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Finalizada em: 30/03/2018

Before



Capítulo 30

* Peter *

Eu estava na minha sala, era a segunda leva de relatórios que me mandava fazer, acho que estavam querendo me manter ocupado, assim não teria tempo para fazer minhas investigações pelo sistema. Era legal ser um hacker, mas ao mesmo tempo era chato, ainda mais quando se estava sempre sendo vigiado pela empresa onde trabalhava.

As horas foram passando, até que no final da tarde null me ligou revoltado, seu plano tinha dado errado, ainda me perguntava porque ele nunca me escutava. Como ele conseguiria prender alguém sem provas? Mas aquele cabeça dura nunca me escutava.

— Diga suas frustrações. — disse ao atender o telefone.
Tem certeza? — perguntou ele com uma voz amargurada — Tenho muitas.
— Eu disse para você ter cuidado e esperar, agora ela sabe que está mesmo atrás dela, quem quer esteja protegendo ela vai te caçar até o final da terra. — repeti o que já tinha dito dias atrás.
Agora mais do que nunca, preciso da sua ajuda, preciso desse dossiê que está confeccionando. — retrucou ele.
— Vai ter que esperar, ainda não consegui nada muito comprometedor. — me espreguicei um pouco — E como já avisei, não posso te enviar mais nada, terá que esperar eu reunir tudo.
E o que vou fazer até você terminar? — ele parecia ainda mais frustrado.
— Não sei, você é o agente. — pensei por um tempo — Ah, temos uma testemunha, vá atrás desse tal Davi, já te passei o endereço.
Boa ideia, vou ter uma significativa conversa com esse tal Davi, talvez posso ter mais pistas sobre como associar null a Cassie.
— Te desejo sorte e me deseje sorte também.
O que está tramando?
— Hoje vou invadir o sistema oculto da Interpol, hoje terei acesso aos arquivos dos prodígios.
Tome cuidado e boa sorte de novo.

Desliguei o telefone e olhei para o monitor do computador, estava adiando demais minha investigação, e iria aproveitar aquela noite para realizar meu maior feito como um hacker profissional. Deixei a hora passar até terminar meus relatórios, desliguei tudo na minha sala e peguei meu tablet, só iria precisar do programa dentro dele para quebrar todas proteções do sistema.

Esperei a maioria das pessoas irem embora e me tranquei no banheiro até a madrugada, abri o forro do teto e fui seguindo pelo duto de ar até o escritório do diretor geral da Interpol, era um dos membros mais importantes e de maior influência. Eu tinha certeza que ele escondia alguma coisa, abri o forro e desci, retirei a lanterna do meu bolso e fui até a mesa. Assim que liguei o computador e conectei meu tablete nele, iniciando a infecção do sistema com um vírus que tinha criado, aquilo iria me ajudar a passar por todas as senhas e contra senhas que teria no sistema e chegar até os arquivos ocultos.

— Ah, acho que agora eu consigo o que estou procurando. — sussurrei para mim mesmo.

Assim que o vírus se completou, comecei acessar o arquivo oculto, havia muitas pastas sobre muitas missões e investigações sigilosas, e após procurar dentro de pastas e mais pastas, encontrei a dos prodígios. Foi um suspiro grande de alívio, fiz uma contra cópia oculta enviando para meu tablet, havia uma pasta reservada somente com informações sobre Cassie e null. Aquela pasta que fazia todos as nossas suspeitas se concretizaram, tinha todas as provas que poderia ser uma ligação de null com Cassie.

— Achei. — sussurrei de leve.

De repente, ouvi um barulho vindo do lado de fora, fechei todas as pasta e desliguei o computador, assim que voltei para o duto de ventilação, deixei o forro entreaberto para ver quem entraria na sala. Minutos depois finalmente a porta se abriu, era o diretor Marx.

— Você vai me desculpar sr. D, mas o que a LT fez foi um insulto. — disse ele com voz áspera — Ela deveria me entregar o pacote.
— Você já deve saber que ela não pode ser domada, não posso fazer mais nada quanto a decisão dela, minha prodígio já passou por cima dos seus princípios para atender seu pedido. — disse uma voz firme porém suave, não conseguia ver a face do homem.
— Princípios? — ele riu — Não sabia que uma mera criminosa tinha princípios.
— Meça suas palavras.
— Estou pagando por isso, senhor D. — retrucou ele.
— Pagando? — ele riu — Você ameaçou a minha criança. — o homem se aproximou do diretor e pegou no colarinho de seu terno — Se eu pedi que ela completasse esta missão, não foi por causa da sua chantagem, proteger a imagem da LT não é um pagamento, é sua obrigação.
— O que está fazendo? — o diretor parecia um pouco assustado naquele momento e atordoado — Como ousa falar assim comigo? Com que direito?
— Tenho muito mais direito do que você imagina, e você me deve muito mais do que imagina, nunca mais ouse usar a LT para conseguir o que quer, ela só pegou aquela criança, porque seria vantajoso para mim, e não por sua reles causa. — o homem soltou o terno do diretor e lhe deu um soco o fazendo cair no chão — Ah, só mais uma coisa Marx, jamais se refira a LT como uma mulher qualquer, ela vale mil vezes mais que qualquer agente idiota que você tem aqui, ou melhor, cada fio de cabelo dela vale muito mais que você.

O homem se afastou e saiu da sala, engoli seco vendo tudo aquilo, o diretor Marx era um cliente da LT e pior, ele conhecia o chefe dos prodígios, será uma bomba quando eu contar para null.

 

* null *

Não seria fácil mesmo convencer null a ficar com aquele bebê, mas depois que expliquei toda a história em detalhes, desde o início me escondendo no quarto de null, até aquele momento com null me ajudando a roubar aquele bebê. Ela ficou sem reação por alguns minutos, e até ignorou o fato de eu estar envolvida com o irmão do null, e pior eu usar ele tranquilamente com um álibi.

null me deixou no apartamento sozinha e saiu por alguns minutos, quando retornou estava com algumas sacolas em suas mãos, tinha algumas coisas para o bebê, inclusive leite especial para dar a ele. Fiquei com medo de perguntar se ela aceitaria ficar, ou me expulsaria de lá com meus problemas e confusões, mas minha irmã era muito legal comigo.

— Me desculpe por trazer minhas loucuras para você. — disse pegando algumas das sacolas da sua mão e colocando em cima da mesa.
— Irmãos são pra isso, não é? — ela me olhou respirando fundo — Não vou dizer que estou feliz com a vida que você leva, mas tenho que agradecer porque foi através disse que hoje somos livres e sobrevivemos.
— Não precisa dizer com essas palavras. — eu a abracei apertando um pouco — Também te amo.
— Só disse a verdade, graças a você posso fazer faculdade e ter uma profissão digna, quando olho para o nosso passado, não dava para vermso um futuro bom. — sua voz continha tristeza, mas ao mesmo tempo alívio por estarmos melhor — Devo agradecer ao Dean por isso também?
— Acho que sim. — suspirei um pouco — Então, eu sei que pode ser perigoso, mas preciso manter essa criança a salvo, longe de muitas pessoas.
— Eu deveria dizer não, mas também não deixaria um inocente desamparado. — disse ela me olhando com sinceridade — Você sabe que ser mãe é uma responsabilidade e tanto?
— Por isso que tem que ser você, me desculpa por estragar sua vida acadêmica. — disse fazendo cara triste.
— Seu olho de criança abandonada não me convence, null. — ela riu — E quanto a faculdade, estava mesmo pensando em mudar de curso e de cidade.
— De quanto você precisa? — perguntei já pensando na grana que daria para que ela se instalasse em algum lugar legal.
— Ainda não sei, mas quanto aos documentos do bebê?
— Acho que ficarão prontos em dois dias, serão entregues aqui.
— Tudo, tipo tudo? Porque até mesmo para um registro terá que ter aquelas coisas de médico para provar que eu estive grávida.
— Quanto a isso não se preocupe, esse meu amigo é muito bom em forjar evidências.
— Tudo bem. — ela respirou fundo — Enquanto esperamos, eu dou um jeito de organizar minha vida aqui.
— Já sabe para onde vai? — perguntei meio curiosa.
— Estava pensando em fazer gastronomia em São Paulo, o que acha?
— Você sempre gostou de cozinhar. — sorri de leve — E por falar em comida, minha barriga está vazia.
— Imaginei. — ela riu indo em direção a cozinha — Que tal spaghetti a la carbonara?
— Uah, comida italiana, já amei! — eu ri indo atrás dela — Estava com saudade da sua comida.
— Imagino, e como está o Cronos?
— Bem, passou por uns momentos de depressão por causa da minha ausência, mas está recuperado!
— Que bom. — ela riu abrindo o armário — Ainda não acredito que está em um relacionamento.
— É falso. — afirmei.
— Mas seus olhos dizem que é real. — ela me olhou — Se fosse o null até entenderia, você me disse que vocês era só físico, mas consigo perceber que quando fala desse null, seu coração bate mais forte, seus olhos brilham quando fala o nome dele.
— Bobagem sua. — dei de ombros não querendo admitir.
— Eu te conheço minha querida irmã! — ela riu de novo — Agora vá ver como está seu sobrinho.
— Nossa, mamãe.

Eu fui até o quarto rindo e olhei como estava o pequeno bebê, era mesmo bonito e muito quieto, a menos que esteja com fome. Voltei para a cozinha e continuei a conversar com null sobre o futuro da criança, de todo o modo somente eu saberia o segredo dela, eu e minha irmã. Iria esconder até mesmo do Dean, não deixaria que ele se aproveitasse da oportunidade, afinal quando eu digo não, é realmente não.

Os dois dias se passaram, como previsto recebemos um pacote com todos os documentos que eu precisava para dar ao bebê uma nova vida, e tivemos o prazer de escolher um nome para ele. Seu nome seria Joseph e sua mãe oficialmente seria null, a família não estava completa e eu iria providenciar isso mais tarde, porém já era suficiente dar a um inocente a chance de não ser usado, não pelo menos por outra pessoa que não fosse eu, sua salvadora.

Ajudei null a organizar as coisas para a mudança, não levaria muita coisa, apenas as roupas do corpo e objetos pessoais. Seria uma vida nova em São Paulo, compramos um apartamento no bairro Liberdade, em um edifício com boa vista e vizinhos que não cuidam da sua vida. A rua era pouco movimentada, tinha boas escolas particulares perto e era próximo a parte mais comercial do bairro, uma localização perfeita para recomeçar.

null passaria os primeiros meses cuidando exclusivamente do pequeno Joe, depois ela iria se matricular no curso de gastronomia na USP, e dinheiro não seria problema para mantê-los confortável e realizar o sonho da minha irmã. Assim que terminamos de arrumar parte das coisas no apartamento dela, recebemos uma visita inusitada e nada esperada.

— Dean?! — disse assim que abri a porta pensando ser o síndico.
— Boa tarde LT. — disse ele parado me olhando.
— Quem é null. — null veio do quarto com Joe no colo e parou estática no meio da sala — Senhor D.
— Posso entrar? — perguntou ele de forma natural.
— Claro. — me afastei para ele passar — O que faz aqui? Como você?
— Encontrei vocês? — ele sorriu de canto — Sabe que nada passar por meus olhos, sempre sei dos seus passos null.
— O senhor aceita alguma coisa? — perguntou null tentando não gaguejar.
— Não, obrigado. — ele direcionou seu olhar para Joe — Fico feliz que o pacote esteja bem e que esteja ajudando sua irmã.
— Irmãos são pra isso, ajudar. — confirmou ela.
— Devo imaginar algo a mais sobre isso? — ele se virou para mim.
— Esse bebê não vai sair daqui. — afirmei me mantendo firme.
— Eu sei, jamais passaria por cima da sua vontade. — ele sorriu novamente — Soube que null está no Rio a sua espera.
— Minhas malas ficaram com ele, tenho que ir buscar. — expliquei.
— Entendo, mas acho que será bom o encontro de vocês. — ele suspirou um pouco — Podemos conversar em outro lugar.
— Claro. — me virei para null — Eu volto mais tarde.
— Tudo bem. — ela assentiu mantendo sua atenção em Dean.

Eu estava mesmo surpresa por ele estar ali, mas só confirmou que eu jamais sairia das vistas dele, uma vez prodígio sempre prodígio. Dean sempre seguiria meus passos em qualquer lugar que eu fosse, isso era um fato. Entramos no táxi e seguimos para um lugar tranquilo e calmo, ele me levou ao Parque do Ibirapuera, caminhamos um pouco até chegar numa parte mais elevada, fiquei olhando para o céu do final da tarde, formava um colorido bonito. Era raro esses momentos normais que eu me atentava para as coisas simples da vida.

— Pare de me olhar e diga logo o que quer. — disse voltando meu olhar para ele — Porque veio aqui.
— Para falar do seu último roubo. — disse ele.
— Se não quis tratar disso pelo telefone, é porque é sério. — sibilei um pouco imaginando o que poderia ser.
— Sim, algo que talvez você possa não aceitar, mas é a única que conseguirá fazer.
— Direto e preciso. — respirei fundo — Diga então, qual é meu último serviço.
— Você terá que roubar seu álibi.

O que? Pensei comigo mesma o olhando.

 

"Someone call the doctor."
- Overdose / EXO



Capítulo 31

* null *

Eu não sabia o que pensar, Dean tinha dito o que eu jamais imaginaria que pudesse acontecer, em minha mente muitas coisas se passavam. Ficamos parados por alguns minutos em silêncio, eu estava evitando olhar para ele, era raros os momentos em que me sentia confusa e sem direção.

— Você disse cinco roubos, porque já sabia que esse seria o último. — iniciei dando dois passos para frente olhando para o um casal que estava mais à frente — De férias, eu não vou precisar de um álibi, porém desta vez o meu álibi é o meu alvo.
— É a vida. — disse ele atrás de mim, num tom suave — São somente negócios.
— Devo entender como algo proposital vindo de você? — me virei o olhando.
— Você pode recusar se quiser, tenho muitas pessoas a minha disposição e uma delas é sua maior inimiga. — ele deu um sorriso de canto cheio de ironia — Mas, estou curioso sobre uma coisa, você é uma profissional, não é?

Respirei fundo o olhando fixamente nos olhos, a primeiro momento queria recusar, mas sei como Dean é estrategista, mencionar Louise indiretamente foi um golpe meio baixo. Mesmo que eu recusasse, não conseguiria aceitar ou permitir que aquela traidora tocasse em minha família.

— Envie as informações para meu tablet.
— Quer dizer que vai aceitar?
— Quer dizer que vou pensar. — respondi respirando fundo — Mais alguma coisa?
— Se for iniciar seu trabalho, acho que a pessoa a sua espera no Rio pode te ajudar indiretamente. — ele tocou de leve em meu rosto — Você fica muito interessante com esse olhar vingativo.
— Não vou mentir e dizer que estou satisfeita. — fui sincera — Se não há mais nada, preciso me despedir da minha irmã. — passei por ele me afastando.
LT. — sua voz ainda estava fria, num tom sério.
— Sim?! — o olhei.
— Deixarei sua vontade passar desta vez, mas da próxima vez que eu disser para entregar um objeto de desejo, seja ele qual for, entregue. — seu olhar fixo nos meus.
— Entendi. — me virei sem cerimônias e sai.

Demorei um pouco para voltar para o apartamento, no caminho passei por uma cafeteria e comprei uma torta de morango com chocolate, para comemorar a nova vida que minha irmã teria. Eu não queria trazer meus problemas para ela, muito menos deixá-la preocupada com tudo que estava acontecendo, quando retornei, null estava sentada no sofá, ao lado o carrinho de bebê, com o Joseph dormindo.

— Está tudo bem? — perguntou ela.
— Sim. — assenti fechando a porta e indo até a cozinha — Trouxe uma torta para celebrarmos o novo apartamento.
null, eu te conheço. — ela se levantou vindo atrás de mim — O que o Dean queria?
— Falar do meu último roubo antes das férias. — passei a mão no cabelo me encostando na bancada da pia — Eu não sei se vou conseguir.
null, o que ele disse? — ela deu alguns passos parando em minha frente.
— Ele quer que eu roube o null. — desviei meus olhos para o chão — Como eu poderia roubar meu álibi?!
— Não acredito. — sussurrou ela — Típico do Dean, será que ele está com ciúmes de vocês?
— Pare de levar para esse lado. — respirei fundo me desviando dela e indo para a sala — São somente negócios.
— Está falando como ele. — retrucou ela vindo atrás de mim.
— Foi o que ele disse. — expliquei.
— E o que você vai fazer? Vai mesmo roubar o null?
— Não sei, estou pensando ainda. — caminhei até a janela — De qualquer forma se não for eu, provavelmente será alguém que odeio.
— Essas palavras enigmáticas, está falando da Louise? — perguntou ela.
— Quem mais? — a olhei.
— Desta vez o papai te deixou em uma situação tensa. — brincou ela de leve — Mas tenho certeza que você vai conseguir tomar a decisão certa.
— Obrigada. — me aproximei dela e a abracei — Vou ficar ainda mais com saudade quando for embora.
— Você sempre sente minha falta, mas nunca tira um tempo para me visitar. — reclamou ela.
— Acredite, eu nunca tenho uma folga. — me afastei um pouco dela.
— Pelo menos após toda essa tempestade você terá um descanso. — disse ela se dirigindo para a cozinha novamente — Já sabe onde vai passar suas férias?
— Estava pensando em Bahamas ou Havaí, mas poderia tentar uma rotina normal aqui, te ajudando com o meu sobrinho. — respondi indo atrás dela.
— Olha, LT querendo uma rotina normal na vida. — ela me olhou surpresa — Sério isso?
— Talvez. — sorri de leve — Acho que preciso mesmo de um tempo para recarregar as energias e pensar no que será da minha vida. — suspirei um pouco — Corro o risco de quando voltar a ativa, não ter mais um álibi.
— Não pense nisso agora. — ela foi até a bancada e retirou a caixa com a torta da sacola — Vamos comer, chocolate alegra a vida e dá energia.

Eu assenti sorrindo e me sentei na mesa, era bom passar aquele tempo com minha irmã, não pensar na minha vida fora daquele apartamento, entretanto eu tinha que voltar a realidade e decidir o que iria realmente fazer. Passei aquela noite no apartamento com null e Joseph, e aproveitei para comprar minha passagem para o Rio e ligar para null.

Ele estava hospedado no Copacabana Palace. Logo pela manhã, eu me despedi da minha pequena nova família, eles estavam seguros e era somente isso que importava. Após 45 minutos de voo, desembarquei no aeroporto internacional, conhecido como Galeão, já tinha um carro a minha espera.

Eu pensei que iria direto para o hotel, mas o carro me levou para a praia de Copacabana, fiquei surpresa ao ver ele sentado em uma cadeira de praia com um drink na mão. Não consegui segurar o riso, aquilo parecia até cena de filme de comédia, caminhei até ele e fiquei parada na frente, tampando seu sol.

— Chegou o que estava faltando. — disse ele abrindo os olhos.
— Você não trabalha não? — eu ri um pouco — Está parecendo esses milionários que vive da bolsa de valores.
— Yah, nem sou assim. — ele ergueu seu corpo — Você demorou.
— Estava resolvendo aquele problema. — expliquei.
— Conseguiu? Esbarrei com o Dean, há dois dias atrás. — disse ele — Ele...
— Sim, já conversei com ele e está tudo resolvido. — desviei meu olhar para o mar — Vim buscar minhas malas.
— Já?! — ele se levantou e pegou em minha mão — Não vai aproveitar?
— Não sei se deveria. — mantive minha atenção no mar.
— Você parece tensa, sua conversa com o Dean teve algum problema?
— Não. — desviei meu olhar para ele — Só estou ansiosa por minhas férias.
— Hum. — ele deslizou suas mãos em minha cintura me aproximando um pouco mais dele — O pouco que te conheço, não é somente isso, ele disse algo sobre seu último roubo?
— Não. — respondi com segurança — Sei que está tão curioso quanto, mas até agora não tenho nenhuma informação.
— Então relaxe e aproveite, estamos no Rio e eu me sentiria culpado se não a fizesse aproveitar o momento. — ele veio se aproximando de mim para me beijar.
null. — eu encostei meu dedo indicador nos lábios dele — Eu ainda sou sua cunhada.
— Que triste realidade. — ele sorriu de canto se afastando um pouco de mim — Mas ainda tenho esperanças.
— Que feio, torcer contra o relacionamento do seu próprio irmão. — disfarcei um sorriso me virando para o mar.
— Se fosse real, eu estaria mais conformado.
— Que tal mudarmos de assunto, agora fiquei com vontade de dar um mergulho. — disse me espreguiçando — Que pena que estou sem os trajes corretos.
— Acabei de pensar em algo, mas prefiro não comentar.
— Não comente mesmo, sei que sua mente é cheia de comentários maliciosos. — eu ri um pouco.
— Quando estamos com uma vontade é melhor realizá-la, não importa a roupa.
— Eu sei. — pisquei de leve para ele e corri para o mar.

Precisava mesmo de alguns mergulhos para deixar meu corpo mais leve e minha mente mais vazia, por um breve tempo todas as decisões que eu precisava tomar, pareciam não importar. Eu voltei para perto de null, estava me sentindo um pouco mais relaxada e menos tensa, tanto que até ele notou isso.

— Acho que podemos ir para o hotel. — disse ao chegar perto dele — Me sinto bem melhor.
— Estou vendo. — ele sorriu espontaneamente, esticando uma toalha para mim — Tem certeza que quer ir para o hotel?
— Sim, preciso das minhas malas. — assenti pegando a toalha e enrolando em mim.
— Então, seu desejo é uma ordem.

Entramos no carro que continuava lá nos esperando, seguimos para o Copacabana Palace. Eu ficaria na suíte de null, óbvio, assim que entrei peguei a mala e segui em direção ao banheiro, demorei um pouco tomando uma ducha quente, coloquei roupas leves e confortáveis, sequei meu cabelo e voltei para o quarto com a mala.

— Precisa de privacidade? — perguntou ele encostado na porta — Posso descer para a piscina.
— Não quero te incomodar. — disse de forma inocente.
— Não me incomoda nenhum pouco, antes de tudo, somos amigos. — ele piscou de leve e saiu do quarto.

Respirei fundo e peguei minha bolsa, me sentei na cama ligando meu tablet e digitei a senha de entrada, os arquivos já estavam lá, eu os abri por curiosidade, era um dossiê completo sobre a família dele, tinha coisas sobre seu pai que eu nunca imaginaria. A família null não era da máfia asiática, mas tinha amizades com famílias muito poderosas, incluindo a família chinesa Chang, que roubei quando conheci null.

null... Não imaginava que sua família tinha tantos inimigos. — sussurrei para mim mesma — O que eu vou fazer?!

Continuei lendo os arquivos, meu objeto de desejo era alguns arquivos específicos que estavam em um único computador, e este computador estava em um lugar que somente pessoas próximas entravam. A casa da família null, considerada o lugar mais seguro e protegido por muitos dos meus clientes especiais, não era à toa que o cliente da vez estava pagando uma pequena fortuna para que esse roubo fosse feito por mim.

Eu não tinha ideia de como poderia fazer aquilo e nem se eu queria mesmo fazer, mas imaginar que Louise pudesse fazer no meu lugar, me deixava mais irritada do que ter que aceitar. Eu sentia que Dean estava me colocando contra parede sem se esforçar, mas seria tão fácil assim para mim, trair meu álibi?

— O que eu faço? — me perguntei novamente.

O telefone do quarto começou a tocar, me levantei e atendi.

LT?! — era a voz de Dean.
— Diga. — respondi.
Já pensou sobre sua resposta?
— Acabei de ver o que me mandou.
E?
— Ainda não me decidi. — estava mesmo confusa.
Tudo bem, sei que é algo delicado para você. — ele ficou um tempo em silêncio, conseguia ouvir sua respiração — Para não dizer que sou uma pessoa má, vou te dar uma semana para resolver isso.
— O que?
Isso mesmo, se em uma semana você não concluir seu último roubo, Louise fará no seu lugar, a escolha é sua.

Eu não tive nem a chance de retrucar, Dean encerrou a ligação, assim que eu coloquei o telefone no gancho, null entrou no quarto, eu o olhei sem reação.

 

“Agora, todos estão olhando para nós com pipoca na boca,
Esperando para ver o que vai acontecer com nós dois.”
- Lotto / EXO



Capítulo 32

* null *

null?! — ele me olhou um pouco confuso e desconfiado — Tudo bem?
— Sim. — assenti se afastando do telefone — Porque?
— Nada. — ele deu alguns passos se afastando da porta — Ligou para alguém?
— Pensei em ligar para casa, ainda estou preocupada com o Cronos, mas desisti. — expliquei inventando uma desculpa plausível. — E você? Se cansou de ficar na piscina?
— Foi um pouco complicado pensar em outras coisas, imaginando você aqui em meu quarto. — ele me olhou com suavidade — Mas não se preocupe, não vou te deixar desconfortável.
— Sei que não. — caminhei até a cama e peguei meu tablet, o desligando — Alguma novidade? E sua conferência de medicina no Uruguai?
— Tudo que me importava já havia sido discutido. — respondeu ele cruzando os braços e se encostando na parede — Eu estava quase voltando para casa.
— Então mais uma vez eu tive sorte. — sorri de leve, guardando o tablet na bolsa — Quando você disse casa, está falando da França?
— Não. — ele suspirou um pouco — Estou falando da Korea.
— Hum?! — por essa eu não esperava, até quando não quero ter sorte as oportunidades surgem na minha cara.
— Está surpresa?
— Um pouco. — desviei meu olhar para a janela, deixando minha bolsa em cima da mesa ao lado da porta para o banheiro — Você sempre disse que não se via voltando para seu país, o que vai fazer lá? Servir o exército?
— Não. — ele riu — Eu já fiz isso, antes da universidade.
— Uau.
— É seu “marido” que ainda não foi. — comentou ele segurando o riso.
— E isso interfere em algo? — perguntei meio confusa.
— Hum, talvez. — ele fez um breve silêncio — Depende se ele vai continuar sendo seu álibi.
— Uma pergunta curiosa. — dei alguns passos até a porta — Bem, estou com fome, você me acompanha?
— Claro. — null descruzou o braço, dando um sorriso largo — A comida desse hotel é maravilhosa.
— Imagino, já ouvi muitos elogios.

Eu tinha uma semana para me resolver, por ironia acabei passando três dias no Rio de Janeiro com suho, acho que era a folga que precisava para esvaziar minha mente. Não era somente roubar meu álibi, mas também tinha a resposta que eu deveria dar a eles, a escolha que eu também não estava preparada para fazer.

Escolher entre null e null, era tão difícil quanto escolher roubá-los ou não, mesmo que a resposta fosse muito óbvia, a pior parte era admitir para mim mesma o que eu sentia e o que eu deveria fazer. Mas aqueles dias ali, na companhia de um amigo, não do null meu álibi do passado, mas do null meu amigo, que sabia um pouco sobre mim e me conhecia mesmo com minhas máscaras, estava me fazendo muito bem.

— Tenho que admitir, o spa daqui é muito bom. — disse ao entrar no quarto.
— Que bom que está gostando. — ele estava encostado na janela de braços cruzados, seu olhar para mim era o mesmo, intenso — Tenho uma novidade para você.
— Para mim? — o olhei meio curiosa — O que seria?
— Você como uma pessoa vip para nós, foi convidada a um jantar muito importante na verdadeira casa da família null. — disse ele num tom sinuoso.
— Como assim verdadeira casa? Que jantar é esse? — perguntei me fazendo de desentendida.
— Um jantar em comemoração ao aniversário de casamento dos meus pais.
— Mas, e a festa na casa dos seus pais em Paris? — perguntei confusa.
— Aquilo. — ele riu — Foi uma simples celebração para amigos mais simples, o jantar de agora será para pessoas exclusivas.
— Me sinto lisonjeada por estar na lista. — sorri de canto.

