Postada em: 24/10/2020

Passado

Egito - Alexandria, 325 a.C. 

Parte do oriente médio já estava dominado por um único homem, que ficaria conhecido na história. Seu nome era Alexandre Magnun, que através dos séculos, passou a ser conhecido como Alexandre “O grande”.

Nas altas horas da madrugada, Alexandre sofria de insônia e como não havia dentro de si, vontade de se saciar de vinho ou prazer no corpo de uma mulher, ele resolveu dar um passeio pelo pátio do palácio. Andando um pouco por entre as plantas, decidiu sentar-se em um dos sofás que lá havia, quando de repente, ele viu um vulto e intrigado começou a seguir a sombra por entre as esculturas, árvores e pilastras. Quando se deu conta, Alexandre já se encontrava longe do palácio e no meio do deserto.

— Tem alguém aí?! — gritou ele — essa brincadeira não tem graça.
— Alexandre — disse uma voz suave e doce.
— Quem está aí?! — insistiu ele, ao ouvir a voz e não ver ninguém.
— Oi Alexandre! — disse uma mulher, de olhos claros, pele bronzeada, lábios carnudos e chamativos, um perfume envolvente e enlouquecedor, cabelos longos e negros e um corpo de dançarina do ventre. Ele observou que, ela estava trajando um vestido azul juntamente com acessórios de ouro reluzente.

— Quem é você? — perguntou ele, intrigado.
— Você me chamou, pediu e implorou.
— Não entendi, não chamei ninguém.
— Você pediu vida eterna, lembra? — e sorrindo, ela olhou para sua esquerda e logo uma fonte apareceu — Mas em breve conhecerá a mulher que trará sua ruína.

Alexandre evitou olhar para a fonte que apareceu ao lado da mulher misteriosa. Porém sua curiosidade começou a crescer ao olhar para aquelas águas cristalinas e hipnotizantes. Seus olhos brilhavam a cada gota que caía do chafariz ao centro da fonte, então se esquecendo de todas as palavras da mulher, entrou e mergulhou nas águas da fonte. Instantes depois, ele começou a se afogar e num estalar de dedos, seu corpo se ergueu, fazendo-o perceber ofegante que ainda estava em seu quarto. 

— Que loucura. — sussurrou para si — Nenhuma mulher será minha ruína.

Alexandre voltou seu olhar para a sacada do seu quarto e viu um gato sentado na porta o olhando. Deixando-o intrigado pela sombra do animal que mesmo com a claridade da lua o iluminando, não se projetava no chão.

Você será pego pelas armadilhas que te cercam?
- One Shot / B.A.P



Presente

Portugal - Lisboa, atualmente

Aquele deveria ter sido mais um dia tranquilo em minha vida. Mas claro que ser a Sollary, filha de uma brasileira e um português, não era fácil. E trabalhar como arquiteta no escritório de design da prima do meu noivo, deixava tudo mais complicado. Não pelo meu relacionamento em si com Dimitri, mas pela família Tenebrae, a típica família portuguesa que amava se intrometer em nosso relacionamento. Mesmo não sendo convidados.

Como um bom domingo e Dimitri viajava, resolvi dar uma caminhada pela cidade, primavera era encantadora em Lisboa. O frescor do dia, o perfume das flores pela cidade. Me desviei para o Amoreiras Shopping Center, após algumas compras triviais, resolvi voltar andando para casa. Passando alguns quarteirões, entrei em uma rua lateral aleatória, que estranhamente estava muito escura. Não liguei a primeiro momento, pois a noite já se mostrava com a lua crescente ao céu, continuei caminhando até tropeçar em uma caixa. Mas o que uma caixa estaria fazendo no meio da calçada? Foi a pergunta que me fiz. Olhei em volta e não vi absolutamente ninguém. Entretanto, uma luz que vinha de um bueiro localizado em um beco sem saída, entre dois prédios do outro lado da rua, me chamou a atenção. 

Aquilo me intrigou bastante e como eu não sou curiosa, atravessei a rua e caminhei até o bueiro. Quando cheguei mais perto, comecei a ouvir vozes. E repito, como não sou curiosa, levantei com muita cautela a tampa e desci pelo buraco através de uma escada que estava fixada na parede. Já caminhando pelo esgoto subterrâneo, meu estômago se embrulhou com o cheiro horrível. Após algumas voltas, encontrei uma porta estranha e suspeita, tinha traços de velho, afinal era de ferro e já possuía sinais de ferrugem. Eu abri com cuidado, visando não fazer barulho algum e entrando pé ante pé, vi vários homens engravatados de terno preto, enfileirados formando um círculo, no centro havia outro, ele estava com uma adaga na mão e à sua frente um gato branco com as patas pretas, amarrado sobre uma mesa de vidro. 

O homem ao centro falavam em uma língua estranha, mas deu para entender que pretendia matar o pobre animal. Na hora senti um aperto no coração, de repente me deu uma descarga de adrenalina, meu sangue ferveu e sem pensar em nada, corri até o gato e o peguei mais que depressa. Os homens olharam para mim sem reação e o líder, ainda com a adaga na mão, começou a me repreender, eu acho, não consegui entender uma palavra sequer. Mas algo me dizia que, eu tinha que sair dali bem rápido e foi exatamente o que fiz, não sei como, mas consegui me desviar dos cinco homens do círculo, do líder da adaga e pior, dos dez capangas de azul marinho que apareceram de trás das pilhas de caixas que estavam ao lado da porta. 

Correndo pelos corredores mal cheirosos, o desespero foi tomando conta de mim, eu não conseguia me lembrar por onde havia entrado. Minha preocupação aumentou quando cheguei à uma queda d’água, eu sabia nadar, mas aquele gato que carregava com todo cuidado entre meus braços, com certeza não, além do mais ele parecia tão assustado que se mantinha agarrado ao meu braço. Segundos se passaram e em um piscar de olhos, senti uma mão me puxar e me direcionar para o leste. Segui a pessoa que me guiava segurando em minha mão, de forma ofegante e preocupada com o gato em meu colo.

— Para onde está me levando? — perguntei preocupada.

Quem era ele?

