Última atualização: 18/10/2020

EXO PLANET

Derbyshire, outono de 1847

Minha vida começou na noite em que conheci ele sob a luz da lua. Antes disso, eu era somente uma serva que trabalha nos campus da propriedade de lord Lewis, conde de Derbyshire. Uma noite de lua cheia, em que a insônia me incomodava, me levantei da cama e saí do alojamento dos empregados nos porões do castelo. Segui em direção a plantação de lavanda, o aroma de suas flores me traziam paz e aconchego. Ao passar pelos corredores, ia deslizando minhas mãos pelas flores, instigando que seu perfume exala-se ainda mais.

SOCORRO!! — ouvi um grito ao longe.
— O que foi isso? — olhei para o leste de onde vinha.
SOCORRO!!! — ouvi novamente.

Tomei impulso e comecei a correr. Quanto mais eu seguia em direção ao bosque, mais os gritos ficavam nítidos a minha audição. Quando cheguei perto do rio, avistei uma pessoa sendo levada pela correnteza e praticamente se afogando. Olhei ao meu redor, tentando pensar no que poderia fazer, então me lembrei que mais à frente teria uma parte mais rasa. E se a pessoa desmaiasse poderia bater nas pedras. Entrei rio adentro e nadei até a pessoa, mesmo com vestes noturnas não me importava com a etiqueta, havia uma vida em risco ali e chamar por ajuda seria um risco.

Ao alcançar a pessoa, reparei que se tratava de uma senhora de idade. Ela já demonstrava cansaço físico de tanto se debater para se manter viva. A agarrei e a conduzi até a margem rasa, porém a correnteza começou a ficar mais forte de repente e as águas do rio foram subindo mais e mais. Comecei a sentir dificuldade para suportar meu corpo e o da senhora, e senti que ela começou a afundar me puxando junto. Logo o desespero tomou conta de mim, e lutei para não ficar submersa. Consegui chegar ao topo, porém perdi a senhora que estava comigo, notei que em minha mão tinha um cordão com o formato de meia lua. Voltei meu olhar para o céu e vi a claridade bela da lua sobre o rio.

Em um piscar de olhos, senti algo segurar em meu tornozelo direito e me puxar para o fundo, me deixando totalmente submersa.

--

Voltei a consciência em meio a uma tosse, cuspindo uma quantidade razoável de água.

— Você está bem? — perguntou uma voz masculina.
— Hum… — eu não conseguia entendê-lo muito bem, tinha um sotaque estranho — Quem é você?

Ao sussurrar sentindo dores em meu tornozelo, abri os olhos lentamente. Minha visão foi tomando forma aos poucos até me permitir ver um homem de traços orientais diante de mim. Seus cabelos molhados e em seu rosto água escorrendo, ele parecia ter acabado de tomar um banho de rio. Suas roupas também encharcadas, nada disso me chamou mais atenção que seu olhar preocupado para mim.

— Você está bem? — perguntou ele novamente.
— Sim senhor. — em um momento de devaneio me lembrei da senhora do rio — Aquela senhora.

Ergui meu corpo de repente, me sentindo zonza de imediato.

— Calma, não faça muito esforço. — aconselhou ele, colocando a mão em meu ombro.

O olhei estranhando vosso gesto. Os homens que eu conhecia jamais tocaria uma mulher mesmo que serviçal sem sua permissão. Então notei que suas vestes eram estranhas. Não se comparavam as de nobres, nem camponeses e nem lacaios. Eu também não me lembrava que nobres chineses se vestirem assim, apesar de ter visto uma vez quando criança.

— Qual o seu nome? — perguntou ele.
. — respondi.
de que? — insistiu.
— Sou somente uma serva senhor, não importa meu sobrenome. — me encolhi.
— Não precisa me chamar de senhor, meu nome é Suho, Lee Suho. — disse ela dando um sorriso singelo — Porque pulou no rio se você não sabe nadar?
— Eu?! — o olhei — Como assim não sei nada? Estava a salvar uma senhora quando as águas subiram e fiquei submersa.

Ele me olhou confuso, como se me achasse uma louca.