Eu conseguia sentir o grau de ostentação em cada palavra dele, era como se neste momento, estivesse finalmente tendo acesso ao lado mais sério e verdadeiro de sua família. Essa é uma das provas que todos temos segredos e mistérios em nossa vida, a família null estava se tornando um mistério para mim, algo que eu queria decifrar. E tinha certeza que descobriria muito mais coisas, se fosse aquela casa.

— Considere seu convite aceito. — o olhei com pouca intensidade — Ainda estou devendo um presente a sua mãe.
— Acredite, ela vai adorar ver você lá. — comentou ele.
— E quando vamos? — perguntei.
— Nosso voo parte daqui duas horas. — respondeu ele.
— Nosso? Você diz como se soubesse que eu aceitaria.
— Bem, de alguma forma eu já imaginava isso. — ele se espreguiçou indo em direção a porta — Vou te deixar à vontade para preparar.
— Não acredito que eu vá demorar duas horas. — ri um pouco.
— Mulheres costumam demorar. — ele brincou abrindo a porta — Quando estiver pronta, estarei na recepção.
— E suas malas?
— Já estão lá embaixo. — ele saiu do quarto rindo.

“Mulheres costumam demorar.” Eu ainda era a LT pontual de sempre, ri um pouco daquele comentário dele e caminhei até o banheiro, uma ducha quente para relaxar meu corpo e me preparar para 24 horas de voo até o outro lado do mundo. Para a surpresa dele, não gastei muito tempo para me arrumar e conferir minhas coisas, deu até tempo para o almoçarmos em um restaurante chamado Demoiselle, dentro do aeroporto do Galeão.

Literalmente um dia depois, estávamos desembarcando no Aeroporto Internacional de Incheon, foi surpreendente ver null me esperando na área de espera, ele estava encostado em uma coluna, de braços cruzados com o olhar fixo em mim. Tenho que admitir, que meu coração acelerou um pouco quando o vi?

— Bem-vinda. — disse ele com sua voz suave quando eu parei na sua frente.
— Hum, como vocês dizem, komaweyo. — eu me mantive um pouco séria, mas com um disfarçado sorriso de canto.

Ele sorriu espontaneamente, assim null se aproximou de nós, ele parecia mais sério ainda, o que estava me deixando um pouco intrigada. Nós saímos do aeroporto, null pegou nossas malas e colocou dentro do porta-malas, eu fiquei ao lado de null esperando. null terminou, e pegando as chaves da mão de null, entrou no carro e partiu.

— Para onde ele vai? — perguntei.
— Para casa. — null me olhou tranquilamente — Nós vamos comprar um presente para meus pais.
— Nossa. — eu sorri meio sem entender — Um programa de casal logo na minha chegada.
null me disse que você está devendo um presente para minha mãe.
— Sim, é pelo quadro que ela me deu. — assenti o seguindo até um carro.
— Aquele carro não era meu. — null retirou outra chave do bolso — Esse é meu carro. — ele apertou o chaveiro para desativar o alarme.
— O que mais eu não sei sobre sua família? Porque null ficou muito misterioso nas últimas horas.
— Não me olhe assim. — ele riu abrindo a porta para mim — Não somos da máfia.
— Me prove. — eu entrei no carro, mantendo meu olhar nele.

Ele riu fechando a porta e foi para o outro lado, entrou no carro e colocou o cinto de segurança, assim que deu a partida acelerou.

— Minha família é comum, a única coisa que nos difere das outras, é que temos muitos amigos importantes e sabemos de alguns segredos deles. — explicou de forma meio superficial.
— Hum, o que faz vocês serem notados então. — conclui.
— Basicamente isso. — ele dirigia com tranquilidade, seu olhar atento ao trânsito, mas o sorriso discreto se mantinha em seu rosto — Mas, vamos falar sobre você agora.
— Sobre mim? — mantive meu olhar para a rua — O que quer falar sobre mim?
— Seu roubo, null me contou sobre a pequena família que vocês tiveram. — ele riu baixo — Fiquei com um pouco de inveja dele, mesmo que tenha sido uma mentira.
— Confesso que nunca me vi casada com três filhos, ainda mais com o null. — ri um pouco também — Mas, talvez eu não esteja imaginando isso com a pessoa certa.
— O que quer dizer com isso? — sua voz se mantinha suave, mas com um tom de ansiedade.
— Estou tentando descobrir. — encostei minha cabeça no vidro.

Estava mesmo tentando descobrir ou realmente admitir o que já tinha descoberto, talvez as palavras de null estejam fazendo sentido, estar ao lado de null era diferente, era mais do que somente confortável. Estar com ele era como o complemento que eu sempre procurava, depois de concluir meus roubos, algo que me fizesse esquecer quem sou e ser normal.

— Você está muito pensativa. — comentou ele estacionando o carro na rua.
— Só estava apreciando a arquitetura local. — respondi destravando o cinto de segurança — Posso saber onde estamos?
— Eu tenho um amigo que é oleiro, viemos buscar uma encomenda que fiz. — ele segurou em minha mão e começou a me guiar até a entrada do lugar.

Pela entrada parecia uma galeria de arte, mas quando entrei fiquei impressionada, havia vários vasos de porcelana e cerâmica expostos pelo lugar, as peças pareciam ser muito bem modeladas, pelos preços que estavam indicando. null me deixou olhando as peças da loja e entrou em uma porta aos fundos, o lugar era realmente clássico com um toque moderno em seus efeitos com as luzes de led.

Eu fiquei um pouco entretida com um pequeno vaso branco, com pequenas flores de cerejeira desenhado nele, cada detalhes esculpido e desenhado me deixava um pouco fascinada. Por um breve momento, senti uma vontade de obter aquele objeto para mim, ossos do ofício, comecei a rir.

— Pelo riso, imagino que seja mais um pensamento travesso. — disse null aparecendo ao meu lado.
— Não consegui resistir. — rindo desviei meu olhar para ele — O que foi buscar?
— Nosso presente para minha mãe. — respondeu ele levantando a sacola que estava em sua mão.
— Hum. — olhei superficialmente, tinha uma caixa dentro da sacola — Posso saber como é?
— É um vaso inspirado na dinastia Goryeo, minha mãe vem expressando o desejo de ter um assim há um tempo. — explicou ele.
— Que bom que ela poderá ter seu desejo realizado agora. — voltei meu olhar para o vaso com a pintura de cerejeira.
— Gostou mesmo dele? Se quiser posso te dar. — sugeriu ele.
— Não, dinheiro para comprar eu tenho, mas agradeço a oferta. — eu sorri.
— Está tudo bem? — perguntou ele.
— Porque a pergunta? — eu o olhei intrigada.
null me disse que você tem andado mais silenciosa que o normal. — explicou ele — Está preocupada com o último roubo?
— Talvez, mas parte disso é cansaço. — me afastei um pouco dele — Bem, para onde vamos agora?
— Está com fome? — perguntou ele pegando em minha mão novamente.
— Um pouco.

null me guiou novamente, mas desta vez não voltaríamos para o carro, andamos um pouco pelas ruas do bairro de Gangnam, considerado o bairro mais riso de Seoul. Estava mesmo parecendo um legítimo encontro de casal, ele me fez tirar algumas fotos com minha câmera profissional, já que atualmente eu estava investindo no meu novo hobbie, a fotografia.

Eu já tinha estudado um pouco sobre técnicas de fotografia, ângulos, precisão e composição, mas nenhuma técnica se comparava ao sorriso espontâneo e doce que null fazia quando me olhava. Aquilo estava me deixando sem reação, sem ar e principalmente, estava me fazendo me sentir culpada antecipadamente, olhar em seus olhos estava me fazendo pensar em algo que nunca tinha feito em todo aquele tempo de profissão.

O olhar de null para mim, estava me fazendo desistir de vê-lo como um objeto de desejo ou mesmo álibi, eu estava começando a vê-lo como “meu marido.”

 

“Eu te amo muito, mas meu orgulho nessas palavras,
Não me permitem dizê-las a você,
Hoje vou juntar toda a minha coragem e te dizer,
Então escute calmamente, eu vou cantar para você.”
- Sing for You / EXO



Capítulo 33

* null *

Eu estava mais do que determinado em minha nova estratégia, Peter tinha razão, eu teria que ficar invisível por algum tempo até ele finalmente recolher todas as informações que eu precisava.

Meu novo destino era Londres, mais precisamente o escritório no centro da cidade, perto do London Palladium. Esperei por um longo tempo na recepção, até que autorizaram minha subida. Assim que cheguei no hall de entrada do andar do seu escritório, a recepcionista já me esperava na porta do elevador.

— Por aqui senhor. — disse ela me indicando o caminho — O senhor Becker já irá atendê-lo.
— Tudo bem. — eu a segui observando todo o lugar ao meu redor.

Assim que entramos na sala dele, ela estendeu a mão para que me sentasse no sofá e me ofereceu um café, eu recusei, porém agradeci e continuei de pé esperando. Mantive meu olhar na fachada de vidro do prédio, dava uma bela vista da área externa, demorou alguns minutos até que o tal Davi entrou na sala.

— Fiquei curioso, quando minha secretário disse que alguém da Interpol, queria falar comigo. — disse ele ao entrar — Espero não estar em má situação.
— Claro que não senhor Davi Becker. — disse desviando meu olhar para ele.
— Por favor, me chame somente de Davi. — disse ele esticando a mão em cumprimento.
— Como quiser, pode me chamar de null. — retribui o cumprimento com um aperto de mão forte.
— Bem, já que não é nada de errado comigo, o que o trás aqui? — seu olhar era de curiosidade.
— Cassie. — direto e objetivo.
— Acho que já entendi. — ele riu caminhando até a sua cadeira e se colocou ao lado dela.
— Quero que me conte sua história. — disse com convicção.
— E por que eu deveria? Ninguém me deu credibilidade e ainda acharam que era um golpe meu, fui processado por causa daquele roubo e todos os registros do meu boletim de ocorrência desapareceu. — seu olhar estava na vidraça, sua voz tinha traços de amargura.
— Eu imagino. — suspirei fraco — Posso te assegurar que irei acreditar em suas palavras, quero prender Cassie mais do que tudo.
— Muito bem. — ele respirou fundo e se virou para mim — Tudo começou quando eu consegui inventar uma fórmula de cosmético, tinha acabado de me formar na universidade, estava participando de um concurso. — ele se sentou na cadeira — Minha fórmula ganhou e eu iria assinar com uma grande empresa de cosméticos que organizava o concurso, porém dois dias antes eu esbarrei com ela… O pior erro da minha vida foi convidá-la para meu apartamento, no dia seguinte, não tinha mais nenhum vestígio da minha fórmula e três semanas depois, o produto que eu tinha criado estava circulando nas lojas da concorrência.
— E você não tinha como provar? Não ganhou o concurso?
— Me processaram dizendo que eu tinha plagiado a fórmula, tive que pagar uma multa gorda para a empresa que estava comercializando e para o falso dono da fórmula. — explicou ele — Ou seja, Cassie arruinou o início da minha carreira, minha sorte é que sou de família rica, porém como no meu apartamento foi encontrado alguns ecstasys, minha credibilidade foi a baixo.
— E claro que não era seus?! — disse num tom irônico.
— Não eram, foi implantado. — seu tom era firme e seguro.
— Estou curioso, qual o nome desse falso dono da fórmula?
— Jason Flint. — respondeu ele — Foi um colega da universidade, não nos dávamos muito bem, ou melhor, sempre competíamos para saber quem era o melhor.
— Interessante, então devo concluir que esse Jason é um cliente que pagou para ela te roubar. — conclui gravando o nome em minha mente — Contudo, você conseguiu se reerguer, já que esta empresa é sua e tem parceria com algumas marcas famosas.
— Sim, eu consegui, porém este roubo ainda me assombra um pouco, e não recuperei cem por cento do respeito do meu pai. — o tom de amargura tinha voltado em sua voz — Ainda mais, depois do que fiz na festa da família null.
— O que você fez?! — perguntei curioso.
— Por um infortúnio, acabei confundindo a noite do filho do senhor null, com a Cassie. — ele suspirou um pouco — Ela era tão parecida, acabei fazendo o que não deveria.
— Hum, e poderia saber qual o nome da moça?! Só por especulação.
null. — respondeu ele — Se ela não fosse noiva dele, afirmaria que ela é a Cassie.

Me mantive em silêncio, não falaria para ele que eu conhecia ela, muito menos de minhas suspeitas também.

— Não se preocupe Davi, Cassie não sairá impune e certamente sua honra perante a família será restaurada. — disse com convicção — Tenho certeza que estou muito perto de pegar ela, e contarei com sua ajuda para isso.
— No que precisar, estarei aqui, serei o primeiro da lista se quiser alguém para testemunhar contra ela. — assentiu ele.
— Bom saber, agradeço por ter me concedido seu tempo. — estiquei a mão novamente.
— Eu que agradeço sua vinda. — Davi apertou minha mão, seu olhar era confiante.

Aquilo me fazia confirmar que pelo menos uma testemunha relevante eu teria, além dos arquivos que Peter estava reunindo. Eu lhe entreguei meu cartão e saí da sua sala, assim que entrei no elevador meu celular começou a tocar, era uma chamada restrita, eu não costumava aceitar, porém desta vez atendi.

— Agente null falando. — disse ao atender.
Hum, então é assim que você atende ligações suspeitas? — a voz era de Louise.
— Oi amor, por que está me ligando de um número restrito? — perguntei curioso.
Estou te ligando de um telefone da empresa, do setor de telemarketing. — explicou ela.
— O que faz neste setor?
Uma amiga me chamou para contar sobre suas desilusões amorosas, ela foi ao banheiro chorar agora, então pensei em te ligar. — respondeu ela.
— E onde está agora?
Em Xangai, fui transferida para longas escalas e você?
— Estou a trabalho em Londres. — respondi saindo do elevador.
Hum, ainda com aquele caso da mulher das fotos?
— Sim, mas prefiro não falar sobre isso. — caminhei até a saída tranquilamente — E você? Quando volta para casa?
Em breve farei a escala Xangai-Paris, e como é mais longa, poderei ficar mais dias de folga. — ela deu uma pausa — Eu terei meu namorado em casa?
— Claro. — assenti indo até a ponta da calçada e parando um táxi — Farei o possível para estar com você.
Querido, tenho que desligar.
— Eu também, até depois.
Até, te amo. — disse ela encerrando a ligação.

Olhei a tela do celular por um momento e entrei no táxi. Pedi para seguir em direção ao albergue que tinha me hospedado, iria fazer algumas anotações sobre tudo que Davi tinha e dito, além do mais tinha meu novo curso. Meu novo alvo seria investigar o tal Jason Flint, que certamente poderia ter alguma pista que pudesse me levar ao misterioso chefe dos prodígios.

* null *

Eu tinha deixado ela com null, tinha certeza que não eu, mas meu irmão a faria se sentir em casa aqui na Coréia, melhor, iria fazer ela se sentir parte da família. Assim que cheguei em frente ao portão da nossa propriedade, dei um suspiro meio cansativo, já tinha me esquecido de todos aqueles procedimentos de segurança.

Ao estacionar em frente a mansão, minha mãe já estava me esperando na porta, com um largo sorriso. Saí do carro e caminhei em direção a ela me espreguiçando, após chegar perto ela me deu um longo abraço, perguntando o que eu estava fazendo no Rio de Janeiro com a null.

— Eu juro que só estava lá por indicação de um amigo do Congresso de Medicina. — expliquei ao me afastar dela — E a null foi uma perfeita coincidência.
— Coincidência?! Sei, olhe lá, não quero meus filhos brigando novamente por uma mesma garota. — advertiu ela — Sabe como foi difícil para nossa família.
— Calma mãe, eu sei. — ri de leve — Onde está o papai?
— No escritório conversando com um amigo pelo telefone. — respondeu ela — Vamos entrar, deixe que o Han guarde as malas.

Assenti com a face e entrei com ela, minha mãe parecia animada pelo jantar e alegre por null ter aceitado o convite.

— Então, nossa lista de convidados já está confirmada?!
— Claro que sim. — confirmou ela indo até um jarro que estava na mesa de centro e o ajeitando — Somente nossos amigos mais íntimos.
— A senhora parece mais ansiosa que o normal. — comentei permanecendo parado a olhando — Está mesmo tudo bem?
— Com nossa família sim, com nossos amigos talvez. — sibilou ela — Mas sabe que não gosto de falar sobre isso, então pergunte ao seu pai depois.
— Acho que vou perguntar a ele agora. — disse me afastando e indo em direção ao escritório.

Ao passar pelo corredor, notei que tinha um quadro novo na parede, sorri de leve imaginando que fosse algum presente para meus pais. Entrei no escritório e me mantive em silêncio, até que meu pai encerrou a ligação, ele olhou sério para mim e após respirar fundo, finalmente falou.

— Quando finalmente você sai da empresa, mas ainda assim seus amigos acham que você não se aposentou. — comentou ele.
— O que houve dessa vez? — perguntei um pouco preocupado.
— A família Boyarsky estava suspeitando de alguns dos nossos funcionários do porto de Londres, mas já está tudo esclarecido. — explicou ele.
— O funcionário era mesmo culpado? — perguntei curioso.
— Não, e a carga deles chegou pontualmente no porto de São Petersburgo na Rússia. — ele suspirou fraco — O fato é que, quase fomos alvo de um roubo profissional.
— O que?! — era difícil acreditar naquilo.
— Sim, a carga da família Boyarsky continha alguns documentos sigilosos, que de alguma forma nos envolvia. — respondeu ele — Entretanto, tudo acabou bem e o pacote foi entregue.
— Isso quer dizer que nossa família está sendo vigiada? — perguntei um pouco aliviado em saber que a tentativa de roubo não era obra de null.

Tinha certeza de que se fosse ela, teria conseguido pegar os tais documentos.

— Isso quer dizer que os inimigos dos nossos amigos, começaram a mover seus olhos para nós. — esclareceu ele — Nossa família deve manter o máximo de segurança.
— As outras famílias, nossos amigos sabem sobre isso?
— Sim, todos os nosso clientes vips já sabem sobre, e estarão do nosso lado.

Até o momento nunca tinha me preocupado com isso, nossa família apenas era amiga de famílias importantes, tinha clientes importantes, fazia transações importantes. Mas agora, passamos a ser um alvo também, o que me deixava ainda mais preocupado.

"Tudo o que quer fazer é bang bang bang bang
E clique, ka-tching, e pegar o meu dinheiro."
- No F.U.N / SEVENTEEN



Capítulo 34

* null *

Ao final da tarde, voltamos até onde null tinha estacionado de carro, seguimos por algumas ruas até que, ele finalmente entrou em um condomínio residencial e parou em frente a um portão. Fiquei impressionada com todo o procedimento minucioso da fiscalização sobre mim, já que era minha primeira vez naquela casa.

— Uau. — disse ao seguirmos de carro até a mansão — Nunca vi uma casa tão protegida como a sua.
— Sim. — ele riu um pouco — Às vezes até eu e null somos barrados no portão.
— Imagino em seus tempos de criança, como conseguia fugir?
— Não conseguia. — ele manteve seu olhar para frente — Sempre era pego.
— Então sua casa é a mais segura que já vi. — ri de leve — Acho que nem eu conseguiria roubar algo daqui.
— Sério? Minha casa é segura contra a LT?! — retrucou ele impressionado.
— Ao que tudo indica. — sibilei um pouco olhando para a mansão logo à frente.

Assim que descemos do carro vi a senhora Mary no jardim, dando algumas instruções para uma equipe de garçons.

null me disse que seria um jantar discreto. — comentei olhando.
— Mas será. — afirmou null com a sacola do presente na mão — Vamos?
— Claro. — assenti o seguindo.

Caminhamos em direção a mãe dele, assim que me viu ela abriu um largo sorriso e veio em minha direção, seu abraço foi apertado e demorado.

— Que bom que está aqui. — disse ela sorrindo para mim.
— Eu agradeço pelo convite. — disse sorrindo junto — null me disse que somente quem é considerado da família é convidado a vir aqui.
— Sim e você é da família. — confirmou ela desviando seu olhar para null — E você? Por que não a trouxe mais cedo para o chá?
— Estávamos pegando seu presente. — respondeu ele esticando a sacola — Nosso presente para você e o papai.
— Oh. — ela pegou a sacola demonstrando emoção — O vaso que eu tanto queria, que lindo.
— Eu gostaria de dizer que foi ideia minha, mas todo o trabalho se deve ao null. — admiti meio sem graça — Acho que ainda te devo um presente de verdade.
— Não precisava contar. — disse null rindo de mim.
— Ah yah, não repreenda ela, null está sendo sincera e isso já me deixa feliz. — ela deu um tapa de leve no braço dele e sorriu para mim — Venha null vamos colocar meu vaso em um lugar especial.
— Claro. — assenti deixando null e a seguindo.

A senhora Mary era mais do que especial para mim, ela estava começando a representar a mãe que eu nunca tive de verdade. Conversamos um pouco mais sobre meu hobbie de fotografia, que para ela era minha profissão, enquanto ela continuava coordenando os funcionários que trabalhariam no jantar do dia seguinte.

Em um certo momento eu me afastei dela e comecei a caminhar pela casa, tinha que reconhecer todo o território, caso que realmente aceitasse o serviço que Dean estava me dando. A mansão era muito bonita e bem decorada, a senhora Mary tinha bom gosto, além de ser muito bem segura, tinha contado mais de vinte seguranças que andavam discretamente na área externa, além dos empregados que ficavam na parte interna da mansão.

Tinha também algumas câmeras de segurança espalhadas pelo jardim, e algumas raras camufladas em pontos estratégicos dos lugares de maior circulação, como a cozinha, sala de estar e jantar. Teria que ser um perfeito ninja para roubar aquela casa sem ninguém ver, e eu ainda não era um.

— O que está olhando? — disse null ao parar atrás de mim.
— O que?! — desviei meu olhar para ele.
— Estava mesmo distraída. — comentou ele dando um sorriso leve.
— Ah, acho que um pouco. — suspirei fraco — Estava pensando no Cronos.
— Hum, tem certeza que o Cronos é só um cachorro mesmo? — ele riu.
— Sim, eu tenho. — assenti rindo junto — O Cronos é minha família.
— Agora você tem outra família. — disse ele — Se quiser, é claro.
— Ando pensando sobre isso. — ando pensando seriamente sobre isso — Você acha que mereço ter vocês como família.
— Acho. — ele respirou fundo — Você acha que merece nos ter como sua família?!
— Não sei. — desviei meu olhar para a janela novamente.

Aquela era a pergunta chave.

null. — me chamou null descendo as escadas — Não quer descansar?
— Claro. — disse me afastando de null — Em que quarto ficarei?
— No meu. — respondeu ele estendendo sua mão — Vamos?!

Eu olhei de relance para null, depois voltei minha atenção para ele e peguei em sua mão. Subimos as escadas e null me guiou pelo corredor dos quartos, entramos no quarto dele e minha mala já estava na porta do closet.

— Fique à vontade, tenho que participar de uma reunião urgente na empresa. — disse ele se voltando para a porta novamente.
— Aconteceu alguma coisa ruim?! — perguntei aparentando preocupação.
— É isso que vou tentar descobrir, mas você não vai estar sozinha. — respondeu ele — null e minha mãe estarão em casa, já o Sam deve chegar ao nascer do sol.

Ele saiu rindo. Eu fechei a porta e fui em direção minha mala, minha bolsa estava em cima dela, tinha deixado dentro do carro de null. Peguei a bolsa e caminhei até a cama, se sentei e peguei o tablet, liguei e coloquei no aplicativo de plantas e maquetes eletrônicas, tinha que desenhar pessoalmente o layout da casa, já que Dean não tinha essa informação.

Pontuei com precisão todos os lugares que aparentemente possuía câmeras camufladas, destacando das câmera visíveis. A casa deles não era somente, mas muito bem dividida os ambientes, todos poderia facilmente ter esconderijos secretos por trás de quadros, debaixo de tapetes, apesar de ser óbvio que as arquivos estariam no computador do escritório do pai deles.

Porém, eu poderia considerar as probabilidades deles terem transferido os arquivos para um pen drive e escondido esse pen drive. Eram muitas as perguntas que estavam se formando em minha mente, entretanto todas me levavam ao bendito escritório. A pergunta era, como eu conseguiria entrar lá sem ser notada?

Talvez eu usasse o jantar para criar uma distração… Quanto mais eu pensava em como roubar, menos eu sentia vontade de roubar. Eu não queria decepcioná-los, nem mesmo magoar a senhora Mary, não queria trair null, ou perder a amizade de null, mas a imagem de Louise roubando eles sempre me assombrava.

Após ficar mais de uma hora olhando para o mapa que tinha feito no tablet e lutando contra eu mesma mentalmente, desliguei o aparelho e fui em direção ao banheiro. Precisava de uma ducha quente, relaxar meu corpo e esquecer essa parte da minha vida, precisava somente focar na parte normal que me fazia sorrir sem esforço.

Assim que terminei de tomar a ducha, me enrolei na toalha e voltei ao quarto, abri a mala e todas as roupas que já tinha usado, fechei logo. Fui até o closet de null e peguei uma blusa de moletom dele para vestir, pensei em sair do quarto e ficar vendo televisão com null, ou algo do tipo, porém ao olhar para aquela grande e aconchegante cama, tive uma ideia melhor.

Me deitei na cama de null sem cerimônias e fechei meus olhos, a mais sábia decisão que tinha tomado em meses, precisava descansar minha mente e encaixar minhas ideias. Precisava esquecer que meu marido era meu álibi, que tinha virado meu objeto de desejo.

Peguei no sono e o tempo foi passando, despertei lentamente sentindo alguém acariciando meus cabelos. Abri os olhos de leve e null estava deitado ao meu lado, de frente pra mim e me olhando fixamente, ele deu um sorriso fofo e continuou fazendo cafuné em mim, seu olhar era sereno.

— Não resistiu?! — perguntou ele num sussurro.
— Não. — assenti — Estava me sentindo um pouco cansada, mentalmente cansada.
— Imagino que esteja pensando em muitas coisas que possam te preocupar. — disse ele.
— Basicamente. — concordei — Pensei que fosse fácil, mas agora vejo que não é.
— O que?
— Ser eu, não é fácil. — sussurrei fechando os olhos novamente.
— Então durma e descanse mais. — sussurrou ele de volta.

Eu aproximei meu corpo do dele me aninhando em seu braço, voltei a dormir sem dor na consciência, curiosamente estava me sentindo segura e protegida ao lado dele, algo que não sentia a muito tempo.

A noite passou e na manhã seguinte, acordei me sentindo mais do que renovada, era como se um peso tivesse saído de minhas costas. Meu dia começou com um café da manhã muito interessante no orquidário da senhora Mary, algo que me deixou fascinada foi seu amor por orquídeas. Passei uma grande parte do dia caminhando pelo jardim observando a movimentação contínua dos seguranças, então notei que a segurança externa dobrava à noite, algo interessante.