— Para um lugar seguro. — respondeu a voz masculina da pessoa que me guiava.

Eu não imaginava, que coincidências existiam, até que saímos em um bueiro próximo ao prédio do meu apartamento. 

— Não deveria se envolver em assuntos que não é seu. — o homem soltou minha mão e me olhou.

Reconheci seu rosto, era Baker, o vizinho que havia se mudado há duas semanas. Me lembro dos comentário do zelador Clóvis sobre ele ter levado aparelhos estranhos para seu apartamento. Que era ao lado do meu. 

— Do que está falando?! — perguntei em sussurro.
— Vamos entrar. — ele olhou para o gato em meu braço por um momento — Este é meu, estava lá para salvá-lo.
— Me desculpe, por me intrometer, nem sei o porque entrei naquele bueiro. — olhei para minhas roupas sujas e fedendo.

Estraguei minhas botas da Chanel. Pensei comigo.

— Posso pedir que cuide dele? — perguntou o vizinho, entrando no prédio.
— Pensei que o quisesse de volta. — retruquei entrando atrás dele — E como vai ficar aqueles homens? Por que queriam matar seu gato?
— Muitas perguntas para quem não precisa de respostas. — ele se desviou o elevador e subiu as escadas.
— Como não? Eu salvei seu gato. — o confrontei.
— E eu salvei você sem necessidade. — ele parou no degrau me olhou — Não deveria ter entrado nisso, mas agradeço pelo que fez ao Alexandre.
— Seu gato se chama Alexandre? — o olhei impressionada.
— Sim. — ele se virou e continuou subindo.
— Estamos em segurança agora? — indaguei.
— Por enquanto. — sussurrou ele num tom em que eu pudesse ouvir.

Assim que entrei no meu apartamento, acomodei o gato em cima do sofá e enrolei um xale que estava por ali, nele. Fui para meu quarto tomar um banho quente, meu corpo precisava e agradecia. Quando voltei para a sala, o gato havia sumido.

— Como assim?! — eu disse para mim mesma sem entender — Será que ele voltou para casa? Vizinho abusado.

Soltei um suspiro cansado sentindo dores musculares, me deitei para dormir. Mesmo desejando um bom sonho, talvez não seria tão bom assim. 

- x -

Eu não deveria observá-la, mas aquela vizinha enxerida tinha despertado uma curiosidade intrigante em mim. Não deveria ter se envolvido em meu resgate, mas fazendo, eu tinha que garantir sua proteção agora. Mais ainda, tinha que garantir que ela não descobrisse nada, principalmente sobre meus experimentos com o tempo.

No relógio batia seis da manhã, e se arrastou até a cozinha para preparar seu café. Um semblante calmo, aqueles olhos profundos sendo escondidos pela franja, combinava com seus cabelos volumosos e sua pele que reluzia ao brilho do sol. Após o desjejum, foi para o quarto se arrumar. Acho que temos um problema, porque ela demorou apenas 10 minutos e geralmente as mulheres demoram mais. Isso sim é intrigante. Quando ela saiu do prédio, um táxi já a esperava na porta. A segui de moto até seu trabalho, me posicionei em um local estratégico no prédio em frente, de onde a observei se locomover em seu escritório cheio de folhas, revistas, réguas, livros e um computador. 

— Você trabalha. — sussurrei ao admirar como ela não parava nem mesmo para se alimentar direito.

Logo à noite antes do final do expediente, vi ela recebendo uma ligação. Fiquei curioso para saber quem poderia ser. Segui de longe sua volta para casa, ela parecia gostar de caminhar pela cidade, notei que parecia seguir para um endereço específico. Foi neste momento que, retribuí o que ela havia feito por meu gato. parou por um momento em uma rua pouco movimentada, quando foi atravessar para entrar em um sebo, um carro apareceu em alta velocidade. Ela ficou estática. Segui com a moto até ela, parando bruscamente a puxei para mim e segurando em sua cintura, fiz o que não deveria. Salvei sua vida, colocando meu segredo em foco. Apertei o primeiro botão do meu relógio de bolso, nos transportando para o seu apartamento.

- x -

— Como você fez aquilo?! — perguntei em surto olhando para as paredes da sala do meu apartamento — Como viemos para aqui? — disse, andando de um lado para outro — Eu estava prestes a ser atropelada e de repente, você aparece e eu estou no meu apartamento, o que está acontecendo? — parando por um momento, eu o olhei — Quem é você? Estou ficando louca! E tudo começou com um gato.

Me mantive em silêncio a princípio, depois tirei meu relógio do bolso e a mostrei.

— Foi isso. — explicou ele a mim, com naturalidade — Sei que é uma loucura, mas este instrumento é capaz de me fazer desdobrar espaços e me transportar para outros lugares.
— O que? — sussurrei ainda mais desnorteada.
— Sei que é complexo entender no início, mas foi o que fiz para te salvar. — continuou ele — Os homens que tentaram te atropelar, estão atrás de uma coisa que me pertence, e que em mãos erradas por atrapalhar todo curso da história.
— E o que seria? Uma máquina do tempo? — disse contendo o sarcasmo.

Porém, seu silêncio denunciava que não era brincadeira. Aquilo tudo me deixava assustada e perplexa, me sentei no sofá abraçada em minhas pernas. caminhou até minha cozinha e agindo como se fôssemos íntimos, esquentou água na chaleira e me serviu um chá de camomila. Minha reação foi ficar em silêncio e mostrar em meu olhar que precisava ficar sozinha. E ele entendeu ao se retirar.

Passei a noite em claro no sofá, olhando a parede e digerindo toda aquela informação maluca. Na manhã seguinte, assim que o sol entrou pela janela, ouvi batidas na porta que me despertaram o devaneio.

— Dimitri. — sussurrei, um pouco surpresa por vê-lo ali tão cedo.
— Não está feliz em me ver? — perguntou ele.
— Claro que estou. — dei um selinho nele disfarçando meu estado mental e abri mais a porta para que entrasse — É que voltou tão rápido de Coimbra, achei que fosse ficar até sexta.
— Eu também achei, mas foi algo rápido e conseguimos fechar mais uma parceria para a vinícula. — ele sorriu ao me observar — Está tudo bem?
— Sim. — assenti forçando um sorriso — Que um café na varanda? 

