FFOBS - 07. Pretender, por Pâms

Primiero Dia

Foi difícil quando disse aos meus pais que queria ser uma recruta do corpo de bombeiros. Primeiro, pelo fato de eu ser uma garota e metade da minha vida ser considerada a princesinha da casa. Mas claro que sendo a única menina em meio a seis irmãos, era óbvio que todos se espantaram.

Segundo, eu sempre fui uma garota delicada e medrosa, até que um dia meu avô me encorajou a participar da brigada de incêndio da escola. Segundo ele, era apenas por diversão para que eu tivesse mais amigos no ensino médio, mas é claro que suas intenções eram de me fazer ficar fascinada por esse mundo. E sim, meu avô era um excelente bombeiro, até que infelizmente a uma semana de se aposentar, foi a campo em uma chamada de emergência, onde faleceu. O resgate foi bem sucedido, porém imprevistos acontecem e vovô não conseguiu descer pela saída de improviso, após uma civil ter descido na frente.

— Hum… — eu me espreguicei da cama e abri uma fresta do meu olho, então em um sussurro desanimado — Já é hora de acordar?

O alarme ainda não tinha tocado e nem sabia que tocaria, mas a minha ansiedade já estava ali me fazendo acordar às 4 da manhã, sem um sinal do sol na janela e meu corpo sonolento. Aquele dia seria meu primeiro dia de treinamento no Engine 18 Chicago Fire. Ainda mantinha um frio na barriga regado a curiosidade e insegurança.

Meu avô era de longe o homem mais corajoso que eu conheci na vida, ao contrário de sua única neta, que parecia ter medo de tudo no mundo, entretanto, eu queria encontrar essa coragem dentro de mim. A coragem que ele tanto me dizia que enxergava no brilho dos meus olhos, todas as vezes que me contava suas mais emocionantes histórias de resgate.

— Bem, acho que é melhor levantar, antes que minhas costas doem. — disse me espreguiçando mais uma vez e me levantando após.

Caminhei vagarosamente até o banheiro, lavei o rosto e me sentei no vaso. Precisei até mesmo de alguns minutos para raciocinar o que estava fazendo, pois já seguia no automático. Voltando ao quarto, apenas olhei para o visor do celular conferindo a hora, não tinha passado nem vinte minutos.

Ri baixo e segui para a cozinha.

Nada melhor que um café da manhã reforçado, no primeiro dia de treinamento. Pensei comigo, sentindo um fundo no estômago, nem mesmo me lembrava qual foi minha última refeição da noite anterior. Após ser forçada a um jantar em família em comemoração por ter passado na primeira etapa, no qual meus irmãos já casados vieram todos para casa dos nossos pais, com seus filhos e esposas para me parabenizar.

Eu deveria ter ficado feliz? Sim, muito. Mas estava tão cansada e ter que aguentar as muitas brincadeiras sem graça deles, menosprezando minha capacidade de ser uma boa profissional. Ah, foi tediante, o jantar em família mais entediante que já participei, a melhor parte foi ver o orgulho no olhar da minha avó, e suas palavras de gratidão por eu seguir o legado do vovô Collins.

— Um cafezinho! — disse ao me aproximar da chaleira e enchê-la de água — Café fresquinho e tradicional como diria o vovô.

Liguei o fogo e deixei a água ferver. Enquanto isso, fui preparando o coador para passar o café, que em instantes foi exalando o doce aroma pela cozinha. Aquilo sim, era o meu despertador, cheiro de comida.

— Olha só quem já está acordada. — disse meu pai, ao aparecer da porta, com um olhar observador e um sorriso escondido no canto do rosto.
— Bom dia, papai. — eu o olhei sorrindo de leve, voltando minha atenção para a chaleira em seguida — Acho que acordei muito cedo.
— Bem antes do despertador. — concordou ele, rindo baixo.

Ele adentrou um pouco mais e puxou uma cadeira para se sentar.

— Está muito ansiosa para hoje? — perguntou ele, o óbvio.
— Estaria mentindo se dissesse que não. — brinquei rindo depois — Meu coração está em plena aceleração.
— Estou feliz por sua escolha, se é o que te fará feliz. — disse ele, suas palavras sempre de encorajamento como as do vovô.
— Obrigada papai. — terminei de passar o café e coloquei a garrafa em cima da mesa — Tem alguns momentos que me pergunto se realmente estou indo no caminho certo, mas depois me lembro do vovô e tenho a certeza que me encontrei nesta minha decisão.
— Que bom querida. — ele manteve um olhar carinhoso para mim — Agora trate de fazer as panquecas que também estou com fome e ansioso por minha princesinha.
— Pai, eu já deixei de ser princesinha a muito tempo. — disse em risos, já indo pegar os ingredientes no armário.
— A senhorita sempre será minha princesinha. — retrucou ele.

