Finalizada em ou Última atualização: 19/12/2021

Rain Love

Não era costume chover no verão, entretanto estávamos falando de da cidade de Portland, a chuva era sua característica mais marcante. E lá estava eu, olhando as gotas escorrerem pela janela da clínica, com o coração pulsando forte devido as lembranças doces que me aquecem por dentro.

Não podia negar que estava sentindo uma saudade descontrolável daquele olhar atraente e bobo que sempre tinha em mim. E desde que ele se foi para a universidade da Columbia e se estabeleceu profissionalmente em Manhattan depois, não consegui deixar de pensar nele nem por um dia. De amigos a namorados, nossa história começou no jardim de infância, sua mãe era a nossa professora e logo descobrimos uma afinidade incomum. Era louco pensar que mesmo nossos gostos sendo tão diferentes, era o que nos completava.

?! — Lauren me chamou da porta, despertando minha atenção para ela — Vai agora, ou mais tarde?
— Vou daqui a pouco, preciso terminar de avaliar o prontuário do senhor Dingo. — respondi, voltando meu olhar para os papeis em minha mão — Depois eu vou para casa.
— Ok, se precisar de mim, estarei conferindo o estoque de medicamentos. — avisou ela, se espreguiçando um pouco, certamente sentindo as rotineiras dores na coluna.
— Obrigada Lauren. — agradeci de imediato e retornei a minha atenção ao prontuário.

Minutos depois saí da minha sala e segui para onde o senhor Dingo estava. O pequeno maltês preto estava com alergia alimentar e precisaria passar o final de semana em nossa clínica veterinária. Ele estava tão amoadinho em sua caminha que cortou meu coração.

— Olá senhor Dingo, como está hoje? — disse ao colocar as luvas e acariciá-lo um pouco — prometo que seu dono voltará amanhã para te levar para casa, mas tem que me prometer que vai melhorar até amanhã.

Sorri de leve e me afastei. Assim que retirei as luvas descartando-as no lixo, lavei as mãos e voltei a minha sala, juntei os papéis em cima da minha mesa, arquivando os necessários e deixando os outros na pasta acessível na gaveta da mesa de trabalho. Então peguei minha bolsa e me dirigi em direção ao estacionamento ao lado da casa onde a clínica funcionava.

Eu nunca imaginei que realmente fosse seguir a carreira de veterinária, mas aqui estava eu com minha própria clínica recém inaugurada na cidade, após retornar de uma temporada trabalhando em Seattle. Meu lado indeciso demorou um pouco para chegar a certeza que era aquilo que me faria feliz no futuro, e devo admitir que meu amor por animais ajudou muito na escolha final. E receber uma bolsa de estudos para Stanford University na Califórnia definitivamente veio como um sinal divino que eu não deveria recuar.

Chegando ao lado de fora, me deparei com um aparente temporal. A chuva estava mesmo forte e parecia não acabar tão cedo. Corri até o carro e entrei rapidamente, dando a partida, eu passaria na casa dos meus pais antes, era aniversário de casamento deles. Não podia deixá-los de prestigiar, entretanto não estava tão animada assim, primeiro pelo tempo e segundo pelos comentários sobre eu estar na casa dos trinta e ainda estar solteira e não ter vida social.

— Que bom que lembrei de comprar o presente deles ontem. — sussurrei de leve ao estacionar em frente a casa da família.

Após a partida do meu melhor amigo, eu que não conseguia muito fazer amizades novas, acabei me jogando nos estudos e no trabalho depois. Soltei um suspiro fraco, ao perceber que a casa estava bem movimentada, e pegando o presente deles saí do carro. Não demorou muito para a porta se abrir depois que toquei a campainha. E fui recebida por meu pai.

— Boa noite. — disse ao elevar a mão mostrando a sacola com o presente.
— Boa noite, querida. — ele abriu um largo sorriso e me abraçou forte — Que bom que veio.
— Eu não deixaria de vir em um dia de comemoração. — assegurei a ele.
— Olha só, minha menina chegou. — a voz de minha mãe soou vindo da cozinha.

Eu adentrei mais e percebi que ela estava acompanhada pela senhora Moore, a mãe de . Assim como nós, nossos pais também eram muito amigos e sempre torciam para que seus filhos se casassem.

— Olá senhora Moore. — disse ao cumprimentá-la — Já faz um tempo que não a vejo.
— Olá querida. — ela veio ao meu encontro e me abraçou antes da minha mãe — Que bom te ver novamente.

Após abraços fortes e cumprimentos a todos, segui até a cozinha atrás delas para ajudá-las a finalizar o preparo do jantar. Brevemente senti falta da presença de algumas pessoas.

