolhidos, ele segue a procura dos disponíveis e capacitados também. Principalmente quando pretende nos usar como exemplo e influência para outras pessoas. Algo que quero muito, é ser instrumento de Deus em Suas mãos. Ser útil para o Reino e um exemplo para os jovens da minha geração, e o primeiro passo eu já havia dado. Me coloquei totalmente disponível para ser usada pelo Espírito Santo, segundo a sua vontade. 

E se ser parte do J-US Ministry fosse também uma forma dEle me usar. A única coisa que faria, é me manter rendida a Ele. 

. —  disse ao entrar no quarto.
— Amém! — sussurrei ao limpar minhas lágrimas, e encerrar minha oração.
— Quer que eu ore por você?! — perguntou ele, fechando a porta.
— Agora não, mas quero sim. — me levantei e o olhei.
— Está tudo bem? — ele caminhou até mim.
— Sim.
— Tem certeza? — insistiu ele, segurando em minha mão.
— Sim, agora estou bem, coloquei na mão de quem pode decidir por mim. — assegurei a ele.
— Isso é bom. — ele sorriu de leve e me deu um selinho rápido.
— Quantos dias vamos ficar aqui na casa dos sogros? — perguntei curiosa.
— Você já quer ficar sozinha comigo, senhora Lee? — seu olhar ficou mais sugestivo.

Eu não me contive em soltar uma risada maldosa.

— Senhor Lee, só quero aproveitar cada segundo do tempo que disponibilizaram para passar comigo. — disse num tom mais formal, entrando em sua brincadeira.
— Sabes de uma coisa, senhora Lee?!
— Diga, senhor Lee.
— Também sigo desejoso a aproveitar mais deste tempo à sós com minha doce esposa. — ele tocou em minha cintura, aproximando mais meu corpo do dele — Eu te amo…

Ele nem mesmo me deu tempo para reagir à declaração e me beijou com ousadia e intensidade. Era incrível nossos reencontros após semanas separados e tens somente as videochamadas para aplacar a distância. A parte instigante de tudo isso? Todas as vezes, nossos momentos eram ainda mais apaixonados e cheios de ternura de ambas as partes. Nosso desejo um pelo outro crescia ainda mais, causando arrepios pelo corpo e acelerando o coração.

E quem disse que houve alguma preocupação com o café da manhã? Segundo os sussurros do meu marido, somente o meu amor saciaria sua fome naquele momento.

--

— Sogra, eu coloquei certo? — perguntei para ajumma.

Na manhã seguinte inventei de ajudá-la a preparar o café da manhã. Sora estava me ensinando a fazer Bingsu de chocolate, o doce favorito do meu marido. A receita até que era fácil e de poucos ingredientes, só utilizaria água, leite condensado, calda de chocolate e leite com chocolate. A parte complexa era a apresentação que enchia os olhos e como minha primeira vez fazendo, eu queria que ficasse bonito e convidativo.

— Sim… Com cuidado. — aconselhou ela me observando.
— Ok. — assenti.

Continuei a decorar com pedaços de chocolate branco, filetes de kitkat, alguns confetes também, além da calda de chocolate e o cacau em pó. O resultado final ficou bonito e eu levaria direto para o quarto. Felizmente, meus sogros eram discretos quanto a nossa demora em sair do quarto, todas as vezes que entrávamos, principalmente ao longo do dia. Mas os olhares curiosos de Sunny me deixava ainda mais vergonhoso com nossa estadia ali, sonhando em voltar ao nosso apartamento.

Assim que entrei em nosso quarto com a bandeja na mão e fechei a porta. Meu marido se remexeu da cama e me olhou. Foi inacreditável quando eu acordei com o despertador do seu celular e ele não. Aproveitei seu cansaço físico, desmontado na cama e me levantei primeiro para preparar algo especial para ele, já que a noite havia sido em claro. O que já era de se esperar.

— Bom dia. — disse ao me aproximar da cama.
— Bom dia. — ele sussurrou, erguendo seu corpo.

Parecia não estar acordado cem por cento.

— Conseguiu descansar?! — perguntei me sentando na cama e colocando a bandeja entre nós dois.
— Um pouco, foi estranho acordar e perceber que estava sozinho, mas não me contive em virar para o canto e dormir de novo. — ele riu — Estava mesmo cansado.
— Que bom que dormiu um pouco mais. — sorri para ele — Assim, deu tempo de preparar essa surpresa para você.

Seu olhar desceu até o Bingsu de chocolate.

— Uau, que surpresa. — ele voltou a me olhar, mais admirado — Foi você quem fez?
— Aprendi agora pela manhã. — contei a ele.

se manteve surpreso com minha revelação, então segurei uma das colheres que levei, peguei um pouco e dei em sua boca.

— Então?! Já posso me casar? — brinquei ao estilo brasileiro de ser.
— Se quiser, podemos renovar nossos votos agora. — respondeu ele, ao saborear o doce — Mas quero uma lua mel ainda mais deliciosa que a primeira.

Seu olhar intenso fez meu rosto corar de vergonha. Desviei o olhar sem saber como reagir. tocou minha face e se aproximando com cuidado de beijou de leve.

— Fica ainda mais linda assim, toda vergonhosa. — comentou ele, sorrindo de canto.
— Seu bobo. — bati em seu ombro e voltei a olhar para o doce — Vamos ao nosso café.

Ele assentiu pegando a segunda colher. 

Em minutos devoramos aquela tigela de doce. Havia mesmo ficado gostoso, para a minha primeira vez, aprendi bem. Ele se levantou e trocou de roupa. O missionário Han havia pedido que o acompanhasse em uma visita ao filho de um amigo. seguiu com o pai de carro até o destino deles, enquanto eu ajudei ajumma com a cozinha do café. Sunny estava encarregada de limpar o jardim naquela semana, então sempre dava um jeito de demorar mais um pouco para não ter que ajudar a mãe na cozinha.

— Então, gostou? — perguntou ajumma ao me observar secando as vasilhas.
— Sim, ficou muito gostoso, graças a Deus! — disse a ela.
— Que bom, fico feliz por isso. — ela sorriu de leve — Eu vou ao supermercado comprar algumas coisas que estão faltando para o almoço, quer ir comigo?
— Sim. — aceitei o convite.

Como meu percurso na rua estava sendo somente de casa para a universidade e vice-versa, caminhar um pouco para outros lugares seria bom também. E com as normas de restrição, era seguro ir aos lugares. Pensando mais sobre isso, mesmo que o uso de máscara não fosse obrigatório, a cultura coreana garantia essa segurança a todos, pois sempre que uma pessoa ficava doente no país, ela mesmo usava máscara para proteger as pessoas ao redor do contágio, principalmente em caso de doenças virais.

O dia estava bonito e o sol brilhando no céu. O verão coreano conseguia chegar ao mesmo nível do brasileiro em dias de maior incidência solar. Porém, mesmo com o sol quente, o clima seguia temperado com ondulações de brisas para refrescar o tempo. Aproveitei a ida ao supermercado para passar em uma loja de conveniência e comprar mais duas canetas e grafite 0,5. Minhas tarefas da faculdade consumiam muito da minha escrita, principalmente em História da Arte e do Design. Uma matéria gostosa e recheada de conteúdo teórico.

Na volta para casa, ajudei ajumma a colocar as compras na cozinha e segui para o quarto. Precisava terminar meu desenho técnico de diedros para entregar na manhã seguinte. Um ponto positivo de fazer um curso quase semelhante ao do marido? Ele tinha a maioria dos instrumentos utilizados. A começar pela régua T e os esquadros de 30 e 60 graus. Me sentei na banqueta e mantive meu olhar concentrado no desenho por um longo tempo.

— Como foi a visita? — perguntei a , ao perceber sua presença, mantendo o olhar no desenho.
— Foi boa, o filho do amigo do meu pai só precisava desabafar e de um ombro amigo. — contou meu marido ao se aproximar mais — Que concentração…
— Agora eu te entendo. — parei o desenho e o olhei — Estou terminando meus diedros impressionada com tudo que venho aprendendo.
— Se precisar de ajuda…
— Vou pedir com certeza. — garanti.
— Ajudei com prazer. — ele me deu um selinho e sorriu — Vejamos…

Ele voltou seu olhar para o desenho, analisando meu traço.

— Você desenha muito bem. — elogiou ele — Não tão bem quanto eu, mas…
— Onde foi parar sua modéstia? — comentei arrancando risos dele.
— Seu desenho está muito bom mesmo. — continuou ele, mais sério — Já escolheu a especialização?
— Ainda não, sinto que quero um pouco de cada coisa, exceto gráfico, deixo isso para o Davi e a moda também, é mais a cara da Yasmim. — brinquei — Mas fiquei atraída por produto e interiores.
— Ambos trabalham juntos em alguns segmentos, como arquitetura e o design. — explicou ele — Você não precisa seguir somente uma especialização se quiser mais.
— O professor de desenho técnico falou a mesma coisa. — comentei.
— O professor Kim?!
— Ele mesmo.
— Ele é o melhor de todos os professores de desenho técnico, aprendo o máximo que puder com ele. — aconselhou .
— Farei isso. — sorri de leve — Agora, preciso vencer esse desenho e terminá-lo.
— Vou tomar um banho, assim não te atrapalho. — ele riu.

