Real Madrid
Eu não imaginava que perderia meu pai tão cedo. Menos ainda para uma doença. Em um dia ele estava sorrindo para mim, dizendo que no futuro eu seria uma mulher de negócios na qual ele com certeza se orgulharia. No outro, acordamos assustadas com ele cuspindo sangue e com as horas contadas. Foram dois anos lutando contra a doença em silêncio, apenas aproveitando cada pequeno momento com a família e o time.
Agora era meu dever cuidar do “filho mais novo” do meu pai, seu amado time Real Madrid Club de Fútbol. Mesmo Juan Pérez estando na direção, minha participação na administração e tomada de decisões seria bem mais ativa. Felizmente, neste momento de perda e dor, eu tinha ao meu lado. O homem que sempre foi o braço direito do meu pai. Me lembro o dia que o vi pela primeira vez, era o estagiário mais charmoso e atrapalhado que tinha visto. E mesmo sendo cinco anos mais velho que eu, não me impediu de me apaixonar por ele.
— Conseguiu dormir? — perguntou , ao perceber que eu já estava acordada.
— Não muito. — sussurrei erguendo meu corpo e olhando em direção a janela.
— Está tudo bem? — ele ergueu seu corpo também e apoiou seu queixo em meu ombro — Precisa de alguma coisa?
— Coragem, preciso de coragem para me levantar. — eu me deitei novamente e puxei os lençóis.
— Você não vai ao enterro? — perguntou ele.
— Não tenho forças para isso. — eu o olhei — Poderia ir me representando?
— Claro. — ele assentiu dando um sorriso fraco, jogando seu corpo em minha direção me deu um selinho rápido e se levantou da cama.
Eu não queria ter essa última imagem do meu pai. Me encolhi um pouco na cama, observando-o trocar de roupa. O mundo parecia estar desabando sobre mim, mas com o carinho de , me senti segura e protegida. Porém, especificamente naquele dia, eu só queria ficar sozinha e trancada em meu quarto.
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Fiquei inerte durante duas semanas.
Não tinha disposição para nada e ninguém. estava ao meu lado me apoiando, mas ainda não queria enfrentar minha nova realidade. Mas as coisas não melhoraram, pelo contrário, tudo iria descer ralo abaixo. E isso começou dois meses após o falecimento do meu pai. Quando o diretor Juan Pérez foi colocado sob investigação policial após denúncias de desvio e lavagem de dinheiro do clube. Eu não conseguia acreditar no que acontecia, menos ainda nas consequências dessa traição de Pérez.
— Lorenzo, eu não… — segurei as lágrimas, sendo abraçada por minha mãe.
— Querida se acalme. — disse minha mãe num tom baixo e compreensivo — Deve haver uma explicação.
— Não há explicação mãe, nós fomos roubadas. — eu a olhei — Não ouviu o que o Lorenzo disse? Pérez deixou o clube cheias de dívidas, estamos praticamente falidas.
— , vamos pensar com calma, podemos resolver isso. — minha mãe continuava serena e confiante.
— Não podemos, justo agora que é época de renovação de contrato. — eu me sentei novamente no sofá e passei a mão no cabelo com os olhos cheios de lágrimas — O que faremos? Se quando a mídia souber da nossa situação, os diretores vão cair em cima do Real Madrid como urubus em carne morta, querendo dissolver o clube.
— Eles podem fazer isso Lorenzo? — minha mãe o olhou preocupada — Podem dissolver o Real Madrid?
— Isso depende do tamanho da dívida, se o clube irá manter sua credibilidade diante do patrocinador e também da torcida. — Lorenzo respondeu — Podemos marcar uma reunião extraordinária para avaliar o estrago e traçar nossa estratégia.
— E quem seria a melhor pessoa para o novo cargo de presidente? — perguntou minha mãe.
— Quem mais seria? — eu lancei-lhe um olhar óbvio — claro, era o braço direito do papai, conhece o clube mais do que todos.
— Então, marque a reunião extraordinária, Lorenzo. — pediu minha mãe.
— Farei agora mesmo. — ele se retirou para fazer as ligações necessárias.
— Onde está ? — perguntou minha mãe.
— Em Barcelona, ele viajou para visitar sua avó que está doente, mas disse que voltaria até amanhã. — expliquei.
— Você confia muito nesse jovem. — comentou minha mão dando alguns passos até a sacada do meu apartamento.
— Claro que confio, ele sempre foi leal ao papai e ao Real Madrid. — a olhei meio chateada por seu comentário repentino, como se desacreditasse de .
— Espero que ele continue assim. — ela se virou para mim e sorriu — Filha só não quero passar por mais sofrimentos que já passamos.
— Não vamos, vai nos ajudar a resolver isso, vamos conseguir salvar o clube e vai ficar tudo bem. — sorri de volta.
Eu estava confiante. E essa confiança me fez dormir bem e tranquila à noite, apesar de sentir a falta de . Na manhã seguinte, me preparei para a reunião e fui tomar café da manhã com minha mãe no Starbucks. Fomos juntas na companhia de Lorenzo para o Ciudad Real Madrid, em Valdebebas. A reunião estava marcada para às duas da tarde, logo após o almoço no escritório do nosso centro de treinamento. Fui a primeira a chegar e me colocar sentada na cadeira do presidente, como herdeira, aquele era teoricamente meu lugar, mas somente até retornar e ser eleito oficialmente. Aos poucos as outras pessoas que compunham a diretoria foram chegando e se acomodando. Todos se mostraram surpresos ao me verem sentada onde estava, principalmente meu primo, que sempre almejou aquele lugar.
