FFOBS - 09. Feel It Twice, por Pâms

Twice

Lisboa, outono de 2015

Aquela era sua terceira noite em claro.
Era de se esperar, já que a mente de Velasques estava em plena turbulência. Nenhuma pessoa normal conseguiria absorver a informação de que a mulher que lhe despertou o mais profundos sentimentos era a noiva de seu irmão gêmeo. Para um homem frio e racional como ele, se apaixonar não estava nas equações, principalmente pela mulher alheia.

Contudo, bastou apenas uma noite de amor, desejos e pecados para que toda a razão fosse confrontada com a emoção, fazendo-o passar dias e mais dias tentando entender o que lhe acontecia internamente. Em sua defesa, nem mesmo imaginava que tal mulher, a quem lhe despertou sensações nunca imaginadas, fosse alguém tão próximo do seu círculo social. E pior, se ela realmente estava comprometida, o que fazia naquele lugar desacompanhada e agindo estar sozinha? Inquietações e indagações que ele não tinha nem mesmo a coragem de confrontá-la.

O fato é que toda a verdade sobre a mulher que lhe causava arrepios fora descoberta no jantar em família, evento este em que seu irmão Robert apresentou a todos sua misteriosa noiva que a muito mencionava. Fontani, uma residente de neurocirurgia, que passava as tardes em seu estágio no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa. Com seu novo corte de cabelo digna de uma renomada médica cirurgiã, e os belos olhos atraentes escondidos pelos óculos de leitura que não tirava do rosto. Uma primeira impressão? Seus gestos sutis e tímidos transmitiam a mais perfeita aparência de moça caseira e recatada. A verdade? De tímida e recatada ela não tinha nada, principalmente entre quatro paredes. Pelo menos fora isso que pensou, quando seu irmão disse em voz alta que sofreu por dois anos tentando conquistá-la e sendo desprezado nos inúmeros convites para sair. Impressionante como uma pessoa poderia apresentar duas personalidades tão diferentes assim.

Jogado em sua cama, manteve os olhos fixos no teto branco do quarto, com seus pensamentos oscilando entre a noite do pecado e o jantar da revelação, sua garganta ardendo com um grito preso. Em um piscar de olhos, o celular vibrou ao lado, o despertando dos devaneios constantes. Ao pegar o aparelho, uma surpresa: uma mensagem de quem menos esperava.

— Isso é brincadeira… — sussurrou ele, erguendo o corpo mais que depressa.

Só foram preciso colocar uma camisa, pegar a carteira e as chaves da moto para sair do quarto em estado de choque e negação. Capacete colocado e motor ligado, sua mente tinha a direção certa e definida, o Jardim Botânico de Lisboa, o local mais inusitado para marcar encontros em plena madrugada. E quem se importava se o relógio marcava três e quarenta e cinco da manhã?

— . — a voz suave da mulher em sua frente o estremeceu um pouco.

O que deveria ser ódio e desprezo por alguém que mentiu e traiu em dobro, só conseguia dar lugar ao anseio de tomá-la para si e lhe fazer sua para o resto da vida.

— Por que me chamou aqui? — perguntou ele, forçando um tom ríspido e frio, sentindo o coração acelerado.
— Sinto que lhe devo explicações. — disse , empática com a frieza dele.

Pois já esperava algo aproximado da mágoa e ressentimento.

— Não me deve nada, não sou o dono dessa aliança. — ele deu um passo para trás, sua voz interna lhe implorava para se retirar de perto dela o mais rápido possível.
— Seu irmão sabe. — ela elevou um pouco mais a voz, o paralisando.
— Você contou? — o olhar confuso de veio em seguida a indagação.
— Não precisa ser um gênio para decifrar sua reação no jantar. — ela deu um passo para mais perto, o que significava zona de perigo para ele — Eu já havia contado a ele sobre aquela noite, só não revelei com quem até então.
— E por que me chamou aqui? — ele engoliu seco, controlando a mistura de raiva e desejo que o matava por dentro — Quer me destruir ainda mais?
— Engano seu… Me perdoe por… — ela se calou, parecia não conseguir formular com clareza seu pedido de desculpas.

Naquele instante, não conseguiu resistir mais a tentação, com a chuva de pensamentos sugestivos que inundava sua mente, apenas se deixou conduzir pela emoção até que seus lábios tocaram os dela. Um beijo doce, malicioso e envolvente que até mesmo não conseguiu lutar contra, apenas permitiu acontecer o que seria a última vez de acordo com suas intenções.

— Eu te amo, como nunca amei outra mulher assim. — sussurrou ele, mantendo seus rostos colados, enquanto recuperava o fôlego.

Era notório para ele que não queria partir, aninhada aos seus braços sentindo o corpo arrepiar com o calor que emanava dele. Realmente sua ambição era de ficar, mas tinha que partir.

— Espero que possa me perdoar um dia… — ela sussurrou de volta, reprimindo seus sentimentos e sendo forte pelos dois — Não quero que isso caia sobre você, a culpa foi minha, então não faça nenhuma besteira.
— Por favor. — pediu ele, mais uma vez, segurando o desespero interno sentindo os olhos marejarem de raiva pela situação.
— O que eu senti uma vez, não posso sentir duas vezes. — disse ela, baixo porém com firmeza e clareza.

apenas ergueu de leve o corpo e lhe deu um selinho rápido.
Então afastou-se em silêncio se retirando do lugar.

Me machuca te machucar, querido
Deitada acordada e tudo mudou
Mantendo nossa distância ultimamente
Me mata te matar quando eu te digo
Que o que eu senti uma vez, não posso sentir duas vezes.
- Feel It Twice / Camila Cabello

“Sentimentos: Você foi a minha vida inteira, mas eu... Fui só um capítulo da sua... [Ps : Eu te amo.]” - Pâms.

FIM.

Nota da autora:
Hello gente, mais um ficstape, agora com gostinho de drama e sofrimento. Até a próxima.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!

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