Última atualização: 02/07/2020

Sabotagem

Quando comecei a minha carreira de cantora no planeta Nikawa, nunca imaginei que chegaria tão longe. Foram cinco longos e dolorosos anos de treinamento e dedicação, até que o senhor Godric finalmente me concedeu a oportunidade de apresentar ao universo o meu talento. Agora, estava eu em minha terceira tour intergaláctica, fazendo sucesso em todos os planetas nos quais me apresentava. A pobre garota que fugiu do miserável planeta Merak não existia mais, e eu não queria me lembrar desse passado novamente.

— Acorda, acorda … — Lewis entrou em meu quarto transbordando entusiasmo e abrindo as persianas — O universo diz bom dia a mais brilhante estrela da galáxia.

A claridade do lado externo logo bateu em meus olhos, assim cobri a cabeça e virei para o canto. Meu corpo cansado pela apresentação da noite anterior ainda latejava dores musculares. 

— Lewis, volta mais tarde e me deixa descansar. — resmunguei me encolhendo ainda mais em meio às cobertas.
— A não querida, vamos tratando de levantar, que trouxe um café totalmente regado a vitaminas e proteínas. — retrucou ele — Você não faz ideia de como foi difícil achar frutas frestas nesse planeta árido, e custou uma fortuna. 
— Reclama com o Mark. — sussurrei apertando meus olhos e não me movendo.
— Mark?! Aquele lá nem parece se importar com seu bem estar. — ele parecia estar bufando naquele momento — Acho que vou abrir uma reclamação com o senhor Godric por ter entregado seu gerenciamento para ele.
— Lewis. — eu descobri minha cabeça e o olhei — Você mais do que eu sabe que o senhor Godric não liga para mim, ele só me deixou estrelar nos seus palcos depois de cinco anos por…
— Porque o público te amou no momento em que te viu nas ruas da glamorosa cidade de Jinger no planeta Nikawa, toda suja pedindo esmolas enquanto cantava. — continuou ele — Me lembro daquele dia, você ainda era uma garotinha faminta, cantando para chamar a atenção das pessoas e ter o que comer.
— Odeio quando fala do meu passado. — resmunguei me espreguiçando — O fato é que, Godric só não se livra de mim e deixa o caminho livre pra ninfa dele, porque eu rendo muitas lucros do que ela. Tanto financeiro quanto políticos.

Lewis arqueou a sobrancelha direita em concordância. 
Errada eu não estava.
Ter uma estrela em ascensão como eu em seu planeta, contribui muito para acalmar as massas na opinião dos líderes planetários. E Godric lucrava acordos com isso.

Cygnus, a estrela de Nikawa, tem muita influência entre o povo. — brincou Lewis indo até minha arara de roupas escolher o que eu usaria naquele dia — E como sabe, este planeta está em época de eleições, então precisam da sua distração para que a oposição não ganhe.
— Me conte uma novidade. — sorri de canto.

Sempre que precisavam causar distrações entre a população de algum planeta, lá estava eu fazendo shows e desviando a atenção das pessoas. Minha presença sempre causou um alvoroço nos planetas. Me levantei da cama e caminhei até a mesa com a bandeja de frutas, pareciam mesmo frescas com a aparência bonita e vistosa. Peguei um morango e mordi, enquanto observava Lewis em sua busca pelo look perfeito.

— Nada mal. — disse sobre a fruta — Até que está saborosa, vindo de um planeta cheio de poeira.
— Acho que é por isso que te trouxeram aqui. — comentou ele — Dizem as más línguas que os poderosos estão desviando os poucos recursos do planeta em benefício próprio.
— Então eles decidiram calar a oposição me chamando para distrair o povo? — suspirei fraco — Aposto de Godric está recebendo muito por isso.
— Aqui está. — Lewis retirou o cabide e me mostrou a roupa escolhida.

Era um vestido um tanto sensual e que valorizava o pouco de curva que eu tinha. Odiava aquela roupa, mas era a favorita de todos os meus fãs.

— Vamos à luta.

Assim que terminei de saborear meu café da manhã e troquei de roupa. Lewis me ajudou com o cabelo e a maquiagem, para finalizar coloquei o colar de pérolas negras. Presente do chanceler Durin, o governante daquele planeta. Claro que era um bônus por meu serviço. Era a pior parte de ser eu, porém não tinha outra escolha a não ser continuar jogando o jogo que Godric me introduziu. Eu jamais voltaria a viver de forma miserável como vivia em Merak.

— Que entre nossa convidada especial. — proclamou o chanceler Durin assim que me coloquei na porta do salão de recepção de seu palácio.
— Agradeço a recepção. — abri um sorriso singelo e caminhei pelo centro em sua direção, sendo acompanhada por Lewis.

Observei que Mark estava sentado na chaise a direita, sendo acariciado por duas ninfas nativas. Porém seu olhar não se desviava de mim. Mark já tinha várias vezes demonstrado seu interesse, mas eu o achava tão babaca que nem por um segundo queria cogitar a ideia de lhe dar uma chance. 

— Sobre o que os cavalheiros estão falando? — perguntei curiosa — Espero que seja sobre minha apresentação de ontem.
— Devo confessar que foi sensacional como sempre. — Durin se levantou de seu trono e deu alguns passos até mim.

Ele sempre tentava me cortejar de todas as formas possíveis. Ridículo.

— A cada passagem sua em meu planeta, se mostra ainda mais surpreendente. — ele ergueu sua mão tocando de leve em meu rosto — Sua beleza continua a me hipnotizar.
— Continuo me sentindo lisonjeada por isso. — mantive o sorriso em meu rosto e meu olhar nele.

Durin não era um homem tão velho assim, mas já contemplava os cabelos grisalhos de todo aprendiz de ancião. Apesar da estranha orelha pontuda que caracterizava o povo do planeta Regulus. E por mais interesse que ele pudesse ter em mim, eu não lhe daria nenhuma chance, mesmo com suas ofertas de me encher de diamantes galácticos. 