Voltei minha concentração para o desenho. Foi trabalhoso terminar aquelas pranchas, mas consegui. Pouco antes de dormir, me chamou para fazermos nosso devocional juntos. Nos sentamos na cama e começamos a estudar o livro de I Coríntios. Ele havia proposto isso para mim, nos quinze dias em que ficaria de férias. Seria divertido estudar a Bíblia com meu marido, e ao mesmo tempo uma oportunidade de aprender mais de Deus. 

Nosso propósito do momento: conhecer ao Senhor para sermos ainda mais usados por Ele.

"I surrender
Eu me rendo
I surrender
Eu me rendo
I wanna know You more
Eu quero conhecê-lo mais
I wanna know You more
Eu quero conhecê-lo mais

Like a rushing wind
Como um vento apressado
Jesus breathe within
Jesus respira dentro
Lord have Your way
O Senhor tem o seu caminho
Lord have Your way in me.
Senhor me conduz pelo teu caminho."
- I Surrender / Hillsong Worship

Chamada: Crescer em graça e conhecimento.



63. I João

No amor não há medo; ao contrário, o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
- I João 4:18-19

- x - 

Sábado chegou e como planejado voltamos ao nosso apartamento após o café da manhã. Felizmente as restrições estavam mais brandas pelas primeiras vacinas que foram introduzidas na sociedade. O ponto negativo, não chegava a 100% de garantia, mas era um sinal de esperança para as pessoas. teve a ideia de termos um encontro naquele dia. Sol de primavera, dia refrescante e meu marido ao lado. Era a ideia perfeita. 

Seguimos a pé para o rio Cheonggyecheon. Um lindo cartão postal de Seoul. Não tinha muitas pessoas presentes, o que nos proporcionou um momento único nosso no lugar. Ver o brilho nos olhos de toda vez que me olhava, deixava meu coração aquecido e mais derretido ainda.

— Sinto falta disso. — comentou ele num tom baixo.
— Do que?
— Estar de mãos dadas com você, caminhando juntos sem restrições. — ele parou e me olhou — Desde que nos casamos, tivemos poucos momentos juntos. 
— Sim. — concordo.
— Me perdoe por isso, eu deveria ter servido antes, assim não ficaria tanto tempo sozinha agora. — seu olhar ficou triste.
— Não deve me pedir desculpas. — sorri para ele com carinho — Se está servindo agora, é por um propósito de Deus, tudo o que estamos passando é para nosso aprendizado e crescimento.

Ele sorriu de volta e acariciou minha face com a outra mão. Seu olhar ficou mais sereno.

— Eu te amo. — sussurrou ele.
— Eu também te amo. — sussurrei de volta. 

Voltei meu olhar para frente, observando a fraca correnteza das águas do rio. Por um breve momento me lembrei de tudo o que tinha acontecido em minha vida desde quando me mudei para Belo Horizonte com meu pai. Havia conhecido pessoas, ajudado pessoas, criado amizades e muitas memórias, e tudo me direcionou para este momento com . Alguns questionamentos vieram então, e se eu não tivesse seguido para Minas? Se tivesse morado com meus avós? Teria conhecido ele? E se tivesse deixado o medo me paralisar? Onde eu estaria agora? Meu coração seguia tranquilo e grato a Deus por toda coragem que me deu através do seu amor.

— Ainda temos um longo dia de sol pela frente, que tal um piquenique? — sugeriu ele.
— Aqui? — o olhei estranhando — Sabe que não podemos abusar, não é?
— Claro que sei, mas olha, estamos praticamente sozinhos… — ele me puxou para segui-lo — Vamos comprar alguma coisa.

Seguimos para uma loja de conveniência para comprar comida. Enquanto entrou na seção de bebidas, segui até a prateleira de salgadinhos. Era complicado para mim escolher, já que a maioria das opções eram acompanhadas de mel, salgado com doce ao mesmo tempo. Ainda não conseguia entender essa lógica do paladar coreano. Porém, lá no fundo da prateleira e escondidos, encontrei pacotes de Doritos que não comia há tempos, peguei logo dois, juntamente com um pacote de salgadinho de queijo e mel para o meu marido. Claro que algumas caretas à parte, não deixaria de comprar sua marca favorita. 

Nos encontramos no caixa e pagamos tudo, ao voltar para o rio, sentamos em um degrau afastados e começamos a devorar nosso lanche. Como era bom um pouco de ar puro e frescor da primavera. Após meses em casa, vendo a luz do sol pela janela, estar ali com ele era o recarregar das energias e das nossas esperanças.

— Como está indo seu canal? — perguntou , mantendo um olhar curioso em mim.
— Prosperando, graças a Deus. — sorri com timidez e voltei meu olhar para o salgadinho — Chegamos a trinta mil inscritos e eu ainda estou chocada.
— Muita gente. — comentou ele.
— Sim. — concordei — Davi está confiante que até o final do anos podemos alcançar nossa meta de cem mil e ganhar a plaquinha de prata.
— Continue se dedicando que logo terá. — motivou ele, abrindo um sorriso fofo para mim — O que faz é muito bonito, principalmente por ser diferente dos outros canais relacionados ao meu país.
— Verdade, não é fácil chamar a atenção das pessoas quando criamos um conteúdo com a visão cristã, mas estou feliz por poder fazer algo diferente e de certa forma criativo também. — sorri de volta — Só preciso me acostumar com redes sociais, o Davi disse que manter o Instagram atualizado ajuda, mas olha minha cara de quem gosta de postar fotos.

Ele riu de mim.

— Não seja por isso. — ele retirou seu celular do bolso e logo tirou uma foto minha — Agora só postar dizendo que está fazendo piquenique comigo.
— Sei. — eu ri dele — Você já deu seu testemunho no seu canal?
— Qual deles? — perguntei.
— Sobre nossa corte. — explicou — Tenho certeza que muita gente vai ficar curiosa para saber sobre isso, que tal fazer alguns vídeos falando sobre o assunto?
— Tenho uma leve resistência em falar da minha vida, apesar de muitas pessoas já terem perguntado nos comentários sobre a aliança no meu dedo. — analisei por um segundo sua sugestão — Acho que não seria tão ruim assim falar sobre isso.
— Não seria tão ruim?! — ele fez uma cara estranha.
— Não será ruim. — consertei minha fala.
— Que tal fazermos um vídeo agora? — ele balançou o celular.
— Sério? — fui pega de surpresa.
— Sim, todos os outros vídeos foram dentro do apartamento, acho que nada melhor que este lugar para falar sobre algo tão inspirador quanto a corte. — reforçou ele, sua sugestão.
— Tudo bem, então. — assenti.

Eu não sabia o que diria no vídeo, mas o tinha para me ajudar com o roteiro improvisado. E sim, fez questão de dar seus palpites sobre o assunto, no meio da gravação. Infelizmente, ele não pode aparecer por motivos óbvios do serviço militar, mas foi bonito nossa interação na filmagem. Um vídeo de quinze minutos que explicou inicialmente o que era a corte e como iniciamos a nossa há anos atrás. Era incrível pensar que depois de nós dois, outros casais na minha igreja no Brasil também tinham seguido nosso exemplo, Lira e Joseph, Isla e Pietro, Madu e Pablo, dentre outros que iniciaram na corte e só finalizaram no altar trocando alianças.

Não é fácil ir na contramão do mundo. Confesso que tive medo de dar errado diversas vezes, principalmente depois de vir para a Coreia. Entretanto, minha segurança sempre esteve em Deus e na sua promessa de sempre estar no controle de tudo em minha vida. E foi o que fiz, apenas me deixei ser conduzida pelo Espírito Santo, que conduziu cada decisão que tomei. Após terminar o vídeo, ele enviou para Davi do seu celular mesmo, então peguei o aparelho de sua mão e gravei um áudio explicando algumas coisas ao meu amigo. Fizemos mais algumas filmagens minhas caminhando pelo rio, queria aproveitar ao máximo nosso tempo juntos e fora de casa.

— Linda! — disse ele, de repente me dando um selinho na bochecha — Te amo!

Me encolhi envergonhada, por uma senhora que passava perto e nos olhava curiosa. Então ele segurou minha mão novamente e me puxou para ele, me abraçando.

— Seu louco. — eu tentei me afastar, com ele me aproximando mais — Estamos em pandemia ainda.
— E daí?! Moramos na mesma casa e dormimos na mesma cama. — disse ele tranquilamente, com alguns olhares tortos em nossa direção — E por falar em cama…

Eu caí na gargalhada com seu tom sinuoso. 

— Não ria, minha sugestão é muito séria. — ele tentou me repreender, mas acabou rindo junto.
— Bobo. — disse rindo mais — Que tal um cinema no final da tarde? Sugeri a ele.
— E o que vamos ver? — perguntou ele, se afastando um pouco.
— Não sei, o que estiver em cartaz. — sugeri.
— Acho que é uma boa ideia, e ainda consigo arrancar alguns beijos da minha esposa no escuro do cinema. — ele piscou de leve.

Não me contive em rir mais dele.

Seguimos direto para o shopping. Após passar pelos procedimentos na entrada, demos algumas voltas aleatórias olhando as vitrines. Algumas lojas só permitiam acesso com hora agendada, já outras seguiam com venda online e sistema de retirada na loja física. Era impressionante como o mundo havia mudado e seguia se adaptando à nova realidade trazida pela Covid-19. Entramos na sala 5 e nos sentamos mais ao fundo. O filme até que foi bom, apesar de não me lembrar do nome. Uma produção coreana de romance histórico da era Goryeo, me lembrando inúmeros doramas que assisti sob influência de Sunny.