— O meu tio mal se foi e já está se sentando aí? — seu tom sarcástico me embrulhou o estômago.
— Se tivesse consciência do que está acontecendo, não falaria assim. — retruquei mantendo minha voz firme.
— Não vamos começar uma discussão agora, Annie e Murillo. — mamãe nos repreendeu.
Ele segurou o riso e se sentou na cadeira que dava em frente a minha mãe. Que pelo olhar mostrava o descontentamento com o comentário dele. Assim que Lorenzo deu início a reunião, os diretores começaram a falar juntos e o caos de instaurou naquela sala. Até que eu soltei um grito, atraindo a atenção de todos para mim.
— Senhoras e senhores, não estamos aqui para promover brigas e desconfianças em nós, estamos aqui para resolver um problema. — iniciei ponderadamente — Fomos roubados, estamos com dívidas e precisamos de uma solução.
— Vender o clube, essa é a solução. — disse Torres com convicção.
— Não, meu pai deu a vida por esse clube, é o legado da minha família, vender não é uma possibilidade. — retruquei com clareza para que entendessem.
— E como acha que vamos superar a crise senhorita Padrós? Logo os bancos e a FIFA vão querer nos engolir no café da manhã. — argumentou Francesca.
— Sem contar nos jogadores, hoje seria a reunião para a renovação dos contratos com eles, fechamos dois contratos que não teremos dinheiro para pagar. — completou Sanches — Não temos dinheiro para nada, o pouco que resta em caixa foram congelados pelo governo até terminarem a investigação do Pérez.
— Seria mais fácil se tivessem jogado uma bomba aqui. — Murillo deu um sorriso irônico — Mas, não acredito que vou dizer isso… Estou do lado da minha prima, vender não é uma opção, teremos que encontrar outro meio para solucionar tudo sem comprometer ainda mais a imagem do time.
Eu estava surpresa com o apoio dele.
— Primeiro, a lista dos jogadores presentes, vai sai e quem fica, vamos conversar com um por um, individualmente. Depois os dois contratados recentemente, e então resolvemos como vamos pagar. — disse apontando as prioridades.
— Temos a imagem do clube, sua influência e a torcida a nosso favor, com certeza um homem mau carácter não vai manchar a história do Real Madrid. — garantiu Murillo completando minha frase — Mesmo com a dívida, será possível conseguir empréstimos e nos preparar para a nova temporada, aos poucos vamos obter lucros com as partidas e o marketing, que ajudaram a pagar tudo.
— Murillo tem razão. — concordei.
Era inesperado isso, mas eu tinha mais um aliado naquela batalha. O som de batidas na porta atraiu nossa atenção. Lorenzo se afastou de mim e foi abrir. Eu esperava que fosse , mas ao invés disso era a assessora de imprensa. Com um olhar preocupado e assustado.
— O que aconteceu? — perguntou minha mãe.
— Bom dia senhores. — ela adentrou a sala com um tablet nas mãos — Odeio ser portadora de novas más notícias, mas temos um novo problema.
— Diga logo Celeste. — disse Sanches sem paciência.
— Acabaram de noticiar nas mídias sociais que todos os contratos do Real Madrid foram transferidos para outros times espanhóis. — anunciou ela — Hoje seria a renovação dos contratos, mas os jogadores assinaram com outros times.
— O que?! — dissemos todos ali em coral.
— Como isso pode acontecer? — perguntou Torres.
— Parece que a real situação do clube foi compartilhada com a imprensa, e todos estão comentando sobre o Real Madrid Futebol Clube estar falido e sem dinheiro para pagar os funcionários. — explicou ela.
— Quero que pegue os contratos agora e traga aqui. — pedi a ela, tentando manter minha estrutura mental intacta.
— Não posso senhorita Pedrós, os contratos sumiram. — respondeu ela.
— Como assim sumiram? — Murillo se levantou de sua cadeira — Eu sou o responsável por cada contrato desse time, eles sempre ficam no cofre da diretoria.
Se tinha uma coisa que eu admirava em meu primo, era sua dedicação ao seu trabalho no clube. Seu olhar crítica para cada jogador foi o que nos proporcionou a montagem de grandes times ao longo dos cinco anos que ele estava sobre o departamento de contratação. Tudo era feito de forma tão impecável, para que ninguém colocar defeito e seu trabalho.
— Não estão lá senhor. — afirmou Celeste — Eu procurei hoje cedo quando cheguei, o cofre estava vazio.
— Quantas pessoas tem acesso a esse cofre? — perguntou Francesca.
— Mudamos a senha após a última contratação, somente quatro pessoas sabiam. — respondeu Murillo — Eu, Pérez, meu falecido tio e .
— Então foi o Pérez. — constatei.
— Ah, claro, seu namorado é um santo. — Murillo riu com ironia — Acontece que Pérez está em prisão preventiva, e até anteontem à tarde eu conferi e os contratos estavam lá, seu pai no cemitério e eu estou aqui te apoiando o Real Madrid, quem é que sobra mesmo?
— Não. — sorri de nervoso, sentindo as lágrimas juntarem no canto dos olhos — jamais faria isso.
— Pérez é meu padrasto e nos roubou. — argumentou Murillo — Só porque ele dorme com você não é garantia de lealdade.
Eu me enchi de fúria, no impulso me levantei da cadeira e dei um tapa no rosto de Murillo. Minha raiva de suas palavras e insinuações formavam um nó em minha garganta. Logo minha mãe começou a sentir um mal-estar e desmaiou. Foi a gota que faltava para que eu quase despencasse por completo. Por sorte, Lorenzo e inusitadamente Murillo me ajudaram a socorrer ela e levá-la ao hospital. Sua pressão estava tão baixa que ficaria no hospital em observação.