— Hoje finalmente eu terei o prazer de sua companhia? — perguntou ele, se aproximando mais num tom baixo para que somente eu escutasse.
— Você já está tendo o prazer da minha companhia chanceler. — retruquei ficando um pouco mais séria, porém mantendo a suavidade do rosto.
— Sabe o que eu quis dizer. — seu olhar ficou mais intenso, o que me deixou apreensiva.
— Chanceler Durin, amanhã teremos outra apresentação na praça central da cidade. — comentou Lewis, procurando me ajudar — Nossa estrela não poderá dispor de muito tempo em vossa presença, ela precisa descansar essa linda voz.
— Meu assistente sempre sabe o que é melhor para mim. — sorri de canto e me afastei um pouco dele.

Respirei aliviada. Lewis sempre tinha argumentos válidos quando o assunto era manter homens indesejáveis longe de mim. Participei do grande banquete oferecido a minha pessoa, e assisti algumas apresentações das moças que compunham o harém de Durin. Elas eram bastante habilidosas em sua dança típica. Pouco depois do anoitecer, me recolhi em meus aposentos. Pensei que teria uma noite tranquila de descanso até que Mark entrou repentinamente em meu quarto.

— Posso saber o que faz aqui a essa hora? — perguntei ao erguer meu corpo e me sentar na chaise.
— Vim te lembrar que não deves provocar o chanceler. — seu tom rude habitual estava ali, assim como o olhar ameaçador.
— Não provoquei ninguém. — me levantei mantendo meus braços cruzados.
— Tem certeza? — ele veio até mim e segurou de forma rude em meu braço — Só vou te alertar uma vez, não estrague os negócios do Godric. 
— Godric sabe muito bem como eu sou, não serei nenhuma ninfa para ele e nem para nenhum outro homem. — me soltei dele bruscamente — Se esse era seu recado, pode ir Mark, amanhã eu tenho um show para fazer e preciso descansar.
— Está avisada. — ele me lançou um olhar ameaçador novamente e então saiu do meu quarto.

Respirei fundo tentando não surtar com aquilo. Eu jamais me tornaria uma ninfa e me prestaria a me deitar com um homem a mando de Godric. Caminhei até a porta e tranquei, assim ninguém poderia entrar sem que eu consentisse. Dei alguns passos pelo quarto até chegar na varanda e me apoiei no arco da porta, olhando os carros voando pela cidade. Era louco ver que um planeta tão seco e desértico conseguiu evoluir tanto como Regulus evoluiu. Claro que nenhuma outra cidade daquele planeta era tão rica e tecnologicamente desenvolvida como a capital, e Lewis já tinha me contado sobre cidades pobres e abandonadas que existiam ali.

Fiquei um tempo observando as luzes da cidades, que também se movimentava durante à noite. Seria minha última noite, então retornaria para Nikawa e finalmente encerraria minha tour. No meio da madrugada eu senti um pouco de fome, talvez por ter perdido o apetite no banquete. Mas saí do quarto e segui pelos inúmeros corredores do palácio em busca da cozinha. Não iria incomodar Lewis, pois o mesmo estava tão exausto quanto eu. Segui por um corredor escuro e estreito, assim que comecei a ouvir vozes ao longe.

— Não acredito que estou perdida. — sussurrei adentrando mais o lugar.

Assim que cheguei no ponto de claridade. Vi um casal ajoelhados e com as mãos para trás algemadas, ambos chorando e pedindo clemência. Diante deles estava Durin com uma katana nas mãos. Eu já tinha visto uma espada assim, eram raras, valiosas e fabricadas exclusivamente no planeta Terra. Assim que o homem suplicou mais uma vez, Durin ergueu a espada e cortou a mulher.

— Não! — eu soltei um grito no susto e logo coloquei a mão na boca.

O olhar de Durin veio diretamente para mim, assim como os homens da sua guarda pessoal. Meu corpo gelou naquela hora, comigo temendo o que aconteceria depois.

Cygnus. — ele sorriu de canto — É uma pena que tenha visto, você é tão bela para morrer.

Morrer?! Deu dois passos para trás já entrando em desespero e saí correndo dali. Não sabia o que fazer e nem se sairia viva daquela situação, se eu pedisse ajuda a Lewis poderia colocá-lo em perigo também. Minha única escolha seria pedir ajuda a Mark, e foi o que fiz, segui até seu quarto e bati na porta. Assim que ele abriu, entrei desesperada.

— Eu calma. — ele me segurou pelos braços me fazendo olhar para ele — Você está muito nervosa e agitada, agora fale com calma.
— Eu juro que eu não quis ver nada, eu juro que não vou falar nada. — senti as lágrimas escorrerem dos meus olhos ainda mais apavorada.
— O que você viu? — Mark me perguntou confuso por minhas palavras — Precisa me dizer, assim eu posso te ajudar.
— Eu vi Durin, matando uma mulher, ela estava acorrentada. — tentei segurar mas desabei em choro.

Mark me abraçou no impulso e acariciou meus cabelos.

— Calma, eu estou aqui, vai ficar tudo bem. — sua voz estava baixa e estranhamente me passava segurança — Eu vou te ajudar. Você contou isso ao Lewis?
— Não, eu fiquei com medo de fazerem algo com ele.
— Muito bem, fez bem. — nós vamos cuidar disso.

De repente, bateram na porta. Era a voz de Durin, ordenando que abrisse. Mark me fez esconder embaixo da cama e abriu a porta em seguida.

— O que está acontecendo? — perguntou Mark.
— Você viu a cantora?! — perguntou Durin, se aproximando da cama.

Meu corpo ficou estático nesse momento.

