Inverno Miller
Esta é a história de como nos tornamos amigas e fizemos a esperançosa promessa de nos casar em um ano. As quatro donzelas mais encalhadas e desafortunadas de Londres, na busca pela tão sonhada aliança no dedo e um amor verdadeiro.
Mia Fletcher, Jenie Sollary, Annia Sollary e Miller.
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Mais uma vez encontrava-me desempregada. Mais uma vez desamparada e sem saber para onde ir. Trabalhar em uma workhouse seria suicídio, e ser cortesã estava bem longe de meus planos de sobrevivência. Por sorte, a sra Moodle cujo tinha me conhecido no orfanato onde passei parte de minha infância, me enviara uma carta dizendo que precisava de pessoas para trabalhar em um grande evento.
Talvez, gostando de meus serviços, poderia ser contratada pela família. Era a realidade de minha vida. Me encolhi na cama, olhando para as paredes daquele pequeno quarto que conseguia pagar com dificuldade. Era estranho dormir todas as noites, no porão do cabaré mais famoso de Londres. Contudo, a dona, senhorita Genevieve, havia criado uma simpatia por mim, e aceitado que eu limpasse todo o lugar pelas manhãs como forma de pagamento.
Me espreguicei ao so sol entrar pelas frestas da pequena janela. Mais um dia de luta iniciava para mim. Após um suspiro cansado, levantei-me da cama e dobrei as cobertas. Subi as escadas e passei rapidamente pela cozinha, já pegando o balde para limpar o lugar. Chegando ao salão principal, vi de relance um homem descendo as escadas que davam para os quartos das meninas. Reconheci seu rosto, era lord Cedric Baker. Sua fama de libertino conquistador o precedia, rolavam boatos de ter se envolvido até mesmo com uma espanhola casada.
Voltei minha atenção para meus afazeres e continuei. A prática leva a perfeição e já tinha me habituado tanto a limpar aquele lugar que terminava em menos de duas horas. Por isso, sempre me levantava com antes do sol aparecer.
— Impecável como sempre. — elogiou Genevieve com um sorriso satisfatório.
— Agradeço senhorita, fico feliz por não decepcioná-la. — disse mantendo-me de pé ao lado de uma das mesas.
— A cada dia fico ainda mais admirada com vossa pessoa. — continuou ela — És muito forte e corajosa.
— A vida tem-me feito ser assim, caso contrário já teria perecido. — confessei.
— Bem, sabes que minha proposta de torná-la a melhor cortesã de Londres ainda está de pé. — ofereceu ela mais uma vez — Os homens se derretem por donzelas de olhar delicado e ingênuo como o vosso.
— Mais uma vez recuso a oferta e agradeço por se preocupar comigo. — sorri de leve para ela — Mas, mesmo que distante, ainda sonho em casar-me e ter uma família grande e feliz.
— Estes sonhos não são para mulheres como nós , órfãs como nós possuem apenas dois caminhos. — retrucou ela olhando com seriedade — Na cozinha como uma criada trabalhando até morrer, ou no quarto desfrutando do prazer de ser uma mulher dominadora.
— Prefiro partir em busca de um terceiro caminho. — disse esperançosa — Preciso ir agora, tenho que encontrar a sra Moodle.
Me despedi dela e segui para a cozinha. Guardei algumas coisas na dispensa e troquei de roupa, colocando o uniforme de havia recebido pela sra Moodle no dia anterior. A casa em que trabalharia aquela noite estava um alvoroço quando cheguei. A família a qual pertencia, havia se mudado a pouco menos de quinze dias, e ofereciam o primeiro baile para apresentar suas filhas a sociedade. As fofocas que rolaram entre os outros serviçais, era basicamente sobre o estranho casamento do sr Sollary com sua esposa. Afinal, burgueses gostavam de dormir no mesmo quarto, algo que não acontecia com eles.
A calorosa noite de verão foi surgindo, assim como os convidados do baile. Mantive minha concentração em não derrubar as bandejas de prata e servir alguns dos convidados. Por um breve momento fiquei admirada ao ver o lindo vestido que a senhorita Jenie Sollary usava. Uma ponta de inveja surgiu assim como pensamentos de como seria se eu tivesse pais. Voltei a mim, assim que um homem passou por mim, estranhei a primeiro momento ao vê-lo usando uma máscara escondendo metade de seu rosto.
Me afastei e reconheci lord Cedric Baker entre os convidados. Continuei servindo até que senti meus pés cansarem. Procurei por um canto para retomar o fôlego e avistei as filhas do sr Sollary sentadas com cara de frustradas. Não me contive em me aproximar para saber o que acontecia a ela.
— Boa noite senhoritas. — disse uma convidada ao se aproximar dela e sentar na cadeira vaga.
— Fale por você. — disse a senhorita Annia, que trajava um vestido azul marinho, combinado aos cabelos anelados.
— Não seja mal-humorada Annia, ela só nos cumprimentou. — sua irmã a repreendeu e olhou para a moça sorrindo, fazendo uma breve reverência com a face — Boa noite, bem-vinda a nossa casa.
— Sua casa? — suas palavras pareciam tê-la impressionado — São filhas dos anfitriões?
— Sim. — Annia bufou um pouco — E nem assim nos convidaram para dançar, nem mesmo uma pequena valsa.
— Os convidados ainda estão nos conhecendo. — explicou a outra, voltando o olhar para a irmã — Você é muito pessimista.
— Jenie, e você é tão otimista. — Annia cruzou os braços.