— Eu não vou sair do seu lado. — garanti a ela, após a saída do médico.
— Vai sim, Real Madrid precisa mais de você do que eu agora. — disse ela — Eu vou ficar bem, tem muitos médicos aqui, então ligue para a Nana e peça que fique aqui comigo.
— Mas mãe…
— Mas nada, Pedrós. — ela engrossou a voz — Você é filha do seu pai e não vai se deixar abalar, levante a cabeça e tome a frente do problema.
Assenti segurando as lágrimas. Eu precisava ser forte, não mais por mim, mas pela minha mãe que via meu pai em mim. Retirei o celular do bolso e liguei para Nana. Ela era o braço direito da minha mãe, trabalhava para nossa família a anos e ajudou meus pais e me criar. Tinha ela como uma segunda mãe. Assim que ela chegou eu voltei para o centro de treinamento junto com Murillo e Lorenzo. Os diretores já tinham ido embora, para eles não havia mais nada a ser feito além da venda do clube. Mas não era o fim.
— E agora o que fazemos? — perguntou Murillo ao se colocar ao lado da janela e me olhar preocupado — Eu não estou recuando, não quero a venda do Real Madrid, mas precisamos de um bom argumento para calar a boca dos diretores.
— Precisamos de tempo. — disse Lorenzo ao se sentar em uma das cadeiras.
— Não temos tempo, o La Liga vai começar em três meses. — retrucou Murillo.
— Não está ajudando Murillo.
— Estou sendo realista. — devolveu ele ponderando a voz — Não temos dinheiro, não temos jogadores e nessa altura das informações vazadas, não temos nem credibilidade e imagem mais.
— Ficar em desespero não vai ajudar. — Lorenzo interviu — Sejamos racionais e vamos pensar com calma.
— Chame os diretores novamente aqui. — iniciei com firmeza — Murillo, agora é a sua vez de mostrar que realmente é competente, convença os diretores a nos dar uma temporada para reerguer o clube.
— Uma temporada? Não temos jogadores nem recursos. — Murillo me olhou confuso — Como vamos conseguir?
— Nosso antepassados fundaram esse clube sem jogadores e sem dinheiro, faremos o mesmo somos os Pedrós. — disse com segurança, arrancando um sorriso discreto do seu rosto.
— Muito bem, vamos trocar de função então, você cuida dos jogadores, eu cuido dos diretores, juntos cuidaremos da administração. — ele olhou para nosso conselheiro — Lorenzo, junte toda a equipe técnica junto com o treinador e esclareça todas as questões, dando liberdade para todos que ficar ou se demitirem. Mas avisem que se ficarem, novos contratos de trabalho serão feitos e haverá um pequeno atraso nos salários.
— Sim senhor. — assentiu Lorenzo se levantando.
— E peça a Celeste para lançar uma nota de imprensa falando oficialmente sobre nossa situação e que logo daremos novas informações. — completei a iniciativa do meu primo — Nosso torcedores merecem saber a verdade.
— Sim. — concordou Murillo.
— Então Murillo, mãos a obra. — olhei para meu primo e sorri confiante.
— Boa sorte, precisamos montar uma nova equipe em um semana no máximo. — disse ele.
— Então senta aí porque temos uma lista do time perfeito para montar. — disso num tom de ordem, mas descontraído.
Ele assentiu. Lorenzo se retirou para cumprir sua missão. Eu retirei meu celular do bolso e liguei para minha amiga, ela conhecia de futebol mais do que eu. E a apelidava de Maria Chuteira com toda razão. Ela estava procurando emprego, após ser demitida da cafeteria onde trabalhava.
— Olá, vim o mais rápido que pude. — disse ela ao entrar afobada e ir se sentando na cadeira de frente para Murillo.
— Você chamou ela? — ele me olhou indignado.
— Eu preciso de uma assistente e ela é a melhor para o cargo, se for apostar sabe mais de futebol que nós dois juntos. — defendi minha amiga.
— Isso é verdade. — concordou Isla dando um sorriso malicioso — E sei mais ainda de jogadores.
Ela deu uma piscada. Sabia que minha amiga e Murillo não se davam bem, mas tinha atração um pelo o outro. O que me proporcionava momentos hilário e divertidos de presenciar. Mesmo contra, ele teve que aceitar a presença dela e seguimos com nossa micro reunião. Passamos o resto do final da tarde/noite concentrados em montar uma lista de possíveis jogadores. Denominado por Isla de Equipo de los Sueños.
— Terminamos. — disse minha amiga animada — Foi emocionante.
— Você se empolga por qualquer coisa. — Murillo bufou um pouco.
— Eu vou para casa. — anunciei me levantando da cadeira — Tudo isso que aconteceu hoje, preciso tirar satisfação com .
— Ainda está com o pensamento de defender ele? — Murillo me olhou desapontado.
— Eu preciso saber a verdade dele. — peguei minha bolsa e ajeitei no ombro — Isla, amanhã de manhã seguimos para Itália.
— Sim senhora. — ela bateu continência brincando.
Eu saí da sala com o celular na mão chamando o uber. Não tinha psicológico para dirigir naquele dia. Assim que cheguei no apartamento, abri a porta já gritando o nome dele. Porém, tudo permaneceu em silêncio. Olhei para a mesa de centro onde ele costumava deixar suas chaves e estava vazia, somente com um bilhete e um pedaço de linha da cor púrpura. Era uma brincadeira nossa, a linha púrpura era nossos sentimentos um pelo outro, cada um ficava em uma ponta e a cada nó que fazíamos na linha, representava uma dificuldade superada e nosso amor fortalecido.