— Gostou do jardim? — disse null ao se aproximar de mim.
— Sim, encantador, devo presumir que é obra da sua mãe. — respondi a ele.
— Certamente sim, ela adora jardinagem e paisagismo. — afirmou ele parando ao meu olhar mantendo seu olhar no canteiro de azaléias que estava diante de nós — E você? Gosta de plantas?
— Sim, acho bonito. — respondi.
— Olha, se não der certo a fotografia, aposte em paisagismo. — brincou ele.
— Ah, não, não levo jeito para isso.
— Você acha? — ele desviou seu olhar para mim.
— Não tenho muita paciência para regar plantas todos os dias, ou decorar qual vegetação é melhor para os jardins, diferenças entre as plantas climáticas, coisas desse tipo. — eu ri expontaneamente — Acho que fotografia combina mais comigo.
— Olha, está descobrindo outro talento?
— Acho que sim. — suspirei um pouco — Finalmente encontrei algo que me deixe empolgada de verdade.
— Pensei que ser a LT te deixasse empolgada. — sibilou ele.
— Me deixa, mas é diferente.
— Diferente como? — seu olhar estava curioso.
— Em tese, ser a LT é meio que uma obrigação. — tentei não deixar minha voz com ar de frustração.

Ficamos ali no jardim, por mais um tempo conversando, ele estava me contando sobre seu Congresso de Medicina e sobre o mestrado que estava pensando em fazer, na Universidade de Oxford. As horas foram passando, até que null me puxou para seu quarto e me entregou uma caixa.

— O que tem aqui dentro? — perguntei pegando, estava um pouco pesada.
— Notei que suas roupas estavam um pouco usadas. — disse ele segurando o riso — Então, é um presente.
— Pode dizer sujas. — admiti.
— Eu mandei para lavanderia.
— Agradeço. — abri a caixa e tinha um lindo vestido azul marinho, com a parte do busto com renda e um sapato bege — Agradeço por isso também.
— Minha mãe me ajudou a escolher o sapato. — ele parecia um pouco envergonhado em dizer aquilo.
— É um lindo sapato. — elogiei — Tiveram bom gosto.
— Sei que tem algo especial com os sapatos.
— Sim, eu tenho. — ri de leve — Obrigada.

Ele pegou em minha mão e me puxou me abraçando. De início fiquei um pouco estática, não entendia o motivo daquele abraço, mas aos poucos fui retribuindo, fechei os olhos de leve assim que senti seu suave perfume.

null, eu… — me afastei um pouco dele.
— Você…
— Está quase na hora do jantar dos seus pais, então… — respirei fundo desviando meu olhar para a porta do banheiro — Acho melhor ir tomar um banho.
— Claro. — sua voz tinha traços de decepção, como se ele esperasse ouvir outra coisa.

Não demorei muito para me arrumar, assim que fiquei pronta e retornei ao quarto, ele não estava mais lá. De início achei estranho, mas não iria colocar mais coisas na minha mente, já estava achando ele e null um pouco diferentes em suas formas de falar comigo, me olhei no espelho do closet por alguns instantes e saí do quarto.

Desci as escadas tranquilamente, comecei a ver alguns rostos estranhos e outros bem conhecidos, lendo os arquivos de Dean sobre a família null, notei que metade das possíveis famílias que estariam naquele jantar, eu já tinha roubado. Ou seja, eu estava basicamente no covil do lobo, e qualquer passo em falso poderia ser devorada.

— Aqui está ela, a noiva do nosso null. — disse a senhora Mary ao se aproximar de mim — null, quero que conheça uma amiga muito íntima minha, essa é a senhora Minah, da família Chang.
— Oh, como é uma honra conhecer a moça que conquistou nosso menino travesso. — disse a senhora se curvando de leve para mim e pegando em minha mão.
— A honra é minha senhora Chang. — engoli seco, devido ao sobrenome dela, sorri disfarçadamente pegando em sua mão e me curvando em respeito a ela.
— Mary tinha me dito que era simpática, agora posso concordar, seu sorriso também é muito bonito.
— Agradeço senhora Chang. — me curvei novamente.

Respirei fundo por um momento, estava sentindo meu coração disparado por um momento, até que senti uma mão pegar em meu braço e me puxar.

"Não fique nervosa
Está tudo bem, garota
Você não deve ter medo neste momento."
- Back Seat / JYJ



Capítulo 35

* null *

null?! O que está fazendo? — disse assim que vi que era ele que estava me puxando — Para onde está me levando?!
— Para um lugar seguro. — ele se manteve sério, porém sua voz estava suave — Imaginei que não estivesse se sentindo bem perto da senhora Chang.

Assenti o seguindo, assim chegamos em frente ao escritório do seu pai. null se colocou um pouco em minha frente e digitou a senha, fingi não estar prestando a atenção, porém gravei com facilidade a sequência de números. Nós entramos e ele fechou a porta.

— Espero que não seja difícil para você sobreviver a esse jantar. — disse ele se encostando na porta e cruzando os braços.
— Não, mesmo eu tendo… Sabe, metade das famílias daqui. — respondi suspirando fraco.
— Se quiser, podemos ir para outro lugar. — sugeriu ele.
— Não, isso deixaria sua mãe triste, hoje é uma noite especial.
— Como quiser. — ele sorriu de canto, seu olhar estava fixo em mim.
— Agora minha vez. — respirei fundo olhando para a estante de livros ao lado — Está tudo bem com você e null?
— Por que não estaria?! — retrucou ele.
— Não sei, vocês dois andam muito estranhos.
— Defina, estranhos.
— Hum, a forma como falam.
— Digamos que estamos um tanto ansiosos por sua resposta. — explicou ele.
— Ah, sim, minha escolha, agora faz sentido a pergunta do null sobre meu último trabalho.
— Basicamente. — assentiu ele.
— E se eu disser que já tenho minha resposta?!
— Tem?! — se olhar ficou como de um curioso.
— Mas só darei ao final da noite.
— Esperarei ansioso até o final da noite. — ele sorriu de canto novamente — Ah, tenho algo para te dar.
— O que? — o olhei curiosa — Você já me deu tanta coisa.
— Isso. — ele retirou uma correntinha de ouro, com pingente de pérola do bolso e colocou em meu pescoço — Já tem um tempo que eu queria te dar isso.
— É bonita. — sorri de leve sentindo suas mãos encostarem no meu pescoço — Obrigada.
— Estou feliz que tenha gostado.

Nós passamos mais algum tempo ali, até que null bateu na porta. A senhora Mary estava nos chamando para o jantar. Eu me sentei ao lado de null à mesa grande mesa em formato de U, que estava preparada no jardim, do lado direito havia sentado duas família japonesas, uma britânica e uma russa; já do lado esquerdo tinha se sentado a família chinesa Chang, uma família mexicana, uma italiana e uma tailandesa.

A família null havia se sentado no meio, pois eram os anfitriões. Eu transmiti o máximo de naturalidade e segurança, no fundo estava feliz por ninguém ter me reconheci nem mesmo questionado sobre minha família ou algo do tipo. No geral, o jantar foi um sucesso, o cardápio muito bem escolhido e a comida saborosa, a senhora Mary sabia dar uma festa.

Mais algumas horas depois, os convidados foram aos poucos se despedindo e indo embora. Percebi que estava na hora de dar minha resposta aos irmãos null, após todos os convidados partirem, seus pais se recolherem e Sam também, pedi para que ambos me esperassem em seus quartos, minha resposta seria simples, eu entraria no quarto da pessoa que eu tinha escolhido.

Fiquei alguns minutos no corredor, respirei fundo, pensei mais um pouco no que fazia depois da minha resposta. Então, finalmente segui até o quarto dele, assim que entrei, ele estava virado para a janela olhando o céu, parecia tão concentrado em seus pensamentos que não percebeu que tinha entrado.

Fechei a porta de forma silenciosa e me encostei nela o olhando, podia sentir meu coração acelerado naquele momento. O olhar de null estava mais do que concentrado do lado de fora da janela, o que me fez ter uma certa curiosidade em saber sobre seus pensamentos. Apesar de imaginar que metade deles certamente estavam relacionados a mim.

— Posso deduzir que está pensando em mim?! — disse caminhando até ele.
null?! — ele se virou para mim, seu olhar era uma mistura de surpresa e alegria em me ver — Você…
— Deveria estar mais feliz em me ver. — brinquei mordendo meus lábios inferiores.
— Acredite, eu estou. — seu olhar ficou sereno e sua face suavizou um pouco.
— Isso é bom. — dei impulso e o beijei de surpresa.

Logo, senti seus braços envolvendo minha cintura, o que fez meu corpo se arrepiar, acho que ainda estava lutando contra o que mais queria, deixar ele se estabelecer de vez em meu coração. null aos poucos foi dando mais intensidade naquele beijo, não era surpresa que aquele meu marido tinha mudado muito desde que o conheci, mas ainda não sabia o quanto ele tinha mudado.

— Preciso ter certeza que não estou sonhando. — sussurrou ele.
— Bem, só tem um jeito de saber. — eu sorri para ele — Andei pensando em algumas coisas que aconteceram e foram deixadas de lado. — respirei fundo tomando coragem e pensando se deveria mesmo dizer aquelas palavras — Nos casamos em Vegas e até agora, não consumamos nosso casamento.
— Pensei que o que acontece em Vegas ficava em Vegas. — disse ele rindo de leve.
null, meu marido, para toda regra há uma exceção. — sorri para ele mantendo meu olhar em seus olhos.

Naquele momento, senti que havíamos nos tornado oficialmente um casal, eu estava mesmo oficializando nosso casamento em Vegas, eu o queria como meu marido de verdade, era null minha escolha. Fechei lentamente meus olhos e logo senti seus lábios tocarem os meus, algo diferente estava acontecendo entre nós, algo intenso e malicioso, a mentira estava se tornando realidade.

Por dentro meu coração já acelerado, pulsava ainda mais forte a cada vez que sentia sua pele encostar na minha, meu corpo se arrepiava. Seus beijos a cada instante começaram a ficar ainda mais intensos, me deixando cada vez mais entregue e vulnerável, me fazendo esquecer até mesmo esquecer meu lado LT inalcançável.

O lado “marido real” de null era novo e surpreendente, como se eu estivesse diante de uma pessoa que nem imaginava que conheceria. Eu tinha perdido a noção do tempo e espaço quando meu corpo se deitou sobre os lençóis da cama, estava tão concentrada no olhar fixo e intenso dele, que nem conseguia me perguntar quando sua camisa havia saído de seu corpo.

Ficamos um tempo nos olhando, nossas respirações sincronizadas, naquele silêncio somente se ouvia o pulsar de nossos coração, fechei os olhos assim que seus lábios tocaram meu pescoço. Sentindo suas carícias e retribuindo seus beijos intensos, o conhecendo por completo, comecei a desejar que aquela noite jamais se acabasse.

Nunca imaginei que me sentiria amada de verdade, menos ainda que amaria alguém como eu o amava agora, ironicamente estava sentindo isso por uma pessoa que tinha conhecido por acaso. Uma pessoa que amava todos os meus lados, sendo a simples fotógrafa null ou a ladra profissional Little Thief.

Porém, o acaso tinha acertado quando me fez conhecer ele, mais ainda por me fazer perceber que ele era tudo que eu precisava para me sentir uma pessoa normal e ter uma vida normal. Não era somente uma noite de escolha, era uma noite de entrega e amor, a noite que eu estava admitindo que null tinha entrado de vez em meu coração, abalado minhas estruturas.

Entretanto algo ainda me assombrava. Assim que despertei de um breve cochilo, ouvi o barulho do chuveiro, caminhei até lá e olhei pela greta, null estava tomando banho. Peguei minha bolsa e a remexendo, retirei o pen drive que sempre mantinha por precaução do fundo falso. Neste momento eu estava curiosa para saber até onde eu iria, saí do quarto e desci as escadas em silêncio, estava contando com o escuro e os pontos cegos das câmeras.

Eu sabia que o escritório seria óbvio e fácil, logo cogitei a ideia dos arquivos não estarem lá. Foi neste momento que minha memória ajudou e me lembrei de ter visto algo interessante no orquidário da senhora Mary. Ficava ao lado da entrada para a adega, eu teria que ter o máximo de cautela, pois a segurança na parte externa era alta.

Saí pela porta da cozinha, mantendo meu corpo abaixado e caminhei pela lateral, onde a luz não conseguia chegar. Assim que passei pela adega, fiquei um tempo abaixada na parte escura, atrás de algumas caixas, então após alguns seguranças passarem, entrei no orquidário. Demorou um pouco para encontrar o que queria, porém estava lá.

Escondido, dentro de uma caixa de semente, um tablet. Liguei o aparelho e conectei o pen drive nele, se tinha algo naquele tablet, o vírus do Dean que estava no pen drive iria detectar. Minutos depois surgiu uma mensagem na tela.

Loading…

Eu tinha encontrado. Os arquivos da família de null estavam todos ali, esperei até que tudo estivesse devidamente copiado, então coloquei o pen drive no bolso, respirei fundo e caminhei até a porta.

— Vai mesmo fazer isso? — disse uma voz vindo dos fundos do orquidário.

Mesmo sem luz, a claridade da lua me permitia ver o rosto da pessoa, era o senhor Hwang, pai de null. Eu o olhei, não tinha forças e nem coragem de argumentar, então dei um passo para trás.

— Vai trair meu filho? Minha esposa? Minha família?! — continuou ele.
— Mianheyo. — sussurrei me desculpando.

Quando saí do orquidário, todos os seguranças estavam na porta. Meu coração acelerado, não me deixava pensar no que iria fazer, entretanto, para minha surpresa todos se afastaram e abriram caminho para que eu passasse. A cada passo que eu dava em direção ao caminho para o portão, eu ficava ainda mais apreensiva, em um certo momento olhei para trás, e vi null da sacada do seu quarto.

Conseguia ver seu olhar triste para mim, senti um aperto no coração, mas já tinha feito o que deveria ou não fazer. Me virei sem remorso e saí correndo em direção ao portão, havia mais seguranças me esperando, apontando suas armas para mim, levantei minhas mãos pensando em como poderia escapar, já que tinha feito minha escolha final.

— Deixem ela ir. — disse uma voz saindo do rádio de um dos seguranças.

Era a voz de null. Fechei meus olhos respirando fundo, mais uma vez ele estava me salvando, mesmo que sendo contra sua família.

* null *

Não conseguia acreditar, estava estático e paralisado. Segurei todas as lágrimas de frustração no canto dos meus olhos, tentando odiar ela, mas não conseguia. Depois de uma noite que me fez acreditar que ela me amava de verdade, null tinha me traído, da pior forma possível. E a parte mais difícil seria lidar com isso agora, lidar com o fato que eu tinha deixado ela continuar, achando que ela desistiria por mim.

— Espera.

Disse Sam, após eu e null contarmos toda a história sobre a null, para ele e nossa mãe. Contamos cada detalhe, desde quando ela conheceu null na universidade, até esta madrugada, quando ela roubou nossa família.

— Quer dizer que a null noona é uma ladra profissional, te usava como álibi e agora nos roubou?! — concluiu ele como uma pergunta.
— Basicamente isso. — assenti mantendo meu olhar na janela.
— Não. — disse minha mãe — Me recuso a acreditar, a null não.
— Mas foi. — confirmou meu pai dando um suspiro fraco — Ela nos traiu e agora, o que faremos?! Ela deve ter pego todos os arquivos desse tablet.
— Nós a deixamos entrar em nossa família. — disse null — Sabíamos que ela era uma ladra, sabíamos que ela nos roubaria, a convidamos.
— Deve ter alguma explicação. — minha mãe estava relutante em acreditar — Não vou aceitar isso, null nos tem como uma família, tenho certeza que deve ter algum motivo.
— Ela é uma ladra profissional, não tem explicação melhor que essa. — disse Suho num tom ironico.
— Se ela era uma ladra, por que deixaram ela ir? — perguntou Sam.
— Por que eu achei que ela desistiria. — respondi com amargura — Achei que ela me amava o suficiente para desistir, mas estava errado. A culpa foi minha, eu a deixei ir, eu vou consertar isso.
— O que vai fazer null? — meu pai me olhou de forma séria.
— Vou caçá-la, até o fim do mundo se for preciso. — respondi.

Saí da sala antes mesmo que minha mãe pudesse intervir, fui direto para meu quarto. Naquele momento começaria minha busca pessoal pela LT, peguei sua bolsa que estava em cima da cama e remexi, tinha que encontrar algo nela que me ajudasse.

— Vai mesmo caçá-la? — perguntou null ao entrar no quarto.
— Ainda duvida? — mantive minha atenção na bolsa dela.
— Claro que não, por vou te ajudar, também tenho minha parcela de culpa. — disse ele se mantendo parado na porta — Por onde pretende começar?
— Por isso! — respondi levantando o tablet dela — Vou começar por isso, certamente tem muita coisa aqui.
— Sabe, quando me contou sobre tentarem invadir os sistemas da filial de Tóquio, fiquei preocupado. — null cruzou os braços — Mas ao mesmo tempo, aliviado.
— Por que aliviado?!
— Por que sabia que não era a LT. — confessou ele.

Me mantive em silêncio por um tempo, porém compartilhava do mesmo sentimento, eu também tinha esperanças que ela não nos roubaria.

— Admito que sempre que uma tentativa de nos roubar falhava, eu ficava com medo da próxima tentativa ser ela. — respirei fundo — Até que você me disse que seus contatos tinha visto o Dean, desembarcar no Brasil, então tive certeza que nossa família era seu último alvo.
— Me sinto tão inútil agora, queria poder te feito algo a mais para que ela tivesse desistido, porém… — ele começou a rir — Queria até mesmo odiar ela por isso, mas só consigo ficar chateado por ela ter entrado no seu quarto.
— Sério?! — eu o olhei — Ela nos rouba, e você está chateado por ela ter me escolhido?
— Tenho certeza que você também estaria, se estivesse no meu lugar. — ele sibilou um pouco — Mas consigo sentir a intensidade da sua raiva.
— Eu nem sei o que estou sentindo, uma mistura de frustração, raiva e felicidade. — comentei.
— Felicidade? — ele parecia meio confuso.
— Felicidade por que tive a melhor noite da minha vida, frustração porque também foi a pior noite da minha vida, e raiva por que o mentor de tudo isso é o Dean.

Por quê? Você foi embora tão naturalmente
Por quê? Você me viu como alguém fácil
Por quê? Você está partindo meu coração em pedaços (Por quê?)
Por quê? Se todos os momentos foram um sonho
Por quê? Se eu tivesse tempo para consertar isso
Por quê? Eu queria que você fosse feliz (Por quê?)
- Keep Your Head Down / TVXQ (Dong Bang Shin Ki)



Capítulo 36

* null *

Eu corri o máximo que pude, até chegar na estação, peguei o metrô e desci em uma parada qualquer, então entrei em um táxi e segui para o endereço que Dean tinha enviado. Aparentemente era uma casa de arquitetura tradicional coreana, uma família muito acolhedora, mas não entendia muito o que falava, meu contato era o filho mais velho, que trabalhava para o Dean.

— Espero que fique confortável. — disse o Jinho ao entrar no quarto de hóspedes comigo.
— Ficarei sim, obrigada. — disse ao entrar — O senhor D. te passou alguma instrução?
— Ele somente disse que se a senhorita viesse, deveria ficar aqui por dois dias, até ele fazer contato. — respondeu.
— Ok.

Esperei até que ele saísse e tranquei a porta. Só naquele momento eu tinha me dado conta do que tinha feito, estava arrependida mas não podia voltar atrás, respirei fundo e retirei minha roupa. Tomei uma ducha no banheiro que tinha no quarto e coloquei as roupas limpas, que estavam separadas para mim em cima da cama.

Mesmo que fosse tedioso, mesmo que eu estivesse com uma vontade louca de voltar para a casa da família null, eu me manteria ali naquele quarto até Dean fazer contato.

Os dois dias se passaram, finalmente a ligação que eu esperava veio. Dean parecia um pouco surpreso por eu ter realmente roubado, talvez contava com minha vontade de ter uma família normal.

— E agora?! — perguntei a ele — Como vou sair daqui? Meu passaporte, minha bolsa, meu tablet, ficou tudo com eles.
Daqui três horas Jinho te levará a um jatinho particular, você vai desembarcar em Xangai e pegar um avião para Londres, depois outro para Manhattan. — explicou ele.
— E quanto aos meus documentos? — indague.
Não se preocupe, sabe que seus documentos verdadeiros estão comigo. — ele fez uma breve pausa — Terá uma pessoa em Xangai que vai te guiar até seu embarque, ele te dará o pacote que precisa.
— Ok. — assenti.
Está tudo bem? — perguntou ele.
— Sim, estou.
Tem certeza?
— Sim, só quero minhas férias agora.

Ele se manteve em silêncio e depois desligou, dava para notar a irritação em minha voz, estava extremamente com raiva dele por ter me induzido a roubar null. Esperei as três horas até Jinho me levar ao aeroporto particular, onde pegaria o jatinho para Xangai, o pen drive estava muito bem guardado entre as roupas que estavam em meu corpo, eu enfrentaria horas e horas de voo.

Depois de passar por Xangai e Londres, finalmente estava de volta a Manhattan, finalmente me sentia segura para fazer o que estava planejando fazer. Eu não entregaria aquele pen drive ao Dean, menos ainda deixaria barato para quem contratou meus serviços, eu daria o troco da melhor forma possível.

Peguei um táxi no aeroporto e desci na estação central, após embarcar e desembarcar do metrô e mais dois ônibus, finalmente entrei discretamente em um táxi executivo estacionado na porta de um hotel. Como suspeitado, eu estava sendo seguida por um informante do Dean, de certo para confirmar se eu levaria o pacote ao lugar correto.

Assim que cheguei a portaria do meu condomínio, desci do táxi. Por sorte Stephanie estava passeando com Cronos, pedi a ela para pagar o homem do táxi e segui em direção a minha casa acompanhada de Cronos. Era bom receber o amor do meu cachorro, já que eu tinha perdido de outra pessoa.

— A senhora chegou de surpresa, pensei que demoraria mais. — disse Stef ao entrar.
— Eu também, mas nem tudo é como queremos. — suspirei fraco olhando para meu cachorro — E como foram as coisas aqui?
— O homem veio regularizar o chassi do seu novo carro. — respondeu ela — O Cronos melhorou bastante após eu começar a colocar as mensagens de voz da senhora para ele durante a noite, e a reforma da piscina está concluída.
— Que bom, agradeço por sempre cuidar de tudo, enquanto estou fora. — me espreguicei um pouco — Vou tomar um banho, se quiser ir para casa.
— Ah, prefiro dormir aqui hoje, briguei com minha mãe.
— Fique á vontade então, se alguém ligar, diga que não estou.
— Sim senhorita. — assentiu ela indo para a cozinha e chamando o Cronos.

Após subi as escadas e fui direto para meu quarto, entrei no closet e abri meu cofre, retirei o pen drive do bolso da calça e coloquei dentro, fechando novamente. Depois caminhei até o banheiro e enchi a banheira de espumas e me joguei nela, meu corpo precisava relaxar um pouco. Fechei meus olhos e fiquei ali dentro sentindo as espumas tocando minha pele, foi o suficiente para um breve cochilo, após isso saí da banheira me enrolei na toalha.

Coloquei meu roupão e voltei para o quarto.

— Senhorita LT? — disse Stef ao entrar com o telefone em sua mão — Ligação para a senhorita.
— Quem é? — perguntei pegando o telefone.
— Chamada restrita. — respondeu ela.
— LT na linha. — disse ao colocar o telefone no ouvido.

Observei Stef saindo do quarto.

Você não terminou seu trabalho, por que está em casa? — a voz era de Dean.
— Claro que terminei. — disse num tom natural e tranquilo — Fiz o que me pediu, estou com os arquivos em meu pen drive, roubei o que queria.
E por que não entregou o pacote?! — indagou ele — Nosso cliente fez o pagamento antecipado.
— Sim, ele pagou para que eu roubasse, estou certa?!
Sim. — confirmou ele.
— Mas não falamos nada sobre eu entregar o que roubei. — disse num tom sinuoso e irônico, já imaginando a cara de fúria de Dean.
Sabe que não gosto de brincadeira. — disse ele.
— Não estou brincando Dean. — meu tom ficou mais sério — Agradeço ao nosso cliente por ter pagado pelo roubo, e espero que meu depósito seja feito ainda hoje, porém a um preço diferente para que eu entregue.
Você não pode fazer isso. — repreendeu ele.
— Eu já estou fazendo, essa foi a segunda e última vez que você me obriga, a passar por cima dos meus princípios. — o alertei, desviando meu olhar para a porta e vendo Cronos entrar no meu quarto — Sei que te devo minha vida Dean, e não quero ter que dizer não a você.
Isso tudo porque teve que roubar sua família preciosa?
— Não. — respirei fundo caminhando até a janela — Isso por que me forçou a fazer algo que não queria, e ainda ousou mencionar que envolveria a Louise, nossa lealdade é uma via de mão dupla Dean.
O que quer dizer com isso? Está me ameaçando? — sua voz estava mais áspera e rude — Sabe que não sou qualquer pessoa.
— Eu sei muito bem quem você é, Dean. — virei meu corpo, encostando minhas costas na janela — Mas espero que sua lealdade a mim seja recíproca, se mencionar Louise e a família do null em uma mesma frase novamente, farei com que se arrependa da pior forma possível.
Não acredito que está dizendo isso. — ele deu uma risada baixa — Está mesmo querendo proteger a família do seu álibi?
— E se estiver?! — indaguei — Não quero que nenhum dos prodígios toquem neles.
Tudo bem, vou relevar suas palavras amargas para mim e voltemos ao início. — ele respirou fundo — Não gosto quando temos divergências de opiniões, menos ainda quando seus roubos não seguem o curso esperado.
— Você já sabe minha posição. — dei alguns passos até o closet — Este pen drive ficará comigo até quando eu achar necessário.

Desliguei o telefone e o coloquei na prateleira, retirei o roupão de banho e passei mais alguns minutos escolhendo o que iria vestir, era um ensolarado dia de primavera. Coloquei um vestido floral longo, combinado a uma sapatilha branca e voltei ao quarto, olhei para Cronos que estava deitado em minha cama.

Fiz um sinal para que ele me seguisse, desci as escadas com ele me seguindo e caminhei direto para a cozinha. Para minha surpresa, Stef tinha deixado um lanche preparado para mim e guardado no microondas, aparentemente ela tinha saído, após comer o que estava preparado, segui até a sala de tv com Cronos.

Seria meu momento de fazer uma leve maratona na Netflix de doramas, ter viajado para a Coreia tinha despertado um certo interesse pela cultura em mim. Me joguei no sofá com Cronos se deitando ao meu lado, felizmente tinha um fino cobertor dobrado em cima da mesa de centro. Isso significava que o final da minha tarde e a noite, seria longa ali no sofá.

Os dias se passaram, sábado pela manhã acordei com uma disposição incomum, me espreguicei um pouco ao entrar no closet. Troquei de roupa colocando a camisa de null, que tinha ficado comigo, combinado a um short curto preto, por um breve momento meus olhos se voltaram para o cofre.

Abri e retirei o pen drive, estava um pouco curiosa para ver os tipos de arquivos que estavam ali dentro.  Fechei o cofre e coloquei o pen drive no bolso do short, voltei para meu quarto e percebi que o celular que Stef tinha comprado para mim estava tocando, era uma ligação de Dean.

— LT na linha. — disse ao atender.
Fico aliviado sempre que ouço sua voz suave. — brincou ele.
— O que deseja agora? — perguntei saindo do quarto.
Venho para lhe informar que sua família null está no topo da lista dos mais desejados. — disse ele.
— O que?
Isso mesmo, apareceram mais alguns clientes que querem os arquivos que estão com você. — explicou ele tranquilamente — Para simples donos de um empresa de transportes, eles estão me saindo uma bela mina de ouro.
— Se está achando que vai encher seu bolso às custas do meu roubo. — caminhei pelo corredor seguindo até as escadas.
Calma. — ele riu de leve — Não foi você quem disse que eu poderia refazer as negociações, não estou dizendo para me entregar o pen drive, só estou dizendo que temos mais possibilidades de negociar com outros clientes.
— Tudo bem, mas a palavra final será minha. — assim que desci as escadas vi Cronos sentado em direção a porta, assim que meu olhar chegou na pessoa parada — Nossa.
O que houve? — perguntou ele.
— Me parece que temos mais uma pessoa disposta a negociar.
Do que está falando? — insistiu ele.
— Te ligo depois. — desliguei o celular e mantive meu olhar nele, eu já imaginava que em algum momento ele me encontraria, e estava ansiando por isso — Bom dia null.