A volta pra casa foi tranquila, e caminhando sob a lua e a brisa noturna. Passamos em outra loja de conveniência na esquina da rua e comprou algumas coisas que faltavam. Apesar dele ter planejado fazer a compra do mês para mim na segunda, ainda comeríamos no final de semana. E passaria a lámen de diversos sabores. Ah, isso me deu uma saudade do tradicional arroz com feijão brasileiro, regado a bife com batata frita e salada de tomate. O prato mais simples e cultural do meu país. Não que a culinária coreana fosse ruim, pelo contrário, a diversidade de vegetais nos pratos enriquecia muito a qualidade da refeição, mas criar novo hábitos alimentares não era fácil.

— Chegamos. — disse ele assim que passamos pela porta do apartamento, e eu a fechei passando a volta na chave.
— Finalmente, agora me senti cansada. — comentei caminhando até a sala, coloquei minha bolsa na mesa de centro.
— Essa pandemia te deixou mesmo sedentária, senhora Lee. — disse ele, seguindo para a cozinha com as sacolas de compras.
— Não, eu dei algumas voltas no quarteirão com a Sunny no meu período na casa dos sogros. — argumentei — Não fui tão sedentária assim.
— Então é a idade. — escutei uma risada baixa dele.
— Está me chamando de velha?! — o olhei me fazendo a ofendida.
— Que isso querida, jamais. — ele riu mais abertamente.

Nós rimos. Segui para o quarto e peguei minha toalha. Precisava de um banho relaxante para chegar o corpo no lugar. Olhei de relance para cama e me lembrei da última vez que olhei para ela, no dia em que fui para o hospital. Automaticamente minha mão tocou em minha barriga, imaginar que havia um ser dentro de mim era louco. Eu não sentia mais tristeza ou dor por aquela perda, pelo contrário, meu coração seguia esperançoso pelas surpresas que o Espírito Santo ainda reservava para mim.

Voltei meu olhar para a porta que dava para o corredor e estava encostado me olhando. Com um sorriso singelo no rosto e um olhar carinhoso.

— Sabe a melhor parte de se ter filhos? — perguntou ele, vindo em minha direção.
— Qual?! — indaguei, sem entender sua pergunta.
— Fazê-los. — ao se aproximar de mim com um sorriso malicioso, ele beijou de leve meu pescoço.
— Não comece senhor Lee, combinamos de não ter filhos por agora. — encostei de leve minha mão em seu tórax, o olhando sério.
— Isso não nos impede de praticar. — ele piscou de leve.

Eu soltei uma gargalhada boba.

— Acho melhor você tomar banho primeiro, e gelado. — sugeri, lhe entregando a toalha em minha mão.
— Essa toalha cabe nós dois. — ele pegou e sorriu novamente.
— Senhor Lee, que audácia. — ri dele.

se aproximou mais de mim, tocando meus lábios com os seus de forma suave e doce. Meu marido sabia ser convincente e persuasivo, deixando toda sua intensidade para o nosso banho em conjunto que demorou um longo tempo para terminar. Bem, na verdade, foram mais que um banho, talvez chegamos a quatro, ele parecia animado mesmo com um dia cheio de caminhada e descontração ao ar livre.

— Estou com fome. — reclamei, ao erguer meu corpo, permanecendo sentada na cama.
— O que deseja comer? — senti sua movimentação erguendo seu corpo, e logo encostou seus lábios em meu ombro direito.
— Não sei, você poderia me surpreender com seus dotes da gastronomia coreana. — sugeri segurando o riso.
— Isso vale para o preparo de um lámen? — perguntou ele, num tom risonho.
— Senhor Lee… — voltei meu rosto para o lado e o olhei — Assim me desaponta.

Ele piscou de leve e sorriu meio bobo.

— Seu marido vai te alimentar. — após um selinho rápido, ele se levantou e seguiu para porta.
— Senhor Lee, não seria melhor fazer isso usando roupas?! — sugeri meio envergonhada pela cena.

Ele parou no meio do caminho fazendo uma cara estranha. Segurando o riso, pegou uma calça de moletom na gaveta e a vestiu. Eu tentei, mas acabei rindo dele, que continuou agindo com toda naturalidade. Me espreguicei da cama e voltei meu corpo para trás, já que ele estava incumbido de preparar a refeição, não seria pecado eu tirar um cochilo enquanto isso. E que cochilo. Algo que durou longas horas de sono, que me fizeram despertar já de madrugada, com ao meu lado adormecido, com o braço envolta de mim.

— Por quanto tempo eu dormi? — sussurrei para mim.

Me movi com cuidado para não acordá-lo e levantei da cama. Segui para a cozinha com minha barriga fazendo barulhos pelo caminho. Mesmo um pouco sonolenta, encontrei um prato de lanche preparado para mim no microondas, com um bilhete extremamente fofo dele. Após me alimentar, ao passar pela sala, notei que a Bíblia de estava na mesa de centro, com seu caderno de estudos bíblicos. Certamente ele havia aproveitado o momento de silêncio para fazer seu devocional na sala. Me aproximei e me ajoelhei em frente, olhei para página em que estava aberto.

— I João 4:18. — sussurrei ao ler o livro e capítulo — O verdadeiro amor lança fora todo medo.

Completei em minhas palavras. 

Após tanto tempo em busca do meu chamado de Gênesis a Apocalipse, em I João eu aprendi a não ter medo, pois o amor de Cristo é minha força, coragem e segurança.

"사랑은여기있으니내게찾아오셨
O amor está aqui então você veio para mim
그가먼저사랑하사아들보내주셨
Ele primeiro me amou e mandou Seu Filho
사랑은여기있으니내게찾아오셨
O amor está aqui então você veio para mim
그가먼저사랑하사아들보내주셨네.
Ele primeiro me amou e mandou Seu Filho."
- Love Is Here / J-US Ministry

Chamada: O amor de Cristo é a nossa coragem. Não tenha medo!



64. II João

E este é o amor: que andemos em obediência aos seus mandamentos. Como vocês já têm ouvido desde o princípio, o mandamento é este: Que vocês andem em amor.
- II João 1:6

- x - 

Após passar algum tempo na sala orando ajoelhada em frente a Bíblia do meu marido, me levantei do chão e voltei à cozinha para pegar um copo de água. Tomei com tranquilidade e voltei para o quarto. Assim que deitei na cama novamente e me cobri, envolveu seu braço em mim, me aninhando a ele.

— Comeu direito? — sussurrou ele.
— Sim. — assenti — Não estava dormindo?
— Estava. — manteve o tom baixo e sonolento.
— Te acordei?
— Não. — continuou.
— Vamos dormir. — disse a ele.
— Vamos. — concordou.
— Bom dia. — sussurrei, fechando meus olhos.
— Bom dia. — sussurrou ele, puxando meu corpo para mais perto.

Não demorou muito, até que peguei no sono novamente. Dormi tão bem, que só acordei na manhã seguinte e depois do meu marido. Que saudades de acordar com o cheiro gostoso da cozinha invadindo todos os cômodos do apartamento, e ouvindo cantando louvores enquanto preparava panquecas americanas para o café da manhã. Meu coração se aqueceu ao chegar na cozinha e ver a cena. Contudo, meu corpo arrepiou com seu olhar provocativo e uma piscadela básica em seguida. Tinha que admitir, ele ficava ainda mais atraente com aquele avental se fazendo o master chef.

— Bom dia, senhora Lee. — disse ele, voltando seu olhar para a frigideira.
— Bom dia, senhor Lee. — respondi, dando mais alguns passos até a cadeira e me sentando.
— Dormiu bem? — perguntou ele.
— Sim, tanto que nem te vi levantar. — confessei — Nada melhor que a cama da gente.
— Por que será que sempre que fala a palavra cama, me vem pensamentos provocativos? — ele me olhou de forma sugestiva.
— Seu tarado. — disse.
— Não me olhe assim, todos os pensamentos que tenho são com você. — ele se fez ofendido.
— Que bom, não se esqueça que Deus sonda tudo, ok?! — sorri de leve, mordendo o lábio inferior.

piscou de leve.

— És a minha amada, a quem toma meus pensamentos para si. — disse ele, a um tom estilo Cantares — Mas claro que Jesus é o primeiro e só penso em você por que ele me permite.
— Obrigada Senhor pelos pensamentos do meu marido. — continuei sorrindo grata a Deus por sua vida e meu casamento.
— Amém! — disse ele, voltando sua atenção para o que cozinhava.

Mantive meu olhar nele, observando-o preparar tudo. Logo que ele se sentou na cadeira ao meu lado, demos as mão e agradecemos a Deus pelo nosso alimento. Como sempre, suas panquecas estavam deliciosas. Valeu a pena jejuar pela minha vida sentimento e ainda detalhar para Cristo que eu queria um marido que soubesse cozinhar. Confesso, eu sempre achei lindo e romântico um homem cozinhando, e os doramas coreanos só ajudaram a aumentar minha fascinação por isso. Após o café, o expulsei da cozinha e me comprometi em lavar as vasilhas sujas. Um ponto negativo? era como meu pai, cozinhava bem, mas a cozinha terminava um desastre. Não dá pra ser perfeito em tudo, não é?! Enquanto , se distraiu com a televisão vendo um programa de entretenimento coreano que passava na MBC, continuei guardando as vasilhas que lavei.

As horas se passaram e me juntei a ele na sala. Nossa programação do dia foi preenchida com alguns capítulos do dorama atual que passava na SBS, dois capítulos da segunda maratona de O gambito da rainha na Netflix, que ele me propôs. Paramos algumas vezes para nos alimentar, mas estava divertido assistir episódios aleatórios de séries na televisão. Sempre com vários comentários engraçados dele e possíveis desfechos alternativos sendo narrados por mim. Com muitas gargalhadas nossas pelo caminho e alguns beijos roubados de sua parte.