— Não, da última vez eu a deixei no quarto. — respondeu Mark — Lewis não a viu?
— Não. — a voz de Durin estava ainda mais estranha e áspera — Assim que a encontrar, quero vê-la.
— Aconteceu alguma coisa? Amanhã é o show, com certeza ela estará lá.
— Assim espero.

Acompanhei a saída de Durin do quarto e saí debaixo da cama. Mark me olhou pensativo, parecia estar traçando algum plano para me ajudar. Eu sempre o achei um babaca, mas estava impressionada por sua ajuda. Ele me fez trocar de roupa e colocar as dele, assim poderia me disfarçar melhor. Para minha surpresa, Mark conhecia bem o palácio e sabia de algumas passagens secretas também. Talvez por passar muito tempo com as ninfas do chanceler, deve ter descoberto muitas coisas daquele lugar.

— Para onde está me levando? — perguntei.
— Você não pode ficar aqui, vou te levar para casa, só Godric poderá te proteger. — respondeu ele.
— Mas e Lewis? — indaguei parando de segui-lo e soltando sua mão — Não posso deixá-lo para trás.
, não é hora de pensar no Lewis, e sim em você. — Mark tentou me chamar à razão — Ele não sabe de nada, então sairá livre assim como os outros da produção.

Ele estendeu sua mão novamente. Assenti com a face e segurei em sua mão. Mark me levou até uma nave estranha. Eu não conhecia nada de naves, mas sabia que aquela não era somente uma nave de passeio, e pelo cheiro tinha anos que não era utilizada. Eu me sentei na cadeira ao lado da sua e coloquei o cinto de segurança. Assim que ele deu a partida, olhei pela última vez para a capital de Regulus. Adormeci antes mesmo da nave entrar em dobra, com minha mente ainda perturbada pela cena que presenciei, era o melhor a ser feito.

Devo confessar que mais uma vez eu estava inocente, achando que tudo terminaria bem e que eu estava em segurança. Até que acordei e me deparei com a realidade. Mark estava entrando na atmosfera de um planeta totalmente diferente do que eu esperava, não era o Nikawa, nem outro que eu conhecia. Era tão deserto quanto o Regulus, se não mais. Comecei a entrar em pânico internamente até que retirei o cinto de segurança e me levantei da cadeira.

— Onde estamos Mark?! — perguntei tentando não me apavorar mais ainda.
— No seu novo lar. — ele sorriu de canto. 

Acionando o piloto automático, mantendo a nave pairando no ar, Mark ativou o botão para que a porta de descarga abrisse. Em um piscar de olhos ele retirou uma arma de trás da calça e apontou para mim.

— O que está fazendo Mark? — perguntei novamente mantendo meu olhar focado na arma.
— Sei que não temos alguém tão popular e carismática como você, mas logo que souberem da tragédia, irão esquecê-la fácil, fácil. — iniciou ele — Não é tão difícil encontrar garotinhas famintas nas ruas de Nikawa.
— Do que está falando? — comecei a dar alguns passos para trás, recuando com medo — Não faz isso, por favor.
— Oh, agora ela conhece a palavra, por favor. — ele manteve o olhar ameaçador, e o tom amargo na voz — Se tivesse me dado uma chance, eu poderia até interceder por você.
— Mark, por favor. — comecei a lacrimejar, quase implorando.
— Mas os negócios de Godric estão acima do seu talento. — ele mirou em minha perna e atirou nela.
— AH! — soltei um grito de dor, juntamente com a primeira lágrima.

Olhei para as gotas do meu sangue caindo no chão da nave.

— Pule se não quer que eu atire novamente. — ele engatilhou a arma novamente — E da próxima, não vou errar.

Eu não tive nem mesmo tempo para pensar, movi meu corpo quase rastejando e pulei da nave sem saber que iria sobreviver ou não. Após o impacto do meu corpo caindo na terra daquele planeta, o mesmo saiu rolando devido a forte inclinação no solo. Levantei meu olhar mais uma vez e vi a nave partindo com Mark. Minha cabeça girou naquele momento, minhas vistas se escureceram, até que perdi a consciência.

Acordei sentindo meu corpo gélido pelo frio. Logo o som de uivos chegaram a minha audição. Abri meus olhos me deparando com a noite, me encolhi e olhei para o céu. As estrelas que compunham o céu daquele planeta eram diferentes das que estava costumada. O que me fazia perguntar onde eu estava. Eu iria sobreviver? Tentei levantar sem sucesso, a dor na perna baleada tinha retornado com força total. Era o fim para mim e para todos os meus sonhos.

— Era só o que me faltava. — olhei para frente com os olhos marejados de lágrimas.

Eu não sabia distinguir que animal selvagem era aquele e se era um animal, mas logo outros do mesmo tipo foram se achegando e me rodeando. Presa fácil, acho que é assim que eu deveria me denominar.

— Ok, podem vir, me matem de uma vez. — gritei para ele.

Assim que o líder do bando se posicionou e avançou para me dar o bote. Um bastão de fogo passou por meus olhos o afugentando. De repente uma pessoa apareceu no meio da escuridão da noite e pegou o bastão novamente, movendo contra os animais. Não demorou muito para que fugissem por entre os rochedos. A pessoa fincou o bastão no chão perto de mim e me olhou.

— Você está bem?! — a voz era de um homem.
— Acho que sim. — respondi o analisando.

Ele usava muitas peças de roupas, uma sobre a outra como os nômades. Algumas rasgadas e esfarrapadas, outras manchadas, com o que parecia uma sacola pendurada nas costas e uma bota surrada que vemos em planetas pobres. Eu não deveria julgar uma pessoa por sua roupa, já que os lords que vestiam seda me queriam morta e esse indigente tinha me salvado. Porém, era mais forte que eu.

— O cheiro do seu sangue vai continuar atraindo eles. — disse o homem.
— Me ajuda. Por favor. — pedi quase implorando, com um olhar piedoso.