Mudei o assunto, mencionando nossa cafeteria favorita.

— Claro, é sempre bom tomar café com minha noiva. — ele se aproximou de mim e me deu um beijo de leve — Está pronta?
— Preciso me trocar, só um minuto. — pedi.

Corri para o quarto e tomei uma ducha rápida. Vesti um vestido azul marinho que combinava bem com uma sandália preta de salto. O olhar de encanto de Dimitri era visível.

— Você está linda! — disse ele.
— Obrigada. — sorri de leve.

Após nosso saboroso café no Frescor da Varanda, Dimitri me levou para o trabalho. Na metade da tarde, senti minha cabeça explodindo de dor, não tive outra solução a não ser voltar para casa e pedir para passar o resto da semana trabalhando home office. Assim que entrei no meu apartamento, joguei minha bolsa no sofá e segui para o quarto enquanto tirava as sandálias dos pés. Quando olhei em direção à sacada do quarto, lá estava o gato Alexandre me olhando. 

— Resolveu aparecer bichano. — terminei de vestir a blusa e me aproximei dele. 

Me abaixei o afagando um pouco, com ele passando sua calda em mim. Logo, o gato se afastou bruscamente e pulou para sacada ao lado, do apartamento de . O olhei sem entender.

— Eu não vou pular aí, se é o que está esperando. — avisei.

Claro que não pularia. Claro… Até que me dei conta, já estava em cima do beiral, esticando o corpo e passando para o outro lado. Eu não tinha mesmo jeito, e sempre era pega por minha curiosidade.

— Gato maluco… Eu não posso invadir a casa do seu dono. — reclamei quase sussurrando.

O apartamento de era definitivamente mais organizado que o meu. E pela falta de móveis, mais espaçoso também. Adentrei um pouco mais, até que peguei Alexandre no copo e reparei uma escrita diferente em sua coleira. Fiz careta tentando ler o que tava escrito, até que uma luz se acendeu de repente revelando uma pequena máquina apoiada em cima de uma mesa de madeira. Deixei Alexandre no chão e caminhei até a máquina, passando meu olhar por ela superficialmente, percebi uma coisa brilhosa. Remexi alguns fios e encontrei uma pulseira, tinha um pingente parecido com o da coleira de Alexandre. 

— O que é isso. — sussurrei analisando.

A pulseira tinha um botão, parecido com o do relógio de . Não deveria sair apertando coisas das quais não conheço, mas meu dedo foi mais rápido que minha prudência. Tudo girou em minha volta, me deixando assustada de novo, senti falta de ar por um tempo até que tudo voltou ao normal e me deparei diante de uma escultura gigante. 

— Onde estou? — sussurrei me segurando para não surtar.

Logo ouvi algumas vozes se aproximando de mim. Me abaixei e escondi atrás da estátua. Observei dois homens que passavam em gargalhadas, falando sobre mulheres e suas curvas atraentes. Um assunto tão nojento que me deu vontade de vomitar. Era estranho conseguir entender o que diziam, mais ainda assim notei pelo linguajar que não representava o século XXI. Onde eu estava? O que essa pulseira fez? Voltei meu olhar para o objeto em minha mão.

— Interessante. — disse uma voz masculina surgindo ao meu lado, logo uma mão tocou em meu cabelo.

Senti um calafrio na espinha, sensação de medo e terror. Virei meu corpo devagar e me vi diante de um homem alto e aparentemente forte. 

— Nunca a vi no palácio. — o homem manteve sua mão tocando meu rosto — Sua beleza é incomum.
— Majestade. — a voz que eu conhecia, de veio atrás de mim.
, olha o que encontrei. — o homem me virou para que visse meu rosto — Ela não é linda?!

Seu olhar surpreso em me ver era visível. engoliu seco, certamente se pudesse, me perguntaria o que eu estava fazendo ali.

— Quem é você, e como entrou no jardim de vossa majestade? — perguntou fingindo não me conhecer.
— Perdoe-me senhor, eu me perdi. — mantive minha voz baixa.
— Isso é bom, pois agora eu a encontrei. — o rei me voltou para ele — E declaro que você será minha.
— Majestade, não sabemos quem é ela, pode ser uma espiã do exército inimigo. — retrucou — Sabemos que seu tio tinha muitos seguidores.
— Então. — o rei segurou em meu braço e me jogou para cima dele — Se encarrega de descobrir quem é ela, depois deixe-a em minha cama.

Engoli seco sem saber o que fazer.

— Eu disse para não se envolver nos assuntos alheios. — sussurrou ele ao me segurar pelo braço — Entra no personagem que eu vou te levar daqui.

Assenti e mantive meu olhar de medo e apavoramento. Descemos pelas inúmeras escadarias do palácio de Alexandria, quanto mais me contava sobre onde estávamos, mais eu surtava. Como era possível estar no Egito em 323 a. C. Era surreal demais para mim.

— Acho que vou levar isso como se fosse um sonho comum. — sussurrei ao entrarmos na sala em que ele usava para interrogar inimigos.
— Se isso te deixar menos nervosa, leve como quiser. — ele permaneceu sério, porém mantendo tranquilidade no olhar.
— Esse lugar é arrepiante. — disse me encolhendo um pouco.
— Vou te tirar daqui. — ele estendeu a mão.
— Para onde vai me levar? — perguntei com receio — Não vai se encrencar por minha causa, vai?
— Se isso é um sonho, não tem porquê ter medo.  —insistiu ele — Meus dias em Alexandria estão contados assim como os de Alexandre na história.
— Alexandre? Alexandre, o grande? — por essa eu não esperava.
— Quando eu disse Faraó, estava me referindo a ele. — ele riu — Não conhece nada sobre isso não é?
— Eu gosto de história, mas sempre fiquei a arquitetura da época e não no contexto histórico em si.

Ele segurou em minha mão e apertando o botão do meu relógio, nos transportou para o meio do deserto. De tarde,demos um salto na hora, o que me fez olhar as estrelas do céu deslumbrada. 

