— Quem é você? — perguntou um homem se colocando em frente ao cavalo branco, retirando da bainha sua espada.
— Eu... — lutei para não gaguejar, diante da sua aproximação com a espada erguida.
— Deixe-a. — o homem montado no cavalo branco se pronunciou.
— Mas alteza…
— Cale-se general. — disse o homem do cavalo num tom mais forte.

Até o momento sua face estava coberta pela bandeira na mão do soldado ao lado. Seu olhar se fixou em mim, certamente curioso por minhas vestes estranhas. Ele impulsionou o cavalo e se aproximou de mim. Me levantei do chão lentamente o observando. 

— Venha comigo. — ele estendeu a mão para mim.

Eu dei um passo para trás. Como eu poderia seguir com um desconhecido, nobre ou não, não seguraria em sua mão. Olhei para o rio novamente e dando outro passo para trás, me virei e comecei a correr para dentro da água. Eu ainda utilizava o colar da minha avó, então na teoria eu poderia voltar para meu tempo se me afogasse novamente. Os soldados vieram atrás de mim, mas como suas vestes eram pesadas pelas armaduras, desistiram assim que as águas alcançaram seu pescoço. 

O tal general ordenou que trouxessem barcos para me seguirem. Chegando no meio do rio, relaxei meu corpo e deixei que a correnteza me levasse. Para ser honesta, estava pedindo a Deus para voltar para casa. A correnteza foi me levando e me levando, até começou a ficar mais forte. Eu apalpei meu pescoço e senti que o cordão não estava lá. Aí segui no desespero, se eu me afogasse, poderia morrer. Foi quando senti uma pessoa me segurar forte e me arrastar para margem.

— Quem é você? — perguntei retomando o fôlego.
— Você é maluca? Se coloca no caminho o príncipe e depois foge? — o homem quase gritou comigo — Deseja morrer?
— Ei, eu não me coloquei lá por que quis. — retruquei ofendida por sua grosseria — E quem é você para dizer alguma coisa?
— Sou o homem que te salvou. — ele praticamente cuspiu isso na minha cara — Ingrata, estrangeiros são sempre ingratos.

Ele deu as costas e saiu caminhando.

— Ei! — gritei — Pra onde vai?
— Para longe de você, que remete a confusão. — explicou ele — Nesta altura, os guardas do palácio devem estar a sua procura.
— E o que eu faço?
— Se esconda, e reze para não ser achada. — ele continuou.

Eu comecei a segui-lo.

— Já que me salvou, não deveria continuar e me ajudar? — perguntei.
— Ajudar? Em que? — o homem bufou — Se vire sozinha.
— Nenhum um pouco cavalheiro de sua parte. — retruquei.
— Não ajudo mulheres estranhas, me arrependo de ter entrado em meio a correnteza e te tirado de lá. — continuou ele tentando apressar seu passo.
— Ei, não vá tão rápido. — gritei de novo.
— Quem disse que pode me seguir? — ele parou e me olhou — E com essas roupas, claro que não vai conseguir me acompanhar.
— Olha, é a última moda de onde eu venho. — foi ousada em minhas palavras.

Era real, eu estava bem longe de casa e do meu tempo. As histórias de minha avó era verdadeiras, sua corrente com o pingente de meia lua era realmente mágica. E agora? O que eu faria? Precisava recuperar minha corrente. Ele deu as costas para seguir.

— Espera. — segurei no seu braço — Precisamos voltar.
— O que?
— Para lá, minha corrente caiu, preciso achá-la se não, não voltarei para casa, para o meu tempo. — eu estava segurando o desespero.
— Do que está falando? — seu olhar confuso estava ali — Seu tempo, meu tempo, está confusa por ter quase se afogado.
— Não. Não estou confusa. — revelei a ele — Meu nome é , Choi , e há duas horas atrás eu estava no ano de 2018 em Seoul, e agora vim parar na dinastia Ming, tudo graças ao cordão que perdi.
— Você realmente está louca, foi enfeitiçada. — ele se virou para mim, parecia analisar algo que disse — Você mencionou Ming, conhece o imperador Ming?
— Bem, só nos livros de história, eu sei que ele foi destronado e sua dinastia caiu em 1644 com uma rebelião liderada por Li Zicheng. — disse me sentindo a professora de história.