— Eu vi quando você pulou. — assegurou ele, havia verdade em seu olhar.
— Como posso ter pulado? Achas que sou louca? — retruquei.
— Está tudo bem aqui? — uma mulher com trajes que lembravam dos nobres militares se aproximou de nós — Esta jovem está bem?
— Sim, ela está. — o homem que permanecia ajoelhado ao meu lado se levantou — Está bem até demais.
— Que alívio. — a mulher de farda veio até mim e me ajudou a levantar — Se precisar de ajuda, posso te encaminhar a assistência social.
— Aish, droga, eu sou assistente social. — disse lorde Suho.
— Então posso deixá-la em seus cuidados?

Eles falavam de uma forma diferente do que eu tinha costume. Conseguia entendê-los, mas achava estranho tudo aquilo. Só então olhei em minha volta e me dei conta que não reconhecia o lugar. Para onde foi o bosque, as altas árvores e o castelo? Será que o rio havia me levado para longe de Derbyshire? Assim que a mulher de farda se retirou, lorde Suho me olhou de forma arrependida por ter se envolvido em meu resgate.

— Podes me dizer onde estou? — perguntei a ele.
— Em Seoul, você estava se afogando no rio Han, eu vi quando pulou da ponte, foi sorte eu ter conseguido te salvar. — respondeu ele.
— Rio Han? — que lugar é esse? pensei comigo — Me desculpe, mas não conheço nenhum rio Han.
— Este. — ele apontou para frente — Rio Han.

Me virei e olhei. Só então me deu conta de que estava bem longe da minha Inglaterra.

— Tudo bem. — eu espremi o excesso de água que ainda se mantinha me meu cabelo — Para que lado fica Derbyshire, preciso retornar para casa.
— Derby o que? — perguntou confuso.
— Derbyshire, Inglaterra. — expliquei melhor.
— Inglaterra? — ele riu alto — Você está mesmo louca? Estamos na Coréia em Seoul, do outro lado do mundo.
— Como assim do outro lado do mundo? — agora eu que fiquei confusa.
— Não vai me dizer que você é terraplanista? — ele cruzou os braços.
— Terra o que?
— Você acredita que a terra é plana. — afirmou ele.
— E não é?

Ele bufou revoltado pelo que disse.

— Quer saber, você não é problema meu. — ele se virou para ir.
— Não vá! — quebrando todas as regras de etiqueta ensinadas pela governanta Brown, segurei em seu braço — Por favor, não me deixe sozinha neste lugar estranho longe de casa.
— Tudo bem, vou te levar comigo e amanhã bem cedo te levarei a polícia para receber ajuda. — disse ele.

Assenti me soltando dele. Seguimos pelo caminho que ele chamava de rua, e depois entramos em uma coisa de metal que tinha rodas e se movia sozinha. Fiquei com medo a primeiro momento, mas lorde Suho assegurou que era seguro para mim entrar. Sua casa era pequena, porém conseguia ser mais confortável que meus aposentos no porão do castelo. Ele me acomodou em seu quarto, enquanto se estabeleceu dormindo na sala. Como um perfeito cavalheiro, não me forçou a servi-lo durante à noite, como o mordomo Godric fazia sempre. 

Aos pouco fui me sentindo segura e confortável em sua presença. Lorde Suho se mostrou atencioso e paciente com minhas perguntas, que pareciam óbvias para ele. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas era louco pensar que realmente não estava em minha época. No dia seguinte, ele me levou a um prédio medonho, que recebia o nome de Departamento de Polícia. Lá, eles me fizeram gravar meus dedos em uma folha e fizeram mais perguntas. Permaneci todo o tempo em silêncio, como havia prendido a sempre ficar.

— Como assim não possuem nenhum dado? — perguntou lorde Suho.
— É, eu tenho alguns contatos e enviei para a polícia britânica, para a Interpol, mas eles não conseguiram encontrar nada no sistema. — respondeu o homem baixinho — Parece que essa moça nunca existiu em nosso tempo. 
— Isso é loucura, ela está aqui em nossa frente, como pode dizer que ela não existe? — indagou lorde Suho.
— Não sei o que dizer hyung. — o homem suspirou — Você vai ter que dar conta disso sozinho, leve ela ao setor de desaparecidos.