Para mim que fui ensinada por Lewis e jamais dizer por favor, somente em casos extremos. Já estava me habituando a usar essa expressão. O homem rasgou uma faixa de sua roupa e amarrou em minha perna, na região baleada, então pegou o bastão e me entregou, assim que o peguei, ele me pegou no colo e começou a caminhar. Minha mente se fundiu um pouco com seus movimentos rápidos, então me mantive em silêncio. Afinal, ficar perto dele seria sinal de proteção.

— Para onde estamos indo? — perguntei em um sussurro.
— Para um lugar seguro. — respondeu, mantendo a seriedade na voz.

Assenti, aproveitando a deixa para observar o lugar em minha volta. Apesar de completamente escuro, as estrelas no céu conseguia iluminar parcialmente o planeta à noite. Demorou um tempo até que chegamos ao seu lugar seguro. Uma nave velha e abandonada. Notei que tinha ferrugens em alguns lugares assim como o cheiro de mofo, o que me impressionou e ativou minha alergia. Espirrei alguma vezes.

— Obrigada. — disse assim que ele me colocou sentada na sua cama improvisada e se afastou.
— O tecido está encharcado, o que significa que a bala está alojada. — ele começou a mexer em algumas prateleiras de ferros, ao lado dos armários — Se não tirar, vai continuar sangrando até você morrer.
— Tudo bem. — concordei, respirando fundo para não me apavorar novamente.
— Achei. — ele pegou uma caixa de ferramentas e voltou para perto de mim, se ajoelhando, retirou a faixa que tinha amarrado — Assim que eu tirar a bala, vai cicatrizar mais rápido. Vai doer um pouco.

Assenti com a cabeça. Eu nunca senti tanta dor assim na minha vida, nem mesmo a flanela que ele me deu para morder aliviou a pressão. Mas no final, ele conseguiu retirar a bala e desinfetar com um líquido que ele bebeu um pouco em seguida. Assim que limpou meu ferimento, ele envolveu tecidos mais limpos e amarrou novamente com outra faixa.

— Nem sei mais como agradecer. — disse limpando minhas lágrimas.
— O que faz uma celebridade em um planeta como esse? — perguntou ele.

Celebridade? Será que ele me conhecia?

— Como sabe quem eu sou? — perguntei curiosa e desconfiada.
— Quem nesse universo nunca ouviu falar da Cygnus. — ele riu meio com deboche — Não é só por que estou em um planeta abandonado que não sei das coisas. 

Seu olhar se voltou para mim com uma intensidade fora do normal. Me olhou como se analisasse-me. Só neste momento eu notei que parte do seu rosto estava sendo coberta por um lenço azul marinho.

— Já que sabe sobre mim, poderia saber quem é você? — cruzei os braços.
— Sou o cara que te salvou, é o bastante. — ele virou de costas e se afastou, indo assentar na cadeira do piloto.
— Não acho que seja o bastante. — retruquei.
— Mas vai ter que ser. — ele puxou a outra cadeira e colocou os pés — Deveria dormir, vai ser uma noite longa e eu não tenho analgésicos, o sono espanta a dor.

Foi só ele falar que senti uma pontada na perna seguido de dor. Me deitei na cama e fechei os olhos, segurando as lágrimas no canto. Um misto de frustração, medo e insegurança tomou conta de mim. Só por lembrar tudo que tinha acontecido comigo desde o momento em que cheguei ao planeta Regulus, até ali, deitada em uma nave estranha com um desconhecido. Suportando sozinha minhas dores: físicas e emocionais.

— Hum… — resmunguei de leve ao acordar e ver a claridade do lado de fora, entrar pela nave através do vidro da parte da frente.

Não sabia se deveria chamar a estrela do dia de sol, como nos outros lugares. E nem sabia onde eu estava.

— Então, homem que me salvou. — disse ao olhar para ele que se concentrava em mexer nos sistemas de comunicação da nave — Em que lugar estamos?
— Planeta Pollux. — respondeu.
— Nunca ouvi falar. — comentei.
— Pessoas como você jamais ouvem falar de lugares como esse. — o tom de deboche estava ali.
— E para que exatamente seria esse lugar? — me levantei e lentamente me aproximei dele — Que tipo de pessoa vem para cá?
— Pessoas indesejadas como você. — ele voltou seu olhar para mim — Planetas como esse são usados para descartar criminosos e pessoas indesejadas que precisam morrer de... “Causas naturais”. 
— Você se enquadra em qual categoria? — coloquei a mão na cintura.
— Ninguém me jogou aqui. — respondeu ele — O contrário de você.

Ele tentou esconder ao virar seu rosto para frente, mas notei um olhar irônico ali.

— Não vai mesmo tirar esse lenço e me deixar ver seu rosto? — indaguei.
— Por que quer tanto ver meu rosto? — perguntou voltando a me olhar.
— Por que quer tanto escondê-lo? — retruquei.
— Se não está satisfeita, pode ir embora. — ele riu.
— Um nome, pelo menos. — insisti.
, satisfeita?
— Hum, claro. — me afastei um pouco dele — E o que faz aí?
— Ouvindo o noticiário. — sarcástico.
— Ha, ha, muito engraçado.
— E sério. — ele tocou em um botão o girando e pude ouvir o que se passava.

A notícia de minha morte estava sendo noticiada em todas as transmissões que ele encontrava. E claro, Durin não se conteve em deixar toda a culpa cair nos opositores ao seu governo, dizendo que tinham invadido o seu palácio e atentaram contra mim. Uma reação contra as eleições, segundo suas palavras. Quanto mais eu ouvia, mais eu me indignava com tudo. Até que meu coração se partiu, quando a voz de Lewis soou com uma singela declaração. Meu único amigo achava que eu estava morta. 

— Uma pena você não poder participar do seu funeral. — brincou ele desligando o aparelho.
— Espera. — reclamei.
— Me desculpe, mas só posso deixar ele ligado por um certo tempo, se não, podem localizar a conexão. — explicou.
— E esse negócio pode fazer contato com qualquer aparelho de transmissão? — perguntei curiosa.
— Se souber a frequência. — respondeu.

