FFOBS - 04. Starry Night, por Pâms

Wolf

Irlanda, condado de Tipperary Sul
Outono de 2017

Nolan e Grimm, os inimigos mais íntimos da pacata vila de Cahir.

Ela é uma conceituada jornalista…

Ele é um médico muito requisitado e influente na vila...

Ambos conectados por um mesmo segredo.

Tarde de sexta chuvosa após seu dia anterior ensolarado.
O que surpreendeu a muitos dos habitantes que seguiram para o festival gastronômico que estava sendo realizado juntamente com a festa da colheita. Eventos anuais de suma importância para o prefeito Hilte, assim como as demais senhoras que compunham a elite da cidade. Contudo, imprevistos da natureza sempre acontecem quando o assunto é a vila de Cahir, transferindo o evento para o ginásio da High School Fletcher Smiths.

Distante dali, na rua menos movimentada da cidade, longe do centro comercial e em um prédio de fachada simples que nitidamente destoa de toda a arquitetura medieval predominante na vila, estava . Em seu loft, o lugar de refúgio que transmitia sua personalidade em meio a desordem que costumava conviver, a jornalista sentada na cadeira mantinha sua atenção ao mural pregado na parede em sua frente. Vários artigos escritos por ela mesma, recortados e pregados de forma desordenada na lateral, a cortiça que ela havia utilizado para improvisar aquele mural de anotações tomava grande parte da parede, o que ajudava na organização de suas ideias. Logo atrás dela, alguns livros espalhados pelo chão, numa tentativa de organizá-los nas prateleiras que se ocupavam com suas coleções de canecas.

Para ela, uma pessoa longe de ser organizada, era confortável viver em um espaço pequeno e funcional. Afinal, como sempre dizia a amiga Freya, ela se encontrava facilmente em sua bagunça, e não tinha nenhum arrependimento de ter saído da casa dos pais em Londres para viver a tranquilidade naquele lugar. Tranquilidade até a vírgula que se chamava Grimm, o homem que pertencia a uma das famílias mais antigas de Cahir, que instintivamente criou uma espécie de rivalidade com ela.

deu um passo para trás e voltou para a escrivaninha, passou os olhos pelo texto em construção para a próxima edição de domingo do jornal. Seus artigos especiais sempre eram apresentados no melhor dia da semana, em que a maioria das pessoas estava em casa aproveitando o descanso e lia suas palavras afiadas sobre diversos assuntos. Estralando os dedos, ajeitando sua postura no assento, continuou a digitar suas últimas considerações, até que finalmente conseguiu terminar. Um sorriso de canto surgiu em seu rosto, o tão lidoTimer After Time, seria agraciado com o artigo completo sobre a família Grimm e seu legado na medicina, por todos os seus membros terem seguido esta carreira.

E claro, a maior parte seu comentário era sobre o próprio e o fato de ser tão parecido com muitos de seus antepassados em gerações distintas. Ela sabia que havia algo por trás de tanto mistério que vinha daquela família.

“[...] Deve-se considerar o fator genético nesta longa linhagem de médicos e médicas conceituados, porém nem toda genética pode explicar a evidência de sete membros de gerações diferentes serem expressamente idênticos. Nenhuma explicação superficial da família Grimm será capaz de mudar estas evidências, assim como o fato de todos os membros parecidos com o dr. Grimm terem uma irmã parecida com a jovem psicóloga dra. Valerie Grimm. Que coincidentemente é a cópia fiel de suas antepassadas.

Há várias lendas urbanas que cercam a vila de Cahir como também toda a Irlanda, e a principal delas é sobre a linhagem de famílias de lobos que atacavam as cidades. Sendo cantigas para fazer uma criança dormir, ou histórias passadas de pai para filho, todos contavam que existia lobos alfas de sangue puro que misteriosamente conseguiam se transformar em humanos. E para finalizar com o inacreditável, tais lobos possuíam o dom da juventude, pois a cada transformação seu corpo criaria hormônios que os impediam de envelhecer. Certamente não é apenas por fetiche que todas as comemorações oferecidas por esta família são em noites de lua cheia, sob o céu estrelado.

Sabemos que a imortalidade não existe, mas que tal viver 100 anos com o rosto de 30? Devo então acreditar que lord Vincent Danger Grimm, o exímio médico que ajudou o país a passar e sobreviver à gripe espanhola em 1918, é o homem que atualmente se intitula o cirurgião geral do Grimm University Hospital em pleno século XXI. [...]”