— Quem seria a essa hora? — perguntei assim que o interfone tocou.
— Eu atendo. — disse se levantando do sofá e ajeitando a camisa em seu corpo. 

Assim me levantando também e fui até o quarto para colocar o sutiã e trocar de roupa. Vai que a visita inesperada fosse Sunny ou meus sogros. Quando voltei para sala, meu marido já havia desligado o interfone e mantinha seu olhar sério.

— O que foi? — perguntei já me preocupando.
— É pra você. — disse ele.
— Para mim? — me surpreendeu — Quem?
— Uma pessoa que não conheço. — disse ele.
— Hum?! — achei estranho, afinal eu não conhecia muitas pessoas na Coreia, e as que conhecia também pertenciam ao círculo social dele.

Assim que a pessoa bateu na porta, abriu revelando quem era. Me paralisei ao ver Kim Sooyoung com vários machucados e hematomas por seu corpo. Um aperto no peito me veio, ao observar as lágrimas no canto de seus olhos sendo reprimidas com esforço.

. — sussurrou ela.

Não me importei com pandemia, restrição ou Covid-19. Somente tive reação para me aproximar dela e lhe dar o abraço mais acolhedor que eu poderia. Logo ela desabou em lágrimas, aceitando o meu abraço. Como ela tinha descoberto meu endereço? Eu não sabia, mas somente desejava lhe ajudar e mostrar que não estava sozinha, ela tinha um Deus por ela, que a amava e protegeria. A única coisa que eu queria era poder mostrá-la isso.

— Senta aqui. — disse a ela, depois que a trouxe para dentro e a guiei para o sofá — O que aconteceu? Como me encontrou?
— Eu pedi seu endereço a sua sogra. — explicou ela — Me desculpe, eu não queria incomodar, mas só consegui pensar em você para me ajudar…

Ela chorou mais um pouco. Eu olhei para que pacientemente trazia um copo de água com açúcar na mão, me entregando.

— Aqui, tome isso e tente se acalmar. — disse a ela, lhe entregando o copo — Respira fundo, você está segura agora.

Claro que não precisava de explicações para todos aqueles hematomas em seu braço, sem os pequenos cortes pelo corpo. Meu coração doía ao imaginar que novamente minha nova amiga havia sido agredida pelo marido. Uma pessoa que deveria protegê-la e amá-la como Cristo ama a sua igreja.

— Eu não tenho para onde ir, não posso voltar. — disse ela, com o olhar cheio de medo.
— Fiquei calma, vamos te ajudar. — assegurei a ela, voltando meu olhar para .

Meu marido é o sacerdote de nossa casa, minha cobertura e suporte. Então, eu estava deixando a decisão a seguir nas mãos dele, demonstrando com meu olhar que eu queria muito ajudá-la. sabia não com muitos detalhes o que estava acontecendo com ela.

— Ela não pode permanecer assim, deve fazer uma denúncia de violência doméstica, se continuar em silêncio, escondendo a verdade, nada vai mudar em sua vida. — disse ele, de forma sábia e assertiva.
— Eu não consigo fazer isso, não sozinha. — explicou ela, num tom baixo.
— E seus pais? Não contou a eles como eu te aconselhei? — perguntei.
— Não tive coragem. — respondeu.

Olhando para ela, tive empatia. Sooyoung precisava de forças para conseguir sua liberdade do cativeiro que vivia em forma de casamento.

— Vamos levá-la para casa dos meus pais, é mais prudente. — disse , como uma palavra final.

Assenti sem contestar, ele estava certo. O missionário Han com certeza poderia nos ajudar com aquela situação. Peguei minha bolsa e seguimos para casa dos meus sogros. Quando chegamos, ajumma Sora nos recebeu na porta e ficou ainda mais sensibilizada com os relatos de Sooyoung. Meu sogro se prontificou a ficar responsável por ela, juntamente com minha sogra, e felizmente a convenceram a fazer a denúncia. Ajumma enviou uma mensagem ao grupo de mulheres intercessoras da igreja, para que orassem em favor da vida de Sooyoung, afinal, ela realmente precisava sentir o amor de Deus por ela, para enfrentar o que estava por vir.

Infelizmente, assim como todos os países, a Coreia tinha seu ponto negativo. Sendo um país muito conservado, havia um forte machismo velado que só se via quando casos como os da Kim surgia em meio a sociedade. Já tinha visto muitos relatos de namoradas agredidas por namorados celebridades que saíram impunes e continuaram suas carreiras como se nada tivesse acontecido. Eu não queria isso para ela, não desejava que fosse somente mais uma na estatística e ainda saísse como a vilã da história. Ela era a vítima e deveria ser tratada assim, com respeito e empatia.

— Eu ainda estou em choque que ela e você, se tornaram amigas. — disse Sunny ao se sentar no chão da sala e me olhar.
— Eu te disse que tinha me esbarrado com ela no aeroporto. — relembrei a minha cunhada.
— Mas não imaginava que tinha acontecido isso tudo. — argumentou — Esbarrar em pessoas ricas no aeroporto é bem comum, eu já esbarrei algumas vezes com um ou dois membros de grupos de kpop famoso… Uma pena que não foi o EXO.

Seu rosto transpareceu frustração.

— Demora muito para registrar a queixa? — perguntei a , que se mantinha de pé, próximo a janela.
— Não. — respondeu ele, mantendo o olhar no jardim — O que demora é o exame de corpo de delito.
— Hum… — assenti.

Mais um tempo se passou, até que meus sogros retornaram com a Sooyoung. Ajumma a levou para o quarto de Sunny, assim poderia tomar banho e se trocar, para ficar mais confortável. Meu sogro nos contou o que aconteceu e explicou todos os procedimentos que ocorreriam agora. Kim Sooyoung havia aberto um processo contra o marido, e deveria ser firme em mantê-lo até o final. Pois vários casos de mulheres que retiraram a queixa após um acordo eram noticiados, porém se ela realmente estivesse disposta a seguir a verdade, deveria se manter obediente aos nossos conselhos…

Pois teria em Deus a força necessária para suportar tudo o que estava por vir.

"Eu sei que, mesmo sem entender, Você está no controle
Então, me esconda no Teu coração
Me amarre a Ti pra eu não desistir.

Eu não quero mais fugir da Tua vontade pra mim
Eu sei que vai ser difícil
Mas Você estará sempre comigo."
- Aquieta Minh'alma / Ministério Zoe

Chamada: O amor gera a obediência.



65. III João

É, pois, nosso dever receber com hospitalidade irmãos como esses, para que nos tornemos cooperadores em favor da verdade.
- III João 1:8

- x - 

Após ajumma Sora acomodar Sooyoung no quarto de Sunny, minha cunhada ficaria por enquanto no quarto de . Antes de voltar para nossa casa, fizemos uma oração pela vida dela, todos em conjunto na sala em um só propósito. Assim que chegamos em nosso apartamento, segui direto para o banheiro, para tomar um banho relaxante. Quando voltei para sala, já estava na cozinha preparando lámen para nós dois. Foi um final de noite turbulento que nos fez desmontar na cama e dormir a noite toda. 

Na manhã seguinte acordei antes dele, para variar. Após fazer minha oração em gratidão por mais um dia, segui para a cozinha para preparar o café da manhã. Desta vez me empolguei um pouco e resolvi fazer bolinho de chuva para matar a saudade do Brasil. Ao terminar, voltei para o quarto para acordá-lo. Porém, ao abrir um pouco mais a porta, o vi ajoelhado nos pés da cama, orando. Mantive um olhar singelo para ele com um sorriso bobo no rosto. Sempre me derretia ao ver orando, não somente por sua vida, mas também por mim e por nosso casamento. 

— Amém! — disse ele, ao terminar sua oração.
— Amém. — disse abrindo um pouco mais a porta.
— Está aí. — ele se levantou e me olhou — Por que não se juntou a mim.
— Já fiz minha oração da manhã, além do mais, você estava num ritmo tão suave e bonito, não quis atrapalhar. — expliquei entrando mais no quarto — O café está pronto.
— Eu já disse que você é meu café?! — disse ele num tom malicioso.
— Eu já disse que isso é contra os princípios bíblicos? — segurei o riso.

Ele veio até mim e me pegou no colo, me dando um beijo mais intenso.

— Depende da forma em que se coloca este termo. — ele piscou de leve e continuou o beijo.

Café da manhã… 

As pessoas dizem que é a refeição mais importante do dia, mas pela vontade do meu marido, adiamos um pouco esta refeição para saciar outro tipo de desejo. E não era somente ele que estava desejoso no momento. E de fato, tenho que admitir que passar tanto tempo longe dele, fazia as coisas se intensificarem mais ainda em nosso momento íntimo. Quanto mais ele investia, mais acesso eu lhe concedia.

— Você estragou minha surpresa do café da manhã. — cruzei os braços, ainda sentada na cama, olhando-o trazer a bandeja com o café para cama.
— Já disse que você é o meu café. — brincou ele segurando o riso.

O observei ajeitar a bandeja em cima da cama, então se aproximou para me dar um selinho.

— Você deve morrer de fome na DP não é?! — observei comigo.
— Você nem imagina o quanto. — ele fez uma cara de criança abandonada.

Não me contive e ri de leve dele.