— Me desculpe, mas não posso ficar mais aqui. — sussurrei ao ler.
Não pode ficar mais aqui?! O que? Eu amassei o bilhete e o mantendo na mão, corri até o quarto. Abri o guarda-roupa no impulso e vi que suas roupas não estavam lá. Aos poucos os sentimentos de tristeza e traição foram tomando conta de mim. Não queria acreditar que tinha feito isso comigo, com minha família e com o Real Madrid. As lágrimas começaram a sair de repente. Meu coração em pedaços. Sem forças, toda a minha sensação de segurança tinha ido embora. Eu precisava ser forte, mas não conseguia. Não encontrava forças. Eu somente chorei.
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— Eu agradeço por nos ter recebido Javier Cruz. — disse assim que nos sentamos em uma das mesas do restaurante do hotel Palazzo Naiadi Roma, onde permanecia hospedado.
Estava de manhã e se podia ver o sol brilhando do lado de fora pelos vidros da janela.
— Fiquei curioso para saber o que a nova presidente do Real Madrid queria comigo, mas diante dos acontecimentos, já imagino o que seja.
— Se já imagina, então não perderei meu tempo e vou direto ao ponto. — reagi às suas insinuações — Estou com um contrato aqui, você foi abandonado pelo Juventus por questões de saúde, eles não acreditaram na sua recuperação e não renovaram seu contrato, nenhum clube o quer por medo de não conseguir estar cem por cento para a próxima temporada.
— Está me dizendo que vocês são minha única escola? — ele riu baixo.
— Não, estou colocando diante de você uma proposta de trabalho, assim como farei com outros jogadores. — argumentei — A escolha é sua.
— Preciso pensar. — disse ele.
Eu voltei meu olhar para minha amiga, ela se manteve em silêncio, mas conhecia aquele olhar de: é tudo ou nada.
— Não disponho de muito tempo, então terá que me dizer agora. — o confrontei — É sim ou não, sairei daqui com uma resposta.
Ele puxou o contrato que estava em cima da mesa para mais perto, e olhou.
— Fique à vontade, posso esperar o tempo que precisar para ler. — assegurei.
Ele manteve silêncio e voltou o olhar para os documentos. Era um contrato muito bem planejado e construído por Murillo. Não tinha como recusar, mesmo com alguns adendos sobre os salários. Após alguns minutos lendo, ele retornou o olhar para mim.
— Vocês realmente terão como me pagar esse valor?! — perguntou ele curioso — Os boatos dizem o contrário.
— Os boatos também dizem que sua carreira está acabada, e nem por isso acreditamos. — retruquei com confiança.
— Vou acreditar em sua palavra, em memória do seu pai que foi um grande homem para o futebol espanhol. — ele deu um sorriso de canto e pegando a caneta, assinou o contrato.
Senti uma chama de esperança acender em meu coração. Era possível. Poderíamos som acreditar que tudo ficaria bem e que o Real Madrid se reergueria das cinzas como uma fênix.
— Só tenho uma coisa a pedir. — prossegui ponderadamente ao reconhecer o contrato assinado e colocar na pasta.
— Diga. — ele me olhou curioso.
— Que mantenha sigilo até lançarmos uma nota oficial. — pedi.
— E será quando? — perguntou ele.
— Em uma semana. — assegurei.
Ele concordou sem contestações.
Parecia curioso para ver o que viria a seguir. Assim que saímos do restaurante, Isla me olhou com um brilho no olhar. Ela parecia mais feliz por ter ficado frente a frente com seu jogador favorito, do que termos assinado o contrato. Nossa próxima parada ao final da tarde, era em Lisboa. Celeste já tinha feito a pesquisa de campo e o contrato com o James Rodrigues ainda poderia estar de pé. Ao que tudo indicava, alguns dos jogadores do Real Madrid não tinha aceitado trocar de time ou cancelar o contrato conosco. Uma boa notícia me meio às tragédias. Ainda tinham pessoas leais ao Real Madrid.
Não foi difícil para minha experiente amiga achar a localização de James. Ele tinha se hospedado com a namorada no Hotel Real Palácio. Um olhar de surpresa dele, assim que me viu no saguão do hotel à sua espera. Olhei para minha amiga que continha seu euforismo incubado. Nos sentamos no jardim do lugar para conversar.
— Primeiramente, agradeço por ter nos recebido ainda hoje. — disse me sentando na chaise — Mais ainda por ter esperado nosso contato.
— Eu queria um posicionamento oficial do clube. — respondeu ele ao se sentar na poltrona ao lado — Jogar pelo Real Madrid sempre foi meu sonho de criança que pude realizar, um sonho que eu gostaria de não acordar por um longo tempo.
— Fico feliz em ouvir essas palavras. — assegurei a ele — Seu contato atual foi vencido ontem, e estou aqui com um novo contrato e uma nova proposta para você. O afeto do clube por você é recíproco, por isso estamos aqui.
— Não deve estar sendo um momento fácil, pelo contrário, bastante delicado para vocês. — ele pegou o contrato das mãos de Isla e começou a ler.
Nos mantivemos em silêncio, esperando sua decisão final. Assim como Javier, James Rodriguez nos deu um voto de confiança e assinou o contrato, sem questionar nenhuma das cláusulas. Ainda se colocou à disposição para convencer outros jogadores que também não se pronunciaram a continuar conosco ou não. Foi bom ter o apoio de um jogador de renome como ele.