— Bem, se serve de consolo para vosso coração, eu sou conhecida na cidade e nenhum cavalheiro teve a decência de me tirar para uma dança. — a convidada desabafou ponderadamente.
A senhorita Annia soltou uma gargalhada.
— Está pior que nós. — comentou ela.
— Nós percebemos quando o cavalheiro puxou sua amiga para o centro do salão e você ficou como um vaso de planta na porta. — sua irmã deu uma risada mais tímida — Você é nova na cidade? Como diz que a conhecem?
— Eu não sou nova, somente estava afastada de Londres e retornei recentemente. — expliquei a convidada — Sou Mia Fletcher, vim morar com meus tios.
Ela apontou para eles, do outro lado da sala.
— E porque retornou? — perguntou Jenie com olhar curioso.
— Porque preciso me casar para curar minha honra diante da minha família. — explicou a senhorita Fletcher.
— Você não é mais pura? — a senhorita Annia olhou a com malícia.
— Não, não é isso, sou pura sim. — sua voz soou ofendida — Eu estou viúva, só isso.
— Viúva? E pura? — não me contive em fazer o comentário em voz alta.
Consequentemente, atrai a atenção delas para mim.
— Criada, o que está fazendo ouvindo a conversa alheia? — Annia me repreendeu de imediato.
— Desculpe-me senhorita. — abaixei meu olhar envergonhada.
Era só o que faltava. Não podia perder a oportunidade daquele emprego.
— Ah não, não brigue com ela, certamente sua situação está pior que a nossa, sendo da classe trabalhadora, não deve ter um pretendente. — disse a senhorita Jenie em minha defesa.
Eu podia me sentir ofendida por suas palavras, mas eram a realidade em que vivia e sim, seria um milagre de Deus eu conseguir um pretendente para mim.
— Errada a senhorita não está. — confessei — Pelo menos, ambas as senhoritas são de famílias importantes, por certo, até o final desta recepção terão olhares dos cavalheiros para vós.
Soou como um desabafo frustrado de minha parte.
— Não estou muito certa disso. — a senhorita Annia bufou novamente.
— Como se chama criada? — perguntou a senhorita Jenie.
— Miller, senhorita Fletcher. — respondeu ela.
— Ah, sem muitas formalidades , pode me chamar de Jenie. — a garota sorriu de leve para mim — E pode ficar por aqui se quiser, observei que tens trabalhado muito.
— Agradeço senhorita, mas não quero levar uma bronca da senhora Moodle. — disse acanhada.
— Eu direi a ela que está nos servindo particularmente. — a solução de Jenie parecia convincente.
Assenti com o olhar agradecido.
— Bem. — Annia voltou seu olhar para Mia — Ainda estou curiosa, como pode ser viúva?
— Estava noiva de um casamento arranjado, porém meu noivo faleceu, passei esse tempo em luto. — respondeu ela.
— E ele morreu a quantos dias? — perguntei curiosa.
— Há um ano. — respondeu.
— Você está de luto a um ano? — Jenie ficou boquiaberta com suas palavras.
— Sim, mas agora virei a página. — assegurou ela em um suspiro — Sinto que não posso esperar por mais tempo, quero viver o amor e com minha idade, estou quase sem esperanças.
— Quantos anos tem? — Jenie a olhou atenta.
— 20.
— Com 20 anos você fica um ano de luto? Como pode? — Annia se mostrou indignada.
— Você também tem 20 anos e está solteira Annia. — retrucou sua irmã.
— Estou solteira porque não quero me casar com qualquer homem, além do mais, em Liverpool nunca tivemos muitos prestígios, por isso viemos para Londres. — explicou ela — Pior é você que chora por um homem comprometido.
— Ele é casado? — Mia perguntou curiosa.
— Não, mas está noivo. — explicou ela e continuou em sua defesa — Ele é meu melhor amigo desde a infância, não me culpem por amar meu melhor amigo.
— Vocês parecem tão encalhadas quanto eu. — comentei em sussurro.
Elas me olharam novamente.
— Perdoe-me pelas palavras duras. — me encolheu com medo de ser repreendida novamente.
— Eu deveria te repreender agora, mas suas palavras são honestas. — disse Annia soltando um suspiro fraco — Estamos mesmo assim.
— É deprimente. — comentou Jenie — Não se preocupe , a verdade é cruel para todos.
— Estou cansada disso. — Mia se pronunciou — Eu proponho uma promessa.
— O que? — Jenie a olhou intrigada.
— Vamos nos ajudar e encontrar nossos futuros maridos, partiremos em busca do amor e nos casar no próximo ano. — ela compartilhou sua ideia nos olhando empolgada — O que me dizem?
— Acho que podemos começar avaliando as possibilidades. — Annia deu um sorriso malicioso — Você conhece muitas pessoas em Londres, Mia?
— Não, mas sei de uma pessoa que pode nos ajudar. — Mia sorriu de volta e mordeu seu lábio inferior.
Eu não entendia como, mas nos tornamos próximas até quando pude. Entre risos e comentários divertidos sobre os convidados, até que a sra Moodle me encontrou. Recolhi-me à minha insignificância e voltei para a cozinha, onde só pude sair no final do baile. Neste tempo, ajudei com a lavagem da prataria, talheres, taças de vidro, bandejas e grandes panelas.
A cada vasilha, um suspiro diferente.
— . — disse a sra Moodle assim que terminei meus afazeres.
— Sim, senhora. — a olhei temerosa do que poderia dizer.
