Finalizada em ou Última atualização: 15/11/2022

Não chore, sorria

Agradeço

Outono de 2017
Lisboa, Portugal

Para aqueles que não acreditam em um casal perfeito, é porque nunca conheceram e . Amigos desde sempre que se conheceram no jardim de infância, construindo um forte laço ao longo dos anos e muitas turbulências familiares no meio, a começar do divórcio dos pais de . Para ambos, tudo era motivo para se verem, principalmente se houvesse um balde de sorvete envolvido nos desabafos mútuos.

Uma vez, quando completaram 10 anos, quase chegaram a pensar que poderiam ser como irmãos gêmeos de tanto que seus pensamentos se completavam, e suas ações confirmavam a sincronia de ambos. Isso levou aos dezesseis anos, voltar seus olhares para outras garotas quando cismou que tinha que ter uma namorada, assim como os outros garotos do time de basquete. 

E também foi a confirmação para , que não conseguiria ver seu amigo sorrindo para outra garota que não fosse ela. Assim como , ao ver um veterano roubar o primeiro beijo de sua amiga, no acampamento de verão do senhor Connor. Então, após uma longa e honesta conversa, que partiu dela, definitivamente ambos chegaram à mesma conclusão: eles se amavam demais para pensarem um futuro um sem o outro.

Após a formatura do ensino médio, um grande desafio se colocou diante do casal, a distância causada pelas universidades do Porto e de Lisboa. Ele estudando engenharia da computação e ela fazendo jornalismo, entre madrugadas em claro fazendo vídeo chamadas enquanto estudavam e várias mensagens ao longo do dia. Resultando em um pedido de casamento após a formatura e muitos planos para o futuro, que animaram não somente o casal como as duas famílias e os amigos em comum.

Até que um dia, as lágrimas de tristeza bateram na porta e infelizmente não conseguiram evitar atender. Foi em uma festa de natal, desmaiou pouco depois da ceia e foi levado às pressas para o hospital. Horas depois e o diagnóstico que deixaria todos desestabilizados saiu. O noivo em questão tinha um tumor cerebral benigno, com estimativa de 12 meses de vida com tratamento, caso não quisesse se submeter a cirurgia de retirada.

Agora, sete meses depois da notícia, estava o casal com uma importante decisão em suas mãos.

— Então… Se ele não fizer a cirurgia, ficarei viúva em três meses? — indagou , sentindo um grito preso em sua garganta.

Aquela era a segunda internação de em menos de um mês. Eles tinham se casado no civil no início do verão para aproveitar a estação favorita de . Foi oficialmente a melhor fase do relacionamento de ambos, até que as folhas do outono apareceram e com elas, vários desmaios e internações.

— Eu lamento ter que lhes dar essas opções. — disse o dr. Foster, com o olhar compadecido pelo jovem casal.

Não era exatamente a notícia que esperava naquela tarde refrescante de outono, não depois de um leve piquenique improvisado no jardim do hospital. E principalmente sendo o dia de ação de graças, a data favorita do casal.

— Você disse que eu tinha um ano com o tratamento doutor. — questionou , tentando manter suas esperanças.
— Infelizmente o tumor tem avançado de uma forma inexplicável. — explicou o médico cirurgião — Eu insisto que a cirurgia, mesmo sendo delicada, poderá ser um sucesso e as chances de ter sequelas serão mínimas.
— Não. — os olhos de encheram de lágrimas mais uma vez — Eu prefiro tê-lo por três meses que perdê-lo amanhã.
— Faremos amanhã. — disse o marido, convicto de sua decisão individual.
?! — ela o olhou, desacreditada em sua decisão egoísta.
— Eu vou deixá-los à sós para conversarem e decidirem juntos o que farão. — disse o doutor, ao se afastar para retirar-se.
— Já está decidido, doutor Foster, faremos amanhã. — disse ele, ao começar a se sentir estranho.

Em um piscar de olhos o corpo de iniciou uma sequência de tremores, fazendo o médico concluir que o rapaz estava tendo um ataque de convulsão. Após o apito dos aparelhos e a entrada ligeira dos enfermeiros, foi retirada do quarto por um deles, sendo levada à sala de espera em pleno desespero interno. Ela já não conseguia mais reunir forças para ver seu melhor amigo naquele estado, acompanhar todo aquele processo lhe deixava tão doente quanto ele estava.