Isla queria passar a noite em Lisboa, mas eu estava tão pilhada por ter somente uma semana para contactar os outros jogadores e preocupada com minha mãe. Desembarcamos já de noite no aeroporto Madrid-Barajas. Ao entrar no uber, o cansaço tomou meu corpo, como as dores musculares também. Deixamos Isla em sua casa e seguimos para meu prédio. Desci do carro e o observei se afastando. Dei um passo me afastando da rua e virei para a entrada do prédio.
— . — sussurrei seu nome ao vê-lo parado, com as mãos nos bolsos da calça, aparentemente me esperando.
— Boa noite . — disse ele.
Eu não tive nem tempo que planejar minha reação. Meu corpo se moveu automaticamente e quando dei por mim, já havia lhe dado um tapa em sua cara. Ele respirou fundo, mantendo o olhar no chão por segundos. Senti as lágrimas escorrerem.
— Confesso que mereci. — ele sorriu de canto e me olhou — Como está?
— E isso te importa? — limpei meu rosto — Como ainda tem coragem de estar aqui depois do que fez?
— Não vou me dar ao trabalho de explicar que tive meus motivos… — iniciou ele.
— Que motivos você teria para trair minha família e nos roubar? — o confrontei — Ainda fugir assim, agindo como um covarde.
— Eu estou não estou? Isso faz de mim um covarde? — retrucou ele — Sei que está zangada, então, vou relevar suas palavras.
Seu olhar sereno para mim me deixava ainda mais revoltada com ele.
— Zangada? Eu estou furiosa, ardendo em raiva de você. — comecei a bater nele, o empurrando enquanto as lágrimas continuavam a descer — Eu te odeio , você destruiu meu coração, minha confiança.
— Calma, ! — ele segurou um leve em meu pulso para que eu parasse — Você pode se machucar.
— Não toque em mim. — eu meu soltei dele com facilidade e pisando em falso me desequilibrei.
me segurou pela cintura e me olhou com intensidade. Aquele olhar que fazia meu coração acelerar sempre. O mesmo olhar que há dois dias me transmitia força e segurança. Meu corpo se estremeceu com seu toque. Entre razão e emoção. Claro que ainda mexia com meu psicológico. Não se deixava de amar uma pessoa do dia para noite, pior ainda perder atração por ela. E ele sabia todos os meus pontos fracos.
— Eu disse. — ele suavizou a voz, mantendo o tom de preocupação — Se acontecer algo com você…
Ele desviou o olhar, parecia reprimir seus sentimentos. Eu me afastei dele e respirei fundo.
— Fique longe de mim e da minha família. — o adverti me virando para entrar no prédio.
Abalada era a palavra que me definia. Foi o fechar da porta, que tudo desabou e sentada fiquei encostada na porta chorando mais um pouco. Se eu tinha reunido coragem para lutar com a ajuda da minha mãe, havia perdido metade agora. Passei alguns minutos ali até que me levantei. Deixei a bolsa no sofá e segui para o banheiro. Enchi a banheira com água quente e entrei. Mantive o celular no silencioso, somente tocando algumas músicas. Essa era eu me forçando a superar o peso do primeiro dia.
Os dias seguintes se passaram com boas e más notícias. As negociações com os jogadores foram intensas e obtivemos duas respostas negativas que nos fez buscar novas opções. Outra preocupação de surgiu foi a redução da equipe técnica pela metade assim como o pedido de demissão do técnico atual. Mais uma coisa a se preocupar. Foi então que recebi nossa assessoria de imprensa, recebeu uma ligação curiosa e inesperada. Zinédine Zidane queria uma reunião comigo e Murillo. Aceitamos de imediato e domingo pela manhã, a sala de reuniões do centro de treinamento já se encontrava a nossa espera.
— Ficamos surpresos e curiosos com sua ligação. — comentou Murillo.
— Imagino. — ele manteve a seriedade no rosto — Ouvi as notícias da demissão do Chekhov.
— Ele pediu a demissão. — corrigiu Murillo.
— Os chamei aqui para me oferecer a ficar no lugar dele. — revelou.
— O que? — fiquei impressionada com sua posição — Você quer voltar a ser o técnico do Real Madrid?
— Sim, mesmo que os tempos sejam incertos e delicados, quero ajudar. — justificou ele, seu olhar transmitia sinceridade — O Real Madrid faz parte da minha trajetória como jogador e agora técnico, por isso, quero retornar.
— Bem, estamos surpresos, mas não viemos despreparados. — Murillo se inclinou na cadeira pegando a maleta e retirou o contrato de dentro.
Aquele documento já tinha sido preparado por Murillo antes de recebermos a ligação dele. Como diz minha mãe: Um prevenido vale por dois. Continuamos a conversa após a assinatura do contrato, já marcando a data oficial do início dos treinos. Com tudo pronto, novos contratos assinados, equipe técnica, técnico, novo time e os demais funcionários confirmados, Celeste lançou a nota de imprensa. Nossa fase dois estava iniciando e com todos sendo surpreendidos com as notícias. Principalmente . Que não se conteve em me mandar uma mensagem pelo whatsapp.
Sabia que conseguiria. Parabéns.
Fiquei olhando aquelas palavras por um tempo. Não sabia se ficava impressionada por ele aparentemente acreditar em mim, ou furiosa por me dirigir a palavra.
Isso foi um deboche?
Deixei o celular em cima da cama e fui até o banheiro. Quando retornei, já tinha outra mensagem dele.
Acredite ou não, estou torcendo por você.
Não preciso de sua torcida
sou filha do meu pai
não desisto fácil
Estou contando com isso,
te vejo na reunião de clubes do La Liga.