— Aqui está o valor combinado. — disse entregando-me um envelope amarelo com o dinheiro.
— Agradeço senhora. — peguei o envelope e coloquei dentro de minha bolsa.
— Eu a observei durante toda a noite, pensei que se comportaria melhor do que as outras moças que contratei. — continuou ela — Porém, vejo que me enganei, como ousas ficar de conversa com as filhas do sr Sollary.
— Perdoe-me senhora, eu juro que estava servindo elas. — a olhei inocente.
— Lamento, mas não precisarei mais de seus serviços.
Assenti segurando firme as lágrimas no canto dos olhos. Não queria imaginar que mais uma vez eu estava sem emprego e poderia passar por mais dias de dificuldade. Na manhã seguinte, recebi um bilhete de Mia, convidando-me para um chá em sua casa. O motivo? Vossa tia compartilharia a lista de nome dos rapazes solteiros da cidade, os melhores partidos até o momento. Mas claro que essa realidade não fazia parte da minha vida, porém fui assim mesmo.
— Não há muitos jovens atraentes na cidade, mas aqui temos alguns nomes bem promissores. — disse a tia de Mia ao se reunir conosco.
Notei vosso olhar de repreensão por eu estar ali, o que me deixou ainda mais desconfortável. Porém, a alegria de Mia por ter aceito participar do grupo e aderir a promessa em buscar o amor, fez meu coração ficar em paz.
— Para ser honesta, atualmente ando mais interessada em como terei dinheiro para comer no dia seguinte, do que ter uma corte. — confessei minha realidade, ao sentar-me na cadeira ao lado da janela.
— Está sem trabalho? — perguntou Mia, lançando um olhar sugestivo para sua tia.
— Sim, fui dispensada pela senhora Moodle. — respondi.
— Nós até te poderíamos oferecer um emprego em nossa casa, porém, nossos pais não podem empregar mais pessoas. — disse Jenie.
— Não se preocupem, eu vou tentar na confeitaria, dizem que estão contratando. — tentei me mostrar otimista, mas por dentro temia o inserto dia de amanhã.
— Eu tenho uma vaga lembrança de estarem precisando de uma tutora para cuidar de uma criança. — a sra Fletcher se pronunciou — Se não me engano, o senhor Bellorum ficou viúvo e não se casou novamente, precisa de pessoas para cuidar da filha doente.
— Viúvo?! — Annia olhou-me com malícia — Este é o ponto chave da informação.
— Oh não, Annia, não me olhe assim. — me encolhi com vergonha — Se eu conseguir o emprego, já me darei por satisfeita e ficarei muito grata.
— , deixe de bobeira, nossa promessa é para nos casar e não arranjar um emprego. — disse Mia mostrando o propósito inicial.
— Eu não tenho família para me amparar como vocês Mia, preciso ser realista. — disse com firmeza.
— Não se preocupe minha jovem, se este for o caso, eu mesma lhe darei uma carta de recomendações para que consiga o emprego. — a sra Fletcher se mostrou solidária a mim.
Algo que me impressionou.
— Então, voltemos ao assunto inicial, a lista de nomes. — disse Annia — O amor tem pressa para mim também.
Nós rimos dela e continuamos com a sra Fletcher nos apresentando aos cavalheiros solteiros e mais cobiçados de Londres. Ao final do chá, ela escreveu a tal carta de recomendações e me entregou junto do endereço do sr Bellorum. Com gratidão voltei para casa mantendo a esperança dentro de mim.
Enquanto nossa esperança se mantinha acesa com nossos encontros semanais e cartas compartilhadas de motivação, a vida se encarregou de mudar todos os planos para nós quatro, a começar por Mia. Que viajou novamente para Limerick, pois seus pais haviam recebido a proposta de casá-la com o irmão mais velho de seu falecido noivo, irmão esse que atualmente era um padre. Isso deu entrada a vários pensamentos sobre o assunto em minha mente.
Como poderia eu casar-me um dia? Com a vida que tinha, nem em meus sonhos mais profundos.
Através da carta de recomendação da sra Fletcher, eu havia conseguido o emprego na casa do sr Bellorum. Passaria duas semanas sendo treinada pela senhorita Liz, a governanta, pois ficaria encarregada de ser a preceptora da pequena Molly. Uma doce criança de saúde frágil, que passava a maior parte de seus dias em seu quarto. No dia de minha partida para Derbyshire, despedi-me com gratidão de Genevieve por toda a ajuda que me dera desde que fugi do orfanato, há quatro anos. Mesmo com nossas divergências de ideais, a considerava uma grande amiga, uma irmã tão sobrevivente como eu.
Seguimos viagem com minha única bagagem, não tinha muitas roupas, menos ainda o que levar para Bellorie House, a monumental casa de campo da família. As fofocas que rolaram por entre os outros empregados contratados, diziam que o sr Bellorum era um homem muito ocupado pelos negócios, sua fortuna foi feita quando ainda jovem antes do casamento e parte dela em comércios marítmos. Agora seu investimento estava nas estradas de ferro e no progresso das indústrias.
— Bem-vindos a Bellorie House. — disse o sr Brown, o mordomo, com seu tom firme meio áspero.
Liz se manteve posicionada ao seu lado em silêncio, mantendo seu olhar analítico para todos nós. Respirei fundo e me atentei a revisão de regras que ele pronunciara para nós.