 

Eu evito o seu olhar fingindo que não estou interessado em você,
Veja bem, eu preciso arriscar tudo que tenho.
Só para passar por você, oh yeah,
Você é tão diferente das outras mulheres
- Lotto / EXO



Capítulo 37

Sua face estava séria, seu olhar frio, eu já imaginava que ele estaria mais do que chateado comigo, ele deveria estar me odiando naquele momento.

— Antes que diga aquela frase óbvia de, eu vim pelo pen-drive. — comecei dando alguns passos até o sofá — Seja bem-vindo à minha casa, apesar de não ter sido convidado.
— Há alguns dias eu era seu marido, então acho que não precisaria de convite. — disse ele num tom irônico — Mas voltando ao óbvio, sim, eu vim pelos arquivos da minha família e não vou sair daqui sem eles.
— Foi o que pensei. — dei um sorriso malicioso e mordi de leve meus lábios inferiores — Então, vamos negociar.
— Não. — ele foi direto e preciso — Você vai me devolver o que roubou de mim, e não vai levar nada em troca.
— Acha mesmo que vou sair sem nada? — ri de leve — Acha mesmo que conseguiu me achar sozinho?

Ele se manteve em silêncio, parecia pensar em todos o tempo que estava a minha procura.

— Acha mesmo que eu não tinha percebido? — mexi na correntinha que ele havia me dado, que ainda estava em meu pescoço, alisando o pingente de pérola — Você colocou um rastreador nesta correntinha, mas provavelmente ficou tão confuso e chocado por eu ter te roubado que se esqueceu. — suspirei fraco lendo suas expressões faciais — Mas então, como não conseguiu encontrar nada no meu tablet, acabou de lembrando do presente de casamento, confesso que fiquei torcendo para que não demorasse.
— O que espera dizendo isso? — ele bufou um pouco — Que eu admita que você soube como me manipular? Eu admito, mas isso não vai acontecer novamente, você vai me dar este pen-drive e nunca mais me verá novamente.

Senti um frio na espinha, respirei fundo e me voltei para a cozinha, pela primeira vez não sabia o que fazer, nem como agir com ele. Caminhei tranquilamente até a geladeira e a abri retirando uma garrafinha de água, logo a porta da geladeira se fechou, era ela.

— Não estou com paciência para seus jogos null. — seu tom estava um pouco mais alto e agressivo.
— Vai me bater para obter o que quer? — perguntei tocando de leve em seu rosto.
— Não, jamais faria isso. — ele pegou em minha mão me distanciando ele — Mas posso te persuadi-la.

Seu olhar ficou um pouco mais malicioso.

— Estou começando a gostar disso, mas você disse que não quer jogar. — sorri de leve e abri a garrafinha para beber a água.
— Não estou jogando. — ele tomou a garrafinha de mim — Estou falando sério.
— Eu também. — peguei a garrafa de volta e tomei um gole.
— Não quero pegar a força. — sua sinceridade no olhar arrepiava meu corpo — Não me importo se não gosta de mim, ou se foi somente diversão para você, mas acho que deveria ter pelo menos respeito a minha mãe, ela ainda te considera da família.

Engoli seco suas palavras, mencionar sua mãe fez a culpa por ter roubado eles, me corroer ainda mais por dentro.

— E você? Não me considera mais? — estava curiosa sobre seus pensamentos.
— Não misture as coisas. — ele desviou seu olhar de mim — Só estou te dando a oportunidade de devolver, por um pedido da minha mãe.
— Você respondeu e isso que faz perceber que está mentindo. — eu me aproximei mais dele e retirei o pen-drive do meu bolso, erguendo um pouco — Consigo ver em seus olhos, mesmo com toda a raiva, não é somente por sua mãe.

Sorri de canto e assim que ele se moveu para pegar o pen-drive, me desviei dele rapidamente e continuei caminhando até a varanda lateral, seguindo em direção a piscina. Ele me seguiu, estava mesmo destinado a me persuadir.

— Não pode continuar fugindo para sempre. — disse ele atrás de mim.
— Eu sei, estou somente pensando em como posso negociar com você. — ri de leve.
— Já disse, não vim para negociar. — retrucou ele.
— Eu sei. — ri mais um pouco — Ah, tenho que admitir que sua família possuem muitos desafetos, o que me deixou surpresa.
— E está pretendendo usar isso a seu favor. — concluiu ele — Ou só está seguindo ordens?
— Ordens? — eu parei ao lado da piscina e fiquei de frente para ele — Acha mesmo que o controle está nas mãos do Dean?
— Você me roubou, poderia não ter feito. — retrucou ele — Queria poder pensar que você fez isso pelo prazer da adrenalina, ou…
— Não foi por que o Dean mandou, acredite. — mantive minha voz firme, não falaria meu reais motivos, mas não o deixaria pensar tolices — De qualquer forma, foi melhor ter sido roubado por mim.
— Você acha? — sua indignação era visível — Acha mesmo que foi melhor ter sido apunhalado por você?
— Sim. — melhor eu do que a Louise, pensei comigo mesma.
— Essa é a última vez que vou te pedir…
— Não. — o interrompi esticando minha mão com o pen-drive sobre a piscina — Este pen-drive não vai sair desta casa.

Mantive meu olhar nele, mas o dele estava naquele pequeno objeto, com a minha unha destravei a lateral do pen-drive, o abrindo e sem receio do que estava fazendo, deixei meu breve objeto de desejo cair nas águas da piscina.

— Bem, acho que isso significa nosso divórcio. — disse de uma forma debochada.

null desviou seu olhar para mim, ele parecia ainda mais confuso e desnorteado, mas permaneceu em silêncio. Dei alguns passos em sua direção e ao passar por ele.

— Se serve de consolo, eu não queria ter feito o que fiz. — suspirei fraco.
— Suas palavras não muda o fato de ter feito. — retrucou ele.
— Eu sei. — respirei fundo — Você conhece o caminho da saída.
— Eu prometo, nunca mais me aproximar de você.

Voltei a seguir para dentro da casa e subi para meu quarto.

Minutos depois, Stef entrou acompanhada de Cronos, meu cachorro foi longo se deitando em minha cama, enquanto ela permaneceu parada na porta.

— Senhorita LT, me desculpe por tê-lo deixado entrar sem avisar. — ela parecia meio receosa — Mas ele deu a sua senha, então.
— Não se preocupe, aquele senhor é muito bem-vindo em minha casa, apesar de achar que ele nunca irá voltar. — desviei meu olhar para a janela — Ele já foi?!
— Sim, ficou um tempo olhando a piscina, mas logo se retirou. — respondeu ela.
— Stef, pode tirar o resto do dia de folga, amanhã você não vem mesmo. — comecei a pensar no que faria na próxima semana — Acho que semana que vem, você poderá vir somente dois dias.
— A senhorita pretende viajar com o Cronos?
— Sim, vou iniciar meu plano de férias. — falei com convicção — E Cronos, meu fiel companheiro irá comigo.
— E já tem algum destino traçado?
— Andei pensando em Bahamas. — sibilei um pouco — Acho que posso me divertir lá.
— Um bom lugar para se descansar, a senhorita merece.
— E você também, por isso, irei depositar uma bonificação em sua conta. — a adverti — Então trate de aproveitar a próxima semana para viajar também.
— Ah não, agradeço a bonificação senhora, mas ando economizando para meu casamento.
— Stef, finalmente aceitou o pedido dele?!
— Sim senhorita, Dimitri ficou muito feliz quando eu aceitei.
— Não se preocupe com o dinheiro do casamento, apenas pegue a bonificação e viaje, como se fosse sua despedida de solteiro. — sorri de leve.
— Mais uma vez obrigada. — ela se retirou um pouco mais animada.

Desviei não meu olhar para Cronos que já estava encolhido no meio da minha cama.

— Ah, seu preguiçoso, está animado para nossas férias. — me deitei ao seu lado — Como sempre, seremos eu e você.

Naquele momento senti que toda a disposição que havia acordado comigo, já tinha me deixado, aquele cansaço mental de dias tinha retornado e precisava mesmo de uma viagem que ocupasse todos os meus pensamentos. Me levantei novamente e desci as escadas, tinha deixado meu celular em cima da mesa de centro na sala, assim que cheguei perto, notei que minha mala estava ao lado do sofá, assim como meu tablet ao lado do celular na mesa de centro.

Mais uma vez para estava sem reação diante da família null. null tinha levado minhas coisas, poderia ter queimado ou jogado fora, mas resolveu devolver, principalmente meu tablet. Por curiosidade, abri a mala e tudo estava devidamente dobrado e organizado, havia uma carta em cima das roupas, meu corpo gelou naquela hora.

— Mais uma surpresa null. — sussurrei pegando a carta.

Mas não era dele, imprevisivelmente era de sua mãe.

— Senhora Mary, isso é golpe baixo, eu gosto tanto da senhora. — sussurrei novamente abrindo a carta.

“Querida LT, posso te chamar assim também?!
Mesmo triste por ter feito o que fez, tenho certeza que existe um motivo, meus filhos e meu marido estão com raiva, mas uma hora isso passa. O que importa é que eu ainda te considero a filha que nunca tive e te perdoo…”

Eu não consegui nem terminar de ler.

Respirei fundo e dobrei aquela carta novamente. Peguei meu celular e mandei uma mensagem a null, agradecendo seu convite para passar algumas semanas no Brasil, mas recusando, pois já havia escolhido meu destino. Após isso, liguei para o senhor D.

Uma ligação inesperada sua?! — disse ele ao atender.
— Quero viajar amanhã. — direta e precisa.
Mas ainda não terminamos o último serviço. — contestou ele.
— Sim, já terminamos. — respirei fundo — Não importa o valor, não vou aceitar nenhum.
Espera, vamos conversar…
— Dean, não. — continuei firme — Vamos encerrar isso por aqui.
Hum, tudo bem, vou encerrar com você, mas nossos clientes não precisam saber da sua decisão final. — retrucou ele.
— O que anda fazendo Dean?
Um pequeno leilão.
— O que?! — não sabia se ficava indignada ou abismada — Está fazendo um leilão com as informações da família null?
Sim.
— E se eu te disser que não existe mais informações.
Você…
— Apaguei tudo. — respondi superficialmente.
Apagou mesmo, ou devolveu a quem pertencia?
— A onde quer chegar?
Acha mesmo que não sei da visita do seu, ele ainda é seu marido? — perguntou com um tom disfarçado de deboche.
— Não importa o que eu fiz, só saiba que não tenho mais nenhum pen-drive com arquivos. — Fui ainda mais clara.
Tudo bem. — ele riu — Mas, como eu disse, nossos cliente não precisam saber.
— Não importo com o que vai fazer, só não os prejudique mais. — o alertei — E se ousar mencionar a Louise…
Calma, já dei minha palavra e isso já basta. — me interrompeu — Mas voltando a sua viagem, seria?
— Minhas férias. — esclareci.
— Hum, andei pensando, se quiser posso te emprestar minha casa nas Ilhas Maldivas.
— Já tenho minha rota, Bahamas e Cronos irá comigo.
Tem certeza?! — perguntou ele.
— Sim, vou para Bahamas, por isso preciso de um transporte onde meu cachorro possa ficar comigo. — expliquei.
Hum, acho que posso te emprestar meu jatinho.
— Agradeço.
E para não dizer que sou uma pessoa insensível, o hotel fica por minha conta.
— Quarto presidencial. — frisei.
O melhor para a melhor. — assentiu ele rindo.
— Ok, embarco amanhã cedo. — desliguei o celular e voltei para o quarto.

Desta vez eu iria arrumar minhas malas não para mais um serviço, mas para meu tão sonhado descanso. Porém mesmo tendo a companhia do meu fiel cachorro, lá no fundo eu queria que uma certa pessoa também fosse comigo.

 

“É como se eu não conseguisse respirar, desde meu nascimento até agora...
É a minha primeira vez sentindo algo assim,
Meu cérebro e pensamentos estão preenchidos por você,
Preenchidos pelas suas expressões e suas risadas.”
- My Answer / EXO



Capítulo 38

* null *

Eu ainda estava estático com as ações de null, ela parecia estar sendo sincera, apesar de ter me enganado algumas vezes, eu consegui sentir que não queria mesmo nos roubar. Mas já havia lhe dado a minha palavra, me manteria o mais longe possível dela, mesmo tendo que ir contra meus reais sentimentos.

Assim que entrei no quarto do hotel que estava hospedado em Manhattan, liguei o meu notebook e verifiquei meus e-mails. O que me fez lembrar que tinha uma reunião marcada, com um importante cliente da empresa, então tinha que me concentrar de alguma forma, apesar dos meus pensamentos sempre se resumirem a null.

E isso estava me deixando um pouco louco.

Me espreguicei ao olhar para as malas que ainda estavam fechadas, tombei um pouco meu corpo me deitando e fechei os olhos, em uma coisa ela estava certa, minha família estava criando muitos desafetos. E isso nos preocupava por guardarmos muitos segredos de nossos clientes. Logo meu celular tocou em meu bolso, o atendi, era uma ligação de casa.

— Alô. — disse ao atender.
null querido?! — era a voz de minha mãe.
— Olá mamãe, algum problema?
Nenhum, só estava preocupada com você. — respondeu ela.
— Estava mesmo preocupada comigo, ou com sua filha protegida. — disse num tom enciumado.
A yah. — gritou ela — Como ela está?! Ela devolveu os arquivos?!
— Sim e não. — respondi.
Como assim? — perguntou null, o telefone parecia estar no viva voz.
— Quem mais está aí?! — perguntei.
A família toda. — respondeu Sam.
Yah. — gritou minha mãe — Sou eu que fiz a ligação, então parem de interferir.

Eu comecei a rir deles.

— Respondendo sua pergunta, ela aparentemente está bem mãe. — confirmei o que obviamente a senhora Mary queria saber.
E o pen-drive com as informações? — perguntou meu pai.
— Ela não quis me entregar, mas o destruiu na minha frente. — comecei a me lembrar, como se estivesse revivendo aquela cena novamente.
Jinja?! — disse Sam num tom surpreso.
Eu disse. — comentou minha mãe — Eu disse que ela jamais faria algo assim conosco, se ela fez é por algum motivo forte, caso contrário não teria destruído.
— E como podemos ter certeza que ela não fez uma cópia?! — retrucou meu pai.
null Hwang, pare de causar mais intrigas. — minha mãe o repreendeu — Tenho certeza que null não nos enganaria assim.
O que te faz pensar isso mãe?! — perguntou null.
— Nossa mãe nunca erra ao gostar de uma pessoa. — disse tranquilamente.

No fundo, mesmo não querendo, eu também acreditava em null.

Eles me fizeram mais algumas perguntas, mas me neguei a responder todas, até que expliquei que iria desligar para me preparar para a viagem do dia seguinte. Não poderia remarcar aquela reunião, só tinha uma escolha, que era enfrentar horas de voo até as Bahamas.

- x -

— Seja bem-vindo senhor null. — disse a secretária da família Brown.
— Agradeço, espero não tê-la feito esperar muito.
— Não senhor, já havíamos sido avisados da demora no desembarque. — explicou sinalizando para um dos seguranças pegar minhas malas — O senhor Brown fez questão de hospedá-lo no Atlantis Resort, como uma cortesia por sua vinda.
— Pensei que ficaria na capital. — sibilei um pouco — Mas fico feliz pelo privilégio de me hospedar no melhor hotel de Bahamas.
— Que bom que tenha gostado senhor. — por aqui por favor.

Ela me indicou o caminho e seguimos juntos até o carro. Minutos depois, chegamos ao prédio da empresa. Além de um velho conhecido de meu pai, o senhor Brown era dono de uma indústria de papéis de alta qualidade que começaram a se especializar em sustentabilidade, investindo também em papéis reciclados.

Até neste ponto, não tinha muito segredo, porém não era somente os papéis de comercialização que nossa empresa transportava para eles. Existia também as remessas especiais, e eram essas que chamavam a atenção de alguns concorrentes.

Subimos pelo elevador até o andar do escritório do presidente, o senhor Brown já estava me esperando, sentado em sua poltrona.

— Finalmente, null. — disse ele com um ar animado — Que bom que chegou.
— Boa tarde senhor Brown. — disse me curvando de leve em respeito.
— Por favor, eu e seu pai somos conhecidos de tempos e te vi nascer, pode me chamar apenas de Connor. — ele riu um pouco — Já que agora é você quem está a frente da empresa, confesso que estou surpreso por isso.
— Eu também, mas como null inventou de ser médico, e Sam não leva jeito com administração, ficou para mim esta responsabilidade. — expliquei rindo de leve.
— Tenho certeza que fará ainda melhor que seu pai. — assegurou ele — Os jovens de hoje em dia são mais espertos e perspicazes.
— Isso é verdade. — suspirei — Mas não foi para falar da aposentadoria do meu pai que estou aqui, não é mesmo?!
— Verdade. — ele esticou a mão — Sente-se por favor.
— Agradeço. — eu me sentei na cadeira em frente a ele — Existe algo que esteja lhe preocupando?
— Tudo para ser exato. — ele respirou fundo — As notícias correm e soube do que aconteceu com o carregamento da empresa dos Boyarsky.
— O senhor não está colocando em dúvida a credibilidade da minha empresa, está?! — perguntei já me preocupando.
— Não, jamais faria isso. — disse ele com segurança — Após anos vendo a eficiência de vocês, jamais duvidaria.
— Então, a que se deve esta reunião?!
— Minha preocupação se deve a uma certo boato de um leilão. — explicou ele — Leilão este, de um pen-drive que possui todas as informações dos clientes da sua empresa.

Meu corpo gelou de imediato, não queria acreditar que poderia ser verdade.

— Aconteceu alguma coisa que possa validar esta informação? — reforçou ele.
— Não senhor. — respondi com segurança — Fique tranquilo e desconsidere estes boatos, as informações de nossos cliente nunca estiveram mais seguras como agora.

Pelo menos era nisso que eu gostaria de acreditar.

— E você pode me dar sua palavra? — retrucou.
— Sim, tem minha palavra. — mantive minha voz firme e a confiança em meus olhos.
— Fico mais aliviado em saber disso. — ele respirou fundo — Venha comigo, quero lhe apresentar a uma pessoa.
— Com prazer senhor Connor.
— Ah, nada de senhor. — repreendeu ele rindo.

Eu o segui até chegarmos no espaço de convivência dos funcionários da empresa, que ficava no jardim da lateral do prédio.

null, quero que conheça James Carter, ele é um diplomata da Alemanha. — me apresentou Connor — James, este é o novo CEO da transportadora InH que te falei.
— Prazer em conhecê-lo, ouvi muito bem a respeito de sua empresa e família também — ele esticou a mão em cumprimento.
— Fico feliz que minha família e nossa empresa, tenha uma boa imagem diante da sociedade. — retribui o cumprimento.
— Bem, se junta a nós para um café?! — perguntou o senhor Connor.
— Agradeço, mas prefiro de retirar, passarei na filial da empresa ainda. — respondi cordialmente.
— Que pena. — disse o senhor Connor — Mas espero que sua hospedagem no Atlantic seja confortável.
— Fico muito agradecido por mais essa cortesia. — me curvei de leve.
— Atlantic, já que está hospedado lá, me daria a honra da sua presença no jantar que estou oferecendo logo mais à noite.
— Me sinto honrado pelo convite, estarei lá certamente. — olhei para o senhor Connor — Manteremos contato, e estarei sempre atento às transportações de sua empresa.

Ele consentiu com a face, logo me afastei deles e fui acompanhado pela secretária até o carro que me levaria até o hotel. Minutos depois, após fazer o check-in no Atlantic Resort, um dos funcionários me guiou até o quarto que ficaria, considerado que ficava no melhor andar do hotel.

Para minha surpresa minhas malas já estavam no quarto, assim que o funcionário se retirou, caminhei até o banheiro e tomei uma ducha relaxante. Demorei um pouco, para que desse tempo do serviço de quarto chegar com a comida que eu tinha pedido, após a refeição, decidi dar uma volta pelo jardim do hotel.

O passeio estava tranquilo e sereno, entre alguns arbustos, até que avistei ao longe algo que jamais imaginaria. Era ela, null estava com sua câmera profissional tirando algumas fotos pelo jardim, estava tão concentrada que realmente parecia uma fotógrafa profissional.

Me mantive o mais longe possível, não queria que ela me visse ali, mas também não conseguia me concentrar em outra coisa, olhar para ela era como um ímã para mim. As horas foram passando comigo a observando de longe, foi quando me lembrei que havia o tal jantar do diplomata que tinha conhecido mais cedo.

Por um breve momento senti vontade de convidá-la para me acompanhar, foi neste momento que eu havia me esquecido do que ela tinha feito a minha família. Respirei fundo e voltei para o quarto, felizmente tinha levado um smoking para ocasiões mais formais, e foi ele que me vesti.

Demorei um pouco para sair do quarto e ir até o terraço verde onde estava sendo recepcionado o jantar. Assim que o elevador se abriu, meu olhar foi de encontro a ela, aparentemente havia sido convidada também, olhei para o funcionário que estava com a lista de convidados na mão e perguntei propositalmente quem era.

Sua resposta foi: Cassie.

Respirei fundo não acreditando que ela estava mesmo ali a trabalho, o que me levou a pensar o que seria seu novo objeto de desejo. Inicialmente queria sim me manter longe dela, mas se conseguiria era uma incógnita para mim, pois mesmo de longe só por olhá-la meu coração acelerava ainda mais.

Até o momento que ela fechou os olhos, como se estivesse se concentrando para algo, obviamente para seu possível serviço, porém meu impulso foi mais forte e me aproximei dela sem o menor receio. Poderia ter dito algo, mas ela já estava de olhos fechados, não resistir à tentação e a beijei da forma mais intensa possível.

Para minha surpresa, ela retribuiu na mesma intensidade.

— Não deveria beijar uma mulher de olhos fechados. — sussurrou ela ainda mantendo seus olhos fechados.
— E se esta mulher for minha esposa? — disse com um ousado.
null. — ela sussurrou novamente abrindo seus olhos e me vendo — O que faz aqui?!

Sorri de canto mantendo meu olhar fixo nela.

 

“Basta ficar como está,
A medida que você só olha para mim,
Eu nunca vou deixar você ir,
Apenas observe.”
- Growl / EXO



Capítulo 39

[ N/T: Férias em Bahamas se encontra na fic spin-off: Quem de nós dois ]

 

* null *

Finalmente após passar alguns dias, analisando todos os arquivos de casos de roubos sem soluções, comecei a perceber as ligações que os endereços dos lugares tinham com null. Aquilo era mais um ponto para minhas suspeitas, porém tinha um pequeno detalhe, ela possuía sempre um álibi forte e considerável.

— Ah… Acho que preciso caminhar um pouco. — tomei um gole do café que estava na xícara — Confinado neste apartamento, minhas vistas estão se embaraçando.

Caminhei até meu quarto e troquei de camisa, voltei para sala já com as chaves na mão e pegando meu celular, saí em direção a rua. Mesmo com todas as minhas investigações secretas, anotações e acúmulo de provas, eu ainda me sentia entediado por não poder voltar a base da Interpol, afinal eu estava de férias para todos.

Continuei minha caminhada pelas ruas de Paris, pensando em todas as coisas que Davi tinha me contado, além da sua confusão ao pensar que null era Cassie, algo que não havia sido somente coincidência. Desviei meu olhar para o outro lado da rua, e de relance vi uma mulher parecida com null entrando em um táxi.

— Ah, espero não estar começando a ver coisas. — sussurrei comigo mesmo.

De repente meu celular tocou, olhei no visor, era uma chamada de Peter.

— Me diga que finalmente temos uma boa notícia?! — disse ao atender.
— Acho que sim, consegui encontrar um arquivo oculto no sistema, não foi fácil, mas está tudo aqui comigo.
— Então, posso prender a null?! — perguntei um pouco afobado.
— Não, ainda não. — interviu ele — Não faça nada precipitado.
— Mas você não está com tudo aí? — indague.
— Claro que sim, mas não estou em Paris. — explicou ele — Espere até voltar e te entregar tudo o que consegui, então poderá prendê-la.
— Tudo bem, e quando você volta? — perguntei.
— Daqui dois dias, se tudo der certo.
— Por curiosidade, posso entender onde você está?
— Na sede da Interpol em Washington, D.C.
— Então, os arquivos estavam aí. — conclui.
— Sim, aparentemente, os arquivos dos prodígios que haviam se tornado restritos só poderiam ser abertos em um único computador. — explicou — Que ironicamente está na sede daqui.
— O que significa que querem ao máximo concentrar esta informação em um único lugar. — sibilei um pouco — Você não andou se metendo em confusão, né?
— Claro que não, apenas hackiei ainda servidores e clonei algumas IP’s. — sua voz estava tranquila — Nada demais.
— Sei, vou desligar agora, seja cuidadoso e nos vemos em dois dias.
— Eu serei.

Desliguei o celular e respirei fundo, acho que de fato iria ignorar os conselhos de Peter desta vez, se mulher que tinha visto entrando no táxi for null, eu não vou perder esta oportunidade. Vou prendê-la mesmo não estando com todas as provas de que preciso.

Me virei voltando para a casa, precisava de um mandato provisório o quanto antes, e usaria a identificação de outro agente para emitir.

 

* null *

Eu ainda estava em choque, tanto pela presença de null como por sua reação. Mas o que importava é que eu estava com a agenda que Dean tanto queria. O que me preocupava era se James realmente se lembraria de mim ou não, apesar de não ter estado muito sóbrio, ri um pouco ao me lembrar do soco que meu marido tinha dado nele.  

— Que ousadia senhor null. — sussurrei de leve sentindo um sorriso espontâneo surgir em minha face.

Espantosamente, os dias que se seguiram no Resort eu sempre esbarrava nele, pelos locais mais movimentados dali, ele se mantinha afastado como se não me conhecesse, mas seu olhar estava sempre em minha direção. Se era um jogo, eu jogaria também e o venceria pelo cansaço, sem o menor problema.

Continuei meu plano de fotografar todas as paisagens que poderia, enquanto dava meus passeios diários com Cronos, e sempre que surgia uma breve oportunidade, eu fotografava null discretamente. Será que eu poderia considerar aquela viagem como uma lua de mel e não umas simples férias? Apesar de estar me ignorando, seus olhares para mim o denunciava da forma mais engraçada possível.

— Quando vai deixar seu orgulho e me perdoar. — sussurrei de leve ao me sentar na banqueta de frente para o bar do restaurante.
— Talvez daqui uma eternidade. — disse ele ao se sentar na banqueta ao meu lado.

Cronos se manteve sentado do meu outro lado olhando para frente.

— Uma eternidade é muito tempo. — questionei.
— Por que faz isso comigo? — perguntou ele.
— Isso o que? O que eu fiz desta vez? — o olhei.
— Nada. — ele desviou o olhar.
— Se não sabe jogar, não aperta o play. — eu me levantei.
— Espera. — ele segurou em minha mão — Terá uma exposição de fotografia criativa em Paris na próxima semana, várias palestras serão oferecidas a parte para jovens profissionais que possuírem indicação para participar.
— E?!
— Minha mãe conseguiu colocar seu nome na lista. — concluiu ele — Mas como não sabemos o sobrenome, usamos da nossa família.
— E ainda diz que é somente por sua mãe. — sorri de leve — Agradeça ela por mim e diga que estarei lá.