Sim. A reunião de clubes para o início do campeonato espanhol. Não tinha me lembrado disso e não queria ter que lidar com esse evento. Deixaria a cargo do Murillo, já que tínhamos dividido as responsabilidades igualmente. Mas é claro que minha mãe não me deixaria ficar escondida. Sua chantagem emocional disfarçada de motivação, foi o gatilho para eu comparecesse ao lado do meu primo, na tarde em que os presidentes dos times se reuniram com a FIFA para acertar os últimos detalhes.
— Não vai nem me dar um oi? — perguntou ao se aproximar de mim no coffee break oferecido após a reunião.
— Não quero perder meu tempo com você. — respondi dando de ombros e voltando meu olhar para o lado.
— Se faz de difícil mas manteve seu olhar em mim na reunião toda. — observou ele — Saudades ou ciúmes?
— O que? — o olhei chocada com a insinuação — Nenhum dos dois, principalmente o ciúmes.
Será que não estava?! Internamente tinha que confessar que fiquei incomodada ao ter visto uma foto dele com a filha do dirigente do Barcelona, em seu jantar de comemoração por ter assinado contrato com eles para a diretoria. Mas chegar a classificar como ciúmes era uma ultraje.
— Até quando não sabe que está mentindo eu consigo perceber que está. — ele sorriu de canto e manteve o olhar intenso.
Respirei fundo, não me deixando levar pelo charme tentador dele.
— Está enganado, a única coisa que sinto por você é desprezo. — afirmei.
— Tem certeza? — ele se aproximou mais de mim e tocou de leve em minha cintura, dava para sentir seu perfume — Diga isso novamente, mas faça seu coração parar de acelerar por mim antes.
Errado ele não estava. Fechei os olhos de forma espontânea. Não sabia se esperava por um beijo dele, ou se controlava a raiva que lutava contra os sentimentos dentro de mim. Um misto de amor e ódio, razão e emoção. Que me deixava louca para agarrá-lo e ao mesmo tempo matá-lo. Em segundo, coloquei a mão no coração, acalmando meu interior, então abri os olhos. já havia se afastado de mim e estava falando com o presidente do Barcelona.
— Filha da mãe. — disse em sussurro — Ele me paga.
— Está tudo bem? — perguntou Murillo se colocando ao meu lado — O que ele falou com você?
— Nada de importante, podemos ir embora?
— Se você quiser.
— Eu quero. — afirmei.
Me movi para sair de lá, mas ao olhar para com seu sorriso sarcástico no rosto, não me contive em me aproximar dele novamente.
— Sorria enquanto pode, porque em breve você vai cair. — o alertei segura, então voltei meu olhar para o presidente do Barcelona — E você verá o Real Madrid renascer das cinzas para continuar mostrando que somos os melhores da Espanha.
Não deixei que eles tivessem a oportunidade de contra argumentar. Saí sendo acompanhada por meu primo.
O desafio se repete
Experiência pode ser ganhada todos os dias
Até agora, tenho superado a mim mesmo.
- Purple Line / Dong Bang Shin Ki
Três meses passam rápido.
Principalmente quando se está lutando contra o tempo para chegar a harmonia de um time. Nesse tempo, tive alguns encontros não planejados com . E em todos tivemos nosso atrito, de um desafiando o outro a mostrar um time forte. Era estranho ver que a cada encontro, eu e desenvolvemos um espírito competitivo e de rivalidade. Não conseguia entender quando foi que ele virou para o lado negro da força e se deixou seduzir pelo Barcelona.
Contudo, seu novo time comeria poeira no que dependesse da minha Equipo de los Sueños. A fase 3 deu início no jogo de estreia do La Liga. O novo Real Madrid contava com onze jogadores em campo e mais cinco reservar. Algo que me deixou surpresa por termos conseguido devido às condições. Todos estavam preocupados com a parte financeira. Mas eu tinha a segurança de que todo o dinheiro que havia sido roubado e congelado pela justiça, em breve retornaria para nós, os verdadeiros donos.
— Eu não vou assistir. — disse pela vídeo-chamada do whatsapp, ao me levantar do sofá, minutos antes de começar a primeira partida.
Era curioso ser exatamente contra o Barcelona.
— Como assim não vai assistir? — Isla fez uma cara confusa — Amiga, é o primeiro jogo.
— Estou tão nervosa que prefiro nem ver. — expliquei a ela, pegando o controle da televisão e desligando o aparelho — Mas vou acompanhando suas reações.
— Tem certeza? Seu primo sempre me chamou de escandalosa quando assisto jogos de futebol perto dele.
— Por isso mesmo, mesmo não vendo, quero sentir a vibração. — senti meus olhos brilharem — É como ver o estádio Santiago Bernabéu lotado de torcedores do Real Madrid em dia de el clásico.
— Que fofo amiga. — ela pareceu se sentar no chão — Ah, vai começar.
Meu coração pulsou mais forte ao ouvir pelo celular o apito inicial. Foram os 90 minutos mais agonizantes e longos da minha vida. Eu chorei, sorri, vibrei, xinguei junto com Isla, desfrutei de diversas sensações ao mesmo tempo, principalmente insegurança. Contudo, ao apito final a única coisa que eu sentia era alívio. Encerrei a ligação com minha amiga festejando do outro lado. E então entrei na página do google para pesquisar. Precisava ver com meus olhos a notícia que meu time ganhou. Senti orgulho ao encarar a tela mostrando o placar final:
Real Madrid 3 x 1 Barcelona
Não me contive de felicidade. Tanto que quando me dei conta do que tinha feito, a mensagem que tinha enviado ao já tinha sido visualizada. Meu corpo gelou.