— Como já sabem, há algumas regras para mantermos a ordem e proporcionar conforto a família Bellorum. — continuou sr Brown — O silêncio é algo que prezamos, então falem somente o necessário e quando for lhe concedido, o escritório do sr Bellorum é terminantemente proibido a entrada, a sra Liz é a única que detém o acesso além de mim, as criadas, atente-se a organizações dos quatros, sejam rápidas e impecáveis, aos cocheiros, sejam organizados e mantenham o bom funcionamento dos estábulos, a carruagem deve estar sempre preparada para ser utilizada pelo sr Bellorum. — a cada palavra, sua voz permanecia ainda mais firme — E a preceptora da senhorita Molly, deve permanecer constantemente ao seu lado, atenta a vossa saúde e necessidades, não deixando de zelar pela educação. Entendido?
— Sim, senhor. — dizemos em coral.
— A seus postos. — ordenou ele.
Liz se aproximou de mim e me guiou até o quarto da senhorita Molly. Um ambiente frio e escuro, transmitia tanta tristeza quanto o olhar da criança ao me ver. Passei meus olhos por todo o lugar discretamente. As grossas cortinas fechadas e escondendo a bela claridade do sol, os móveis distantes um do outro formando um grande espaço ao centro do quarto. Uma sensação estranha de angústia tomou conta do meu coração.
— Senhorita Molly, esta é vossa nova preceptora. — anunciou Liz — Senhorita Miller.
— Bom dia, senhorita Miller. — a voz da criança era baixa e quase não se conseguia ouvir.
— Bom dia. — abri um sorriso singelo para ela.
— Senhorita Miller. — Liz chamou-me atenção — Não se esqueça de revisar as instruções do dr James que estão na gaveta da escrivaninha, em breve será servido o almoço da senhorita, fará suas refeições com ela.
— Sim, senhora. — assenti.
Esperei que ela se retirasse. Voltei meu olhar para a criança que mantinha-se com a atenção voltada para as cortinas que cobriam as janelas. Foi um longo primeiro dia. A surpresa, foi saber que meu quarto seria o preparado ao lado do quarto da pequena Molly, assim minha assistência a ela seria imediata. Na manhã seguinte, enviei uma carta contando de minha mudança repentina para as irmãs Sollary em Londres e outra para Mia em Limerick.
Uma semana depois, as respostas delas chegaram. Cada uma com sua novidade e contratempo do destino, com a distância, não conseguiríamos nos ajudar fisicamente e somente as cartas poderiam nos motivar a não perder as esperanças.
Assim, a sorte estava lançada para as quatro amigas.
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As semanas foram-se passando com o crescimento de minha angústia por permanecer dentro daquele quarto todo o dia sem ver ninguém. Se eu em pouco tempo já sentia me doente pela situação, entendia os sentimentos da pequena Molly. Ela somente recebia a visita de vosso pai aos sábados pela manhã, e a sra Liz não me deixava estar presente. O único momento de descanso que tinha, era à noite, quando me recolhia em meus aposentos e podia finalmente respirar um pouco.
— O que a senhorita está lendo? — perguntou Molly, interrompendo minha explicação sobre a história da família real.
— Hum? — voltei meu olhar para ela confusa — Não entendi vossa pergunta.
— Ontem, quando acordei de meu cochilo da tarde, a vi lendo um livro. — explicou ela.
— Ah, sim. — suspirei um pouco, lembrando-me da parte em que parei — Estou lendo Razão e Sensibilidade.
— Sobre o que fala o livro? — ela me mexeu, erguendo um pouco seu corpo, os olhos exalavam curiosidade.
— Sobre a família Dashwood e duas irmãs totalmente diferentes, uma vive sob a todo pensamento racional e a outra sob as influências da emoção que vosso coração transmite. — expliquei de forma superficial.
Os olhos de Molly brilharam um pouco.
— Poderia contar-me essa história? — pediu de forma ávida.
Até aquele momento eu permanecia seguindo a risca todas as regras e instruções impostas pela sra Liz e o dr James. Nada mudava e a pequena Molly continuava com vossos dias arrastados naquela cama mal levantando-se para banhar e outras realizações privadas. Se eu não fizesse algo para mudar seus dias e torná-los mais felizes, ninguém mais o faria. Talvez, fosse o destino a me colocar naquela casa, para permitir-me levar um pouco de luz a vida daquela criança.
Abri um largo sorriso para ela e pedi que me esperasse. Corri até meu quarto e peguei o livro. Assim que voltei, puxei a cadeira para mais perto da cama. A primeira vez que sentava tão próxima dela. Abri o livro na página inicial da história e comecei a ler para ela. A cada página, uma sorriso diferente e o brilho no olhar que se mantinha. Parecia que um mundo novo abria-se para ela.
Domingo pela manhã, resolvi dar um basta na escuridão que instalava-se pelo seu quarto. Assim que adentrei, fui abrindo as cortinas com toda ousadia, deixando a claridade e o frescor que o início do outono transmitia. Ajudei Molla a se levantar da cama, a conduzi até a poltrona que arrastei para perto da janela e a coloquei ali. Era o início de muitas mudanças que planejava para sua vida, e sentia-me leve por proporcionar isso. Nada pagava o olhar alegre e motivado de Molly ao sentir o sol tocar vossa pele. Seguimos fazendo isso todos os dias, era nosso segredo e sempre ao sinal de movimentação da sra Liz no corredor dos quartos, eu corria para fechar as cortinas.
— Senhorita Miller. — disse a sra Liz ao adentrar o quarto de Molly.