— Onde estão Jack e Rose?! — perguntei por meus primos, me sentando na cadeira observando-as — E a tia Ariel?
— Já devem estar chegando. — respondeu minha mãe.
— E o senhor Moore? — continuei.
— Ah, o John foi comprar mais alguns refrigerantes. — explicou a senhora Moore.
— Vamos combinar Marg que ele queria um pretexto para comprar cigarros escondido. — comentou minha mãe.
— O senhor John parou de fumar finalmente? — fiquei impressionada.
— Ele tenta me enganar, mas não consegue. — Marg riu de leve — E olha que o médico o proibiu, mas o John não respeita.

Nós rimos de leve.

— E você querida? — Marg me olhou.
— Eu o que? — perguntei intrigada.
— Sua mãe me disse que ainda está solteira. — comentou ela — Queria tanto que você e meu filho tivessem dado certo, mas os dois são tão cabeça dura para isso.
— Somos muito diferentes e muito parecidos em várias coisas. — brinquei — Mas pelo menos somos amigos.
— Deveriam ter continuado namorando e depois casado, mas um me resolve ir para o outro lado do país e a outra para a Califórnia. — minha mãe entrou na conversa, ela ainda tinha suas mágoas quanto ao assunto.
— Nós dois apenas fizemos nossas escolhas. — tentei me defender.
— Não é o que eu falo, agora eu poderia ter um neto. — concordou Marg com um tom de frustração — Mas aquele desalmado disse que em breve iria me apresentar a futura esposa dele.
— Ele está namorando? — perguntei, sentindo um aperto no coração.
— Eu lá sei. — respondeu ela incerta — Acho que sim, o que meu filho mais fez na faculdade foi estudar e estudar, agora no trabalho não sai, vocês realmente se parecem mesmo.

Eu ri baixo.

— E ela ainda ri. — minha mãe me repreendeu de leve, como o olhar indignado.
— Queria que fosse você. — Marg foi direta em sua preferência, soltando um suspiro fraco — Só espero que não seja nenhuma patricinha mimada.

Foi então que eu soltei uma gargalhada boba. 

— Tenho certeza que não é, esse não é o estilo do . — assegurei a ela.
— Eu recebi uma ligação dele esse semana, disse que virá para o natal e trará uma convidada. — anunciou Marg, voltando a ajudar a minha mãe com a travessa de vidro de assado do forno.

Eu tentei disfarçar minha tristeza interna. Pensar que meu melhor amigo estava em um relacionamento sério com outra pessoa que não fosse eu, era como uma facada em meu coração. Mas há anos atrás nosso acordo foi de seguirmos nossos sonhos e nos apoiar seja qual for nossa escolha para o futuro. Então eu o apoiaria, apesar de que sempre estava o esperando por todo esse tempo, mesmo que de forma inconsciente.

Durante o jantar, permaneci em silêncio. Não estava mesmo preparada para uma notícia como aquela. Ao final da noite, o casal Moore já havia retornado para casa, aproveitei a deixa para me despedir dos meus pais também e seguir meu caminho. Minha mãe queria que eu dormisse lá, por causa da chuva, entretanto enfrentei novamente a tempestade. 

Cheguei em meu apartamento totalmente molhada, pois meu carro havia estragado no meu do caminho, tive que sair correndo pela rua até encontrar uma loja de conveniência porque a bateria do meu celular também havia terminado. Aquele definitivamente não era o meu dia, então esperei por um tempo até que o reboque chegasse.

— Finalmente terminamos mais um dia. — sussurrei ao entrar em casa, voltando o olhar para o relógio do celular — Se bem que… Ainda não deu meia noite.

Eu joguei a bolsa no sofá e se espreguiçou um pouco. Assim como Lauren, em raros momentos também sentia minha coluna reclamar. Segui em direção ao banheiro tirando a roupa pelo caminho e tomei uma ducha quente e relaxante, assim não ficaria resfriada. Coloquei o roupão de banho e segui para a cozinha, meu próximo passo seria preparar um bom chocolate quente para mim. 

Quando iniciei o preparo, o interfone tocou, era o porteiro dizendo que havia alguém da minha família na recepção querendo falar comigo. Achei estranho de início, mas pensei que pudesse ser minha mãe por eu ter esquecido algo, então autorizei a subida. Minutos depois bateram na porta, ao abrir meu corpo gelou de imediato assim como minha mente.

? — disse o nome da última pessoa que sonhava ver naquele dia.
— Oi . — ele sorriu de canto, aquele sorriso que continua uma ponta discreta de malícia. 
— O que faz aqui? Não era para estar em Manhattan agora? — perguntei ainda estática.
— Não vai me convidar para entrar antes de fazer perguntas? — brincou ele com aquele jeitinho bobo.
— Claro. — eu abri um pouco mais a porta e o deixei passar.