Eu e lorde Suho rodamos todo aquele prédio e ninguém conseguia nos ajudar. O que deixava ele mais irritado e nervoso.

— Desculpe-me. — disse assim que saímos do prédio.
— Do que está falando? — ele me olhou intrigado.
— Estou dando-lhe trabalho, não precisa mais ser meu tutor, acharei o caminho de volta sozinha. — assegurei a ele.
— Pulando no rio novamente? — seu tom irônico deixou-me surpresa.
— Não havia pensado em tal possibilidade. — analisei a sugestão.
— Não acredito que está considerando. — ele segurou em meu pulso e me puxou para segui-lo — Nem ouse se aproximar daquele rio. 

Seu tom forte de ordem me deixou estremecida. Ele parecia preocupado com minha segurança. Quando retornamos para sua casa, ao olhar no espelho do banheiro, reparei que o cordão da senhora que havia ficado comigo estava em meu pescoço. Era mais uma prova de que minha história era real.

As semanas se passaram comigo aprendendo tudo relacionado ao tempo e costumes daquele lugar. Lorde Suho ainda relutava em acreditar que eu pertencia ao passado, e que servia uma família nobre britânica que atualmente só existia nos livros de história. Era loucura até para mim acreditar que naquela noite as águas do rio haviam me levado para o futuro. E mais louco ainda é descobrir que o futuro era muito mais caótico do que ser uma serva do campo. 

--

— O que seria isso? — perguntei ao me aproximar dele.
— Lámen. — respondeu.

Era raro quando lorde Suho me permitia aproximar do fogão. Para ele eu era como uma criança atrapalhada que sempre iria me machucar.

— O cheiro está gostoso. — comentei.
— Descobri que você gosta de lámen, então… — ele sorriu de canto.

Um sorriso meigo e fofo que nenhum outro homem havia dado para mim.

— Estamos em uma ocasião especial? — perguntei.
— Um amigo de um amigo contatou a embaixada, eles vão pagar uma passagem para você, daqui dois dias vai poder voltar para Inglaterra e será amparada por eles. — ele desligou o fogo e me olhou, senti uma tristeza vindo dele — Você vai poder voltar para casa.

Mas eu já estou em casa. Pensei comigo.

— Você não me quer mais aqui?! — perguntei.
— Não é isso. — assegurou ele.

Já se contava dez meses que eu estava aos cuidados de lorde Suho. Eu me sentia mais do que parte daquele lugar e de sua vida. Ainda que ele se irritasse com algumas coisas que eu fazia. Era divertido vê-lo consertar minhas bagunças e reconfortante ele cuidar de mim.

— Mas você deve ter uma família que está a sua procura. — alegou ele — Mesmo não sendo deste tempo, algo que ainda me deixa maluco ao pensar, talvez em Derbyshire ache uma forma de voltar para seu tempo.
— Eu não quero voltar. — me aproximei dele e segurei em minha mão — Não afastar-me de vós, sinto-me segura ao seu lado.

Lorde Suho sorriu timidamente e me puxando para perto, me abraçou forte. O aconchego dos seus braços misturado ao doce aroma de seu perfume arrepiou meu corpo. Senti que o amor estava batendo a porta do meu coração, e me vi inclinada a abrir e deixá-lo entrar.

— Eu também não quero que vá. — sussurrou ele.

Um sorriso bobo saiu em meu rosto. 

Senti o coração de lorde Suho acelerado enquanto me abraçava.

Certamente o mesmo sentimento havia se mostrado para ele.

Aquele abraço significava o início de uma nova história para mim e para ele.

Eu não preciso de um mapa, meu coração me leva a você
Mesmo que o caminho seja perigoso, eu não posso parar agora
Eu nunca me esqueci de você por apenas uma hora
Se eu só posso vê-la no final do horizonte distante.
- Black Pearl / EXO

Tempo: Essa é a história que eu não quero lembrar, esta é a história que eu quero viver.” - by: Pâms



FIM?! Continua em Moon Lovers...



Nota da autora:
Hello gente!! Mais uma saga maluca que saiu da minha cabeça, sempre quis escrever mais histórias de viagem no tempo e aqui está uma aproveitando o conceito do EXO de vários mundos!!! Espero que gostem.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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