— Sim?! — fechei o livro de história greco-romana que lia e voltei meu olhar para ela — Desejas algo?
— Venha comigo. — seu tom de ordenança parecia mais amargo aquela tarde.
— Mas e a senhorita Molly?! — voltei meu olhar para a criança — Ela não pode ficar sozinha.
— Não se preocupe, Tessa ficará responsável por ela. — a sra Liz abriu mais a porta e Tessa entrou.
Assenti com a face e levantei-me da cadeira. Segui com ela até a cozinha, onde a repreensão começou. A sra Liz lutava contra o volume de sua voz que oscilava um pouco.
— Como ousas passar por cima das regras da Bellorie House? Quem achas que é para isso? — seu tom ainda mais forte — Quero que recolha vossas coisas e espere em vosso quarto até amanhã pela manhã, está dispensada de vossos serviços. Quando partires amanhã, receberá pelo tempo prestado.
— Perdoe-me senhora, mas o que fiz de errado para que me dispensasse? — questionei vossas palavras subjetivas.
— O senhor Bellorum ao retornar hoje pela manhã, viu as cortinas do quarto de Molly abertas. — respondeu ela com um olhar reprovador.
Meu corpo gelou. Deveria ter sido mais atenta e cautelosa. Não tinha como contra argumentar com ela, apenas abaixei minha face e assenti vossa ordem. Recolhi-me em meu quarto e coloquei minhas coisas dentro da mala. No dia seguinte, nem mesmo pude despedir-me de Molly, assim que ela entregou-me meu pagamento, segui com Finley de carruagem até o centro de Derbyshire. Com a quantia que estava em mãos, não poderia retornar a Londres, aluguei um quarto aos fundos de uma pensão.
Mais dias se passaram. Fui acordada ao susto na fria madrugada de outono. Assim que troquei minha roupa para receber a visita de Finley, relatou-me do estado de saúde de Molly. A pequena encontrava-se febril em delírios há três dias e de forma curiosa, chamando-me constantemente. Com sua repentina piora, vosso pai sabendo de minha permanência em Derbyshire, mandou que me buscassem na pensão. Peguei minha mala que se mantinha pronta, e segui de volta a Bellorie House.
Estar de volta aquele lugar deixava-me num misto de alegria e tristeza, principalmente pela forma em que saí. Ao ser recebida na porta pela sra Liz, fui conduzida até o quarto. Foi a primeira vez que colocava meus olhos no sr Bellorum. Ele estava de pé, perto da janela principal, olhando a filha com angústia em vossos olhos, notei que parte de vosso rosto estava coberto por uma máscara. Logo, lembrei do homem que quase esbarrei no baile na casa da família Sollary.
— Senhorita Miller. — ouvi o sussurro de Molly a me chamar.
Não me contive a correr para perto de sua cama, sentando-me ao seu lado e segurando em vossa mão. A pequena estava mesmo muito quente.
— Pequena, eu estou aqui. — disse num tom baixo e carinhoso, ao começar acariciar seus cabelos com a outra mão — Ficará tudo bem.
— Mamãe. — sussurrou ela novamente ao apertar minha mão.
Voltei meu olhar para o dr James que também se encontrava no quarto. De relance, olhei para o sr Bellorum que olhava-me assustado e confuso ao mesmo tempo. Certamente deveria pensar como uma criada havia criado um laço de amizade e carinho com vossa filha, a ponto de arrancar-lhe essas palavras.
— Querida Molly. — ponderei minha voz — Sou eu, a senhorita Miller.
A criança abriu os olhos lentamente, parecia fazer um esforço para abrí-los. E logo um sorriso apareceu em vosso rosto.
— Está mesmo aqui? — perguntou.
Certamente achando que eu fosse uma ilusão.
— Sim, estou. — sorri novamente para ela com carinho.
— Não vá embora novamente, por favor. — pediu ela.
— Não irei, prometo. — disse confiante.
Eu não sabia se realmente poderia fazer aquela promessa. Mas somente do fato de estar ali, já significava alguma coisa. Passamos o resto da madrugada observando-a melhorar, com a febre abaixando, o dr James prescreveu alguns cuidados que deveríamos tomar para que ela pudesse se recuperar por completo. Pela manhã, após Molly adormecer devido ao forte remédio que tomara. Minha presença foi solicitada no escritório do sr Bellorum. Meu coração acelerou um pouco, e senti um frio na espinha.
— Senhor Bellorum. — sussurrei ao entrar no escritório e fechar a porta.
Ele que estava de costas, virou-se para mim. Seu olhar era tão triste quanto o de Molly quando a conheci, sua face mesmo metade sendo escondida, conseguia notar as expressões frias e fechadas.
— Agradeço por responder ao chamado de minha filha. — disse ele mantendo o tom baixo.
— Não fui eu quem respondeu. — tomei coragem e respondi — Foi o senhor ao me chamar.
— Noto que minha filha se apegou fortemente a vós e que possui muito carinho por ela — ele suspirou fraco — Sinto-me arrependido por tê-la dispensado.
— O senhor só estava fazendo vosso papel de pai. — tentei consolá-lo.
— Meu papel de pai fez com que minha filha ficasse ainda mais doente. — o tom de frustração e arrependimento soou dele — Agora que retornaste, peço que permaneça nesta casa, para o bem de Molly.
— Não se preocupe senhor, prometi a pequena que não sairia de vosso lado. — assegurei a ele — Pretendo cumprir minha promessa, com a permissão do senhor.
— Agradeço. — ele se virou para a janela — Pode se retirar.