— Está bem frio. — sussurrei ao sentir a brisa gelada tocar minha pele.
— Tome isso. — disse ele ao retirar a capa do ombro e me cobrir.
— Obrigada — sussurrei.
— Preciso que volte pra sua casa. — disse com um olhar preocupado — Não quero que se envolva mais nisso.
— Mas…
— Por favor. — ele me interrompeu — Não volte.

Assenti contrariada. Assim que voltei ao apartamento de , me deparei com meu corpo no chão frio. Me levantei e lá estava seu gato parado diante de mim, como se me aguardasse retornar de minha louca aventura. A semana passou com rapidez, logo na terça retornei ao meu trabalho. Ainda que me forçasse a manter o foco, não conseguia deixa de pensar em e na confusão me arrumei para ele resolver. Contava uma semana que ele não aparecia e eu alimentava seu gato.

— Não acredito. — sussurrei voltando meu olhar para a tela do computador — Para de pensar nele.
— Oi, bom dia! — disse Louise, minha chefe e prima de Dimitri ao entrar na minha sala.
— Bom dia. — a cuprimentei dando um sorriso simples.
— Tudo bem?
— Sim, tudo. Senta.
— Então, como foi a entrega da galeria? Me disseram que trabalhou de casa semana passada. — iniciou ela.
— Não estava muito bem, mas a galeria...
— A galeria, no sábado.
— Ah, a galeria, foi um sucesso, os donos adoraram.
— Que bom, é por isso que você é a minha melhor arquiteta — Louise percebeu que minha atenção estava longe, ela voltou seu olhar para janela e viu o gato lá sentado — Que gatinho mais fofo — ela levantou e pegando-o no colo, perguntou —  Desde quando tem um gato?
— Não é meu. — respondi — É do meu vizinho, estou cuidando enquanto sai de férias.
— Hum… Sempre achei que tivesse alergia. — observou ela.
— Tenho a cachorros, mas sobrevivo com os gatos. — expliquei.
— Qual o nome dele?!
— Alexandre, o nome do gato é Alexandre.
— Nossa que excêntrico — Louise riu — Achou que tivesse perguntando o nome do vizinho?

Ela soltou uma gargalhada exagerada.

— Então, tem mais trabalho para mim? — perguntei mudando de assunto, o que eu menos queria era Louise chegando o assunto no meu noivado com seu primo.
— Hum, não. Você sabe que prefiro lhe passar trabalhos mais complexos, mais rentáveis e que exigem mais tempo. De acordo com a Genevieve, os que chegaram são bem simples.
— Não me importo, desde que me mantenha ocupada.
— Se eu te ocupar ainda mais, meu primo me mata — e olhando carinhosamente para o gato — Posso ficar com ele, até o final do expediente?
— Claro.

Louise saiu da sala com o gato em seus braços. Logo à noite, em meu apartamento, fiquei vendo um filme aleatório na Amazon pelo notebook. Até que Dimitri me ligou.

— Dimitri?
Oi amor! Como foi o seu dia?
— Tranquilo, os clientes adoraram a galeria.
Louise me contou e disse que você tem tempo agora.
— Ela disse é. — e respirando fundo — Que legal.
Que tal eu dormir aí esta noite?
— Não acho adequado.
Tem certeza? — insistiu ele, com malícia.
— Sim.
Quem sabe depois do casamento, minha linda noiva tenha mais tempo pra mim, afinal são cinco anos de espera.
— É, quem sabe... boa noite.
Já estava indo dormir?
— Sim.
Boa noite, então.
— Boa noite.

Desligando o celular, suspirei fraco e voltei minha atenção para a pulseira que mantinha na mesa de cabeceira. Imaginando se deveria ou não colocar ela no pulso e voltar para saber o que aconteceu com . Peguei o objeto e coloquei no meu pulso, dando um suspiro forte apertei o botão e fechei os olhos, pensando nele. 

Assim que os abri, uma biblioteca se colocou diante de mim. Sua arquitetura clássica lembrava os templos gregos, porém continha traços egípcios em sua mistura. Fiquei deslumbrada com todo aquele lugar monumental, comecei a caminhar por entre os corredores, alisando as prateleiras de madeira maciça cheios de livros, pergaminhos e papiros espalhados. Fui seguindo pelo lugar até encontrar um espaço reservado com sofás, como uma sala de leitura. estava sentado em uma cadeira concentrado em na leitura do papiro em sua mão. 

— Que lugar é esse? — perguntei, ao me aproximar dele.

enrolou o papiro e voltou seu olhar para mim.

— O que faz aqui? — ele parecia preocupado.
— Você não voltou, fiquei preocupada. — cruzei os braços — Sei que sua vida não é da minha conta, não sei nada sobre essa coisa de viagens no tempo nem o motivo de fazer isso, mas fiquei preocupada.

Ele disfarçou um sorriso de canto, mas depois voltou a ficar sério.

— Deveria estar preocupada com seu casamento. — retrucou ele.
— Como saber sobre isso?
— O zelador mencionou no dia da minha mudança. — explicou ele.
— O seu Clóvis adora fofocar da vida alheia. — suspirei fraco, voltei meu olhar para a escultura ao seu lado — Não me respondeu. Onde estamos agora?
— Não reconhece? — ele respondeu com outra pergunta.
— Não.
— Você estudou sobre isso na faculdade.
— Que é uma biblioteca já entendi. — afirmei.
— Sim, esta é a Biblioteca de Alexandria.
— Mas ela não foi queimada?
— Não até o momento. — ele se levantou e ficou frente a mim — Não deveria mesmo ter vindo.
— Já disse que…
— Ficou preocupada. — completou ele — Você nem me conhece direito.
— Mas te fiz ficar encrencado por minha causa. — expliquei — Não me impede de ficar preocupada.
— Seu noivo tem sorte. — ergueu a mão direita e tocou minha face com suavidade — De ter você.

Senti um frio na barriga, seguido de um pulsar forte no coração.

