Finalizada em ou Última atualização: 16/06/2024

Escolhas

Eu bem que poderia considerar aquele dia, uma perfeita sexta-feira 13 regada a má sorte e desastre, entretanto, era o segundo dia do ano numa segunda-feira chuvosa. O que se considera um tempo de festa e descanso para alguns, para mim era o pior início de ano que poderia imaginar. Parado em frente à casa da mulher que tanto amei, com as gotas da chuva disfarçando minhas lágrimas e um gosto amargo na boca.

Mesmo a alguns metros de distância conseguia ver o que acontecia do lado de dentro da casa pela janela da sala. A atual senhora Miller estava tão bonita com aquele vestido azul marinho, realçava suas curvas e combinava com seu novo corte de cabelo. O sorriso em sua face era tão angelical e espontâneo, nem parecia a mulher que passava dias chorando por alguém que não a merecia. Logo um homem se aproximou dela e a abraçou por trás beijando-lhe o pescoço, então era ele, a pessoa que fazia seu coração acelerar agora.

Por um breve momento, o olhar dela voltou para a janela, fixando em mim. Daria qualquer coisa para entrar em sua mente e saber seus pensamentos, saber o que ela sentia ao me ver neste estado. Seu olhar não era de satisfação, menos ainda de compaixão, estava estático e inexpressivo. Meu coração se cortou naquele momento.

— Tudo o que eu tinha, era você, e bastou um dia para te perder. — sussurrei ao me virar de costas para me afastar.

Caminhei a passos lentos pela rua até chegar no primeiro hotel barato que encontrei. Só tinha a roupa do corpo, nada mais me restou, nem mesmo a vontade de continuar. Adentrei no prédio e observei rapidamente o desgastado papel de paredes de arabescos na parede principal, próximo às escadas. Logo avistei a atendente atrás de um balcão improvisado, cabelos soltos e emaranhados, mexendo no celular com os olhos concentrados na tela. Parecia um robô com os dedos frenéticos.

— Com licença? — disse, num tom baixo.

Esperei algum tempo, vendo que ela não tinha me escutado.

— Com licença?! — disse novamente, levantando minha voz.
— Ah, ela não vai te ouvir. — disse uma voz feminina vinda do outro canto do hall de entrada.
— Hum?! — me virei e vi uma mulher sentada numa poltrona velha e do que parecia um couro preto surrado, tinha um livro nas mãos e uma caneca depositada no chão ao lado dos seus pés.

Ela observou meu olhar e logo pegou a caneca, tomando um gole do que estava dentro. Achei estranho. Não me contive em me lembrar de Violet e de como era obsessiva com limpeza e organização. Certamente eu sentiria falta disso.

— Eu disse que ela não vai te ouvir. — repetiu a mulher — Mas se está procurando quartos, preencha a ficha aí do lado e pegue uma das chaves penduradas, significa que o quarto está vazio.
— Obrigado. — assenti com a cabeça e voltei meu olhar para os papeis em cima do balcão.

Havia mesmo fichas de cadastros. Peguei uma caneta com cuidado para não esbarrar na moça do celular e preenchi a ficha, peguei uma das chaves sem me importar com o número do quarto e segui para a escada. Imprevisível é a vida, que o número fatídico número que eu peguei era o 13, definitivamente aquele ano seria o pior da minha vida.

Ao entrar no quarto, não me importei com a roupa ensopada de água, não me importei se ficaria resfriado, apenas joguei meu corpo na cama e fiquei encarando o teto do quarto. Minha realidade a partir daquele momento seria essa, viver sabendo que perdi tudo o que mais amava na minha vida, tudo porque fui ganancioso demais.

E eu ainda não consigo encarar
Ainda estou apaixonado, se serve de consolo.
- Hate You / Jungkook


“Vida: Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.”
[ Gálatas 6:7 ] - Pâms



FIM...




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