Assenti e saí do seu escritório retornando ao quarto de Molly. Com aquele susto causado por minha demissão, gerando consequências na saúde da pequena, tinha convicções dentro de mim que o sr Bellorum certamente aceitaria as mudanças que eu estava inclinada a continuar realizando.
Este foi mais um fato dos muitos que relatei nas cartas para minhas amigas. Tinha notícias de Mia com sua busca pelo noivo ideia com a ajuda de seu padre pessoal. Annia devido aos negócios de seu pai, estava prometida a um casamento por contrato com o homem mais libertino de toda a Inglaterra. Não foram poucas as vezes que vira lord Cedric Baker saído dos diversos quartos da casa noturna de Genevieve. E Jenie, segundo relatos, continuava a sofrer por seu amigo de infância, e agora estava ajudando a mãe do mesmo no distinto jantar de noivado dele.
Não estava fácil para nenhuma de nós.
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No ensolarado domingo de uma manhã de primavera, consegui me ausentar por alguns dias para comparecer ao casamento de Mia. Uma pequena festa oferecida para os amigos íntimos, no castelo dos pais de lord Tenebrae. Era nossa primeira vez reunidas após a separação.
— Não acredito que puderam vir. — disse Mia ao nos abraçar — Sinto-me feliz por vê-las tão bonitas e coradas.
— A primavera trouxe alegrias, assim como seu casamento. — disse Jenie sorridente.
Jenie continha um brilho no olhar. Algo novo e raro levando em conta vossa situação amorosa com o melhor amigo.
— Estamos mesmo muito felizes por sua conquista. — disse ao sorrir para minha amiga.
— Quem bom que o sr Bellorum a deixou vir. — Mia sorriu de volta para mim.
— Sim, foi um tanto conturbado, mas ele deixou sim. — não contive o olhar triste, apesar de manter o sorriso em meu rosto.
Havia feito inúmeras promessas para Molly que retornaria em três dias. Já que o sr Bellorum não a autorizou viajar comigo. Uma pena, pois seria muito bom para a pequena ver algo além da janela de vosso quarto. Um ponto em que planejava alterar em nossos dias.
— E você Annia? Se casará no início do verão. — Mia sorriu — Estou feliz pela data escolhida, já terei voltado de minha lua de Mel em Roma.
— Pois é, meu pai quem escolheu a data. — Annia confirmou nada empolgada, seu olhar parecia distante.
— Você vai para Roma? — Jenie ficou boquiaberta — Meu sonho era conhecer esta cidade.
— Sim, foi um pedido de Vincent, ele quero me mostrar o monastério em que vivia. — explicou Mia.
— Se casou com um padre. — Annia brincou de leve, lançando-lhe um olhar malicioso — Será que ele é virgem também?
— Annia? Olha os modos, que pergunta. — Jenie a repreendeu.
Nós quatro rimos daquilo.
Era bonito e motivador ver a felicidade de nossa amiga. A primeira a se casar. Algo que me enchia de esperança, afinal, eu havia construído uma leve linha de amizade com Finley. Um bom amigo que me fazia elogios nada discretos, arrancando-me risos e mais risos.
Assim que retornei a Derbyshire, fui recebida por Molly com um sorriso aconchegante e um brilho no olhar. Vosso pai estava em seu quarto, fazendo companhia a pequena em seu desjejum. Assim que me viu, ele se afastou da cama da filha para se retirar. No impulso, coloquei-me entre ele e a porta, e o olhei com firmeza.
— Perdoe-me senhor, mas posso pedir que fique? — tomei essa coragem, forçando minha voz a sair, mesmo que trêmula.
— Como? — vosso olhar ficou confuso.
— A pequena Molly sempre fica mais alegre quando está por perto. — expliquei baixando mais minha voz — Ela sente falta de passar mais tempo com o senhor, como viaja sempre.
Ele se mostrou pensativo e voltou seu olhar para a filha. Então retornou a me olhar.
— O achas que devo fazer? — perguntou.
O momento de abertura que eu tanto esperava obter.
Iniciei meus argumentos dizendo ao sr Bellorum o motivo de Molly sempre andar adoentada. Havia muita experiência dentro de mim por meus anos no orfanato, e mencionei a ele sobre essa fase. A pequena precisava viver como uma criança saudável para assim ser uma criança saudável, sem passar sua vida presa a uma cama em um quarto escuro recebendo a visita de vosso pai uma vez por semana, em poucas horas. Talvez fosse ousadia demasiada, mas contei lhe tudo que estava em meus pensamentos sobre a convivência naquela casa.
Seu olhar surpreso deu espaço a compreensão. A partir daí, pouco a pouco, nossa rotina começou a ser totalmente transformada.
Os meses se passaram.
Felizmente o sr Bellorum decidiu comparecer ao casamento de Annia. Levamos a pequena Molly conosco para que minhas amigas a conhecessem. Era a primeira vez que a pequena viajava para outro lugar que não fosse os cômodos da casa de campo. No segundo sábado após nosso retorno para a Bellorie House, ao amanhecer, sugeri que fizéssemos um piquenique a beira do lago da propriedade. Manhã ensolarada de verão, o sol brilhando no céu combinado ao perfume de lavanda que descia da colina.
— Obrigada mamãe. — disse Molly assim que entreguei lhe alguns morangos para comer.