— Então é assim que se livrou da espiã. — a voz de Alexandre — Sabia que tinha mentido.
— Majestade. — se colocou em minha frente — Não é o que está pensando.
— Acha que pode mesmo vir do oriente, ficar em meu palácio, comer da minha mesa e ainda ficar com o que é meu? — o olhar de Alexandre para mim estava intenso e raivoso.
— Se está falando de mim, não sou sua propriedade… — tentei me defender daquele machismo ridículo de rei, mas me afastou mais ainda.
— Sai daqui agora. — seu olhar ficou mais preocupado ainda.
— Porque não vem junto? — perguntei, vendo de longe Alexandre retirar a espada da bainha para nos atacar.
— Ainda não posso, me desculpe, agora vai. — ele se afastou de mim e pegando sua espada, começou a cruzar lâminas. 

Eu vi alguns guardas entrarem e no momento em que se moveram para vir atrás de mim, comecei a correr por entre as estantes de livros. Quando me senti longe o suficiente, apertei o botão para voltar para casa. Ao abrir os olhos, soltei um suspiro forte voltando meu fôlego, estava em estado de adrenalina ainda.

— O que foi isso. — sussurrei voltando meu olhar para a pulseira — Não posso deixá-lo lá. 

Mas também não podia voltar novamente, não naquele momento.
Foi difícil levar o dia seguinte de forma normal. Quanto mais me forçava a focar no projeto que tinha implorado para gerenciar, mais eu pensava em . Da forma como ele olhou para mim e de como tentou me proteger do rei maluco. Foi no meu momento de distração no espaço de convivência no terraço do prédio do escritório, que Dimitri apareceu de surpresa.

— Oi Amor! — disse ele, se aproximando.
— Oi. — dei um sorriso surpresa — O que está fazendo aqui?
— Vim buscar você — ele sorriu de volta e me deu um selinho — Estava com saudade, não a vi direito desde que voltei da viagem.
— Hum...
— Não sei se soube, mas minha mãe ligou pra sua, ela queria saber aonde vai ser o casamento, aqui ou no Brasil, onde estão seus parentes.
— Ah… — casamento.

Era a última coisa que eu iria me preocupar no momento.

— Está tudo bem?
— Sim. — assenti, me levantando do sofá.
— Com nós dois?! — reforçou ele.
— Claro que sim Dimitri. — sorri de leve.

Será que estava mesmo?

— Quer que eu te leve pra sua — sugeriu ele colocando as mãos na minha cintura — ou pra minha casa?
— Que tal, eu ir pra minha e você pra sua casa? — retruquei.

Ele tentou conter seu olhar decepcionado.

— Não é uma ideia muito favorável, mas se é assim que você quer. — ele forçou um sorriso — Fico triste por não passar tanto tempo com você, nosso casamento é no próximo mês.
— Me desculpe a falta de reciprocidade, mas estou com algumas coisas na minha cabeça que…
— Ok, eu sei, não vou te cobrar nada, conheço você, sei que é assim. — seu olhar ficou singelo.

Antes de namorado, noivo, Dimitri sempre foi um amigo muito compreensivo que consegui em meio às festas de calouros da Universidade de Coimbra. Dimitri me levou em casa, nos despedimos rapidamente e entrei em casa. Minha cabeça fervia de dor, se era efeitos colaterais dessas viagens malucas eu não sabia, mas precisava de analgésicos e uma noite de sono. Foi o que fiz. Na manhã seguinte mandei uma mensagem ao escritório, trabalharia home office. Louise me mandou uma mensagem perguntando se eu estava bem. Respondi de forma positiva e me levantei da cama.

Troquei de roupa e saí para dar uma caminhada. Não me contive em manter a pulseira no meu pulso, talvez eu devesse mesmo seguir seu pedido e nunca mais apertar aquele botão. Chegando à rua, andei por alguns quarteirões de forma aleatória e sem direção certa. De repente comecei a ter uma sensação estranha de estar sendo seguida, o que se confirmou assim que peguei o celular e liguei a câmera frontal despistando, e avistei três homens atrás de mim. Apertei o passo a primeiro momento e depois comecei a correr, logicamente sendo seguida por eles. Alguns quarteirões à frente, avistei um armazém abandonado, onde entrei de forma desesperada. Dentro havia centenas de caixas e passando por algumas, me escondi entre elas. 

Assim que ouvi o barulho da porta enferrujada se abrindo, a única coisa que me passou pela cabeça foi o que não podia fazer.

Apertei o botão da pulseira novamente.

Meu dia está cheio de você depois de conhecer você
Vendo você ou sentindo sua falta
Meus pensamentos são muito para você, eu não sei o que fazer
O que eu vou fazer comigo mesmo?
Você tem que algo que eu preciso.
- Seeing You Or Missing You / Lunafly



Futuro

Assumo, aquela perseguição me me deixou assustada. Mas agora eu estava parcialmente segura, e de volta a Alexandria de 323 a. C.

— Onde estou agora? — sussurrei.

Observei aquela sala ampla e confortável, cheia de esculturas, um tapete persa no chão próximo a cama, rodeado por grandes almofadas. No canto direito perto da porta de saída, uma estante de porcelana com alguns livros, não havia janela e sim uma sacada longa e repleta de plantas.

— Sabia que voltaria. — disse Alexandre ao aparecer da porta do quarto — Por ele.
— O que fez com ? — perguntei receosa.
— Eu?! — ele sorriu de canto — Nada ainda, mas… Depende de vós.

Engoli seco.

— Podemos fazer um acordo. — propus falsamente — Eu em troca do .
— Você já é minha. — ele deu um passo para mais perto de mim.
— Não, e posso desaparecer quando quiser. — o confrontei.

Ele deu alguns passos até a sacada e ficou observando o horizonte, ver o pôr do sol daquele ângulo parecia ser o privilégio de poucos.

— Sabe o que faz de mim o maior rei que a Macedônia já teve? — ele voltou seu olhar para mim.
— Surpreenda-me majestade. — cruzei os braços mantendo a seriedade no rosto.

Não me intimidaria.

— Eu sempre possuo o que quero. — ele se aproximou de mim — E neste momento, você é o que eu mais quero.

Eu o parei com minha mão direita, para mantê-lo longe.