— Mas o que importa, é que este café foi preparado para você. — disse ele.
— Não, eu queria ter trago, sabe… Uma surpresa para meu marido… — argumentei, invalidando o que ele disse.
— Ter você todos os dias na minha vida foi a maior e melhor surpresa de Deus para mim. — ele abriu um singelo sorriso — Eu te amo.

Eu me impulsionei e o beijei com doçura. Mantendo nossos rostos próximos por um tempo.

— Eu também te amo. — deslizando a bandeja para o lado, sussurrei — E você também é o meu café…

Foi proposital? Inteiramente. 

Afinal, quem precisa de café quando se tem o marido militar em casa por quinze dias?

--

Mantive contato pelo celular com Sooyoung ao longo da semana. 

No sábado, fomos para casa dos sogros para tomar café da manhã. Aproveitei o momento para conversar mais com ela e saber se tudo estava melhor internamente.

— Como tem se sentido ao longo dessa semana? — perguntei ao segurar em sua mão com gentileza.
— Estou mais tranquila e menos temerosa. — confessou ela — Ainda acordo no meio da noite achando que Jinho vai entrar e me levar de volta para sua casa.
— Imagino que seja horrível pra você passar por isso, mas permaneça firme e não desanime, essa tempestade vai passar. — disse a ela, mantendo o tom sereno e acolhedor — O que importa é sua segurança e seu bem estar, já liberaram a medida protetiva, ele não pode se aproximar de você.
— Sim. — concordou ela — Meus pais vieram aqui na quarta, foi difícil para eles acreditarem no que ouviram, mas as marcas no meu corpo não foram feitas sozinhas e ele acreditaram em mim no final.
— Isso é bom, o apoio deles é importante nesse momento. — assegurei.
— O advogado da igreja de vocês disse que vai poder me representar no processo contra Jinho, mesmo ainda receosa, assegurei a ele que não vou desistir, ele precisa responder pelo que fez. — garantiu ela.
— Você está fazendo o certo. — demonstrei meu apoio.
— Só quero que esse tormento acabe e que eu possa viver finalmente. — disse ela.
— Vai dar tudo certo, basta apenas ter fé. — sorri de leve e a abracei com carinho.

Não somente de ajuda, mas Sooyoung precisava ser acolhida de verdade. 

Estava grata a Deus por meus sogros terem abraçado sua causa.

Grata em poder ajudá-la de alguma forma…

Mesmo que através de minhas orações.

"Luto contra vozes que me dizem
Que eu não sou capaz
Contra enganos que me dizem
Que eu não vou chegar lá.

Meus altos e baixos
Nunca vão medir o meu valor
A Tua voz me lembra
E me diz quem realmente sou."
- Diz (You Say) / Gabriela Rocha

Chamada: Acolher os irmãos em favor da verdade.



66. Judas

Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm, orando no Espírito Santo.
- Judas 1:20

- x - 

Passei mais um tempo conversando com ela, encorajando mais ainda para que seguisse seus sonhos e sua vida com paz e tranquilidade. 

Nos dias que seguiram... 

Kim Sooyoung permaneceu hospedada na casa dos meus sogros, até conseguirmos vaga em um Airbnb de uma missionária da igreja. Com o retorno dos cultos presenciais porém reduzidos na J-US Worship, pude me aproximar de Yuri e conversar com ela sobre a sua proposta para me juntar ao grupo dela. 

— Só de estar aqui, já é um bom sinal. — disse ela, com um brilho nos olhos, ao entrarmos no estúdio de música.

De imediato reconheci o cenário montado, de um dos mvs, music video, do grupo. Ou seria banda? Bem, eu já tinha uma grande admiração pelo J-US Ministry e suas canções que tocam fundo o meu coração. Conhecendo-os de perto agora, me sentia privilegiada por mais uma vez estar sendo guiada por Deus a exercer o cumprimento do ide mais um vez através do louvor.

— Reconhece o lugar? — perguntou ela, com um sorriso escondido.
— Sim, já vi esse cenário em muitos vídeos de vocês. — respondi — São bem caprichosos, o lugar é muito bonito.
me contou que você iniciou o curso de design de interiores, sempre estamos contando com a cenografia para deixar o ambiente o mais acolhedor possível. — comentou ela, indo até uma banqueta e se sentando — Ele também faz parte do nosso grupo.
— O ? — a olhei surpresa — Ele não me disse nada sobre isso.
— Bem, ele se afastou um pouco por causa das viagens ao Brasil e agora do serviço militar, mas mesmo assim, o consideramos do grupo ainda. — explicou ela.
— Hum… — aquilo me deixou intrigada, por ele não ter mencionado.

Talvez por não querer me influenciar a aceitar o convite, com esta informação. Permaneci em paz com isso, era divertido a cada dia descobrir algo novo sobre ele através de alguém.

— Eu confesso que ainda me sinto temerosa, por tanta responsabilidade, o J-US tem uma visibilidade grande não só na Coreia, mas em outros países também. — iniciei minha resposta — Além de tudo isso, eu sou estrangeira.
— Melhor ainda, mostra que os louvores ao Senhor não tem fronteiras, sejam elas físicas ou culturais. — argumentou ela e continuou — Vi seus vídeos no youtube, e senti o quanto Deus te usa nesse ministérios, como você se entrega de verdade quando está louvando e isso é muito bonito e raro também. O louvor é umas das áreas mais atacadas da igreja, e mais sérias também, temos que estar em constante consagração.
— Sim, sei muito bem disso, no Brasil eu fui líder do louvor da igreja que o meu pai dirige, é algo mesmo de muita importância. — assegurei a ela meu entendimento sobre o assunto.
— A Bíblia diz que Deus habita em meio aos louvores, e o que mais o rei Davi fazia era canções que louvam ao Senhor, vemos isso em Salmos, e entre os levitas, haviam os separados para o canto também, para termos a noção do quão importante é esse ministério. — completou ela — Se você ainda se sentir insegura, pode esperar mais um pouco, tudo que vem de Deus nos trás paz e certeza, não há espaço para dúvidas quando Jesus está no controle.
— Eu sei, por isso estou aqui. — garanti a ela convicta da minha decisão — Passei a última semana em oração para ter certeza da direção do Senhor, e estou pronta para continuar a cumprir meu chamado no louvor.

Confesso que por várias vezes tentei fugir disso, não entendendo o que Deus queria de mim. Entretanto, mesmo ainda não tenho cem por cento de certeza que o louvor era meu chamado, uma coisa eu estava aprendendo no em minha busca de Gênesis a Apocalipse. Devemos deixar disponibilizados nossos dons e talentos para o Reino. Cantar foi um dom que o Senhor me deu sem dúvidas, então Ele teria a total liberdade para usar este dom em mim como um instrumento em suas mãos.

— Vamos orar em agradecimento pela resposta do Senhor?! — sugeriu Yuri.
— Vamos. — concordei.

Levantamos nossas mãos e ela começou a oração em agradecimento pelo direcionamento do Senhor. Por minha vida e por me juntar ao J-US Ministry. Meu coração começou a queimar de alegria, ao mesmo tempo sentindo uma calmaria e paz que somente Deus pode me proporcionar. Uma certeza tomou conta de mim, como também gratidão por ser útil ao Reino de Deus.

— Em teu nome oramos, te louvamos e agradecemos por tudo Senhor Jesus. — disse Yuri em encerramento de sua oração — Amém!
— Amém. — disse em concordância.
— Bem-vinda ao J-US Ministry. — disse ela, abrindo um largo sorriso.
— Obrigada. — sorri de volta animada por suas palavras de recepção.
— Em alguns minutos o pessoal vai chegar para o ensaio de hoje, você pode ficar mais um pouco para poder conhecer todo mundo? — perguntou ela.
— Yuri?! — uma voz masculina soou da porta, com traços de surpresa — O que faz aqui?
— Donghan. — ela se levantou da banqueta — Está é a , a brasileira que te falei.
— Ahh. — ele me olhou meio curioso — A esposa do .
— Ela mesma. — assentiu Yuri.
— Bem-vinda ao grupo. — disse ele.
— 감사해요. (kamsahaeyo) — disse obrigado, no formato informal polido — Estou muito feliz por fazer parte.
— Nós também. — assegurou ele — O que estavam fazendo?
— Estava mostrando o estúdio pra ela, enquanto conversávamos. — respondeu Yuri.
— E orando. — completei.
— Orar é importante. — disse Donghan.

Conversamos mais um pouco sobre o ministério de louvor. Donghan me explicou que o grupo é grande e agora estão fazendo algumas subdivisões para abranger mais áreas e mais grupos de pessoas. Com a visão de alcançar mais pessoas do ocidente, minha entrada no J-US Ministry tendo sido uma benção e direção de Deus para eles. 

Foi tranquilo o ensaio e pude conhecer mais pessoas que pertenciam ao grupo principal. Meu corpo gelou quando Yuri me chamou para ensaiar com eles a canção Oceans em versão coreana. Fiquei maravilhada com isso, pois só tinha ouvido até o momento as versões japonesa e chinesa. Era lindo ver como não importa o idioma, mas sim a busca pela presença de Deus. E como a música com certeza é um idioma universal.

— Hum… — me espreguicei de leve ao entrar no apartamento, fechando a porta — Solo outra vez…

Olhei para o lugar vazio sentindo falta do meu marido. Seus dias de férias tinham passado com tanta rapidez que nem consegui aproveitar muito. Dividindo meu tempo com os estudos, apoiar Sooyoung, ajudar minha sogra com os assuntos da Ong da igreja… Tantas coisas para resolver que acabei não passando tanto tempo com ele. Contudo, pelo menos seguimos à risca nosso propósito de estudar a I Coríntios juntos.