Fiquei um pouco estática. Já havia conversado com ela sobre chamar-me de mãe. Após o dia do meu retorno, já havia ocorrido mais algumas vezes, e sempre na presença de vosso pai. Aquilo gelava-me por dentro, temendo ser mais uma vez repreendida por conseguir tanto afeto da pequena.
— Molly… Não deves me chamar assim. — disse num tom compreensivo — Não posso…
— Deixe-a. — disse sr Bellorum ao interromper-me — Permita que minha filha chame-a de mãe.
O olhei estática.
Voltei meu olhar para Molly que mantinha um brilho em seu olhar. Continuamos nosso piquenique, com o sr Bellorum sentando-se na toalha ao lado da pequena. A todo o momento, senti seu olhar fixo em mim, observando-me atentamente minha forma carinhosa de tratar Molly. Algo que deixou-me ainda mais apreensiva e temerosa. Será que ele poderia ficar com ciúmes da relação que uma simples criada criou com vossa filha? Era um questionamento que consumia-me por dentro.
À noite, após Molly adormecer, saí de vosso quarto e segui para a porta de entrada da Bellorie House. Saindo, caminhei um pouco pelo jardim, sentindo a brisa da noite. Gostava de fazer esses passeios noturno para relaxar, era meu momento de liberdade momentânea. Me aproximei do canteiro de lírios, mesmo no verão ainda estavam lindos e perfumados. Foi quando senti a aproximação de alguém. A princípio pensei que pudesse ser Finley com suas conversas motivacionais de fim de noite, porém era quem eu jamais imaginaria de fosse.
— Senhor Bellorum. — respirei fundo, sentindo meu corpo estremecer estranhamente.
— Perdoe-me se a assustei. — disse ele num tom baixo.
— Não senhor, está tudo bem. — abaixei o olhar em respeito — Mais uma vez gostaria de desculpar-me pelas palavras de Molly no piquenique, asseguro que não a forcei a fazer isso.
— Não se preocupe, não pensaria isso de vós. — assegurou ele — Não vim aqui para falar deste ocorrido.
Uma curiosidade por sua presença ali foi tomando conta de mim. Ele moveu o corpo ficando de frente para o canteiro de lírios.
— Esta era a flor favorita da minha esposa. — iniciou ele — Por isso, mandei que fizessem esse jardim apenas com lírios… Mas, ela não pode aproveitar seu perfume na primavera.
— Sinto muito, senhor. — mantive meu olhar nele, observando as mudanças de expressões em seu rosto — Como vossa esposa faleceu?
— Em um incêndio… Até hoje pergunto-me a causa, mas estava casa já foi cenário de um dias de horror e tristeza. Não consegui salvar minha esposa, apenas Molly. — o tom baixo exalava toda a sua amargura e ressentimento — Todos os dias essa cicatriz em meu rosto faz-me lembrar o ocorrido, persistindo a dor em meu coração.
— Certamente foi um acidente senhor, não deverias manter essa dor em seu coração. — tentei consolá-lo — Não penses somente que perdeu vossa esposa, mas agarre-se no fato de ter salvo vossa filha e ser um herói para a pequena.
Ele voltou seu olhar para mim, percebi que estava cheio de lágrimas no canto. O senhor Bellorum tomou impulso e pegando em minha mão, puxou-me para perto e me abraçou forte. Fiquei sem reação a primeiro momento. Contudo, após senti a primeira lágrima cair em meu ombro, retribui o abraçou com ternura e afeto.
— Agradeço… Por entrar em nossas vidas… Por cuidar de minha filha, melhor que eu. — sussurrou ele em meio ao choro silencioso.
— Para mim é um prazer senhor. — sussurrei de volta.
— Permita-me pedir mais uma coisa. — ele se afastou de mim, seu olhar parecia mais sereno.
— Sim, senhor. — assenti.
— Poderias me chamar de . — seu olhar ficou esperançoso — Não precisas mais de formalidades, quando estivermos sozinhos.
Sozinhos… O que isso significava?
— Como desejar senhor… . — respirei fundo — Com sua licença, preciso me recolher.
Fiz uma breve reverência, e me afastei um pouco para retirar-me. Porém, sua mão segurou a minha, parando-me.
— Sim?! — o olhei confusa — Desejas algo mais de mim?
— Sim. — assentiu.
olhou-me com certo desejo oculto, e tomando impulso em um piscar de olhos seus lábios tocaram os meus. Me retraí a princípio, porém de forma involuntária ao sentir suas mãos tocarem minha cintura, fui deixando-me levar pela doçura de seu beijo e retribui cautelosamente.
— Senhor. — sussurrei após o beijo.
Ele tocou meus lábios com o dedo indicador, olhando-me compreensivo.
— Ainda não sei o que acontece comigo, mas a cada dia sinto que preciso tê-la ao meu lado para sempre. — sussurrou ele aproximando seu rosto do meu — Não foi somente minha filha que conquistaste, mas meu coração também.
Confesso que não esperava por aquelas palavras. Apesar de muitas das vezes em que permanecia em vossa presença em seus momentos com a filha, o pegava me olhando diferente e com uma intrigante intensidade. Meu coração acelerou um pouco, e senti bambeza em minhas pernas. Logo apoiou-me nele e novamente beijou-me com mais suavidade e delicadeza, meu corpo se aqueceu por dentro fazendo-me retribuir o beijo.
— Eu verdadeiramente preciso recolher-me. — disse ao me afastar dele — Boa noite.