— Isso me deixa lisonjeada majestade, eu juro, mas nem tudo que queremos é o que temos, e mesmo que seja o rei, tudo tem sempre uma primeira vez. — retruquei com confiança.
— Você me deixa intrigado. — ele tocou de leve em meu ombro, com um olhar faminto que me assustava — Uma vez, tive um sonho que dizia que uma mulher seria minha ruína, tenho um pressentimento que possa ser você, mas não consigo resistir.

Arqueei a sobrancelha direita e no susto me desviei do beijo que ele se inclinou para me dar.

— Antes de tocar em mim, quero ver . — disse em tom de ordenança — Quero ter certeza, temos um acordo?

Ele sorriu de canto e estendeu a mão para a porta. Me deixei ser guiada por ele até uma espécie de calabouço, um lugar sujo e empoeirado, cheirando a mofo. estava acorrentado e com traços de sangue pelo rosto e boca. Não me contive em me aproximar dele e tocar em seu rosto para que me visse.

— O que eu te fiz. — disse não me deixando levar pelo desespero.
— Vizinha, o que faz aqui. — ele parecia ter dificuldade para abrir o olho inchado — Disse para não voltar.
— Não podia te deixar. — sussurrei por minha culpa isso te aconteceu.
— Já estive pior, acredite. — ele tossiu com dificuldade — São ossos do ofício.

Ele tentou rir, mas não conseguiu. Logo senti Alexandre me pegar pelo braço e me arrastar para trás.

— Meu acordo só valerá, ao amanhecer, depois que cumprir sua parte. — ele apertou meu braço, seu olhar não estava amigável.
— Vamos então. — disse mantendo a postura.
… — sussurrou meu nome — Não.

Eu não sabia exatamente o que ia fazer, mas já tinha por mim que eu realmente seria a ruína de Alexandre. Assim que chegamos em seu quarto e ele começou a se embebedar de vinho, aproveitei a menor distração dele para pegar a coisa mais pesada que encontrei e jogar em sua cabeça. Minha experiências vendo filmes na netflix, me fizeram atentar em deixá-lo amarrado e amordaçado. Com certa dificuldade por seu peso. Porém me deu a chance de encontrar as chaves das correntes.

Saí do quarto silenciosamente. Tinha gravado o caminho, corri o mais rápido que pude até chegar no lugar em que estava. Retirando as correntes dele, o apoiei em cima de mim.

— Te peguei. — disse me sentindo mais aliviada — Vamos pra casa agora.
— Sua pulseira, está aí? — perguntou ele.
— Sim.
— Deixe que eu guie. — ele tocou no pingente e apertou o botão.

Aparecemos em seu apartamento, e colo eu o coloquei sobre a cama. Estava tão desesperada andando pelos cômodos à procura de um kit de primeiros socorros ou algo assim que quase trombei no gato dele que parecia carente e com saudades do dono. Depois que cuidei dos ferimentos dele, tentei me afastar para ir embora, porém seu gato pulou em cima de mim, no susto caí na cama ao lado de

— Ele não quer que vá. — sussurrou — E nem eu.
, eu tenho um noivo. — sussurrei de volta.
— Por que voltou então?
— Porque estava preocupada. — girei meu corpo e o olhei — Você foi preso por minha culpa, eu seria em qualquer momento ou não, já disse, já estive em situações piores.
— Me explica então.
— Quer mesmo se envolver mais? Não quero atrapalhar sua vida perfeita.
— Não tenho uma vida perfeita .

Seu olhar demonstrou estar intrigado.

— Por que continua deitada aqui. — perguntou ele.
— Porque seu gato se acomodou entre minhas pernas, não posso fazê-lo sair. — argumentei ingenuamente.

Ele soltou uma gargalhada.

— Tenho que admitir e concordar com Alexandre, você é encantadora. — ele foi se achegando.
. — o parei no meio do caminho — Acho melhor se recuperar, me chame se precisar.

Ergui meu corpo e me levantei. Voltei para meu apartamento e depois de toda aquela loucura, passei a noite em claro processando tudo. Ao amanhecer, despertei de um cochilo ao ouvir o toque do celular. Não me lembrava de tê-lo deixado em casa.

— Alô! — atendi, tentando não deixar minha voz estranha.
Oi filha. — me cumprimentou uma voz descontraída e animada que realmente parecia ser minha mãe.
— Oi... Mãe — respondi pausadamente, sem muito entusiasmo.
Estou esperando você me ligar desde sexta passada.
— Porque?
Pra falar do seu casamento, claro. Falta menos de um mês, temos que acertar se será aqui no Brasil ou aí em Lisboa.
— Mãe, você me liga às seis da manhã pra falar de um casamento que só acontecerá no final do mê? — perguntei a ela, transmitindo minha chateação.
Filha, eu só quero ajudar. Não precisa me tratar com grosseria, afinal de contas faltam apenas alguns dias e você nem mesmo escolheu o vestido, parece que não quer se casar. — ela jogou essas palavras e tinha até um bocado de razão, mas não consegui ficar calada e retruquei.
— Olha mãe, eu te adoro, mas não aguento mais a senhora se intrometendo na minha vida, a minha sogra e toda a família Tenebrae querendo saber de tudo, estou cansada de todo mundo falando na minha cabeça “só falta um mês”, “só falta um mês”, já arrumou o vestido, onde será a cerimônia? Tem razão o casamento é meu! E se eu não quiser mais ele?

Somente depois que a última frase saiu que me dei conta do que tinha dito. Será mesmo que eu queria aquele casamento? Era incrível a ideia de me casar com uma pessoa que também era meu amigo, mas… Eu já não sabia mais nada sobre meus sentimentos por Dimitri.

— Você está certa, fique aí e resolve tudo sozinha, não vou me intrometer mais — a voz dela estava baixa e tranquila, porém eu consegui perceber um fundo de tristeza — Me desculpe pela ligação.

Ao concluir, ela desligou. Eu me senti muito mal por falar daquele jeito com ela. Nossa breve discussão fez com que eu voltasse minha atenção para o casamento que realmente, já estava bem próximo. Até naquele momento, meu envolvimento com só me deixava louca e confusa. Eu já estava acordada e precisava ir trabalhar. Fui até o banheiro e tomei uma ducha rápida, porém relaxante. Vesti uma roupinha básica e segui para o escritório, resolvi variar um pouco e peguei um ônibus até a metade do caminho e segui o restante a pé. Assim que entrei na minha sala, Louise entrou atrás.