Sempre fui fã dessa matérias no colégio graças a vovó Annia.

— De onde sabe tudo isso? Como sabe sobre Li Zicheng? — perguntou ele.
— Que parte do “Eu sou do futuro” que você não entendeu?! — perguntei banhada na ironia.

Ele deu um passo para trás se afastando de mim.

— Não pode ser… — sussurrou ele.
— Ah não, agora ele vai surtar. — disse comigo mesma de forma debochada.

Ele me olhou seriamente de baixo para cima, focando mais em minhas roupas ainda molhadas. Me encolhi um pouco.

— Choi , sobrenome Choi?! — perguntou ele.
— Sim, sobrenome coreano, pelo que me lembro, meu país está sendo governado pela dinastia Joseon. — expliquei a ele.
— Viajante do tempo, então é real. — disse ele com o olhar curioso — Vocês são reais.
— Do que está falando? — perguntei confusa.
— Li Zicheng é meu tio, há dois anos atrás ele recebeu a visita de um estrangeiro dizendo ser viajante do tempo. — começou a contar sua história — O homem disse que meu tio venceria a guerra com uma rebelião, mas deveria fazer exatamente o que ele falasse.
— Você se lembra o nome? Do viajante?
— Não, ele não disse, mas sabia muitas coisas sobre o imperador, sobre o palácio e sobre você. — afirmou ele.
— Sobre mim? — fiquei surpresa com aquilo, quem seria esse homem?
— Ele disse que meu destino cruzaria com o de uma mulher, que alegaria ser viajante do tempo também. — explicou.
— Agora estou surpresa. — e boquiaberta — Então, já que não sabe o nome desde cara, posso saber o seu?
— Zhang Yixing, mas pode me chamar de Lay. — disse ele.
— E o cara, no rio era o príncipe daqui? — perguntei,
— Sim, um dos filhos do imperador. — disse ele.
— Acho que ele está com minha corrente e preciso recuperar. — disse com firmeza — Você me ajuda.
— Terá que invadir o palácio certamente. — alertou ele.
— Eu não perguntei dos perigos e sim se me ajudaria. — reforcei.
— Posso pensar sobre isso, mas terá que esperar. — disse ele.
— Esperar? Não posso esperar, tem uma pessoa que… — prendi um grito de raiva.

Tinha sim uma pessoa que havia deixado todo aquele tempo esperando por mim. Eu tinha que voltar para ela.

— Se for agora, será presa e decapitada. — explicou ele — Daqui algumas luas, atacaremos o palácio, exatamente como o viajante nos orientou, então terá sua chance.

Assenti ainda relutante.
Lay me levou até o alojamento em meio a uma caverna, onde os rebeldes se reuniam em preparação para o ataque. Que loucura, fui enviada para o meio de uma guerra civil chinesa de séculos atrás. Isso me deixou intrigada, o colar não nos levava ao mesmo lugar em tempo diferente, ele também mudava o lugar. Vovó tinha ido para o futuro, saindo de Derbyshire no século XIV e chegando no Coréia em pelo século XXI. Agora eu saí da Coréia de 2020, aparecendo na China de 1644. Gostaria de saber que conexão tudo isso teria. Só conseguia me lembrar do pedido de Baek para que o colar me conduzisse até ele.

Acabou me levando para longe.

Os dias foram passando e curiosamente Lay me pegou para aprendiz. Ele me ensinou o básico de defesa pessoal em uma luta corpo a corpo, assim como usar arco e flecha, e empunhar uma espada. Segundo ele, quando o palácio for atacado, todos ficarão ocupados com a luta e eu seguirei sozinha meu caminho em busca do colar. Então, deveria saber me defender e atacar.

— Lembre-se, a melhor defesa, é o ataque. — disse ele ao erguer sua espada — Agora, me ataque.

Assenti impulsionando meu corpo, lançando a espada em minha mão contra ele. Lay era bastante habilidoso com instrumentos de guerra, me ensinava com dedicação e paciência. Mas claro que sua beleza e charme contribuem um pouco para desviar meu foco no treino. Tinha que me forçar para não distrair e machucá-lo de verdade. De tudo que ele me ensinou, gostei muito de aprender arco e flecha. Além de ouvir as histórias de como foi duro para o povo a reconstrução da muralha que protegia o reino chinês. 