— sua boba, por que fez isso? — disse jogando o celular no assento do sofá e suspirando fraco — O que ele vai pensar? Que está tudo bem entre nós.
Não podia me dar ao luxo disso. Afinal ele tinha me traído. Me enganado esse tempo todo. O celular vibrou de repente. Uma mensagem dele.
Senti sua provocação daqui.
como se estivesse na minha frente
qual o insulto do dia?
que eu sou o homem mais intenso que já beijou?
não é insulto, é elogio
Eu fiquei em choque com sua resposta.
Babaca.
Você realmente se acha mesmo?
Além de velho é convencido
você sempre beijou mal
Ri de leve. Ele odiava quando o chamava de velho, só por nossas diferenças de idade. Ele beijar mal era uma mentira, mas quem ligada mesmo?
Admite que sente falta do meu beijo
Admitir algo que não sinto?
Por que mandou a mensagem então?
kkkkkkkkkkk
Eu rolei a barra para ver de novo a mensagem louca que tinha enviado.
— Esse placar merece o beijo da vitória. — sussurrei ao ler — o que foi escrever?!
Eu ri de nervoso querendo me bater. Logo tocaram a campainha. Me levantei e fui atender. Quando abri a porta, não tive tempo de uma reação imediata. se aproximou e me beijou de surpresa e com intensidade. Meu corpo se lembrava daquele beijo, tanto que reagiu na mesma proporção.
— Então, acho que vale o beijo da vitória. — disse ele dando um sorriso malicioso.
— Seu abusado. — eu bati em seu ombro o empurrando para longe — O que? Quem deixou você fazer isso?
— Você, quando me mandou a mensagem. — ele mantinha aquele olhar tentador.
— Cínico, foi uma mensagem sarcástica, provocação entre rivais, não entendeu? — retruquei com ele me ignorando e entrando no meu apartamento.
— Vai me dizer que não gostou? Não sentia falta? — insistiu ele naquele absurdo.
— Claro que não. — desviei discretamente meu olhar para o pulso dele e vi uma linha púrpura amarrada dele.
Aquilo mexeu um pouco comigo. Mas manteria a postura firme.
— Você não sabe mentir.
— Não estou mentindo. — eu me voltei para porta e a abri — Agora saia.
— É sério?
— Achou mesmo que está tudo bem? — o olhei com firmeza, tentando não focar muito em seus lábios — Sai.
respirou fundo e mesmo contrariado saiu do meu apartamento. Assim que chegou do lado de fora, fechei a porta na cara dele. Suspirei um pouco. O que tinha acontecido? De onde ele saiu? E aquele beijo? sabia me deixar maluca. Não só com nossa rivalidade, mas também com o que ainda sentia por ele. Quanto mais eu queria esquecê-lo, mais eu o amava.
As semanas seguiram com o La Liga fazendo recordes de público e sendo o campeonato mais falado em toda a Europa. É claro que o Real Madrid estava no topo dos comentários e da tabela de pontos. Quanto mais ganhamos, mais raiva em eu fazia. Na sexta rodada de jogos, bem no sábado após eu acompanhar a derrota do Barcelona para o Sevilla por 1 x 0, começou a chover. Estranhei um pouco por não ter respondido minha mensagem debochando do time dele.
Eu não deveria ficar preocupada, mas fiquei. Comecei a ligar para ele diversas vezes, todas caindo na caixa postal. Fui dormi preocupada com seu breve desaparecimento. Foi no cair da madrugada, com barulho de trovões e uma tempestade do lado de fora, que a campainha tocou. Acordei no susto e imaginando que pudesse ser , corri para atender. Como eu previ, era ele ali diante de mim, encharcado pela chuva e aparentemente chorando.
— Ela morreu. — sussurrou ele.
Parecia um cachorro sem dono.
— Quem?! — perguntei preocupada.
— Minha avó.
Ele entrou já me abraçando. Pelo pouco que eu conhecia, jamais brincaria com uma notícia dessa. Mama Ava como ele a chamava desde criança, tinha mesmo problemas respiratórios de saúde que se arrastavam desde se aposentou do longo período trabalhando em fábricas de tecido. Ele havia sido criado por ele, pois seus pais faleceram alguns dias após seu aniversário de 7 anos.
— Nem sei o que dizer. — sussurrei retribuindo o abraço, sem me importar com suas roupas molhadas.
— O que eu faço agora? Ela era minha única família. — ele chorou mais em meu ombro, se aninhando a mim — Isso é algum tipo de castigo?
Eu poderia aproveitar o momento e jogar em sua cara o que fez com minha família, que também era dele. Mas meu coração estava tão apertado de ver sua realidade. Mama Ava era uma senhora simpática que sempre me tratou bem e me pedia para cuidar do seu neto travesso.
— Baker, pare de dizer bobagens, você vai seguir em frente. — eu me afastei dele e o olhei com compaixão — Vai seguir em frente e ser um homem da qual sua avó sempre se orgulhou.
Vi uma lágrima escorrer do rosto dele.
— Me desculpe… — ele se aproximou novamente de mim — Yo te amo.
Eu não deveria ter permitido um beijo naquele momento. Mas acabei permitindo, pois partiu de mim. Ouvir aquelas três palavras estremeceram meu corpo e aqueceu meu coração. Que boba eu sou, mas também o amava muito. Será que eu poderia deixar a traição e rivalidade somente no horário comercial do clube, de 7 da manhã às 7 da noite?
— . — eu me afastei dele, voltando a minha razão — Temos que impor limites.