Continuei com o preparo das panquecas, enquanto mantivemos assuntos aleatórios em nossa conversa. Assim que terminei a última, colocando o prato em cima da mesa juntamente com o pote de geleia de morango, minha mãe surgiu na porta com o olhar confuso e sonolento.

— O que ambos fazem aqui a esta hora? — perguntou ela, vindo em nossa direção — E fazendo bagunça na minha cozinha.
— Não se preocupe querida, eu limpo tudo depois. — disse meu pai, puxando-a de leve pela mão, para se sentar ao seu lado — Estávamos preparando o café.
— Eu que estava preparando e o papai apenas me observando. — o corrigi.
— Quieta menina, eu já livrei sua barra dizendo que vou limpar sua bagunça. — ele me repreendeu com um tom de brincadeira.

O que fez minha mãe rir.

— Então vamos tomar o café. — incentivou minha mãe, ao se esticar para pegar a garrafa de café — Quero ver se minha filha está pronta para morar sozinha.
— Eu pensei que a senhora iria falar que estou pronta para me casar. — disse lembrando-me das piadas dos meus irmãos machistas.
— Deixo esses comentários bobos, para os seus irmãos que não tem noção da vida. — ela suspirou fraco — Nem parece que sou mãe deles, às vezes.
— Minha princesinha não está pronta para se casar, não sem antes ter um treinamento intensivo daqueles militares bombeiros. — brincou meu pai em risos — Uma garota tem que saber se defender quando preciso.

Ele deu uma piscada pra mim.

— Mas não é qualquer pessoa que vai chegar perto da nossa menina. — assegurou minha mãe com firmeza — Ela é boa demais pra qualquer um.
— Isso eu concordo. — disse me servindo de duas panquecas — Pode deixar papai, serei princesa e militar ao mesmo tempo!
— Meu orgulho. — declarou ele, com brilho nos olhos.

Nós rimos mais um pouco dos comentários da minha mãe sobre os meus irmãos e seus casamentos estranhos. Realmente não parecia que eles eram filhos dela, mas enfim. Continuamos a tomar nosso café, até que deu a hora para me arrumar. Meu pai me entregou as chaves da moto que tinha comprado para mim de presente de aniversário. Segundo ele, só iria me entregar quando eu verdadeiramente me tornasse sua princesinha independente, assim como a Tiana de A Princesa e o Sapo.

Não seria somente meu primeiro dia de treinamento no Corpo de Bombeiros, mas também meu primeiro dia fora de casa, enfrentando o mundo, relativamente longe dos meus pais. Eu iria morar em um apartamento próximo ao Chicago Fire, assim ficaria mais fácil para mim chegar no trabalho, mesmo com a moto a minha disposição. Não que eu sempre tivesse sonhado em morar sozinha, mas meus pais me aconselharam que eu o fizesse para perder parte do meu medo do mundo.

Enfim, eu seria corajosa duplamente a partir de agora.

— Estagiários! — a voz do capitão Kurt soou para os novos recrutas — Bem-vindos ao treinamento da vida de vocês.
— Obrigado, senhor! — dissemos em coral.

Ele nos observou atentamente por um tempo, até que focou a atenção em mim. Dando alguns passos precisos, parou em minha frente, abaixando o olhar até o sobrenome escrito no meu uniforme.

— Collins. — disse ele, em alto e bom tom — Você é a recruta neta de Frederick Collins?
— Sim, senhor. — forcei minha voz, estava assustada e surpresa por ele saber que eu era.
— Seu avô é uma lenda neste departamento. — continuou ele, com um olhar analítico para mim.

Suas expressões faciais frias e rígidas, ele não parecia ser tão mais velho que Mark, meu segundo irmão. Entretanto, era mais bonito e sério.

— Espero que honre a memória dele. — finalizou o capitão.
— Sim, senhor. — assenti, engolindo seco.

Agora sim, era tudo o que eu precisava, mais pressão em minha formação profissional.

— Vocês acham que foi moleza na Academia de Formação. — uma mulher deu um passo à frente e se pronunciou, a reconheci vagamente, era a tenente Fox — Mas aqui não, aqui vocês verão o que realmente é ser um bombeiro.

Meu corpo gelou com a firmeza da sua voz, e a intensidade do seu olhar nebuloso. Dentro de mim eu já imaginava que as primeiras semanas se resumiriam nos dias mais dolorosos e aterrorizantes que poderia imaginar.

You gotta be brave to be here, believe me
I hope you find yourself.
- Pretender / The Maine

"Medo: Diante do medo, apenas seja forte e corajoso!" [Josué 1:9] by: Pâms.

FIM...

Nota da autora:
Hello gente, mais um ficstape, mais uma história curtinha. Já pensei nela tretando com esse capitão? Mas é claro que sim. Mas isso é história para um próximo ficstape.
Xoxo,
Pâms.
Jesus bless you!!!

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