Me afastei dele e sinalizei para Cronos me seguir, estava feliz por ele finalmente ter falado comigo. Poderia ser idiotice minha, estar feliz somente por isso, mas mesmo se sentindo estranha em alguns momentos, por nunca ter sentido isso por alguém antes, meu coração sempre acelerava quando ouvia a voz dele.

O que me faz lembrar da primeira vez que ouvi, quando estava escondida em seu quarto, na fuga daquele bendito roubo que me levou até ele.

Dei mais algumas voltas com Cronos pelo jardim do Resort, até que voltei para meu quarto. Apesar de ter confirmado minha ida a exposição, não fazia parte dos meus planos ir para Paris, mas já considerava que realmente iria, uma oportunidade única de aperfeiçoar meu novo hobbie e fazê-lo ser oficialmente meu novo álibi.

Não que eu estava com medo de perder a família null, mas eu tinha que ter uma profissão normal, assim como os outros prodígios, exceto Fish, o papel dele era ser o garoto irresponsável e sem sorte na vida. Pensando agora, todos os prodígios seguiram um caminho cômodo e proveitoso para Dean, o arquiteto de toda essa família maluca e desnivelada, como ele denomina.

— Ah. — suspirei fraco — Já aconteceu tanta coisa, mas só agora estou me divertindo de verdade com essa vida.

Desviei meu olhar para Cronos, que estava com seu corpo erguido e suas patas dianteiras apoiadas no beiral da varanda.

— E você moço, o que anda olhando aí. — sorri de leve indo até ele — Está olhando o céu?! O que acha que ir para Paris comigo? Você quer?!

Ele me olhou, mesmo que fosse surreal ele me entender, parecia que estava aceitando meu convite.

— Então, acho melhor nos prepararmos, Paris é muito mais movimentada que aqui. — brinquei acariciando a cabeça dele — Será que teremos alguma surpresa lá também?! Não seria uma má ideia, o senhor null também estar na exposição.

Voltei para dentro do quarto e me joguei na cama, fechei meus olhos e fiquei pensando na tal exposição em Paris.

- x -

— Obrigada. — disse ao taxista ao colocar minhas malas no porta-malas do carro.

Desviei meu olhar de Cronos que já estava entrando, e acabei vendo null ao longe, ele estava falando ao celular.

— Desde quando meu agente favorito está aqui em Paris?! — me perguntei curiosa — Bem, você mora em Paris. — conclui.

Entrei no táxi, pensando se Dean sabia que o agente tinha voltado para casa, já que obviamente ele estava viajando pelo mundo, tentando encontrar as pessoas que Cassie tinha roubado. Desta vez preferi me instalar em um albergue simples no bairro La Villette, quanto menos eu for vista pelo null melhor e o albergue permitia animais, outro ponto positivo para minha escolha.

Mandei uma mensagem para Dean, dizendo que tinha visto o agente na cidade. Ele ficou curioso para saber o que eu estava fazendo em Paris, poderia até inventar algo, mas acabei dizendo a verdade, o que deixou ele mais admirado ainda. Abri a mala e peguei o folheto da exposição, que null tinha deixado para mim na recepção do Atlantic antes de partir.

Era uma semana de exposição, verifiquei as datas e horários de todas as palestras, felizmente poderia ir em todas, o triste é que Cronos não poderia ir comigo, pois não permitiam a entrada de animais na exposição. A solução era pagar a senhora do albergue para cuidar dele, enquanto eu estivesse fora.

Reservei o restante do dia para descansar, já que a exposição começaria logo na manhã seguinte. As horas se passaram e eu peguei no sono pouco depois do jantar, no dia seguinte acordei assustada com o despertador do celular tocando, não poderia me atrasar logo na primeira palestra.

Tomei uma ducha fria para acordar meu corpo e me arrumei correndo, nem mesmo tomei o café e saí correndo. Estava tudo seguindo seu curso certo, até que fui parada há alguns metros da galeria onde ocorria a exposição, por ninguém menos que nosso agente.

— Olha se não é meu agente preferido, null. — disse com um tom irônico.
— Onde pensa que vai? — disse ele sério e frio.
— Eu estou indo a uma exposição. — respondi com naturalidade — E você está me atrasando.

Ele me entregou um papel, dando um sorriso debochado junto.

— O que é isso? — perguntei.
— Isso é uma ordem judicial. — explicou com satisfação — Provisoriamente você está presa, null, ou deveria dizer Cassie.

Minha voz de repente sumiu e meu corpo congelou, não conseguia assimilar o que aquelas palavras, exatamente significavam.

 

“Agora eu não posso voltar atrás,
Isto é claramente um vício perigoso,
Tão ruim, ninguém pode pará-la.”
- Overdose / EXO

 

[ N/T: Férias em Bahamas se encontra na fic spin-off: Quem de nós dois ]



Capítulo 40

* null *

Eu poderia até tentar inventar uma desculpa jogando a empresa no meio, só para não ir para casa, mas minha mãe tinha exigido minha presença em Paris, principalmente por causa da exposição. Quando cheguei em casa, ela me encheu de perguntas sobre como a null estava e como eu havia tratado ela, se tinha entregado o recado com gentileza.

— Você poderia ter sido bem mais cavalheiro com ela. — reclamou minha mãe se sentando no sofá — null deve estar se sentindo solitária agora.
— Omma, quem exatamente roubou nossa família?! — perguntou null em uma indireta enquanto descia o último degrau da escada.
— Ah, yah, o que você tem no lugar do coração?! — ela o olhou feio — Nossa null já se arrependeu, e eu a perdoei.
— Percebe-se, nossa null. — null segurou o riso desviando seu olhar para mim — E você? A perdoou também.
— Deixo este sentimento para nossa mãe. — caminhei até a escada e me desviando dele, comecei a subir os degraus.
— Será?! — sussurrou null dando uma risada.

Suspirei fraco e continuei, não demorou nem dois minutos que entrei no quarto, para null entrar logo atrás, fechando a porta e me olhando sério.

— Pode enganar a todas, até a si mesmo, mas não me engana. — disse ele — Você está se corroendo de vontade de voltar com ela.
— O que?! — me fiz de desentendido — Você está louco?! Olha o que ela nos fez.
— Yah, você nunca foi rancoroso. — ele riu — Pare de negar para si mesmo que ainda gosta dela.
— E se for?! — bufei — Não acho que ficaria tudo igual agora, não quero ter que dividir ela com seus roubos.
— Os roubos, ou o Dean?! — ele intensificou seu olhar.
— Os dois, não acha que já entendi a sacada dele, Dean nunca deve ter gostado da ideia de ter a null ligada a nós. — esclareci num tom de chateação — Além do mais, duvido que ela deixaria essa vida pra ficar comigo.
— Talvez não colocaria isso no singular. — null assobiou de leve — Você pode dar a ela o que Dean não pode, uma família de verdade.
— Não te incomoda? — o olhei curioso.
— Bem, prefiro ver vocês dois juntos do que ela sozinha, além do mais já me convenci que ela te ama de verdade. — ele se espreguiçou — Posso sobreviver com isso, já que no caso da Taylor, fui o escolhido.
— Nossa, você se lembra disso até hoje?!

Nós rimos por um tempo, aquele passado era um pouco engraçado e ao mesmo tempo perturbador.

— Então, em detalhes, como ela estava? — perguntou ele dando alguns passos até minha cama e se sentando nela.
— Além de passear livremente por Bahamas. — suspirei fraco encostando na janela — Estava fazendo seu papel de fotógrafa com certa perfeição e profissionalismo.
— Uau, essa eu queria ver.
— E Cronos estava com ela. — continuei — Como você falou, é mesmo um cachorro bem treinado.
— É, fui eu que indiquei para ela, me lembro até hoje do dia em que ela encontrou ele. — null inclinou seu corpo para trás, se deitando na cama — Ele estava chorando dentro de uma caixa de papelão, acho que tinha sido abandonado.
— Nossa, quem em sã consciência abandona um cachorro de raça pura? — aquilo era impressionante.
— Imprevisível não é mesmo?! — ele sorriu de canto — Mas foi muito legal ver o brilho nos olhos dela quando disse que adotaria aquele cachorro, mais ainda escolhendo o nome.
— Acho que posso imaginar, apesar de ser um pouco difícil pensar na null como uma garota fofa e meiga. — ri de leve.
— Acredite, ela já foi assim. — null se remexeu na cama — Hum, preciso me arrumar para a exposição.
— Quando termina suas férias? — perguntei curiosamente.
— Por que a pergunta? — retrucou ele se levantando.
— Curiosidade. — o olhei tranquilamente — Um residente que não reside.
— Ah, yah, pare de fazer essas insinuações.
— Não estou insinuando nada. — ri de leve.
— Estou pensando em trabalhar na filial que está sendo construída no Brasil. — respondeu ele.
— Pensei que ficaria no hospital de Manhattan. — retruquei não entendendo sua decisão — Já que não queria morar em Paris com nossos pais, nem em Seoul.
— Hum, depois da minha visita ao Brasil ajudando LT, fiquei um pouco admirado com as paisagens. — explicou ele.
— Paisagens?! Sei.
— É sério. — ele me olhou como ar de ofendido — Além do mais, quero muito descobrir algo.
— O que seria? — agora estava curioso, null sempre tinha propósito para tudo.
— O que aconteceu com o bebê. — respondeu ele — Estou realmente curioso sobre isso.
— Você acha que a LT…
— Não, ela não deixaria um bebê inocente em qualquer lugar. — ele pensou um pouco — Ou com qualquer pessoa, nem entregaria ao Dean.
— Então, o que está supondo?!
— Que talvez a LT tenha sim uma família, além dos prodígios, ou alguém que ela confia muito, que talvez nem o próprio Dean saiba que exista. — explicou ele sua teoria.
— Hum, um irmão? Tia? Avós? Algo assim? — sugeri.
— Não seria impossível. — ele me olhou com certeza no que dizia — Tenho pensado nisso há alguns dias.
— Seria um achado e tanto, null ter uma família escondida. — pensei mais um pouco sobre isso — Talvez Dean deva saber, e isso seja o motivo dela trabalhar para ele.
— Outra teoria a se levar em conta. — ele se espreguiçou novamente e bocejou — Estou um pouco cansado, acho que vou tirar um cochilo antes da exposição, não vou assistir nenhuma palestra mesmo.
— Nem pense em chegar muito tarde, nossa mãe te mataria por não prestigiar esta exposição do François.
— Sei muito bem disso. — ele riu de canto — Conheço a dona Mary.

Ele caminhou até a porta e saiu rindo, nossa mãe era muito bondosa e doce, mas em alguns momentos nos fazia ter medo dela, porém o respeito seria sempre eterno. Fiquei na janela por algum tempo olhando a rua, as suposições de null me fizera pensar em mais outras coisas a respeito de null, principalmente em como ela havia se transformado em uma prodígio.

E quanto mais eu pensava nela, mais eu queria vê-la.

As horas se passaram até que finalmente cheguei a exposição, pouco depois dos meus mais que haviam ido cedo, por pedido de minha mãe. Acho que tanto quanto eu, sua vontade de ir ao evento era mais para ver null e poder aproximá-la novamente de nossa família. Lá no fundo eu também tinha esse desejo, mas estava ignorando por um tempo, afinal tinha o direito de não querer perdoá-la, não tão fácil.

— Que estranho. — disse minha mãe ao se aproximar de mim.
— O que houve omma?! — perguntei intrigado, sua face tinha traços de preocupação.
— Não encontro null em lugar algum. — respondeu ela.
— Bem, ela deve estar em alguma palestra ou ter se atrasado. — sugeri tentando tranquilizá-la.
— Não, ela não se atrasaria, não para um evento desse. — retrucou minha mãe com convicção.
— Oh, Mary, aí está você. — disse François ao se aproximar de nós — Achei que não viria, estava a sua procurar em todas as salas de workshop.
— Mas é claro que viria te prestigiar. — ela se curvou levemente e sorriu — Você por acaso viu se a null estava em alguma dessas salas?
— Sua nora? — perguntou ele.
— Sim, minha… — confirmei não sabendo mais como classificaria null em minha vida, noiva, esposa, ou ex?
— Ela mesma, se lembra que te apresentei?!
— Ah, sim, me lembro dela. — ele pensou por alguns segundos — Me lembro de ter visto uma mulher parecida com ela mais cedo, estava vindo na direção da galeria, mas acabou sendo parada por um homem e entrando no carro com ele. Infelizmente não consegui confirmar se era alguém conhecida, mas o modo como andava era semelhante ao dela, nunca me esqueceria de alguém que anda com tanta classe.
— Era a null. — confirmei me afastando deles.
— Espere, null. — minha mãe me gritou vindo atrás de mim — null querido, o que está acontecendo.
— Ainda nada, apenas suspeitas. — continuei seguindo em direção a porta, até que trombei em uma pessoa.
— Ei, calma, null?! — era null acompanhado de nosso irmão mais novo Sam.
— Que cara é essa hyung?! — perguntou Sam.
— Aconteceu alguma coisa com a null. — disse num tom afirmativo.

Me lembrei rapidamente da festa de nossos pais em que Davi havia reconhecido a Cassie em null por sua forma de andar, o que me fazia ter certeza que a mulher que François tinha visto era realmente ela. Se null estava às portas da galeria e foi parada por alguém, tinha algum problema nisso e algo me dizia que desta vez, não era o Dean.

Eu não conseguiria ficar nem mais um segundo naquela exposição sem saber o que tinha acontecido com minha esposa. Sim, a agonia em meu coração era tanta que estava mesmo a reconsiderando como minha esposa, ou melhor, nunca deixei de considerar isso, afinal eu amava null, mesmo com seus defeitos em forma de roubos. Então, segui de volta para casa com meus irmãos, não conseguiria dirigir de tão nervoso que estava.

Nossos pais chegaram bem atrás de nós.

— Eu não consigo deixar de pensar que algo de ruim esteja acontecendo com ela. — disse num tom de preocupação de ansiedade.
— Para quem nem queria ver ela novamente, está muito visível seus reais sentimentos pela null. — comentou meu pai.
— Sei que falhei miseravelmente com meus princípios. v retruquei num tom baixo.
— Perdoar não é perca de princípios. — repreendeu minha mãe — Além do mais, seus sentimentos por ela são verdadeiros.
— O que importa agora é conseguirmos fazer algo que nos ajude a encontrá-la, ou pelo menos saber alguma notícia sobre ela. — interviu null — E a única pessoa que me vem a mente, vocês sabem quem é.
— Dean?! — perguntou Sam, já entendendo.
— Ele mesmo.

Assim que null confirmou, a campainha tocou, assim que eu abri…

— Dean?! — disse null ao reconhecer o rosto daquele homem desconhecido para mim.
— Boa noite, família Cho. — disse ele num tom suave em sua voz, mantendo seu olhar sereno e tranquilo.

“Essa melodia triste se assemelha a você,
Ela me faz chorar eh eh,
Seu aroma é um doce crime,
Eu te odeio muito, mas ainda amo você.”
- Stay / BlackPink



Capítulo 41

* null *

Não era minha primeira vez em uma situação de risco, mas o agente null sim era uma novidade interessante, ainda mais sua obsessão em definitivamente me transformar na Cassie. Mais curiosa ainda, fiquei quando adentramos seu humilde, bem humilde apartamento, pensei que ele iria me trancar em uma cela fria e úmida, mas dadas as circunstâncias, acho que estava até com boa sorte.

— Estou começando achar que seu mandato é falso, agente Choi. — o chamei pelo sobrenome — Afinal, é um pouco estranho estarmos aqui.
— Ainda não posso te levar para a Interpol, mas não se preocupe, logo estará dentro de uma cela fria e úmida, já que deseja tanto. — ele riu jogando sua jaqueta no sofá.
— Fria e úmida. — sussurrei fazendo careta, ele está obcecado demais por mim, está até lendo meus pensamentos, respirei fundo — Você está tão confiante, como sabe que vai conseguir.
— Tenho minhas fontes. — ele respirou fundo indo até a parte que ficava a cozinha e pegando a chaleira em cima do fogão — Aceita um chá? Talvez precise.

Aquilo já estava me irritando, sua ironia e cinismo estampado no olhar e na voz.

— Agradeceria se retirasse as algemas. — retruquei me sentando no sofá e vendo um portarretrato dele com Louise.
— Me desculpe, mas isso não poderei fazer.
— Sua namorada? — perguntei de forma inocente.
— Sim. — respondeu ele — Ao contrário de você, é uma mulher honesta.

Eu tossi um pouco, comecei até sentir dó dele e de como era enganado.

— Se você está dizendo. — agora eu que seria a irônica.
— Você está muito calma para quem está com a corda no pescoço. — comentou ele voltando para perto do sofá.
— Bem, eu não estou sentindo nada me sufocando. — o olhei com tranquilidade — Existe uma frase que diz, quem não deve não teme.

“Agora eu senti atitude na LT!” Pensei comigo mesma.

— Admiro sua coragem. — ele suspirou fraco — Posso te fazer algumas perguntas?
— Bom, não é você o agente seguro que sabe tudo. — retruquei — Mas, pode perguntar.
— Como conheceu ele?!
— Ele quem? Meu… null? — eu já não sabia como classificar ele, apesar de querer muito dizer marido.
— Curioso, não era dele que estava falando, mas falando nisso… — instigou ele.
— Nos conhecemos em Manhattan. — de forma automática voltei ao dia que invadi o quarto dele e me escondi, fingindo ser sua namorada — Digamos que foi cumplicidade a primeira vista.

Bom adjetivo para classificar a ocasião, já que null ajudou uma estranha mesmo sabendo que prejudicaria, uma família conhecida por seus pais.

— Cumplicidade?! Não seria amor? — corrigiu ele.
— Cumplicidade. — confirmei mantendo meu olhar nele — Ou, você acredita em amor a primeira vista agente Choi?
— Não sei, depende do caso. — respondeu ele — No seu, acho que não.
— Não acha que amo meu… O null? — isso estava ficando desconfortável, precisava logo definir o que null estava representando em minha vida.
— Tudo em torno de vocês dois me faz acreditar que sim, mas lá no fundo ainda me sinto incomodado. — explicou ele.
— Espero que não esteja assim por eu ter namorado o null. — ri de leve — Coincidências acontecem, quando conheci null, eu nem tinha feito dezoito anos.
— Curioso uma colegial namorando um universitário. — seu olhar ficou intrigado.
— Por isso não deu certo, digamos que sua experiência com as garotas exigia algo que eu não queria dar. — em tese aquilo era verdade — Além do mais, como disso, eu era colegial.
— Vou acreditar em sua história. — ele se sentou na cadeira de frente para mim.
— Agradeço a honestidade, e você?
— Eu o que?
— Como conheceu sua namorada?
— Em um voo, ela é aeromoça.
— Hum. — desviei meu olhar para a janela.

“Belo álibi Chermont Hacker!” Pensei comigo, me lembrando do apelido de Louise entre os prodígios.

— Hum… Estou curiosa, se não estava falando de null, quem seria?
— Senhor D. — respondeu ele.
— Quem é este? — me fiz de desentendida.
— Você sabe de quem estou falando.
— Por favor. — o olhei novamente — Não faço a menor ideia de quem seja.

Eu falei com tanta certeza, que até eu acreditei. Chocada!

— Veremos. — ele se levantou da cadeira — Você foi vista com os prodígios.

Como ele sabia sobre isso?

— Pro… quem?
— Você não vai conseguir me enganar desta vez Cassie. — ele me olhou meio enfurecido.
— Como sempre, continua me confundindo com quem não deveria. — mesmo com aquelas algemas me incomodando, me mantive firme — Meu nome é null, casada com null null e meu trabalho é com fotografias, se quiser posso te passar meu cartão de visitas.

Finalmente! Agora sim, tinha definido meu status sentimental.

— Casada?! — ele riu — Está começando a cair em contradição.
— Sim, casada, afinal noivos se casam. — o confrontei direta e objetiva, tombei meu corpo no sofá, me deitando e fechei os olhos.

Estava me sentindo um pouco cansada fisicamente e mentalmente, talvez por não ter descansado devidamente em minhas férias, ou por ter ficado ansiosa demais em participar da exposição de Paris. Não importava o motivo, agora eu teria que focar na minha situação atual e por mais divertido que fosse confrontar o agente null, precisava mesmo esvaziar minha mente e finalmente pensar no que poderia fazer para conseguir sair daquela situação.

As horas foram se passando, continuei agindo naturalmente, até chegar encontrar um momento oportuno. E este momento ocorreu pela manhã, ouvi o barulho de null se levantando de sua cama velha que rangia, desagradável aquilo, assim que o som de seus passos direcionava para algum lugar específico, abri meus olhos novamente e me levantei do sofá, espiei de leve pelo corredor, vendo que ele estava retirando sua roupa indo em direção ao banheiro.

— Acho que agora é minha chance. — eu não iria tentar fugir, ainda mais estando algemada da cabeça aos pés quase, mas poderia chamar reforços, afinal tinha que continuar mantendo minha pose de inocente.

Me afastei do corredor e silenciosamente me voltei para seu celular, assim que consegui destravar com um código de emergência que tinha aprendido com Dean, liguei para ele de imediato.

Diga que está bem! — disse ele ao atender.
— Estou. — disse com convicção.
Já estou localizando sua posição, o que está acontecendo? — seu tom de preocupação era intenso.
— O que esperava a algum tempo, nosso agente conseguiu algo que me liga a Cassie, mas ainda não está com ele. — respirei fundo olhando novamente para o corredor, ainda ouvindo o som do chuveiro — Você precisa dar um jeito nisso, eu não vou fugir daqui.
Faz muito bem não reagir, fique tranquila, como sempre fiz, eu vou te proteger. — assegurou ele — Localizada, em breve tudo voltará ao normal.
— Ficarei esperando. — assim que desliguei o celular, digitei novamente outro código para que todos os vestígios da ligação fossem apagados.

Deixei o aparelho novamente no lugar onde estava e voltei para o sofá, assim que fingi fechar meus olhos, null retornou para a sala trajando uma roupa mais social, como se fosse para uma reunião de negócios. O que me deixou admirada e me deu muitas ideias para o futuro.

— Então, vamos?! — perguntou ele.
— Para onde? — perguntei abrindo os olhos — Teremos um encontro? Sou uma mulher comprometida.
— Eu não, mas você terá um encontro com a justiça. — ele caminhou até mim e retirou as algemas que tinha colocado em meus pés, deixando somente das mãos.
— Não está mais com medo que eu fuja? — perguntei num tom irônico.
— Vamos. — ele pegou uma pasta que estava em cima da mesa e estendeu a mão apontando para a porta.
— Bem, vamos então. — o segui sem me opor a nenhuma de suas exigências.

Eu confiava que Dean me ajudaria a escapar mais uma vez.

Seguimos em direção em direção a matrix da Interpol, null havia alugado um carro para que fosse mais rápido, e assim que chegamos um jovem rapaz já estava a nossa espera com uma maleta em suas mãos. Senti meu coração pulsar mais forte, como se minha vida dependesse do conteúdo daquela maleta.

“Você é minha sorte,
Você me fez arriscar meu coração numa oportunidade única,
Agora, todos estão olhando para nós com pipoca na boca,
Esperando para ver o que vai acontecer com nós dois.”
- Lotto / EXO



Capítulo 42

* null *

Eu ainda estava paralisado com a presença de Dean, mais aindo por ver de perto quem era ele, seu jeito tranquilo de agir e olhar, sua voz firme e serena não me convenciam muito, afinal tudo me dizia que o que ele mais queria era me separar de null.

— Agradeço. — disse ele ao ser servido de uma xícara de café por minha mãe.
— Então, não foi para tomar uma café que você veio. — disse num tom impaciente — O que você fez com a null?
— Eu não fiz nada. — ele me olhou com sarcasmo — Para ser sincero, ainda não sei onde ela está, mas tenho minhas suspeitas.
— Então diga. — disse meu pai também num tom impaciente.
— Agente Choi null. — respondeu ele, o que eu realmente não queria ouvir.
— O que ele fez com a null?! — perguntou minha mãe se preocupando um pouco mais.
— Como disse, ainda não sei, mas venho tendo várias suspeitas há tempos, por isso posso deduzir que ele a tenha prendido provisoriamente. — explicou ele.
— Mas como? — null o olhou — Dean, a identidade dela está segura, não está?
— Também achei que sim, mas tive uma pequena falha. — ele desviou seu olhar para a xícara de café, como se estivesse amargurado — Fui traído por alguém de minha própria família.
— Deixe-me adivinhar, e a null está sendo prejudicada por isso. — supôs null com ironia.
— Ela só está pagando o que plantou. — meu pai deu de ombros, ele ainda estava magoado por tudo que tinha acontecido.
— Yah, yeobo, pare com este rancor todo. — disse minha mãe chateada com ele, e desviando seu olhar para Dean — Foi você que a fez nos roubar, não foi?
— Sim. — assentiu sem o menor problema — Apesar dela não querer.
— Isso já sabemos. — retruquei controlando minha raiva — Gostaria de saber por que ela seguiu adiante.
— Para proteger vocês. — respondeu ele mantendo seu olhar em mim — null sabia que se não fosse ela, seria alguém muito pior, que poderia prejudicá-los por causa dela.
— De quem está falando? null tem outros inimigos? — perguntou minha mãe.
— Ou você tem inimigos? — completei com insinuações.
— Como eu disse, fui traído por um dos meus prodígios, agora minha caçula está com problemas. — admitiu ele.
— Se ela está com problemas, por que não está tentando ajudá-la?! — perguntei um pouco alterado.
— É por isso que estou aqui. — respondeu ele.
— O que minha família tem a ver com isso?! — perguntou meu pai curioso.
— Vim para pedir a ajuda de vocês, não posso deixar que meus outros prodígios saibam o que aconteceu com a null. — explicou ele — E como ela sempre defende a família que ganhou, achei que pudesse contar com vocês...
— Achou errado. — o interrompi — Não vamos ajudar.

Neste instante, todos me olharam surpresos. Talvez a lógica seria que eu ajudasse ela, eu queria ajudar lá no fundo, mas ainda estava magoado também.

— Nós vamos sim. — assegurou minha mãe num tom forte e autoritário — Ela nos roubou por sua causa, mas também se redimiu e assegurou que nossos arquivos continuassem em sigilo, por isso ainda a considero parte da minha família.
— Querida?! — meu pai a olhou.
— E ai daquele que disser o contrário. — ela desviou seu olhar para mim — Nós vamos ajudar a null, mas com uma condição.
— Qual?! — perguntou Dean.
— Que roubar minha família, seja definitivamente o último serviço dela. — a voz da minha mãe estava mais firme que o natural, passando muita segurança — Quero que ela se aposente para sempre, e nunca mais se passe por Cassie, ou é isso, ou não faremos nada.

Dean passou ainda segundo pensando, até que se pronunciou.

— Se é isso que deseja, tudo bem. — assentiu ele — A LT deixará de existir profissionalmente.
— E quanto a Cassie?! — perguntou null.
— Já tenho em mente o que acontecerá com essa personagem. — assegurou Dean com convicção, o que me deixava curioso.
— E como podemos ajudar? — perguntou minha mãe.
— O agente null conta com a ajuda de um amigo dentro da Interpol, e este amigo conseguiu algumas informações sobre a LT, que pode ser relacionado a Cassie, isso me leva a acreditar que a suposta prisão antecipada de null está conectada a essas informações e dependendo delas também.
— E o que você está pensando em fazer? — perguntou null.
— Uma troca de informações. — ele respirou fundo e me olhou — Não posso ser visto, mas vocês dois poderão fazer isso no meu lugar.
— Eu e null?! — o olhei.
— Sim. — assentiu — null, você pode estar se fazendo de difícil, mas tenho certeza que está ardendo por dentro, de tanta vontade de ajudar ela.