A vista da caverna para uma parte da muralha me arrepiava.

Finalmente nossa hora estava chegando. Algo intrigante? A noite do ataque era exatamente noite de lua cheia. O que me indicava que seria minha chance de voltar para casa. Escondidos próximo à entrada do palácio, Lay pegou em minha mão e me levou para a entrada leste, havia uma passagem secreta que me levaria aos aposentos do príncipe. Certamente meu cordão estaria lá.

— Aqui. — ele desamarrou o tecido que prendia seu cabelo e amarrou o meu — Sinto que não a verei novamente, por isso quero que leve com você, para se lembrar de mim.
— Obrigada. — disse o deixando amarrar o tecido — Vou me lembrar sim.
— Lamento que tenha que voltar. — ele segurou em minha mão — Foi por um breve momento, mas senti meu coração bater mais forte por você.

Fiquei estática com sua afirmação. Lay se aproximou lentamente de mim e encostou seu rosto no meu.

— Espero que seja feliz, ao retornar para sua vida. — sussurrou ele.

Não me contive em abraçá-lo. Não me importava se isso ia contrário às regras daquele tempo. Lay mesmo que no início conturbado, tinha se tornado um bom amigo. Sorri de leve para ele e segui para a entrada secreta. Esperei até darem o sinal e o ataque começar. A distração da guerra seria minha deixa para entrar invisível, pegar meu colar e ir embora. Para minha surpresa, a área real pertencente ao príncipe, tinha um lago artificial que compunha todo jardim oriental em volta. Era realmente linda aquela arquitetura. 

Assim que entrei no quarto, vasculhei em todos os lugares, mas não encontrei. Até que senti uma pessoa se aproximar.

— Procurando por isso? — era a voz do príncipe — Sabia que viria atrás dele.
— Devolva o que não é seu. — disse me virando para ele, vi meu cordão em seu pescoço.
— Então, o general tinha razão, você estava com eles. — disse ele retirando a espada da bainha e erguendo para mim — Você quer? Venha pegar.

Quando eu tomei impulso para ir contra ele, parei no meio do caminho. Meio estática.

— Entregue o cordão para ela. — disse Lay ao aparecer, encostando sua espada no pescoço do príncipe — Agora.
— Algo me dizia que estava envolvido nisso, essa rebelião não irá ter sucesso, nosso império nunca cairá. — disse o príncipe se virando e lançando a espada para se defender.

Foi uma luta épica que nem os doramas de época seriam capazes de reproduzir. O príncipe também possuía uma habilidade incrível com a espada. Porém, Lay se mantinha focado em desarmá-lo. No susto, senti alguém me puxar e tentar me agarrar, então comecei a travar minha própria luta. O homem era robusto, porém baixinho. Seus braços curtos o impediam de golpear com mais força. As coisas foram ficando loucas e rápidas demais, de repente já estávamos cruzando lâminas no jardim, perto do lago.

Em um piscar de olhos Lay conseguiu arrancar do pescoço do príncipe meu cordão e jogar para mim. Eu pisei no pé do homem robusto para me livrar dele e me joguei na direção do cordão. Ao pegá-lo no ar, não tinha reparado para onde meu corpo se lançou, e logo veio o impacto sobre a água do lago. 

Meu olhar passou por Lay antes de se direcionar para o céu.

Como da outra vez a lua cheia iluminava todo o lugar…

E novamente fiquei submersa.

Você brilhou radiante em um curto período de tempo como um relâmpago,
Você iluminou o mundo por um instante,
Como se o mundo inteiro me pertencesse,
Você me mostrou e partiu. 
- Thunder / EXO 

“Tempo: Essa é a história que eu não quero lembrar, esta é a história que eu quero viver.” - by: Pâms

Nota da autora:
Hello gente!! Mais uma saga maluca que saiu da minha cabeça, sempre quis escrever mais histórias de viagem no tempo e aqui está uma aproveitando o conceito do EXO de vários mundos!!! Espero que gostem.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!



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