Após fechar e passar a volta na chave, voltei a olhar para ele e notei que o mesmo mantinha seu olhar em minhas pernas. O mesmo de sempre. Então cruzei os braços e esperei até que ele levantasse o olhar.

— Você continua a mesma. — comentou ele, se fazendo de vergonhoso ao fixar seus olhos nos meus.
— Devo levar como um elogio?! — me mantive séria.
— O que você acha? — ele deu alguns passos para mais perto de mim — O que meus olhos dizem?
— Seu bobo. — eu o empurrei de leve assim que se aproximou mais e ri dele — Fique aqui que eu vou me trocar.
— Porque? Você está tão sexy assim. — ele piscou de leve.
— Mercenário. — brinquei me afastando em direção ao meu quarto.

Assim que me troquei e coloquei o pijama com um casaco de linho por cima, retornei à sala. Lá estava ele sentado no sofá de forma despojada com um olhar sereno para mim. Eu não sabia como classificar o estado do meu coração, surto ou colapso.

— Agora pode dizer o que faz aqui? E não trabalhando na sua cidade? — voltei a cruzar os braços para ele.
— Precisava conferir uma coisa antes do natal. — respondeu ele, enigmaticamente.
— Conferir o que? — indaguei.
— Como você está. — ele se levantou para vir até mim, porém eu me desviei dele indo para a cozinha.
— Sei. Gostaria de um chocolate quente? — perguntei, abrindo o armário para pegar os ingredientes.
— Gostaria da sua atenção. — ele se aproximou novamente — Está fugindo de mim?
— Não. — continuei minha atenção nos objetos em minha mão, até que ele os retirou e me fez virar para ele — Eu só estou tentando ser uma boa anfitriã.
— Eu te conheço desde o jardim de infância. — ele segurou em minha mão, mantendo um olhar firme para mim — Sempre que está chateada comigo fica assim na defensiva se afastando. O que está acontecendo?!
— Nada. — eu tentei me soltar dele, sem sucesso.
! — ele insistiu.
— É que sua mãe disse que você viria para o natal com uma convidada e… — eu dei uma pausa para respirar fundo, não sabia como colocar em palavras minha chateação — você está molhado, acho que deveria se trocar.

Só bem próximo a ele consegui perceber seu estado físico. Claro que assim como eu, ele enfrentou a chuva lá fora. 

— Não importa como eu estou, só importa como você está. — disse ele.
— É verdade então? Você vai mesmo se casar com alguém? Quem é ela? — perguntei em uma mistura de nervosismo e ansiedade.
— É por isso que estou aqui. — ele sorriu de canto para mim, me deixando mais nervosa e apreensiva.
— Não sorria assim para mim. — eu o empurrei chateada e dei um passo para trás.
— Nós prometemos uma coisa quando eu fui para a Columbia University, você se lembra? — perguntou ele, mantendo um tom sério.
— Sim, que iríamos esperar um ao outro. — disse quase em sussurro.
— Eu voltei porque precisava saber se estava me esperando assim como eu estive te esperando todo esse tempo. — ele iniciou sua declaração, fazendo o meu coração acelerar um pouco — A convidada que eu levaria a casa dos meus pais no natal, é a minha futura esposa e é por isso que estou aqui.
— Por que? Eu não te entendo. — estava ainda mais confusa com aquilo.
— Porque para te apresentar como minha noiva, preciso antes te fazer o pedido. — ele deu dois passos para trás e se ajoelhou no chão — Anderson, você aceita…

Antes que ele pudesse finalizar, eu me joguei para cima dele e o beijei com intensidade e um toque de saudade acumulada. correspondeu na mesma proporção, tanto que caímos no chão ao desequilibrar nossos corpos. Após o beijo, começamos a rir com aquilo, e meu coração acelerado.

— Vou levar isso como um sim. — brincou ele, me aninhando ao seu corpo — Eu te amo, e não posso mais passar um dia sem você.
— Idem. — eu disse num tom bobo, enquanto ele enrugou a testa, segurei o riso.
— Você deveria dizer que me ama também. — reclamou.
— Eu te amo também! — eu girei um pouco nossos corpos para ficar por cima dele e sorri — E estava com saudades.

Ele apenas sorriu de canto e iniciou mais um intenso e doce beijo. Eu não gostava muito de chuvas, mas neste dia ela havia trago ele para mim.

 

Apenas saiba que eu estou aqui esperando
Que você venha com a chuva.
- Come In With The Rain / Taylor Swift

 

Tempo: Por um amor verdadeiro, vale a pena esperar.” - by: Pâms.



FIM.





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