Eu não podia negar essa.

— Eles vão fazer tudo o que você disser. — assegurou minha mãe novamente — O que importa é trazer null de volta para casa.
— Era isso que eu queria ouvir. — Dean deu um sorriso de canto e olhou para meu irmão, já que o conhecia a mais tempo, deveria ter mais facilidade em lidar com ele.

Como minha mãe disse, eu e meu irmão iríamos ajudar, haja o que houvesse.

Dean nos explicou seu plano nos mínimos detalhes, só teríamos uma única oportunidade para fazer a tal troca de informações. Na medida que ele ia falando, a toca de olhares entre eu e null estava ficando ainda mais sincronizada, pela primeira vez entraríamos de verdade no mundo da LT e teríamos a sensação que ela tem ao realizar um serviço, já estava até sentindo a adrenalina correr em meu corpo.

Ansiedade, era a palavra para me definir.

As horas se passaram, comigo e meu irmão repassando cada passo que daríamos, surpreendente que até Sam queria participar daquela “operação”, mas minha mãe não permitiu, já que o caçula não tinha tanta discrição como nós. Meu pai ainda achava errado ajudar alguém que quase nos prejudicou, mas não iria contra a decisão da minha mãe, além do mais, lá no fundo ele consentia tudo aquilo mais por mim do que por ela.

Na manhã seguinte, levantamos bem cedo e somente após um café reforçado nossa mãe nos permitiu iniciar o plano. null saiu primeiro, pois teria que pegar uma maleta com Dean antes de se dirigir a estação Châtelet, o ponto de partida onde estaria nosso objeto de desejo. Eu segui diretamente para a estação e me posicionei próximo ao corredor secundário, pois precisava de uma vista ampla para o guichê de bilhetes.

— Uai, você parece mesmo um profissional. — disse null num tom baixo ao passar por mim, seguindo para a bilheteria.

Ele estava acompanhado de uma garota aparentemente desconhecida por mim, desfilando com seu jaleco branco e olhos de leitura no rosto, uma máscara preta tampando sua como, como aquelas que usamos na Coreia. A tal maleta preta em mão direita juntamente com o estetoscópio, nem eu o reconheceria daquela forma, se não tivesse falado comigo.

— Respira fundo null, está na hora. — sussurrei para mim mesmo me direcionando para o espaço de embarque do metrô.

null comprou sua passagem tranquilamente, mantendo uma conversa espontânea com a garota ao seu lado, que parecia ser uma estudante de medicina. Porém, assim que nosso alvo apareceu na estação, percebi seu olhar discreto e fixo nele, então aquele era o tal Peter que continha a carta de forca de LT, segundo nas palavras de Dean. Para nossa sorte a estação estava significativamente cheia, o que proporciona mais distrações além do celular que estava firme nas mãos de Peter, competindo com a maleta também preta.

Assim que entrei no vagão, permaneci de pé para ter mais visibilidade, Peter entrou logo atrás de se sentou em um dos bancos laterais, mantendo suas maleta ao lado junto a perna e se concentrando em um jogo que estava na tela do celular. null entrou em seguida e gesticulou para que sua acompanhante se sentado no banco ao lado de Peter, assim que a garota sentou, meu irmão ficou de frente para ela e colocou a sua maleta ao lado da maleta de Peter sem que o mesmo percebesse, então continuaram a falar sobre alguma coisa relacionada a anatomia humana.

Sabíamos qual a estação de parada do rapaz, assim como quantas estações tinham no decorrer da viagem, mantive meu olhar para meu irmão, que ao desviar naturalmente a cabeça ao seu redor me fez o sinal para começar minha distração. Foi no parar do metrô que as portas já iam abrir que esbarrei em uma senhora fazendo sua sacola de frutas cair, em uma fração de segundo todos olharam para nossa direção, comigo pedindo desculpas a senhora que com gentileza dizia que não tinha problemas.

Neste pequeno momento a atenção de Peter se voltou para nós, dando tempo suficiente para null pegar sua maleta e assim que a garota se levantou, as portas se abriram e segurando na mão da garota, ambos saíram tranquilamente. Eu terminei de ajudar a senhora a pegar suas frutas e permaneci no vagão até a próxima estação, havia me oferecido para ajudar aquela senhora a levar suas sacolas pesadas para casa. Algo inesperado que me ajudou na distração.

— Achei que não conseguiria. — disse ao chegar no ponto de encontro que tinha combinado com null — Mas aquela senhora me ajudou muito.
— Você foi bem natural. — respondeu null rindo.
— Posso saber quem era a garota? — perguntei curioso me sentando na cadeira daquela cafeteria — A conversa sobre anatomia estava muito interessante.
— Você ouviu? — ele riu se espreguiçando.
— O vagão inteiro ouviu, ela parecia muito animada. — expliquei.
— É uma aluna de um ex-professor meu. — ele riu — Tenho alguns contatos também.
— Estou vendo. — cruzei os braços — Onde está a maleta?!
— Minha doce universitária levou para nossos pais. — respondeu ele ao tomar um gole do café que estava na xícara.
— Mas e o Dean?
— Acha mesmo que a mamãe ainda deixaria alguma coisa da null com ele? — null deu uma gargalhada estranha — Sabemos que ele não vai cumprir de fato a condição da omma.
— Hum, pelo menos ela estará em segurança agora. — assenti acenando para o garçom vir até nossa mesa.
— Queria ser uma mosquinha para ver a cara do null. — null riu desviando seu olhar para a rua.
— E eu queria ver a cara da LT. — olhei para o garçom já pronto para fazer meu pedido — Um expresso por favor.

O homem assentiu com a face e se afastou.

— O que acha que vai acontecer agora? — perguntou null.
— Ela vai voltar a ativa, já que suas férias acabaram.
— Ainda acha que ela não vai deixar de ser a LT?! — ele deu uma risada rápida — Você não confia mesmo mais nela?!
— Não sei o que estou sentindo, talvez seria mais fácil se ao menos ela admitisse e pedisse desculpas claramente.
— A LT é orgulhosa. — ele desviou seu olhar para mim — Bem, você também é um pouco, olha que isso ainda pode estragar tudo.
— Que espécie de conselho de irmão mais velho você está dando? — o olhei confuso.
— Não estou dando conselho nenhum, só estou alertando, você precisa definir de uma vez o que ela será para você. — explicou ele — Está nos seus olhos que quer ela de volta.
— Hum.

“E no meu coração também.” Pensei comigo.

“Você é tudo para mim, esse é o meu jeito de confirmar,
Uma simples frase: "Eu estou esperando por você!',
Mas eu não posso dizer isso em voz alta,
Eu fecho meus olhos e tendo adivinhar o que você está fazendo,
Eu repito isso todos os dias.”
- My Answer / EXO



Capítulo 43

* null *

— Obrigado Peter. — disse null em um tom baixo ao pegar a maleta do rapaz — Como estão os arquivos?
— A pasta sobre os prodígios estão todas reunidas e impressas, já os arquivos sobre a Cassie estão em um pen-drive, não tive a oportunidade de abrir, mas todas as informações que encontrei sobre ela coloquei.— respondeu ele.
— E você fez uma cópia? — perguntou null.
— Eu deveria? — o rapaz o olhou com receio.
— Então este é o seu contato? — olhei para o garoto que tinha cara de universitário e comecei a rir — Você está bem…
— Peter, sempre deve fazer cópias. — null lançou um olhar de desaprovação sobre o rapaz, então voltou-se para mim — Vamos.

Ele pegou na pequena corrente da algema e me guiou até a sala de interrogatório, era uma sala comum iguais as que passam em filmes, dei alguns passos até a mesa a nossa frente e eu logo me sentei em uma das cadeiras. Mantive meu olhar para o notebook que estava em cima da mesa, nunca havia ido tão longe assim, mas teria que continuar com o plano.

null, não era para estar de férias? — disse um homem ao entrar na sala, logo seu olhar veio para minha direção, juntamente com a surpresa em sua face ao me ver — Quem é esta mulher?
— Cassie. — respondeu null.
— O que?! — ele arregalou os olhos — null o que andou fazendo?
— Me desculpe senhor mas eu não consegui ficar de férias. — ele respirou fundo — Não deixaria esse caso sem solução.
null, não possui nenhum mandato e menos ainda provas. — ele bufou — Como pode prender uma civil?
— Eu possuo provas sim. — ele colocou a maleta em cima da mesa — Melhor, possuo também provas que o diretor Marx conhece o senhor D.
— Como ousa acusar o diretor Marx? — uma mulher de vestido azul entrou na sala — Você ultrapassou todos os limites agente Choi.
— Só estou relatando a verdade diretora Collins, Peter é minha testemunha. — ele olhou para o vidro que tinha ao fundo da sala.

Claro que do outro lado tinha pessoas nos observando, logo Peter entrou na sala.

— O que o agente Choi disse tem fundamento, eu mesmo vi o diretor conversando com um homem e o chamando de senhor D. — relatou Peter.
— Pode provar isso? — a mulher o olhou.
— Sim diretora Collins. — ele desviou o olhar para a maleta — Está tudo registrado no pen-drive, inclusive os vídeos de câmeras de segurança, infelizmente não conseguiram pegar o rosto dele, mas a voz e o rosto do diretor Marx aparecem nitidamente.
— Ok, já que eu e o inspetor Smith estamos aqui, apresente-nos as evidências para que a prisão oficial desta mulher e do diretor Marx seja efetuada. — disse a tal Collins ao olhar para mim com arrogância.
— Com prazer. — disse null ao abrir a pasta.

Tinha que admitir que haviam muitos relatórios sobre os passos dos possíveis suspeitos a prodígios, além de muitas fotos deles comigo em várias situações diferentes, era admirável o empenho em ligar todos eles a mim. Porém o inacreditável veio assim que ele pegou o pen-drive e começou a abrir os arquivos.

— Não, não pode ser. — sussurrou ele ao olhar para os arquivos que iam aparecendo no notebook — Isso está errado.
— Quem é esta mulher? — o inspetor Smith olhou para mim e depois voltou seu olhar para o noteboo.
— Explique-se agente Choi, o que está acontecendo? — o tom da diretora Collins estava alto e forte.

Tive que me manter o máximo séria possível, apesar de realmente estar surpresa pelo que acontecia, então Dean havia certamente trocado as maletas, ocasionando toda aquela comoção. Enfim, todas as provas apontavam para a pessoa que null menos esperava, a pessoa que estava ao seu lado todo este tempo, o que me deixava ainda mais boquiaberta pela reviravolta que estava acontecendo.

Meus olhos simplesmente continuavam olhando a foto de Louise, onde deveria estar a minha, algo milimetricamente calculado, até mesmo em sincronizar todas as evidências que poderiam ser minhas, com os passos que ela havia dado todo este tempo. Deveria confessar que não era exatamente assim que imaginava que aconteceria, porém algo era certo, estava tendo uma segunda chance novamente.

— Louise Chermont. — disse Collins num tom alto mantendo seu olhar no notebook — Quem é esta mulher? A verdadeira Cassie?
— Não pode… — null olhou para Peter — Tem certeza que você não viu esses arquivos?
— Sim. — assentiu — Não deu tempo de olhar nenhum deles, eu tive que copiá-los e decodificá-los um por um, mas posso assegurar que foram estes que eu copiei.
— De onde retirou estes arquivos? — perguntou o inspetor.
— Alguns foram do computador do diretor Marx, outros consegui quebrando as senhas e contra-senhas do sistema para acessar alguns arquivos restritos. — explicou Peter.
— Você pode fazer isso agora? — indagou o inspetor novamente.
— Por qual motivo ele teria que fazer isso? — Collins o olhou confusa.
— Para sabermos se esta maleta não foi trocada em algum momento sem que Peter percebesse, os arquivos do servidor são originais então poderemos comparar as informações. — explicou null já entendendo o propósito, virando seu olhar para mim.

Por essa eu realmente não esperava, comecei a controlar ao máximo minha respiração e controle, mesmo um pequeno deslize meu poderia  arruinar tudo e mesmo que os arquivos fossem diferentes, não assumiria nada. Peter sentou na outra cadeira que ficava de frente para mim e iniciou sua busca pelo servidor, mesmo não tendo a senha do diretor Marx, deste vez ele tinha a autorização da diretora Collins, que também importava muito neste caso.

Passamos um longo tempo naquela sala, até que Peter conseguiu chegar as pastas ocultas todas denominadas com o nome da Cassie.

— Encontrei todas. — anunciou ele.
— Abra. — ordenou Collins.
— Vamos ver a verdade agora. — null manteve o olhar fixado no notebook.

Confesso que queria soltar um fundo e forte suspiro de alívio, quando a foto de Louise apareceu novamente sendo confirmada como Cassie. Aquele definitivamente era o fim da minha personagem em minha vida, nunca mais eu iria poder utilizar aquele nome, porém eu só conseguia permanecer aliviada e tranquila com tudo o que estava acontecendo.

— Então, essa é a verdadeira Cassie. — disse num tom inocente — Louise Chermont.
— Diretora, eu… — null abaixou a cabeça parecendo frustrado — Não sei o que dizer.
— Pois eu sei. — o tom de voz dela estava seco e frio — Simplesmente peça desculpas a esta civil e tire essas algemas dela.
— Me desculpe, null, estava tão cego que… — ele engoliu seco retirando minhas algemas — Ignorei a verdade.

Agora eu estava me compadecendo dele.

— Eu entendo que sua sede por justiça tenha lhe cegado um pouco. — juro que queria transmitir ironia, mas meu tom saiu tão generoso — Pelo menos a verdade apareceu.

Agora foi um pouquinho debochado.

— Senhorita, poderia nos dizer qual relação tem com esta Louise?  — Collins me olhou um pouco desconfiada.
— Que eu saiba, nenhuma. — a olhei — Aí diz que ela é uma aeromoça, desde que comecei meu trabalho como fotógrafa, costumo viajar muito e a companhia que utilizo é a mesma que ela trabalha.
— O que está querendo dizer? — o inspetor Smith me olhou — Que Louise te escolheu a dedo para desviar a atenção da Interpol?
— Bem, ela é a namorada do nosso agente aqui. — olhei para null que ainda exalava frustração.
— Louise é a prodígio hacker, talvez tenha realmente feito isso. — concordou Peter enquanto ainda analisava os arquivos.
— Eu preciso de um pouco de ar. — null se afastou indo em direção a porta.
— Agente Choi? Acha mesmo que pode fazer esta bagunça e sair sem problemas? — se alterou Collins ao vê-lo deixar a sala — Agente Choi?
— Deixe-o Collins, ele acabou de descobrir que sua noiva era a ladra que tanto procurava, além de desconfiar que ela o manipulou esse tempo todo. — interviu Smith.
— Bem, eu gostaria de saber como ficarei. — olhei para Collins — Eu fui sequestrada por um agente da Interpol, fui mantida em cárcere por 24 horas, algemada e tudo sem um mandato e provas contra mim, depois passei por um, digamos que não podemos chamar isso aqui de interrogatório.
  — Perdoe-nos por esse transtorno. — finalmente ela baixou sua guarda e também o tom de sua voz.
— Será que posso? Seu agente vem me seguindo a pouco mais de um ano, não acho realmente que devo esquecer tudo isso. — intensifiquei meu olhar — Você não sabe o quão desconfortável foi para mim e meu marido.
— Você é casada? — mais uma vez o olhar surpreso de Smith estava em minha direção.
— Sim, me casei a pouco tempo e quando fui sequestrada, estava indo encontrar meu marido em um evento de arte e fotografia. — mantive meu olhar e coerência histórica, estava amando chamar null de meu marido — Bem, gostaria de fazer uma ligação.
— Tem todo o direito. — Smith olhou para o rapaz nerd — Peter, reúna todos os arquivos do sistema e os salve em outro pen-drive, crie uma nova pasta com uma senha que só poderá ser acessada pela diretora Collins e por mim, então transfira todos os arquivos sobre os prodígios para esta nova pasta.
— Sim senhor. — Peter pegou o notebook — Melhor não fazer isso aqui.
— Venha até minha sala. — Smith fechou a maleta e retirando seu celular do bolso me entregou — Faça sua ligação, eu pessoalmente irei resolver este mal entendido.
— Agradeço. — disse pegando o celular da mão dele.
— Diretora Collins. — ele esticou a pasta para ela — Tenho certeza que aqui estão todas as evidências que precisava para destronar o diretor Marx.
— Muito bem. — ela pegou a pasta — Veremos o que posso fazer em relação aos prodígios também, quanto a esta civil, deixarei com você já que se ofereceu.
— Sim senhora. — assentiu ele — E quanto ao senhor D?!
— Ainda não temos nem provas e nem pistas de quem possa ser, mas agora que sabemos definitivamente quem é Cassie e temos provas contra essa Louise, talvez uma troca de benefícios em informações seja feita. — ela disse num tom mais baixo para que eu não pudesse ouvir, porém…
— Senhorita null, voltarei em alguns minutos, deixarei um agente aqui para te fazer companhia.
— Não, você vai deixar um agente aqui para me vigiar. — o corrigi merecidamente.
— Entenda como quiser. — ele sorriu de canto e saiu da sala sendo acompanhado pela Collins e o rapaz nerd.

Um outro agente ficou na porta me observando, olhei para o celular e assim que desloquei o descanso de tela...

null. — meu agente preferido apareceu na porta.
null. — o olhei tranquilamente.
— Não sei o que te dizer. — seu olhar estava triste desta vez — Não sei o que é pior, ter te acusado devido a uma certeza infundada, ou ter descoberto que fui manipulado por ela.
— As duas coisas são… Imagino que não sejam boas para você, eu realmente não sei que tipo de ligação tenho com ela além da companhia aérea. — aquilo foi um consolo?
— De qualquer forma. — ele me olhou — Estou arrependido, deveria mesmo não ter me precipitado como fiz.
— Vamos recomeçar então. — estiquei a mão para ele — Prazer, meu nome é null, tenho alguns anos de vida e sou fotógrafa, mas estou pensando em investir em outro ramo das artes.
— Prazer null. — ele aceitou o cumprimento, pegando em minha mão — Sou null, o pior e mais imprudente agente da Interpol que você vai conhecer.
— Pior não acho. — eu ri de leve — Já imprudente, concordo.
— Posso te fazer uma pergunta? — perguntou ele.
— Claro.
null sabe sobre sua irmã? — seu olhar transparece curiosidade, como ele havia descoberto sobre ela?
— Como sabe sobre isso?! — senti um breve aperto no coração.
— Sou imprudente, mas sei fazer meu trabalho. — ele sorriu de canto — Vou deixá-la fazer sua ligação.

null se afastou saindo da sala, mesmo tudo virando para a direção de Louise, naquelas palavras finais senti que não deveria baixar a guarda de forma alguma. Respirei fundo e levantando da cadeira, me virei e digitei o primeiro número que veio em minha mente, ou melhor meus dedos pareciam condicionados e digitar as teclas exatas.

Sim?! — disse aquela voz que internamente meu coração pedia para ouvir.
— Oi. — respirei fundo — Preciso que me busque em um lugar.
O que? — sua voz parecia de indignação — Te buscar? Acha que sou o que?
— Você é o meu marido e estou no prédio principal da Interpol. — disse num tom baixo explicando superficialmente o que ele deveria entender, ele ainda era meu álibi.
Pensei que tivéssemos divorciados. — disse ele mantendo seu tom.
— Bem, para mim aquilo foi somente uma briga passageira, já que nossa lua de mel nas Bahamas foi um sucesso. — segurei o riso, mas estava amando aquele momento.

Ouvi sua respiração alta do outro lado da linha.

— Por favor, não estaria ligando se não fosse realmente necessário. — engoli metade do meu orgulho naquele, por favor.

Em silêncio ele estava e assim encerrou a ligação sem dar uma resposta.

“Eu já abri o meu coração para você há muito tempo
Você é tudo para mim, esse é o meu jeito de confirmar
Eu deveria ser cuidadoso e me amar mais, desse jeito eu nunca irei me machucar.”

- My Answer / EXO



Capítulo 44

* null *

Me sentei na cadeira novamente, pensando no que faria para sair dali já que era visível estar sozinha dessa vez. Não podia ligar para o Dean, menos ainda ligar para null, certamente tomaria as dores do irmã. Estava percebendo que somente a senhora Mary havia me perdoado naquela família.

— Conseguiu fazer a ligação? — perguntou Smith ao entrar na sala.
— Sim. — estiquei o celular para ela ao me levantar da cadeira — Agradeço.
— Não, eu que agradeço. — ele retirou uma correntinha do bolso, mostrando discretamente a pequena medalha que estava preso a ele — Bem, pequenas coisas podem ser insignificantes para uns, porém para outros representam sua honra.

Eu estava me lembrando daquele objeto, era a mesma medalha que havia resgatado em Portugal, como poderia esquecer daquele serviço, afinal foi nele que conheci o meu agente preferido. Por essa eu realmente não esperava, tenho que admitir que jamais me importava em saber quem eram os clientes que Dean arrumava para mim, mas descobrir que um deles era inspetor da Interpol me deixava curiosa para saber quem eram os outros, já foram tantos.

— Algumas pessoas prezam bastante a honra. — respirei fundo mantendo meu olhar na medalha — Fico feliz que saiba preservar a sua.
— Assim como você preserva a sua. — ele me olhou com tranquilidade enquanto guardava sua medalha  no bolso novamente — Bem, devemos conversar sobre o erro do nosso agente, novamente peço desculpas por toda a agência, o agente Choi será punido de acordo com as normas da empresa e iremos…
— Sinceramente, eu não queria que o agente Choi fosse demitido. — intervi com plena razão — Errar é humano, mesmo que eu tenha saído prejudicada o que importa é que tudo foi esclarecido e minha ficha continua limpa.
— Vou considerar suas palavras. — ele estendeu a mão em direção a saída — Por aqui, por favor.
— Me levará até a saída?! — perguntei olhando novamente para as algemas que null havia deixado em cima da mesa. — Sim, a senhorita está liberada para ir. — assentiu ele.
— Tudo bem. — sorri de leve e o segui pelo corredor.

A cada passo que dava era um suspiro de alegria, eu estava livre daquele lugar e ainda mais confiante que tudo ficaria bem. Assim que chegamos na porta giratória do prédio, Smith se desculpou mais uma vez e perguntou se queria que ele chamasse o táxi para mim, porém recusei sua oferta, não queria nem por um segundo depender ainda mais dele. Fiquei me perguntando se esse inspetor tinha algum envolvimento nisso tudo.

— Finalmente livre. — disse me espreguiçando assim que saí do prédio e senti o sol tocar minha pele.
— Parabéns, não vai agradecer seu marido? — disse ele — Ou devo dizer outra definição?
— Ainda quer ser meu marido?! — me virei e o olhei — Pensei que não viria null.
— Eu disse que não viria? — seu olhar um pouco sarcástico estava ali.
— Hum… Também não disse que viria. — mantive meu olhar nele.

null tomou impulso e pegando em minha mão me puxou para perto dele, me abraçando como se estivesse matando a saudade, meu corpo paralisou e meu cérebro não conseguia assimilar o que estava acontecendo, logo meu coração acelerou ao sentir seu perfume.

null… — sussurrei — O que está…
— Nosso agente está nos olhando do lado de dentro do prédio. — sussurrou ele — Mas não é somente isso, talvez eu também queira te abraçar.
— Talvez?! — eu me afastei dele, o olhando séria.
— Vamos para casa. — ele segurou em minha mão entrelaçando nossos dedos.
— Ainda estamos sendo vigiados?
— Não. — ele sorriu de leve — Vamos deixar as perguntas e desculpas para depois, Cronos está com minha família também.
— Como? — isso me surpreendeu.
— Descobrimos o nome do Albergue onde estava. — ele tossiu um pouco — Para ser sincero, recebemos uma visita bem inesperada ontem.

Visita inesperada, só tinha um nome para definir isso: Dean. Ele havia sido essa visita, o que tinha me deixado ainda mais admirada foi seu pedido de ajuda para a família de null, além de concordar com a exigência da senhora Mary. Algo que realmente havia me impressionado foi ela me defender com tanta força, eu havia ganhado uma mãe de verdade e queria muito retribuir aquele carinho.

Será que conseguiria?

Não demorou muito até que null estacionou em frente a casa deles de Paris, precisei respirar fundo muitas vezes até que a coragem para entrar chegou em mim, mesmo com null segurando minha mão. De todos ali presente, a pessoa que mais me deixava chateada comigo mesma por tê-los roubado é Mary, a mãe que nunca tive.

— Mãe, pai, chegamos. — disse ele assim que entramos.
null. — Mary veio de encontro me abraçar sem nenhum receio, um abraço apertado e cheio de carinho — Que bom que está de volta, fiquei tão preocupada.
— Senhora Mary, eu… — precisava encontrar palavras certas para finalmente tentar me desculpas pelo menos com ela.
— Oh querida eu sei, não precisa se desculpar, já te perdoei por isso. — ela sorriu com gentileza para mim — Não ligue para esses rancorosos, sei que deve não ter tido escolha e se fez foi por algum motivo.

De alguma forma ela me entendia, o que me fazia cada vez mais querer não decepcioná-la.

— Obrigada pelo carinho. — sorri de volta para ela.
— Você a perdoou, mas eu não. — o senhor Hwang se levantou da poltrona onde estava — Você ainda está em falta comigo.
— Yeoboo, pare com isso. — a senhora Mary interviu.
— Mary, não precisa, ele está certo. — respirei fundo desviando meu olhar para ele — Tem razão de não querer confiar em mim, nem eu confiaria, mas…
— Mas?! — Sam apareceu da porta — Noona se você arrumar uma namorada para mim, eu te perdoo.

Segurei o riso.

— Yah, menino abusado, pare de espionar a conversa. — Mary gritou com ele.
— Eu não quero uma namorada, mas se me pagar um jantar e me responder algumas perguntas curiosas.  — null estava descendo as escadas e ao olhar para mim, piscou de leve de forma sinuosa — Bem-vinda de volta.
— Eu… Não sei como dizer… — realmente não sabia, era a primeira vez que pedia desculpas sinceras para pessoas tão importantes.
— Se fosse menos orgulhosa saberia. — null soltou minha mão e se dirigiu para a escada, subindo sem a menor preocupação.
— Aish, esse menino mal criado. — reclamou Mary ao olhar para o filho.

Não tinha o que falar, ele estava certo.

— Uau, me parece que o casamento de vocês está em crise. — comentou null rindo baixo.
— Casamento? — Mary me olhou confusa.
— Bem, nos casamos em Vegas. — expliquei.
— Vegas? — Sam se jogou no sofá — Noona, não sabia que casamentos em Vegas eram válidos.
— Alguns são. — Mary sorri — Este é mais que válido.

O senhor Hwang bufou um pouco e se levantando da poltrona, dirigiu-se em direção ao seu escritório, eu já imaginava que teria que pedir desculpas alguma hora, mas não estava muito preparada. Talvez null estivesse certo, eu era orgulhosa demais para me desculpar com as pessoas, mas pela primeira vez queria fazer isso, só não sabia como.

— Não se preocupe, uma hora eles vão entender. — disse Mary.
—Talvez ele esteja certo, sou muito orgulhosa para fazer isso. — eu me virei em direção a porta.
— Espera. — Mary segurou de leve em minha mão — Aonde vai querida?
— Preciso pegar minha bolsa com o agente, minhas coisas ficaram no apartamento dele. — expliquei um pouco triste.
— Eu te levo. — disse null ao retirar a chave do carro do bolso — Assim não terá desculpa para não voltar.
— Não precisa. — sorri de leve — Meu cachorro está aqui, acha mesmo que não voltaria? E por falar nisso, onde está Cronos?
— Mandamos para o petshop, ele precisava relaxar. — explicou Mary.
— Seu cachorro é muito bonito e educado. — elogiou Sam.
— Obrigada, eu o treinei muito bem.
— Vamos cunhadinha, eu realmente irei te levar. — null sorriu e pegando minha mão me puxou para porta.