Hum… Segurei meu sorriso de satisfação. Eu tinha a frequência exata do aparelho de comunicação de Lewis. Se eu contasse a ele o que estava acontecendo, talvez ele me ajudaria a sair daquele planeta e virar o jogo. Mas como eu iria fazer se afastar para enfim, realizar minha conexão.

- x - 

Eu já contava 174 dias naquele planeta deserto e monótono. Segundo meu novo amigo, era a estação das chuvas e nossa chance de caçar alguns dos animais selvagens. Isso mesmo, a caça se tornou caçadora e tive que aprender a lei da sobrevivência na marra com . Ele não me deixava sozinha nem por um minuto, somente mesmo para me limpar, e ainda ficava vigiando da porta. Era óbvio que ele não confiava em mim. E nem eu nele, apesar de ter me ajudado.

— Fique em alerta, eles não gostam do barulho dos trovões, isso os deixa desnorteados, então é mais fácil para abater. — orientou ele, assim que nos posicionamos entre as rochas perto de um pequeno bando.
— Ok. — assenti.

Já se completava três semanas que era somente noite naquela parte do planeta, a chuva intensa de quatro dias também colaborava com a escassez de comida para ambos os lados. Porém, nosso elemento favorável era o barulho. Em um piscar de olhos que fizemos a contagem dos trovões, atacamos um membro isolado do bando e o matamos. Carregá-lo foi difícil, pelo tamanho e peso, mas o esforço foi compensado no final. Quem diria, eu que sempre fui contemplada com os melhores banquetes, agora matava minha fome com o primeiro animal selvagem que encontrava.

— O que achou? — perguntou ele.
— Nada mal . — tentei elogiar — Até que você cozinha bem.
— Minha especialidade, então aproveita. — brincou ele.
— Sabe até quando essa chuva vai continuar? — perguntei.
— Geralmente dura cerca de duas semanas, ou mais. — respondeu ele.

Seu olhar se voltou para mim por um momento, fixou. Pela primeira vez me deixei ficar constrangida pelo olhar de alguém para mim.

— O que foi? — perguntei.
— Melhor você se trocar, ou vai ficar doente. — disse ele — Não temos remédio.
— Tem razão. — eu me levantei e segui até o banheiro improvisado por ele — É melhor você se trocar também.

Eu peguei alguns trapos de roupa e entrei no banheiro. Ainda não tinha me acostumado a espaços pequenos e desconfortáveis. Sempre que olhava para seu rádio de transmissão, desejava minha antiga vida de volta. Assim que me sequei e vesti as roupas que improvisei para mim, saí do banheiro e me deparei com ele se trocando. Sua calça seca já estava vestida, continuei o observando de costas para mim, pela primeira vez notei que suas costas tinham algumas cicatrizes. Algo curioso. Ele se virou para mim, parecia procurar sua camisa.

— Para alguém que não gosta de ser espiada. — ele me olhou com sarcasmo e então pude ver seu rosto completo sem aquele lenço.
— A culpa não é minha se demora mais do que eu. — meus olhos estavam sem controle e direção.

Não sabia se eu focava em seu rosto que me era familiar, ou em seu abdômen definido que me impressionou.

— Só estava procurando por isso. — ele apontou para cama, onde sua camisa se encontrava.
— Você perde tanta coisa ao longo do dia, que não consigo acreditar como viveu sozinho por um tempo. — agora eu estava no tom irônico.
— Será que estou me acostumando com você? — ele riu com sarcasmo e vestiu a camisa — Vamos voltar a comer.
— Ok. 

Quanto mais eu olhava seu rosto, mais me forçava a lembrar quem ele era. Se não tinha sido deixado naquele lugar, quem ele poderia ser. Revirei a mente até que me lembrei.

— Você?! — dei um pulo da cadeira e me afastei dele — Agora me lembro de você.
— O que? — ele me olhou confuso por minha reação.
— Planeta Terra, eu fiz um show lá, e um homem estava fugindo da polícia local e invadiu meus aposentos no hotel. — fixei meu olhar nele — Era você, você me fez refém e me usou para sair de lá, ainda roubou minha correntinha. 

Eu não queria acreditar que tinha caído em um planeta abandonado com ele. Só de me lembrar daquele da, já ficava em pânico.

— Por isso está aqui, não foi abandonado e sim está se escondendo. — conclui de imediato — Você é procurado em todas as galáxias.
— Parabéns, agora que descobriu, pode sair correndo. — ele continuou comendo tranquilamente como se não importasse minha descoberta.
— Vai continuar agindo normalmente?! — perguntei.
— Eu não posso sair desse planeta, você não tem para onde ir e pessoas influentes te querem morta. — ele me olhou novamente — Você ter descoberto quem eu sou, vai mudar em que nossa realidade?
— Tudo, eu jamais vou confiar em você. — joguei em sua cara. 

Ele se levantou e caminhou até mim, parando a milímetros de distância. Senti meu coração acelerar um pouco, assim como minhas pernas meio bambas. Ele transmitia tanta intensidade de perto que me desnorteava um pouco.

— Desde quando você confia em mim? — retrucou ele — Você dorme agarrada a uma barra de ferro, como se eu fosse tentar algo. Você é bonita, mas nem se fizesse meu estilo forçaria algo.

Ele se afastou de mim e voltou a se sentar na cadeira. Foi então que me lembrei que tinha que respirar novamente. Sua aproximação foi tão intensa que minha mente se fundiu. “Fizesse meu estilo?” O que ele queria dizer com isso?

— Deixe de paranoia e venha comer. — disse ele.

Me aproximei ainda contrariada e peguei a tigela com a comida.

— Por que estava fugindo naquele dia? — perguntei.
— Nem todo mundo nasce em berço de ouro como você. — respondeu ele.