—  Solo fisicamente, não é? Espírito Santo? — disse em sussurro, me animando um pouco.

Segui para o banheiro e tomei um banho quente e relaxante. Ao abrir a gaveta de pijamas, encontrei um bilhete de escondido. Meu coração se aqueceu ao ver escrito “사랑해”, o eu te amo em hangul.

— Saranghae. — sussurrei ao ler.

Ele sempre dava um jeito de me surpreender de alguma forma. Guardei o bilhete junto com os outros e me aproximei da cama, ajoelhando na lateral. Era meu momento de busca e consagração. Não era fácil manter constância nas orações, principalmente com as turbulências da vida. Porém, se há uma coisa que aprendi com meu pai, é que: Quem quer faz, quem não quer encontra desculpas! E eu não deixaria que as desculpas do meu dia a dia, me afastassem de ter meus momentos secretos e íntimos com o Pai. Quanto mais eu buscava Sua presença, mais eu sentia sede para dobrar minha busca, e mais eu pedia para ter sede insaciável do Espírito Santo para continuar atraindo sua presença.

Aleluia! Aleluia! Poderoso é o Senhor nosso Deus… Aleluia! Aleluia! Poderoso é o Senhor nosso Deus… Aleluia… — comecei a louvar ao Senhor, de olhos fechados e escorrendo lágrimas, sentindo meu corpo arrepiar com uma brisa gostosa que se instalava por todo o quarto — Santo, Santo… É o Senhor Deus, Poderoso… Digno de louvor, Digno de louvor… Tu és Santo, Santo… É o Senhor Deus, Poderoso… Digno de louvor, Digno de louvor… Amém!

Continuei entoando mais algumas canções até que comecei a orar em línguas, de uma forma inexplicável e sobrenatural, notei que falar em variedades de línguas e com sotaques que jamais imaginei que falaria antes. Claro que em meio a minha busca por mais experiências com Deus, receber dons espirituais estavam no meio. E tinha um grande desenho por desenvolver a variedade de línguas e interpretação também. Quanto mais eu orava, mais eu desejava não parar. E por horas me mantive ali, ajoelhada somente em comunhão com o Espírito Santo.

Na manhã seguinte, acordei cedo e segui para a universidade. Aula presencial de representação técnica às 7 da manhã, ergonomia às 10, e meu módulo avançado de hangul após o almoço. Com tanta coisa em minha rotina diária, precisei deixar meu estágio na biblioteca por um tempo. O que significava baixa no orçamento do mês. Por mais que me pedisse para não me preocupar com nossas finanças, pois o dever é dele como sacerdote da casa… Independência financeira é algo tão bom, que quando conquistamos, não queremos perder. Contudo, se neste momento a vontade de Deus era outra em minha vida, manteria meu coração despreocupado e confiante.

— Ajumma. — disse ao chegar na ong, após a aula de hangul.
— Querida. — ela veio ao meu encontro — Que bom que chegou, estava quase começando a aula de macramê, quer acompanhar?
— Claro. — aceitei o convite.

A ong Sakura, era um departamento que pertencia a J-US Worship. Onde se trabalhava apenas com mulheres que necessitavam de apoio em suas vidas, como um recomeço para o futuro com Jesus. Muitas eram mulheres rejeitadas pela sociedade, vítimas de agressões e violência doméstica, senhoras de idade deixadas por suas famílias. Histórias que nos fazem refletir sobre como lidamos com nossos minúsculos problemas do dia a dia. 

Me sentei em uma banqueta perto da porta e fiquei observando a forma paciente e carinhosa de minha sogra, ensinando para as senhoras que participavam da aula. Seus olhares atentos às mãos da ajumma me deixaram admirada. Após o término, seguimos para a sala de leitura, onde terminamos de organizar os livros que recebemos de doações. A estrutura da ong em si era muito boa, os ambientes bem divididos e os voluntários muito comprometidos com a obra. Aos poucos fui entendendo melhor como tudo funcionava. Minha sogra havia me pedido para ajudá-la na parte de cuidado e orientação às jovens mulheres com a proximidade da minha idade. E mais surpreendente ainda, o motivo dela me chamar para isso, é por meu exemplo de vida, fé e espera através da corte.

--

— Deus, me ajuda a aguentar essa espera, minha ansiedade está a mil. — sussurrei ao ler pela vigésima vez Eclesiastes 3.

Me mantive sentada na cama, naquela manhã de sábado fazendo meu devocional. Após longos meses de espera, poucas folgas de após as férias. Faltavam apenas 7 dias para sua dispensa. Um presente de Deus? Ele seria dispensado algumas semanas mais cedo e com honras, pelo impecável serviço prestado… 

E mais…

Bem no dia do nosso casamento. Ou seja, comemorar dois anos de casada com a volta do meu esposo. Que coração aguenta tamanha ansiedade pela data? Somente Deus para me acalmar e manter a paz que excede todo entendimento humano dentro de mim. Eu tinha algumas novidades para contar a ele, e fiz questão de contar pessoalmente. Fechei minha Bíblia e fiz a oração final de agradecimento. Me levantei da cama e peguei meu celular, na mesa de cabeceira, tinha algumas mensagens do meu pai. Fiz uma ligação, iniciando uma vídeo chamada com ele.

— Bom dia, pai! — abri um largo sorriso.
— Bom dia, minha princess. — ele sorriu de volta e pegou o pequeno Samuel no colo — Olha lá filho, sua irmã! Dá tchau pra ela.
— Que fofo! — disse com meus olhos brilhando — Ele está tão grande. Oi Samuel!
— Manda beijo pra ela filho. — disse meu pai.

Eu tive um mini surto com a fofura dele. Em instantes, Mônica se aproximou e veio pegá-lo para lhe dar banho. Ela me cumprimentou e saiu levando o pequeno pro banheiro com ela. Meu pai voltou sua atenção para mim, com o olhar bobo.

— Papai coruja. — brinquei com ele.
— Você nem imagina o quanto, fico todo bobo com eles por perto. — confirmou ele.
— Eu consegui ver o barrigão da Mônica. — comentei e brincando — Ainda sigo chocada, vocês são rápidos nessa fábrica de filhos, ein.

Rimos.

— Eu confesso que fiquei desnorteado quando a notícia chegou, mas agora meu coração segue mais tranquilo, sei que Deus provê tudo em todo o momento. — disse ele, mantendo-se sereno — É louco os propósitos de Deus na nossa vida filha, quem iria imaginar eu me casando novamente e tendo mais dois filhos.
— Eu estou amando isso, não ser mais filha única. — contei a ele — Apesar de estar meio longe para aproveitar essa fase de bebê pela casa.
— E por falar em bebê, eu sonhei que estava grávida de novo. — comentou ele, me olhando mais curioso — Quero tanto ser vovô.
— Olha só chefe Jonas, vamos parar de pressão, eu só tenho quase dois anos de casada e até agora passei mais tempo sozinha do que com meu marido. — aleguei em minha defesa — Os filhos virão no tempo do Senhor.
— Crescei-vos e multiplicai-vos. — argumentou ele, rindo da minha cara.
— Citando Gênesis 1:28 pra mim, pai? Que absurdo. — me fiz de ofendida — Te devolvo Eclesiastes 3:1, há tempo para todas as coisas, seja paciente.
— Sei. — ele manteve um olhar desconfiado — E como está seu coração para a dispensa do marido?
— Acelerado, vou buscar ele na base onde será sua dispensa. — respondi já sentindo o pulsar mais forte dentro de mim.
— Estou feliz que tenham permanecidos firmes querida, mesmo com a distância, não deixaram a fé e o amor de vocês esfriar. — disse ele, meio orgulhoso.
— Não foi fácil pai, mas conseguimos com a ajuda de Deus. — confessei a ele — Houve dias que a única coisa que eu sentia, era vontade de chorar, principalmente os que fiquei sozinha aqui no apartamento.
— E como anda a pandemia aí? — perguntou ele.
— Controlada, felizmente a segunda onda não veio com tanta força, e tudo ficou mais flexível com a vacina, a sociedade coreana é bem disciplinada e responsável quando o assunto é saúde. — respondi.
— Melhor que a gente aqui, o que mais me revolta é a imprudência do brasileiro, achando que depois da vacina, não precisa mais usar máscara, passar álcool em gel, se proteger, já se aglomeravam antes, imagine agora. — ele parecia mesmo revoltado com a realidade da nossa cultura brasileira.
— Continuemos em oração para que a igreja se mantenha firme e edificada em Cristo, para ser luz para o nosso país. — disse.
— Com certeza.

Nós conversamos por mais um tempo. Até que encerrei a chamada. Após tomar meu café da manhã, segui para o espaço da lavanderia, e coloquei algumas roupas na máquina. Agora, saindo mais vezes na semana, o volume de roupa suja tinha aumentado consideravelmente. Enquanto isso, voltei para sala e liguei o notebook. Tinha um último artigo de metodologia científica para desenvolver e entregar até quinta. Meu tema? Contribuições do design para os interiores de casas de container. Por influência do meu esposo, estava me interessando bastante por casas feitas a partir do sistema construtivo de container.

Com um fundo musical agraciado pelas canções do J-US Ministry misturadas às do Hillsong, dei início ao meu trabalho. Foram longas horas? Sim, horas e mais alguns dias focadas nos meus trabalhos da universidade além dos compromissos com a ong e os ensaios do J-US. Tanto corre corre, que nem senti a semana passar. Quando me dei conta, já era sexta de manhã e no dia seguinte, teria meu marido de volta e por inteiro. 