Eu o conhecia muito bem para saber que não desistiria de me levar, então somente assenti e o segui até o carro.

— Está mesmo tudo bem agora? — perguntou ele ao ligar o carro.
— Sim, como sempre Dean pensou em tudo. — suspirei fraco.
— Você se lembra onde é o apartamento do agente? — perguntou.
— Sim, mas eu não iria agora até lá. — respondi desviando meu olhar para a rua.
— Imaginei. — ele suspirou também — Está assim por causa do meu irmão.
— Não me faça pensar nisso assim.
— LT, você realmente ama ele. — era uma confirmação — Te conhecendo como conheço, está lutando contra.
— Confesso que nunca permiti que chegasse tão longe. — ajustei o cinto de segurança e me encolhi.
— Como se você tivesse se envolvido com mais pessoas além de nós dois. — ele riu baixo.
— Tem razão, o que me deixa ainda mais assustada. — desviei meu olhar para ele — Não sei o que null fez para eu gostar dele assim.
— Essa eu também quero saber. — ele deu uma gargalhada — Ele roubou minha chance de te conquistar de verdade.

Eu ri um pouco desviando meu olhar para frente, null era mesmo um bobo.

— Mesmo sendo charmoso, acho que nunca daria certo. — confessei.
— Por que? Sou muito quente?! — ele riu mais alto — Não acredito que gosta de homens empacados como meu irmão.
— Acredite ou não, o que me chamou a atenção nele foi a voz. — suspirei profundo agora — Aquela voz…

“Faz meu corpo arrepiar.” Completei em pensamento.

— Aquela voz? — insistiu null.
— É uma voz de impacto. — terminei disfarçando.
— Hum, voz de impacto. — ele riu com ironia — E eu, tenho uma voz de impacto?
— Digamos que seu ponto forte é o olhar. — respondi tranquilamente — Em raros momentos me pergunto como foi o romance que tiveram com aquela tal Taylor.
— Aquela tal Taylor… Hum, soou um ponta de ciúmes.
— Por que eu teria ciúmes? — o olhei.
— Está mesmo me fazendo esta pergunta? — null riu — Não sei quem é mais orgulhoso, você ou ele.
— Do que está falando. — desviei meu olhar para a janela — Não sou tão orgulhosa assim.
— Sei.
— Estou sendo sincera null, só não estou acostumada com certos sentimentos. — cruzei os braços.
— Posso lhe dar um conselho? — perguntou.
— Claro.
— Pedir desculpas não é o fim da vida, mas pode ser o começo de uma nova. — se aquilo era algum tipo de frase feita, havia me impactado.
— Você adora frases de efeito. — comentei brincando.
— Fazendo efeito ou não, é uma realidade que você pode viver. — seu tom ficou um pouco mais sério.
— Obrigada. — disse de repente.
— Pelo que?!
— Por ser meu amigo, apesar de tudo. — aquilo foi sincero.

Passamos o dia todo dando algumas voltas por Paris, eu precisava daquele tempo de distração e diversão, null tinha seu lado engraçado e descontraído que me fazia esquecer dos problemas, finalmente havia o definido como um verdadeiro amigo. O que me deixava ainda mais indecisa no que planejava para o futuro, uma família era o álibi perfeito, porém estava começando a se tornar um projeto de vida.

Não demoramos muito ao passar no apartamento de null, que colaborou não retendo meus documentos que estavam com ele, em minha bolsa. Assim que voltamos à casa da família null, eu senti que deveria talvez dar uma chance a frase de efeito de null, então assim que Mary me disse que seu marido estava no escritório, decidi ter uma conversa com ele.

— Posso te incomodar? — disse ao bater na porta.
— Entre. — ele estava sentado na cadeira perto da janela.
— Acho que lhe devo algumas explicações senhor Hwang. — disse fechando a porta — E… Estou aqui para lhe dar.
— Dizer não vai mudar o que fez. — seu olhar era tão observador quando o de null e null, tinham a quem puxar — Vai?
— Sei que não.
— Você entrou na minha casa, conquistou minha esposa e meus filhos, o que me entristece não foi trair minha confiança, mas trair a de null. — mesmo firme e rígido na voz, seu olhar era tranquilo — Sempre coloco os sentimentos deles antes dos meus, por isso está aqui, por isso ajudamos você, porque minha esposa a considera sua filha.
— Eu sei. — mantive meu olhar nele novamente — Eu não sei como, mas quero reconquistar sua confiança novamente, me diga como.
— Você sabe como.

O que era para ser um enigma me fez perceber que eu realmente sabia, até mesmo o senhor Hwang havia me perdoado sem que eu pedisse, mas havia um motivo para que ele não admitisse isso: null.

“A resposta é você
Minha resposta é você
Eu te mostrei tudo de mim
Você é o meu tudo, eu tenho certeza
Eu serei mais cuidadoso e te protegerei
Então o seu coração nunca será machucado
Eu nunca me senti assim antes
Como se minha respiração fosse parar.”

- My Answer / EXO



Capítulo 45

* null *

Por mais que Mary insistisse para que eu ficasse na casa deles, decidi voltar ao Albergue onde estava com Cronos, percebi um certo apego que o senhor Hwang pegou pelo meu cachorro, o que me deixou um pouco mais feliz e aliviada. Assim que cheguei no Albergue, havia um pacote para mim na recepção, um bilhete colado escrito “LT” me fazia saber que era presente de Dean para mim.

Assim que entrei no quarto com Cronos, ajeitei minhas malas no canto da porta e sentei na cama, ao abrir o pacote me deparei com um celular que começou a tocar no momento em que o peguei.

— LT na linha. — disse ao atender.
— Por que será que eu já imaginava que você voltaria para o albergue? — seu tom era irônico.
— Porque você me conhece. — respirei fundo — Obrigada por tudo.
— É minha obrigação te proteger. — sua voz ficou mais fria — Sabe que sou um homem de palavra, preciso honrar o que disse.
— Fala sobre minha aposentadoria?! — perguntei brincando.
— Trabalhamos juntos a quanto tempo? — perguntou ele — A conheço desde que tinha dez anos, quando Marg começou a te treinar individualmente, você é a minha caçula.
— Aonde quer chegar com esse monólogo?! Eu te conheço Dean.
— Estou dizendo que não será fácil para mim, abrir mão de você, em todos os sentidos. Sinto que de alguma forma já esperava por isso, ainda mais quando null entrou em sua vida e null retornou a ela. — admitiu ele — Mas, tenho um último e definitivo serviço para você.
— Qual?! — perguntei.
— No fundo da caixa tem duas passagens, deixe Cronos em casa e renove sua mala. — respondeu ele, sua voz intensificou a seriedade — Depois, use a segunda passagem para ir ao seu destino.
— O que fazei na Grécia?! — perguntei curiosa.
— Assim que chegar lá, saberá. — ele desligou o telefone.

Dean parecia mesmo abalado com o pedido de Mary, mas apesar de todas as minhas habilidades e me querer em todos os trabalhos mais importantes, Dean preservava minha segurança e meu bem estar, por isso eu sempre fazia do meu jeito e o que eu queria. Respirei fundo olhando a tela do celular e comecei a pensar, o que seria este último serviço na Grécia, o que provavelmente Dean iria querer naquele país.

Como as passagens estavam sem datas, passei mais dois dias em Paris, para aproveitar o final da exposição de fotografia, com isso pude participar de algumas palestras e workshops divertidos e interessantes, aprendi muito sobre aquela que certamente seria minha nova profissão. Aquele tempo serviu para despertar em mim um desejo de realmente me profissionalizar em fotografia e arte, me veio uma ideia louca de fazer faculdade e ter pelo menos um diploma, seria o início da parte normal da minha vida.

— O que acha Cronos? — olhei para ele que estava deitado no chão me olhando — Seria bom se a mamãe fosse para a faculdade??

Eu me espreguicei dando um largo sorriso e joguei meu corpo para trás me deitando na cama, acho que seria interessante cursar algo, já havia experimentado por um tempo a sensação de ser universitária quando conheci null. Agora poderia realmente ser uma e estava ficando ainda mais empolgada com essa novidade em minha vida.

Tudo que era meu já estava organizado e pronto, voltaria para Manhattan primeiro e deixaria Cronos em casa, para finalmente seguir para a última e definitiva missão. Mandei uma mensagem a Mary, que veio se despedir de mim no aeroporto, expliquei a ela que precisava fazer algo para Dean, como um acerto de possíveis dívidas, então depois disso estaria definitivamente fora desta vida de objetos de desejo.

— Mande uma mensagem quando chegar em casa. — disse ela ainda me abraçando — Já estou sentindo sua falta, e você nem se foi.
— Obrigada. — sorri de leve — Por ser como uma mãe para mim.
— Mas eu sou. — ela sorriu de volta — Conte sempre comigo.

Eu me afastei dela e segui para o portão de desembarque, assim que olhei para trás pela última vez ao passar pela porta, vi ao longe null descendo as escadas correndo, certamente estava ali para ver se eu realmente iria embora. Aquela era uma parte da minha vida que ao mesmo tempo queria ajustar, eu já não conseguia fazer nada para melhorar e só piorava. Assim que entrei no avião me certifiquei da segurança de Cronos e aproveitei para relaxar um pouco.

Não demorei muito em Manhattan, assim que deixei Cronos sobre os cuidados de Stef com muitas recomendações, preparei uma única mala de viagem e coloquei exatamente tudo o que eu precisava. Parti rumo a Grécia sem saber o que me esperava porém decidida a fazer o melhor neste último serviço, assim que desembarquei no aeroporto internacional de Atenas, recebi uma ligação de Dean me convidando para o café.

Já havia um carro a minha espera na saída do aeroporto, assim que o veículo parou em frente a uma cafeteria tradicional da cidade, desci tranquilamente deixando minha mala no carro, ajeitei a bolsa no ombro e entrei. Ele estava sentado à mesa dos fundos, saboreando uma xícara de café expresso.

— Bom dia. — disse ao chegar em frente a ele.

Ele me olhou tranquilamente e esticou a mão para que eu me sentasse.

— Não foi somente para o café o convite. — comentei me sentando.
— Não. — ele voltou seu olhar para o jornal que estava em cima da mesa — Você, tem lido os jornais?
— Não tenho tido tempo. — respondi olhando o atendente que já vinha me servir com um cappuccino de chocolate e um pedaço de torta de maçã.
— Tomei a liberdade de pedir para você. — comentou ele assim que o atendente se afastou.
— Você já sabe meus gostos. — sorri de leve.
— Nem todos. — ele empurrou o jornal para mim.

Passei o olho superficialmente e vi que a matéria de destaque era referente a uma série de roubos consecutivos aos bancos de Monterrey. Estranhei por um tempo, até que me lembrei de uma declaração de Dean no passado, dizendo que o dia em que me aposentasse, eu teria que deixar alguém em meu lugar.

— Não me diga que você arrumou aprendizes para mim?! — ri baixo.
— Não existirá outra LT, mas precisarei seguir em frente. — explicou ele — Tenho uma equipe com potencial, preciso que recrute elas.
— Elas… Quantas pessoas formam uma LT? — ri novamente.
— Quatro garotas, que deixarei em suas mãos. — ele engoliu seco — Tenho certeza que irá ensiná-las melhor do que Marg te ensinou.
— Você acha?! — o olhei surpresa.
— Tenho certeza.
— Você está muito triste, não será um adeus Dean. — o consolei segurando o riso.
— Marg disse essas mesmas palavras. — ele voltou seu olhar para a saída e se levantou — O carro de levará para onde será sua nova casa temporária, vou buscar elas pessoalmente.

Assenti em silêncio, esperei Dean se retirar e desfrutei do café da manhã que ele havia pago para mim, assim como dito, o carro me levou até um condomínio fechado e estacionou em frente a última casa que tinha na colina. Ao entrar, vi que assim como a arquitetura externa era tradicional, a decoração interna também, além de simples era um espaço arejado e amplo. Os dias foram passando comigo naquela casa vazia, Dean havia deixado várias pastas com informações de cada uma das quatro garotas, elas eram amigas de infância o que ajudava na confiança de equipe.

— LT. — disse aquela voz que sempre aparecia nas melhores horas.
— Bom dia. — disse ao me virar para ele — Veio me conceber mais uma lua de mel? null?!
— Não. — ele desviou o olhar para o mar — Não sabia que gostava de praias gregas.
— Estou a trabalho, um último e definitivo. — expliquei para que não ocorressem mals entendidos.
— Não precisava dizer. — ele suspirou fraco — Apesar de minha mãe já ter mencionado propositalmente.
— Como estão todos? — perguntei, havia pouco mais de uma semana que tinha deixado Paris.
— Bem.
— Posso entender sua presença aqui na Grécia?! Principalmente em uma praia?!
— Estou aqui a trabalho. — ele parecia relutante em meu olhar — Vou deixá-la em seu momento.

null foi se afastando.

— Espera. — segurei em seu braço — Eu…
— Você?! — ele me olhou serenamente, parecia não estar esperando nada de mim.
— Almoça comigo?! — convidei.

Ele sorriu de canto assentindo com a face, senti meu coração pulsar um pouco mais forte. Fomos a um restaurante indicado por Dean uma vez, a comida era saborosa assim como o ambiente aconchegante, porém mesmo com tudo a meu favor, null permaneceu em silêncio durante todo o tempo, o que me deixava ainda mais agoniada, por não saber o que se passava em sua mente.

Será que eu havia perdido seu coração?!

— Você esteve muito calado no almoço. — disse enquanto caminhamos pela rua.
— Não sinto que tenho algo para falar. — respondeu ele.
— Ao contrário de mim que tenho e não digo. — respirei fundo — Aposto que foi isso que pensou.
— Talvez. — concordou ele.
null. — segurei sua mão o fazendo olhar para mim.

Admito que já estava cansada com suas ironias escondidas atrás da sua sinceridade, o pior é que em tudo ele estava certo e definitivamente, eu não estava preparada para quebrar toda aquela barreira que me mantinha segura longe de sentimentos como amor e confiança. Respirei fundo reunindo a coragem que me faltava.

— Me… — era mesmo complicado, aquelas palavras viriam cheias de sentimentos — Me perdoe.

Ele ficou estático por um tempo, me olhando surpreso e ao mesmo tempo chocado com minhas palavras.

— Você não imagina o quanto esperei por isso, para que admitisse todo seu erro. — ele suspirou fraco — Mas ainda não posso te perdoar, não sei se consigo confiar novamente em você.
— O que?! — o olhei com um pouco de indignação — Você não sabe o quão difícil foi para dizer isso, admitir tudo.
— Me perdoe também, mas acho que… — ele me olhou profundamente — Precisamos nos afastar.

Eu não queria me afastar dele.

— O que eu faço?! — perguntei — O que tenho que fazer para ter seu amor de volta?

Senti me metade do meu orgulho havia desabado em terra com aquela pergunta, segurei as lágrimas no canto dos olhos.

— Quero que não tenha mais segredos. — respondeu ele — Não posso confiar em alguém que ainda esconde sua vida de mim.

Recebi aquela indireta, como se ele desconfiasse de mais algo relacionado a minha vida, logo me lembrei de minha irmã. null se aproximou de mim e dando um beijo suave em minha testa, se afastou indo em direção a um táxi que estava parado no ponto.

— O que faço agora?! — sussurrei para mim mesma.

Eu tinha que me recompor, ainda existia uma vida longe de null que eu tinha que finalizar, respirei fundo, coloquei meus pensamentos em ordem e voltei para casa. Na manhã seguinte a primeira coisa que fiz e voltar a analisar minhas aprendizes, além de montar um treinamento coletivo e individual para todas, queria florescer ao máximo suas habilidades.

Pelas informações, observei que a líder chamada Jenny era um pouco parecida comigo, principalmente em seu temperamento e ousadia. As outras três, Nalla, Mel e Sunny também me pareciam habilidosas, porém todas tinham um ponto fraco que Dean odiava nas pessoas que trabalhavam para ele: pouca resistência psicológica. O que significava que ela facilmente entregavam o jogo e poderiam ceder a interrogatórios policiais mais intensos.

No meio da tarde, Dean me mandou uma mensagem programada para que eu ligasse para um número desconhecido e me apresentasse, foi exatamente o que fiz.

— Bom dia meninas, espero que estejam bem, para aquelas que não me conhecem, podem me chamar de LT, a partir de hoje vocês serão minhas aprendizes. — disse assim que atenderam, estava no viva voz do outro lado.

Eu esperei por alguns segundos e desliguei. Agora só me restava esperar pelas minhas aprendizes e finalmente iniciar meu projeto aposentadoria.

Eu te amo muito, mas meu orgulho nessas palavras
Não me permitem dizê-las a você
Hoje vou juntar toda a minha coragem e te dizer
Então escute calmamente, eu vou cantar para você.”
- Sing For You / EXO



Capítulo 46

* null *

Foi um ano direto de treinamento duro para minhas quatro garotas, divididos em força, habilidade coletiva, trabalho em grupo e resistência psicológica. Felizmente tudo estava concluído e elas já estavam de partida para a missão teste, que eu já sabia que daria certo pois foi eu quem tracei o plano base e as ensinei a pensar em todas as possibilidades de erros, acertos, problemas e resoluções.

— Como previsto, fez um bom trabalho. — comentou Dean olhando o computador e vendo a foto das aprendizes — De onde veio a ideia de uma oficina de carros como álibi?! Não é comum vermos mulheres mecânicas.
— Adoro diferenciais. — respondi rindo — E também, acabei descobrindo que carros é um assunto em comum recorrente em todas.
— Interessante.
— Sim, o pais da Mel e da Jenny eram mecânicos, isso as faz saber de muitas coisas, já a Nalla é boa com números e tecnologia, ficará na administração, e Sunny por sua vez cuidará do marketing e será nossa relações públicas da marca. — me espreguicei um pouco — Não foi difícil montar todo o planejamento delas, porém como você as quer direcionada a essa área.
— Como posso te agradecer por isso?!
— Uma vaga em Yale. — respondi sem rodeios.
— Sério? — seu olhar surpreso se voltou para mim — Está pensando em ingressar na carreira universitária?!
— Tenho pensado sobre isso já alguns meses e acho que o curso de arte e fotografia combinam comigo. — expliquei — Tenho certeza que para você não será nenhum problema conseguir isso não é?!
— Seu pedido é uma ordem, só me dê alguns dias. — respondeu ele.
— Eu estarei no Brasil.
— Vai visitar sua irmã?! — perguntou curioso.
— Não. — respirei fundo — Vou buscá-la.
— Como?!
— Se terei uma vida normal agora, preciso da minha verdadeira família. — expliquei.
— Então está pensando em apresentá-la ao…
— Talvez, ainda não me decidi.

Eu me afastei um pouco e peguei minha bolsa, já estava de saída. Me despedi de Dean e segui em direção ao aeroporto, já estava tudo pronto para meu embarque no jatinho particular dele. Assim que desembarquei no aeroporto de Guarulhos em São Paulo, fui a uma loja de brinquedos para comprar um lindo presente ao meu sobrinho, afinal ele tinha completado um ano de vida e eu não havia comparecido ao aniversário dele.

— Surpresa!! — disse assim que null atendeu a porta.
null?! — seu olhar surpreso deu lugar a alegria em me ver — Você veio mesmo.
— Sim. — eu a abracei — E trouxe presente para o Joe.
— Joe. — ela riu da minha forma de chamar meu sobrinho.
— E como está tudo, conseguindo conciliar os estudos com a maternidade?!
— Não. — respondeu ela fechando a porta, assim que eu entrei — Resolvi parar com a universidade, enquanto ele ainda está pequeno, crianças precisam das mães nessa idade.
— Que linda. — sorri com carinho para ela.
— Ainda mais nessa situação. — ela olhou para Joe que estava no cercadinho brincando — essa criança veio ao mundo da pior forma possível, agora sou eu que quero dar a melhor oportunidade a ela.
— Joe é o nosso segredo. — pisquei de leve para ela.
— Segredo. — ela me olhou curiosa — Por falar em segredo, o que está pensando em fazer?! Vai me apresentar para null?!
— Ainda não sei. — suspirei fraco e sentei no sofá que estava perto do cercadinho — Mas ando pensando muito sobre isso.
— Agora que começou, acho que deveria seguir em frente. — aconselhou ela — Não se priva de ser amada por um orgulho que só te afasta de quem você ama, além do mais, eu não me importo de conhecer meu cunhado.
— Eu sei disso. — ri baixo ao pegar um brinquedinho de Joe e balançar para ele.
— Já que a titia está aqui, vou deixá-lo com você, preciso comprar leite. — disse ela.
— Eu fico aqui, brincando com ele. — assegurei mantendo minha atenção em Joe.

Sempre que olhava para Joseph, me lembrava de como era bom contar sempre com minha irmã e sua ajuda, por isso eu queria demonstrar a cada vez mais que ela também podia contar comigo. As horas se passaram e ao final da noite quando Joseph conseguiu dormir, eu e null nos jogamos ao sofá para fazer maratona de Friends pela centésima vez.

— Diga o que está passando pela sua cabeça maquiavélica. — indagou ela ao perceber que eu estava a olhando demais.
— Estava aqui pensando, você tem estado muito sozinha ultimamente. — comentei — Já pensou em arrumar um namorado, ou talvez se casar?
— Sei que tudo que vem de você tem um propósito. — ela pausou o episódio — No que está pensando?
— Que você precisa de alguém para te ajudar com o Joseph, sabe… — respondi sinuosamente — Posso te apresentar um amigo.

Ela pausou o episódio e me olhou como se não confiasse em mim.

— Que tipo de amigo?! — retrucou.
— Um que provavelmente tem carreiras militares. — comentei indiretamente.
— Você não presta. — ela se levantou do sofá — O que está querendo com a ideia de me apresentar ao agente Choi.
— Uau, você é bom no raciocínio. — observei — Olhe pelo lado lógico, você está solteira, ele teve uma desilusão amorosa, ambos podem se completar.
— Como se eu não conhecesse sua mente calculista. — ela cruzou os braços — Acha mesmo que vou compactuar com seus planos, ele estava nas garras da tal Louise e agora que está livre dessa mentira, você quer que eu o agarre para você?!
— Vamos combinar que não é de todo uma má ideia. — eu me levantei também — É bom manter os amigos perto e os inimigos mais pertos ainda, esse é o nosso lema.
— Eu não vou brincar com os sentimentos dele por sua causa null. — disse ela tentando não alterar sua voz, mas mantendo firmeza.
— Não estou pedindo para que brinque com os sentimentos dele. — expliquei — Estou pedindo para dar uma oportunidade aos dois, eu convivi com null por muito tempo para saber que ele é seu tipo ideal, além de que você tem a ficha limpa, exatamente como ele deseja de uma mulher.

Ela suspirou fraco, parecia não querer mais criar argumentos contra mim.

— Apenas o conheça, como amigo. — pedi fazendo cara de criança sem mãe — Assim como você quer minha felicidade com null, eu também quero te ajudar a ter sua própria família.
— E quanto ao Joseph, como vou explicar essa criança a ele?! — perguntou ela preocupada.
— Assim como estão nos registros, que são devidamente verdadeiros e livres de falsificações, Joseph é seu filho fruto de uma adoção. — expliquei piscando de leve para ela.
— Para você é tudo fácil. — observou ela.
— Sempre é, somos nós que complicamos. — sorri de leve para ela — Foi você quem me disse isso uma vez.
— Tudo bem. — ela respirou fundo — Aceito somente conhecer ele, no máximo tomar um café.
— Hum… — sorri ainda mais — Então trate de arrumar suas coisas, vamos para Paris.
— O que faremos em Paris? — perguntou ela.
— Começaremos uma nova vida, de verdade, como irmãs.

null deu um sorriso singelo, seu olhar transmitia alegria, certamente aquilo era o que ela mais queria, que estivéssemos unidas novamente sem Cassie, LT ou qualquer outra coisa que me envolvia no mundo de Dean. E eu a partir daquele momento só queria ter uma vida normal, junto de minha irmã e da minha segunda família.

— Como é bom estar de volta. — disse assim que descemos do táxi em frente ao hotel que havia reservado para nós, coincidentemente era de um amigo de Dean.
— É a minha primeira vez aqui. — comentou null enquanto segurava Joseph no colo.
— Se tudo der certo, você viverá em Paris. — comentei dando indiretas.
— Não comece null. — ela caminhou até a porta giratória da entrada.
— Só foi um comentário. — reclamei a seguindo.

Assim que entramos, fomos recepcionadas pelo gerente que nos informou sobre um almoço especial que o hotel estava oferecendo aos hóspedes. Aproveitamos que a fome já estava presente e almoçamos naquela mesma hora, null estava fascinada com tudo o que via ao seu redor, o que me deixava ainda mais aliviada e certa de que estava tomando o rumo certo em minhas decisões.

Os dias se passaram com nós duas passeando pela cidade, eu queria pessoalmente mostrar todos os pontos turísticos para ela, aproveitando iria colocar todos os assuntos em dia e poder finalmente fazer várias lembranças boas com ela. Assim que chegamos em frente uma loja de sapatos, não consegui resistir a tentação, havia uma sandália de salto quadrado que parecia sussurrar meu nome.

— Vai e compra, o que está esperando?! — incentivou ela enquanto empurrava o carrinho de Joseph.
— Acho melhor não. — a olhei — Não quero te deixar sozinha.
— Vai logo comprar essa sandália. — reforçou ela.

Sorri um pouco e entrei na loja rapidamente, eu não iria deixar passar aquela oportunidade, assim que fiz o pagamento e descontroladamente acrescentei mais dois sapatos a minha compra, recebi uma mensagem de Mary. Ei havia comunicado a ela que estava indo para Paris, pedi para que ela transmitisse uma mensagem a null, já se completava um ano que estava longe dele e não tinha notícias suas.

Mary assegurou em sua mensagem que ele receberia a mensagem e compareceria no hotel esta noite, estava pronta para definir por completo minha relação com ele, esta noite só teria duas escolhas: ou seríamos um casal de verdade, ou nem queria imaginar a segunda opção.

null, eu… — paralisei um pouco a ver ela conversando com uma pessoa que estava de costas, era um homem e parecia estar brincando com Joseph que estava no carrinho.
null.— disse ela ao me ver — Já comprou?!
— Sim. — sussurrei mantendo meu olhar no homem que ao virar sorriu para mim.
— Oi. — era o meu agente favorito.
null?! — por esse encontro nem eu estava esperando e arquitetando.
— Que coincidência. — ele sorriu sem graça.
— Vocês já se conhecem?! — perguntou null de forma inocente, minha irmã era melhor que eu na atuação.
— Sim, tivemos algumas divergências passadas. — expliquei brevemente.
— Mas está tudo resolvido. — assegurou null — Não sabia imaginava que tinha uma irmã, porém sabia que ainda escondia algo de mim.
— Bem, em um passado distante fomos adotadas por famílias diferentes, por isso, poucas pessoas sabem sobre mim. — explicou null.
— Entendo.
— Você está ocupado agente?! — perguntei.
— Não, estou definitivamente de férias. — ele riu baixo.
— Gostaria de tomar com café conosco?! — perguntei intencionada a fazê-lo ficar mais tempo perto de null.
— Acho que aceitarei desta vez.

Olhei para null fazendo aquela cara de: consegui! Mesmo que não tivesse planejado aquele encontro, Paris era pequena e certamente em algum momento iríamos esbarrar em null, principalmente por todos os dias estar fazendo ela passear comigo. Nosso café foi muito proveitoso, principalmente pela curiosidade de null em saber como era minha relação de irmã comigo, seu interesse por ela foi de fato instantâneo como imaginei, afinal se tratava de alguém real mais próximo de mim.