Eu soltei uma gargalhada espontânea. 

— Eu não nasci em berço de ouro. — retruquei — Todos pensam que sim, por tudo que conquistei, mas eu nasci em Merak, o planeta mais pobre da constelação Cygnus.
— Prazer, nasci no planeta Terra, o mais corrupto da Via Láctea. — ele riu com ironia — Lá, quem nasce pobre só tem duas opções, vira escravo ou entra para o crime.
— E você ficou com a segunda opção. — conclui.
— Minha mãe foi escrava a vida toda e morreu sendo uma, não queria essa vida. — ele suspirou fraco — Queria ser rico, não me preocupar com o que comer no dia de amanhã.
— Bem, compartilhamos do mesmo sonho então. — brinquei arrancando um sorriso discreto dele — Como entrou para o crime?
— Um amigo de um amigo me ofereceu emprego em sua nave, eles transportavam cargas roubadas. — respondeu — Foi legal no início até que eu fiquei ganancioso e roubei meu chefe, o chefe dele e mais outras pessoas importantes.
— E sua cabeça ficou a prêmio. — constatei.
— Exatamente, como a sua. — retrucou ele dando um sorriso da satisfação,
— É, só que no meu caso, eu não era criminosa. — me expliquei — Acabei vendo o que não deveria.
— Queima de arquivo, é assim que chamam. — explicou ele.

Um breve silêncio pairou entre nós e terminamos a refeição. Eu lutei contra o sono e cansaço, fingir estar dormindo e esperei até que ele caísse no sono. Era minha deixa para finalmente fazer meu contato depois de tanto tempo tentando. Liguei o transmissor e inseri as coordenadas do aparelho de Lewis. Assim que atendeu, meu coração se encheu de alívio em ouvir sua voz.

— Lewis, sou eu, estou viva. — disse a ele.
Não. — a voz dele parecia triste e desapontada por me ouvir — , não deveria ter feito essa ligação.

Logo um barulho estranho soou do seu lado e ouvi outras vozes.

— Lewis?! — insisti.
Olá . — a voz era de Durin, fazendo meu corpo gelar — Então você sobreviveu. Eu sabia que o covarde do Mark não teria coragem para te matar.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Estava com medo que pudesse fazer alguma mal ao Lewis.

— Durin, por favor, deixa o Lewis… — eu nem pude terminar a frase.

O som de tiro do outro lado me assustou e logo a mão de apertou meu pulso. Me afastando do transmissor.

— O que está fazendo?! — ele gritou comigo e desligou o aparelho — Você é louca?
— Eu só queria… — eu estava tão abalada por ter ouvido aquele tiro que não conseguia formular nenhum argumento para ele — O Lewis.
— Ele vão nos rastrear agora. — se mostrou ainda mais nervoso ao arrancar o aparelho da mesa e jogá-lo no chão — Você não se dá conta do que fez?
— Não. — gritei de volta — Eu queria saber como meu amigo estava e pedir ajuda a ele.
— Você quer é sair desse planeta e voltar a sua vidinha de cantora mimada. — ele cuspiu essas palavras e saiu em direção a porta lateral da nave — VOCÊ FERROU A NOSSA VIDA.
— Sim, eu quero, quero sumir daqui e ficar bem longe de você. — continuei gritando — AH!! Eu não aguento mais esse lugar.

Meu corpo desabou no chão assim como as lágrimas desabaram em meu rosto. Sentia por Lewis, por mim e por não conseguir sair daquele lugar. Talvez estivesse certo e meu egoísmo tinha falado mais alto. Como o mundo reagiria se me visse vive novamente? Era a única coisa que tinha pensado todo aquele tempo, porém a mais importante tinha sido ignorada: minha segurança. Me levantei e saí na chuva atrás de , ele estava certo e eu tinha feito algo errado, mas queria reparar. 

— CEDRIC! — corri pelo perímetro gritando seu nome, me afastando cada vez mais da nave — CEDRIC!

Eu detestava chuva, ainda mais com tudo escuro em minha volta, porém tinha aprendido a conviver com os obstáculos daquele planeta. Foi em meio ao meu desespero em procurar por ele que novamente me coloquei em perigo. Ao pisar em falso, tropecei em algo e caí. Assim que ergui meu corpo, vi que era . Desmaiado e com sua perna ferida, parecia picada de alguma coisa. Tentei levantar seu corpo e o apoiei em mim. Mesmo sendo pesado e mesmo com a dificuldade de carregá-lo, segui pelo mesmo caminho que tinha trilhado, chegando a nave.

Eu não sabia o que fazer e estava totalmente apavorada com a ideia dele morrer por minha culpa. Seu corpo estava frio e imóvel, sua respiração fraca. Retirei suas roupas rapidamente e coloquei outras secas, peguei os cobertores e joguei em cima dele na cama, assim aqueceria mais rapidamente. Fiquei ajoelhada ao seu lado segurando sua mão, apreensiva esperando alguma reação. Segurando as lágrimas de arrependimento por ter causado tudo aquilo.

— Me desculpa… Por favor, reage. — sussurrei para ele — Eu não posso ficar neste planeta sozinha, preciso de você.

Limpei uma lágrima de caiu.

— Você me ouviu , eu preciso de você. — disse novamente, mais alto.
— Diga isso mais uma vez, que eu conseguirei ouvir. — sussurrou ele e tossiu depois.
— Você está bem?! — perguntei.
— Fui picado por uma espécie de escorpião, mas vou sobreviver. — respondeu ele abrindo os olhos — Não é venenoso, mas causa paralisia por algum tempo.
— Que bom. — suspirei mais aliviada.
— Então não queria me perder? — ele sorriu de canto.
— Não é hora para brincadeiras. — bati em seu braço.
— Ai. — ele se encolheu — Eu ainda estou me recuperando, e a culpa de tudo isso é sua.
— Me desculpa. — desviei o olhar dele.
— Vá trocar de roupa, ainda está molhada. — disse ele.
— Tem razão, por isso deve me desculpar, fiquei tão preocupada com você. — me levantei indo pegar roupas para mim.