Segui para meu quarto, no qual passei a noite em claro somente pensando em vossos beijos e palavras. Sentia-me aquecida por dentro e totalmente desnorteada com meus sentimentos. Tinha um grande respeito por ele, compaixão por ter sofrido tanto após a morte de vossa esposa. Será que haveria espaço para o amor? Estaria eu me apaixonando pelo senhor Bellorum? Bellorum.
No dia seguinte, saiu bem cedo para resolver alguns assuntos no centro da cidade. Ele retornou pontualmente na hora do almoço e ordenou que servissem no jardim, um pedido de Molly ao pai. Assim que sentaram à mesa, olhou para mim que permanecia de pé ao lado de Liz observando eles. Oras eu era a preceptora de vossa filha, somente mais uma criada. Porém, ele pediu para que me sentasse na cadeira ao seu lado, de frente para Molly, e os acompanhasse. Meu corpo gelou um pouco, mesmo envergonhada assenti e me sentei.
Após eu ajeitar Molly em sua cama e a mesma adormecer. Entrei em meu quarto e vi uma carta em cima do meu travesseiro. Era de Finley, falando sobre seus sentimentos e sobre ter visto me beijando . Era desconfortável saber que meu amigo estava triste com os acontecimentos recentes em minha vida. Ouvi o barulho de batidas na porta, dobrei a carta e guardei na gaveta da escrivaninha. Ao abrir a porta, era a sra Liz, dizendo que desejava minha presença em seu escritório. Assenti de imediato e segui para lá.
— Senhor Bellorum… — disse no automático ao entrar.
Ele que estava sentado na cadeira em frente a mesa de trabalho, voltou o olhar repreensivo.
— Perdoe-me, . — só então notei que não havia chamado lhe pelo nome — Ainda não me acostumei.
— Deves acostumar-se. — ele se levantou da cadeira e se aproximou de mim — Tenho algo a lhe falar.
— Diga. — o observei vossa aproximação.
— Tenho pensado sobre este assunto a um tempo. — ele segurou em minha mão de leve e olhou-me com suavidade — Aceita ser oficialmente a mãe de Molly e minha esposa?
Ao mesmo tempo que meu coração se aqueceu, ele acelerou. Sem nem mesmo esperar minha resposta, foi se aproximando mais e mais lentamente até que tirou-me o fôlego com um beijo mais ousado e intenso. Estremecendo todo o meu corpo por completo. Em instantes, ele envolveu-me pela cintura com seus braços, aninhando meu corpo ao dele. Despertando dentro de mim um forte desejo de me entregar ainda mais aos seus beijos.
— . — sussurrei permanecendo aninhada a ele.
— Sim!?
— Concede-me um desejo? — perguntei.
— O que quiser. — assentiu ele com a voz suave.
— Desejo ver te. — pedi.
— Como?! — ele se afastou um pouco e olhou-me confuso — Ver me?
— Sim. — confirmei.
Eu ergui minha mão com leveza e toquei a máscara que cobria a lateral direita do vosso rosto. tocou minha mão, com um olhar temeroso, parecia querer recuar. Contudo, sorri com ternura e continuei minhas intenções, desencaixando a máscara de vosso rosto. Ele abaixou a face de imediato, certamente envergonhado pela cicatriz que recebera salvando a filha. Tomada por meus sentimentos, dei impulso erguendo meu corpo e beijei vossa face, bem na região da cicatriz. Não demorou muito, até que seus lábios percorrerem meu rosto para enfim, encontrar o meu novamente.
Aquela foi minha forma de aceitar vosso pedido.
Tarde de Inverno que completa se duas semanas após nosso discreto e reservado casamento. Como previsto, fui a última a casar-me das quatro amigas, e fiquei ainda mais feliz ao tê-las em minha cerimônia com vossos respectivos maridos: Mia Fletcher e Vincent Tenebrae, Annia Sollary e Cedric Baker, Jenie Sollary e Demeter Dominos. Isso provava que as 4 estações foram generosas com cada uma de nós, trazendo-nos o amor.
— Um beijo por vossos pensamentos. — sussurrou ao abraçar-me por trás, mantendo meu corpo aninhado ao dele.
— Pensando no quanto Deus foste generoso comigo, levando meu destino até o vosso. — respondi, mantendo meu olhar em Molly que se mantinha sentada na poltrona da sala ao lado da lareira — Sinto-me afortunada por ter ganhado uma família.
— Eu é que me sinto afortunado por tê-la ao meu lado. — disse ele virando me para ele — Eu a amo com todo o meu coração.
— Eu também o amo, com todo o meu coração. — sorri de leve.
O frio de minha vida fora aquecido pelo amor de e o carinho de Molly. Aquela agora era a minha família. Mais do que eu havia sonhado e imaginado para mim. Permanecemos nos olhando com desejo e certa malícia, até que se moveu para beijar me com toda a intensidade que sempre transbordava de si.
Realmente, havia sim um terceiro caminho para mim, que levou-me aos braços de Bellorum.
Eu nunca disse isso antes, mas
Pra te dizer a verdade, naquele dia
Eu pude sentir meu coração acelerar
Desde o começo, eu sabia
Eu não tinha certeza, mas senti
Como se nosso destino já estivesse decidido.
- In Your Eyes / To The Beautiful You OST (SHINee)
“Escolhas: Escolha a história que não para se lembrar, mas sim a história para se viver.” - by: Pâms
FIM?!
Hello gente, olha eu aqui com mais uma loucura de fazer pequenas sagas com histórias intercaladas. Assim como foi em BatB, aqui está a saga 4 estações do amor, espero que gostem das outras 3 histórias.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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