— O que está acontecendo com você?
— Comigo? — dei uma de que não havia entendido a pergunta, mas não adiantou, claro — Nada, por que?
, estou preocupada com você, nunca pediu para trabalhar em casa e agora quase todas as semanas fica em home office, tudo bem achei que fosse pelo casamento, mas… Nem mesmo isso tem sido sua preocupação. — afirmou ela.
— Louise, o casamento é problema meu, me desculpe a sinceridade. — iniciei.
— E Dimitri é meu primo, por favor, não o faça sofrer. Se não quer este casamento, diga de uma vez a ele, não fique enrolando. — ela começou a falar de um modo chateado e antes que eu pudesse reagir — A partir de hoje, você está de férias, e aproveite esse tempo para resolver sua vida.

Ela se afastou e saiu batendo a porta.
Suspirei de leve e juntei minhas coisas colocando na bolsa. Ao chegar em casa, liguei a tv e fique estática sem reação. Minha mente não estava ali e só conseguia pensar sobre o que fazer da minha vida. Foi quando bateu na porta da varanda, atraindo minha atenção. Me levantei assustada e segui para abrir.

— O que faz aqui? — perguntei.
— Vim te mostrar que estou melhor. — ele estava com uma calça moletom e curiosamente sem camisa, e portando um cordão em seu pescoço.
— Estou vendo.

Ele riu baixo.

— Me deixe te mostrar a parte boa das minhas viagens. — ele estendeu a mão para mim — Prometo te explicar sobre elas se quiser.

Eu tinha uma escolha de recusar, mas estava com tanta vontade de ir, que não pensei duas vezes e segurei em sua mão. me levou a um salão repleto de pessoas bem trajadas, homens sentados se fartando de vinho e mulheres dançando por todo o salão. Um lugar um pouco aconchegante, com sofás sofisticados folheados a ouro e estofados macios de tecido oriental, cortinas espalhadas pelas paredes e pilastras de pedra grega, algumas esculturas que hoje em dia, valem bilhões e lá estava ele, como se estivesse me esperando. Ele pegou duas taças de vinho e se voltou para mim.

— Eu não bebo — disse a ele, em recusa.
— Que pena. — ele sorriu e devolveu uma taça, bebendo da outra — Lamento por ter visto a parte negativa primeiro.
— Bem, se ser mulher no século XXI já é um desafio, conclui que as mulheres da antiguidade foram guerreiras e valentes. — conclui — É chocante ser considerada um objeto, mas vou sobreviver ao trauma.
— Me desculpe por passar por isso. — seu olhar sincero me cortava ao meio.
— Está tudo bem, não é culpa sua.
— Quer dançar? — ele perguntou de forma aleatória.
— Também não danço.
— Ah, por favor, estamos no meio de uma festa. — ele sorriu com malícia.

Mesmo não querendo muito, concordei com a sugestão dele, afinal eu precisava esquecer os problemas. A música até que estava animada e dançava muito bem, a mistura de malícia e audácia não durou muito tempo. Não podia deixar que aquele momento chegasse longe e fizesse algo do qual pudesse me arrepender. Assim que voltei para casa, não demorou até a campainha tocar, alguém estava batendo à porta. Quando abri, era Dimitri. Não esperava por esta visita, mas o recebi com um singelo sorriso.

— Oi, estava com saudade — disse ele, percorrendo todo o perímetro com o olhar, principalmente a sala.
— Poderia ter ligado antes. — eu disse, meio sem pensar.
— Se quiser, eu posso ir embora — retrucou ele.
— Não, fica. — e olhando para o relógio — Ainda são oito horas.

Ele sorriu para mim e me deu um selinho, pegou o controle e perguntou.

— O que estava assistindo?
— Um filme, eu acho, por que?
— Por nada — ele se sentou e abriu a lista de filmes da Netflix, ficou buscando até parar em um filme de comédia romântica — Vamos assistir esse?
— Claro. — eu concordei, me sentando ao lado dele.

Ficamos observando atentamente cada cena do filme até que, lentamente Dimitri começou a acariciar meu cabelos, confesso que senti um frio na barriga, mas fingi que não ligava até que, ele beijou meu pescoço. Automaticamente, eu senti um arrepio na espinha e cometi o maior erro da minha vida, naquele momento.

— Para !

Isso mesmo, eu disse em alto e bom som,
Eu não queria acreditar que tinha feito aquilo.

— O que você disse?
— Eu... — perguntou ela — Eu…

Nem sabia como explicar.

— Você me chamou de , que é ? — ele se afastou e levantou.
— Dimitri.
— Não mente pra mim — retrucou ele, ficando um pouco mais alterado.
— Ok, eu posso explicar. 
— Quem é ? — ele insistiu.
é o meu vizinho — engoli seco — Ele tem um gato e estou cuidando dele.
— Quer que eu acredite nisso?
— O que quer escutar de mim?
— Não precisa inventar mais desculpas. — seu olhar estava frustrado e triste — O casamento está cancelado.
— Dimitri não…
, por favor, ainda quero ser seu amigo, então não diga mais nada.

Ele se afastou mais e saiu do apartamento. Em segundos, algumas lágrimas escorreram por meu rosto.

— Eu lamento. — disse ao adentrar a sala e se aproximar de mim.
— A culpa não foi sua, meu noivado já estava mal das pernas há muito tempo. — expliquei — Em um único dia, eu discuti com minha mãe, fui dispensada do trabalho, terminei o noivado… Só falta o meu apartamento pegar fogo.

Tentei brincar e rir junto com ele.

— Isso não vai acontecer. — assegurou ele — Eu trabalho pra uma associação, eles inventam muitas coisas e me deram recursos para construir esses objetos do tempo, claro que informações vazam e pessoas com interesses próprios vivem aparecendo para… Você sabe.
— Porque quer me contar sobre isso? — o olhei séria — Você disse que não tem volta.
— Posso estar sendo egoísta, mas é a forma que tenho de te manter por perto, talvez. — seu olhar sincero me estremeceu.