Assim que retornei, vi tremendo. Coloquei a mão em sua testa e estava ardendo em febre.

— Oh não. — me impulsionei para afastá-lo, porém ele segurou em meu braço, me impedindo.
— Está tudo bem. — assegurou — É só uma reação da picada, vou ficar bem em algumas horas.
— Tem certeza?
— Só preciso que se deite aqui comigo, estou com frio. — pediu mantendo seu olhar em mim.
— O que?
— Calor humano ajuda a esquentar. — explicou ele — Você ainda tem que cuidar de mim.
— Chantagista mercenário. — revirei os olhos e me deitei ao seu lado — Comporte-se, o bastão de ferro está bem próximo.

Minha ameaça era meio maluca.

— Não se preocupe. — me moveu seu corpo, me fazendo aninhar a ele — Não vou tentar nada, só estou sentindo frio.

Estranho admitir, mas pela primeira vez em anos, eu havia dormido tão tranquila e misteriosamente confortável. Exatamente em seus braços. A segurança que não sentia a anos, tinha encontrado nele. 

— Hum… — me espreguicei ainda sonolenta e percebi que estava sozinha na cama. 

Abri os olhos desconfiada e olhei pelos cantos procurando por . Pelo vidro da frente da nave conseguia ver que a chuva permanecia intensa do lado de fora, assim como a escuridão. 

— A dorminhoca acordou. — brincou vindo do banheiro, enquanto secava seus cabelos.
— Onde estava?! — cocei minha cabeça confusa, me levantando da cama — Você passou horas com febre e saiu na chuva?
— Está preocupada comigo?! — ele deu um sorriso debochado.
— Tire esse sorriso da cara. — me aproximei dele e toquei em sua testa — Você ainda está quente.
— Temos problemas mais importantes que minha febre. — ele afastou minha mão, seu olhar ficou mais sério.
— Como assim, problemas mais importante? — senti um leve medo do que ele pudesse dizer.
— Sua ligação nos custou caro… Eu disse que iriam nos rastrear. — ele abaixou a mão que segurava o tecido molhado que usava para secar o cabelo — Conseguiram nos achar.
— Como assim? Quem?
— Essa nave possui um radar de longo alcance, ela detectou a aproximação de duas naves para esse planeta. — explicou ele — Liguei os sensores de movimento, é questão de tempo até chegarem aqui.
— Eles vieram atrás de mim, não de você. — retruquei — Se eu me entregar, não vão te ferir.
— Agradeço por querer ser a heroína. — ele sorriu de canto — Mas se forem mercenários, devem me conhecer e minha cabeça também está a prêmio.

Eu suspirei fraco, me sentindo culpada.

— A culpa foi minha. — sussurrei.
— Disso eu concordo. — seu olhar continuou o mesmo, pensativo e observador.
— O que faremos agora?
— Eu tenho um plano. — ele deu um passos para mais perto de mim, com ar de confiança — Se você me ajudar, podemos escapar desse lugar.
— O que eu tenho que fazer? — perguntei curiosa e animada.
— O que você faz de melhor. — respondeu ele — Distração.

O plano de era simples. Nós dois conhecíamos bem o planeta, a chuva e o escuro seriam nossos aliados, assim como os escorpiões que paralisaram ele. Enquanto eu distraía nossos convidados, prepararia uma armadilha para que eles fossem neutralizados. Só tínhamos uma chance para dar tudo certo. 

- x - 

— Cavalheiros. — disse assim que aqueles homens se posicionaram diante de mim — Eu me rendo!

Mantive minhas mãos levantadas, discretamente observando a movimentação de . Se aqueles homens tinha mesmo ido por minha causa, então não sabiam que eu estava sozinha. 

— Onde está a outra pessoa? — gritou um dos homens, parecia ser o líder.
— Que pessoa? — perguntei inocente.
— Acha mesmo que vamos acreditar que sobreviveu sozinha? — o outro homem aparentemente líder da outra equipe se manifestou.
— Que machista. — bufei de leve — Então uma mulher não é capaz o suficiente para se manter viva sem precisar de vocês homens.

Eu soltei uma gargalhada e dei alguns passos na direção deles, saindo da nave. Ao pisar na terra, me abaixei e ergui a corda que preparamos com os escorpiões agarrados a ela, então agitei para que voassem neles. Não demorou muito para que as minas implantadas por começassem a explodir dispersando ainda mais os homens. No pouco espaço de tempo que tive, pude contar dez homens de cada nave, uma soma a ser considerada. 

Eu me abaixei em meio ao tiroteio que se formou, e rastejei para dentro da nave. Era minha deixa para pegar a pequena sacola que tinha preparado. Ao chegar do lado de dentro, acendi as luzes da parte frontal da nave e liguei o rádio falante, deixando ecoar nas caixas de som improvisadas no lado externo, o uivo dos animais selvagens. Se a carnificina iria começar eu não sei, mas minha parte na distração estava completa.

Ao colocar a sacola nas costas, fui surpreendida pelo líder da segunda nave, que ao me bater com a cabo da arma, me pegou pelos cabelos.

— Achou mesmo que iria me enganar. — ele começou a me arrastar para fora da nave.
— Me solta! — gritei me debatendo tentando me soltar dele — Me solta!
— CEDRIC! — gritou o homem — Aparece seu covarde.
— Do que você está falando? — eu continuava a tentar me soltar dele sem sucesso.
— Larga ela! — gritou ao aparecer em frente a faixa de luz em frente a nave.
— Eu sabia! — o homem riu, me trazendo para meu perto dele e encostando a arma na minha cintura, enquanto mantinha a outra mão segurando meu cabelo — O velho truque da distração, você não muda mesmo.

