Lie to me
Eu já deveria estar acostumada quando o assunto era Bale. Mas não existia parte racional em mim, ao olhar para aqueles atraentes olhos verdes. O pior de tudo? Sua sinceridade extrema comigo me matava, tanto quanto a possibilidade do seu amor por mim.
Trabalhar como assessora de imprensa para um político já tinha suas complexidades, principalmente quando seu chefe era o senador mais jovem a assumir o cargo representando o estado de Illinois, pelo partido democrata. Como tudo começou? Em uma festa do curso de ciências políticas da Universidade de Harvard. Eu era caloura em publicidade e marketing, enquanto ele, um veterano às portas da formatura e com uma vaga garantida no gabinete do prefeito de Los Angeles, um amigo de sua família, toda composta por políticos.
Nos tempos da universidade, sua fama de conquistador percorreu por todo o campus, assim como as muitas desculpas que ele usava para dar um fora no dia seguinte, nas meninas com quem passava a noite. Uma mentira mais absurda que a outra, característica essa que perdurou nos anos que seguiram com sua entrada mais ativa na política, iniciada com a sua candidatura a vereador de Chicago.
Confesso que eu me encantei por ele à primeira vista, porém, não me dei liberdade para me apaixonar, não nos meus tempos de estudo. Entretanto, por indicação de um professor, consegui meu estágio dos sonhos como auxiliar de assessoria de campanha. O que não sabia é que o candidato a deputado em questão era o próprio Bale, a quem recusei beijar na festa dos veteranos. E foi assim que nossos caminhos se cruzaram novamente. A parte positiva, é que aquela rejeição me fixou em seus pensamentos e logo ao me ver na sala de entrevistas para ser contratada, disse abertamente que a vaga era minha, sem se importar com as outras candidatas.
— Você está mais calada que o normal. — comentou ele, enquanto dirigia, ao me olhar rapidamente pelo retrovisor do carro — Ficará brava comigo por mais quanto tempo?
— Eu sempre estou brava com você. — admiti, voltando o olhar para o bloco de notas do celular, voltando a escrever.
— O que está escrevendo desta vez? — perguntou ele, rindo de leve por minha resposta.
— Um poema, sobre suas mentiras. — contei a ele, soando espontâneo, me sentindo enjoada pelas doses de bebida que tomei.
— Está mesmo brava comigo. — afirmou ele, parecendo engolir seco — Isso explica aqueles copos vazios no bar.
— Por que apareceu lá? — eu perguntei, olhando para ele pelo retrovisor — Não estava em sua viagem com a futura primeira dama?
Tentei não aparentar meu ciúmes, porém soou com amargura a minha voz. Eu já estava irritada com o namoro falso de com a supermodelo latino-americana Florence Hilton, algo benéfico para ambos os lados. E agora com a ideia de um noivado entre eles, meu nível de aceitação para a situação estava insustentável demais para continuar com o trabalho. Uma carta de demissão deixada em sua mesa, provavelmente foi a deixa para aquele charmoso senador vasculhar todos os bares de Austin, no Texas, à minha procura.
— Você ainda pergunta? — ele riu baixo, mantendo a atenção na estrada.
— Não viu minha carta de demissão? Não sou mais a sua funcionária. — joguei a realidade em sua cara sem dó.
— Eu não aceitei a sua demissão, então continua trabalhando para mim. — sua voz ficou mais firme e segura, o que me fez estremecer um pouco.
— Pois a sua presença aqui não vai me fazer mudar de ideia. — assegurei a ele, fechando o aplicativo e guardando o celular na bolsa — Pare o carro, quero ir para casa sozinha.
— Está chovendo, acha mesmo que vou deixar você encarar a tempestade? — respondeu ele, contrariado por meu pedido.
— Não me importo com a chuva, tenho certeza que não existe tempestade pior do que a sua vida. — argumentei elevando um pouco mais o tom da minha voz, demonstrando irritação — Pare agora.
De imediato ele assentiu ao parar o carro no acostamento e desligar o motor. Então me olhou com preocupação e seriedade.
— Vamos conversar, por favor, . — pediu ele, com um olhar de cachorro sem dono.
— Não, me deixa. — eu retirei o cinto de segurança e saí do carro sem me importar com a chuva.
Em segundos e poucos passos de distância, já conseguia sentir meu corpo encharcado pela água. Foi quando senti uma mão me segurar e girar meu corpo para sua direção.
— Não vou deixar você sair da minha vida assim. — disse , ao me olhar seriamente — Você sabe o que sinto por você.
— E como terei certeza que não é uma mentira? — o confrontei, sentindo meus olhos já lacrimejando — Você mente o tempo todo, certamente faz isso comigo também.
— Você sabe que não. — retrucou ele — Sempre fui sincero com você, em todos os momentos.
Eu odiava aquele olhar, seguro e honesto que ele sempre mantinha quando conversávamos sobre assuntos sérios. E ao mesmo tempo eu amava, o fato de aparentemente, não conseguir mentir para mim.
— Eu não aguento mais… E não estou sóbria o suficiente para continuar esta conversa. — confessei a ele, me soltando, não tinha forças nem mesmo para controlar minhas emoções a flor da pele — Eu odeio o fato de te amar e ter que guardar esse sentimento para mim e agir todos os dias com naturalidade, ter que lidar com a sua vida dupla com as muitas noites de diversão, tendo que cobrir todas e manter sua imagem limpa diante dos eleitores, promover seus relacionamentos falsos com as modelos populares, planejamentos para sua agenda de trabalho, preparações de textos para discursos, reuniões com o parlamento, relatórios de mandato, é tudo tão desgastante que…
Eu me silenciei ao sentir seus lábios tocarem os meus em um beijo inesperado, e que a muito tempo eu desejava. Por mais que em nosso primeiro momento eu o tenha rejeitado, após seis anos trabalhando juntos, e toda a proximidade que tivemos neste tempo, o suficiente para sermos amigos e em raros momentos o vislumbre de um casal perfeito.
— Por que fez isso? — sussurrei, tentando encontrar o resto de sanidade que parecia se esconder de mim.
— Porque eu precisei te perder, pra me dar conta que não consigo sem você. — confessou ele, com o olhar profundo e intenso para mim — Eu te amo, Ortega.
Era nítido em seu olhar, aquelas palavras não eram uma mentira.
No caminho para casa
Eu escrevi um poema
Você diz: Que mente!
Isso acontece o tempo todo.
- Sweet Nothing / Taylor Swift
“Amor: Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.” - Pâms
FIM.
Hello gente, mais um ficstape, bem curtinho e espero que tenham gostado. Até a próxima fic.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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