Não consegui me manifestar, permaneci em silêncio até que ele segurou em minha mão e nos transportou para um oásis em meio o deserto. Fiquei maravilhada com os mais diversos tipos de flores, um lago e várias palmeiras. 

— Como conheceu essas pessoas? — perguntei ao parar em frente ao lago.
— Elas vieram até mim. — respondeu — Eu era uma criança promissora em ciências.
— Uau. E posso saber o nome da associação?
— Não.
— Hum… O que aconteceu sobre contar tudo?
— Quase tudo. — ele sorriu de canto.
— E o que faz no passado? Além de bajular aquele rei e quase ser morto.
— Caça ao tesouro, existem riquezas que foram perdidas pela história, eu as recolho antes de se perderem.
— Essa é uma forma chique de falar que volta no tempo para fazer roubos? — perguntei arrancando gargalhadas dele.
— Não, me senti ofendido, mas… Confesso que temos uma meia verdade aqui.
—  Hum. — ri de leve.
— O que foi? Seu olhar mudou.
— Estar aqui, me lembrou que preciso me desculpar com a minha mãe — expliquei — Acho que vou passar alguns dias no Brasil.
— Posso ir com você? — perguntou ele.

Me senti tão confortável com a companhia dele na viagem. Quando desembarcamos no aeroporto de Guarulhos no Brasil, seguimos para Belo Horizonte.

 — Estamos em BH. — disse ela, ao me tirar da caixa — Minha mãe mora em Ouro Preto. Vamos dormir em algum hotel hoje e amanhã cedo, vou ver minha mãe. — e me olhando de forma séria, ela ressaltou — Sozinha.
— Você quem manda. — assegurou ele.

Até que o quarto do hotel não era 5 estrelas, mas conseguia ser confortável a seu modo. Pedimos um quarto com duas camas. Eu precisava de um tempo para entender seus sentimentos e não queria que nossa aproximação interferisse nisso. Eu era meio sistemática nesses quesitos.

Terça-feira, amanheceu chovendo. Contudo, pegamos a estrada e fomos para a cidade de Ouro Preto. A cidade continuava linda como sempre, enquanto eu conversava com sua mãe, ele poderia fazer alguns passeios turísticos. A casa da minha infância continuava a mesma, bem rústica, e apesar de não ser no centro comercial, o estilo barroco combinava com o clássico arcadismo. Bati na porta ainda com receio, até que dona Helena abriu.

— Oi, mãe! — a cumprimentei quase sussurrando, eu não pude evitar de sentir aquele cheiro maravilhoso que vinha através da porta da cozinha.
— Oi, — respondeu ela, num tom seco e ríspido — Entre.
— Obrigada! — assim que entrei, sorri ao olhar para o porta retrato e ver minha foto de criança — E o papai?
— Está viajando, foi convidado a participar de uma palestra na USP — minha mãe fechou a porta e se dirigiu para a cozinha.
— O cheiro está muito bom — elogiei a seguindo.
— Não devia estar em Lisboa, preparando o seu casamento? — perguntou, retirando do forno à lenha, um tabuleiro de alumínio com uma torta de frango, que me deu água na boca.
— Dimitri e eu, cancelamos o noivado. — respondi pausadamente, num tom baixo.
— Já imaginava, e o que veio fazer aqui?
— Vim pedir desculpas. Não deveria ter falado daquele jeito com a senhora. Me desculpa, por favor.

Minha mãe sorriu e me olhou com compreensão, me abraçou carinhosamente, sussurrando em seu ouvido:

— É claro que te desculpo, filha.

Passamos a tarde conversando. E contei a ela parcialmente sobre , neguei todas as indagações relacionadas a envolvimento sentimental, e disse que era somente um amigo. Assim que escureceu, ele apareceu para conhecê-la. 

— Eu guardei pra você — disse para ele assim que o convidei a se sentar à mesa.
— Sua mãe é compreensiva. — disse ele voltando seu olhar para a fatia de torta.
— Sim e me fez muitas perguntas sobre você, o que fazia, sua família.
— Mãe é mãe em qualquer lugar. — ele riu escorando a mão no encosto da cadeira.
— Agradeço por me acompanhar. — disse a ele dando um sorriso.
— Eu gostei de viajar de avião, fazia tempo que não entrava em um. — brincou ele.
— Ainda precisa voltar para Alexandria? — perguntei temerosa.
— Não. — respondeu — Tudo que queria, consegui encontrar.
— E agora? Como ficamos?
— Sobre?
— O rei? Alexandre. — expliquei.
— A noite que me salvou foi a três dias antes dele ir para Babilônia e morrer na história, então… Nada foi alterado, fique tranquila. — respondeu ele.
— E para onde vai agora?
— Minha lista é grande… E estou em dúvida entre a muralha da China e a excalibur. — tinha uma serenidade em sua voz.
— E precisaria de ajudante? Assistente? Alguém pra carregar a mochila? — perguntei fazendo-o rir.
— Você quer ir? — ele se voltou para mim novamente me olhando com intensidade.
— Sim.
— Tudo bom, com uma condição.
— Qual? — perguntei.
— Você escolhe o próximo lugar.

Sorri animada. Minha mente começou a imaginar quantas aventuras eu poderia ter com ele, quantos lugares maravilhosos poderia conhecer. Entretanto, meu devaneio momentâneo foi cortado por uma ação lenta e suave dele, que me beijou de surpresa.

Senti meu coração acelerar um pouco com aquilo e se aquecer ao mesmo tempo. Um beijo que me fazia esquecer de tudo ao meu redor e somente querer eternizar aquele momento, hora após hora.

If you're lost you can look
And you will find me, time after time
If you fall I will catch you
I'll be waiting, time after time
If you're lost you can look
And you will find me, time after time
If you fall, I will catch you
I'll be waiting, time after time.
- Time After Time / Cyndi Lauper

Tempo: Existem dois dias em nossas vidas onde nada pode ser feito, o ontem e o amanhã, então viva o hoje como se fosse o último dia.” - by: Pâms



FIM!?



Nota da autora:
Mais uma fic, agora com essas viagens no tempo, espero que tenham gostado, me baseei um pouco no relógio do MV do Monsta X, Dramarama.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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