Um suspiro de satisfação ao terminar, salvou o arquivo e enviou para a editora. Ela sabia que seria como uma bomba nuclear sendo jogada no café da manhã de todos os moradores, mas enfim a jornalista não iria parar de desvendar as lendas urbanas que rondavam o passado de Cahir. Seus olhos haviam visto algo inexplicável em sua primeira noite na vila, e seus pensamentos continuavam a se concentrar naquela cena.

— Agora eu quero ver o que aquele alfa vai dizer. — ela se espreguiçou ao levantar da cadeira, e seguiu em direção ao banheiro para tomar um banho relaxante.

Passar a manhã escrevendo havia lhe deixado em ápice do cansaço, com os músculos do corpo totalmente doloridos. E sentir as gotas de água quente são tudo o que ela precisava naquele momento, para voltar ao eixo e seguir com seu dia. Ao retornar para seu quarto, voltou o olhar para a janela e viu como a noite estava estrelada. Sua demora no banho não foi proposital, mas serviu para fazê-la perder o pôr-do-sol.

— Que ansiedade pelo domingo… — sussurrou ela, ao se aproximar da janela e olhar para rua.

Em um breve momento, seu olhar se fixou em uma esquina, causando um arrepio na espinha com seu corpo gelando. Não era ilusão, um lobo a estava com o olhar fixo para ela, suas presas a mostra e a intensidade da fúria perceptível a distância.

Como previsto, o café da manhã de domingo havia sido mais do que recheado para as famílias. Valerie sabia que as palavras do artigo alterariam o bom humor do irmão, que perdurou o dia após ela esconder o jornal atrás de uma garrafa na adega do palacete onde moravam. Uma arquitetura medieval de causar inveja pelo tamanho cuidado que tinham com a edificação, o palacete estava na família desde a primeira geração da família Grimm registrada em Cahir. Sua estrutura em pedras brancas, contemplado com dez quartos e muitos outros ambientes luxuosos, esbanjando uma decoração neo-clássica inspirada nos aposentos gregos e romanos.

Foi por um piscar de olhos que Valerie ouviu o som de algumas garrafas quebradas no interior da adega. Um frio na barriga veio ao imaginar que o irmão estivesse lendo o famigerado jornal.

— Eu não acredito, como aquela jornalista... — ele interrompeu, controlando a raiva e jogando o jornal no chão.

Sua irmã ao adentrar, assustou-se com as garrafas quebradas ao chão e pequenas poças de vinho espalhadas. Respirando fundo, o máximo que poderia fazer é aconselhar o irmão a não cair em tal provocação. Eles haviam passado por muitas coisas ao longo dos anos, o que resumia a muitos segredos de família e perigos a enfrentar. Em partes a jornalista estava certa em suas acusações, entretanto é prudente guardar certos segredos no mundo em que viviam atualmente.

— Você precisa se acalmar irmão, não é a primeira vez que a integridade de nossa família fica em foco. — Valerie volta seu olhar para o jornal do chão — Ela não pode provar nada além das loucas teorias que circulam aquela mente criativa.
— Você é tão otimista... — ele a olhou com seriedade — Mas sabemos a verdade, da última vez que descobriram sobre nós, quase nos custou a vida.
— Suposições diante de lendas urbanas para ganhar ibope na cidade, todos sabem que aquele jornal medíocre está descendo a falência e deve muito dinheiro a você por causa das acusações infundadas a nossa família. — retrucou ela, mantendo a tranquilidade no olhar — Todos esses artigos são para vender jornais, o povo dessa cidade adora um duelo de Titãs, e sabemos que o Finnick te odeia, e não quer perder o jornal para você, por isso permite as publicações e lucra com tudo isso.
— Eu não vou deixar que ela escreva nem mais uma vírgula. — ele deu impulso no corpo e passou por sua irmã em direção a porta.
— Aonde você vai?
— Matar a jornalista? — ele sorriu de canto, sugerindo seus atos.
— ?! — um tom de repreensão soou dela.
— Não se preocupe, não vou dilacerar a senhorita Nolan com minhas presas. — disse voltando a seriedade — Eu comecei isso quando permiti que ela me visse transformar, então, nada mais justo que eu termine esses boatos.
— Não me vá fazer nenhuma besteira — pediu a irmã.

O passado de sua família havia sido repleto de brigas com outras linhagens de alfa, agora seu irmão vivenciava um embate com uma mulher comum e frágil. Valerie temia que o temperamento de o levasse a fazer algo perigoso.

Como de fato, era o que ele desejava.

Noite estrelada, olhos estrelados
Mesmo se eu fechar meus olhos
Você é uma estrela quebrada
Quanto mais escura é, mais ela brilha.
- Starry Night / Suho

FIM?!

Nota da autora:
Hello gente, mais um ficstape, desta vez uma breve continuação no futuro da fic Midnight Sounds. Até a próxima.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!

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