Me levantei da cama em plena agitação, coloquei minha playlist do celular para tocar, aproveitando que não tinha aulas naquele dia, por ser recesso escolar de final de semestre. Minha animação para dar uma faxina completa na casa foi mais do que surpreendente. Aproveitei para ungir cada cômodo do apartamento e orar em gratidão e consagração a Deus pelo meu lar.

Estava mais do que ansiosa para a volta do meu marido.

"Praise the Father
Louvado seja o Pai
Praise the Son
Louvado seja o Filho
Praise the Spirit three in one
Louvado seja o Espírito três em um
God of glory
Deus da glória
Majesty
Majestade
Praise forever to the King of Kings
Louve para sempre o Rei dos Reis."
- King of Kings / Hillsong Worship

Chamada: Buscar edificação e santidade no Espírito Santo.



67. Apocalipse

Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.
- Apocalipse 3:20

- x - 

Com o coração acelerado, as pernas tremendo e um frio na barriga. Assim eu estava diante do portão do batalhão à espera de com meu sogro ao lado. Nunca imaginei que uma dispensa iria demorar tanto para acontecer, há mais de uma hora esperando por ele. Assim que o portão se abriu e saiu, carregando sua mala, meu corpo se moveu de forma involuntária, correndo até ele. O abracei no susto, quando o derrubando.

— Eu nem fui para o exército, imagina se tivesse ido, . — comentou ele em risos, enquanto retribuía o abraço, me erguendo um pouco do chão.
— A saudade seria dobrada. — adimiti abertamente — Senti mesmo sua falta, principalmente nessas últimas semanas.
— Digo o mesmo. — confessou ele — Só desejava te abraçar como agora.
— Não vai sobrar um filho para um pai saudoso também? — perguntou meu sogro.

Nós rimos disso. pegou em minha mão e nos aproximamos do seu pai. Eles se abraçaram emocionados e com o olhar orgulhoso do meu sogro para ele.

— Você fez um bom trabalho meu filho, tenho certeza disso. — ele voltou seu olhar para o emblema na farda do filho — Honrou sua família e seu país.
— Mais que isso pai, honrei a Deus com meu serviço militar. — assegurou meu marido.
— Aleluia. — disse meu sogro com um sorriso singelo no rosto.
— Vamos para casa agora?! — perguntei em sugestão.
— Achei que iriam almoçar conosco. — meu sogro me olhou confuso.
— Não pode ser amanhã?! — enchi meus olhos como uma criança pidona.
— Claro que pode. — meu sogro riu baixo — Com certeza estão ansiosos para ficarem sozinhos de novo.

O olhar discreto de veio para mim, me deixou meio envergonhada.

— Preciso descansar um pouco pai, tivemos um treinamento final intensivo essa semana. — explicou .
— Compreendo meu filho.

O missionário Han nos deixou em frente ao nosso prédio e seguiu para casa. Assim que entramos no apartamento, deixou sua mala ao lado do sofá, enquanto eu fechava a porta. Em um piscar de olhos, meu esposo me pegou no colar e nos rodopiou pela sala.

?! O que é isso? — disse rindo baixo.
— Enfim, sós e juntos novamente. — ele me deu um beijo suave — Esperei tanto por isso.
— Eu também. — concordei.

Ele me colocou no chão e manteve o olhar carinhoso em mim.

— Obrigado por me esperar. — disse, segurando em minha mão e entrelaçando nossos dedos — Seu que não foi fácil para você passar por tudo que passou comigo longe.
— Tudo o que passamos só tornou nosso casamento mais forte e sólido em Deus. — assegurei a ele, abrindo um sorriso singelo no rosto — Cumprimos um dos propósitos do Senhor.
— Com certeza. — concordou ele.
— Que tal um banho? — sugeri a ele.
— Você vem junto? — seu olhar ficou mais sugestivo.
— Você está cansado, lembra? — mencionei as palavras que disse ao pai dele.
— Não para isso. — respondeu.

Eu soltei uma gargalhada engraçada.

— Vai tomar seu banho sozinho, vou preparar um lanche pra gente. — disse num tom de ordem para ele.
— Malvada. — sussurrou ele, inconformado, mas obedecendo.

Segurei o riso e segui para a cozinha. Preparei alguns sanduíches para nós dois. Segui para o quarto e somente troquei de roupa.

— Assim fica difícil resistir, senhora Lee. — a voz de soou da porta.

Me virei para ele e percebi seu olhar voltado para minhas pernas.

— Contenha-se, senhor Lee. — o repreendi, segurando o riso.

Peguei o short para vesti-lo, porém foi mais rápido que eu e o roubou da minha mão.

— Ei! Seu abusado, devolve. — tentei pegar de volta sem sucesso.
— Não, você está bem melhor assim, com a minha blusa. — disse ele em risos me pegando pela cintura com a outra mão — Me deixe apreciar as qualidades da minha esposa.
— Qualidades? — eu ri baixo.

Ele manteve o olhar profundo em mim, me deixando meio sem graça e constrangida.

— Vamos comer, senhor Lee. — disse me afastando um pouco dele.
— Não faz isso. — ele segurou em minha mão.
— Não estou fazendo nada, só quero alimentar o meu esposo. — ri novamente e o puxei comigo para a cozinha.

Nos sentamos à mesa e degustamos os sanduíches que preparei acompanhado do suco de laranja natural. Frutas são caras na Coreia? Sim, tanto quanto comer em casa, ainda mais agora em tempos de pandemia, porém, pelo menos algumas vezes no mês era necessário sucos naturais para a boa manutenção da saúde. Após comer, se prontificou a lavar a louça suja, mesmo eu dizendo que não tinha necessidade. 

Segui até sua mala, ainda ao lado do sofá e a levei com a ajuda dele para o quarto. Meu aplicado marido tinha lavado todas as suas roupas sujas, antes de retornar para casa. Fico me perguntando quando tinha arrumado tempo para isso, com tanto treinamento na última semana. Ele deixou a mala ao lado do guarda-roupas e voltou para cozinha. Ao abrir, me impressionei com as roupas devidamente dobradas e passadas. Que sonho de marido, organizado, disciplinado e que ainda cozinha.

— Cada dia me surpreendo mais. — sussurrei guardando suas roupas nas gavetas.

Bem no fundo da mala, tinha um bilhete com dois papéis juntos. Peguei já ficando curiosa e sorri no automático ao ver um coração desenhado no topo do bilhete.

— Feliz aniversário de casamento! — sussurrei ao ler, me peguei emocionada e com as lágrimas já aparecendo — O que andou aprontando?! Senhor Lee…

Olhei com mais atenção para os papéis e notei que eram duas passagens de avião. Fiquei estática a princípio e voltei meu olhar para a porta. estava encostado na porta me olhando com atenção e em silêncio.

— É o que eu estou pensando? — perguntei a ele — Jeju?
— Sim. — assentiu ele, vindo em minha direção — Após dois anos longe, nada mais justo que uma segunda lua de mel em comemoração a dois anos de casados.

Sua voz suave me estremeceu.

— Meus avós nos emprestaram a casa de Jeju de novo. — completou ele.
— Eu nem sei o que dizer. — voltei o olhar para as passagens — Tem a data de amanhã.
— Sim, o voo sai pouco depois do almoço. — confirmou ele.
— Quando você teve templo de planejar tudo isso? — perguntei intrigada — Os bilhetes, a viagem… As surpresas?
— Quando aceitou se casar comigo. — respondeu ele com mais tranquilidade ainda, tocando em minha cintura de leve e me aproximando mais dele — Mudei tudo pra que meus dias se encaixassem aos seus comigo.

Sua explicação me deixou impressionada e estática novamente. Pensar em todo o cuidado que ele teve comigo desde antes do nosso casamento, deixava meu coração ainda mais aquecido e grato. 

— Eu te amo... — foram as únicas palavras que consegui pronunciar em meia as minhas emoções.

Em segundos, os lábios de se aproximaram dos meus em um beijo doce e suave. Meu corpo arrepiou quando ele colocou certa intensidade, com seu toque mais ousado correndo em minhas costas.

— Tem certeza disso, senhor Lee? — perguntei em sussurro — Não estava mesmo cansado?
— Não pra você, senhora Lee. — respondeu ele, com segurança no olhar.

E se seu corpo havia sido maltratado pelo treinamento final do serviço militar, a recuperação foi instantânea. Nunca senti tanto desejo dele por mim, transbordando com tanta intensidade e fervor. Estar em seus braços novamente e agora sem me preocupar em me despedir no dia seguinte, transmitia ainda mais aconchego e conforto para mim. E nossa tarde se prolongou por horas naquele quarto, matando a saudade um do outro.

--

— Bom dia, brisa de Jeju! — disse assim que entramos na casa dos seus avós e sentimos a brisa entrar ao abrir as janelas.

Nosso desembarque foi no início da noite. Por um imprevisto do tempo, tivemos que esperar para subir ao avião em Seoul, o que atrasou nossa chegada.