Após duas horas, finalmente ela teve autorização para vê-lo. Entrando no quarto, se encontrava adormecido pelo sedativo. E foram mais longas horas com observando seu marido, até que no ímpeto de sua tristeza e em lágrimas, ela começou a orar.

— Oi Deus, sou eu de novo… — sussurrou ela, sentada na cadeira ao lado da cama dele, segurando na mão esquerda do marido — Não temos nos falado com tanta frequência, confesso que já faltei a igreja por vários domingos nos últimos meses e sei que hoje é um dia para agradecer e estar grato, mas… Não tenho forças para isso, é a única coisa que consigo pensar é implorar para que salve do . Por que isso tem acontecido com ele? Se o curar, certamente lhe serei grata pela vida toda.

Ela chorou mais um pouco, até que sentiu o movimentar do corpo dele.

— Não se pode barganhar com Deus. — disse , com a voz baixa, porém brincalhona.
. — ela levantou a cabeça, tentou suavizar o olhar, porém seu rosto molhado pelas lágrimas era visível.
— Não chore mais, por favor. — pediu ele, sorrindo de canto.
— Você me pede o impossível. — retrucou ela, tentando se recompor ao soltar sua mão.
— Está tudo bem? — perguntou ele, ao segura sua mão novamente.
— Não, não está. — sempre foi muito sincera com seus sentimentos para com ele, nunca lhe escondendo nada.

Seja alegria ou frustração.

, como pode fazer uma escolha tão importante sem me consultar? Sem ao menos considerar minha opinião? — seus olhos novamente encharcaram de lágrimas.
. — ele sorriu com mais sutileza para ela — Eu não quero apenas três meses com você, eu quero uma vida inteira, e se temos uma chance, não quero desperdiçar.

Ele a puxou para mais perto, fazendo o gesto para que ela se deitasse ali ao seu lado. De início recusou, porém seu marido lhe fez algumas cócegas para que as lágrimas da esposa se transformassem em risos e um gesto de rendição. Então, ela se deitou, aninhando em seus braços sentindo as batidas do seu coração.

Segundos de esperança, até que os pensamentos negativos lhe invadissem a mente.

— E se você morrer amanhã? — sussurrou ela, sentindo o coração apertado em agonia — Não saberei viver em você.
— Eu não vou. — assegurou ele, confiante.
— Mas e se morrer? — insistiu ela.
— Então terei vivido a melhor vida que alguém poderia ter. — afirmou ele, sentindo o doce perfume da esposa.

já se sentia agradecido apenas por ter vivido todos aqueles anos na companhia de sua melhor amiga. Todas as aventuras que viveram, os beijos que roubaram um do outro, as confissões que trocaram. Seria grato por cada sorriso que provocou no rosto dela, desde o primeiro ao último.

— Não fale assim. — reclamou ela, com a voz falha.

ergueu seu corpo e o olhou com seriedade. Não se conteve em seu pensamento ao imaginar a possibilidade daquela ser a última noite de ambos juntos. De nunca mais passar as tardes de domingo passeando de bicicleta com ele, ou ser acordada pelo cheiro de café pela casa, ou quebrar a cabeça para pensar em um presente de natal para ele, mesmo sabendo que a única coisa que o marido deseja é passar a noite entre beijos apaixonados.

E mais lágrimas escorreram por seu rosto.

— Amor, não chore esta noite. — disse ele, erguendo seu corpo também e enxugando suas lágrimas com o dedo indicador — Apenas me ame, como eu te amo.

tocou seus lábios com os dele, em um beijo apaixonado e desesperado. Por mais que demonstrasse externamente que estava confiante em sua decisão, sendo forte por ele e a esposa, por dentro, ele também temia estar pela última vez com sua amada nos braços. 

De suave e doce, as trocas de carícias foram ficando mais intensas entre ambos. E em um súbito gesto inconsciente de despedida, ele não se importaria nenhum pouco de quebrar os protocolos pré-cirúrgicos e as regras do hospital, ao profanar aquela cama em uma última noite de amor… Ou a primeira de muitas outras que seguiram para o casal.  

Então, amor, não chore, chore.
Apenas deixe meu amor ser como uma memória.
- Baby Don't Cry / EXO

Amor: Um dia me disseram que o sorriso é uma forma de mostrarmos o quanto gostamos de alguém. Hoje me perguntaram se eu gostava de você, e eu apenas sorri.” - Pâms




FIM?!



Nota da autora:
Hello gente, mais um ficstape. Bem curtinho e cheia de lencinhos e lágrimas. Espero que estejam torcendo para um futuro para este casal.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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