Prendi minhas lágrimas junto com a dor que sentia, pela a agressividade daquele homem. 

— Já disse para soltá-la, Jake. — no seu olhar tinha um toque de fúria, que me fez estremecer — É entre eu e você.

Então o conhecia.

— Engano seu… Você a quer? — disse o homem dando uma risada infame — Vem pegá-la!

Assim que o homem fechou a boca e piscou de leve para mim, pisei com a máxima força que tinha no pé do homem o distraindo e lhe dei uma cabeçada. Me abaixei rapidamente e disparou sua arma, acertando o homem. Eu corri em sua direção, e assim que cheguei perto o abracei no impulso. Mais impulso ainda foi o beijo que ele me deu de forma natural e intensa, como se tivéssemos longe um do outro há anos. Desde quando a gente tinha ficado tão íntimo assim? Pelo que me lembrava eu nem fazia seu estilo!

— Eu… — ele se afastou de mim, ao finalmente perceber o que tinha feito.
— Temos que sair daqui. — disse ao virar para trás e ver Jake se movendo caído no chão, logo ele apontou para nós e disparou.

No susto me pegou pela cintura e abaixou me levando junto. 

— Precisamos chegar na nave agora. — disse ele me pegando pela mão.

Corremos por entre alguns corpos que estavam caídos, indo em direção a uma das naves. Foi por uma fração de segundos que Jake surgiu no meio da nossa fuga e agarrou . Ambos trocaram vários socos. Eu fiquei parada olhando sem saber o que fazer.

— Fuja! — gritou — Vá para nave vermelha e fuja!

Eu não deveria estar tão estática. Precisava reagir de alguma forma e salvar ele. Procurei pelo lugar algo que pudesse me ajudar a salvar . Foi quando esbarrei na caixa de som e arranquei uma das hastes dela. Segurando aquela barra voltei para onde eles estavam. Para meu desespero Jake estava por cima de , o enforcando, enquanto afundava sua cabeça na pequena correnteza de água que se formava ali perto. Sem medir minhas ações e só pensando em salvá-lo, eu me aproximei e acertei Jake com toda a minha força, o desmaiando. Pelo menos era o que pensava.

! — segurei em sua roupa e o puxei — fala comigo.

Ele começou a tossir, enquanto buscava recuperar seu fôlego. Voltou seu olhar para mim e sorriu de canto. Não me contive na hora e devolvi o beijo que ele tinha me dado antes. Eu já tinha lido livros importados da Terra com histórias de amor contendo beijos ardentes debaixo da chuva. Jamais imaginaria que viveria uma história intensa assim e de quebra com um beijo desse. Mas ali estava eu, em meio a forte chuva do abandonado planeta Pollux, beijando o homem considerado o maior vigarista do universo. 

Um beijo intenso e malicioso que me aquecia por dentro, mesmo estando frio externamente.

— Vamos embora daqui. — disse ele.

Assenti o ajudando a se levantar e seguimos para a tal nave vermelha. Eu não sabia o motivo dele ter escolhido aquela, mas o segui sem contestar. Se fazia parte do plano, alguma coisa tinha ali. Ao sentar na cadeira do piloto, ele ligou os motores e acionou todos as funções, ao empurrar a alavanca, colocou a nave no ar. Era hora de se despedir de Pollux.

, a outra nave?! — eu me sentei na cadeira do co-piloto e o olhei — Quem sobrou pode nos seguir.
— Eles não vão. — ele voltou seu olhar para mim e sorriu de forma debochada.

Em um piscar de olhos, a outra nave explodiu. Foi um barulho estrondoso seguido de um enorme clarão. 

— Uau! — disse abrindo um largo sorriso.
— O que achou do gran finale? — perguntou ele sorrindo junto.
— Melhor do que eu esperava. — me levantei da minha cadeira e me sentei no seu colo, o impedindo de pilotar.
— O que está fazendo senhorita? — ele me olhou confuso.
— Hum… Estou atraindo sua atenção. — ri dele — Para onde vamos agora?
— Para um lugar bem longe daqui, isso é bem óbvio. — ele apertou o botão do piloto automático e voltou sua atenção para mim — Tem algum lugar em mente?!
— Que tal a Terra?! — sugeri — Seria bem óbvio para eles, e nunca nos procurariam lá.
— Talvez, eu ainda tenha alguns amigos que poderiam nos ajudar. — observou ele — Não é uma má ideia.

Ficamos nos olhando na mesma medida de intensidade. Ele ergueu um pouco seu corpo para me beijar, porém o barrei.

— O que?! — perguntou confuso por minha reação.
— Eu não sou seu estilo. — me impulsionei para me levantar, porém ele me agarrou e me fez voltar.
— Que mulher rancorosa. — ele riu de forma boba — Ainda se lembra disso?
— Claro, nunca tinham me dito isso antes. — fiz uma cara emburrada.
— Imaginei. — aquele tom debochado dele me irritava às vezes. 

Eu o bati de leve, arrancando risos dele, comecei a rir junto. Até que fui surpreendida por um beijo dele. Meu coração como das outras vezes acelerou, e o meu corpo acompanhando a intensidade oferecida por

Não era o fim, mas o início de uma nova jornada de aventuras e tínhamos um ao outro para vivê-las. Nossa viagem para Terra não seria somente para nos esconder, eu queria justiça, ou vingança. 

Durin estava no topo da minha lista, e não deixaria isso passar.

Seu amor, seu amor, 
É como um veneno para mim
Um destino que não posso escapar,
Meu sangue fica mais quente e ela controla tudo de mim. 
- Overdose / EXO

 

Força: O que não causa sua morte, te deixa mais forte." - by: Pâms.



FIM?!



Nota da autora:
Hello. Mais uma fic, agora bem sci-fi. Espero que tenham gostado. Vejo vocês na próxima fic.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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