— Desta vez, ficaremos duas semanas, para aprovietar. — anunciou , deixando as malas do lado da porta e fechando-a.
— Sério? — o olhei me animando — Isso quer dizer que vamos voltar a tempo de passar o natal com os sogros?
— Sim, ajumma jamais nos deixaria passar o natal longe deles. — ele riu se aproximando mais de mim — Como se sente estando aqui de novo?
— Depois de dois anos… Vivemos muita coisa em um curto espaço de tempo, sinto como se fossem dez ao invés de dois. — respondi.
— Eu também, muita coisa aconteceu, muitas surpresas e estou feliz pelo aprendizado final. — ele segurou em minha mão e entrelaçou nossos dedos — Hoje iniciamos mais um novo ciclo e encerramos o antigo.
— Sim… — me mantive ainda na espera pelo melhor momento para lhe contar a novidade.

Ele me abraçou apertado e me deu um beijo de leve. 

— Está com fome? — perguntou ele.
— Não, nosso almoço na casa dos seus pais foi tão reforçado que não vou sentir fome tão cedo. — assegurei a ele.
— Concordo com você. — ele riu.

Seguimos para o quarto preparado por sua avó para nós e nos instalamos. Desta vez, ainda que se mostrasse em plena disposição para passar a noite em claro como no dia anterior, o contive de forma firme. Após um banho relaxante... Oramos em agradecimento por tudo que tinha acontecido em nossas vidas desde o momento em que nos conhecemos no mirante em Belo Horizonte até ali. 

Foram mais de uma hora de oração somente agradecendo, sem nenhum pedido, só demonstrando nossa gratidão pelo cuidado e carinho de Deus por nossas vidas. iniciou alguns louvores exaltando o nome de Jesus e o acompanhei. Sempre que louvava com ele, sentia como se meu dom fosse de alguma forma complemento do dele, e vice-versa. Senti uma presença gostosa do Senhor me tomar por completo, meu coração pulsou mais forte e as lágrimas desceram por meu rosto. 

Após terminar a oração, apenas nos deitamos na cama e aninhados, dormidos um pouco. Acordei no meio da madrugada, sentindo como se tivesse passado quase um dia inteiro dormindo. Olhei para o lado e estava lendo sua Bíblia, concentrado e com o olhar profundo.

— Te acordei?! — perguntou mencionando sobre a luz do abajur ao lado da cama.
— Não. — me espreguicei de leve — Quando perdeu o sono?
— Era meia-noite quando acordei. — respondeu ele.
— Hum… — me descobri e levantei da cama.

Segui para o banheiro, sentindo a bexiga cheia. Ao voltar para o quarto, ele já tinha fechado sua Bíblia e a colocado na mesa de cabeceira.

— Não vai mais ler? — perguntei indo me deitar novamente.
— Já terminei o capítulo. — respondeu ele.
— Hum… O que está lendo agora? — indaguei
— Apocalipse. — ele me puxou para mais perto, me aninhando a ele.
— Uau… Já li algumas vezes e cada vez uma revelação diferente. — comentei.
— Assim como toda a Bíblia. — concordou ele.
— Quando eu e meu pai nos mudamos para a região metropolitana de Belo Horizonte, eu ainda tinha alguns questionamentos sobre meu chamado e tudo mais. — comecei a contar a ele mais detalhadamente sobre o assunto — Então, para me ajudar em minha busca, meu pai me fez uma simples pergunta.
— E qual foi? — perguntou ele.
— Qual o meu chamado de Gênesis a Apocalipse. — contei a ele — Isso me levou a ler a Bíblia toda pela primeira vez.
— Isso é bom. — comentou ele.
— Sim… E pensando sobre isso hoje, vejo que cada fase da minha vida até aqui representou o chamado de um livro… Isso me edificou bastante, foi importante saber o quanto posso aprender com esses chamados. — continuei.
— E encontrou o chamado de Apocalipse também? — ele me mostrou curioso, certamente por ser o livro que lia no momento.
— Sim, encontrei meu chamado no capítulo 3, versículo 20. — respondi.
— Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo. — completou com as palavras escritas.
— Sim… Eu entendi que só convidamos alguém e ceiamos com ele, quando a pessoa é íntima nossa. Nenhum estranho entra em nossa casa e senta à nossa mesa. — expliquei a ele, as revelações que tive — Isso remete a comunhão e relacionamento… O que me levou a entender que todo esse tempo eu já estava em busca do chamado mais importante de todos…
— Intimidade com Deus. — entendeu sobre o que eu me referia.
— Sim, nossa intimidade e relacionamento com o Pai foi rompido através do pecado que entrou com Adão, mas através de Jesus, o véu se partiu e nos deu o livre acesso a Deus por meio dEle, nosso único caminho. — mantive a serenidade em minha voz, compartilhando minhas descobertas — Assim, a intimidade e o relacionamentos que temos com o Senhor foi resgatado através de Cristo, o que me levou a descobrir que tudo o que aconteceu foi para que esse relacionamento fosse restaurado...
— Ter um relacionamento conosco sempre foi o maior desejo do Senhor. — disse — Estou feliz por sua busca e pelas descobertas.
— Eu também me alegro com isso… Durante todo esse tempo venho buscando intimidade com o Pai e descubro que Ele sempre quis isso de mim. — senti algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto — Deus é lindo, Jesus é maravilhoso e o Espírito Santo é meu amor eterno, meu tesouro aqui na terra.
— Isso é bom, faço das suas, as minhas palavras. — completou ele — Com o coração grato a Deus por nossas vidas e nosso relacionamento também.

Ele começou a acariciar meus cabelos, brincando com algumas mechas. Mantive meu olhar na janela, vendo a luz da lua entrar. Final de outono com um friozinho da mudança de estação. Me aninhei ainda mais ao meu esposo, debaixo dos sobertores.

— Yuri me mandou uma mensagem perguntando se vou retornar para o J-US. — comentou ele.
— E o que você disse? — perguntei.
— Que minha esposa seria a primeira a saber e daria a notícia para ela. — respondeu ele com tranquilidade.
— Hum… — me remexi na cama e erguendo meu corpo o olhei — E então?
— Será um privilégio servir ao Senhor, ao seu lado. — respondeu ele, com uma aceitação enigmática.
— A honra é minha, senhor Lee. — disse ao sorrir para ele.
— Você me disse que tinha uma novidade para contar. — comentou ele, com o olhar curioso — Quando vai ser isso?
— Esperei com paciência no Senhor. — disse segurando o riso.
— Não, não me venha com Salmos 40 não. — soou como um resmungo.
— Fecha os olhos então. — pedi a ele.
— O que está aprontando? — seu olhar ficou desconfiado.
— Obediência gera benção… — disse com um sorriso bobo no rosto.
— Vai mesmo usar Deuteronômio 11:27, comigo? — ele me olhou boquiaberto.
— Você quem escolhe. — retruquei.

riu de leve e fechou os olhos. Ele parecia um pouco nervoso com meu suspense. Com leveza, peguei em sua mão direita e lentamente o fiz tocar em minha barriga.

— Quantos filhos Isaque teve com Rebeca em uma só vez? — perguntei a ele, num tom baixo e suave.
— Você… — ele abriu os olhos já com um olhar emocionado — Sério?!
— O que o Senhor diz em Ageu 2, versículo 9? — continuei.
— A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos. — respondeu ele, com a primeira lágrima escorrendo.

O fiz manter sua mão encostada em meu corpo. Com meu olhar sereno para ele.

— Como Deus restituiu Jó no capítulo 42, versículo 10?! — terminei minhas perguntas.
— Com o dobro de tudo o que possuía antes. — respondeu ele e concluindo — Gêmeos…
— Sim. — assenti com um sorriso meigo.

Eu estava grávida novamente, de algumas semanas, recém descoberto, porém com a confirmação da obstetra que haviam gêmeos aqui dentro. Mais dois corações batendo além do meu.

— Eu te amo… — disse se inclinando para meu lado.

Ele nem mesmo me deixou reagir e me beijou com todo o amor que tinha dentro dele.

Meu coração se encheu de gratidão e foi aquecido pela alegria do Senhor em minha vida. Fácil não seria futuramente, jamais foi, mas a certeza que o Espírito Santo sempre seria nossa força, e isso valia por tudo. 

Não terminamos a carreira ainda, somente quando o Senhor Jesus voltar para sua igreja, mas seguiria combatendo o bom combate e guardando a minha fé.

E tenho certeza que também.

Ambos juntos e totalmente entregues ao amor e à direção de Deus.

"사랑은여기있으니내게찾아오셨
O amor está aqui então, Ele veio para mim
그가먼저사랑하사아들보내주셨
Ele primeiro me amou e mandou Seu Filho
사랑은여기있으니내게찾아오셨
O amor está aqui então, Ele veio para mim
그가먼저사랑하사아들보내주셨네.
Ele primeiro me amou e mandou Seu Filho."
- Love Is Here / J-US Ministry

Chamada: Assim diz o Senhor: Ore, ore em línguas, faça uma canção para Mim, diga que você Me ama, diga que você confia em Mim, leia a Bíblia e jejue… Faça isso de todo o seu coração, somente assim seremos íntimos.



FIM!



Nota da autora:
Finalmente terminamos essa carreira... Gostaria de deixar aqui uma indicação de leitura, da qual de ajudou a entender o chamado de Apocalipse: "Ore, ore em línguas, faça uma canção para Mim, diga que você Me ama, diga que você confia em Mim, leia a Bíblia e jejue." São ensinamentos do livro O hábito dos heróis de Ronny Vitoreli.
Louvo e agradeço a Deus por você estar lendo a mais essa história, apesar de ser muito diferente de todas que já escrevi, estou muito empolgada e me divertindo bastante com todas as ideias que estou tendo, espero que você também tenha se divertido e se emocionado, que possa ser edificado com a mensagem de Princess of GOD!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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