— .
— Não fala nada. — me afastei mais — Você está molhado, eu estou molhada e podemos pegar um resfriado.
— Juntos podemos nos aquecer mais rápido. — ele sorriu de canto, meio fraco.
— Vou relevar isso, porque perdeu sua avó. — o repreendi — Tem toalhas limpas no banheiro, vou te arrumar alguma roupa.
Segui em direção a porta de saída.
— . — me chamou.
— O que? — o olhei tentando não me irritar.
— Obrigado. — o olhar sincero que me conquistou estava ali.
Foi complicado conseguir dormir, sabendo que ele estava deitado no sofá da sala. Eu alguns momentos da madrugada o peguei chorando. Em outros de pé perto da sacada olhando para a rua. Na manhã seguinte o acompanhei junto com Lorenzo até Bilbao onde sua avó seria sepultada.
- x -
Não conseguia dizer se foi por tudo que tinha acontecido de ruim, ou se foi pelo fato de eu me divertir com a rivalidade criada em eu e , mas aquela temporada seria um divisor de águas não somente para o Real Madrid. Apesar de notícias ruins, como o nosso dinheiro roubado não ter sido encontrado e o que estava congelado ter mal dado para pagar as dívidas com a FIFA. O lado positivo, é que o plano de administração de Murillo tinha dado certo, nosso marketing mesmo barato e simples tinha causado efeito não somente nos torcedores, mas se espalhado pela Europa e outros países ao redor do mundo.
O lucros que renderam tanto ao longo da temporada do La Liga, quanto do início da Champions League deram para pagar os jogadores, equipe técnica, o técnico e todos os outros funcionários do clube. Real Madrid Club de Fútbol estava a salvo e novamente próspero. Era tempo de comemorar a vitória do meu time como campeão do campeonato espanhol de 2019. Porém, quando achamos que está tudo bem, descobrimos que a vida é imprevisível. Logo após assistirmos juntas ao jogo do Real Madrid contra o Liverpool na terceira rodada do UEFA, em sua casa, minha mãe me entregou um livro que papai tinha deixado para mim em segredo.
Ela pediu que eu lesse quando chegar em casa. Assenti e guardei na bolsa. Continuei a me divertir com os outros que tinham ido também. Murillo e Isla como sempre, brigando e se agarrando pelos cantos. Minha mãe sorridente e animada com o filhote de cachorro que adotou, uma das crias da cadela da filha de Nana. E Lorenzo todo babão com sua esposa após saber que estavam grávidos. Ver todos ali me deixava feliz e animada, apesar de sentir falta de uma certa pessoa.
A noite, não chegar em casa depois de um banho, peguei o livro e comecei a folheá-lo. Era uma edição especial de O conde de monte Cristo, meu favorito, tinha até dedicatória dele. Ao passar em uma das páginas finais que uma carta caiu de dentro. Minha sanidade saiu de órbita e voltou quando eu li, o que me deixou estática, em choque, perplexa e desnorteada. Foi neste momento que me mandou uma mensagem.
— . — sussurrei ao ler.
Eu não sabia como, mas algo lá dentro me dizia que ele estava na porta da minha casa me esperando abrir. E eu estava certa, assim que corri para sala e abri a porta o vendo.
— Sua mãe me ligou. — se explicou de imediato — Falou sobre o livro.
— E você resolveu vir aqui. — segurei minhas emoções.
— Precisava te ver.
— Me diz que não é verdade. — pedi a ele.
— Não posso.
Senti meus olhos lacrimejarem.
— , meu pai pediu para você fazer tudo isso comigo? — despejei o conteúdo da carta em sua cara — Ele sabia sobre o roubo do Pérez e sabendo que passaríamos dificuldades, ainda te pediu para nos trair?
— A única coisa que posso dizer é me desculpe. — havia sinceridade ali, assim como arrependimento — Eu fiz uma promessa ao seu pai, e fui leal a ele até o fim.
Eu não queria acreditar. Mas era real.
— Meu pai me odiava.
— Não, jamais diga isso. — ele segurou em minha mão e me olhou com carinho — Seu pai te amava muito.
— Belo jeito de mostrar.
— Ele queria que se tornasse uma mulher forte e independente. — explicou ele — estaria orgulhoso de você agora.
— Por que ele pediu a você? E não ao Lorenzo ou o Murillo? — perguntei.
— Por que você precisava ser forte por si mesma, e não através de mim. — respondeu.
— Eu te odeio.
— Eu te amo.
Foram segundos nos olhando até que tomamos impulso e nos beijamos. Eu estava chateada com meu pai, com raiva do Dimitri e chocada por minha mãe ter encoberto tudo isso. Mas aliviada por finalmente estar nos braços do homem que eu amava, sentindo seu corpo se aninhar ao meu.
No gramado seríamos rivais eternos agora, mas dentro daquele apartamento o nosso amor reinaria.
Passando por cima do tempo, eu estou olhando para você
Embora possa ser diferente agora, o princípio é o mesmo
Acredito que ainda podemos voltar
Agora, um, dois, nós contamos os segundos, como medimos a distância
- Thunder / EXO
“Amor: Um dia me disseram que o sorriso é uma forma de mostrarmos o quanto gostamos de alguém. Hoje me perguntaram se eu gostava de você, e eu apenas sorri.” - by: Pâms
FIM?!
E vamos de mais uma fic, minha segunda de futebol. Espero que tenham gostado, ainda estou aprendendo. Quem sabe venham mais nessa temática, essa fic saiu de um sonho maluco que tive, então não reparem na loucura da autora! kkkkkkk...
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!