— Vai me dizer que não foi divertido?! — indague assim que entramos no quarto — Você estava sorrindo à toa.
— Tenho que concordar que o agente é simpático. — disse ela fingindo não ter interesse nenhum.
— Deixe de falsidade. — eu ri dela — Ele é muito bonito e charmoso, além de educado e gentil quando quer.
— Ainda guarda ressentimentos dele?
— Não, se guardasse não estaria querendo transformá-lo em cunhado. — ri alto.
— Ei, mais baixo. — repreendeu ela — Joseph já estava dormindo em seus braços.
— Desculpa. — olhei para meu sobrinho fofo.
— Como será agora?! — perguntou ela.
— Viveremos tranquilamente de forma leve e normal. — sorri um pouco — E eu vou para a universidade.
— Ainda não acredito nisso, Yale. v ela riu.
— Sim, e você voltará a fazer seu curso na melhor escola de gastronomia da França. — reforcei.
— Sério?! Vai mesmo levar essa ideia adiante?!
— Claro null, você gosta de culinária, não poderia deixar você desistir desse sonho.
— Obrigada. — ela sorriu.

Peguei meu celular para ver se havia mais alguma mensagem de Mary, sobre null, e havia uma mensagem do próprio dizendo que estava na recepção do hotel me esperando, eu mandei o número do quarto pedindo para que subisse, assim ele fez. Enquanto null foi colocar Joseph no berço dentro do quarto, eu fiquei esperando ele no pequeno hall de entrada, assim que tocou na porta, a abri de imediato.

— Oi, obrigada por vir. — disse assim que ele entrou.
— Estou curioso para saber o que a traz aqui, depois de um ano sem dar notícias. — disse ele dando um sorriso fechado e discreto.
— Para ser sincera, passei todo esse tempo trocando mensagens com sua mãe. — ri baixo — Mas pedi a ela para não falar sobre isso.
— Mais segredos. — comentou ele.
— Desta vez foi um segredo saudável. — ri mais um pouco e fiquei mais séria ao perceber que null havia retornado.
— Quem é ela?! — perguntou null.
— O motivo de estar aqui. — respondi — Há um ano atrás, você disse que só me perdoaria se não houvesse mais nenhum segredo entre nós.

Ele assentiu com um olhar curioso, mantendo-os em null.

— Quero te apresentar minha irmã mais nova null. — respirei fundo — Ela é o maior de todos os meus segredos.

 

A minha mãe me diz todos os dias
Para ter cuidado com os homens
Porque o amor é como brincar com fogo
Minha mãe pode estar certa
Porque quando vejo você, meu coração fica quente
Porque ao invés de medo, minha atração fica maior?”
- Playing With Fire / Blackpink



Capítulo 47

* null *

— Confesso que não esperava por isso. — comentou ele enquanto caminhávamos um pouco pelo jardim do hotel — Pensava que só tivesse Dean e os prodígios em sua vida.
— É realmente inesperado… — concordei com ele — Fomos adotadas por famílias diferentes, assim foi mais fácil não ligar nossas vidas, tudo do nosso passado foi queimado e apagado… Somente o Dean sabia sobre ela.
— Porém sua irmã sabe sobre tudo em sua vida. — ele riu baixo, provavelmente se lembrando do comentário de null sobre nosso relacionamento indefinido — Me deixou ainda mais surpreso.
— Admito que sou uma caixa de surpresas quando quero. — brinquei o fazendo rir.

Sim eu era e agora de uma forma estranha estava me sentindo bem mais leve e serena, após contar tudo sobre minha vida e meu passado a ele, agora literalmente não havia mais nenhum segredo de minha parte entre nós dois.

— Achei nobre ter pedido sua irmã para adotar a criança. — comentou ele ao parar em frente ao pequeno lago climatizado.
— Não sou uma pessoa totalmente má. — brinquei parando ao seu lado e olhando os peixes que nadavam no lago — Apesar de tudo tenho meus princípios…
— Imagino… Estou orgulhoso por isso.
— Sério?! — o olhei surpresa — Eu te deixei assim?!

Ele sorriu de leve e segurou em minha mão com suavidade, seu olhar carinhoso veio de encontro ao meu, ele parecia querer falar algo que se mantinha preso em sua garganta.

— Eu te amo. — sussurrou ele dando um sorriso de canto.

Eu sorri junto de forma espontânea, não sabia como reagir a uma declaração tão direta daquela forma. Será que era um sinal que ele havia me perdoado de fato?

— O que devo entender com essas palavras?! — perguntei.
— Que não te deixarei ir nunca mais. — ele me puxou para mais perto e me abraçou com ternura — Quero estar ao seu lado para sempre.
— Para sempre é muito tempo. — brinquei um pouco com ele — Tem certeza?
— Sim. — ele me envolveu ainda mais em meus braços — No início… Senti que você havia roubado toda a minha atenção e junto meu coração, mas agora é tudo teu sem precisar de muito esforço.
— O que?! — eu o olhei chocada — Muito esforço?! Você sabe o quão difícil foi para te contar tudo?! Agora quem não quer mais sou eu.

Me afastei de leve dele.

— Agora você terá que provar que me ama. — cruzei os braços.
— Que garota mais orgulhosa. — ele riu um pouco e logo se ajoelhou, retirando do bolso uma caixinha — Já que tenho que provar, quero fazer algo que venho desejando a muito tempo.
— Não acredito. — mantive meu olhar naquela caixinha já imaginando suas próximas palavras — null…
— Sei que vai dizer que já somos casados e tudo mais… Porém desta vez, quero começar da forma correta. — seu olhar sincero e profundo me constrangeu um pouco — Você deseja ser minha esposa, perante toda a sociedade e passa os próximos muitos dias da sua vida com este bobo marido álibi?!
— Hum…
— Mas é claro que ela vai aceitar. — disse null brotando bem próximo a nós dois — Depois de um ano ouvindo ela dizer que estava com saudades do marido, se ela não aceitar agora eu a arrasto para o altar assim mesmo.
— Yah, null. — eu a olhei — Como pode? Estávamos no meio de algo.
— Estou começando a gostar da minha cunhada. — null riu já se levantando.
— Não. — eu o fiz se ajoelhar novamente — Eu ainda não respondi e você null, silêncio.
— Não está mais aqui quem falou. — minha irmã riu, era visível sua felicidade por mim.
— Então?! — insistiu null.
— Tenho que admitir que você é mesmo um marido bobo… Porém, jamais irei te querer como um álibi, a partir de agora, te quero te verdade…

Eu nem terminei meu discurso de aceito e null me interrompeu com um beijo intenso e doce, meu marido estava mesmo com saudades de mim e seu amor era tão real quanto o meu. Era sim um recomeço sem mentiras e sem falsidades, uma nova chance e uma nova vida, senti que deixar meu orgulho de lado não foi tão ruim assim, apesar de doer na hora, agora estava bem mais leve e com a certeza de que seria ainda mais feliz ao lado do homem que amava.

Nossa comemoração foi cheia de muitos risos e alegrias, Mary que agora mais do que antes me tratava como filha adotiva, ficou encantada ao conhecer null e o pequeno Joe, assim como fiz com meu marido, contei a toda família null sobre a história da criança. Como esperado, todos apoiaram o que fiz, principalmente o senhor Hwang, que aproveitou o assunto para começar a cobrar netos de minha parte.

— Ainda não me acho preparada para ter filhos. — comentei com Mary ao entrarmos na cozinha — Acho que meu sogro está um pouco apressado.
— E eu estava preparada para ser mãe?! — null entrou atrás de nós com Joe no colo, senti a indireta vindo para mim.
— Você é diferente. — retruquei.
— Nisso eu tenho que concordar. — Mary riu baixo — Você tem cara de pessoas amorosas e carinhosas, mães são assim.
— Viu. — concordei.
— Senhora Mary, assim não vale, não pode defender ela sempre. — reclamou null — Mas devo admitir que estou gostando muito da maternidade.
— E daqui a pouco vai desfrutar do matrimônio. — completei.
null. — ela me olhou séria.
null?! Está noiva?! — perguntou Mary curiosa.
— Oh não. — null se retraiu.
— Ela ainda está solteira, mas tenho certeza que por pouco tempo. — assegurei rindo mais — Estou tentando desencalhar ela.
— Falando assim, parece até que eu estou desesperada. — ela riu junto ao se sentar na cadeira e acomodar Joe em seu colo.
— E quem é o pretendente?! — perguntou Mary.
— Hum… — null me olhou receosa.
— O agente null. — respondi tranquilamente.
— O que?! — disse null ao adentrar a cozinha.
— Oi querido, esqueci de te contar sobre isso. — sorri meio sem graça, aquele não era realmente um segredo, mas só algo aleatório que eu não me lembrei.
— Esqueceu? — ele cruzou os braços — Esqueceu de me contar que quer juntar sua irmão com o agente que quase te jogou na prisão?!
— É esqueci. — confirmei com o olhar mais sereno do mundo.
— Yah, null… Vocês acabaram de reatar o casamento e oficializar tudo, pare de arrumar desculpas para brigarem novamente. — disse null aparecendo ao seu lado — Além do mais, se é para alguém ficar chateado, que seja eu… Fui completamente descartado como opção.
— Desculpa cunhadinho, mas você não faz o estilo da minha irmã. — tentei segurar o riso, mas assim que null começou a rir da cara do irmão, eu segui junto dando algumas gargalhadas com Mary.
— Ei, vocês estão falando da minha vida amorosa. — protestou null — Nem sei se realmente o agente Choi é meu tipo ideal.
— É claro que é. — confirmei desviando meu olhar para null me parecia transbordar ciúmes.
— Podemos mudar de assunto?! — perguntou null.
— Ia sugerir a mesma coisa.

Eu e Mary rimos um pouco deles.

— Preciso antes comentar que já até imagino o motivo disso. — comentou null.
— Apesar de tudo, o agente Choi é uma pessoa legal. — dei alguns passos até null e segurei em sua mão — Podemos conversar.

Ele assentiu com a face entrelaçando nossos dedos, seguimos em direção à varanda do jardim dos fundos, era raridade eu ir para o jardim deles, era um lindo e muito bem cuidado lugar. Segundo Mary, uma amiga paisagista havia projetado aquele jardim como presente de aniversário para ela.

— Que outro segredo em forma de novidade quer me contar agora?! — perguntou ele permanecendo sério, parecia ainda chateado.
— Vai mesmo ficar chateado por algo que esqueci de mencionar antes?! — cruzei meus braços o olhando séria.
— Não. — ele suspirou fraco e envolveu seus braços em minha cintura — Me desculpe…
— Eu entendo que deva ser difícil confiar em mim novamente… — disse me aninhando em seus braços — Mas…
— Darei o meu melhor, para não ser tão ciumento assim. — brincou ele — O que queria falar comigo?
— Eu… Bem, segundo seus pais, temos que legalizar nosso casamento no civil o mais rápido possível, assim serei definitivamente da família… Então, queria te convidar a morar comigo em Manhattan, sei que a empresa do seu pai é aqui…
— Aceito. — disse ele de imediato — Em Manhattan, aqui, na Coreia, não importa o lugar, eu aceito.
— Eu te amo. — disse de forma espontânea e assustadora até para mim.

Ele sorriu de leve com os olhos brilhando.

— Tenho outra novidade para você. — anunciei.
— Que não seja mais um roubo. — advertiu ele.
— Não. — eu ri alto — Sua família foi minha última vez.
— E Bahamas?! — ele ficou um pouco mais sério.
— Foi somente um passatempo. — brinquei.

De início ele permaneceu sério, mas depois de um sorriso meu, ele riu do meu comentário.

— Mas… — mordi meu lábio inferior, não sabia ao certo como ele reagiria em relação aos meus planos futuros.
— Mas?!
— Ando pensando em Yale. — disse diretamente — Uma vida nova merece uma profissional nova e capacitada.
— Fico feliz que queira experimentar a experiência de uma universidade. — ele sorriu — Terá um espaço para seu marido nessa nova fase universitária?
— Mas é claro. — pisquei de leve — Como você disse qualquer lugar, acho que Yale está incluído.
— Estou já curioso para te ver estudando. — brincou ele — Vai ser divertido.
— Bem, não será tão cheio de adrenalina como venho vivendo a algum tempo, mas null me deu a ideia de entrar para o time de líderes de torcida. — eu ri de imediato me lembrando de sua sugestão.
— Isso eu iria querer ver com certeza. — ele riu junto — Estou feliz com sua empolgação.
— Confesso que estou mesmo empolgada com esse lado normal da vida, vou viver coisas que nunca vivi até hoje. — admiti sem medo — Tudo isso por sua causa.
— Minha causa?!
— Desde o momento que entrou em minha vida, não consegui parar de pensar em como seria minha vida com você, uma vida simples e normal. — confessei meus mais profundos sonhos e pensamentos.
— Meu coração acelera quando diz isso. — ele me olhou com carinho — Se for um sonho, não me acorde.
— Se for um sonho, te acordarei com um beijo para viver a realidade comigo. — eu me aproximei um pouco mais dele e o beijei suavemente.
— Acho que vou gostar dessa realidade.
— Acha?!
— Não, tenho certeza. — ele acariciou minha face sorrindo — Quando vamos para Yale?
— No próximo semestre. — respondi — Mas antes, quero uma segunda lua de mel.
— Segunda? — ele riu — Não se contentou mesmo com Bahamas?!
— Claro que não… Estávamos brigados.
— Então, nossa próxima lua de mel será onde? — perguntou meio curioso.
— Gostaria de um lugar calmo e tranquilo, pois Cronos vai conosco.
— Ah, sim, não podemos deixá-lo para trás. — garantiu ele — Que tal Veneza?! É uma cidade tranquila.
— Estava pensando mais na ilha de Jeju. — comentei — Gostei muito do seu país, gostaria de voltar lá.
— Vou te apresentar cada parte da ilha com maior prazer. — ele sorriu parecia ainda mais animado do que eu para nossa segunda lua e mel.

Estava divertido fazer planos com meu marido, porém tinha outros detalhes em minha vida que queria resolver o mais rápido possível, um deles envolvia null e null, o outro era Dean, que mesmo dizendo que eu estava aposentada, jamais conseguiria confiar cem por cento em suas palavras.

- x -

— Bom dia para a mais nova graduada de Yale. — disse null ao adentrar em meu quarto.
null?! — eu que estava virada para o espelho, me voltei para ela — O que faz aqui?!
— Vim para sua formatura. — explicou ela — Bem, não só eu…
— Não me diga que null veio?! — aquilo tinha me deixado chocada.
— Sim, ele disse que não seria bom eu viajar sozinha com duas crianças… — ela começou a explicar com aqueles olhos brilhando, enquanto tocava em sua barriga.
— Não acredito?! — fiquei um pouco mais em sua barriga — Você está grávida?!
— Sim. — ela sorriu timidamente.
null?! Não tem nem seis meses que vocês dois se casaram. — disse um pouco surpresa, estava me sentindo um pouco atrasada por meus anos enrolando para dar netos aos meus sogros.
— Digamos que percebi que uma criança é motivos fortes para null tirar mais férias. — ela riu se sentando na cama e me olhando meio sapeca — Devo te agradecer por isso?
— Pelo que?
— Por me dar uma família completa. — respondeu — Não te contei, mas após o casamento, null pediu para registrar Joe em seu nome.
— Sério?!
— Sim, somos uma família de verdade.
— Não precisa me agradecer por isso, digamos que estava em dívida com você. — pisquei de leve — E onde está meu sobrinho afilhado?
— Com null, lá na sala. — respondeu tranquilamente olhando em sua volta — Estou surpresa por ter morado todo esse tempo em um apartamento pequeno, você sempre gostou de casas grandes.
— Digamos que na média, vida de um universitário não é tão glamorosa assim, então resolvi viver esse lado também. — expliquei.
— Queria ter sido uma mosquinha pra te ver no time de líderes de torcida. — ela riu baixo — Foi legal o vídeo que null gravou e me enviou.
— Ainda morro de vergonha por esse vídeo.

Nós rimos um pouco enquanto eu contava sobre algumas coisas que haviam acontecido na universidade, esses quatro anos de estudos que se passaram foram divertidos e ao mesmo tempo surpreendentes em minha vida. A parte mais linda e aconchegante te tudo era ter null ao meu lado participante de todos os meus momentos de alegria e estresse da vida universitária.

As horas se passaram com null e sua família se hospedando temporariamente em meu apartamento, eu havia ficado um pouco impressionada com a inesperada amizade que meu marido havia feito com nosso agente preferido. Logo à noite, nos reunimos no grande salão onde aconteceria a cerimônia da formatura, junto com o baile que a universidade estava oferecendo aos graduados.

Fiquei feliz pois até Stef compareceu com seu marido, levando o Cronos também, sua felicidade por minhas realizações eram sinceras e a cada dia agradecia por ela continuar trabalhando para mim, porém agora como minha assistente pessoal.

— Quem te viu e quem te vê, senhora LT. — disse uma voz conhecida vinda de trás de mim.
— Tanaka?! — eu me virei e o olhei admirada por ele estar ali acompanhado de Fish — O que fazem aqui?!
— Viemos te prestigiar. — explicou Tanaka com empolgação — Não é todo dia que uma prodígio se aposenta.
— Ei, fale mais baixo. — o repreendi.
— Oh, verdade, havia me esquecido que nosso agente está por perto. — ele riu.
— Nosso agente… De onde tirou tanta intimidade?! — cruzei os braços.
— Dean nos contou algumas partes da história. — respondeu Fish em seu lugar — Para ser sincero, o que aconteceu com você mudou muita coisa em nossa família.
— Sério?!

Desviei meu olhar para null e null que estava bem mais à frente conversando com Mary e o senhor Hwang, eles pareciam concentrados em sua conversa.

— Sim. — confirmou Tanaka — Carl ao descobrir sobre Louise e null, também pediu por sua aposentadoria e agora está afastado de tudo e todos.
— Nossa. — por aquilo não esperava, Carl parecia tão unido e confidente de Louise.
— A última informação que tivemos dele, é que está morando em uma pequena cidade ao sul do México e montado uma cafeteria para ele. — continuou Fish.
— Cafeteria é novidade. — comentei rindo baixo.
— Você sabe que ele sempre foi viciado em café. — Tanaka olhou para o lado, null se aproximava de nós — Estou feliz por sua família, agora só falta um herdeiro.
— Ah não, você também falando de filhos comigo. — reclamei rindo — Um dia quem sabe.
— Tenho certeza que será em breve. — null me abraçou por trás, envolvendo seus braços em minha cintura — Agora não tem mais a universidade entre nós.

Desviei meu olhar para o chão meio sem graça.

— Então você é o famoso null… — Tanaka sorriu — Agradeço o que fez por ela, nossa LT sempre será protegida por todos.
— A filha favorita. — Fish comentou meio amargo.
— Deixa de ser invejoso. — o repreendi — Você também é um bom filho.
— Eu que agradeço por ter cruzado o caminho dela. — disse null com satisfação — Sejam bem vindos a nos visitar.
— Bem, temos que ir antes que o senhor agente nos perceba aqui. — alertou Tanaka — Nos vemos em breve.

Eles se afastaram um pouco e null ficou me olhando desconfiado.

— Não me olhe assim, apesar de tudo, eles também são minha família. — o olhei tranquilamente — Eu saí dos prodígios, mas eles não saíram de mim.
— Porque será que imaginei isso. — comentou eles — Dean os mandaram para ver como estava?!
— Aparentemente vieram por conta própria, ainda somos uma família bagunçada e maluca, mas crescemos juntos e de alguma forma louca somos próximos. — expliquei.
— Até mesmo a Louise?!
— Até mesmo ela, apesar de tudo, ela já salvou minha vida uma vez. — admiti.
— E como tudo está?! — perguntou curioso.
— Não sei, mas até o final da noite terei o prazer de saber, Dean está aqui e participou da cerimônia.
— O que?!
— Louco, mas só quem o conhece consegue perceber que é ele mesmo disfarçado. — voltei meu olhar para um senhor que caminhava de bengala perto da mesa de doces — ele sempre gostou do fato de ninguém desconfiar de um indefeso senhor aposentado.

null voltou seu olhar para a mesma direção que eu.

— Ele é sempre sagaz assim?!
— Costuma a ser pior. — ri um pouco — Vamos voltar para o baile, nunca tive isso na minha vida e estou me divertindo muito com essa possibilidade, mesmo estando nesta idade.
— Nunca se é velho demais para se divertir… Além do mais, pare de falar como uma senhora de idade, para alguém que nem chegou aos 30 anos, você está muito reclamona. — ele me puxou para a pista de dança — Vamos aproveitar a noite.

Assenti sem discutir com ele… Estava mesmo fazendo aquilo para me divertir e viver todos os momentos possíveis que vivia uma pessoa normal, em minha vida de LT jamais imaginaria que pudesse fazer faculdade, me casar, ter filhos, ser uma fotógrafa de verdade.

Meu re-casamento havia sido o início de uma nova vida, porém o divisor de águas realmente foi aquela formatura, o que marcava que meu álibi de fotógrafa estava finalmente se transformando em algo real e verdadeiro em minha vida.

Naquele momento definitivamente a LT havia morrido de vez para mim e não me importava, pois a coisa mais importante e especial que ela havia me dado em troca, após todos esses anos, não seria perdido com sua inexistência: o amor de null!



“Eu não quero dinheiro, eu só preciso de você,
Eu quero tanto você.”
- Lotto / EXO



Epílogo

* null *

Eu estava caminhando com Cronos ao meu lado, um pouco mais atrás dela, era um singelo e aconchegante final de tarde, as folhas do outono caindo sobre o chão e minha linda esposa tirando muitas fotos em meio ao Central Park. Ela ficava ainda mais linda usando aquele vestido rodado, deixava sua pequena barriga um pouco mais a mostra.

— Cuidado. — gritei assim que ela se abaixou para tentar capturar um ângulo melhor com sua câmera.

Eu me preocupava muito com suas aventuras de fotógrafa, principalmente agora estando grávida dos nossos gêmeos. Até hoje me lembro da minha reação estática ao receber essa notícia do médico da família, meus pais vibraram, já que após tanto tempo de espera teriam dois netos de uma vez só. Porém eu fiquei com um pouco de medo de não conseguir ser um bom pai para eles.

— Consegui. — gritou ela ao checar a foto que havia acabado de registrar.

Em um piscar de olhos, assim que um rapaz passou por ela esbarrando um pouco, constatei que ela havia feito algo, assim que me aproximei, ela estava com as chaves do carro do rapaz nas mão.

— Por que fez isso?! — disse pegando as chaves de sua mão.
— Estava curiosa se conseguiria depois de tanto tempo. — ela me olhou com carinha inocente — Não farei novamente.

Eu me afastei dela e corri até o rapaz, o entregando as chaves inventei que haviam caído sem que ele percebesse, então retornei para ela e fiquei a olhando com suavidade.

— Não está bravo, está?! — perguntou ela dando de ombros — Foi só uma brincadeira, eu ia devolver.
— Sei que ia. — concordei sem dar espaços para nenhum tipo de briga.

Não era a primeira vez que ela fazia isso, null vivia me pregando peças roubando algumas coisas de mim para que eu pudesse fazer favores em troca da devolução… Mas com alguém estranho era a primeira vez e isso começou a me preocupar um pouco, se ela estava sentindo falta de sua antiga vida como LT.

— Olha só o nosso casal de Manhattan. — disse null ao se aproximar de repente de nós dois, ele estava acompanhando por uma mulher ruiva, sua aparência chamava a atenção, mas não chegava a beleza de minha esposa.
— O que faz em Manhattan?! E acompanhado?! — perguntei olhando a mulher.
— Boa pergunta. — disse null mudando seu tom de voz deixando seu olhar fixo na mulher.

Algo dentro de mim me dizia que null a conhecia de algum lugar. Logo minha esposa inventou de comprar um algodão doce de um senhor mais a frente, a mulher a acompanhou e eu fiquei parado onde estava com meu irmão.

— Então, onde conheceu ela? — perguntei.
— No meu trabalho, ainda sou um médico conceituado. — ele riu um pouco — Sabe que agora me transferi para o Lenox Hill Hospital novamente, foi lá que a conheci.
— E como se conheceram?!
— Nossa, está parecendo nossos pais… — ele me olhou surpreso — Acaso está desconfiando de algo?
— Não conheço esta mulher, mas minha esposa eu conheço. — desviei meu olhar para a direção de null.
— Pode chamá-la de Sery e fique tranquilo, ela não é uma pessoa perigosa, só é uma prodígio. — disse ele tranquilamente como se aquilo não fosse tão importante.
— O que?! — agora eu estava ainda mais chocado, o olhar de null estava explicado — Você me diz que essa Sery é uma prodígio e não tem nada de mais?!
— Claro que não. — assegurou ele.
— Você realmente gosta de se envolver com eles…
— Falou a pessoa que se casou com a mais especial. — retrucou ele — Fique tranquilo, Sery é uma boa mulher.
— Ouvi meu nome acompanhado de um elogio. — disse a tal Sery ao se aproximar de nós.
null é muito bom para elogios. — null olhou brevemente para Cronos que estava ao seu lado — Acho que está na hora de ir para casa, o que acha null?
— Uma boa ideia.

Sem muita demora nos despedimos de null e sua nova amiga, voltamos em silêncio para casa, assim que entramos na sala Cronos seguiu em direção a cozinha onde ficava sua vasilha de água. null permaneceu perto do sofá me olhando com certa intensidade, porém um sorriso singelo nos lábios.

— Não vai perguntar o que Sery queria? — indagou ela.
— Eu deveria saber?!
— Pare com isso… Sei que está curioso, e tudo o que me perguntar vou te contar. — retrucou ela um pouco chateada — Ela queria que eu a ajudasse em um serviço.
— E você?!
— Não aceitei… — ela foi direta e extremamente honesta no seu olhar.
— Velhos hábitos nunca morrem. — eu estava meio preocupado sim.
— No meu caso sim. — ela deu alguns passos suaves até mim — Você é o meu presente, e me afastarei de tudo que possa me fazer te perder de novo. — ela sorriu para mim me olhando com segurança, mostrando que jamais trairia minha confiança novamente.
— Eu te amo. — eu sorri de volta.
— Eu também te amo. — sussurrou ela.

Lentamente eu fui me aproximando cada vez mais da minha querida esposa, até que meus lábios tocaram os seus com doçura e suavidade, senti seu corpo arrepiar como sempre. Assim como da primeira vez que a vi, em minha cama no meu quarto enquanto se escondia em meio a um serviço maluco, meu coração sempre se acelerava quando estava perto dela.

Sou realmente agradecido por te ter,
O presente que Deus me deu.
- Sing for You / EXO

 

Orgulho: Quando quebramos nosso orgulho e pedimos perdão, uma nova oportunidade se abre em nossas vidas, sendo começo ou recomeço, tudo depende da nossa decisão, pois tudo o que acontece de bom em nossas vidas, é um presente de Deus!
"Se devo orgulhar-me, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza." 2 Coríntios 11:30” - by: Pâms



The End!



Nota da autora:
[ Escrita: 29.03.2016 - 30.03.2018]
Uma mistura de ação e romance, fiquem à vontade para aproveitar dessa fic com seus bias/preferidos de outros grupos. Finalmente depois de dois anos escrevendo me desapeguei um pouco da LT e finalizei, tenho um grande carinho por essa história, principalmente por seu ensinamento e espero que tenham gostado.
Me desculpem qualquer erro de gramática ou betagem, não desistam de mim, kkkk...
Críticas e elogios sempre serão bem-vindos!!

Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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